5
Interbio v.4 n.1 2010 - ISSN 1981-3775
PREVALÊNCIA DE PARASITAS INTESTINAIS EM CRIANÇAS DE 05 A 12 ANOS,
EM NOVA ALVORADA DO SUL-MS
PREVALENCE OF INTESTINAL PARASITES IN CHILDREN 05 TO 12 YEARS OLD
IN NOVA ALVORADA DO SUL- MS
SILVA, Jessica Elen Correia1; PARENTE, Bruna2; BURGOS, Valdelice Oliveira2;
RESUMO
As análises de parasitas intestinais realizadas em laboratório são de suma importância, pois os mesmos podem
proporcionar informações necessárias no diagnóstico da infecção e avaliar o índice de infecção parasitária. A
pesquisa estabeleceu a Prevalência de Parasitas Intestinais de crianças com idade de 05 a 12 anos do Município
de Nova Alvorada do Sul-MS, identificou os parasitas intestinais nas crianças e realizou o tratamento com os
medicamentos antiparasitários. Durante a pesquisa foram analisadas 93 amostras fecais no Laboratório de
Análises Clínicas Hemocenter, no qual os métodos aplicados durantes as análises foram o método direto, método
de Faust e Colaboradores e método de Lutz ou de Hoffmann, Pons e Janer. Foi possível verificar que 35,48% da
população estavam infectadas por parasitas intestinais, sendo que, as espécies identificadas nos exames
parasitológicos foram cistos de Entamoeba histolytica, Entamoeba coli e em maior freqüência cistos de Giardia
lamblia, também foram identificados algumas estruturas como ovos de Trichuris trichiura, Ascaris lumbricoides
e Hymenolepis nana. Observou-se que 60,87% das crianças parasitadas que aderiram ao tratamento com
antiparasitários continuaram contaminadas, prevalecendo à existência de cistos de Giardia lamblia, o que seria
sugestivo de uma não adesão adequada aos medicamentos, bem como uma possível resistência parasitária.
Palavras-chave: Prevalência; parasitas intestinais; crianças; escolares; antiparasitários.
ABSTRACT
The study established the prevalence of intestinal parasites in children aged 05 to 12 years in the City of Nova
Alvorada do Sul-MS, identified intestinal parasites in children and carried out the treatment with antiparasitic
drugs. During the study 93 fecal samples were analyzed at the Laboratory of Clinical Analysis Hemocenter, in
which the methods applied during the analysis were the direct method, method of Faust and Collaborators and
method of Lutz and Hoffmann, Pons and Janer. It was possible to see that 35.48% of the population were
infected by intestinal parasites, and that the species identified in parasitological examinations were cysts of
Entamoeba histolytica, Entamoeba coli and higher frequency of Giardia lamblia cysts were also identified some
structures such as eggs of Trichuris trichiura, Ascaris lumbricoides and Hymenolepis nana. It was observed that
60.87% of the parasitized children who joined the treatment with Antiparasitic, continued treatment
contaminated, whichever the existence of cysts of Giardia lamblia, which would be suggestive of a suitable non
adherence to medication, and a possible parasite resistance.
Key-words: Prevalence; intestinal parasites, children, school, Antiparasitic.
1
Discente do curso de Farmácia do Centro Universitário da Grande Dourados, Dourados / MS.
Docente do curso de Farmácia do Centro Universitário da Grande Dourados, Dourados / MS E-mailvaldelice@ unigran.br
2
SILVA, Jessica Elen Correia; PARENTE, Bruna; BURGOS, Valdelice Oliveira;
6
Interbio v.4 n.1 2010 - ISSN 1981-3775
Introdução
Estudos comprovam que a ocorrência
de doenças causadas por parasitas intestinais
vem sendo um dos mais graves problemas
de saúde e que grande parte da população
mundial esteja infectada por esses
microorganismos o que corresponde a 30%
da população, havendo maior prevalência
dessas parasitoses nos países em
desenvolvimento. (SIQUEIRA; FIORINI,
1999).
No Brasil a realidade não é diferente,
pois a elevada prevalência de parasitoses
também não deixa de ser um dos mais
representativos problemas de saúde pública,
visto que, em média um terço da população
brasileira vive frente a condições que
proporciona maior ocorrência das doenças
parasitárias, sendo elas, os fatores
ambientais próprios de clima tropical, bem
como a desigualdade das condições
socioeconômicas dos indivíduos (SOARES;
CANTOS, 2005). Existem outros fatores
que também poderão influenciar a
contaminação e proliferação desses agentes
infecciosos, tais como: a presença de
hospedeiros
susceptíveis
apropriados,
alterações dos potenciais bióticos dos
parasitas, os costumes sociais, a alta
proporção populacional, más condições e
práticas de higienização (NEVES, 1998;
THASHIMA;
SIMÕES,
2005;
MASCARINE, 2003, apud FERREIRA;
VIERIRA, 2006).
As análises de parasitas intestinais
realizadas em laboratório são de suma
importância, pois os mesmos podem
proporcionar informações necessárias no
diagnóstico da infecção e avaliar o índice de
infecção
parasitária
(LEVETHAL;
GHEADLE, 2000). Deste modo as análises
parasitológicas também estão diretamente
relacionadas aos estudos parasitológicos que
segundo Rey (2001), é um estudo
direcionado aos seres vivos, que dependem
exclusivamente de um hospedeiro para sua
sobrevivência, ao acometer o homem poderá
causar doenças gravíssimas.
As diversas infecções desencadeadas
por parasitas são adquiridas geralmente pela
presença de uma ou mais espécies
parasitarias, no qual podem apresentar
características próprias causando danos ou
alterações fisiológicas, sintomáticas ou
assintomáticas no individuo contaminado
(crianças, adultos) (SANTOS, 2007).
Por meio de pesquisas já realizadas
em crianças de várias comunidades
escolares sendo submetidas aos exames
parasitológicos, foi possível verificar a
prevalência de infecções causadas por esses
agentes, ou seja, que os mesmos vêm
acometendo as crianças de modo contínuo.
De acordo com Pittiner et al.(2007), Ascaris
lumbricoides,
Trichuris
trichiura,
anciloestomídeos Necator americanus,
Ancylostoma
duodenale,
Entamoeba
histolitica e Giardia lamblia, são os
principais parasitas intestinais presentes no
hospedeiro (crianças e adultos), que tendem
a ser adquiridos através da ingestão de cistos
e ovos embrionádos nos alimentos, na água
contaminada, no consumo de carne crua ou
mal cozida, como também pelo contato
direto com areia, terra e os animais. Com a
ingestão
dessas
estruturas,
haverá
possibilidade
do
parasita
ocasionar
principalmente nas crianças, má-absorção,
diarréia crônica, anemia, desnutrição, dores
abdominais, dificuldade no aprendizado,
falta
de
concentração,
atraso
no
crescimento, resultando em um baixo
rendimento, como também uma possível
alteração no desenvolvimento físico,
psicossomático e social no indivíduo
(FERREIRA; ANDRADE, 2005).
Para que haja a diminuição da
transmissão desses agentes infecciosos, bem
como as ocorrências da patologia em estudo,
é necessário usufruir de alguns meios
profiláticos indispensáveis, sendo que
algumas das medidas a serem tomadas
podem ser o diagnóstico parasitário,
limpezas
adequadas
dos
alimentos,
utilização da água tratada, direcionamento
dos dejetos humanos em lugares específicos,
manutenção da higiene pessoal, tratamento
dos infectados, eliminação dos prováveis
SILVA, Jessica Elen Correia; PARENTE, Bruna; BURGOS, Valdelice Oliveira;
7
Interbio v.4 n.1 2010 - ISSN 1981-3775
vetores, viabilização correta do tratamento
de esgoto, evitar o consumo de carnes mal
cozidas, impedimento do acesso de crianças
em terrenos baldios em contato com lixo ou
água poluída, manter a casa em boas
condições de higiene e diagnosticar a fonte
de contaminação (LUIZ NETO et al., 2003;
NEVES, 2005; SANTOS, 2007).
O objetivo da presente pesquisa é
estabelecer a prevalência de parasitas
intestinais através dos resultados das
análises feitas em laboratório, identificar os
principais agentes etiológicos encontrados,
como também fazer uma nova análise
laboratorial
após
a
administração
medicamentosa antiparasitária, verificando
se houve eficácia no tratamento das crianças
que apresentavam a infecção.
Materiais e Métodos
A pesquisa visou utilizar o material
fecal das crianças com idade de 05 a 12 anos
que estudam na Escola Estadual Delfina
Nogueira de Souza do município de Nova
Alvorada do Sul-MS, visto que, antes da
coleta das amostras e da realização dos
procedimentos das análises laboratoriais elas
foram convidadas a participar do trabalho,
recebendo esclarecimentos e informações
relacionadas ao que se tratava a pesquisa,
assim como a importância da pesquisa ser
realizada. As crianças voluntárias obtiveram
também informações relacionadas à forma
de contaminação ocorrida pelos agentes
infecciosos e o que eles poderiam
desencadear no ser humano, além de
receberem prévias orientações profiláticas
com intuito de evitar ocorrências de
parasitoses. Logo cada participante recebeu
um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) anexado a um
Questionário socioeconômico para serem
entregues e preenchidos por seus
responsáveis. Numero do protocolo de
aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa
226/08.
A pesquisa envolveu 93 crianças
voluntárias, depois foram recolhidas todas
as amostras e encaminhadas ao Laboratório
de Análises Clínicas Hemocenter para dar
início as análises fecais parasitológicas
através dos métodos qualitativos de Faust e
Colaboradores, método direto e o método de
Lutz ou de Hoffmann, Pons e Janer
(VALLADA, 1998), proporcionando a
pesquisa maior exatidão aos resultados.
As crianças que apresentaram
resultados positivos para as parasitoses
foram encaminhadas ao Médico em unidade
básica de saúde para o tratamento no qual
prescreveu medicamentos antiparasitários e
em alguns casos também prescreveu o uso
de polivitamínicos de acordo com o quadro
clínico e o laudo laboratorial do paciente. Os
medicamentos
prescritos
foram
o
Mebendazol para ser administrado 2 vezes
ao dia durante 3 dias e o Metronidazol
também 2 vezes ao dia durante 7 dias, esse
tratamento foi solicitado para as crianças
que estavam com giardíase e para os
poliparasitados. Já o tratamento contra a
amebíase foram solicitados o uso do
Mebendazol para ser administrado 2 vezes
ao dia por três dias.
Após a consulta os pais foram
encaminhados à Secretaria de Saúde do
Município de Nova Alvorada do Sul-MS,
para que fossem disponibilizados os
medicamentos para seus filhos e em seguida
iniciar o tratamento terapêutico. Passado o
período de 7 a 15 dias após o tratamento
com antiparasitários, todas as crianças
submetidas ao tratamento passaram pela
segunda etapa de coletas, assim um novo
exame parasitológico foi realizado a fim de
verificar se houve cura parasitária ou não.
Resultados e Discussão
A pesquisa realizada obteve a
participação de 41 meninos e 52 meninas
com idade entre 5 a 12 anos, resultando num
total de 93 criança participantes das análises
parasitológicas realizadas em laboratório.
Observou-se que (Tabela 1), entre as
93 crianças submetidas a primeira etapa dos
exames
parasitológicos
33
estavam
infectadas, correspondendo a 35,48% de
crianças parasitadas. A idade que obteve o
SILVA, Jessica Elen Correia; PARENTE, Bruna; BURGOS, Valdelice Oliveira;
8
Interbio v.4 n.1 2010 - ISSN 1981-3775
maior índice de contaminação foram as que
apresentavam 8 anos de idade, equivalente a
11,83% da população, já o menor índice de
parasitoses ocorreu em crianças cuja a idade
era de 5 anos, atingindo apenas 1,08% da
população infantil.
Tabela 1 – Número de crianças pesquisadas com os resultados positivos de parasitoses.
Idade
Número de
Número de
Porcentagem de
(anos)
crianças
Parasitados
Parasitados
05
4
1
1,08%
06
13
6
6,45%
07
11
5
5,38%
08
19
11
11,83%
09
12
0
0%
10
17
4
4,30%
11
9
3
3,23%
12
8
3
3,23%
Total
93
33
35,48%
Através do método direto, Faust e
Colaboradores e o método de Hoffmann,
Pons e Janer aplicados como técnicas
laboratoriais pode-se observar (Tabela 2), a
presença de diferentes tipos de parasitas
encontrados nas amostras fecais, visto que,
os agentes etiológicos encontrados foram os
cistos de Giardia lamblia, Entmoeba
histolytica, Entamoeba coli, ovos de
Trichuris trichiura, Ascaris lumbricóides e
Hymenolepis nana.
Na pesquisa as estruturas císticas de
Giardia lamblia apresentaram-se em maior
freqüência, afetando cerca de 31 crianças o
que corresponde a 33,33% dos causadores
da parasitose na população em estudo,
evidencio-se também que os mesmos
protozoários apresentavam-se associados a
outros
parasitas
causando
um
poliparasitiasmo em 7 crianças, deste modo,
5 crianças continham em suas amostras
fecais cistos de Giardia lamblia e
Entamoeba Histolytica, apenas uma amostra
com cistos de Giardia lamblia com
Entamoeba coli, um caso de poliparasitismo
apresentando cistos de Giárdia lamblia e
ovos de Ascaris lumbricóides e um caso de
cistos de Giardia lamblia com ovos de
Hyminolepis nana. Pode-se notar que a
faixa etária mais atingida pela giardíase
foram crianças que apresentavam idade de 8
anos, já as crianças com idade de 9 anos
apresentavam-se isentas da infecção. No
entanto a presença desses parasitas
intestinais causadores da Giardíase, também
denominado como diarréia dos viajantes
podem resultar na má absorção de nutrientes
como os açucares, gorduras, vitaminas A, D,
E, K, B12, acido fólico e alguns minerais
tais como ferro e zinco, assim como podem
ocasionar
alterações
fisiológicas
no
indivíduo
devido
a
presença
dos
protozoários e substâncias liberadas pelos
mesmos, que induzem as lesões nas
estruturas dos enterócitos, penetração na
mucosa, desconjugação dos ácidos biliares e
outras alterações no indivíduo parasitado
(MELO et al., 2004).
A freqüência de crianças infectadas
com cistos de Entamoeba coli foi de apenas
uma criança de 7 anos de idade, já a
contaminação por Entamoeba histolytica
foi de 6,45%, acometendo no total 6
crianças, a idade da crianças portadoras da
amebíase era de 6, 7, 8 e 11 anos, no entanto
pode-se observar a ausência dos mesmos em
crianças com idade de 5, 9 e 10 anos de
idade. Esse agente etiológico é o parasita
causador da amebíase ou disenteria
amebiana quando instalado principalmente
no trato gastrointestinal do homem, visto
que, além de ligar-se aos receptores das
células epiteliais do intestino dando origem
as ulceras devido à ação das proteases
SILVA, Jessica Elen Correia; PARENTE, Bruna; BURGOS, Valdelice Oliveira;
9
Interbio v.4 n.1 2010 - ISSN 1981-3775
parasitarias na mucosa, podem também
invadir outros órgãos quando presentes na
circulação adentrando nos pulmões, cérebro,
pele e o fígado, refletindo complicações ao
paciente. A Entamoeba histolytica pode ser
encontrada em duas formas morfológicas
sendo elas trofozoíta, ou seja, pré-cistica,
bem como na forma cística. (LEVENTHAL;
CHEADLE, 2000).
Tabela 2 – Tipos de parasitas e freqüência encontradas nas amostras fecais das crianças de 05
a 12 anos
Distribuição de Protozoários e Helmintos em crianças de 05 a 12 anos de idade
Espécies Parasitárias
Número de casos
Freqüência (%)
Resultados negativos
Entamoeba histolytica
Entamoeba coli
Giardia lamblia
Trichuris trichiura
Ascaris lumbricoides
Hymenolepis nana
60
6
1
31
1
1
1
Na pesquisa verificou-se apenas 3
casos de amostras contendo respectivamente
ovos de Helmintos, na qual observou-se na
amostra de uma criança de 7 anos ovos de
Trichuris trichiura, Ascaris lumbricóides
em uma criança de 11 anos e Hymenolepis
nana em uma criança com 12 anos de idade
(Tabela 2). A presença desses agentes no ser
humano
pode
desencadear
algumas
alterações fisiológicas.
Os ovos de Thichuris trichiura
eliminados pelas fezes tornam-se infectantes
após 15 dias, quando estes são ingeridos
pelo homem e caem no tratogastrointestinal
os ovos sofrem a ação dos sulcos digestivos,
favorecendo a eclosão das larvas e por
conseqüência o seu retorno para a luz
intestinal e o vão do ceco aonde serão
maturados, assim com a presença desses
vermes adultos o indivíduo infectado poderá
apresentar sintomas de distensão abdominal,
disenteria crônica, anemia ferropriva,
desnutrição protéica-energética e em 60%
dos casos de tricuríase o prolapso retal
também poderá ser apresentado (MELLO et
al., 2004). Já os principais sintomas
provocados pela manifestação de Ascaris
lumbricoides no ser humano são as dores
abdominais, náuseas, carências nutricionais.
Em caso se semi-obstrução intestinal podem
também causar anorexia, vômitos biliosos,
64,52%
6,45%
1,08%
33,33%
1,08%
1,08%
1,08%
desidratação, diarréia e eliminação dos
vermes pela boca, narinas e anus antes ou
durante o quadro clínico (MELO et al.,
2004).
O hospedeiro quando infectado por
ovos de Hymenolepis nana podem
apresentar sintomas comuns como dores
abdominais, diarréia, anorexia e palidez
(DOMINGUES, 2006).
Durante a avaliação dos questionários
pode-se analisar que 79 crianças, ou seja,
que 84,95% da população
em estudo
moram em casas de tijolos, 8 crianças o que
corresponde a 7,53% moram em casas de
madeira e 7 moram em casas de lona
equivalente a 7,53 % da população infantil,
embora não houve nenhum dado constando
moradia em casas de pau apique. Observouse também uma desigualdade social entre os
participantes, de modo que 57% das
crianças avaliadas relataram que sobrevivem
com a renda familiar mínima, 17,20% com
apenas 2 salários mínimos, 8,60% com 3
salários mínimos, 2,15% sobrevivem com 4
salários mínimos, 5,38% com 5 salários e
9,68% da população recebem outros valores
mensais por família . No entanto, segundo
Correia et al (2005) tem-se observado que
situações econômicas dos indivídos tem
influenciado bem como, determinado o
acometimento de algumas enfaermidades de
SILVA, Jessica Elen Correia; PARENTE, Bruna; BURGOS, Valdelice Oliveira;
10
Interbio v.4 n.1 2010 - ISSN 1981-3775
diretamente às fossas. De acordo com
Soares e Cantos (2005), as precárias
condições de higiene ambiental refletem as
condições sanitárias em que vive o homem o
que pode permitir profunda influência
quanto à contaminação e transmissão
parasitária, de modo que, se houver um
indivíduo infectado e este eliminar seu
material fecal contendo cistos, ovos e larvar
de parasitas, poderá contaminar o ambiente
tais assim como o solo e a água, resultando
num ciclo de transmissão.
Na tabela 3 mostra que entre as 93
crianças com idade de 5 a 12 anos, 80
crianças (86,02%) apresentam hábitos de
lavar as mãos e os alimentos antes das
refeições e apenas 13 delas (13,98%) não
possuem esses hábitos. As adesões desses
hábitos higiênicos tornam-se como meios
profiláticos contra essas parasitoses, visto
que, quando há manipulação e ingestão de
alimentos não higienizados, bem como as
precárias condições higiênicas das mãos, os
indivíduos estarão frente a uma fonte
potencial de contaminação e disseminação
de ovos e larvas de helmintos e cistos de
protozoários (SOARES; CANTOS, 2005).
parasitoses
com
maior
facilidade
(CORREIA et al., 2005).
De acordo com os resultados obtidos
quanto a utilização da água, verificou-se
que, cerca de 75 crianças (80,65%) utilizam
a água encanada, 13 crianças (13,98%) de
água de poços artesianos, 5 crianças, ou
seja, 5,38% da população usufruem de água
proveniente de minas e nenhum relato do
uso de águas de cisternas. A utilização de
água proveniente de uma fonte segura e
isenta de estruturas parasitárias é essencial
para que se diminua a prevalência de
parasitoses intestinais na população, pois
quando a água não vem de uma fonte segura
e nem passa por um tratamento adequado,
pedem vir a exercer uma grande influência
na transmissão de estruturas parasitárias,
bem como pode proporcionar transporte em
longas distancias dos agentes infectantes,
servindo então de veículo e grande fonte de
contaminação para os indivíduos (SOARES;
CANTOS, 2005).
No questionário socioeconômico não
foi abordado à questão que está relacionada
ao saneamento básico, pois a cidade ainda
não adota esse tipo de tratamento, assim os
dejetos
humanos
são
direcionados
Tabela 3 – Resultados relacionados aos hábitos e aos costumes quanto ao brincar das crianças
de 5 a 12 anos.
Idade
5 anos 6 anos 7 anos 8 anos 9 anos 10 anos 11 anos 12 anos
A criança tem o hábito de lavar as mãos e os alimentos antes das refeições?
Sim
3
12
10
17
9
14
8
Não
1
1
1
2
3
3
1
A criança brinca descalça?
Sim
4
12
9
16
10
17
8
Não
1
2
3
2
Tem contato direto com a areia, terra e animais?
Sim
3
10
9
15
11
7
1
6
-
1
2
16
9
6
Não
1
3
Possui animal doméstico?
Sim
2
9
2
4
1
1
-
2
6
12
7
12
9
5
Não
5
7
5
5
-
3
2
4
SILVA, Jessica Elen Correia; PARENTE, Bruna; BURGOS, Valdelice Oliveira;
11
Interbio v.4 n.1 2010 - ISSN 1981-3775
Ainda na tabela 3 demonstra que 82
indivíduos (88,17%) brincam descalços e 11
deles (11,83%) não brincam descalços; que
79 crianças (84,95%) mantém contato direto
com areia, terra e animais e 14 delas
(15,05%) não. Quanto ao possuir animais
domésticos em suas residências 62
responderam sim (66,67%) e 31 deles
(33,33%) relataram que não possuem.
Segundo Moro et al. (2008), é muito comum
alguns animais domésticos infectados como
os gatos e cães depositarem através do seu
conteúdo fecal estruturas parasitárias (ovos
e larvas de helmintos) no solo, areia ou
terras, o que resultará num meio
contaminado servindo de hospedeiro
intermediário para os helmintos se
desenvolverem e acometerem o homem.
Observou-se que o consumo se carne
crua ou mal cozida são hábitos de apenas 10
crianças (10,75%) e 83 destas não
consomem (89,25%). De acordo com Luis
Neto (2003), também é uma forma de
contaminação quando a carne possui
cisticercos.
Pode-se notar que 47 (50,54%)
crianças manifestavam alguns sintomas e
que 46 (49,46%) crianças não apresentavam
nenhum tipo de sintomas. No entanto os
principais sintomas relatados foram dor
abdominal (31,18%), cólicas (15,05%),
diarréias (10,75%), perda de peso (10,75%),
anemia (9%), vômitos (8,60%). Essas
manifestações sintomatológicas podem
interferir no dia a dia do indivíduo, ou seja,
prejudicar na capacidade de trabalho do
homem. Já em crianças ocasionará
alterações preocupantes principalmente no
estado nutritivo, afetando o crescimento e a
função cognitiva. (NOKES et al., 1992 apud
DORNELLES et al., 2006).
Cerca de 65 crianças (69,89%) já
realizaram exames parasitológicos durante a
infância sendo que 42 receberam
diagnostico de infecção parasitária, deste
modo, observou-se que a maioria dos pais
questionados relataram não lembrar qual
espécie parasitária que havia acometido seus
filhos, no entanto, através dos dados
coletados de alguns pais que lembraram dos
resultados anteriores, pode-se notar que
Ascaris lumbricóides e Giardia lamblia
obtiveram maior prevalência.
Tabela 4 – Resultados relacionados quanto à administração de antiparasitários durante a
infância das crianças de 5 a 12 anos e aos tipos e antiparasitários utilizados.
Já tomou algum medicamento pra verme?
Idade
5 anos 6 anos 7 anos 8 anos 9 anos
Sim
Não
Quais?
Vermim
Metronidazol
Mebendazol
Albendazol
Ascaridil
Anita
Licor de cacau
Pantelmim
Não lembro
10 anos
11 anos
12 anos
3
1
10
3
10
1
12
7
8
4
14
3
7
2
4
4
2
1
1
6
1
1
3
1
2
4
1
1
1
1
4
3
1
3
6
1
1
1
5
3
3
8
3
4
2
2
Os resultados negativos das análises
foram de 23 casos, esses resultados podem
não ser conclusivos, pois as formas
parasitárias bem como o peso e tamanho dos
SILVA, Jessica Elen Correia; PARENTE, Bruna; BURGOS, Valdelice Oliveira;
12
Interbio v.4 n.1 2010 - ISSN 1981-3775
mesmos podem variar, dificultando assim a
percepção desses parasitas nas análises em
laboratório, pois não existe nenhum método
específico com capacidade de diagnosticar
ao mesmo tempo todas as formas
parasitarias, sendo assim, a execução de
testes gerais e específicos seriam essenciais
para o diagnóstico de vários parasitas
intestinais. No entanto com a realização de
todos esses testes podem se tornar inviáveis
seja pela quantidade insuficiente de
amostras, bem como pelo elevado numero
de exames a serem realizados diariamente
(NEVES, 2005).
Verificou-se que mais da metade das
crianças já tomaram remédio de verme o
que corresponde cerca de 68 crianças
(73,12%), embora apenas 25 delas nunca
aderiram ao tratamento com antiparasitários
(26,88%) (Tabela 4). Na prática clínica
alguns medicamentos anti-parasitários, são
administrados de acordo com o diagnóstico
clínico do paciente e da espécie do agente
parasitário. Para obterem exatidão e precisão
no tratamento dessas doenças, alguns
fármacos
são
utilizados
como,
o
Metronidazol, derivados de dicloacetamina,
cloroquinina,
nitimidazina,
tenidazol,
ormidazol,
albendazol,
mebendazol,e
tiabendazol (SILVA, 2002).
De 33 crianças parasitadas 23 delas
participaram tanto na parte terapêutica do
projeto quanto a análise laboratorial após
administração medicamentosa de fármacos
antiparasitários, pode-se observar através
das análises e dos laudos laboratoriais que
23 crianças com parasitismo apenas 9
crianças
conseguiram
resultados
satisfatórios com o tratamento, embora 14
crianças continuaram infectadas por
parasitas intestinais, resultando em 14 casos
de amostra com a presença de cistos de
Giardia lamblia, apenas 1 caso permanente
de cistos de Entamoeba histolytica e ovos de
Ascaris lumbricóides e nenhum relato de
positividade de cistos de Entamoeba coli e
ovos de Hymenolepis nana. De acordo com
Balteiro (2007), a Giardia lamblia é o
parasita mais comumente encontrado no
trato intestinal do homem e é um agente
infectante que parasita em média 280
milhões de pessoas todos os anos. No Brasil
a freqüência de Giardíase na população
varia de acordo com a região, faixa etária
acometendo de forma mais intensa as
crianças pré-escolares, a freqüência dessa
patologia varia também de acordo com a
veiculação hídrica do agente patogênico
desenvolvendo o seu ciclo biológico em
meio aquático, podendo sobreviver até dois
meses frente ao resfriamento e a água
clorada (MACHADO. et al, 1999; DANIEL.
et al, 2001).
Tabela 5 – Quantidade de crianças que responderam e que não responderam ao tratamento
com o uso de antiparasitários e os tipos de parasitas intestinais presentes nas amostras fecais.
N˚de pacientes que
N˚ de pacientes que não
Total de
Idade
responderam ao tratamento
responderam ao tratamento
participantes
5 - 12 anos
9
14
23
Resultados das análises após o tratamento medicamentoso
Tipos de parasitas
Giardia lamblia
Entamoeba histolytica
Entamoeba coli
Ascaris lumbricóides
Hymenolepis
Observou-se que mesmo após o
tratamento
medicamentoso
com
N˚ positivo
14
1
1
-
antiparasitários as infecções causadas pela
Giardia lamblia continuou prevalecendo nas
SILVA, Jessica Elen Correia; PARENTE, Bruna; BURGOS, Valdelice Oliveira;
13
Interbio v.4 n.1 2010 - ISSN 1981-3775
crianças
obtendo
assim
resultados
insatisfatórios (tabela 5). No entanto,
segundo a pesquisa realizada pela primeira
vez em Portugal constatou-se que estruturas
isoladas de Giardia lamblia vêm
demonstrando resistência a antiparasitários
sendo eles os mais representativos na classe
terapêutica metronidazol e albendazol,
utilizados como um tratamento tradicional e
de uso recente no combate de giardíase
(BALTEIRO, 2007).
Conclusão
Constatou-se que no presente estudo
que a prevalência de parasitas intestinais em
crianças de 5 a 12 anos de idade do
município de Nova Alvorada do Sul-MS
foram de 35,48%, e que os parasitas
intestinais encontrados nas amostras
parasitológicas foram estruturas císticas de
protozoários de Entamoeba histolytica,
Entamoeba coli, Giardia lamblia e ovos de
helmintos de Tricuris trichiura, Ascaris
lumblicoides
e
Hymenolepis
nana.
Concluiu-se também que após o tratamento
medicamentoso mais da metade das crianças
(60,87%) não obtiveram cura parasitária o
que seria sugestivo de uma não adesão
correta
ao
tratamento
com
os
antiparasitários ou uma possível resistência
dos parasitas frente aos medicamentos, pois
observou-se que 73,12% das crianças
durante a infância já utilizaram fármacos
direcionados ao tratamento contra verme e
que em alguns casos também administraram
esses medicamentos mesmo não realizando
exames parasitológicos em laboratório antes
do tratamento.
Através dos dados levantados por
meio dos questionários aplicados aos
responsáveis pode-se revelar o perfil
socioeconômico da população, bem como os
hábitos higiênicos e alimentares, sendo
assim concluiu-se que a maior parte da
população sobrevive com a renda familiar
mensal mínima, moram em casas de tijolo,
usufruem de água encanada, não possuem
sistema quanto ao tratamento de esgoto, não
comem carne crua ou mal cozida,
apresentam hábitos de lavar as mãos e
alimentos antes das refeições e que mais da
metade da população infantil tem costumes
de brincar descalças, ter contato direto com
areia, terra e animais além de possuir
animais domésticos em suas residências.
Referências Bibliográficas
BALTEIRO, A.J.D. Introdução de resistência e
avaliação de sensibilidade de Giardia lamblia a
antiparasitários recorrendo a uma nova metodologia.
Escola superior de Tecnologia da Saúde de
Coimbra. Instituto Politécnico de Coimbra. ed. 9.
2007: disponível em: < http://enewsletter.ipc.pt/destaque_6.htm> Acesso em: 10.
mar. 2009.
CORREIA, A.A et al. Estudos das parasitoses
intestinais em alunos da 5˚ série do colégio da Policia
Militar (CPM) de Feira de Santana-Bahia. Diálogos e
Ciência. Revista Eletronica da Faculdade de
Tecnologia e Ciências de Feira de Santana. n.6.
p.01- 06, dez, 2005.
DANIEL, L.A. et al. Processos de desinfecçao e
desinfetantes alternativos na produção de agua
potável. Prosab. Sao carlos SP, 2001. Disponível
em :
<
http://www.finep.gov.br/prosab/livros/LuizDaniel.pd
f> Acesso em: 29. Maio, 2009.
DOMINGUES, S. H. S. Parasitoses intestinais.
Medicina atual, 2006. Disponivel em :
<www.micinaatual.com.br> Acesso em: 25.
nov.2008.
DORNELLES, E. V. F. et al. Condições
Parasitológicas-Sanitárias de Chupetas de Crianças
em Comunidades Carentes de Santa Maria-RS.
NewLar. 76. ed. p. 143, 2006
FERREIRA. D. S.; VIEIRA. G. O. Freqüência de
enteroparasitas na população atendida pelo
laboratório de análises clínicas Dr. Emerson Luíz da
Costa. Saúde e Ambiente em revista, Duque de
Caxias. vol. 1. p. 70-75, Jul-Dez, 2006.
FERREIRA, G. R.; ANDRADE, C. F. S. Alguns
aspectos socioeconômicos relacionados as
parasitoses intestinais e avaliação de uma intervenção
educativa em escolares de Estirva Gerbi, SP. Revista
da Sociedade Brasileira de medicina tropical.
p.402-405. v, 38 (5) Set-out,2005.
LEVENTHAL, R; CHEADLE. R. Parasitologia
Médica: Texto e Atlas: 4˚. ed. São Paulo: Editoral
Premier, 2000.
SILVA, Jessica Elen Correia; PARENTE, Bruna; BURGOS, Valdelice Oliveira;
14
Interbio v.4 n.1 2010 - ISSN 1981-3775
LUIZ NETO, L. S da. et al. Microbiologia e
parasitologia. Goiania: AB, 2003.
MACHADO, R.C. et al. Giardíase e helmintíases em
crianças de creches e escolas de 1º e 2º graus
(públicas e privadas) da cidade de Mirassol (SP,
Brasil). Revista da Sociedade Brasileira de
Medicina Tropical. p. 697-704 . v. 32(6), Nov-dez,
1999.
MELO, M.C. B et al. Parasitoses Intestinais. Revista
Médica de Minas Gerais. p. 3-12. v. 14, 2004.
MORO, F.C. B. Ocorrência de Ansylostoma spp.
Toxocara spp. Em praças e parques públicos dos
municípios de Itaqui e Uruguaiana, fronteira oeste do
Rio Grande do Sul. Biodiversidade Pampeana. p.
25-29. vol, 6, n. 1, jun- 2008.
TASHIMA, N. T.; SIMÕES, M. J, S. Parasitas
intestinais. Prevalência e correção com a idade e com
os sintomas apresentados de uma população infantil
de Presidente Prudente-SP. Revista Brasileira de
Análises Cínicas. p.35-39, vol. 37, n.1, 2005.
UCHOA, C.M.A. et al. Enteroparasitoses em
Crianças de Creche: Área temática de saúde: Anais
do 2º congresso Brasileiro de Extensão Universitária,
Belo Horizonte, 12 – 15 set, 2004. Disponível em:<
http://www.ufmg.br/congrext/Saude/Saude80.pdf>.
Acesso em: 15 fev, 2008.
VALLADA, E.P. Manual de exames de fezes:
Coprologia e Parasitologia: Rio de Janeiro, São
Paulo, Belo Horizonte. Atheneu, 1998.
NEVES, D. P. Parasitologia humana. 11. ed. São
Paulo: Atheneu, 2005.
NEVES, P.D . Parasitologia humana: 9. ed. São
Paulo: Atheneu , 1998.
PITTNER, E. Enteroparasitoses em crianças de uma
comunidade escolar na cidade de Guarapuava, PR.
Revista Salus-Guarapuava-PR. p. 97-100. vol, 1,
n.1, jan-jun, 2007.
REY, LUIZ. Parasitologia: parasitos e doenças
parasitarias do homem nas Américas e na África. 3.
ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogran, 2001.
RIBEIRO. L. et al. Introdução a segurança alimentar:
Giardia lamblia. Instituto Politécnico de Coimbra.
Disponível
em:<http://www.esac.pt/noronha/IntSegAlim/0708/al
unos/Giardia.pdf.> Acesso em: 29. Maio, 2009.
SANTOS, R. C. V. Parasitoses Intestinais: 2ª
Policlínica do Corpo de Bombeiros Militar do Estado
do Rio de Janeiro - Nova Iguaçu. Disponível em:
<http://www.2apoliclinica.cbmerj.rj.gov.br/modules.
php?name=News&file=print&sid=291>. Acesso em:
26 fev, 2008.
SILVA. Penildon. Farmacologia: 6. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.
SIQUEIRA, R.V; FIORINE, J. E. Conhecimentos e
procedimentos de crianças em idade escolar frente
a parasitoses intestinais. Universidade de Alfenas.
UNIFENAS. Minas Gerais. v. 5. p. 215-220, 1999.
SOARES, B; CANTOS, G.A. Qualidade
parasitológica e condições higiênico-sanitárias de
hortaliças comercializadas na cidade e Florianópolis,
Santa Catarina, Brasil. Revista Brasileira de
Epidemiologia. vol. 8. n. 4. 2005.
SILVA, Jessica Elen Correia; PARENTE, Bruna; BURGOS, Valdelice Oliveira;
Download

Baixe o Artigo aqui