UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ JÉSSICA LAIS GOMES HIROTA DA SILVA SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO TERNÁRIO β-CICLODEXTRINA: COLECALCIFEROL:ÍONS METÁLICOS CURITIBA 2014 JÉSSICA LAIS GOMES HIROTA DA SILVA SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO TERNÁRIO β-CICLODEXTRINA: COLECALCIFEROL: ÍONS METÁLICOS Dissertação de Mestrado apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre. Área de concentração: Engenharia e Ciência dos Materiais, Programa de PósGraduação em Engenharia e Ciências dos Materiais – PIPE. Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná. a a Orientadora: Prof . Dr . Ana Lucia Ramalho Mercê CURITIBA 2014 Silva, Jéssica Lais Gomes Hirota da Síntese e caracterização do complexo ternário β-Ciclodextrina: colecalciferol: íons metálicos / Jéssica Lais Gomes Hirota da Silva . – Curitiba, 2014. 77 f. : il.; tabs., grafs. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Paraná, Setor de Tecnologia, Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Ciência dos Materiais - PIPE. Orientadora: Ana Lucia Ramalho Mercê Bibliografia: p. 64-70 1. Ciclodextrina. 2. Vitamina D. 3. Ìons metálicos. I. Mercê, Ana Lucia Ramalho. II. Título. CDD: 547.78 AGRADECIMENTOS Agradeço especialmente: A minha orientadora e amiga, professora Dra. Ana Lucia Ramalho Mercê, sem ela este trabalho não teria sido realizado. Ao meu marido, companheiro, amigo, eterno namorado Cristiano Zanlorenzi que além de ter mudado o rumo da minha vida foi fundamental em todas as etapas deste trabalho. À minha família pelo apoio incondicional, especialmente ao meu pai Sérgio e minha mãe Edilza, ao meu ―paidastro‖ Marcos e minha ―mãedastra‖ Daniela, obrigada por sempre me incentivar e me apoiar, fundamental na decisão de iniciar um mestrado. Ao prof. Dr. Miguel Noseda e sua aluna Ester Mazepa, que nos deram a oportunidade de sua colaboração, para realizar as análises de Ressonância Magnética Nuclear. As minhas amigas Ana Cristina Trindade Cursino e Franciele Wolfart, pela grande ajuda na parte experimental deste trabalho e também pelas conversas e cafés. Aos professores Dr. Fernando Wypych e Dr. Carlos Yamamoto, pela disponibilidade de tempo e paciência. Muito obrigada! Aos meus colegas de laboratório, Thieme e Edgar, que de alguma forma contribuíram muito na minha vida profissional e pessoal. Enfim, agradeço a todos que estiveram comigo neste mestrado e também participaram para que este trabalho fosse concluído. 2 ―Nossa maior fraqueza está em desistir. A maneira mais segura de ter sucesso é sempre tentar mais uma vez.‖ (Thomas Edison) 3 RESUMO Estruturas supramoleculares binárias ou ternárias possuem diversas finalidades, mais especificamente na área farmacêutica e da saúde. Quando os compostos orgânicos, como compostos farmacêuticos, são encapsulados em ciclodextrinas, eles podem exibir novas propriedades como aumento de solubilidade, retenção e diminuição de reatividade de produtos tóxicos, fixação de substâncias voláteis, entre outros. A encapsulação com CDs fornece às vitaminas lipossolúveis (A, D, E, e K) um meio adequado para preservar suas propriedades durante o armazenamento, mantendo sua eficiência biológica e limitando sua exposição a altas temperaturas, luz ou oxigênio. A vitamina D (VD3) é menos ingerida ou produzida no organismo humano. Sua principal função é regular a homeostase dos íons Ca(II), Mg(II) e Zn(II), contudo, metais tóxicos como o Cd(II) e Ni(II) em excesso no organismo podem agir como competidores por sítios em proteínas, interferindo na ação de vitamina. A pesquisa é focada nas interações entre β-ciclodextrina com colecalciferol (vitamina D3) e íons metálicos para que, inicialmente, se compreenda como se dá a formação dos complexos. Para o desenvolvimento do trabalho os complexos foram caracterizados potenciométrica, RMN 13 por meio de técnicas como titulação 1 C e H, difração de raio X de pó (DRX) e espectroscopia na região do infravermelho por transformada de Fourier (IVTF). Por meio da titulação, obteve-se um valor de log β = 20,43 para o composto binário de β-ciclodextrina (BCD) com a vitamina D3 (VD3). Os estudos de DRX apresentaram dois tipos diferentes de estruturas, a formação de uma estrutura amorfa para o composto binário de BCD:VD3 e a formação de estrutura gaiola para os complexos binários (ΒCD:Cd (II) e ΒCD:Ni (II)) e ternários (ΒCD:VD3:Cd (II) e ΒCD:VD3:Ni (II)). Por meio da técnica de IVTF, pode-se perceber as possíveis interações da BCD com a VD3 e os íons metálicos. Com os deslocamentos químicos dos átomos de carbono e hidrogênio calculados por meio da técnica de RMN, foi possível compreender o ambiente químico desses átomos e elaborar propostas de estruturas para todos os complexos. Palavras-chave: β-ciclodextrina, vitamina D3, colecalciferol, compostos de inclusão, constante de estabilidade, níquel, cádmio. 4 ABSTRACT Binary and ternary supramolecular structures have different purposes, more specifically in the pharmaceutical and health area. When organic compounds such as pharmaceuticals, are encapsulated in cyclodextrins, they can exhibit new properties such as increased solubility, decreased and reactivity retention of toxic products, fixation of volatile substances, among others. Encapsulation provides CDs with the liposoluble vitamins (A, D, E, and K) an adequate to preserve its properties during storage, maintaining their biological efficiency and limiting their exposure to high temperatures, light or oxygen. Vitamin D (VD3) is less consumed or produced in the human body. Its main function is to regulate the homeostasis of Ca(II), Mg(II) and Zn(II), however, toxic metals such as Cd(II) and Ni(II) in excess in the organism can act as competitors of sites in proteins, interfering with the action of vitamin. The research is focused on the interactions between β-cyclodextrin with cholecalciferol (vitamin D3) and metal to understand how it gives the formation of complex ions. For the development of the work the complexes were characterized by techniques such as potentiometric titration, 1H and 13 C NMR, X-ray diffraction powder (XRD) and infrared spectroscopy Fourier transform (FTIR). Through titration gave a value of log β = 20.43 to the binary compound of β-cyclodextrin (BCD) and vitamin D3 (VD3). XRD studies have presented two different types of structures, the formation of an amorphous structure to a binary compound of BCD: VD3 and the formation of the cage structure to the binary complexes (ΒCD Cd (II) and ΒCD: Ni (II)) and ternary (ΒCD: VD3 Cd (II) and ΒCD: VD3: Ni (II)). By FTIR technique, one can see the possible interactions of the BCD with VD3 and metal ions. With the chemical shifts of carbon atoms and hydrogen calculated by the NMR technique, it was possible to understand the chemical environment of these atoms and elaborate structures proposed for all complexes. Keywords: β-cyclodextrin, vitamin D3, cholecalciferol, inclusion compounds, stability constant, nickel, cadmium. 5 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Sistema complexo de inclusão. FONTE: SALIPIRA, 2006. ....................... 15 Figura 2 - estrutura tridimensional de (a) α-CD, (b) β-CD e (c) γ-CD mostrando as suas dimensões aproximadas. Fonte: VENTURINI, 2008. ....................................... 16 Figura 3 - Numeração dos átomos de carbono e hidrogênio da ΒCD. Fonte: modificado pelo autor . .............................................................................................. 17 Figura 4 - Esquema da formação da VD3. ................................................................. 20 Figura 5 - Esquema da titulação................................................................................ 23 Figura 6 - Curva de titulação experimental da BCD livre e do composto binário ΒCD:VD3 (BCDVITH). ............................................................................................... 36 Figura 7 - Distribuição das espécies para a ΒCD em função do pH e da % de formação. .................................................................................................................. 37 Figura 8 - Distribuição das espécies para o composto binário ΒCD:VD 3 (BCDVIT) e da % de formação. .................................................................................................... 37 Figura 9 - Curva experimental (losangos) e curva do modelo teórico (linha contínua) para a ΒCD................................................................................................................ 38 Figura 10 - Curva experimental (losangos) e curva do modelo teórico (linha contínua) para o composto binário ΒCD:VD3. ........................................................................... 39 Figura 11 - Difratograma da ΒCD pura, MF e ΒCD:VD3 ............................................ 40 Figura 12 – Difratograma da ΒCD e dos complexos binários e ternários de Cd(II) nas proporções 5:1 e 10:1. .............................................................................................. 42 Figura 13 - Difratograma da ΒCD e dos complexos binários e ternários de Ni (II) nas proporções 5:1 e 10:1. .............................................................................................. 43 Figura 14 - Espectro teórico de IVTF da ΒCD e VD3 ................................................. 44 Figura 15 - Espectro de IVTF da ΒCD e do composto binário ΒCD:VD3 ................... 46 Figura 16 - Espectro (i) de IVTF dos complexos de Cd (II) ....................................... 48 Figura 17 - Espectro (ii) de IVTF dos complexos de Cd (II) ...................................... 48 Figura 18 – Espectro (i) de IVTF dos complexos de Ni (II) ........................................ 49 Figura 19 - Espectro (II) de IVTF dos complexos de Ni (II) ....................................... 49 Figura 20 – Espectro de RMN de 13C: (a) BCD; (b) MF; (c) BCD:VD3; (d) VD3 . ...... 50 Figura 21- Espectro de RMN de 13C da ΒCD e ΒCD:VD3 em ppm. .......................... 52 Figura 22 – Espectro de RMN 1H da BCD livre. Fonte: SCHNEIDER (1998)............ 52 Figura 23 – Espectro de RMN 1H da vitamina D3 livre. Fonte: WISHART, 2013 88. . 53 6 Figura 24 - Espectro de RMN 1H da MF (acima) e BCD:VD3 (abaixo). ..................... 54 Figura 25 - Proposta de estrutura do composto binário BCD:VD3............................. 55 Figura 26 - Espectro de RMN 1H do complexo BCD:Cd na proporção 10:1 (acima) e da proporção 5:1 (abaixo). ........................................................................................ 56 Figura 27 - Espectro de RMN 1H do complexo BCD:Ni na proporção 5:1 (acima) e da proporção 10:1 (abaixo). ........................................................................................... 58 Figura 28 - Proposta de estrutura dos complexos binários BCD:Cd (II) e BCD:Ni (II). .................................................................................................................................. 58 Figura 29 - Espectros de RMN 1H dos complexos ternário com cádmio, na proporção 10:1:1 (acima) e proporção 5:1:1 (meio) com a BCD:VD3 (abaixo) ........................... 60 Figura 30 - Espectros de RMN 1H dos complexos ternário com níquel, na proporção 5:1:1 (acima) e proporção 10:1:1 (meio) com a BCD:VD3 (abaixo) .......................... 61 Figura 31 - Proposta de estrutura dos complexos ternários. ..................................... 62 7 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Características das CDs naturais. ............................................................. 17 Tabela 2 - Complexo Fármaco:ΒCD comerciais.,, ..................................................... 18 Tabela 3 – Proporções utilizadas no trabalho ........................................................... 31 Tabela 4: Estruturas binárias e ternárias de ΒCD com VD 3 e íon metálico (Cd(II) e Ni(II)) nas proporções 5:1 e 10:1 ............................................................................... 32 Tabela 5: Logaritmos das constantes de protonação da ΒCD e da ΒCD:VD 3........... 35 Tabela 6 - Bandas características das CDs no espectro de IVTF. ............................ 45 Tabela 7: Relação dos deslocamentos químicos dos átomos de C da BCD e BCD:VD3 em ppm. .................................................................................................... 51 Tabela 8: Relação dos deslocamentos químicos dos átomos de H da BCD e BCD:VD3 em ppm ...................................................................................................... 53 Tabela 9: Relação dos deslocamentos químicos dos átomos de C e H da ΒCD, ΒCD:Cd(II) e BCD:Ni(II)............................................................................................. 57 Tabela 10: Relação dos deslocamentos químicos dos átomos de C e H dos complexos ternários com Cd(II) e Ni(II). .................................................................... 59 Tabela 11 - Relação das variações dos deslocamentos químicos entre os compostos ternários e binários. ................................................................................................... 60 8 LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS Δδ Variação do deslocamento químico δ Deslocamento químico ou deformação da molécula δL Deslocamento químico da molécula livre δC Deslocamento químico da molécula complexada ν Estiramento CD/CDs Ciclodextrina/ Ciclodextrinas. DRX Difratometria de raios-X H Representação para o próton H+. IARC International Agency for Research on Cancer. IVTF Espectroscopia na região do infravermelho por transformada de Fourier. LEQ Laboratório de Equilíbrio Químico. Log K Logaritmo da constante de estabilidade passo a passo. Log β Logaritmo da constante de estabilidade global dos complexos ou constantes de protonação dos ligantes. M Íon metálico. LM Espécie ligante-metal. UV-Vis Espectroscopia na região do ultravioleta-visível. Vit Vitamina VD3 Vitamina D3 ou Colecalciferol. RMN 13C Ressonância magnética nuclear de carbono. RMN 1H Ressonância magnética nuclear de hidrogênio. ΒCD β–ciclodextrina. ΒCD:Cd(II) Composto binário de β-ciclodextrina com cádmio. ΒCD:Ni(II) Composto binário de β-ciclodextrina com níquel. ΒCD:VD3 Composto binário de β-ciclodextrina com vitamina D3. ΒCD:VD3:Cd(II) Composto ternário de β-ciclodextrina e vitamina D3 com cádmio. ΒCD:VD3:Ni(II) Composto ternário de β-ciclodextrina e vitamina D3 com níquel. BCD:VD3:M (II) Composto ternário de β-ciclodextrina e vitamina D3 com um íon metálico. 9 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 12 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 14 2.1 QUÍMICA SUPRAMOLECULAR E O FENÔMENO DA INCLUSÃO MOLECULAR ......................................................................................................... 14 2.2 CICLODEXTRINAS ...................................................................................... 15 2.2.1 Histórico e estrutura das ciclodextrinas. ................................................ 15 2.3 VITAMINA D3 - COLECALCIFEROL ............................................................ 18 2.4 ÍONS METALICOS: Cd(II) E Ni(II) ................................................................ 20 2.5 CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS DE INCLUSÃO .......................... 22 2.5.1 Titulação potenciométrica ...................................................................... 22 2.5.2 Difratometria de raio-X (DRX) ................................................................ 26 2.5.3 Espectroscopia na região do infravermelho por transformada de Fourier (IVTF).................................................................................................................. 26 2.5.4 Ressonância magnética nuclear de carbono e hidrogênio (RMN 13 C e 1 H)....................................................................................................................... 27 3 4 5 OBJETIVOS........................................................................................................ 29 3.1 OBJETIVO GERAL ...................................................................................... 29 3.2 OBJETIVO ESPECÍFICO ............................................................................. 29 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................. 30 4.1 MATERIAIS .................................................................................................. 30 4.2 METODOLOGIA .......................................................................................... 30 4.2.1 Síntese dos compostos de inclusão ...................................................... 30 4.2.2 Caracterização dos complexos de inclusão ........................................... 32 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................... 35 5.1 TITULAÇÃO POTENCIOMÉTRICA ............................................................. 35 10 5.1.1 Constantes de protonação ..................................................................... 35 5.1.2 Curva experimental e curva da simulação do modelo teórico ............... 38 5.2 DIFRATOMETRIA DE RAIO-X (DRX) .......................................................... 39 5.2.1 Difratograma de raios-X do composto binário ΒCD:VD3 ........................ 39 5.2.2 Difratograma de raios-X dos complexos binários e ternários do cádmio e níquel..... ............................................................................................................. 41 5.3 ESPECTROSCOPIA NA REGIÃO DO INFRAVERMELHO ......................... 44 5.3.1 Espectros de IVTF do composto binário ΒCD:VD3 ................................ 44 5.3.2 Espectros de IVTF dos complexos binários e ternários do cádmio e níquel.... .............................................................................................................. 47 5.4 RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NUCLEAR DE CARBONO E DE HIDROGÊNIO (RMN 13C E RMN 1H) ..................................................................... 50 5.4.1 Caracterização por RMN de 13C e 1H do composto binário BCD:VD3. .. 50 5.4.2 Caracterização por RMN de 13C e 1H dos complexos binários BCD:Cd(II) e BCD:Ni(II) ........................................................................................................ 56 5.4.3 Caracterização por RMN de 13 C e 1 H dos compostos ternários ΒCD:VD3:Cd(II) e ΒCD:VD3:Ni(II) ....................................................................... 59 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 63 7 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 64 8 APÊNDICE..........................................................................................................71 9 ANEXO................................................................................................................74 12 1 INTRODUÇÃO A procura por novos excipientes e tecnologias, tem levado a indústria farmacêutica e a comunidade científica à pesquisa por novas formulações que resultem em compostos mais estáveis que melhorem os tratamentos. Neste contexto, as ciclodextrinas na forma de complexos de inclusão têm sido um dos principais compostos empregados dentro da área farmacêutica nestes últimos anos1. A principal característica das ciclodextrinas é a sua estrutura espacial com formato de cone, que devido ao grande número de hidroxilas, leva a um caráter hidrofílico em sua parte externa e hidrofóbico na cavidade interna. Tal propriedade permite a formação de complexos de inclusão com inúmeras moléculas, e aliada à sua baixa toxicidade, possibilita a formulação de fármacos com maior biodisponibilidade de princípios ativos insolúveis. O resultado disso impacta fortemente na indústria farmacêutica, uma vez que se pode traduzir como redução do custo de fármacos, passando a envolver uma quantidade menor de princípio ativo em função da maior eficiência de ação das drogas. Isso representa também melhora na qualidade de vida dos usuários de alguns desses medicamentos, através de tratamentos menos agressivos2 e com novas possibilidades de aplicação na terapia gênica ou no combate ao vírus HIV 3,4. Diversas aplicações em termos de modificações das características físicoquímicas intrínsecas das moléculas ―hóspedes‖ podem ser encontradas na literatura no que se refere à solubilidade5, estabilidade6, biodisponibilidade7, proteção contra a oxidação, redução, racemização, isomerização, polimerização, hidrólise e/ou decomposição do princípio ativo, assim como conversão de substâncias líquidas em microcristalinas, redução das irritações gastrointestinais ou oculares e outros efeitos secundários, além da prevenção a uma decomposição enzimática [8-27]. A encapsulação com as ciclodextrinas (CDs) fornece às vitaminas lipossolúveis (A, D, E, e K) um meio adequado para preservar suas propriedades durante o armazenamento, mantendo sua eficiência biológica e limitando sua exposição a altas temperaturas, luz ou oxigênio. A sua utilização (oral, sistêmica, tópica, transdérmica e local) requer diferentes tamanhos de partículas e perfis de liberação, e a encapsulação dessas vitaminas pode levar a uma maior eficiência, permitindo doses menores, para assim, diminuir potencialmente o aparecimento da síndrome de hipervitaminose e efeitos colaterais. Por possuírem baixa solubilidade em água e 13 em meios biológicos, alguns estudos correlacionam as vitaminas com a ciclodextrina9,10, objetivando a síntese de compostos binários. Contudo, existem poucos estudos dessa área usando a vitamina D (em especial a D 3) como hóspede em um composto de inclusão. Entre as vitaminas citadas, a vitamina D (VD3) é menos ingerida ou produzida no organismo humano. Sua carência leva a uma redução da absorção intestinal do cálcio, gerando hipocalcemia, podendo desenvolver o raquitismo e aumentar o risco de osteoporose. Pelo fato das suas manifestações clínicas surgirem apenas em fase tardia, a carência da vitamina D é um problema existente, entretanto é pouco identificado. Pesquisas relacionadas à inclusão de complexos de VD3 não levam em conta uma terceira espécie como íon metálico 11 . Há na literatura trabalhos que contemplam a inclusão de metais derivados em CD, porém sem qualquer molécula orgânica 12,13,14,15. Os metais pesados são elementos químicos altamente reativos e bioacumulativos, ou seja, acumulam-se com o tempo no organismo que é incapaz de eliminá-los. Muitos metais são essenciais para o crescimento de todos os tipos de organismos, desde as bactérias até mesmo o ser humano, mas eles são requeridos em baixas concentrações caso contrários, podem prejudicar sistemas biológicos16. Os metais selecionados para o estudo foram o cádmio (metal tóxico) e o níquel (metal essencial, mas tóxico dependendo da quantidade) pelo fato deles fazerem parte da homeostase (condição de relativa estabilidade da qual o organismo necessita para realizar suas funções adequadamente para o equilíbrio do corpo) do cálcio, zinco e magnésio, agindo como competidores por sítios de ligações de proteínas e também interferindo na ação de vitamina, causando efeitos a médio e longo prazo no organismo. O presente trabalho, portanto, vem contribuir com o estudo dos compostos de inclusão de Vitamina D3 (Colecalciferol) e íons metálicos (cádmio e níquel) em ciclodextrinas, sendo caracterizados pelas técnicas de ressonância magnética nuclear de carbono e hidrogênio (RMN de 13 C e 1H), difratometria de raios-X (DRX), titulação potenciométrica e espectroscopia na região do infravermelho por transformada de Fourier (IVTF). 14 2 2.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA QUÍMICA SUPRAMOLECULAR E O FENÔMENO DA INCLUSÃO MOLECULAR A química supramolecular foi definida por um dos seus principais impulsionadores, Jean-Marie Lehn, como a ―química das associações moleculares e das ligações intermoleculares‖ 17 , e visa o desenvolvimento de procedimentos adequados para a preparação de moléculas mais sofisticadas a partir de átomos ligados covalentemente. Seu principal objetivo é, portanto, o desenvolvimento de sistemas químicos de elevada complexidade a partir de componentes que interagem através de forças intermoleculares18, podendo ser do tipo eletrostáticas, ligações de hidrogênio ou interações de van der Waals. Apesar da fraca intensidade destas forças, o fato de se estabelecer um elevado número de interações num mesmo sistema pode originar uma alteração drástica das propriedades dos constituintes da associação molecular 19. A ciência em geral e a química em particular constituem matéria de grande complexidade. Neste contexto, a química supramolecular, tal qual ela é definida, cobre uma gama muito extensa e uma elevada diversidade de sistemas moleculares. Dentre os vários sistemas incluídos neste domínio, destacam-se os sistemas hóspede-hospedeiro, uma vez que este trabalho é baseado em compostos baseados nesta formulação. Diversos compostos podem formar sistemas supramoleculares através de processos de inclusão molecular 20,21 . A molécula a ser incluída, chamada comumente de hóspede, deve possuir um volume adequado, bem como a molécula que irá "hospedar" que por sua vez, também precisa possuir uma estrutura molecular adequada para formar os denominados complexos de inclusão ou compostos de inclusão 22,23, como ilustrado na Figura 1. 15 Figura 1 - Sistema complexo de inclusão. FONTE: SALIPIRA, 2006. 24 As CDs representam uma vasta família de compostos de origem natural com propriedades únicas para a formação de compostos de inclusão. São capazes de formar estruturas supramoleculares binárias ou ternárias que possuem diversas finalidades, mais especificamente na área farmacêutica e da saúde. Quando os compostos orgânicos, como compostos farmacêuticos, são encapsulados em ciclodextrinas, eles podem exibir novas propriedades como aumento de solubilidade 25 , retenção e diminuição de reatividade de produtos tóxicos, fixação de substâncias voláteis, entre outros 26,27,28. 2.2 CICLODEXTRINAS 2.2.1 Histórico e estrutura das ciclodextrinas. As ciclodextrinas foram descobertas por Viliers degradação de derivados de amido. Schardinger 30 29 em 1891, como produtos de em 1903 foi o responsável pela primeira descrição detalhada da preparação e isolamento destes oligossacarídeos cíclicos. Algumas décadas depois, a estrutura química das ciclodextrinas e sua capacidade de formar compostos de inclusão foram reportadas por Freudenberg et al 31 em 1940. Ainda nessa época, um grupo liderado por French32 pesquisou processos de obtenção de ciclodextrina pura. Nas décadas seguintes, Cramer e seus colaboradores estudaram sistematicamente a formação de seus complexos de inclusão e outras propriedades da ciclodextrina, como a sua ação catalítica e aplicabilidade na modelagem da ação enzimática 33,34. No final de 1960, eram conhecidos os métodos de produção de CDs em escala laboratorial, bem como as principais características estruturais, propriedades físico-químicas e a capacidade para formarem compostos de inclusão. Já nessa altura, as CDs eram vistas como moléculas muito promissoras, particularmente para 16 aplicações no ramo industrial. Em 1970, após estudos toxicológicos, concluiu-se que as CDs não apresentaram um nível de toxicidade que impedisse a sua utilização em produtos para consumo humano. As CDs são oligossacarídeos cíclicos, compostas por unidades de Dglicopiranose unidas por ligações glicosídicas do tipo α-1,4, sendo por isso, também conhecidas como cicloamilases.35 Estas estruturas são obtidas a partir da degradação enzimática do amido por ação da glicosil-transferase de origem bacteriana. Uma consequência estrutural dessas ligações glicosídicas α (1-4) é a formação de uma molécula num formato semicircular tipo cone truncado (Figura 2), garantindo a ela uma cavidade com dimensões que dependem do número de unidades glucose, com grupos hidroxil em suas unidades de α-glucose. Os chamados grupos hidroxilas primários (grupos hidroximetila: – CH2OH) situam-se na abertura mais estreita deste cone, enquanto os grupos hidroxilas secundários situam-se na abertura mais larga. Uma característica importante destes grupos hidroxilas e seu caráter hidrofílico é promover a solubilização das CDs em meio aquoso. As CDs obtidas com maior rendimento são comumente conhecidas como CDs naturais e contém seis, sete ou oito unidades de glicose, sendo denominadas de α-ciclodextrina (aCD), β-ciclodextrina (ΒCD) e γ-ciclodextrina (γCD), 4 respectivamente . Figura 2 - estrutura tridimensional de (a) α-CD, (b) β-CD e (c) γ-CD mostrando as suas dimensões 36 aproximadas. Fonte: VENTURINI, 2008. 17 Todas as unidades de glicose das CDs se apresentam na conformação de cadeira o que resulta em posições muito específicas para o grupo hidroxila. Como pode ser observado na Figura 3, as hidroxilas secundárias, (ligados aos átomos de carbono 2 (C2) e carbono 3 (C3), estão viradas para o exterior da CD e as hidroxilas primárias (átomo de carbono 6 (C6)) estão viradas para o interior da cavidade 37. H4 OH C4 HO H6 C6 O C5 H2 H5 C2 C3 H1 OH H3 C1 O n=7 Figura 3 - Numeração dos átomos de carbono e hidrogênio da ΒCD. Fonte: modificado pelo autor Tabela 1: Características das CDs naturais. 38 . 39 Número de unidades de glicose aCD 6 BCD 7 γCD 8 Massa molecular (g/mol) 973 1135 1297 Diâmetro interno da cavidade (nm) 0,45-0,57 0,62-0,78 0,79-0,95 Diâmetro externo da cavidade (nm) 1,37 1,53 1,69 Altura da cavidade (nm) Volume da cavidade (mL/moL) 7,9 174 7,9 262 7,9 472 Solubilidade em água (25 ºC) g/100 mL 14,5 1,85 23,2 pKa (25 ºC) 12,33 12,2 12,08 O alinhamento dos grupos hidroxila torna a CD mais ou menos solúvel em água. Como pode ser visto na Tabela 1, na ΒCD, cada hidroxila secundária está envolvida numa ligação de hidrogênio com a hidroxila seguinte, havendo menos disponibilidade para formar pontes de hidrogênio com a própria água, portanto, esta é a menos solúvel das CDs. Comparado com as outras CDs, a ΒCD apresenta maior rigidez, facilidade para obtenção de cristais e também maior abundância no mercado. Na área farmacêutica, este excipiente funcional tem sido explorado 18 principalmente no incremento da biodisponibilidade 20 , solubilidade 1,6 , estabilidade de medicamentos e na redução de seus efeitos colaterais. Alguns fármacos com solubilidades aquosas bastante reduzidas demonstram maior capacidade de melhora da solubilidade, por exemplo, o taxol, apresenta um incremento na sua solubilidade aquosa de até 100.000 vezes quando encapsulados com derivados metilados de ΒCD 1.Também se pode destacar sua utilização para mascarar odores e sabores desagradáveis de certos fármacos, para reduzir ou eliminar irritações oculares ou gastrointestinais, na prevenção de interações e incompatibilidades e na conversão de fármacos líquidos em produtos sólidos. Essas características aliada ao fato de ser a CD mais usada para inclusão de fármacos (alguns exemplos são apresentados na Tabela 2), fez da ΒCD a hospedeira utilizada neste trabalho. 1,40,81 Tabela 2 - Complexo Fármaco:ΒCD comerciais. Complexo PGE2/ ΒCD Piroxicam/ ΒCD Iodo/ ΒCD Dexametasona, Glyteer/ ΒCD Cloranfenicol/ ΒCD metilada Piroxicam/ ΒCD Nome Comercial Prostarmon E Indicação Administração Inibidor de parto Cicladol/ Brexin Mena-Gargle Glymesason Antiinflamatório/Analgésico Infecção na garganta Antiinflamatório/Analgésico Antibiótico Clorocil Nicotina/ ΒCD Nicorette Antiinflamatório/Analgésico Dependência em Nicotina Omeprazol/ ΒCD Omebeta Antiulceroso 2.3 Flogene Companhia/País Cápsula sublingual Tablete ou sache Gargarejo Pomada Ono (Japão) Colírio Oftalder (Portugal) Líquido Aché (Brasil) Tablete sublingual Tablete Pharmacia Upjohn (Suécia) Betapharm (Alemanha) Masterpharma/Chi esi (Itália) Kyushin (Japão) Fujinaga (Japão) VITAMINA D3 - COLECALCIFEROL Vitaminas são compostos orgânicos, que não podem ser sintetizados pelo organismo e são encontradas em pequenas quantidades na maioria dos alimentos. São substâncias extremamente frágeis, perdem sua ação biológica na presença de calor, ácidos, luz e certos metais. Suas principais propriedades envolvem dois mecanismos importantes: o de coenzima (substância necessária para o 19 funcionamento de certas enzimas que catalisam reações no organismo) e o de antioxidante (substâncias que neutralizam radicais livres) 41 . A vitamina D é um hormônio esteroidal, que interage com ossos, glândulas paratireóides, rins e intestinos, cuja principal função consiste na regulação da homeostase do cálcio, formação e reabsorção óssea. Devido ao papel dessa vitamina no metabolismo do cálcio, ela tem sido utilizada na prevenção e tratamento da osteoporose e osteomalácia 16. É possível adquirir tal vitamina por meio da alimentação, sendo que o ergocalciferol (vitamina D2) a partir de fontes vegetais, e, o colecalciferol (ou VD3) a partir de fontes animais como peixes, óleos de peixe e gema de ovo. Portanto, é importante possuir uma alimentação balanceada a fim de adquirir as quantidades necessárias diárias dessas vitaminas que é de 400 a 600 IU (10 a 15µg) por dia, dependendo da faixa etária 42. Além do seu papel na homeostase do cálcio, vários estudos relatam que a forma ativa da vitamina D apresenta atividade biológica e efeitos mais complexos em relação ao organismo, que contribuem para prevenção, tratamento e aumento da imunidade contra algumas doenças, principalmente as autoimunes 43 . A sua carência, por outro lado, gera doenças como o raquitismo e a osteoporose. Contudo, evidências recentes correlacionam níveis insuficientes de VD3 com um risco aumentado de desenvolvimento de outras patologias não ósseas: doenças cardiovasculares, hipertensão, neoplasias, diabetes, esclerose múltipla, demência, artrite reumatóide, doenças infecciosas 42. Como demonstrado na Figura 4 a formação da VD3 no organismo ocorre através da exposição à luz utravioleta (UV) ou luz solar sobre o 7-deidrocolesterol (que resulta do colesterol) presente na pele, gerando a pró-VD3 que, por abertura do anel B na ligação C9-C10 e ao sofrer uma isomerização, origina a VD3. A VD3 não é biologicamente ativa, mas enzimas do fígado e dos rins convertem-na em 1,25diidroxicolecalciferol, hormônio que regula a absorção do cálcio no intestino e o seu nível nos rins e ossos44. 20 Figura 4 - Esquema da formação da VD3. 2.4 ÍONS METALICOS: Cd(II) E Ni(II) Os metais desempenham funções importantes no metabolismo dos seres vivos. Suas propriedades demonstram-se fundamentais na manutenção da estrutura tridimensional de biomoléculas essenciais ao metabolismo celular. No entanto, enquanto alguns metais são necessários em quantidades mínimas para os seres vivos, outros não apresentam função biológica relevante, podendo causar danos ao metabolismo 45. A toxicologia é a ciência que estuda os efeitos nocivos das interações das substâncias com os seres vivos 46 . Com o estudo da toxicologia, constatou-se que cada metal pode vir a apresentar um efeito toxicológico específico sobre determinado ser vivo. Além disso, outros fatores, como biodisponibilidade e espécie química, influenciam na toxidade de um elemento químico 45 . Os efeitos tóxicos dos metais sempre foram considerados como eventos de curto prazo, agudos e evidentes, como anúria e diarréia sanguinolenta, decorrentes da ingestão de mercúrio. Geralmente esses efeitos são difíceis de serem distinguidos e perdem em especificidade, pois podem ser provocados por outras substâncias tóxicas ou por interações entre esses agentes químicos. A manifestação dos efeitos tóxicos está associada à dose e pode distribuir-se por todo o organismo, 21 afetando vários órgãos, alterando os processos bioquímicos, organelas e membranas celulares47. O cádmio é um metal pesado que não possui função biológica sendo altamente tóxico a plantas e animais, é um elemento de vida biológica longa (10 a 30 anos) e de lenta excreção pelo organismo humano. Industrialmente é utilizado em galvanoplastia, fabricação de ligas, baterias de Ni-Cd, tubos de TV, pigmentos, esmaltes e tinturas têxteis, fotografia, lasers, entre outros. Na agricultura, a fonte de contaminação são os fertilizantes fosfatados, os quais interferem no pH do solo, aumentando sua disponibilidade 48 e, consequentemente, a concentração do metal nos produtos agrícolas. A toxicidade deste metal pode ser resultado da sua habilidade de formar complexos, gerando um aumento do processo oxidativo, além de competir com zinco por sítios de ligação em proteínas e se liga de forma inespecífica ao DNA, causando quebras simples de cadeia 49 . De acordo com a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), o cádmio e seus compostos são considerados cancerígenos para o ser humano (Grupo 1), com base em evidências de tumores pulmonares em trabalhadores e animais expostos por via aérea 50. O níquel, por outro lado, tem funções biológicas no organismo e sua deficiência leva a alterações, por exemplo, no desenvolvimento do fígado, no crescimento, no comportamento/humor das pessoas, à redução da absorção de Ferro a nível intestinal como de outros minerais, como zinco e o cobre, além de alterar o metabolismo dos aminoácidos e dos carboidratos. Está, igualmente, envolvido na fixação do CO2 ao propionil-CoA para formar D-metilmamalonil-CoA. Todos estes fatos revelam que o Ni(II) é importante para o bom funcionamento do organismo, contudo, continua não haver muita informação sobre os verdadeiros efeitos benéficos deste, quer no homem como em outros organismos. Esse metal também é um agente sensibilizante causando dermatites de contato nas pessoas mais sensíveis, podem ser carcinogênicos em concentrações muito altas e também podem surgir problemas de fertilidade e no desenvolvimento do feto (más formações a nível ocular, quistos pulmonares, hidronefroses e deformações nos ossos). A exposição iatrogênica desse metal resulta de implantes e próteses feitos a partir de ligas com níquel, de fluidos intravenosos ou de diálise (100μg por tratamento) e das radiografias de contraste 51. 22 A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) classifica o níquel metálico e ligas como possíveis cancerígenos para o ser humano (Grupo 2B) e os compostos de níquel como cancerígenos (Grupo 1) 52. 2.5 CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS DE INCLUSÃO Para avaliar a formação de complexos de inclusão com as ciclodextrinas utilizou-se um conjunto de técnicas que evidenciam esta complexação tanto em meio liquido como no estado sólido. As técnicas utilizadas foram a análise térmica, espectroscopia no infravermelho, difração de raios-X, ressonância magnética nuclear de 13C e titulação potenciométrica. 2.5.1 Titulação potenciométrica A técnica de titulação é geralmente acompanhada de bruscas variações de concentração das substâncias iônicas envolvidas, que ocorrem em torno do ponto de equivalência. Neste sentido, a técnica de titulação potenciométrica consiste em seguir a variação da concentração de certa espécie iônica com o auxílio de um eletrodo indicador adequado, enquanto é adicionada uma solução titulante, sendo o ponto final acusado pela variação brusca de potencial da célula galvânica na qual o eletrodo está submerso. Dessa maneira, o equipamento necessário para a realização da titulação potenciométrica é formado por um eletrodo indicador e um eletrodo de referência, submerso em uma solução apropriada. Não requer medidas absolutas de força eletromotriz (f.e.m.), bastando uma medida relativa no curso da titulação, sendo necessário apenas que o potencial do eletrodo de referência se mantenha constante, possibilitando uma considerável simplificação do equipamento necessário à titulação (Figura 5). 23 Figura 5 - Esquema da titulação Por ser bastante sensível, essa técnica pode ser facilmente utilizada em soluções relativamente diluídas. No caso de soluções coradas ou turvas, que geralmente impossibilitam o uso da técnica visual, a potenciometria não apresenta maiores dificuldades. Também pode ser usada em reações sem indicadores apropriados, bem como para determinar sucessivamente vários componentes e em meios não aquosos, dependendo dos eletrodos utilizados, além de ser facilmente adaptável a instrumentos automáticos 55. A titulação potenciométrica é uma importante ferramenta para estudar soluções de bases de Lewis, ligantes potenciais (dentre eles alguns polissacarídeos, pois permite a obtenção das constantes de protonação dos ligantes), ácidos de Lewis (íons metálicos), e a partir destes e de outros dados, é possível determinar as constantes de formação dos complexos ligante-metal e a distribuição das espécies em função de diferentes valores de pH utilizando-se programas de computador adequados. Os resultados obtidos das titulações potenciométricas podem ser representados graficamente, no qual se relacionam a variação de pH com o número de milimoles de KOH dividido pelo número de milimoles do ligante que é representado pela letra a. 𝑎= 𝑚𝑚𝑜𝑙 𝑑𝑒 𝐾𝑂𝐻 𝑎𝑑𝑖𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑑𝑜 𝑚𝑚𝑜𝑙 𝑑𝑒 𝑙𝑖𝑔𝑎𝑛𝑡𝑒 (1) 24 No presente trabalho foi utilizada a titulação potenciométrica de neutralização, caracterizada pela adição de base a uma solução ácida. Devido à necessidade de adição de ácido forte antes do início de todas as titulações, a quantidade de KOH consumida pelo ácido forte deve ser subtraída do total de base utilizada, nas curvas a região a<0 representa o consumo do ácido inorgânico pela base. A obtenção desses parâmetros auxilia a verificação da ocorrência e a estabilidade dos complexos sintetizados neste estudo, na qual a titulação é realizada acompanhando a variação do pH com adição do hóspede a uma solução de BCD, ou, com adição de acido ou base a uma solução contendo o complexo ciclodextrina-vitamina. O parâmetro para caracterizar os complexos metálicos é a constante de estabilidade. A coleta de dados para o cálculo das constantes de estabilidade pode ser realizada por titulação potenciométrica 53 e também por espectroscopia UV- Vis e RMN 54. 2.5.1.1 Constante de estabilidade global A constante de estabilidade global é representada pelo símbolo β, denominada como a constante de equilíbrio para a formação de complexos a partir dos reagentes, podendo ser expressa como um produto das constantes passo a passo (k). Cada constante de estabilidade pode ser definida por uma equação de equilíbrio, conforme equações a seguir 55: 𝑀 + 𝐿 ⇄ 𝑀𝐿 𝑘1 = [𝑀𝐿] 𝑀 [𝐿] (2) 𝑀𝐿 + 𝐿 ⇄ 𝑀𝐿2 𝑘2 = 𝑀𝐿2 𝑀𝐿 [𝐿] (3) 𝑀 + 2𝐿 ⇄ 𝑀𝐿2 𝛽2 = 𝑘1 . 𝑘2 (4) 𝑙𝑜𝑔 𝛽2 = 𝑙𝑜𝑔𝑘1 + 𝑙𝑜𝑔𝑘2 (5) 25 Essa constante k é a medida da estabilidade termodinâmica dos complexos e a relação dos parâmetros termodinâmicos e k pode ser expressa pelas equações (5) e (6) que se relacionam pela equação (7) 54. 𝛥𝐺 = −𝑅𝑇 𝑙𝑛𝑘 (6) 𝛥𝐺 = 𝛥𝐻 − 𝑇𝛥𝑆 (7) ln 𝑘 = − 𝛥𝐻 1 𝛥𝑆 . + 𝑅 𝑇 𝑅 (8) As constantes de estabilidade são importantes para compreender o equilíbrio em solução e fundamentais para o trabalho em química industrial, estudos ambientais, química medicinal, analítica e oceanografia 56. As medições potenciométricas são muito usadas para entender os complexos de inclusão de produtos farmacêuticos inclusos em CDs57,58,59,60. Diversos trabalhos que utilizam a titulação potenciométrica como caracterização de compostos supramoleculares como a ΒCD61, phenothiazina62 e galactana 53 . Para a VD3, as constantes de estabilidade dos compostos formados entre a VD3 e Mn (II), Fe (II), Fe (III) e Zn (II) foram publicadas por MERCE et al. 64 e apresentaram a seguinte ordem de estabilidade para a espécie ligante-metal (LM): Fe (III)>Fe (II) ≥Zn (II)>Mn (II). Outras constantes de VD3 com Al (III), Cd (II), Gd (III) e Pb (II) também foram publicadas pelos mesmos autores e apresentaram a seguinte ordem de estabilidade para a espécie LM: Al (II)>Gd (III)>Pb (II)>Cd (II) 65. As constantes de estabilidade de vários complexos binários de VD 3 já foram determinadas e publicadas por MERCE et al. e demonstraram que a inclusão de complexos metálicos de VD3 deve permitir que elas sejam mais estáveis em meio aquoso 63,64,65 . Contudo, foram encontrados na literatura somente alguns trabalhos que relatam a síntese de complexos ternários associados à BCD, uma molécula orgânica e um íon metálico 66,67,68,69 . A formação do complexo ternário de BCD com VD3 e um íon metálico foi relatada em dois trabalhos publicados por MERCE et al., utilizando os íons Cu(II), Co(II), Zn(II) 61 e Al(III) 62. 26 2.5.2 Difratometria de raio-X (DRX) A difratometria de raios-X é considerada uma técnica amplamente empregada para a determinação de estrutura de compostos cristalinos. Para isto, emprega-se o método de monocristal, que pode permitir até a determinação do modo de inclusão. No entanto, tal método exige monocristais de alta qualidade, e sua obtenção em sistemas contendo ciclodextrinas é muito difícil.70 O emprego desta técnica se baseia na comparação dos difratogramas das substâncias puras e do complexo. A observação de um difratograma com características de material amorfo, sem picos bem definidos, pode ser indicativa da ocorrência de inclusão. Compostos de inclusão de ΒCD com convidados pequenos, como metanol e etanol, cristalizam em geral com a estrutura gaiola tipo herringbone, mesma estrutura assumida pela ΒCD ―vazia‖. Em se tratando de convidados maiores, o padrão de cristalização mais comum é a estrutura canal HH, formando-se dímeros estabilizados por pontes de hidrogênio 71. 2.5.3 Espectroscopia na região do infravermelho por transformada de Fourier (IVTF) A espectroscopia baseia-se no estudo da interação da radiação eletromagnética com a matéria. A radiação eletromagnética interage com a matéria em três processos distintos: absorção, emissão e espalhamento de radiação. A espectroscopia vibracional engloba duas técnicas: absorção no infravermelho (IR) e o espalhamento Raman 72 . Moléculas simples ou macromoléculas são constituídas de átomos e formam estruturas tridimensionais, com distancias de ligações químicas e ângulos de ligações definidas, apresentando uma determinada simetria molecular. Qualquer diferença nessas ligações como estiramento, deformação angular ou torção, pode ser representada no espectro de infravermelho, técnica usada nesse trabalho. A literatura básica sobre compostos de inclusão de ΒCD não indica a espectroscopia vibracional – em especial a espectroscopia de infravermelho – como uma das ferramentas mais úteis no seu estudo. Uma vez que não há ligações formais entre ΒCD e o convidado, apenas interações fracas como ligações de hidrogênio e forças de van der Waals. Deste modo, não são esperadas grandes modificações no espectro do composto de inclusão (tais como deslocamento e 27 desdobramentos de bandas) se comparado a ΒCD. Além disso, a fração do hóspede contida no complexo é baixa e bandas que poderiam ser atribuídas a vibrações do hóspede são facilmente mascaradas por bandas da ΒCD. Apesar desses aspectos limitantes, a IVTF é relatada na literatura como uma ferramenta que auxiliou a provar a existência de um composto de inclusão 73 . A análise é feita por comparação dos espectros dos compostos de inclusão, nas misturas mecânicas e dos convidados livres com os da ΒCD. 2.5.4 Ressonância magnética nuclear de carbono e hidrogênio (RMN 13C e 1H) A Ressonância Magnética Nuclear é uma forma de espectrometria de absorção, na qual sob condições apropriadas, uma amostra pode absorver radiação eletromagnética em uma freqüência referente às características estruturais da amostra. A absorção é em função de determinados núcleos da molécula, desses núcleos, os que apresentam número de spin igual ou maior que um possuem uma distribuição de carga não esférica. Sendo assim, o número de spin determina o número de orientações diferentes que um núcleo pode ter quando está em um campo magnético uniforme. Com isso, os núcleos mais amplamente utilizados na espectrometria de RMN são o 1H e o 13 C. O espectro é registrado como uma série de picos cujas áreas são proporcionais ao número de núcleos que eles representam, como por exemplo, de hidrogênios 74. É uma técnica que vem sendo bastante utilizada para determinar a formação dos complexos de inclusão, uma vez que esta possui a vantagem de elucidar a estrutura do complexo identificando a parte da molécula hospedeira que esta incluída na cavidade da CD 75 O fenômeno de complexação altera a distribuição de densidade de carga sobre os grupos funcionais envolvidos e, consequentemente, altera o momento magnético nuclear resultante sobre estes grupos, levando a variações de deslocamento químico nos espectros dos compostos de inclusão em relação à moléculas livres. Entretanto, os efeitos de deslocamentos químicos, após a inclusão na cavidade da CD, são limitados a poucos décimos de ppm, visto que nos complexos formados ocorrem apenas interações intermoleculares consideravelmente a polaridade dos complexos finais. fracas 70 que não alteram 28 A variação do deslocamento químico (∆𝛿) é calculado através da equação a seguir: ∆𝛿 = 𝛿𝐿 − 𝛿𝐶 (9) Na qual 𝛿𝐿 e 𝛿𝐶 são os deslocamentos químicos de um átomo de carbono/ hidrogênio específico da molécula livre e complexada, respectivamente. Com esta técnica, portanto, a interação da vitamina com a ciclodextrina pode ser evidenciada. A formação do complexo de inclusão pode ser comprovada através das mudanças das transições químicas da vitamina e das ciclodextrinas no espectro de RMN. 29 3 3.1 OBJETIVOS OBJETIVO GERAL Sintetizar e caracterizar os compostos e complexos binários e ternários envolvendo ΒCD, VD3 e íons metálicos Ni(II) e Cd(II) para aplicações na área farmacêutica e biomédica. 3.2 OBJETIVO ESPECÍFICO Verificar a ocorrência e a estabilidade do composto binário com VD3 e do composto binário com cádmio e níquel por meio de cálculos das suas constantes de equilíbrio e a especiação segundo a variação de pH, utilizando a técnica analítica de titulação potenciométrica. Verificar a ocorrência e a estabilidade do complexo ternário na presença dos íons metálicos por meio de cálculos das suas constantes de equilíbrio e a especiação segundo a variação de pH, utilizando a técnica analítica de titulação potenciométrica. Com base nas técnicas espectroscópicas de RMN 13 C e 1H, comparar os complexos formados e caracterizar esses complexos em estado sólido, por meio de DRX e por IVTF. 30 4 MATERIAIS E MÉTODOS Foi utilizada a metodologia proposta por MERCÊ et al. 61,62 para a síntese dos compostos de inclusão, tanto as estruturas binárias quanto as ternárias. Tanto os reagentes quanto os materiais necessários para a síntese e caracterização foram obtidos de fontes comerciais, grau p.a. e sem purificação prévia. As soluções contendo íons metálicos de Cd(II) e Ni(II) foram preparadas a partir de seus sais e padronizadas com EDTA, em triplicata. 4.1 MATERIAIS Ácido clorídrico 37% (Merck), hidróxido de potássio (Nuclear), cloreto de potássio (Synth), nitrogênio gasoso (comercial, 96%, White Martins), cloreto de cádmio (Carlo Erba), cloreto de níquel (Vetec) , β-ciclodextrina 98% (Sigma-Aldrich), Vitamina D3 - Cholecalciferol (Acros), etanol absoluto p.a. (Merck), Glove AtmosbagTM (AL-211 - Aldrich), gás argônio (comercial, 98%, White Martins), rotaevaporador com vácuo (Fisatom). 4.2 METODOLOGIA 4.2.1 Síntese dos compostos de inclusão Para a síntese dos compostos de inclusão preparou-se uma solução aquosa de ΒCD no qual foi adicionada uma massa de VD3 dissolvida em etanol e/ou a solução contendo os íons metálicos, dependendo se quer a formação de estrutura binária ou ternária. As soluções de Cd(II) e Ni(II) possuem 0,011 mol/L e 0,010 mol/L, respectivamente. Para ajustar o pH da solução, usou-se uma solução de ácido clorídrico de 0,02 mol/L ou KOH 0,1 mol/L. O sólido (produto) foi raspado do balão e guardado em epperdorfs num recipiente protegido da luz e umidade. Para cada proporção usou-se quantidades de matérias diferentes, como mostrado na Tabela 3: 31 Tabela 3 – Proporções utilizadas no trabalho Proporção (5:1) Proporção (10:1) ΒCD 0,20 mmol 0,20 mmol VD3 0,04 mmol 0,02 mmol Cd(II) 0,04 mmol 0,02 mmol Ni(II) 0,04 mmol 0,02 mmol 4.2.1.1 Metodologia para obtenção do composto binário ΒCD:VD3 Em atmosfera inerte, usando-se a glove e atmosfera de argônio, 0,04 mmol de VD3 foram dissolvidos em 20 mL de etanol absoluto. Esta solução foi adicionada a uma solução com 0,2 mmol de ΒCD previamente dissolvidos por 12 horas de reação em 20 mL de água. O pH foi ajustado entre 4,5 e 5,5,76 e deixados sob agitação magnética por 4 horas. Depois, a solução foi transferida ao rota-evaporador até obter o sólido seco. 4.2.1.2 Metodologia para a mistura física (MF) As misturas físicas da VD3 e da BCD foram preparadas na proporção molar de 1:1, sendo os dois materiais misturados no estado sólido, sem trituração. 4.2.1.3 Metodologia para o complexo binário ΒCD:M(II) Para a estrutura binária com íon metálico, 0,2 mmol da ΒCD foram dissolvidos por 12 horas em 20 mL de H2O, foi adicionado 4 mL ou 2 mL do íon metálico de uma solução padronizada. O pH da dessa solução foi controlado para ficar entre 4,5 e 5,5, e deixado sob agitação magnética por 4 horas. Após esse período de reação (4 horas) as soluções foram transferidas ao rota-evaporador até obter o sólido seco. 4.2.1.4 Metodologia para o complexo ternário ΒCD:VD3 :M(II) Em atmosfera inerte, usando a glove e gás argônio, 0,016 g de VD3 foram dissolvidos em 20 mL de etanol absoluto. Esta solução foi adicionada a uma solução com 0,227 g de ΒCD previamente dissolvidos em 20 mL de água. A esta solução já com VD3 e ΒCD, 4 ou 2 mL do íon metálico de uma solução padronizada foram 32 adicionados lentamente. O pH dessa solução foi controlado para ficar entre 4,5 e 5,5, deixados sob agitação magnética por 4 horas. Após o período de reação (4 horas) as soluções foram transferidas ao rota-evaporador até obter o sólido. As proporções dos compostos, tanto os binários quanto os ternários, estão resumidos na Tabela 4: Tabela 4: Estruturas binárias e ternárias de ΒCD com VD3 e íon metálico (Cd(II) e Ni(II)) nas proporções 5:1 e 10:1 VD3 Cd(II) Ni(II) Estruturas binárias Estruturas ternárias ΒCD:VD3 (5:1) - ΒCD:Cd(II) (5:1) ΒCD:VD3:Cd(II) (5:1) ΒCD:Cd(II) (10:1) ΒCD:VD3:Cd(II) (10:1) ΒCD:Ni(II) (5:1) ΒCD:VD3:Ni(II) (5:1) ΒCD:Ni(II) (10:1) ΒCD:VD3:Ni(II) (10:1) 4.2.2 Caracterização dos complexos de inclusão 4.2.2.1 Titulação potenciométrica Para se determinar a concentração ideal, foram realizadas titulações de 0,1 mmol, 0,07 mmol, 0,05 mmol e 0,03 mmol de cada composto incluso em dois diferentes sistemas: 100% água deionizada e água (70%)/ etanol (30%), variando as proporções M:L de Cd(II) e Ni(II) em 1:1e 2:1. Contudo, a solubilização foi melhor para a quantidade de matéria de 0,03 mmol dos compostos no sistema com 100% de água deionizada. Portanto, os estudos de titulação potenciométrica empregaram 0,03 mmol da ΒCD ou da estrutura binária ΒCD:VD3 e soluções dos metais selecionados na proporção 1:1 (M:L), I= 0,100 mol/L, KCl, T= 25,0 ± 0,1 oC, com adição de 5 mL de ácido inorgânico, para que a faixa de pH estudada varie entre 2,0 e 11,0 77. Na estrutura da ΒCD existem 70 átomos de hidrogênio, dos quais apenas os ligados a átomos de oxigênio que estão ligados ao carbono C2,C3 e C6 da ΒCD 78 são considerados ácidos. Contudo nesse trabalho foi considerado que apenas os átomos de hidrogênio da hidroxila do C6 são susceptíveis a desprotonação. As soluções das estruturas binárias e ternárias foram tituladas, em triplicata, com KOH aquoso (padronizado com biftalato de potássio) em bureta de pistão 33 modelo Titronic universal do fabricante Schott, em ambiente inerte (nitrogênio). Utilizou-se eletrodo de H+ e Ag/AgCl modelo 9157BNMD com pHmetro Orion Star. A calibração do eletrodo foi feita com padrões de pH 4, 7 e 10 a cada análise. O tratamento dos dados potenciométricos foi realizado pelo programa Hyperquad 2008. Durante o refinamento dos dados a constante de dissociação da água foi mantida fixa em log β = 13,78.79 O programa Hyss foi utilizado para calcular e visualizar a distribuição das espécies presentes no equilíbrio estudado, importando-se os dados gerados no programa Hyperquad. Nos diagramas de especiação os valores apresentados no eixo y são de 100% em relação à concentração total do metal no equilíbrio, sendo representadas curvas de máximos percentuais proporcionais à concentração de metal utilizado para a formação das espécies no meio aquoso.80 4.2.2.2 Difratometria de raios-X (DRX) Os difratogramas foram obtidos em um difratômetro de raios-X Shimadzu modelo XDR-7000, empregando-se o método pó, radiação Cu-Kα (1,5418 Å). A região estudada foi de 2θ = 55° a 2θ = 5°, com o aparelho nas condições de corrente de 40 kV e voltagem de 20 mA. 4.2.2.3 Espectroscopia na região do infravermelho (IVTF) Os compostos de inclusão também foram caracterizados por espectroscopia na região do infravermelho com transformada de Fourier [Equipamento BOMEM (Departamento de Química - UFPR)] na faixa espectral de 4000-400 cm-1 com 64 scans.min-1 e resolução de 4 cm-1. Para análise dos produtos sólidos foram utilizadas pastilhas de KBr. Cerca de 200 mg de KBr para 2 mg da amostra. 4.2.2.4 Ressonância magnética nuclear de carbono e hidrogênio (RMN 13C e 1H) As analises por RMN de 13 C foram realizadas à temperatura ambiente com um espectrômetro Bruker AVANCE 600 (Departamento de Bioquímica – UFPR), operando a 14,1 Tesla, observando o núcleo de carbono a 150 MHz, equipado com uma sonda multinuclear de observação direta de 5 mm. Para isso, for dissolvida certa quantidade de cada amostra em dimetilsulfóxido deuterado e as soluções 34 foram transferidas para tubos de 5 mm de diâmetro. Os deslocamentos químicos foram expressos em ppm, em relação ao sinal do TMS em 0,0 ppm, como referência interna. 35 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO As propriedades físico-químicas da CD e dos hóspedes variam frequentemente com a formação de complexos de inclusão em solução aquosa. Assim, podem ser usados diversos métodos experimentais para detecção e caracterização dos complexos.81 Para verificar o potencial de inclusão dos produtos obtidos, foram utilizadas técnicas usadas na literatura para esse objetivo61,62,64. A numeração dos átomos de carbono da unidade glicosídica da ΒCD foi utilizada como ilustrado na Figura 3. 5.1 TITULAÇÃO POTENCIOMÉTRICA 5.1.1 Constantes de protonação As constantes de protonação (log β) do ΒCDH (ΒCD protonada) e do composto binário ΒCD:VD3H protonado e suas constantes de equilíbrio estão representados na Tabela 5. Não foram encontradas referências para as constantes de protonação (log β) da ΒCD para o mesmo sistema trabalhado. Foi usado o valor de log β da VD3 pura igual a 12,4 63,64,65 . De acordo com a Equação 5, o log β experimental será igual ao log k experimental, uma vez que há somente a formação de uma constante. Tabela 5: Logaritmos das constantes de protonação da ΒCD e da ΒCD:VD3 Equilíbrio ΒCDH ΒCDVD3H log β experimental log k experimental [βCDH] βCD . [𝐻] 10,16 ± 0,04 10,16 ± 0,04 βCDVD3 H βCDVD3 . H 20,43 ± 0,04 20,43 ± 0,04 β= β= Ao somar os valores do log β da ΒCD (log β = 10,16) com da VD3 (log β = 12,4) será obtido um valor de log β = 22,56. Esse valor é superior ao encontrado experimentalmente, log β da BCDVD3 = 20,43, portanto, pode-se dizer que a BCD e a VD3 estão formando uma nova estrutura, o composto de inclusão. Os valores obtidos para log β da ΒCD são referentes a um sítio de protonação, da hidroxila ligada ao carbono C6. A curva da ΒCD pura, Figura 6, mostra que a desprotonação ocorreu para a>0. 36 Com o composto binário ΒCD:VD3 (Figura 6), contudo, a desprotonação começa a partir de a>1. O valor obtido de log β é menor que a soma dos dois compostos, uma vez que a inclusão alterou estruturalmente a ΒCD. 12 10 BCDVITH BCD pH 8 6 4 2 0 2 4 a(mmol KOH/mmol ligante) Figura 6 - Curva de titulação experimental da BCD livre e do composto binário ΒCD:VD 3 (BCDVITH). A distribuição das espécies para a ΒCD em função do pH é mostrada na Figura 7. Pode-se observar que a desprotonação da ΒCD ocorre a partir do pH 10, após isso aumenta a concentração de ΒCD desprotonada. Com o composto binário ΒCD:VD3 é observado o oposto (Figura 8), a desprotonação da ΒCD ocorre a partir do pH 3,0 e começa a formação de 100% do composto binário ΒCD:VD3. Estes resultados atestam que houve uma mudança na estrutura da ΒCD, caracterizando a formação do composto de inclusão. 37 Figura 7 - Distribuição das espécies para a ΒCD em função do pH e da % de formação. Figura 8 - Distribuição das espécies para o composto binário ΒCD:VD3 (BCDVIT) e da % de formação. 38 5.1.2 Curva experimental e curva da simulação do modelo teórico Nas figuras abaixo (Figura 9 e Figura 10) estão representadas as curvas de titulação experimental (losangos) e calculado (linha contínua ao fundo) da ΒCD e do composto binário ΒCD:VD3, respectivamente. A curva da simulação do modelo teórico é calculada a partir das propostas das possíveis espécies presentes no equilíbrio. É possível notar um ajuste razoável para as curvas da ΒCD pura pelo fato desta não ser totalmente solúvel no sistema com H2O. Portanto, é necessário ajustar o sistema usado para a titulação, uma vez que também não foi possível obter dados para os complexos binários com cádmio e níquel, e, também, para o complexo ternário devido à baixa solubilidade da BCD em água e nas proporções testadas. A curva do composto binário ΒCD:VD3, entretanto, apresentou um bom ajuste, mostrando que a presença da VD3 na cavidade da BCD promoveu uma camada de solvatação para estabilizar o composto. Figura 9 - Curva experimental (losangos) e curva do modelo teórico (linha contínua) para a ΒCD. 39 Figura 10 - Curva experimental (losangos) e curva do modelo teórico (linha contínua) para o composto binário ΒCD:VD3. 5.2 DIFRATOMETRIA DE RAIO-X (DRX) 5.2.1 Difratograma de raios-X do composto binário ΒCD:VD3 As análises por difratometria de raios-X mostraram características significativas nas amostras. A ΒCD apresentou um perfil cristalino com picos característicos em 2θ de 9; 12,5; 27,5; 32 e 35,2 como pode ser visto na Figura 11. Não foi possível obter o difratograma da VD3 pura devido à sua alta reatividade com o oxigênio. Ao comparar o difratograma da ΒCD com a mistura física (MF) nota-se que ambos apresentam os mesmos picos mas com redução de intensidade em relação aos mesmos assinalados no difratograma da BCD. Contudo, para o composto binário ΒCD:VD3 o mesmo não ocorre, ao se comparar o difratograma do composto binário com os outros citados nota-se uma redução de simetria cristalina (característica de um material amorfo), apresentando somente o pico 12,5 da BCD. 40 BCD Intensidade (u.a) MF BCD:VD3 5 10 15 20 2 25 30 Graus) Figura 11 - Difratograma da ΒCD pura, MF e ΒCD:VD3 35 40 41 Os produtos de inclusão, além da redução da cristalinidade, apresentam uma alteração em seu perfil se comparado à ΒCD. Esta alteração se dá tanto por supressão de grande parte dos picos quanto por pequeno deslocamento de alguns deles. As alterações estruturais decorrentes da inclusão são nítidas, embora o sistema hospedeiro seja relativamente rígido, e o diâmetro da cavidade interna da ΒCD não se altere com o fenômeno.82 Conclui-se, portanto, frente aos resultados obtidos, que as diferenças estruturais entre a nova fase cristalina estabelecida e a ΒCD pura estejam relacionadas a uma diferença na disposição das unidades cíclicas, provavelmente decorrente das interações intermoleculares induzidas pela presença do hóspede na cavidade. 5.2.2 Difratograma de raios-X dos complexos binários e ternários do cádmio e níquel. Na Figura 12, comparando-se os difratogramas dos complexos binários e ternários de cádmio com o difratogramas da ΒCD pura, BCD:VD3 e da MF, pode-se perceber uma diminuição das intensidades dos picos tanto dos complexos binários quanto dos ternários. Portanto, pode-se dizer que esses complexos cristalizam com a estrutura gaiola, mesma estrutura assumida pela ΒCD ―vazia‖. O mesmo ocorre com os complexos binários e ternários de níquel (Figura 13) que também cristalizam formando a estrutura gaiola que ocorre quando as intensidades dos picos mudam, mas sua cristalinidade é a mesma, apresentando o mesmo empacotamento que a BCD hidratada. . 42 BCD:Vit:Cd (10:1) BCD:Vit:Cd (5:1) Intensidade (u.a) BCD:Cd (10:1) BCD:Cd (5:1) BCD:VIT BCD MF 5 10 15 20 25 30 35 2 Graus) Figura 12 – Difratograma da ΒCD e dos complexos binários e ternários de Cd(II) nas proporções 5:1 e 10:1. 43 BCD:Vit:Ni (10:1) BCD:Vit:Ni (5:1) Intensidade (u.a) BCD:Ni (10:1) BCD:Ni (5:1) BCD:Vit BCD MF 5 10 15 20 2 25 30 35 Graus) Figura 13 - Difratograma da ΒCD e dos complexos binários e ternários de Ni (II) nas proporções 5:1 e 10:1. 44 5.3 ESPECTROSCOPIA NA REGIÃO DO INFRAVERMELHO 5.3.1 Espectros de IVTF do composto binário ΒCD:VD3 O fato da VD3 ser altamente reativa com o oxigênio não se permitiu obter um espectro da vitamina pura, portanto, o espectro experimental foi comparado com espectros teóricos, calculados a partir de suas geometrias otimizadas utilizando o Transmitância (%) funcional B3LYP e função de base 6-31g (Figura 14). VD3 BCD 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 -1 Numero de onda (cm ) Figura 14 - Espectro teórico de IVTF da ΒCD e VD3 Nota-se que as bandas de ambos componentes são similares, e as vibrações da VD3 serão consideravelmente superpostas pelas bandas da ΒCD, inclusive na amostra MF, como pode ser visto na Figura 15. Portanto, para caracterizar um composto de inclusão, deve-se ater a diferenças no espectro de IVTF como pequenos deslocamentos ou mesmo o alargamento de bandas. Na Tabela 6 são mostradas as bandas características da BCD. 45 Tabela 6 - Bandas características das CDs no espectro de IVTF. Atribuições* Comprimento de onda 3341 cm δ = deformação; ν = estiramento -1 2970 e 2930 cm ν (O-H) -1 ν (C-H) 1650 cm -1 δ angular de (O-H) 1458 cm -1 δ (C-H) de CH2 e CH3 1377 cm -1 δ (C-H) de CH3 1334 cm -1 Acoplamento δ(C-C-H), δ(C-O-H), δ(H-C-H) 1261 cm -1 1155 e 1080 cm 1031 cm Acoplamento δ(O-C-H), δ(C-O-H), δ(C-C-H) -1 Acoplamento ν(C-O), ν(C-C), δ(C-O-H) -1 948 cm -1 850 cm -1 Acoplamento ν(C-C), δ(O-C-H), δ(C-C-O) Vibrações no esqueleto envolvendo as ligações α-1,4 Acoplamento δ(C-C-H), ν(C-O) * Fonte: EGYED, 1990. 83 Pode-se observar na Figura 15 uma banda alargada em 3341 cm-1 característica do estiramento dos grupos hidroxilas com ligações de hidrogênio intramoleculares. A banda em 2930 cm-1 é atribuída à vibração do estiramento assimétrico e simétrico dos grupos metilênicos da ΒCD. A banda 1650 cm-1 é referente à água de hidratação da ΒCD. As bandas em 1458 cm-1 e 1334 cm-1 são de deformação angular no plano de alcoóis primários e secundários, respectivamente. A banda referente à deformação axial assimétrica C-O-C é a 1155 cm-1, que é observada para a maioria dos sacarídeos e é atribuída à vibração do anel da piranose e ao estiramento assimétrico das ligações glicosídicas. Na região entre 1334 cm-1 e 850 cm-1 nota-se a presença de varias bandas atribuídas as ligações α- 1,4 dos anéis glucopiranosídicos que compõem a ΒCD 83. Transmitância (%) 46 MF BCD:VD3 BCD 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 -1 Numero de onda (cm ) Figura 15 - Espectro de IVTF da ΒCD e do composto binário ΒCD:VD3 Como visto na Figura 15, o espectro para o complexo de inclusão é similar a ΒCD indicando a formação do complexo de inclusão, um fenômeno observado por Li et al.84 Além disso, a diminuição do alargamento da ampla banda dos grupos hidroxilas (3379 cm-1) é uma boa indicação da formação do complexo de inclusão, uma vez que foi alterado o ambiente químico dessas moléculas. O espectro da MF deixa isso bem claro, uma vez que a banda 3379 cm-1 é bem diferente da BCD:VD3 e da BCD livre. pesquisadores Este 73,84,85 . é um fenômeno comum observado por muitos 47 5.3.2 Espectros de IVTF dos complexos binários e ternários do cádmio e níquel. Para melhor visualização, os espectros de IVFT foram divididos em duas partes na qual (i) mostra a região espectral de 4000 a 2500 cm -1 e (ii) mostra a região espectral de 1600 a 400 cm-1. O complexo ternário BCD:VD3:Cd(II) (5:1:1) sofreu em relação à BCD a maior alteração nessas bandas, em contrapartida, o complexo ternário na proporção 10:1:1, apresentou uma menor alteração (Figura 16). Na Figura 17 nota-se que existe a diminuição do alargamento da banda 1650 cm -1 e também pequenos deslocamentos em relação à mesma banda em BCD, em todos os complexos de Cd (II) indicando fortemente a existência de uma interação com a BCD. O mesmo ocorre para a banda 1458 cm-1 que é referente a deformação angular da hidroxila primaria da BCD. O complexo binário BCD:Ni(II) (5:1) apresentou um alargamento maior que a BCD livre (Figura 18), mas apresentou uma diminuição na banda 1650 cm -1 (Figura 19) indicando que houve uma interação com a BCD. Todos os outros complexos com Ni (II) apresentaram características semelhantes ao complexo com Cd (II) indicando a formação de um complexo semelhante para ambos os íons metálicos. 48 Transmitância (%) 90 3341 60 BCD 2+ BCD:VD3:Cd (10:1:1) 30 2+ BCD:VD3:Cd (5:1:1) 2+ 2930 BCD:Cd (10:1) 2+ BCD:Cd (5:1) BCD:VD3 0 3500 3000 -1 Numero de onda (cm ) 2500 1458 1415 1417 1650 1639 1635 1600 1421 1419 1416 1633 1637 1636 BCD:VD3 2+ BCD:Cd (5:1) 2+ BCD:Cd (10:1) 2+ 2+ BCD:VD3:Cd (5:1:1) BCD:VD3:Cd (10:1:1) BCD Figura 16 - Espectro (i) de IVTF dos complexos de Cd (II) 1400 1200 1000 800 600 -1 Numero de onda (cm ) Figura 17 - Espectro (ii) de IVTF dos complexos de Cd (II) 400 49 80 BCD:VD3:Ni (10:1) 3341 40 BCD:VD3:Ni (5:1) BCD:VD3 2930 BCD:Ni (10:1) BCD:Ni (5:1) BCD 0 3500 3000 2500 -1 Numero de onda (cm ) 1458 1413 1417 1418 1415 1650 1648 1646 1637 1645 1600 1411 1635 BCD:Ni (10:1) BCD:VD3 BCD:VD3:Ni (5:1) BCD:VD3:Ni (10:1) BCD Figura 18 – Espectro (i) de IVTF dos complexos de Ni (II) BCD:Ni (5:1) Transmitância (%) 120 1400 1200 1000 800 600 -1 Numero de onda (cm ) Figura 19 - Espectro (II) de IVTF dos complexos de Ni (II) 400 50 5.4 RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NUCLEAR DE CARBONO E DE HIDROGÊNIO (RMN 13C E RMN 1H) 5.4.1 Caracterização por RMN de 13C e 1H do composto binário BCD:VD3. Como parâmetro para evidenciar os compostos de inclusão por RMN 13 C, foram usados os desvios para a VD3 previamente relatados por BERMAM et al.86 e MERCÊ et al.76, assim como os espectros de RMN de trabalhos anteriores do LEQ 13 C (Figura 20) obtidos nos 76 . A fim de evidenciar os compostos de inclusão por RMN 1H, foram usados os desvios de BCD previamente relatados por SCHNEIDER et al. 87 já os desvios para a VD3 foram retirados do banco de dados HMDB 88 . Ao observar a Figura 20, nota-se que os desvios químicos da BCD e da VD3 não são coincidentes. Quando existe uma mistura física da BCD e VD3 todos os sinais característicos dos dois compostos, estão presentes no espectro. Quando a BCD e VD3 são submetidos a uma reação de inclusão, os deslocamentos referentes à VD3 não estão presentes ou mesmo aparecem apenas alguns traços que, provavelmente, se referem à parte da vitamina que está fora da cavidade da BCD 89. A figura também se encontra no ANEXO para melhor visualização. Figura 20 – Espectro de RMN de 13C: (a) BCD; (b) MF; (c) BCD:VD3; (d) VD3 61. 51 Usando-se a técnica de RMN 13 C é possível determinar os deslocamentos do conjunto binário BCD:VD3 e todos os sinais relativos à BCD estão ligeiramente deslocados, como visto na Tabela 7 (-0,016 a -0,021 ppm), e não aparece sinais relativos à VD3, como pode ser notado na Figura 21. Conseqüentemente, pode-se dizer, que a VD3 está encapsulada na cavidade da ΒCD, uma vez que não há alterações significativas em ambos os espectros. Nota-se também que a Δδ do composto está negativa, sugerindo uma proteção por parte desses átomos de C. Tabela 7: Relação dos deslocamentos químicos dos átomos de C da BCD e BCD:VD3 em ppm. C1 C2 C3 C4 C5 C6 ΒCD 102,20 72,65 73,29 82,07 72,30 60,27 ΒCD:VD3 102,41 72,84 73,48 82,23 72,49 60,45 Δδ -0,21 -0,19 -0,19 -0,16 -0,19 -0,18 Na Figura 21 estão apresentados os espectros de RMN de 13 C do composto binário ΒCD:VD3 e da ΒCD, comparativamente, obtidos neste trabalho. Este último é análogo ao espectro característico da ΒCD exibindo ressonâncias múltiplas para cada tipo de átomo de carbono: C1 (101,5-103,8 ppm), C4 (78,5-83,7 ppm), C2,3,5 (71.3-75.9 ppm) e C6 (59.3-63.4 ppm). A vasta gama de desvios químicos de cada átomo está relacionada com as diversas orientações ligeiramente distintas de cada unidade de glicose no macrociclo βCD, isto é, com diferentes ângulos de torção em torno das ligações glicosídicas α-(1,4) para C1 e C4, e com orientações diferenciadas dos grupos de hidroxilas primárias (O6―H) para C6.90 52 60.271 72.302 72.654 73.294 82.072 102.215 BCD 60.447 72.489 72.842 73.479 82.227 102.406 BCD:Vit 100 90 80 Figura 21- Espectro de RMN de 13 70 60 ppm (t1) C da ΒCD e ΒCD:VD3 em ppm. O espectro de teórico de RMN 1H da BCD (Figura 22) possui seis prótons identificáveis: H1, H2, H4 e H6 localizados externamente e H3 e H5 na cavidade da CD. Observa-se um duplo dubleto em δ 5,60 - 5,75 ppm referente às hidroxilas secundárias dos carbonos 2 e 3 da CD, e, em δ 4,40 ppm, um tripleto relativo à hidroxila primária no carbono 6. Os sinais entre δ 3,25 – 3,70 são atribuídos à estrutura do anel da BCD87. 1 Figura 22 – Espectro de RMN H da BCD livre. Fonte: SCHNEIDER (1998) 87 Em relação ao espectro teórico de RMN 1H da VD3 pura é possível notar um grupo de sinais entre δ 0,54 e 3,95 ppm são referentes aos átomos de hidrogênio 53 ligados a átomos de carbono alifático da vitamina, mostradas na cor verde na Figura 23. Na cor azul, estão representados os átomos de hidrogênio referente aos sinais entre δ 4,9 e 6,24 ppm. No espectro de RMN 1H do conjunto binário BCD:VD3, todos os sinais relativos à BCD estão deslocados, como visto na Tabela 8 (-0,02 a -0,104 ppm) e observa-se uma variação significativa no deslocamento químicos dos sinais de ressonância atribuídos aos átomos de hidrogênio H3 , H5 e H6. A variação nos deslocamentos químicos dos sinais de hidrogênio induzidos pela complexação do tipo hóspede-hospedeiro é uma característica importante na avaliação da formação do composto de inclusão indicando a inclusão total ou parcial do hóspede. 1 Figura 23 – Espectro de RMN H da vitamina D3 livre. Fonte: WISHART, 2013 88. Tabela 8: Relação dos deslocamentos químicos dos átomos de H da BCD e BCD:VD3 em ppm H1 H2 H3 H4 H5 H6 ΒCD 4,82 3,29 3,64 3,34 3,59 3,64 ΒCD:VD3 4,848 3,31 3,744 3,353 3,651 3,744 Δδ -0,028 -0,02 -0,104 -0,013 -0,061 -0,104 54 Na Figura 24, ao se comparar o espectro da BCD:VD3 com a da MF, nota-se que no espectro da MF existe a diminuição de intensidade de vários picos na região entre 0,54 e 3,95 ppm e também a supressão de alguns picos da VD3 como o H8 (5,03 ppm) e também dos picos referentes às hidroxilas OH-2 (6,21 ppm), OH-3 (5,99 ppm) e OH-6 (4,14 ppm) da VD3, confirmando a inclusão da VD3 na cavidade da BCD e afirmando a existência de ligações de hidrogênio entre as próprias ciclodextrinas. MF BCDVIT 6.0 5.0 4.0 3.0 2.0 1.0 ppm (t1) 1 Figura 24 - Espectro de RMN H da MF (acima) e BCD:VD3 (abaixo). Paralelamente, foi realizado um trabalho de modelagem molecular que consistiu na otimização da geometria da BCD e da VD 3 (paralelamente), de forma a obter a geometria de estado fundamental de ambas. Sequencialmente, foi otimizada a geometria do composto de inclusão, na qual a VD3 é inserida na cavidade da BCD de forma arbitraria. Salienta-se que as geometrias otimizadas localizam-se no estado fundamental, tendo em vista que não foram observadas frequências vibracionais negativas nos cálculos. A estrutura proposta é apresentada na Figura 25. 55 BCD VD3 BCD:VD3 Figura 25 - Proposta de estrutura do composto binário BCD:VD3 56 5.4.2 Caracterização por RMN de 13 C e 1H dos complexos binários BCD:Cd(II) e BCD:Ni(II) No espectro de RMN de 13 C dos complexos BCD:Cd(II), tanto na proporção 5:1 como na 10:1, existem deslocamentos químicos positivos em todos os átomos de carbono (Tabela 9) indicando uma alteração conformacional desblindada, dentre eles. O sinal do átomo C4 é o mais deslocado com relação ao mesmo átomo de carbono da BCD assim como o deslocamento do C6 também é significativo. Todavia, no RMN 1H, os átomos de H apresentaram Δδ negativos caracterizando um efeito de blindagem dos complexos. Nota-se também que a Δδ dos H3 e H6 mostram proteção por parte desses átomos, que ocorrem devido ao efeito indutivo causado pela complexação do Cd(II) com a BCD. No espectro de RMN de 1H (Figura 26) pode-se notar um alargamento do pico da hidroxila OH-2 e OH-3, fator que indica uma alteração na estrutura da CD, e, também a supressão da hidroxila OH-6, indicando uma interação do Cd(II) com esses átomos de oxigênio. Os espectros do RMN 13 C desse complexo encontra-se no item APENDICE. BCDCd ( 10:1) BCDCd ( 5:1) 6.00 5.50 5.00 4.50 4.00 3.50 ppm (t1) 1 Figura 26 - Espectro de RMN H do complexo BCD:Cd na proporção 10:1 (acima) e da proporção 5:1 (abaixo). 57 Tabela 9: Relação dos deslocamentos químicos dos átomos de C e H da ΒCD, ΒCD:Cd(II) e BCD:Ni(II). Complexos C1 H1 C2 H2 C3 H3 C4 H4 C5 H5 C6 H6 ΒCD 102,22 4,82 72,65 3,29 73,29 3,64 82,07 3,34 72,30 3,59 60,27 3,64 BCD:Cd(II) (5:1) 102,18 4,85 72,61 3,31 73,27 3,70 81,79 3,35 72,25 3,61 60,16 3,74 Δδ (BCD)* 0,04 -0,03 0,05 -0,02 0,02 -0,06 0,28 -0,01 0,05 -0,02 0,11 -0,10 BCD:Cd(II) (10:1) Δδ (BCD)* 102,20 4,84 72,65 3,30 73,29 3,70 81,94 3,35 72,29 3,61 60,23 3,75 0,02 -0,02 0,01 -0,01 0,01 -0,06 0,13 -0,01 0,01 -0,02 0,04 -0,11 BCD:Ni(II) (5:1) 102,13 4,85 72,23 3,33 73,23 3,70 81,73 3,35 72,21 3,63 60,12 3,73 Δδ (BCD)* 0,08 -0,02 0,42 -0,04 0,06 -0,06 0,34 -0,01 0,09 -0,04 0,15 -0,09 BCD:Ni(II) (10:1) Δδ (BCD)* 102,20 4,85 72,60 3,35 73,30 3,67 81,79 3,35 72,28 3,60 60,20 3,67 0,02 -0,03 0,05 -0,06 -0,01 -0,03 0,28 -0,01 0,02 -0,01 0,07 -0,03 Em relação aos complexos binários com Ni(II), no RMN de 1H também existem Δδ negativos em todos os átomos de hidrogênio (Tabela 9), que caracteriza um efeito de blindagem. Os hidrogênios H3 e H6 apresentaram um maior Δδ dos mostrando também uma blindagem por parte desses átomos, que ocorrem devido ao efeito indutivo causado pela complexação do Ni(II) com a BCD. No espectro de RMN de 13 C desses complexos percebe-se que além dos deslocamentos do C4 e do C6, existe também um deslocamento significativo no C2 e somente na proporção 5:1 com Δδ (5:1) = 0,42 ppm. Esses resultados indicam uma grande alteração conformacional que o íon Ni (II) causa na estrutura da BCD. Os espectros do RMN 13C desse complexo estão no ítem APENDICE. Na Figura 27 é possível verificar a supressão do pico da hidroxila OH-6 no complexo da proporção 5:1 e também um alargamento do pico da hidroxila OH-2 e OH-3, contudo, o mesmo não ocorre na proporção 10:1, na qual nota-se uma proteção na hidroxila OH-6. Estes dados apontam que há possivelmente dois sítios distintos de complexação diferentes conforme a quantidade de BCD no sistema. Esses dados não são consistentes com nenhuma proposta de conformação estimada, tornando necessária uma abordagem mais aprofundada através da técnica HSQC, na qual poderá ser conclusiva para avaliação desses resultados. 58 BCDNi ( 5:1) BCDNi ( 10:1) 6.00 5.50 5.00 4.50 4.00 3.50 ppm (t1) 1 Figura 27 - Espectro de RMN H do complexo BCD:Ni na proporção 5:1 (acima) e da proporção 10:1 (abaixo). Na Figura 28 é demonstrada a proposta de estrutura dos complexos binários de BCD com os íons metálicos Cd (II) e Ni (II), levando em consideração os dados obtidos até o momento, ambos os íons metálicos estariam ligados ao oxigênio ligado ao C6 da BCD. Os metais foram coordenados de maneira arbitrária, e suas geometrias moleculares não foram otimizadas até o termino do trabalho, sendo os resultados apresentados destes meramente ilustrativos. Figura 28 - Proposta de estrutura dos complexos binários BCD:Cd (II) e BCD:Ni (II). 59 5.4.3 Caracterização por RMN de 13 C e 1 H dos compostos ternários ΒCD:VD3:Cd(II) e ΒCD:VD3:Ni(II) Os dados de deslocamentos químicos dos complexos ternários com Cd(II) e Ni(II) são apresentados na Tabela 10, e uma relação de diferenças entre os deslocamentos químicos dos complexos ternários BCD:VD3:M (II) e seus formas binárias correspondentes BCD:VD3 são listadas na Tabela 11. Tabela 10: Relação dos deslocamentos químicos dos átomos de C e H dos complexos ternários com Cd(II) e Ni(II). Complexos C1 H1 C2 H2 C3 H3 C4 H4 C5 H5 C6 H6 ΒCD:VD3:Cd(II) (5:1:1) 102,16 4,86 72,60 3,36 73,27 3,67 81,77 3,35 72,25 3,60 60,15 3,60 ΒCD:VD3:Cd(II) (10:1:1) 102,20 4,85 72,62 3,33 73,28 3,70 81,87 3,32 72,27 3,65 60,19 3,73 ΒCD:VD3:Ni(II) (5:1:1) 102,04 4,84 72,46 3,32 73,14 3,72 81,62 3,32 72,12 3,57 60,02 3,72 ΒCD:VD3Ni(II) (10:1:1) 102,01 4,83 72,45 3,29 73,12 3,74 81,62 3,34 72,11 3,61 60,01 3,70 Na Tabela 11 são apresentadas os deslocamentos químicos dos complexos ternários, bem como a diferença destes com os deslocamentos químicos da ΒCD:VD3. Ao se comparar os deslocamentos químicos do complexo ΒCD:VD3:Cd(II) (5:1:1) com os deslocamentos do composto binário ΒCD:VD3, nota-se um deslocamento significativo para todos os átomos de carbono (de -0,21 ppm a -0,46 ppm), sendo que o maior deslocamento é referente aos carbonos C 4 (-0,46 ppm) e C6 (-0,30 ppm). Para o complexo ΒCD:VD3:Cd(II) (10:1:1), existe as mesmas variações mas com intensidade menor se comparado com o mesmo complexo de proporção (5:1). Através do RMN 1H nota-se que existe um efeito de desblindamento do H2, 0,05 ppm para ΒCD:VD3:Cd(II) (5:1:1) e 0,03 ppm para ΒCD:VD3:Cd(II) (10:1:1). 60 Tabela 11 - Relação das variações dos deslocamentos químicos entre os compostos ternários e binários. Complexos C1 H1 C2 H2 C3 H3 C4 H4 C5 H5 C6 H6 -0,25 0,01 -0,24 0,05 -0,21 -0,07 -0,46 0,00 0,01 -0,03 0,03 -0,01 -0,37 -0,01 -0,38 0,01 -0,34 -0,02 -0,61 -0,03 -0,37 -0,08 -0,43 -0,02 ΒCD:VD3:Cd (5:1:1) Δδ (BCD:VD3)* 0,00 -0,24 -0,05 -0,30 -0,14 ΒCD:VD3:Cd (10:1:1) Δδ (BCD:VD3) 0,00 -0,07 -0,03 -0,02 0,04 -0,04 -0,02 ΒCD:VD3:Ni (II) (5:1:1) Δδ (BCD:VD3) ΒCD:VD3Ni (II) (10:1:1) Δδ (BCD:VD3) -0,40 -0,02 -0,39 -0,02 -0,36 0,00 -0,61 -0,01 -0,38 -0,04 -0,44 -0,04 *Δδ (BCD:VD3) são os deslocamentos químicos do complexo ternário BCD:VD3:M (II) menos o binários BCD:VD3. Esses dados, quando confrontados com os o espectro de RMN 1H (Figura 29), na qual pode-se verificar a supressão da hidroxila OH-2 o que indica a ligação do Cd(II) com esse átomo de oxigênio. Nota-se também um pico na região entre 4 e 5 ppm referente a H8 da VD3. Portanto, o complexo ternário formado de ΒCD:VD3:Cd(II) terá a VD3 inclusa na cavidade e o íon Cd(II) se complexará, provavelmente, no lado de fora da BCD. BCDVitCd ( 10:1:1) BCDVitCd ( 5:1:1) BCDVit 6.0 5.0 4.0 3.0 2.0 1.0 ppm (t1) 1 Figura 29 - Espectros de RMN H dos complexos ternário com cádmio, na proporção 10:1:1 (acima) e proporção 5:1:1 (meio) com a BCD:VD3 (abaixo) 61 Observando os dados da Tabela 11, os complexos ΒCD:VD3:Ni(II) (5:1:1) e ΒCD:VD3:Ni(II) (10:1:1) apresentaram o mesmo comportamento em relação as variações de deslocamentos químicos. A comparação dos deslocamentos dos complexos ternários com ΒCD:VD3, indica a formação do complexo ternário de Ni(II). Adicionalmente, observou-se que o Δδ de C4 e C6 (-0,61 e -0,44 ppm respectivamente), dos compostos ternários de Ni(II) foram razoavelmente diferentes aos outros átomos de carbono do composto binário com VD 3 indicando que há mudança conformacional na estrutura. No espectro de RMN 1H (Figura 30) dos complexos ternários de níquel nota-se a semelhança entre as proporções, com exceção do complexo ΒCD:VD3:Ni(II) (5:1:1), na qual aparece um pico referente ao H10 da VD3. Como todos os sinais das hidroxilas da BCD aparecem suprimidas e os deslocamentos químicos dos H estão semelhantes, não há como pressupor uma estrutura para este complexo ternário. Os espectros de RMN 13 C desses complexos estão no item APENDICE. BCDVitNi ( 5:1:1) BCDVitNi ( 10:1:1) BCDVit 5.0 4.0 3.0 2.0 1.0 ppm (t1) Figura 30 - Espectros de RMN 1H dos complexos ternário com níquel, na proporção 5:1:1 (acima) e proporção 10:1:1 (meio) com a BCD:VD3 (abaixo) Já era esperado um deslocamento uniforme nos compostos de inclusão, uma vez que ao entrar na cavidade da ΒCD a vitamina altera conformacionalmente toda a estrutura. Os deslocamentos químicos dos complexos binários com cádmio e níquel mostraram uma diferença em apenas alguns átomos de carbono, isso se deve ao 62 fato do íon metálico não entrar na cavidade da ΒCD, se ligando, provavelmente na parte externa. Ao se comparar os deslocamentos químicos dos complexos ternários com a ΒCD:VD3 nota-se que existe um aumento significativo do deslocamento químico em C4 e C6, comprovando que houve uma inclusão na cavidade da ΒCD. Os deslocamentos dos átomos de hidrogênio para o complexo ΒCD:VD3:Cd(II) sugere prováveis sítios de ligação, auxiliando a comprovar a estrutura ternária. Mesmo assim, existe a necessidade de uma técnica mais completa, como HSQC, para sugerir a estrutura do ΒCD:VD3:Ni(II). Na Figura 31 é demonstrada a proposta de estrutura dos complexos ternários de BCD coma VD3 e os íons metálicos Cd (II) e Ni (II), levando em consideração os dados obtidos até o momento nos quais indicam a inclusão da VD3 na cavidade da BCD e os íons metálicos ligados ao oxigênio ligado ao C 6 da BCD. A geometria dos complexos ternários, devido ao grande grau de liberdade que há para a coordenação dos metais analisadas nesses complexos, foram coordenados de maneira arbitraria, e suas geometrias moleculares não foram otimizadas até o termino do trabalho, sendo os resultados apresentados destes meramente ilustrativos. Figura 31 - Proposta de estrutura dos complexos ternários. 63 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho objetivou a síntese de complexos ternários de ΒCD com VD 3 e íons metálicos, os quais têm como principais aplicações as áreas farmacêutica e biomédica. Para atestar a formação de tais complexos, foram utilizadas metodologias e técnicas relatadas na literatura. Pela técnica de RMN 13 C e 1H foi possível detectar a formação do composto binário BCD:VD3 e dos complexos BCD:Cd(II) e BCD:Ni(II) nas duas diferentes proporções. A comparação entre os deslocamentos químicos dos complexos ternários e binários foi conclusiva ao comprovar que existe a formação dos complexos ternários BCD:VD3:Cd(II) e BCD:VD3:Ni(II), em ambas proporções. Por meio dos resultados obtidos pela técnica do DRX, foi detectada a presença de um material amorfo no espectro do composto binário ΒCD:VD3 caracterizando a inclusão da VD3 na ΒCD. Em relação aos complexos binários e ternários, observouse que as cristalinidades foram similares à da ΒCD, indicando que ocorreu a formação de estruturas gaiolas, geralmente formadas pela inclusão de um hóspede pequeno. O estudo feito pelo IVTF auxiliou a confirmar a formação desses complexos. Os diagramas de especiação obtidos por meio da titulação potenciométrica mostram que houve a formação do composto binário ΒCD:VD 3. Contudo, devido ao pouco ajuste ao método por conta da solubilidade da BCD em H 2O, será necessário ajustar a metodologia para caracterizar os complexos binários e ternários em outro solvente. 64 7 REFERÊNCIAS 1 BREWSTER, M. E.; LOFTSSON, T. Cyclodextrins as pharmaceutical solubilizers. Advanced Drug Delivery Review, v. 59, p. 645-666, 2007. 2 ZHANG, J. MA, P.X. Ciclodextrin-based supramolecular systems for drug delivery: Recent progress and future perspective. Adv. Drug Deliv. Rev. 65 (9), 1215-1233. 2013 3 GRAHAM, D.R.M. et al. Cholesterol Depletion of Human Immunodeficiency Virus Type 1 and Simian Immunodeficiency Virus with β-Cyclodextrin Inactivates and Permeabilizes the Virions: Evidence for Virion-Associated Lipid Rafts. Journal of Virology, v.77, p.8237-48, 2003. 4 SÁ BARRETO, L.C.L.; CUNHA-FILHO, M.S.S. 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Chem. 42, 3325–3330, 1977. 70 87 SCHNEIDER, H.; HACKET, F.; RUDIGER, V. NMR Studies of cyclodextrins and cyclodextrin complexes. Chemical Review, 98, p.1755-1785, 1998. 88 WISHART, DS.; et al. HMDB 3.0 — The Human Metabolome Database in 2013. Nucleic Acids Res., 41(D1), 2013. 89 JIANG, H., et al. NMR investigations of inclusion complexes between bcyclodextrin and naphthalene/anthraquinone derivatives. J. Incl. Phen. and Macroc. Chem, 58, p.133–138, 2007. 90 PASTOR, A., MARTINEZ-VIVIENTE, E. NMR spectroscopy in coordination supramoleclucar chemistry: a unique and powerful methodoligy. Coord. Chem. Reviews, 252, 2314-2345, 2008. 71 APÊNDICE BCD:Cd ( II) ( 5:1) BCD:Cd( II) ( 10:1) BCD 100 90 80 70 60 ppm (t1) Figura 1- RMN De 13 C da ΒCD E ΒCD:Cd (II) nas proporções 5:1 e 10:1, em ppm. BCD:Ni( II) ( 5:1) BCD:Ni ( II) ( 10:1) BCD 100 90 80 70 ppm (t1) Figura 2 - RMN de 13 C Da ΒCD E ΒCD:Ni (II) nas proporções 5:1 e 10:1, em ppm. 60 72 BCD BCD:Vit BCD:Vit:Cd( II) ( 5:1:1) BCD:Vit:Cd( II) ( 10:1:1) 100 90 80 70 60 ppm (t1) Figura 3 - RMN de 13 C da ΒCD e ΒCD:VD3, e do composto ternário ΒCD:VD3:Cd(II) nas proporções 5:1:1 e 10:1:1, ppm. BCD BCD:VIT BCD:Vit:Ni( II) ( 10:1:1) BCD:Vit:Ni( II) ( 5:1:1) 100 90 80 70 60 ppm (t1) Figura 4 - RMN de 13 C da ΒCD e ΒCD:VD3, e do composto ternário ΒCD:VD 3:Cd(II) nas proporções 5:1:1 e 10:1:1, ppm. Figura 5 - Espectro de RMN de 13C: (a) BCD; (b) MF; (c) BCD:VD3; (d) VD3 retirada do artigo de MERCE et al. 73 74 ANEXO O Hyperquad 2000 é apropriado para o trabalho em computadores com o sistema operacional Windows xp ou em outras versões de windows menos avançadas, não sendo adequado para o W indows vista ou outros sistemas mais sofisticados. É um programa computacional empregado no cálculo das constantes de estabilidade dos modelos fornecidos, podendo ser aproveitado para quaisquer reagentes fornecendo um grande número de constantes e podendo-se usar diferentes tipos de dados, como pH, f.e.m. E absorvância. Em comparação aos demais programas de cálculos de constante de estabilidade existentes, este programa possui a facilidade de em apenas um pacote realizar quase todos os processos por meio dos dados de equilíbrio em solução que eram feitos manualmente outrora, sendo sua maior distinção, o fato de juntamente com os dados potenciométricos poderem ser incluídos os dados espectrométricos. O programa realiza o refinamento estatístico de constantes a partir de um sistema proposto com espécies que se julga existir, calculando-se o balanço de massa, visto que o balanço de carga não é levado em consideração para simplificação dos cálculos, gerando-se assim valores de constantes com desvios padrões aceitáveis para as espécies fornecidas no sistema proposto. No modelo pode-se ignorar ou supor constantes o valor de determinadas espécies, almejando-se um sistema que represente da melhor forma possível o equilíbrio químico estabelecido. Inicialmente, fornece-se ao sistema proposto a quantidade total do volume de solução, os valores de ph obtidos a cada incremento de base, a concentração inicial de todos os reagentes, a temperatura e os erros pertinentes ao método. Na titulação potenciométrica usou-se um eletrodo de vidro combinado para as medições de pH, estudando-se o equilíbrio existente entre o íon metálico, o ligante e as espécies complexadas formadas, estas formam-se quando os íons H+ presentes nos ligantes são retirados pelos íons OH-, 75 permitindo que estes sítios de coordenação fiquem “livres” para a formação de complexo com os íons metálicos. Para o ligante, as constantes estequiométricas de formação global calculadas correspondem à equação que se segue: Porém, a determinação das constantes de dissociação parcial do ligante hnl é necessária para o cálculo das prováveis espécies presentes no sistema, sendo os equilíbrios químicos envolvidos, supondo-se um ligante h3l: As constantes de formação (log β) podem ser associadas aos pka do ligante representando os valores de ph onde são encontradas as espécies protonadas e dissociadas: Pk1 = log β3 – log β2 log β1 = pk3 Pk2 = log β2 – log β1 log β2 = pk2 + pk3 Pk3 = log β1 log β3 = pk1 + pk2 + pk3 Nos cálculos das constantes de formação dos complexos, além das prováveis espécies existentes, reputam-se nos cálculos as espécies hidrolisadas do íon metálico, as espécies dos equilíbrios do ligante e da ionização água, que no estudo em questão foi de -13,76. Para os complexos, as constantes estequiométricas usadas e calculadas correspondem às equações que se seguem: 76 Para a formação de espécies polinucleares, as constantes de formação global são usadas: Os quais: M = íon metálico L = ligantes H+ = próton OH- = hidroxila 77 O hyss 2006 é relatado, em comparação a outros programas para especiação, como um dos mais simples, em especial, devido sua interface com o sistema operacional windows em computadores pessoais, possuindo inclusive dispositivo gratuito para download em internet. Tem ainda a vantagem de poder ser usado em diferentes tipos de sistemas, já que não há limites para número de reagentes e complexos formados. É utilizado para a validação das curvas de titulação da seguinte forma: as constantes encontradas a partir dos cálculos do hyperquad 2000 são lançadas neste programa juntamente aos dados sobre o experimento, como volume final e concentrações das soluções usadas. Desta maneira, o programa fornece uma curva teórica experimental para o sistema fornecido, a partir dos pontos de titulação obtidos, plota-se assim um gráfico comparativo, entre a curva de titulação obtida experimentalmente e à teórica. O hyss 2006 serve também para fornecer as curvas de distribuição de espécies em função do pH, permitindo uma melhor análise do sistema na faixa de ph em interesse. Referências: Alderighi, l. Et al. Hyperquad simulation and speciation (hyss): a utility program for the investigation of equilibria involving soluble and partially soluble species, coordination chemistry reviews,184, 311-318, 1999. Puc-rio. Capítulo 5: programas computacionais. Disponível em: http://www2.dbd.pucrio.br/pergamum/tesesabertas/0710743_2011_cap_5.pdf. Acesso dia 05/05/2014.