Solução Numérica para Equações Integrais com Núcleo Fracamente Singular. Leonardo Guillermo Felipe1 1 Centro de Engenharias e Ciências Exatas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Rua da Faculdade, 645- Jd. Santa Maria-Toledo-PR [email protected] Resumo: O objetivo deste trabalho é desenvolver e discutir a convergência do método numérico integração produto para aproximar a solução das equações integrais de Volterra de segunda espécie com núcleo fracamente singular. Testes numéricos são realizados, os quais confirmam o resultado teórico sobre a taxa de convergência do método numérico proposto. Palavras chaves. Convergência. Integração produto. Quadratura. 1. Introdução. Consideremos a equação integral de Volterra de segunda espécie, x y ( x) = g ( x) + ò p( x, s ) K ( x, s , y ( s )) ds , a £ x < ¥, (1) p g onde o núcleo é fracamente singular e as funções e K são dadas e assumidas suficientemente suaves de modo a garantir a existência e unicidade da solução y Î C[ a ,b], ver por exemplo, [ATKINSON, 1974] e [BRUNNER , HOUWEN,1986]. Formas típicas para p (x,s) são, a p( x, s ) = x - s -l , 0 < l <1 . Equações do tipo (1) surgem no estudo de problemas de condução de calor, superfluidez e eletroquímica (ver por exemplo, [KELLER , OLMSTEAD,1971-2] , [LEVINSON, 1960]. Para equações integrais de Volterra com núcleo limitado, a suavidade do núcleo e da função g (x) determinam a suavidade da solução no intervalo [ a ,X] para X> a . Por outro lado, se considerarmos o núcleo como sendo fracamente singular, então a solução resultante é tipicamente não suave no ponto inicial do intervalo de integração, onde sua derivada torna-se não limitada. Alguns resultados relacionados com o comportamento da solução exata das equações integrais do tipo (1) podem ser encontrados em [BRUNNER , HOUWEN, 1986], e [LUBICH, 1983]. Métodos numéricos para resolver equações integrais de tipo Abel de segunda espécie, isto é, do tipo (1) tem sido estudados por [BRUNNER , HOUWEN, 1986], [CAMERON , McKEE,1984], [RIELE, 1982], [ABDALKHANI, 1990] e [LUBICH, 1985], entre outros autores. O método para a solução da equação integral (1) que consideramos neste trabalho procura superar a dificuldade causada pelo mau comportamento da solução y (s) no ponto inicial s= a . Assim, dado um intervalo relativamente pequeno [ a ,b], primeiro resolvemos o problema, x y ( x) = g ( x ) + ò p ( x, s ) K ( x, s, y ( s )) ds, a £ x £ b, (2) pelo método de Nystrom sobre todo o intervalo, o qual é baseado na regra de integração produto de tipo interpolatório. Após o intervalo inicial, o mau comportamento da derivada de y é de menor importância. Logo, resolvemos o problema, a x y ( x) = g1 ( x ) + ò p ( x, s ) K ( x, s, y ( s )) ds, b b£x<¥ , (3) onde, b g1 ( x) = g ( x ) + ò p ( x, s ) K ( x, s, y (s )) ds , a por um método padrão passo a passo para solução regular. Uma vez que os cálculos de g1(x) dependem das aproximações iniciais de y(x) para x Î [ a ,b], os dois métodos devem ser considerados como complementares. Na seção 2 deste trabalho descrevemos a parte inicial do método para a equação integral (2) e na seção 3 serão dados resultados de convergência uniforme. A aplicação do método inicial junto com o esquema padrão para a solução da equação integral (3) serão fornecidos na seção 4. Nossos resultados numéricos serão comparados com os resultados disponíveis na literatura obtidos por métodos alternativos. 2. O Método de Integração Produto. Nesta seção descrevemos o método de Nystrom para resolver numericamente a equação (2). Por conveniência e sem perda de generalidade, assumiremos que [ a ,b]=[-1,1], x y ( x) = g ( x ) + ò p ( x, s ) K ( x, s, y ( s )) ds, -1 - 1 £ x £ 1. (4) Tendo escolhido N+1 pontos distintos {xn}, para n=0,...,N, no intervalo [-1,1], colocamos a equação (4) nos nós {xn} : xn y ( x n ) = g ( x n ) + ò p( x n , s ) K ( x n , s , y ( s )) ds, n = 0,1,....., N . -1 Logo, usamos os polinômios de interpolação de Lagrange, N L N ( K ; s ) = å l N , j ( s ) K ( x n , x j , y ( x j )) j =0 para aproximar K (xn,s,y(s)) e obter o seguinte: N y N , n = g ( x n ) + å wn , j K ( x n , x j , y N , j ), j =0 onde, n = 0,1,......, N , (5) xn wn, j = ò p ( x n , s ) l N , j ( s ) ds -1 . 3. O Método Inicial: Convergência. Em toda esta seção, o símbolo C denotará uma constante positiva. Para fazer a análise de convergência, usaremos a equação teste seguinte, x y ( x) = g ( x ) + ò p( x, s ) y ( s ) ds , - 1 £ x £ 1, -1 (6) p onde assumiremos que a função g Î C[-1,1] e o núcleo é fracamente singular. Consequentemente, a equação (6) tem uma única solução y Î C[-1,1] com, possivelmente, derivada não limitada no ponto x= -1. Considerando uma malha {xj} para j=0,...,N e aplicando o método dado em (5) para a equação teste (6), a solução aproximada y N(x) será obtida mediante o método de Nystrom, N y N ( x) = g ( x) + å w j ( p, x) y N ( x j ), j =0 onde, x w j ( p, x) = ò p( x, s ) lN , j ( s ) ds -1 . O método numérico é convergente de ordem r em [-1,1] se e somente se, para N suficientemente grande existe uma constante C tal que, y ( x ) - y N ( x) ¥ £ CN - r . Para fazer a análise de convergência uniforme da solução aproximada yN(x) para solução exata y(x) da equação (6), observamos que, y ( x) - y N ( x) = å w j ( p, x ) { y ( x j ) - y N ( x j )} + t N ( p, y , x) N j=0 onde tN( p ,y,x) é o erro de truncamento local definido por, n t N ( p, y, x ) = ò p ( x, s ) y ( s ) - å w j ( p, x) y ( x j ). x -1 j =0 Logo, y - yN ¥ £ ( I - AN ) -1 ¥ tN ¥ , (7) onde AN é o operador linear definido por, N AN f ( x) = å w j ( p, x) f ( x j ), f Î C[-1,1], x Î [-1,1] j =0 (8) Antes de prosseguir, estabelecemos um resultado sobre as propriedades de convergência da regra de quadratura-produto: Teorema 1. Seja {xj}, j=0,...,N, os zeros de um conjunto de polinômios de grau N+1 que são ortogonais sobre [-1,1] em relação a função peso, w( s ) = u ( s ) (1 - s )a (1 + s ) b , - 1 < a £ 3 / 2, b ³ -1 / 2. (9) onde, u (x) é positiva e contínua em. Seja LN(f;s) o polinômio de interpolação de grau £ N que coincide com a função f nos nós {xj}. Então, para toda função f contendo s singularidade do tipo (1+s) , s >-1 (não inteiro), e em particular para toda função fÎ C[-1,1] é verdade que, lim N ®¥ ò x -1 x p ( x, s ) f ( s ) ds - ò p( x, s ) LN ( f , s )ds -1 =0 ¥ (10) Em particular, temos o limitante, t N ( x - s ) - l , f , x = O{( N + 1) -2 - 2s + 2l log( N + 1), 0 < l < 1, s > -1} ¥ ( I - AN )-1 Agora analisaremos o comportamento de propósito, estabeleceremos alguns lemas preliminares. ¥ (11) em (7). Para este Lema 1. Seja o conjunto de nós {xj} como definido no teorema 1 com a restrição -1/2< a , b <3/2. Seja l (s) o j-ésimo polinômio fundamental de Lagrange . Para [c,d] Í [N,j 1,1] existe um número C positivo e q>1 tal que, N sup å N j =0 ò d c d q p (d , s ) l N , j ( s ) ds £ C é ò p (d , s ) ds ù êë c ûú 1/ q para todo p Î Lq com, p q q é 1 ù = ê ò p (d , s ) ds ú -1 ë û (12) 1/ q . Lema 2. Com as mesmas hipóteses do lema 1 e com o núcleo p satisfazendo, p Î Lq , q > 1, ì ï í lim p( x ' , s ) - p( x, s ) = 0 ï q îx ' ® x para todo x Î [-1,1] . Então, (13) N lim sup å w j ( p , , x , ) - w j ( p, x) = 0 , x ®x N j =0 (14) para todo x Î [-1,1] , onde p´= p(x´,s). Teorema 2. Seja AN o operador definido em (8) e os nós {xj} como no Lema 1. Se (10), (12) e (14) são verdadeiros, então para todo N suficientemente grande existe uma constante C>0 independente de N tal que, ( I - AN ) -1 £ C ¥ . Lema 3. O núcleo p satisfaz a condição (13). Teorema 3. Seja y a solução exata da equação (6). Seja yN a solução aproximada obtida pela discretização do termo integral da equação (6) usando a regra de quadraturaproduto do tipo interpolatório construída sobre um conjunto de nós {xj}. Se os nós {xj} os zeros de um conjunto de polinômios de grau N+1 que são ortogonais sobre [-1,1] em relação a função peso (9) com -1/2< a , b <3/2; então, y converge uniformemente para N y. Além disso, a taxa de convergência de yN para y coincide com a da regra de quadratura escolhida para aproximar o termo integral na equação (6). 4. Resultados Numéricos e Discussâo. O método (5) baseado nos nós de Radau ( isto é, os nós coincidem com os zeros dos P (1,0 ) ( x) ) usando a regra de Simpson-produto sobre malha polinômios de Jacobi N uniforme já foi implementado em [CAMERON , McKEE, 1984] para resolver as equações seguintes (tomadas de uma coleção de problemas propostos em [BRUNNER , HOUWEN, 1986] e [RIELE, 1982], 1 x y ( x) = 1 - e - x ( x - s ) -1 / 2 y (s ) ds ò 0 p , (15) 1 x y ( x) = e erfc ( x ) - e - x + 2 p F ( x ) 2 , { onde, F (t ) = e -t } 2 t òe 0 u2 du ; 1 p 1 æ1- x ö 1 x -1 / 2 + - arcsenç y ( s ) ds ÷ - ò0 ( x - s ) 8 4 1 + x 4 1+ x è ø , 1 y ( x) = 1+ x . y ( x) = (16) Para h dado, fixamos o ponto b no intervalo ( a ,X), com X> a . Logo, resolvemos o problema (2) pelo método (5) baseado em N+1 nós de Radau no intervalo [ a ,b]. Se a s solução y(s) contém uma singularidade da forma (s- a ) , s >-1; então, a ordem de -2 - 2s + 2 l log( N + 1) conforme foi estabelecido em (11) convergência do método é ( N + 1) do teorema 1. Com b fixado no intervalo [b,X] definimos a malha x o º b, xn = x0 + nh, n = 1,2,..., M ; xM º X e logo aplicamos o método de Simpson-produto, ver [CAMERON , McKEE, 1984]. Os valores aproximados para yn, n=2,...,M são obtido de, ìy ( x ) = g ( x ) + xn ( x - s ) -l K ( x , s , y ( s )) ds, 1 n n òx0 n ï n í x ïg1 ( x n ) = g ( n ) + ò 0 ( x n - s ) -l K ( x n , s , y ( s )) ds, l £ s £ x 0 a î . y Desde que a solução (x) é suave no intervalo [b,X], (ver [LUBICH, 1983] ), este 4-l método converge do mesmo modo que h ( ver [CAMERON , McKEE, 1984] ). Os valores iniciais y0 e y1 são determinados usando o método de Nystrom no intervalo [ a ,x0] e a regra passo a passo de Simpson-produto é aplicada nos pontos x0-h, x0, x0+h. Para testar o desempenho do método apresentado neste trabalho, comparamos os nossos resultados numéricos obtidos com os correspondentes resultados existentes na literatura. Assim, damos especial atenção aos resultados fornecidos por [HAIRER, LUBICH , SCHLICHTE, 1988] que utilizaram o método de passo múltiplo introduzido por [LUBICH, 1985], o qual é considerado um método eficiente para equações integrais de tipo Abel, segundo as considerações de [BAKER, 1987]. Na Tabela 1 denotamos por IP os resultados numéricos deste trabalho, por P o método inicial (5), por L os resultados numéricos de [HAIRER, LUBICH , SCHLICHTE, 1988] e por BE os resultados em relação a equação (15) apresentados por [BRUNNER , EVANS, 1977], que utilizaram o método de colocação com polinômios por pedaços e malha uniforme. O método IP foi aplicado com b=0,2 e h=0,01. Tabela 1. Erros absolutos para a solução aproximada da equação (15) em x=1 calculados por métodos diferentes N 4 5 8 10 16 20 32 IP 8,7E-8 1,0E-8 2,1E-9 8,7E-10 1,0E-10 3,6E-11 3,8E-12 P 4,3E-5 1,8E-5 7,3E-7 1,2E-7 6,6E-9 8,6E-10 1,1E-10 BE L 3,4E-8 8,4E-4 4,1E-8 2,3E-8 5,0E-5 4,7E-9 Em relação a equação (16), a Tabela 2 mostra os resultados fornecidos por : 1. [LINZ, 1969], denotado por LZ, utilizou o método de integração produto de ordem p=3 baseado na regra de Simpson generalizado. 2. [EL TOM, 1974], denotado por ET, utilizou funções spline de grau 5. 3. [CAMERON , McKEE, 1984], denotado por CK, utilizou um método de integração produto de tipo interpolatório. Salientamos que os resultados de convergência fornecidos pelos métodos de LZ, ET e CK são válidos se a solução y(x) é suficientemente suave. O método deste trabalho (IP) foi implementado com b=0,02 e h=0,002. Tabela 2. Erros absolutos para a solução aproximada da equação (16) em x=1 calculados por métodos diferentes. N 4 5 8 10 16 20 32 64 100 128 200 256 IP 1,4E-9 1,9E-10 9,7E-13 P 2,8E-6 3,1E-7 6,3E-10 1,2E-11 1,3E-16 LZ ET £ 7,0E-8 CK L 3,0E-7 5,6E-6 £ 2,0E-9 1,3E-7 8,0E-7 1,4E-8 1,0E-7 1,9E-9 5,6E-10 2,8E-14 6,7E-11 5,6E-16 5,7E-12 Os resultados numéricos fornecidos acima mostram que o método apresentado neste trabalho confirma a taxa de convergência teórica. No caso da equação (15) (ver Tabela 1) o método IP, com [ a ,b]=[0;0,2], h=0,01. e o método L envolvem N=8 e N=32 nós, respectivamente, para encontrar a solução aproximada em x=1 com erro absoluto na ordem de 10-9. O comportamento dos erros na Tabela 2 é devido ao fato que a solução da equação (16) é suave no intervalo de integração. Em particular, podemos observar que, se a equação (16) for resolvida em 0 £ x £ 0,02 pelo método inicial P; o método IP, com h=0,002 requer N=8 para encontrar a solução aproximada em x=1, com erro absoluto na ordem de 10-12 . A mesma exatidão é obtida pelo método L em x=1 com N=256. 5. Conclusões. Neste trabalho foi analisado a convergência do método integração produto para equações integrais de Volterra com núcleo fracamente singular. Assim, se considerarmos o núcleo fracamente singular, então a solução resultante é tipicamente não suave no ponto inicial do intervalo de integração, onde sua derivada torna-se não limitada. Para amenizar esta dificuldade, temos proposto o método de integração produto junto a um método passo a passo apropriado para a solução regular. Conclui-se que esta técnica pode ser uma ferramenta numérica importante para aproximar a solução de equações integrais de Volterra de segunda espécie com núcleo fracamente singular. Os testes numéricos realizados confirmam o resultado teórico de convergência fornecida neste trabalho. 6. Referências. ABDALKHANI, J. A numerical approach to the solution of Abel integral equations of the second kind with nonsmooth solution. J. Comput. Appl. Math., v. 29, p. 249-255. 1990. ATKINSON, K.E. An existence theorem for Abel integral equations. Siam J. Math. Anal., v.5, p.729-736. 1974. BAKER, C.T.H. The state of the art in the numerical treatment of integral equations, The state of the Art in Numerical Analysis. Clarendon Press, Oxford. 1987. BRUNNER, H.; EVANS, M.D. Piecewise polynomial collocation for Volterra-Type integral equations of the second kind. J. Inst. Math. Appl. v. 20, p. 415-423. 1977. BRUNNER, H. ; Te RIELE, J.J. Volterra-type integral equations of the second kindwith nonsmooth solutions. J. Integral Equations, v.6, p.187-203. 1984. BRUNNER, H. ; HOUWEN, P.J. The numerical solution of Volterra equations. NorthHolland, Amsterdam. 1986. CAMERON, R.F. ; McKEE, S. Product integration methods for second kind Abel integral equations. J. Comput. Appl. Math., v.11, p.1-10. 1984. EL TOM, M.E.A. Spline function approximations to the solution of singular Volterra integral equations of the second kind . J. Inst. Math. Appl. v.14, p.303-309. 1974. HAIRER, E.; LUBICH, Ch. ; SCHILCHE, M. Fast numerical solution of weakly singular Volterra integral equations. J. Comput. Appl. Math., v.23, p.87-98. 1988. KELLER, J.B. ; OLMSTEAD,W.E. Temperature of a nonlinear radiating semiinfinite solid.Q. Appl. Math. v.29, p.559-566. 1971-72. LEVINSON, J.E. A nonlinear Volterra equation arising in the theory of superfluidity. J. Math.Analysis Appl. v.1, p.1-11. 1960. LINZ, P. Numerical Methods for Volterra integral equations with singular kernels. Siam J. Numer. Anal. v.6, p. 365-374. 1969. LUBICH, CH. Runge-Kutta theory for Volterra and Abel integral equations of the second kind. Math. Comp. v.41, p. 87-102. 1983. RIELE, H.J.J. Collocation methods for weakly singular second kind Volterra integral equations with non-smooth solution. IMA J. Numer. Anal. v.2, p. 437-449. 1982.