CIRCULAR N.° 104 MAIO/99 ISSN 0100-3356 José Uno Martinez1 Marcos Elias Traad da Silva2 Pedro Luiz Thomazini3 INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ - LONDRINA-PR 1 Méd. Vet. M.Sc. Pesquisador da Área de Zootecnia-IAPAR-Pólo de Curitiba, Caixa Postal, 2301 - 80001-970- Curitiba PR. Zootec. M.Sc. Pesquisador da Área de Nutrição Animal-IAPAR-Pólo de Curitiba, Caixa Postal, 2301 - 80001-970 - Curitiba PR. 3 Téc. Agr. lAPAR-Pólo de Curitiba - CP. 2301, 80001-970 - Curitiba PR. 2 INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ VINCULADO À SECRETARIA DE ESTADO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO Rodovia Celso Garcia Cid, km 375 - Fone: (043) 376-2000 - Fax: (043) 376-2101 Cx. Postal 481 - 86001-970 - LONDRINA-PARANÁ-BRASIL [ Visite o site do IAPAR: http://www.pr.gov.br/iapar ] DIRETORIA EXECUTIVA Diretor-Presidente: Florindo Dalberto PRODUÇÃO Coordenação Gráfica: Jentaro Lauro Fukahori Arte-final: Sílvio Cézar Boralli Capa: Tadeu Kiyoshi Sakiyama Impresso na Área de Reproduções Gráficas Tiragem: 1.200 exemplares Todos os direitos reservados ao Instituto Agronômico do Paraná. É permitida a reprodução parcial, desde que citada a fonte. É proibida a reprodução total desta obra. M385 Martinez José Lino Recria e engorda de búfalos em pastagens de hemártria e humidícola no litoral do Paraná / por José Lino Martinez, Marcos Elias Traad da Silva e Pedro Luiz Thomazini. Londrina; IAPAR, 1999. 12 p. (IAPAR. Circular, 104) 1. Búfalos-Recria. 2. Búfalos-Engorda. 3. Pastagens. I. Silva, Marcos Elias Traad, Colab. II. Thomazini, Pedro Luiz, colab. III. Instituto Agronômico do Paraná, Londrina, PR. IV. Título. V. Série. CDD 636.293 AGRIS LO2 5217 1910 SUMÁRIO Pág. MATERIAL E MÉTODOS-------------------------------------------------------------------7 RESULTADOS E DISCUSSÃO-----------------------------------------------------------8 CONCLUSÕES-------------------------------------------------------------------------------10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS--------------------------------------------------------11 AGRADECIMENTO--------------------------------------------------------------------------12 INTRODUÇÃO O Litoral do Paraná caracteriza-se pelo clima tropical superúmido e por solos pobres, geralmente hidromórficos. Nesta região do Estado a bubalinocultura vem apresentando índices significativos de crescimento, principalmente em locais onde se verifica baixo desempenho produtivo dos bovinos. O sistema de produção de búfalos predominante no Litoral é a exploração extensiva para cria, sendo que a recria e a engorda são comumente feitas em outras regiões. Isto ocorre em virtude da baixa capacidade de suporte das pastagens nativas, da acentuada variação na oferta de forragem ao longo do ano e também por escassas informações sobre espécies forrageiras com bom potencial produtivo adaptadas às condições edafo-climáticas locais. Visando a seleção de forrageiras apropriadas para a formação de pastagens na região litorânea, foram conduzidos trabalhos experimentais pelo IAPAR desde 1979, destacando-se a Hemarthria altíssima e a Brachiaria humidicola. Trabalhos realizados em outras regiões também mostraram o potencial destas espécies forrageiras. Na Amazônia, Moura Carvalho et al. (1982) avaliaram o desempenho produtivo de bubalinos criados em B. humidicola sob diferentes lotações. Os resultados obtidos pelos autores foram satisfatórios, verificando-se que os animais podiam atingir peso vivo superior a 435 kg com aproximadamente dois anos. Em Ponta Grossa, Paraná, H. altíssima cultivar IAPAR 35Roxinha foi testada para a recria de bezerros (bovinos). Os ganhos obtidos foram significativos. No período de primavera-verão os animais ganharam em média 356 g/cabeça/dia. E no período de outonoinverno, apesar das baixas temperaturas, os animais praticamente não apresentaram paralisação no ganho de peso (Postiglioni, 1990). O objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho de bubalinos na fase de recria e engorda em pastagens de H. altíssima e B. humidicola no Litoral do Paraná. 5 MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na Estação Experimental do IAPAR em Morretes, região litorânea do Paraná e realizado em duas etapas. A primeira etapa teve início em maio/91 e foi encerrada em junho/92. A segunda etapa foi conduzida de fevereiro/93 a maio/94. Em cada fase foi feita a recria, engorda e abate de um lote de bubalinos. Foram testados dois tratamentos: pastagem de Hemarthria altíssima Poir (Stapf) et. CE. Hubb cv. IAPAR 35-Roxinha e pastagem de Brachiaria humidicola (Rendle) Schw. As pastagens já estavam implantadas em solo hidromórfico. No início do experimento as análises químicas do solo mostraram os seguintes valores: pH = 4,0; Al = 1,16 meq% ; Ca + Mg = 1,64 meq%; P - 3,5 ppm; K = 0,05 meq% e matéria orgânica = 2,0%. A área foi corrigida com calcário. Em cada etapa foi aplicado 40 kg/ha de nitrogênio (dividido em 3 doses) e 100 kg/ha da fórmula 4-30-10 no início de cada fase. Foram utilizados seis piquetes com 0,9 ha cada, três formados com hemártria e três com braquiária. Foi adotado o sistema de pastejo rotativo (14 dias de uso com 28 dias de descanso) com lotação variável de acordo com a disponibilidade de forragem (Mott & Lucas, 1952). Em cada etapa foram utilizados doze machos castrados ("tester"), com aproximadamente 13 meses, das raças Murrah e Mediterrâneo. Animais de ajuste ("put-and-take") com as mesmas características foram empregados a fim de manter uma pressão de pastejo de 5% para ambos os tratamentos ao longo do período experimental. Os animais tinham acesso a sal mineralizado, além de receberem endo e ectoparasiticidas. A cada duas semanas, antes dos animais ingressarem nos piquetes, as áreas eram amostradas para medir-se a disponibilidade de forragem. Em cada ocasião foram sorteados dez pontos de cada piquete. Cada local marcado mediu 0,25 m2 e a forragem era cortada ao nível do solo, pesada e separada nos seus componentes botânicos. Junto aos pontos sorteados foram coletadas, manualmente (simulando pastejo), dez amostras de cada forrageira que foram avaliadas quanto a MS , PB, Ca e P (AOAC, 1975) e DIVMS (Tilley & Terry, 1963). O delineamento experimental empregado foi em blocos casualizados. Em cada fase, de acordo com o peso inicial dos animais, foram formados dois blocos. Cada tratamento contou com seis animais 7 ("tester"), sendo três animais do bloco 1 e três animais do bloco 2. As médias foram comparadas pelo Teste de Tukey. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados dos parâmetros avaliados mostraram comportamento similar nas duas etapas que compuseram o trabalho. Assim sendo, os resultados a ser apresentados são as médias das duas fases. A Tabela 1 mostra as variações de peso dos "testers" , bem como o ganho médio diário. Verifica-se que foi bom o desempenho dos animais que pastejaram a B. humidicola, pois obteve-se um peso médio final de 463,3 kg/cabeça para animais com idade inferior a 2,5 anos. A humidicola na condição de Litoral do Paraná proporcionou ganhos próximos aos obtidos por Moura Carvalho et al. (1982) na Amazônia, onde bubalinos da raça Mediterrâneo ganharam em torno de 585 g/dia. O ganho médio diário (GMD) dos animais obtidos com a hemártria, apesar de inferior quando comparado com o outro tratamento, proporcionou ainda um bom ganho de peso em relação às condições edafo-climáticas regionais. Informação semelhante foi obtida na Flórida (EUA), onde os pesquisadores observaram GMD de 410 g para novilhos pastejando hemártria (Sollenberger et al., 1989). Quanto à composição botânica, os piquetes apresentaram em média 60% e 69% de cobertura vegetal com hemártria e humidicola, respectivamente. A menor cobertura da hemártria propiciou uma ocorrência maior de inços nestas áreas. Possivelmente, em virtude da 8 ressemeadura natural da humidicola, estes piquetes mantiveram-se em melhores condições de cobertura. Em relação a qualidade das forrageiras, a Tabela 2 mostra as médias obtidas para todo o período experimental. Pode-se observar (Tabela 2) que a B. humidicola apresentou um valor mais elevado (P<0,05) de digestibilidade "in vitro" da matéria seca (DlVMS) do que a hemártria. Apesar da proteína bruta (PB) não ter diferido estatisticamente entre os tratamentos (P<0.05) verifica-se uma tendência favorável à humidicola. Estes fatos devem estar relacionados ao melhor desempenho dos animais que pastejaram a braquiária. A humidicola também apresentou superioridade (P< 0,05) em relação à hemártria para os níveis de fósforo (P). Os valores obtidos para dias novilhos/ha/ano e ganho de peso (kg/ha/ano), considerando-se os dados de todos os animais que participaram do experimento foram, respectivamente: 1.172 e 973, para hemártria e 467,8 e 509,7 para humidicola . Estes dados são superiores quando comparados aos trabalhos de Moura Carvalho et ai. (1982) e Postiglioni (1990). Isto revela o bom potencial destes dois materiais nas condições de litoral paranaense no desenvolvimento dos animais nas fases de recria e engorda. A hemártria possibilitou uma lotação maior do que a humidicola. Essa superioridade deve estar associada a uma taxa de crescimento superior da hemártria. (Leach et ai., 1976), bem como ao maior percentual de matéria seca: 30,70% versus 23,53% para hemártria e humidicola, respectivamente. Quando combinados os dados de lotação com o de ganho médio diário dos animais em cada tratamento, constatamos que os dois tratamentos apresentaram resultados muito próximos para o ganho de peso por unidade de área. 9 CONCLUSÕES Brachiaria humidicola e Hemarthria altíssima apresentaram bom potencial para recria e engorda, a pasto, de bubalinos no Litoral do Paraná. • A braquiária proporcionou um ganho médio, diário dos animais superior à hemártria, que pode ser atribuído a melhor qualidade daquela forrageira. • Com maior percentagem de matéria seca e, provavelmente, com uma taxa de crescimento superior, a hemártria permitiu uma lotação maior que a braquiária. • Aspectos favoráveis para cada um dos materiais avaliados em relação ao ganho por animal e a lotação resultaram em ganhos por unidade de área muito próximos para hemártria e humidicola. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALITICAL CHEMISTS. Official Methods of Analysis. 12. ed. Washington, D.C.: 1975. 1.094 p. 2. FUNDAÇÃO INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ. Relatório Técnico Anual 1978. Londrina, 1979. 236p. 3. LEACH , G.J.; JONES, R. M.; JONES, R. J. THE AGRONOMY AND ECOLOGY OF IMPROVED PASTURES, in: SHAW, N.H.; BRYAN, W.W. Tropical Pasture Research Principies and Methods. CSIRO Division of Tropical Agronomy, Brisbane, 1976. 9. 277-304 (CA. B. Bulletin 51). 4. MOTT, G.O.; LUCAS, H. L. The design, conduct and interpretationof grazing trials on cultivated and improved pastures. In: INTERNATIONAL GRASSLAND CONGRESS, State College, 1952. Proceedings State College, Pennsylvania, State College Press, 1952. p. 1.380-5. 5. MOURA CARVALHO, L.O.D. de; NASCIMENTO, C. N.B. do; COSTA, N.A. da, LOURENOÇO, J. de B. Engorda de machos bubalinos da raça Mediterrâneo em pastagem de quicuio da Amazônia (Brachiaria humidicola) na terra firme. Belém, EMBRAPA/CPATU, 1982. 20p. (EMBRAPA/CPATU, Circular Técnica, 25). 6. POSTIGLIONI, S.R. Recria de bezerros em Hemarthria altíssima cv. IAPAR 35 - Roxinha. Londrina, IAPAR, 1990.9p. (IAPAR Informe da Pesquisa, 93). 7. SOLLENBERGER, L. E.; RUSLAND, G.A.; JONES Jr. C S . ; ALBRECHT, K.A.; GIEGER, K.L. Animal and forage responses on rotationally grazed "Floralta" Limpograss and "Pensacola" Bahiagrass pastures. Agron. J. 81:760-764, 1989. 8. TILLEY, J.M.A.; TERRY, R.A. A two tecnique for the "in vitro" digestion of forage crops. J. Brit. Grassld . Soc. London, v. 18 p. 104-111, 1963. 11 AGRADECIMENTO Ao funcionário do IAPAR, Sr. Irineu Triaquim pela grande colaboração na condução deste trabalho. ESTADO DO PARANÁ SECRETARIA DE ESTADO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO