A IDENTIFICAÇÃO DE PREFERÊNCIAS E ATRIBUTOS RELACIONADOS À
ESTRUTURA DE CAPITAL EM PEQUENAS EMPRESAS
Thamíris da Silva1; Thiago Coelho Soares, Msc (orientador)2
INTRODUÇÃO
A estrutura de capital é composta por fontes de financiamento a longo prazo, que
podem ser de origem própria, o chamado capital próprio, ou capital de terceiros (GITMAN,
1997). Neste sentido, para a análise e tomada de decisões sobre estruturas de capital deve-se
considerar somente o capital permanente e de longo prazo, ou seja, o Exigível a Longo Prazo
e o Patrimônio Líquido. O objetivo principal da separação do capital é em função de que as
estruturas de capital, por serem de natureza estratégica, não sofrem variações ou alterações
periódicas (ASSAF NETO, 2003).
O capital possui um custo, ou seja, valor que a empresa paga pela captação de
empréstimos e financiamentos. Pode ser também definido como sendo a taxa mínima que
projetos de investimentos necessitam proporcionar de retorno (FAMA & FRENCH, 2007).
Quando existe mais de uma fonte de financiamento (capital próprio e capital de terceiros) o
custo de capital é calculado a partir da média ponderada, onde de acordo com Damodaran
(2002, p. 119) o custo de capital “é a média ponderada dos custos de diferentes componentes
de financiamento [...] utilizados pela empresa para financiar suas necessidades financeiras”.
Palavras-chave: Estrutura de Capital. Custo do Capital. Fontes de Financiamento.
OBJETIVOS
O objetivo geral desta pesquisa de iniciação científica consiste em verificar as
características desejadas de financiamento e relação entre atributos da empresa/gestor e
financiamentos de curto e longo prazo atuais e desejados, a partir das análises conjunta e de
correspondência.
Os objetivos específicos referem-se à:
- Identificação do padrão de financiamento atual de empresas de capital fechado;
- do processo de escolha do financiamento e da relação entre os financiamentos atuais;
- e as características das empresas e de seus gestores.
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1
2
Acadêmica de Administração da Unisul. Bolsista do PUIC.
Professor do Curso de Administração da Unisul. E-mail: [email protected]
MÉTODO
Esta pesquisa terá caráter quantitativo. A pesquisa quantitativa permite a
mensuração de opiniões, reações, hábitos e atitudes em um universo, por meio de uma
amostra que o represente estatisticamente (NEVES, 1996).
A pesquisa quanto à sua finalidade pode ser considerada descritiva, pois descreve
as informações obtidas por meio da pesquisa documental e de entrevistas. Para Churchill Jr
(1987), o meto descritivo delineia o que se pesquisa, objetiva conhecer e interpretar a
realidade sem nela interferir para modificá-la abordando quatro aspectos: investigação,
registro, análise e interpretação dos fatos. A pesquisa descritiva expõe as características de
uma determinada população ou fenômeno, sem o compromisso de explicar o porquê levou a
tal. Esse método visa analisar o passado para compreender o presente e gerar compromisso
com o futuro.
De acordo com a sua dimensão no plano de tempo de pesquisa, caracteriza-se pelo
corte transversal. O período estudado corresponderá ao primeiro semestre de 2012.
Richardson (1989) explica que neste tipo de plano a amostra é selecionada para descrever
uma população nesse determinado tempo.
Quanto aos meios de investigação, este trabalho será dividido em duas etapas,
uma inicial que corresponde a pesquisa bibliográfica, e outra final, a pesquisa por meio de
questionários. Conforme Vergara (1998), a pesquisa bibliográfica é um estudo sistematizado
desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, meios eletrônicos e jornais.
Fornece instrumental analítico para a pesquisa.
Foram feitas entrevistas fechadas com o público alvo da pesquisa, empresas de
pequeno porte na Região Metropolitana de Florianópolis. Segundo Yin (2001), as entrevistas
são conversas guiadas com o intuito de levantar informações necessárias para a pesquisa. Os
entrevistados fornecem ao pesquisador percepções e interpretações sobre o assunto. De
acordo com Haguette (1995), a entrevista é um processo de interação cujo objetivo é a
obtenção de informações por meio de um roteiro previamente estabelecido.
No questionário teremos 15 itens a serem analisados: 1. Setor de atuação; 2.
Utilização de empréstimos bancários; 3. Nível de endividamento atual; 4. Tipo de
financiamento de curto prazo/giro mais utilizado; 5. Prazo médio de pagamento de
financiamento de curto prazo/giro; 6. Custo médio de financiamento de curto prazo/giro; 7.
Motivo da opção pelo financiamento de curto prazo/giro; 8. Tipo de financiamento de longo
prazo utilizado; 9. Prazo médio de pagamento de financiamento de longo prazo; 10. Custo
médio de financiamento de longo prazo; 11. Motivo de opção pelo financiamento de Longo
Prazo; 12. Destinação do financiamento de longo prazo; 13. Frequência de revisão das
decisões de financiamento; 14. Em que consistirão os novos investimentos; e 15. Como
pretende financiar o investimento projetado. Este questionário foi desenvolvido a partir do
material desenvolvido por Burkowski (2009).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentre as 28 empresas entrevistadas, 64% atuam no setor do comércio, e 36% no
setor de serviços, não houveram entrevistas com empresas do setor da indústria.
No que se refere à utilização de empréstimos bancários, 57% afirmaram não
utilizar empréstimos, seguido por 25 % que utiliza de curto e longo prazo, 14% utiliza
somente de curto prazo, e 4% utiliza somente de longo prazo. Quanto ao nível de
endividamento atual 39% tem até 10% de dívida e 90% de capital próprio, 29% afirmaram
não saber quanto ao nível de endividamento, 18% possui até 20% de dívida e 80% de capital
dos sócios, seguido por 11% que possui até 50% de dívida e 50% de capital dos sócios, e 4%
afirmaram ter até 90% de dívida e 10% de capital dos sócios.
Sobre o tipo de financiamento de curto prazo/giro, as empresas foram
questionadas quanto ao mais utilizado, afirmaram: 39% negociação de prazo com
fornecedores, 15% linha bancária específica para capital de giro, 15% não utiliza nenhum
tipo, 9% empréstimo bancário em nome dos sócios (PF), 6% empréstimos de
familiares/amigos aos sócios, 6% não se aplica, 3% desconto de títulos em factorings ou
bancos, 3% conta garantida, 3% cheque especial ou cartão de crédito de sócios (PF). Sobre o
prazo médio de pagamento deste tipo de financiamento: 29% são entre 2 e 6 meses, 25%
menos de 30 dias, 18% não se aplica, 11% de entre 7 e 12 meses, 11% não respondeu, 7%
mais de 12 meses. Quanto ao custo médio do financiamento, as empresas afirmaram possuir:
36% até 1% am (até 13% aa), 25% não se aplica, 21% não respondeu, 18% entre 1,01% e 5%
am (entre 13,01 e 80% aa). Quando questionados sobre o motivo pela financiamento de curto
prazo, as empresas alegaram: 32% pela facilidade de obtenção, 32% não se aplica, 14% pelas
taxas e sistema de garantia, 11% pelo prazo, 7% por outros, 4% por ser a única opção
disponível.
Com relação ao financiamento de longo prazo, no que se refere ao tipo utilizado:
46% não se aplica, 36% afirmaram utilizar empréstimo bancário em nome da empresa, 7%
utilizam aporte de capital pelos sócios, outros 7% utilizam empréstimo de familiares aos
sócios, e 4% utilizam dos lucros acumulados em períodos anteriores. O prazo médio de
pagamento destes financiamentos, são em: 50% não se aplica, 39% entre 1 e 3 anos, e 11%
entre 4 e 8 anos. Quando questionados quanto ao custo médio do financiamento, afirmaram:
50% não se aplica, 25% entre 1,01 e 3% am (entre 13,01 e 43% aa), 21% até 1% am (até 13%
aa), e 4% entre 3,01 e 5% am (entre 43,01 e 80% aa). Quanto ao motivo que leva a empresa
ao financiamento de longo prazo: 50% não se aplica, 18% devido a facilidade de obtenção,
11% por recomendação do gerente do banco, 7% devido a taxas e sistema de garantias, 7%
não respondeu, 4% pelo prazo, 4% por ser a única opção disponível. Sobre a destinação do
financiamento a longo prazo: 61% não se aplica, 21% para investimento de longo prazo, e
18% para financiamento do giro.
Foram ainda abordados temas quanto a frequência de revisão de decisões de
financiamento: 50% afirmaram nunca fazer, 18% fazem a revisão, mas somente no
vencimento das dívidas antigas, 11% revisam a cada mês, 7% a cada 6 meses, 7% a cada ano,
4% quando a empresa não consegue honrar dívidas, e 4% outro; e em que consistiram os
novos investimentos: 61% não pretende fazer, 21% pretende fazer investimentos a longo
prazo, e 18% pretende investir em estoques.
CONCLUSÕES
Como já foi dito anteriormente, o objetivo do deste artigo é verificar as
características desejadas de financiamento e relação entre atributos da empresa/gestor e
financiamentos de curto e longo prazo atuais e desejados, a partir das análises conjunta e de
correspondência.
Para apresentação da proposta será utilizado um estudo com empresas de pequeno
porte na Região Metropolitana de Florianópolis. Os questionários aplicados/entrevistas
realizadas possibilitaram a maior proximidade da teoria estudada com prática no meio
corporativo.
Pode-se destacar a partir da análise das respostas o pouco conhecimento das
empresas quanto a sua estrutura de capital e como utilizam desta ferramenta de forma pouco
aliada à estratégia da empresa. Vale ressaltar que um maior conhecimento a respeito da
estrutura de capital, como do seu custo, possibilitará a empresa uma aquisição de maneira
cautelosa, proporcionando também uma melhor utilização deste capital.
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FOMENTO
O trabalho teve a concessão de Bolsa pelo Programa Unisul de Iniciação Científica (PUIC),
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