ANÁLISES DE ONDELETAS APLICADAS A VARIAÇÕES DE COTAS DE RIO NO BAIXO SÃO FRANCISCO (AL E SE) D. F. da Silva1; A. B. de Sousa2; M. M. dos Santos2 RESUMO: Eventos de cheias e secas dos rios prejudicam atividades econômicas e realçam os infortúnios sociais decorrentes do episódio. Com a intenção de melhor entender a variabilidade do nível do rio, e suas possíveis causas, será aplicada a Análise de Ondeletas aos dados de cotas do rio em sua sub-bacia Baixo São Francisco. Os dados de cotas de rio, valores diários, foram provenientes da Agência Nacional das Águas para o período de 1938 a 2010 para a estação fluviométrica de Pão de Açúcar, no Baixo São Francisco. Antes de 1970 ocorreram mais máximos valores de cotas de rio no Baixo São Francisco e a escala decadal foi a escala temporal dominante na região. As variações do nível do rio São Francisco, no Baixo São Francisco, são atribuídas às várias escalas temporais que ocorrem em decorrência de fenômenos meteorológicos que consequentemente irão impactar sobre os recursos hídricos locais. PALAVRAS-CHAVE: Rio São Francisco, Efeito José e Noé, Análises de Ondeletas WAVELET ANALYSIS APPLIED TO RIVER LEVELS VARIATIONS IN THE BAIXO SÃO FRANCISCO (AL AND SE) SUMMARY: Events of floods and droughts in rivers affect economic activities and enhance the social woes resulting from the episode. In an attempt to better understand the variability of the river, and its possible causes, will be applied to Wavelet Analysis of the data quota’s river in sub-basin Baixo São Francisco. The data dimensions of river (daily values) were from the National Water Agency for the period 1938 to 2010 for the season fluviometric Pão de Açúcar in the Baixo São Francisco. Before 1970 there were more maximum values of the quota1s river in the Baixo São Francisco and the scale decadal time scale was dominant in the region. Changes in the level of the São Francisco River (in the Baixo São Francisco) are assigned to the various time scales that occur due to climate phenomenon which in turn will impact on local water resources. KEYWORDS: São Francisco River, José and Noé Effec, Wavelet Analysis 1 Profª. Drª do Curso de Agronomia, Universidade Federal do Ceará (UFC), Campus Cariri, Ceará (BR), e-mail: [email protected] 2 Aluna do Curso de Agronomia, Universidade Federal do Ceará (UFC), Campus Cariri, Ceará (BR), bolsista PIBIC D. F. da Silva et al. INTRODUÇÃO Eventos de cheias e secas dos rios prejudicam atividades econômicas e realçam os infortúnios sociais decorrentes do episódio. Os períodos de inundação alternam-se com períodos de baixa precipitação, os quais, ambos, variam em intensidade e duração do evento. Tucci (1993) defende que a variação de cotas ou de vazões de rios depende de características climatológicas e físicas da bacia hidrográfica, sendo as distribuições temporal e espacial da precipitação muito importantes neste contexto. Em Blumenau (Santa Catarina) desde 1852 são observadas as cotas máximas de inundação. Foram registradas todas as cotas acima de 9,0 m (cota do leito maior) desde de 1852. De 1912 a 1982 as cotas ficaram muito abaixo (< 13,0 m) das inundações que ocorreram antes e depois deste período. Este tipo de comportamento tem sido observado pelos hidrólogos ao longo do tempo e chamado de Efeito do José e Noé (Tucci e Braga, 2003). Rios da América do Sul e da África já apresentaram esse comportamento, como citado por Tucci e Clarke (1998) e Collischonn et al. (2001), onde relataram que na América do Sul foi observado aumento de vazão após 1970 enquanto que na África ocorreu o contrário. Com a intenção de melhor entender a variabilidade do nível do rio, e suas possíveis causas, será aplicada a Análise de Ondeletas aos dados de cotas do rio na sub-bacia Baixo São Francisco. Espera-se que com o resultado das análises, encontrem-se ciclos, tendências ou escalas temporais da variabilidade das cotas de rio e assim, trazer informações que subsidiarão grandes e pequenos agricultores, setor de geração de energia hidroelétrica, população, defesa civil e demais setores ligados aos recursos hídricos. MATERIAL E MÉTODOS - Área de estudo A área da bacia hidrográfica do rio São Francisco abrange partes do território dos Estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás, Distrito Federal, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. A mesma está compreendida entre as latitudes de 7º 00´ a 21º 00´S e longitudes de 35º 00´ a 47º 40’ W e, deste modo, está inserida nas Regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste (Figuras 1 e 2) - Dados e Métodos Os dados de cotas de rio, valores diários, foram provenientes da Agência Nacional das Águas (ANA) para o período de 1938 a 2010 para a estação fluviométrica de Pão de Açúcar, situada no município de Pão de Açúcar (Estado de Alagoas), com coordenadas de -9º:45”:5’ de latitude, -37º:26”:47’ de longitude e 8,1 metros de altitude. - Análise de Ondeletas A ondeleta de Morlet usada neste trabalho é uma exponencial complexa modulada por uma Gaussiana, e io 2 2 e , com t s , onde t é o tempo, s é a escala da ondeleta e 0 é uma freqüência não dimensional. O procedimento computacional da AO usada aqui é a descrita por Torrence e Compo (1998). A função de ondeleta de cada escala s é normalizada por s-1/2 para se D. F. da Silva et al. obter energia unitária. A ondeleta de Morlet possui características semelhantes às de sinais meteorológicos com variação temporal suave. O índice de anomalia das cotas foi calculado para todo o período de 1938 a 2010: AVari,j = (Vari,j (eq.1) Em que: AVari,j é a anomalia normalizada das cotas no ano j = 1, 2, 3, ..., N e mês i = 1, 2, 3, ..., 12; Vari,j é a cota no ano j = 1, 2, 3, ..., N e mês i = 1, 2, 3, ..., 12 ; e são a média climatológica e o desvio padrão do mês i. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os máximos de cotas do rio São Francisco, no Baixo São Francisco, apresentou máximos nos anos de 1947, 1950, 1958, 1980, 1992 e 2007. Os intervalos de tempo entre esses picos de máximos valores variaram de 3, 8, 22, 12 e 15 anos, respectivamente. Já os mínimos valores de cotas de rio apresentaram-se em 1940, 1955, 1972, 2003, 2004 e 2007 (Figura 3a). No Espectro de Potência de Ondeleta (Figura 3b) detectam-se as escalas temporais que ocorreram ao longo da série. A escala interanual ocorreu ao longo da série, de 1938-1948, 19531965, 1989-1990, 1991-2000, 2003-2010. A escala de 5-7 anos, ligada ao ENOS, foi detectada de 1945-1965 e de 1970 a 1985, com máximo em 1970 a 2000. A escala temporal de 11 anos, a qual a literatura associa ao ciclo de manchas solares, aparece ao longo de toda série e tida como escala secundária de acordo com Espectro de Potência Global (Figura 3c). Por fim, a escala temporal dominante (Figura 3c) de 22 anos também foi verificada em toda a série. A mesma é citada pela literatura em associação à Oscilação Decadal do Pacífico. Assim, pode-se atribuir as variações do nível do rio São Francisco, no Baixo São Francisco, às várias escalas temporais de vários fenômenos meteorológicos que consequentemente irão impactar sobre os recursos hídricos locais. Por exemplo, os máximos ocorridos em 1946, 1958 e em 1980 são respostas da associação desses fenômenos de escalas temporais distintas, conforme Tabela 1. Já sobre o efeito José e Noé, antes de 1970, ocorreram mais máximos valores de cotas de rio neste posto estudado, corroborando com os resultados já encontrados por outros autores. CONCLUSÕES Pode-se atribuir as variações do nível do rio São Francisco, no Baixo São Francisco, às várias escalas temporais que ocorrem em decorrência de fenômenos meteorológicos que consequentemente irão impactar sobre os recursos hídricos locais. Esses fenômenos devem ser monitorados e melhor estudados seus impactos sobre a região para que essas informações sejam ferramentas para os setores ligados aos recursos hídricos e para evitar desastres que envolvam vidas humanas e atividades econômicas, por exemplo, a agricultura. Deve-se lembrar que a escala decadal foi a escala temporal dominante na região. Já sobre o efeito José e Noé, antes de 1970, ocorreram mais máximos valores de cotas de rio neste posto estudado, corroborando com os resultados já encontrados por outros autores. D. F. da Silva et al. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COLLISCHONN, W.; TUCCI, C. E. M.; CLARKE, R. T. Further evidence of changes in the hydrological regime of the River Paraguay: part of a wider phenomennon of Climate Change? Journal of Hidrology, 245 (2001), 218-238, 2001. TORRENCE, C.; COMPO, G.P.: A practical guide to wavelet analysis. Bulletin of the American Meteorological Society, v.79, p.61-78, 1998. Tucci, C. E. M. Hidrologia: Ciência e Aplicação. Editora UFRGS. EDUSP, ABRH, 952 p., 1993. TUCCI, C.E.M; BRAGA, B. Clima e Recursos Hídricos no Brasil, Coleção ABRH, p. 348, 2003. TUCCI, C.E.M.; CLARKE, R.T. Environmental Issues in the La Plata Basin. Water Resources Development. V. 14 N.2 p 157-173, 1998. Tabela 1: Principais máximos na série de cotas do rio São Francisco no BSF. Evento/ano 1946 1958 1980 Escalas temporais dos fenômenos atuantes 0,25 anos; 0,5 anos (escalas sazonais); 1-2 anos (escala interanual); 5 anos (escala ligada ao ENOS); 11 anos; 22 anos (escalas decadais) 0,25 anos (escalas sazonais); 1-2 anos (escala interanual); 5-7 anos (escala ligada ao ENOS); 11 anos; 22 anos (escalas decadais) 0,5 anos (escalas sazonais); 1-2 anos (escala interanual); 5-7 anos (escala ligada ao ENOS); 11 anos; 22 anos (escalas decadais) Figura 1: Distribuição do Vale do São Francisco em relação ao Território Nacional (A) e em relação à Região Nordeste e ao Polígono das Secas (B). Fonte CODEVASF (2001). Figura 2: Divisão da bacia hidrográfica do rio São Francisco em quatro regiões fisiográficas, sub-bacias e micro-bacias da bacia hidrográfica do rio São Francisco. (Fonte: ANA, 2004). D. F. da Silva et al. índice de cotas de rio para BSF a) 5 4 3 2 1 0 -1 -2 -3 2010 2007 2004 2001 1998 1995 1992 1989 1986 1983 1980 1977 1974 1971 1968 1965 1962 1959 1956 1953 1950 1947 1944 1941 1938 -4 anos b) c) Figura 3: a) Índice de cotas de rio para BSF normalizado pelo desvio padrão para o período de 19382010; b) Espectro de potência de ondaleta (EPO) para Índice de cotas de rio. Contornos sombreados correspondem a variâncias normalizadas significativas ao nível de 5%. A curva em forma de U representa o cone de influência, sob a qual o efeito de borda é importante; c) Espectro de potência global (EPG), com o contorno tracejado indicando que o EPG é significativo ao nível de confiança de 95%.