UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS
UNIDADE ACADÊMICA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
NÍVEL MESTRADO
PAULA MAINES DA SILVA
A ROTA ROMÂNTICA:
UMA ANÁLISE DAS INOVAÇÕES SOCIAIS DECORRENTES DE UM
EMPREENDIMENTO TURÍSTICO
São Leopoldo
2011
PAULA MAINES DA SILVA
A ROTA ROMÂNTICA:
UMA ANÁLISE DAS INOVAÇÕES SOCIAIS DECORRENTES DE UM
EMPREENDIMENTO TURÍSTICO
Dissertação apresentada como requisito parcial
para a obtenção do título de Mestre em
Administração, pelo Programa de PósGraduação em Administração da Universidade
do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS.
Orientador: Prof. Dr. Luiz Paulo Bignetti
São Leopoldo
2011
S586r
Silva, Paula Maines da
A rota romântica: uma análise das inovações sociais decorrentes de um
empreendimento turístico / por Paula Maines da Silva. -- São Leopoldo, 2011.
82 f. : il. ; 30 cm.
Dissertação (mestrado) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Programa
de Pós-Graduação em Administração, São Leopoldo, RS, 2011.
“Orientação: Prof. Dr. Luiz Paulo Bignetti, Ciências Econômicas”.
1.Inovação. 2.Inovação social. 3.Inovação social territorial – Rota romântica –
Rio Grande do Sul. 4.Desenvolvimento social – Rota romântica – Rio Grande do
Sul. 5.Rota romântica – Rio Grande do Sul. 6.Teoria-ator-rede. I.Título.
II.Bignetti, Luiz Paulo.
CDU 658.016.7
658.016.7: 379.851
316.42: 379.851(816.5)
379.851(816.5)
Catalogação na publicação:
Bibliotecária Carla Maria Goulart de Moraes – CRB 10/1252
Paula Maines da Silva
A ROTA ROMÂNTICA: UMA ANÁLISE DAS INOVAÇÕES SOCIAIS
DECORRENTES DE UM EMPREENDIMENTO TURÍSTICO
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Administração da Universidade
do Vale do Rio dos Sinos, como requisito
parcial para a obtenção do título de Mestre em
Administração.
Aprovado em 24 de Agosto de 2011.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________________
Dr. Luis Felipe Machado do Nascimento - UFRGS
_______________________________________________________________
Dra. Cláudia Cristina Bitencourt - Unisinos
_______________________________________________________________
Dra. Amarolinda Lara da Costa Zanela Saccol - Unisinos
Prof. Dr. Luiz Paulo Bignetti - ORIENTADOR
São Leopoldo, _____/______/_____
Profa. Dra. Yeda Swirski de Souza
Coordenadora Executiva PPG em Administração
Dedico este trabalho à todos aqueles
que acreditam que a inovação e o
turismo
são
caminhos
para
transformar a sociedade.
AGRADECIMENTOS
O desenvolvimento desta dissertação só foi possível com o apoio de muitos
atores, os quais sou imensamente grata.
Em primeiro lugar aos meus pais, Clodovedo e Maria Helena, que sempre
fizeram com que as filhas valorizassem os estudos e sempre se dedicaram para que
nossos sonhos se tornassem realidade.
A minha irmã Luciana, que sempre foi uma das grandes incentivadoras para
que eu fizesse o mestrado e que muito me auxiliou em outras atividades durante
este período de dedicação e pelos “puxões de orelha” para que eu ficasse em casa
me dedicando à escrita deste trabalho.
Ao meu orientador prof. Dr. Luiz Paulo Bignetti, que acreditou na minha
capacidade de desenvolver este tema, no apoio dado nos momentos em que eu
acreditava que o meu trabalho não tomaria forma e por todo o conhecimento
transmitido.
As minhas tias Sônia e Rossana, pelo auxilio técnico, da primeira em revisar
gramaticalmente todo o trabalho e a segunda pelo tempo doado a transcrever
minhas entrevistas.
A Rota Romântica, no papel do presidente Sr. Cláudio José Weber, por
permitir que eu desenvolvesse o estudo de caso na rota, bem como todos os
secretários de turismo dos municípios pela receptividade e disponibilidade para as
entrevistas.
Ao Rodrigo Tomasi, meu amigo, braço esquerdo e direito nas atividades
profissionais. Por ter me apoiado e auxiliado nos aspectos finais do trabalho.
Aos meus colegas de mestrado, em especial a Andréa Abs, Cláudia Marques,
Rejane Costa, Sérgio Flor e a Viviane Low. As gurias por terem se tornado minhas
grandes amigas e compartilhado muitos risos e desesperos nesta etapa. Um
especial obrigado a Cláudia pela tradução do Abstract deste trabalho. E ao Sérgio,
que muito me fez crescer com as nossas discussões acadêmicas e sobre a vida, e
por ter se tornado meu melhor amigo e sócio em alguns trabalhos externos.
Enfim, agradeço a todos estes que proporcionaram o sonho de me tornar
mestre se concretizar!
RESUMO
Esta pesquisa teve como objetivo analisar de que forma os diferentes atores
integrantes de uma rota turística estabeleceram suas estratégias, desenvolveram
suas ações e interagem para gerar inovações sociais. Como estratégia de pesquisa
utilizou-se o estudo de caso único na Rota Romântica, no Rio Grande do Sul, uma
região que abrange 13 municípios do estado e cujas ações conjuntas visam a
trabalhar o turismo coletivo destas localidades. Teorias sobre inovação territorial,
construção social e ator-rede permitiram realizar uma análise detalhada do caso. O
resultado da pesquisa foi que a Rota Romântica cujo objetivo primordial e inicial não
era social, desenvolveu, ao longo da sua história, iniciativas e inovações sociais.
Embora a literatura pressuponha que somente se considera inovação social o
empreendimento cujo objetivo é fundamentalmente social, percebe-se, através deste
estudo, que pode haver inovações sociais até mesmo quando o objetivo principal
não é esse. A Rota Romântica representa uma inovação social por proporcionar
melhor qualidade de vida para a população, através do desenvolvimento econômico
e social dos municípios.
Palavras- Chave: inovação social. teoria-ator-rede. rota romântica.
ABSTRACT
This study aimed to examine how different actors, which are members of a
tourist route, established their strategies, develop their actions and interact to
generate social innovation. As research strategy it was used the single case study of
the Romantic Road, in the state of Rio Grande do Sul, a region covering 13 counties
of the state and whose joint actions aim at working the collective tourism of these
places. Theories of territorial innovation, social construction and actor-network
allowed a detailed analysis of the case. The result showed that the Romantic Road,
which primary objective was not social, developed, throughout its history, initiatives
and social innovation. Although literature only assumes that social innovation is
considered the social enterprise whose aim is fundamentally social, it can be seen
through this study that social innovation can exist even when the primary purpose is
not the one mentioned above. The Romantic Road is a social innovation by providing
better quality of life for people through economic and social development of
municipalities.
Key Words: social innovation. actor-network-theory. romantic road.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Desenho da pesquisa...............................................................................42
Figura 2 – Mapa da Rota Romântica.........................................................................49
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Visão dos modelos de inovação social territorial....................................23
Quadro 2 – Conceito de inovação social territorial ....................................................25
Quadro 3 – Síntese dos elementos a serem pesquisados ........................................31
Quadro 4 – Características dos Municípios da Rota Romântica ...............................35
Quadro 5 – Detalhamento das entrevistas ................................................................37
Quadro 6 – Elementos do roteiro das entrevistas .....................................................39
Quadro 7 – Atores e suas funções na Rota Romântica ............................................65
LISTA DE SIGLAS
AMRR – Associação dos Municípios da Rota Romântica
EMBRATUR – Empresa Brasileira de Turismo
RR – Rota Romântica
SCOT – Construção Social da Tecnologia
TAR – Teoria Ator-Rede
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................11
1.1 OBJETIVOS ........................................................................................................13
1.1.1 Objetivo Geral.................................................................................................13
1.1.2 Objetivos Específicos ....................................................................................13
1.2 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................13
2 REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................15
2.1 INOVAÇÃO SOCIAL ...........................................................................................15
2.2 LÓCUS DA INOVAÇÃO SOCIAL ........................................................................17
2.3 INOVAÇÃO SOCIAL TERRITORIAL...................................................................19
2.3.1 Modelos de Inovação Territorial ...................................................................20
2.4 INOVAÇÃO COMO UM PROCESSO DE CONSTRUÇÃO SOCIAL ...................25
2.5 TEORIA ATOR-REDE .........................................................................................27
3 METODOLOGIA DE PESQUISA...........................................................................33
3.1 O OBJETO DA PESQUISA .................................................................................34
3.2 A COLETA DE DADOS .......................................................................................36
3.3 O PROTOCOLO DAS ENTREVISTAS................................................................38
3.4 ANÁLISE .............................................................................................................40
4 APRESENTAÇÃO DO CASO................................................................................43
4.1 ANTECEDENTES: A ROTA ROMÂNTICA ALEMÃ - ROMANTISCHE STRAßE 43
4.2 SURGIMENTO ROTA ROMÂNTICA BRASILEIRA.............................................47
4.3 A ROTA ROMÂNTICA E A INOVAÇÃO SOCIAL................................................50
4.4 A ROTA ROMÂNTICA E A INOVAÇÃO SOCIAL TERRITORIAL .......................57
4.5 A ROTA ROMÂNTICA COMO CONSTRUÇÃO SOCIAL ....................................63
4.6 A ROTA ROMÂNTICA VISTA SEGUNDO A TEORIA ATOR-REDE ..................65
4.7 UMA ANÁLISE FINAL SOBRE A ROTA ROMÂNTICA .......................................67
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................71
REFERÊNCIAS.........................................................................................................74
APÊNDICE A – Roteiro de entrevista com a Associação Rota Romântica ...............78
APÊNDICE B – Roteiro de entrevista com os municípios .........................................81
11
1 INTRODUÇÃO
Nunca se debateu tanto sobre inovação como nos tempos atuais,
principalmente pelo uso indiscriminado do conceito, muitas vezes interpretado de
forma simplista e incorreta, como fazendo referência a absolutamente tudo que é
novo. Afirma-se que as empresas devem inovar para se diferenciarem no mercado,
o governo deve inovar nos serviços prestados à população e as pessoas devem
inovar para se destacarem como profissionais, porém deve-se atentar para a
correção do uso do termo em seu devido contexto. É indiscutível o papel da
inovação, em todos os setores e tipos de organizações, entretanto, um tema que
tem merecido atenção especial é a inovação social, que visa especificamente à
melhoria da qualidade de vida das pessoas através de novos serviços ou processos
tanto públicos como privados.
Uma das formas através da qual a Inovação social pode ser desenvolvida é a
partir do turismo e de sua cadeia produtiva, ou seja, com o fomento desta atividade
nos municípios possibilita-se a geração de renda, empregos e melhoria da qualidade
de vida entre outros fatores de relevância no âmbito social. O desenvolvimento da
atividade turística deve pressupor o aproveitamento das estruturas que possibilitem
seu uso comum, tanto pelos visitantes quanto pela população residente no local, ou
seja os benefícios das propostas executadas serão percebidos não somente pelos
turistas mas também pela comunidade , que indiretamente será beneficiada.
Para análise neste trabalho, identificou-se como objeto para o estudo de caso
a Rota Romântica existente no estado do Rio Grande do Sul, compreendendo-a
como exemplo da atividade turística possivelmente geradora de benefícios sociais. A
Rota Romântica é uma rota inspirada no roteiro homônimo da Alemanha e está
localizada na região que se compõe desde a planície do Vale dos Sinos até o
Planalto da Serra Gaúcha, percorrendo 184 quilômetros e sendo formada por 13
municípios.
Por possuir características que possibilitam identificar fatores que acarretam,
na sua execução e operação, inovações sociais que beneficiaram e podem vir a
beneficiar as comunidades dela integrantes busca-se, portanto, através desse
estudo identificar como se processa a inovação social e de que forma pode-se
perceber os benefícios por ela previstos a partir da atividade turística, neste especial
na concepção da Rota Romântica. Outro ponto almejado é identificar as diversas
12
formas de interação entre os municípios participantes e as percepções de melhoria
da qualidade de vida das pessoas através dos novos serviços ou processos públicos
derivados do turismo.
Considerando-se nesta perspectiva o desafio presente das instituições
municipais, regionais e nacionais em proporcionar formas de desenvolvimento
integrado e sustentável visando condições melhores para os cidadãos, o presente
estudo busca também analisar as estratégias de cada município, considerando estes
como atores na integração do projeto da Rota Romântica. Avaliar as ações
desenvolvidas por estes atores, especificamente relacionadas no âmbito local e da
rota que geraram resultados relacionados a inovações sociais; as interações
ocorridas entre eles no processo da concepção da Rota Romântica, visando
identificar a forma de participação de cada um no todo analisado.
Assim, entender a forma como se processou a gestão da inovação social por
parte destes municípios merece destaque neste momento porque somente
compreendendo este processo pode-se perceber se a Rota Romântica realmente
gerou possibilidades de inovação social.
Desta forma, a questão norteadora da pesquisa é a seguinte:
Como se processa a inovação social na concepção de uma rota turística através da
interação entre os municípios participantes?
Neste contexto, no presente capítulo serão apresentados os objetivos geral e
específicos e a justificativa da escolha do tema e sua relevância no contexto
acadêmico. O capítulo 2 tratará do Referencial Teórico que serviu como base para
possibilitar as interpretações realizadas, discorrendo desde teorias fundamentais
sobre inovação social, inovação territorial, construção social da inovação e a teoria
ator-rede. No capítulo 3 é apresentada a Metodologia de Pesquisa, especificamente
no que tange ao porque do estudo de caso e na forma como as técnicas foram
selecionadas para atingir os objetivos propostos. A seguir, no capitulo 4 descreve-se
a área objeto do Estudo de Caso, com suas características principais como
concepção, organização, gestão e funcionamento, resultando no capítulo 5 na
apresentação
das
Conclusões
decorrentes
das
análises
e
interpretações
possibilitadas pela limitação do presente estudo. Ao final são apresentados as
Referências Bibliográficas utilizadas durante todo o processo de desenvolvimento
deste trabalho.
13
1.1 OBJETIVOS
1.1.1 Objetivo Geral
Analisar de que forma os diferentes atores integrantes de uma rota turística
estabeleceram suas estratégias, desenvolveram suas ações e interagiram para
gerar a inovação social.
1.1.2 Objetivos Específicos
a) Identificar similaridades entre as propostas de Rota Romântica na
Alemanha e no Brasil;
b) Analisar os benefícios resultantes da inovação social para os municípios
integrantes da Rota Romântica
c) Analisar as estratégias de cada ator (município) na integração ao projeto
da Rota Romântica;
d) Avaliar as ações realizadas por cada ator no âmbito do município e no
âmbito da Rota Romântica;
1.2 JUSTIFICATIVA
O turismo está presente na história da humanidade desde os primórdios de
seus registros, iniciando na Grécia, no século VIII a.C, onde as pessoas se
deslocavam para ver os jogos olímpicos (MOTA, 2001). Este fenômeno vem
crescendo nas últimas décadas e recebendo atenção especial de países, regiões e
municípios, uma vez que o turismo pode proporcionar desenvolvimento dos povos
em todos os seus setores e tornando-se imprescindível para as atividades
econômicas (LAGE; MILONE, 2004).
As administrações públicas possuem como um dos grandes desafios das
gestões modernas proporcionar qualidade de vida aos cidadãos, e optar pelo
turismo em um país como o Brasil, onde há carência em todos os setores é uma
decisão difícil para as autoridades. É necessário que as necessidade básicas
sejam supridas e a infra-estrutura seja proporcionada aos cidadãos, e através
14
do turismo, de forma indireta, estas questões podem ser sanadas, “pois o
turismo
pode
ajudar
como
instrumento,
possibilitando
que
social
e
economicamente sejam criadas circunstâncias para que o ser humano com
emprego, renda e qualidade de vida venha a fazer viagens e turismo também”
(LAGE; MILONE, 2004, p. 87).
Os governos são os principais agentes fomentadores das localidades,
fazendo com que estas se desenvolvam turisticamente proporcionando a criação de
empregos, a diminuição de desigualdades e a geração de divisas.
Com base neste contexto é que o trabalho será desenvolvido, buscando
investigar como os atores integrantes da Rota Romântica estão inovando
socialmente, ou seja, proporcionando qualidade de vida para a população através do
turismo. Além de contribuir para os estudos sobre inovação social no Brasil, uma vez
que há pouca produção cientifica nacional nesta área.
A escolha do segmento para a consecução da pesquisa deve-se ao fato de
poder gerar informações que contribuam para a gestão e crescimento da associação
da Rota Romântica bem como para cada município integrante do roteiro.
15
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O referencial teórico tem como objetivo fornecer o embasamento necessário à
identificação, análise e verificação dos fatores foco do estudo. Assim, serão
abordados conceitos de Inovação, Inovação Social, Inovação Social Territorial,
Inovação como Processo de Construção Social e Teoria-Ator-Rede.
2.1 INOVAÇÃO SOCIAL
Dentre os diversos temas relacionados à inovação ainda o foco de estudo se
concentra muito em inovação de produto e de serviços, deixando uma lacuna de
estudo para a inovação social que se refere às novas idéias, instituições ou formas
de trabalho que visam a satisfazer necessidades sociais não atendidas. Apesar de
ser um objeto recente de estudo, pesquisadores do mundo inteiro começam a
estudar esta nova forma de inovação (CLOUTIER, 2003; MOULAERT et al., 2007;
MULGAN et al., 2007), com incentivo de universidades como Stanford (EUA),
INSEAD (França), Cambridge (Inglaterra), entre outras.
A inovação tecnológica pode ser compreendida como a forma de tradução de
idéias em produtos, processos ou serviços úteis – e utilizáveis. É pensar em fazer
algo novo ou alterar algo existente e colocá-lo no mercado (BESSANT; TIDD, 2009).
A inovação, definida no seu espectro mais amplo, pode assumir as dimensões
de inovação de produto, processo, posição e paradigma. A inovação de produto
engloba as mudanças nas “coisas” (produtos e serviços) que uma empresa oferece;
a de processo se refere a mudanças nas formas em que as coisas
(produtos/serviços) são criadas e ofertadas ou apresentadas ao consumidor; a de
posição são mudanças no contexto em que produtos/serviços são introduzidos e a
de paradigma menciona as mudanças nos modelos mentais básicos que norteiam o
que a empresa faz (BESSANT; TIDD, 2009).
Embora a inovação tecnológica e a inovação social estejam vinculadas à
criação de algo novo, existem algumas diferenças relevantes nos aspectos de
mercado versus sociedade, resultado econômico versus valor e competição versus
cooperação, que as diferenciam.
O primeiro aspecto se refere para quem o resultado da inovação trará ganhos.
No caso da tecnológica, fundamentalmente o ganho se inclina para as organizações.
16
De acordo com uma pesquisa realizada pela Strategos (2009), a crescente
relevância do papel da inovação nas organizações está relacionada com a forte
associação dessa disciplina da gestão a instrumentos de diferenciação e
crescimento – criação de novos produtos/serviços e desenvolvimento de novos
modelos de negócios.
Este panorama é reflexo dos tempos turbulentos do mercado corporativo, que
exige dos executivos ações inovadoras constantes para se manterem competitivos
no contexto econômico atual.
Por estar relacionada às organizações privadas, principalmente, a inovação
sempre esteve atrelada aos ganhos econômicos. No campo da inovação
tecnológica, pode admitir-se que o mercado, ou, mais especificamente, o lucro,
conduzem à inovação. Ou seja, as empresas inovam para evitar ameaças e riscos
ligados à concorrência, ou para aproveitar oportunidades, posicionando-se mais
favoravelmente aos concorrentes (ANDRÉ; ABREU, 2006).
O terceiro aspecto se refere às formas como a inovação se processa. No caso
da inovação tecnológica, ela pode ocorrer de uma forma individual, na busca de ter a
vantagem de ser o primeiro, ou seja, pode valer significativa parcela de mercado na
área de novos produtos para as organizações (BESSANT; TIDD, 2009).
Já o objetivo da inovação social é desenvolver uma nova maneira de fazer as
coisas, julgando ser uma forma de responder às necessidades sociais, como a
pobreza e a criminalidade, ou seja, ações voltadas para trazer melhorias à
sociedade.
Diversos autores e instituições se dedicaram ao estudo da inovação social.
Uma análise sobre a literatura mostra que o entendimento sobre inovação social não
representa uma unanimidade entre aqueles que se dedicam a estudá-la, porém é
destaque entre os estudiosos o fato de que ela visa atender alguma necessidade
insatisfatória do individuo e/ou comunidades através de ações, atividades e serviços
inovadores (CLOUTIER, 2003; MULGAN et al., 2007; STANFORD SOCIAL
INNOVATION REVIEW, 2011; TAYLOR, 1970).
Com o tempo, o entendimento da inovação social foi absorvendo as
interações entres os agentes, como explica a definição de Moulaert et al. (2007), que
representa um dispositivo para fixação de uma visão alternativa do desenvolvimento
urbano, com foco na satisfação das necessidade humanas, através da inovação nas
relações estabelecidas pela vizinhança e da governança comunitária.
17
Os conceitos mais recentes não apresentam nenhuma alteração na
compreensão sobre a inovação social. Pol e Ville (2009) se referem a uma nova
idéia que melhora a qualidade ou a quantidade de vida. E para Le Ber e Branzei
(2010), é uma solução nova sendo mais eficaz, eficiente e sustentável para um
problema social. E que o valor criado seja principalmente revertido para a sociedade
como um todo.
A inovação social tende a criar valor para a sociedade, uma vez que é
caracterizada como sendo uma solução nova para um problema social, que é mais
efetiva, eficiente e sustentável que as soluções existentes, e pela qual o valor criado
é revertido para a sociedade como um todo, em vez de interesses próprios
(CENTER FOR SOCIAL INNOVATION, 2010).
A inovação social é resultante da cooperação entre uma variedade de atores,
podendo ser vista como um processo coletivo de aprendizagem e de criação de
conhecimento. Como se verá a seguir, é possível estabelecerem-se dimensões de
análise da inovação social que levam em consideração suas características próprias
e onde ela se processa, analisando-a sob a ótica do individuo, da comunidade e da
empresa (CLOUTIER, 2003).
2.2 LÓCUS DA INOVAÇÃO SOCIAL
A inovação social pode ser analisada a partir do foco do individuo, do meio
(território) e das empresas (CLOUTIER, 2003).
A inovação social do indivíduo busca provocar mudanças nos indivíduos,
para desenvolvê-lo, afim de que ele recupere o poder sobre a condução da própria
vida. Por definição, inovação social atende as necessidades dos indivíduos, isto é,
produz melhores resultados que as práticas existentes, porque é uma solução para
um problema pontual em que não há alternativas eficazes.
O processo da inovação social no nível do indivíduo se dá pela participação
dos usuários desde a tomada da consciência da necessidade, passando pela
concepção e execução do projeto de melhoria, tendo como participantes atores
que não são os usuários do resultado (CHAMBON; DAVID; DEVEVEY, 1982).
A inovação social focada na empresa inclui o desenvolvimento de estruturas
de produção, especialmente as novas formas de organização do trabalho. Cloutier
(2003) apresenta duas perspectivas sobre o assunto, onde a primeira, denominada
18
instrumental, busca um novo arranjo estrutural que favoreça a criação do
conhecimento e a inovação tecnológica. A segunda, não-instrumental, considera as
novas formas de organização do trabalho como uma inovação social, pois eles
podem melhorar a qualidade de vida nesse âmbito.
Já a inovação do território visa a melhorar a qualidade de vida da população,
através do desenvolvimento da cidade ou da região em que os indivíduos estão
inseridos. O estudo do território pode ter uma abordagem a partir do consumo ou
do desenvolvimento (CLOUTIER, 2003).
A abordagem do consumo significa uma mudança nos hábitos de consumo.
É uma nova maneira para as pessoas atenderem uma categoria de necessidades
(alimentação, transporte, saúde, entretenimento, etc.), por exemplo, comprar uma
televisão como forma de entretenimento invés de ir ao cinema (CLOUTIER, 2003).
A
abordagem
de
desenvolvimento
significa
melhorar
os
aspectos
econômicos e sociais que envolvem a vida dos cidadãos, como por exemplo, a
melhoria do sistema de ensino, assegurar a sustentabilidade dos recursos naturais,
reflorestamento, desenvolvimento sustentável, produção econômica de energia,
gestão da água, reciclagem de materiais entre outros (KING, 1984).
Também
outros
pesquisadores
adotaram
uma
abordagem
de
desenvolvimento, como Gabor (1970), que considera a inovação social como um
instrumento de luta contra a urbanização, a poluição, a criminalidade e a
corrupção, a desigualdade econômica e à violência. A inovação social transcende
os objetivos econômicos e adere novos valores sociais, pois não devem apenas
ajudar a resolver problemas sociais existentes, mas agir de uma forma preventiva,
como a implantação de políticas que impedem a criação e o aumento das
desigualdades entre os sexos (HANDERSON, 1993).
Em resumo, analisando as dimensões da inovação social, ou seja, o objeto
(o quê?), o campo (onde?), o alvo da mudança (quem?), o objetivo (por quê?) e o
processo (como?) obtem-se resultados que servem de base para a compreensão
do conceito. A inovação social responde a este título principalmente por causa da
sua novidade. Esta é uma "solução nova" ou uma "resposta nova" a uma situação
social considerada insatisfatória, uma situação que possa ocorrer em todos os
setores da sociedade.
A inovação social pode ser relacionada a práticas, processos e serviços.
Pode ser organizacional quando se trata de empresas, pois atuará na
19
reorganização do trabalho, criará novos papéis e mudará as atividades
desenvolvidas pelas organizações e instituições. Quando abordada a inovação do
meio ela poderá ser uma inovação institucional, social, principalmente se referindo
a leis, políticas, normas e regras. E por último, a inovação social pode ser tangível
quando resultado de um produto ou de uma tecnologia.
A inovação social é reconhecida por visar ao bem-estar dos indivíduos e/ ou
comunidades, ou por resolver e prevenir problemas sociais, que respondem a uma
aspiração de ordem social. Ela pode ser considerada como um processo coletivo
de aprendizado e criação do conhecimento, pois requer a participação dos
usuários e em diferentes graus durante o processo de desdobramento da criação e
implementação da mesma.
De todos os aspectos abordados, um tema de pesquisa é aqui selecionado:
a inovação social territorial, uma vez que esta busca atender às necessidades da
comunidade e proporcionar melhorar qualidade de vida, o que vem ao encontro do
objeto de estudo desta pesquisa.
2.3 INOVAÇÃO SOCIAL TERRITORIAL
A inovação social territorial tem como objetivo a satisfação das necessidades
humanas em nivel regional, local ou de um bairro (MOULAERT et al., 2005). O maior
foco é no papel da comunidade e dos seus agentes sociais, como líderes e
indivíduos criativos, capazes de propor a mudança necessária. As dificuldades
encontradas ao longo deste processo são provenientes de vários níveis de
governança e da criação de redes de cooperação entre agentes comunitários.
Um fator relevante para o desenvolvimento da inovação social territorial é o
papel da comunidade e o trabalho cooperativado com outras instituições, como
entidades públicas, privadas e organizações não governamentais.
A
maioria dos modelos de inovação social territorial utiliza o conceito de rede
como um elemento-chave. A inovação social reforça a eficácia das redes e
movimentos sociais, através de estratégias socialmente criativas, que surgiram em
respostas às mudanças globais (KIMBERLEE et al., 2009).
Um exemplo de movimentos sociais são os grupos ambientalistas,
considerados um trabalho cívico em redes inter-organizacionais, que podem assumir
a forma de um movimento social, coligações ou organizações independentes
20
(KIMBERLEE et al., 2009). Essa perspectiva de rede é um complemento útil à
perspectiva estrutural da economia política e baseia-se na teoria ator-rede. Seguindo
a visão de que as redes podem conter elementos diferentes, é evidente que as
estratégias sociais criativas possam surgir através de redes construídas em torno
das ações de uma gama de pessoas, organizações, instituições e atores nãohumanos (incluindo a natureza), e podem consistir de colaborações entre diferentes
escalas de operação (KIMBERLEE et al., 2009).
O trabalho cooperado entre os diversos atores podem configurar algum tipo
de modelo de inovação territorial, os quais são compreendidos como espaços,
aglomerados ou blocos que permitem o desenvolvimento de inovação, aprendizado
e formação de redes.
2.3.1 Modelos de Inovação Territorial
Os principais modelos de inovação territorial compreendem os ambientes
inovadores, os distritos industriais, os sistemas de produção local, novos espaços
industriais, os clusters de inovação, os sistemas de inovação regional e as regiões
de aprendizagem (MOULAERT; SEKIA, 2003).
Os ambientes inovadores ou milieu innovateur é um tipo de modelo regional
de inovação desenvolvida por um grupo europeu de pesquisadores chamado
GREMI (Groupe de Recherche Européen sur les Milieux Innovateur). Os
pesquisadores acreditam que a empresa não é um agente inovador isolado, mas
parte de um meio com capacidade inovadora. O foco de análise é entender a
inovação tecnológica a partir da cooperação e interdependência existentes entre os
atores de uma rede e presentes, em um determinado ambiente.
Os ambientes são considerados “berçários" de inovações e de empresas
inovadoras. A escolha deste espaço implicará nos resultados esperados, pois
estarão sujeitos a variáveis definidas localmente ou regionalmente, como o acesso
ao conhecimento da tecnologia, a proximidade com o mercado e a existência de
mão de obra qualificada (AYDALOT, 1986).
Outro aspecto que se refere ao ambiente são os tipos de relações que a
empresa mantém com os fatores de produção, se estes são qualificados ou não;
entre a empresa com seus parceiros, fornecedores e clientes; e as relações
21
estratégicas com os agentes pertencentes ao ambiente territorial (MOULAERT;
SEKIA, 2003).
Os distritos industriais são sistemas produtivos localizados próximos
geograficamente e baseados na divisão do trabalho entre pequenas empresas
especializadas em diferentes partes do ciclo de produção e distribuição de um
setor industrial. Um distrito industrial pode ser definido ainda como um ambiente
onde estão localizados uma comunidade de pessoas e um grupo de empresas de
pequeno porte interagindo em um determinado contexto territorial e histórico. Isso
marca as áreas de intercâmbio (setores, mercado) no qual a competição ocorre
somente no preço (BECATTINI, 2002).
Para Brusco (1990) um distrito industrial é um território no qual opera, num
mesmo tempo, um grande número de pequenas empresas que estabelecem uma
estreita relação entre si, seja pelo fato de que muito freqüentemente compram e
vendem mercadorias conjuntamente, seja porque trabalham num mesmo setor, ou,
ainda, pelo fato de comercializarem seus produtos, principalmente as exportações,
para um mercado comum.
Este modelo de coordenação possui, como característica, uma relação
baseada em confiança e reciprocidade. O modo de organização é hibrido,
combinando momentos de cooperação e competição e com relações institucionais
formais e informais (BALESTRIN; VERSCHOORE, 2008). Empresas deste modelo
trabalham juntas, trocam produtos e conhecimentos, integrando as atividades, mas
continuam independentes, sem mudança de proprietade (BRONZINI, 2004).
O sistema produtivo local pode ser considerado uma generalização dos
distritos industriais do ponto de vista do desenvolvimento econômico local, pois em
áreas urbanas e rurais, onde há uma tradição predominantemente artesã, a
industrialização irá se desenvolver com atividades produtivas complementares
(MOULAERT; SEKIA, 2003).
Uma definição bastante difundida é a que foi adotada pela RedeSist — Rede
de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais - que considera o sistema
produtivo local um conjunto de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados
em um mesmo território, desenvolvendo atividades econômicas correlatas e que
apresentam
vínculos
expressivos
de
produção,
aprendizagem (LASTRES; CASSIOLATO, 2004).
interação,
cooperação
e
22
Os novos espaços industriais são um modelo territorial que possui um
sistema de produção flexível, ou seja, às formas de produção são caracterizadas
pela capacidade bem desenvolvida de mudança do processo e/ou configuração de
um produto para outro; ajuste das quantidades de produção rapidamente (aumento
ou diminuição) e no curto prazo, sem qualquer prejuizo na eficiêcia.
Mais do que um sistema aglomerado de produção, os novos espaços
industriais são considerados sistemas de regulação social que fornecem a
coordenação das transações entre as empresas; a organização do mercado de
trabalho local e as dinâmicas da formação da comunidade e da reprodução social
(MOULAERT; SEKIA, 2003)
Assim como os demais modelos de inovação social territorial, os clusters
possuem, como característica, a proximidade geográfica com outras empresas do
setor. Eles podem ser considerados uma aglomeração territorial de empresas com
características similares (BALESTRIN; VERSCHOORE, 2008).
Os clusters podem ser formados de maneira endógena ou exógena, ou seja,
a primeira surge quando empresas são criadas em determinado local e desta forma
impulsionam a criação de novas empresas localizadas próximas geograficamente
(McCANN; FOLTA, 2008). Já as exógenas sofrem intervenção governamental
visando desenvolver determinados setores em uma região (FELDMAN; FRANCIS;
BERCOVITS, 2005).
Conforme visto nos modelos acima, a base da formação é a proximidade
geográfica e a complementaridade ou características similares das organizações.
Estes aspectos propiciam a formação dos sistemas regionais de inovação, que
preconiza a inovação como sendo um processo criativo, por meio de interação
entre os agentes. A inovação muito mais do que tecnologia é um processo
organizacional (MOULAERT; SEKIA, 2003).
O último modelo são as regiões de aprendizagem. A capacidade inovadora
de uma empresa regional está diretamente relacionada com a capacidade de
aprendizagem da região. Desta forma, estas regiões são ambientes que
proporcionam o fluxo de conhecimento, idéias e aprendizagem.
A capacidade de inovação e a capacidade regional de aprendizagem estão
relacionadas à densidade e a qualidade do ambiente produtivo regional da rede, o
que engloba a cooperação entre empresas e público-privada (LANDABASO;
OUGHTON; MORGAN, 1999). Neste contexto, a inovação é considerada um
23
processo interativo e formado por uma variedade de processos. No primeiro
aspecto haverá o envolvimento entre diversos atores e meios como o processo
entre as empresas e a infra-estrutura básica; entre as diferentes funções dentro da
empresa, entre produtores e consumidores e entre empresas e o ambiente
institucional (MORGAN, 1997).
No segundo aspecto a inovação é formada por uma variedade de processos
institucionais que engloba hábitos, convenções e rotinas. São características da
organização social, tais como normas, confiança, entre outros, que facilitam a
coordenação e a cooperação entre os envolvidos na região (PUTNAM, 1993).
O quadro 1 apresenta um resumo das caracteristicas de cada modelo de
inovação territorial.
Quadro 1 – Visão dos modelos de inovação social territorial
(continua)
24
(conclusão)
Fonte: Moulaert e Sekia (2003) adaptado pela autora
A abordagem apresentada no quadro 1 sobre inovação territorial não abrange
a inovação social, que é o foco de estudo deste trabalho, pois o desenvolvimento
territorial está muito focado na inovação tecnológica e não no resultado social que
estas configurações trarão para a comunidade local. Klein (2009) afirma que da
perspectiva de inovação social as abordagens setoriais não são suficientes, pois
elas devem integrar ações econômicas e sociais, tendo uma governança
encarregada da gestão.
Desta forma propõe-se o acréscimo de mais um conceito de inovação
territorial, tendo como olhar a inovação social. O quadro 2 indica as características
do conceito de inovação social territorial.
25
Quadro 2 – Conceito de inovação social territorial
Recursos de Inovação
Sistema Regional de Inovação Social
Núcleo da dinâmica de inovação
Capacidade das comunidades de inovarem através
de iniciativas próprias.
Papel das instituições
Instituições são agentes que proporcionam melhor
qualidade de vida para a população através da
promoção e do desenvolvimento da inovação.
Desenvolvimento regional
Pela atuação de diferentes atores proporcionará não
apenas o desenvolvimento econômico mas, também
e principalmente, o desenvolvimento social.
Cultura
Cultura de rede e interação econômica e social.
Papel da comunidade em modificar o ambiente.
Tipo de relação entre os agentes
Interação de aprendizado; cooperação, redes de
agentes entre pessoas e comunidades.
Tipo de relação com o ambiente
Capacidade dos agentes em modificar o ambiente
com base em uma situação considerada
insatisfatória.
Fonte: Elaborado pela autora
Examinando o conceito de inovação social no desenvolvimento das comunidades
a partir de diversas perspectivas verifica-se que a contribuição da inovação para o
desenvolvimento social local consiste na mobilização dos cidadãos como foma de
organização para combater a desvitalização e a vulnerabilidade territorial.
Desta forma, o desafio que se coloca é de implementar arranjos sociais que
permitam a reconstrução da coesão em nivel local. Em essência, a tarefa consiste na
construção de sistemas de agentes locais com base em normas que permitam melhorar
as condições e a qualidade de vida dos cidadãos a longo prazo (KLEIN, 2009).
A inovação social territorial está diretamente relacionada a inovação como um
processo de construção social, uma vez que esta dependerá do entendimento e das
interações entre grupos e atores sociais envolvidos na forma de atender
necessidades não supridas pela sociedade.
2.4 INOVAÇÃO COMO UM PROCESSO DE CONSTRUÇÃO SOCIAL
A partir da inovação, pode surgir um processo denominado construção social
da tecnologia ou Social Construction of Technology (SCOT). A SCOT tem como
premissa básica o surgimento da tecnologia a partir das interações entre grupos e
atores sociais (PRELL, 2009). Os elementos deste conceito surgem de estudiosos
oriundos de áreas como Ciência da Filosofia (QUINE, 1969 apud BIGNETTI, 1999),
Ciência da História (HUGHES, 1983 apud BIGNETTI, 1999), da Sociologia do
Conhecimento Científico (BLOOR, 1976; BOURDIEU, 1977; COLLINS, 1981;
26
HAGSTROM, 1965; KNORR-CETINA, 1981 apud BIGNETTI, 1999) e da Sociologia
de Ciências e Técnicas (BIJKER; HUGHES; PINCH, 1997; BIJKER; LAW, 1992;
CALLON, 1989; LATOUR, 1987 apud BIGNETTI, 1999). “O argumento usado pela
maioria destes autores é que a sociedade não apenas sofre as conseqüências das
escolhas tecnológicas que faz, mas participa fortemente na geração desta
tecnologia” (BIGNETTI, 1999, v. 1, p. 52, tradução nossa).1
Nesta abordagem sobre a construção social, alguns componentes interrelacionados propostos por Pinch e Bijker constituem um modelo da SCOT, como
grupos sociais relevantes, flexibilidade interpretativa, fechamento e estabilização
(HUMPHREYS, 2005).
Grupos sociais relevantes são todos os membros de um determinado grupo
que compartilham o mesmo conjunto de significados de um determinado artefato. Os
atores podem ser membros de diferentes grupos sociais relevantes, mas cada grupo
é formado por componentes que possuem uma forma semelhante de perceber ou
interpretar um artefato específico.
Diferentes grupos sociais têm interpretações diferentes de um artefato, e
essas diferentes interpretações indicam flexibilidade interpretativa de um artefato.
Existem, portanto, controvérsias advindas da flexibilidade interpretativa, uma vez
que não existe um único artefato, mas sim, existem muitos artefatos com diferentes
interpretações (PRELL, 2009)
O encerramento das controvérsias e a estabilização de um artefato são
etapas importantes em inovação tecnológica. O encerramento é o momento em que
os grupos sociais relevantes resolvem o seu problema com o artefato, enquanto a
estabilização é o processo pelo qual eles comunicam as definições e especificações
de um artefato semelhante ao longo do tempo. Segundo Bijker (1995), o fechamento
e estabilização são duas faces da mesma moeda. O encerramento incide sobre o
"significado atribuído pelos diferentes grupos sociais relevantes a um artefato"
enquanto a estabilização enfoca o desenvolvimento "do próprio artefato dentro de
um relevante grupo social, em termos de modalidades utilizadas nas suas
descrições" (BIJKER, 1995, p. 48).
1
“The main argument used by th majority of these authors is that society not only suffers the
consequences of the technological choices it makes, but strongly participates in the generation of
technology” (BIGNETTI, 1999, v. 1, p. 52).
27
A estabilização refere-se ao grau em que um artefato é aceito por um grupo
social relevante. Quanto mais homogêneos os significados atribuídos a um
determinado artefato, maior é o grau de estabilização de um artefato dentro desse
grupo social (PRELL, 2009).
Assim como a construção social da tecnologia é resultado da performance de
diferentes atores, a inovação social territorial também é composta por atores e
artefatos. E um dos pontos da pesquisa deste trabalho é analisar como os
componentes da construção social se manifestam no objeto estudado.
2.5 TEORIA ATOR-REDE
O modelo SCOT mostra a forma como os artefatos surgem do entendimento
dos atores. Entretanto, a relação entre os diferentes atores pode ser ressaltada
utilizando-se premissas contidas na teoria ator-rede. Assim, tendo em vista o caráter
relacional da inovação social, é conveniente expor um corpo de argumentos teóricos
que possibilite não apenas o aprofundamento dos conceitos e das questões
concernentes, como também propicie a busca de ferramentas metodológicas e de
análise. Nesse sentido, faz-se, a seguir, uma apreciação da Teoria Ator-Rede, tendo
como principais autores Bruno Latour, Michel Callon e John Law.
O termo ator-rede (TAR) ou actor-network theory nasceu na França e visa a
entender como os objetos, mais do que símbolos, se materializam numa
determinada ordem social através dos fatos científicos, que são, segundo Latour
(1994) construídos, mas não podem ser reduzidos ao social, porque ele está
povoado por objetos mobilizados para construí-lo. E para compreender tal
construção é necessário estudar as relações entre os personagens participantes
deste processo.
A TAR procura entender como os atores e organizações, formados por
pedaços do social, do técnico e do textual, são montados em conjuntos e
convertidos num produto científico, que apesar de possuir partes heterogêneas, se
assemelha a uma única e compacta coisa. E ele ainda afirma que o social nada mais
é do que redes de padrão de materiais heterogêneos, ou seja, os atores e as redes
não podem ser concebidos de maneira separada (LAW, 1992).
Na visão da TAR os elementos componentes de uma organização são efeitos
gerados em múltiplas interações; não algo dado na ordem das coisas. Nessa
28
direção, as organizações são entidades contínuas e incompletas, precárias e
parciais. Analisá-las por meio da TAR é uma forma de tentar compreender por quais
meios um sistema difuso e complexo, composto por humanos e não-humanos, se
torna uma rede (ALCADIPANI; TURETA, 2009b).
A teoria ator-rede é composta pelos conceitos rede, tradução, caixa preta e
aparelhos técnicos de medida. A rede significa que os recursos estão concentrados em
poucos locais, nas laçadas e nos nós, interligados com os fios e malhas. Essas conexões
transformam os recursos esparsos numa teia que parece se estender por todos os
lugares (LATOUR, 2000). As redes podem ser compostas tanto de pessoas quanto de
máquinas, animais, textos, dinheiro, qualquer material que se possa lembrar, e ainda
acrescenta que uma rede é mais forte do que suas partes sozinhas (LAW, 1992).
Caixa-preta é o resultado de associações, disputas, controvérsias, que aos
poucos vão convergindo até tornarem-se algo que pode ser referenciado sem
discussão (LATOUR, 2000).
Outro conceito desenvolvido por Latour é o dos aparelhos técnicos de medida, que
são instrumentos capazes de proporcionar uma leitura daquilo que está sendo
pesquisado, como, por exemplo, um microscópio ou um termômetro. “O ato de definir um
objeto novo pelas respostas que ele inscreve no mostrador de um instrumento fornece a
cientistas e engenheiros sua fonte de força” (LATOUR, 2000, p. 150).
A TAR também concerne à interpretação dada pelos construtores de fatos
aos seus interesses e aos das pessoas que eles alistam. Pode-se dizer que se
refere aos participantes do fato, ou seja, aquele que deseja construir um fato precisa
envolver outros a participar dessa construção, devendo ao mesmo tempo controlar
seus comportamentos, de modo a fazer com que suas ações sejam previsíveis
(LATOUR, 2000).
O processo de tradução pode ser entendido a partir de quatro diferentes
momentos, durante os quais é negociada a identidade dos atores, suas possíveis
interações e as margens de manobra (CALLON, 1986):
• problematização: Não se limitar a formular questões, mas sim, determinar
um conjunto de atores e definir suas identidades, de tal forma a
estabelecer o ponto de passagem obrigatório na relação que está sendo
construída na rede;
• interesse: conjunto de ações pelo qual uma entidade tenta impor e
estabilizar a identidade dos outros atores, que se define através de sua
29
problematização. Diferentes dispositivos são utilizados para implementar
essas ações;
• envolvimento: O interesse não conduz à aliança, ou seja, a inscrições
efetivas. O termo inscrições se refere ao dispositivo que permite um
conjunto de funções inter-relacionadas e é definido e atribuído aos atores
que aceitá-los;
• mobilização de aliados: Estabelecimento de um representante de todos os
atores envolvidos numa dada rede-de-atores.
Entretanto, a descrição detalhada da translação [tradução] nos termos
propostos por Callon (1986) pode caracterizar uma abordagem mais
prescritiva do que processual, tendo em vista que propor regras gerais de
como a translação [tradução] ocorre pode parecer uma forma de impor uma
maneira particular de como os atores se associam nas redes. Assim, a TAR
tem sido acusada de promover uma visão simplista do processo de
ordenação, o que poderia afetar a possibilidade desta abordagem possuir
um caráter crítico (ALCADIPANI; TURETA, 2009b, p. 410).
A idéia de tradução está intimamente relacionada com a noção de poder,
considerando que tais relações nada mais são do que a descrição da maneira como
os atores se associam e são levados a permanecerem leais às alianças
estabelecidas (CALLON, 1986). Na perspectiva da TAR a idéia de poder remete
àquilo que:
[...] os proponentes desta teoria chamam de ‘controle à distancia’. Tal noção
está relacionada com a forma com que relações de poder são estabelecidas
entre pontos que estão geograficamente distantes. A idéia central é que
para este tipo de controle seja estabelecido, é necessário que uma rede de
relações esteja em funcionamento e, isso somente é possível por meio da
acumulação de informações a respeito daquilo que se quer dominar. Tratase de um processo lento e gradual que explica tanto o estabelecimento de
impérios e colônias quanto a universalidade da ciência (ALCADIPANI;
TURETA, 2009a, p. 655).
Para que uma rede seja formada é preciso que os interesses dos atores
sejam traduzidos, deslocados, desviados, a fim de poderem mobilizar outras partes
interessadas.
[...] tradução não significa apenas a mudança de um vocabulário para outro,
mas, acima de tudo, de acordo com um deslocamento, um desvio de rota,
uma mediação ou invenção de uma relação antes inexistente e que, de
algum modo, modifica os atores nela envolvidos (MORAES, 2004, p. 326).
30
O sentido de tradução envolve, ao mesmo tempo, um desvio e uma
articulação de elementos díspares e heterogêneos. Tradução, assim, refere-se à
hibridação, mestiçagem, multiplicidade de conexões mais do que à repetição de
elementos chaves (MORAES, 2004).
A conclusão empírica sobre a tradução é que ela é contingente, local e
variável. No entanto, mais quatro conclusões gerais emergem (LAW, 1992):
1. a primeira tem a ver com o fato de que alguns materiais são mais duráveis
do que outros e assim mantém seus padrões de relacionamento por mais
tempo. Os pensamentos são baratos, mas eles não duram muito tempo e a
fala dura muito pouco tempo. Mas quando começamos a executar as
relações e, em particular quando as incorporamos em materiais
inanimados, tais como textos e edifícios, estes podem durar mais tempo.
Assim, uma boa estratégia é incorporar um conjunto de relações materiais
duráveis. Consequentemente, uma rede relativamente estável é uma
incorporada e executada por uma série de materiais duráveis;
2. a teoria ator-rede explora materiais e processos de comunicação, a escrita,
a comunicação eletrônica, os métodos de representação, sistemas
bancários, etc. Em outras palavras, ela explora as traduções que criam a
possibilidade de transmissão;
3. a tradução é mais eficaz se antecipa as respostas e reações dos materiais
a serem traduzidos. O que Latour (apud LAW, 1992) chama de centros de
tradução como efeitos relacionais é explorar as condições e os materiais
que geram esses efeitos e conter a resistência que os dissolve;
4. finalmente, há a questão do âmbito da ordenação, que tem sido considerada
local, mas, sem dúvida, é possível imputar um pouco as estratégias gerais de
tradução para as redes, as estratégias que, se ramificam e se reproduzem
através de uma ampla rede de instâncias ou locais.
Enfim, a teoria ator-rede permite analisar a inter-relação entre a escolha
técnica e o destino social das inovações, a partir do olhar de diferentes entidades
que cercam o mundo humano, não-humano, técnico e social.
Como se observa da discussão acima, a busca de um referencial teórico que
auxilie no entender da forma como a inovação social territorial se processa conduziu a
uma discussão sobre o conceito de inovação social e suas principais implicações no
âmbito das comunidades. Para tanto, a partir da diferenciação entre inovação tecnológica
31
e inovação social, procurou-se desenvolver um corpo de conceitos que possibilitassem o
surgimento de elementos passíveis de serem analisados numa pesquisa de campo.
O quadro 3 representa, de forma sintetizada, os principais elementos que foram
considerados para estruturação da pesquisa, com base no referencial teórico
apresentado neste capítulo.
Análise dos
Elemento
Inovação
Social
Inovação
Social
territorial
Construção
Social
Teoria
Rede
Ator-
Quadro 3 – Síntese dos elementos a serem pesquisados
Autor
Aspectos Abordados
Le Ber e Branzei
(2010)
Solução nova sendo mais eficaz, eficiente e sustentável
para um problema social. E que o valor criado seja
principalmente revertido para a sociedade como um todo.
Stanford Social
Quem ganha com a inovação social: a inovação social é
Innovation Review uma solução nova para um problema social que é mais
(2011)
efetiva, eficiente e sustentável que as soluções existentes
e pela qual o valor criado é revertido para a sociedade
como um todo, em vez de interesses próprios
Cloutier (2003)
Interação entre os agentes: a inovação social é resultante
da cooperação entre uma variedade de atores, podendo
ser visto como um processo coletivo de aprendizagem e
de criação de conhecimento
Moulaert e Sekia
Tipo de ambiente: os principais modelos de inovação
(2003)
territorial compreendem os ambientes inovadores, os
distritos industriais, os sistemas de produção local, novos
espaços industriais, os clusters de inovação, os sistemas
de inovação regional e as regiões de aprendizagem
Autora
Núcleo da dinâmica de inovação: capacidade das
instituições públicas ou privadas de inovar socialmente
através da relação com outros agentes.
Autora
Papel das instituições: Instituições são agentes que
proporcionam melhor qualidade de vida para a população,
através da promoção e desenvolvimento da inovação.
Autora
Desenvolvimento regional: pela atuação de diferentes
atores proporcionará o desenvolvimento econômico e
social.
Autora
Cultura: cultura de rede e interação econômica e social.
Autora
Tipo de relação entre os agentes: interação de
aprendizado; cooperação, redes de agentes.
Autora
Tipo de relação com o ambiente: capacidade dos agentes
em modificar o ambiente com base em uma situação
considerada insatisfatória.
Humphreys (2005) Componentes da construção social: grupos sociais
relevantes, flexibilidade interpretativa, fechamento e
estabilização
Law (1992)
Conceito da TAR: como os atores e organizações,
formados por pedaços do social, do técnico e do textual
são montadas em conjuntos e convertidos num produto
científico, que apesar de possuir partes heterogêneas, se
assemelha a uma única e compacta coisa.
Latour (2000)
Sociologia da Tradução: se refere à interpretação dada
pelos construtores de fatos aos seus interesses e aos das
pessoas que eles alistam
Callon (1986)
O processo de tradução: problematização, interesse,
envolvimento, mobilização de aliados
Fonte: Elaborado pela autora
32
A reflexão proposta pela presente dissertação é entender de que forma os
aspectos teóricos descritos no quadro 3 propiciam o entendimento de uma situação
real em que atores sociais se colocam em rede para desenvolver um objeto de
cunho social e territorial. Para tanto, optou-se por considerar o desenvolvimento de
uma rota turística envolvendo atores municipais com objetivos, perspectivas e
expectativas distintas.
Assim sendo, a questão de pesquisa proposta por este trabalho se refere à
busca de como se processa a inovação social na concepção e na construção de
uma rota turística através da interação entre os atores participantes. A metodologia,
a seguir, mostra a escolha do caso pesquisado, os procedimentos de busca de
dados e a forma de análise dos resultados.
33
3 METODOLOGIA DE PESQUISA
A questão de pesquisa norteadora do presente estudo refere-se a: “como se
processa a inovação social na concepção e na construção de uma rota turística
através da interação entre os atores participantes?” Para respondê-la, optou-se por
uma abordagem predominantemente interpretativa, uma vez que esta é a que mais
propicia medir as características descritas na questão de pesquisa (HAIR JUNIOR et
al., 2005), além de informar sobre situações, fatos, opiniões ou comportamentos, do
fenômeno estudado. Os estudos descritivos visam a descrever as características de
uma determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relação entre as
variáveis (GIL, 1999).
Como estratégia de pesquisa utilizou-se o estudo de caso único, tendo em
vista que o mesmo contribui, de forma incomparável, para a compreensão dos
fenômenos individuais, organizacionais, sociais e políticos (YIN, 2001).
Yin (2001, p. 27) “afirma que o estudo de caso é a estratégia escolhida ao se
examinarem acontecimentos contemporâneos, mas quando não se podem
manipular comportamentos relevantes”. Desta forma busca-se aprofundar a
realidade sobre o objeto pesquisado.
“Outro aspecto relevante para a escolha do estudo de caso se refere ao poder
diferenciador do estudo e sua capacidade de lidar com uma ampla variedade de
evidências como documentos, artefatos, entrevistas e observações” (YIN, 2001, p. 27).
Assim, pela variedade de informações coletadas de diversas formas o pesquisador
poderá realizar uma triangulação dos dados com maior profundidade.
Esse estudo foi realizado na Rota Romântica, que é uma rota que abrange 13
municípios do estado do Rio Grande do Sul e visa trabalhar o turismo coletivo destas
localidades.
A coleta e a análise de dados do estudo foram qualitativos. “Os dados
qualitativos representam descrições de coisas sem a atribuição direta de números. Os
dados qualitativos geralmente são coletados utilizando-se algum tipo de entrevista nãoestruturada” (HAIR JUNIOR et al., 2005, p. 100).
Foram realizadas entrevistas em profundidade, análise de documentos e
observações diretas. Yin considera as entrevistas como uma das mais importantes
fontes de informação para um estudo de caso ainda mais se o respondente assumir
o papel de “informante”, ou seja, pessoas que fornecem ao pesquisador “percepções
34
e interpretações sob um assunto e sugerem fontes nas quais buscar evidências
corroborativas” (YIN, 2001, p. 112). Portanto, as entrevistas foram semiestruturadas, tendo apenas um roteiro de apoio.
As entrevistas foram realizadas de forma pessoal e por e-mail. Posteriormente
foi realizada a análise do conteúdo, ou seja, a freqüência das características que se
repetem ao longo do conteúdo do texto (BARDIN, 1977).
3.1 O OBJETO DA PESQUISA
Como a inovação social é um processo que visa a proporcionar melhor
qualidade de vida à população o objeto de pesquisa deste trabalho foi a Rota
Romântica como inovação social, uma vez que ela ao longo dos seus dezesseis
anos vem contribuindo para o crescimento do turismo, através de ações de
divulgação e ações técnicas nos municípios, consequentemente, gerando benefícios
também para as comunidades.
A Rota Romântica é uma região colonizada por imigrantes alemães que
chegaram em meados do século XIX ao Rio Grande do Sul. Vindos de regiões do
norte da Alemanha, os imigrantes estabeleceram-se no Vale dos Sinos, encosta e
Serra Gaúcha, e Nordeste do RS entre 1824 e 1830. A influência germânica está
presente nas casas em estilo bávaro e enxaimel, no dialeto e nas festas populares.
São 13 municípios que se estendem ao longo de 184 km das rodovias BR 116, RS
235 e RS 326 (WEBER, 2006).
A região está localizada entre 30 e 1.100m acima do nível do mar, o que
proporciona uma geografia muito variada, com morros, montanhas, planícies,
capões e planaltos.
A população compreende 1% da população do Estado, e a maior incidência
na região são de crianças, que representam 20% da população e de adolescentes
com 19% (ROTA..., 2011).
O quadro 4 apresenta algumas características dos municípios que integram a
Rota Romântica.
35
Quadro 4 – Características dos Municípios da Rota Romântica
(continua)
Cidade
População
Data de Ingresso na
Rota Romântica
São Leopoldo
207.888
1995
Novo
Hamburgo
255.317
1995
Estância
Velha
39.121
1997
Ivoti
18.000
1995
Dois Irmãos
22.415
1995
Morro Reuter
5.057
1995
Santa Maria
do Herval
6.350
1997
Presidente
Lucena
2.069
1995
Picada Café
5.000
1995
Nova
Petrópolis
19.114
1995
Informações da cidade
Cidade fundada em 1824, é o berço da
colonização alemã no Rio Grande do Sul.
O turista pode visitar os pontos turísticos e
religiosos, servir-se da gastronomia,
conhecer o artesanato e a noite
leopoldense. São Leopoldo anda conta
com uma das maiores universidades
particulares do Brasil, a Universidade do
Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
Localizada a 42km da capital, Porto Alegre,
situada na Região do Vale do Sinos, na
encosta inferior da serra gaúcha, é
conhecida como a Capital Nacional do
Calçado.
Dentro do Vale dos Sinos, Estância Velha é
um importante fornecedor de couro para as
indústrias
gaúchas,
além
de
ser
considerada a cidade dos grandes eventos,
como o Baile Kerb, uma festa tradicional
com muito chopp e dança.
Rica em cultura e tradições abriga
patrimônios arquitetônicos da colonização
alemã no Brasil. Ivoti, também conhecida
como a Cidade das Flores, possui a maior
colônia étnica do Japão no sul dos pais.
Dois Irmãos é a porta de entrada da Serra
Gaúcha. Cidade de eventos tradicionais
como o Kerb de São Miguel, o Natal dos
Anjos e a Feira de Artesanato e de
Produtos Alimentícios.
São comuns na cidade as carretas de boi
carregadas de pasto, os tambos de leite à
beira da estrada e as plataneiras, símbolos
de romantismo e inspiração.
Santa Maria do Herval possui na região
uma natureza vasta. E preserva nos traços
culturais as manifestações folclóricas, as
festas e as atividades religiosas.
Presidente Lucena é considerada a capital
da Schmier Colonial, a cidade possui mais
de 90% da população falando o dialeto
Hunsrüch, o que garante a preservação
história e cultura dos colonizadores.
Situada às margens do Rio Cadeia, Picada
Café recebeu este nome por ter sido ponto
de parada dos tropeiros que desciam a
região serrana para trazer mercadorias e
abastecer de gado o vale e a capital.
Colonizada por imigrantes alemães, Nova
Petrópolis cultiva seus costumes com muita
força e representatividade. A preservação
da língua alemã, as danças e músicas
folclóricas, os trajes típicos, a gastronomia
germânica e a arquitetura enxaimel
perpetuam a identidade do local.
36
(conclusão)
Cidade
População
Gramado
32.000
Canela
33.625
São Francisco
de Paula
19.871
Data de Ingresso na
Rota Romântica
Informações da cidade
Gramado é a cidade mais europeia do
Brasil, conhecida por sua beleza,
1995
hospitalidade,
atividades
culturais
e
turísticas.
A cidade é o lugar ideal para quem procura
um roteiro cercado por paisagens, trilhas
1995
ecológicas, lazer, conforto e diversão. Seus
hotéis e pousadas oferecem estrutura
adequada para o turismo o ano inteiro.
Localizada na parte superior da Serra
Gaúcha, é conhecida pelos campos de
1995
grandes pastagens, cercados por rios e
capões de mato nativo.
Fonte: Rota... (2010) adaptado pela autora
De acordo com Weber (2006, p. 161) a Rota Romântica tem como objetivo
Incrementar os fluxos turísticos do Rio Grande do Sul, ampliando a
capacidade de bens e serviços já conhecidos na região, acrescidas de
novos produtos, garantido a qualidade para a maximização da satisfação
dos turistas que conhecerão novos atrativos podendo vivenciar, assim a
história e a cultura da região.
Outro aspecto relevante sobre a constituição da rota foi que no período de
formatação os municípios passavam por uma crise econômica em decorrência do
declínio do setor calçadista. Certamente esta crise contribuiu para que o setor
turístico fosse visto como uma alternativa de receita para os municípios, uma vez
que o setor industrial não dava o retorno de outrora.
3.2 A COLETA DE DADOS
Para a realização do estudo foram coletados dados primários e secundários.
Os dados secundários foram documentos e materiais disponibilizados pela
Associação da Rota Romântica, como a ata de constituição, o histórico da rota e
materiais de divulgação; pela Rota Romântica Alemã que enviou, pelo correio,
materiais como o estatuto da associação, estatísticas sobre a movimentação de
turistas e um mapa turístico contendo informações sobre o surgimento e gestão do
projeto na Alemanha e pelos municípios que disponibilizaram os materiais
promocionais de divulgação das localidades e da rota.
37
Os dados primários foram coletados fundamentalmente através de entrevistas
e da observação da pesquisadora em locais específicos da Rota. Inicialmente foi
elaborado um protocolo das entrevistas estruturado a partir do referencial teórico.
Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com o gestor da Rota Romântica
e com os secretários de turismo dos municípios. Selecionou-se a entrevista semiestruturada, pois esta permite que o entrevistador exercite sua iniciativa no
acompanhamento da resposta a uma pergunta. Desta forma, assuntos que não foram
previstos antecipadamente poderiam ser incluídos no roteiro. Hair Junior et al. (2005, p.
163) “afirmam que esta abordagem pode resultar no surgimento de informações
inesperadas e esclarecedoras, melhorando as descobertas”.
O agendamento das entrevistas ocorreu de acordo com a disponibilidade dos
entrevistados, nos meses de janeiro e fevereiro de 2011.
Antes da realização das entrevistas foi encaminhado um e-mail mencionando
o objetivo da pesquisa bem como o tempo de duração previsto da atividade, a
solicitação de gravar a entrevista e a utilização de um roteiro semi-estruturado. As
entrevistas foram realizadas pessoalmente, com duração variável. Nos municípios
de Gramado e Picada Café as entrevistas foram complementadas através da troca
de e-mails com os respondentes. Todos os respondentes pertencem a prefeituras e
estão ligados a algum partido político à exceção do Presidente da Rota Romântica.
O quadro 5 apresenta um detalhamento das entrevistas realizadas, com o
gestor da Rota Romântica e com os 13 municípios integrantes.
Quadro 5 – Detalhamento das entrevistas
Município/
Entidade
Associação
Rota Romântica
Nova Petrópolis
Setor
Terceiro
setor
Público
Ivoti
Público
Santa Maria do
Herval
Público
São Leopoldo
Público
Estância Velha
Dois Irmãos
Público
Público
Cargo
Presidente
Secretário de
turismo
Assessora de
Turismo
Secretário de
Indústria,
Comércio e
Turismo
Diretora de
Turismo
Diretor de Turismo
Secretário da
Agricultura,
Turismo, Indústria
e Comércio.
Partido
Data
(continua)
Duração
Sem partido
político
PSDB
17/01
64min
17/01
24min
PT
18/01
17min
PP
19/01
50min
PT
20/01
24min
PSDB/PP
PT/PDT/PCdo
B
21/01
21/01
47min
50min
38
Município/
Entidade
Novo Hamburgo
Setor
Cargo
Público
Morro Reuter
Público
Presidente
Lucena
Público
Gramado
Público
Canela
Público
São Francisco
de Paula
Picada Café
Público
Assessor de
PT
turismo
Coordenador de
PMDB
turismo
Assessora da
PDT
Secretária de
Educação,
Cultura e Desporto
Secretário de
PSDB
Turismo
Secretário de
PMDB
Turismo
Secretário de
PT
Turismo
Secretária de
PPB
Educação,
Cultura, Desporto
e Turismo
Fonte: Elaborado pela autora
Público
Partido
Data
(conclusão)
Duração
02/02
30min
03/02
26min
09/02
12min
10/02
25/03
10/02
45min
14/02
15min
25/02
25/03
28min
18min
3.3 O PROTOCOLO DAS ENTREVISTAS
O protocolo das entrevistas foi idealizado a partir dos principais conceitos
teóricos desenvolvidos no referencial e que serviram de base para a formulação da
questão de pesquisa. Por exemplo, utilizou-se a definição de Inovação Social
apresentada por Le Ber e Branzei (2010), como sendo uma solução nova sendo
mais eficaz, eficiente e sustentável para um problema social, cujo valor criado é
principalmente revertido para a sociedade como um todo. Buscou-se desta forma
caracterizar a Rota Romântica como inovação social e, a partir daí, foram definidas
as questões e os entrevistados.
O quadro 6, construído a partir do quadro 3, representa de forma sintetizada
os principais elementos considerados para a construção do roteiro das entrevistas.
39
Quadro 6 – Elementos do roteiro das entrevistas
(continua)
Elementos Teóricos
Principal
Autor
Solução nova sendo mais eficaz, eficiente e Le Ber e Branzei
sustentável para um problema social. E que (2010)
o valor criado seja principalmente revertido
para a sociedade como um todo.
Quem ganha com a inovação social: a Stanford Social
inovação social é uma solução nova para Innovation
um problema social que é mais efetiva, Review (2011)
eficiente e sustentável que as soluções
existentes, e pela qual o valor criado é
revertido para a sociedade como um todo,
em vez de interesses próprios
Interação entre os agentes: a inovação Cloutier (2003)
social é resultante da cooperação entre
uma variedade de atores, podendo ser
visto como um processo coletivo de
aprendizagem
e
de
criação
de
conhecimento
Tipo de ambiente: os principais modelos de Moulaert e Sekia
inovação territorial compreendem os (2003)
ambientes
inovadores,
os
distritos
industriais, os sistemas de produção local,
novos espaços industriais, os clusters de
inovação, os sistemas de inovação regional
e as regiões de aprendizagem
Núcleo da dinâmica de inovação: Autora
capacidade das instituições públicas ou
privadas de inovar socialmente através da
relação com outros agentes.
Papel das instituições: Instituições são Autora
agentes
que
proporcionam
melhor
qualidade de vida para a população através
da promoção e desenvolvimento da
inovação.
Desenvolvimento regional: pela atuação de Autora
diferentes
atores
proporcionará
o
desenvolvimento econômico e social.
Cultura: cultura de
econômica e social.
rede
e
interação Autora
Tipo de relação entre os agentes: interação Autora
de aprendizado; cooperação, redes de
agentes.
Tipo de relação com o ambiente: Autora
capacidade dos agentes em modificar o
ambiente com base em uma situação
considerada insatisfatória.
Aspectos
pesquisados
A Rota Romântica
como inovação social
O que a comunidade
ganhou com a Rota
Romântica
Como é a interação
entre os agentes da
Rota Romântica
A Rota Romântica
como inovação social
territorial
Os agentes da Rota
Romântica envolvidos
no processo de
inovação social
A Rota Romântica
como fomentadora da
inovação social
territorial
O que a Rota
Romântica gerou em
relação aos aspectos
econômicos e sociais
A cultura
predominante na Rota
Romântica
O tipo de relação entre
os atores da Rota
Romântica
A capacidade da Rota
Romântica em
modificar o ambiente
40
(conclusão)
Elementos Teóricos
Principal
Autor
Componentes da construção social: grupos Humphreys
sociais
relevantes,
flexibilidade (2005)
interpretativa, fechamento e estabilização
Conceito da TAR: como os atores e Law (1992)
organizações, formados por pedaços do
social, do técnico e do textual são montadas
em conjuntos e convertidos num produto
científico, que apesar de possuir partes
heterogêneas, se assemelha a uma única e
compacta coisa.
Sociologia da Tradução: se refere à Latour (2000)
interpretação dada pelos construtores de
fatos aos seus interesses e aos das
pessoas que eles alistam
O processo de tradução: problematização, Callon (1986)
interesse, envolvimento, mobilização de
aliados
Aspectos
pesquisados
*Identificação dos
grupos sociais;
*Identificação da
flexibilidade
interpretativa,
fechamento e
estabilização dos
grupos sociais
Relação dos atores da
Rota Romântica com
os materiais tangíveis
e intangíveis
O motivo dos atores da
Rota Romântica em
participar do projeto
* Como foram
escolhidos os atores
da Rota Romântica;
*Quais são os
interesses comuns
entre os atores;
*Qual é o tipo de
envolvimento entre os
atores;
*Quem dos atores se
destaca como líder e o
seu perfil
Fonte: Elaborado pela autora
A partir da definição dos aspectos que seriam pesquisados foram definidas as
perguntas da entrevista para a associação e para os municípios. As entrevistas
foram separadas em blocos de questões, onde cada bloco se relaciona a um
aspecto teórico a ser pesquisado. O roteiro de entrevista, na integra, se encontra
nos apêndices A e B.
3.4 ANÁLISE
Para se analisar os dados deve-se “examinar, categorizar, classificar em
tabelas ou, do contrário, recombinar as evidências tendo em vista proposições
iniciais de um estudo”(YIN, 2001, p. 131).
41
Para tal atividade se faz necessário seguir alguns passos conforme proposto
por Creswell (2007, p. 195):
1. Organizar e preparar os dados para análise. Isso envolve transcrever
entrevistas, fazer leitura ótica de material, digitar notas de campo ou
classificar e organizar os dados em diferentes tipos, dependendo das
fontes de informações.
2. Ler todos os dados. Um primeiro passo geral é obter um sentido geral
das informações e refletir sobre seu sentido global. Que idéias gerais os
participantes expõem? Qual é o tom dessas idéias? Qual é a impressão
geral sobre profundidade, credibilidade e uso das informações? Algumas
vezes, os pesquisadores qualitativos fazem anotações nas margens ou
começam a registrar considerações gerais sobre os dados nesse
estágio.
3. Começar a análise detalhada com um processo de codificação.
Codificação é o processo de organizar materiais em grupos antes de dar
algum sentido a esses grupos. Isso envolve tomar dados em texto ou
imagens, segmentar as frases (ou parágrafos) ou imagens em categorias
e rotular essas categorias com um termo, geralmente baseado na
linguagem real do participante (conhecido como in vivo).
4. Usar o processo de codificação para gerar uma descrição do cenário ou
das pessoas além das categorias ou dos temas para análise. Descrição
envolve fornecimento de informações detalhadas sobre pessoas, locais
ou fatos em um cenário. [...]
5. Prever como a descrição e os temas serão representados na narrativa
qualitativa. O método mais popular é usar uma passagem narrativa para
transmitir os resultados da análise. Pode ser uma discussão detalhada
de diversos temas ou uma discussão com temas interconectados. [...]
6. Um passo final na análise de dados envolve fazer uma interpretação ou
extrair significado dos dados. [...]
A partir do que foi proposto por Creswell (2007) as entrevistas foram
transcritas e separadas de acordo com os objetos pesquisados; foi realizada uma
leitura geral para identificar pontos comuns e divergências entre os entrevistados
bem como aspectos particulares de cada município. As respostas dos atores foram
separadas de acordo com os pontos analisados e ao final foi realizado uma síntese
geral dos resultados. As transcrições completas estão de posse da pesquisadora e à
disposição dos interessados.
Por fim foi realizada uma narrativa qualitativa utilizando passagens das
entrevistas. As transcrições apresentadas ao longo do estudo de caso foram
editadas, retirando-se os vícios de linguagem sem entretanto, gerar perda de sentido
na mensagem.
42
A figura 1 apresenta um desenho de cada etapa realizada na pesquisa.
Figura 1 – Desenho da pesquisa
Fonte: Elaborada pela autora
A pesquisa foi desenvolvida em três fases. A primeira correspondeu ao
desenvolvimento do referencial teórico que resultou na definição dos aspectos
teóricos a serem pesquisados e na estruturação do roteiro de entrevistas.
A fase 2 referiu-se a definição do estudo de caso, aplicação e análise das
entrevistas bem como análise dos documentos.
Já a última fase compreendeu a apresentação do estudo de caso, análise da
teoria com os aspectos do estudo de caso e por fim os resultados encontrados.
43
4 APRESENTAÇÃO DO CASO
A Rota Romântica brasileira, que abrange alguns municípios do Rio Grande
do Sul é um projeto inspirado no roteiro homônimo localizado na Alemanha. A
versão gaúcha engloba cidades com origem predominantemente alemã e algumas
cidades de tradição turística.
Para entender a estratégia que permeia a versão brasileira é importante
entender o funcionamento e diretrizes da rota Alemã.
4.1 ANTECEDENTES: A ROTA ROMÂNTICA ALEMÃ - ROMANTISCHE STRAßE
A Romantische Straße, ou a Rota Romântica é a rota mais conhecida da
Alemanha porque segue as trilhas de velhas rotas de romeiros e comerciantes
abrangendo cidades que unidas mantém a história centenária daquela região. São
cidades imperiais com portões fortificados e muros que cercam núcleos de cidades
históricas, igrejas góticas, importantes castelos e uma infinidade de igrejas barrocas.
Prefeitos e representantes das maiores cidades entre Würzburg e Füssen,
totalizando 28 municípios, resolveram criar uma rota de férias para apresentar aos
visitantes estrangeiros, principalmente os americanos que visitavam a Alemanha no
período pós-guerra na década de 50. E para alcançar tal objetivo o roteiro foi
incluído em inúmeros catálogos turísticos do mundo, além de uma intensa
divulgação dos seus hotéis e hospedarias (ROMANTISCHE..., [2010]).
Esse projeto desenvolveu a economia, a hotelaria e os postos de trabalho em
toda a área envolvida.
No ano 2000 a rota completou 50 anos. E foi um período em que os gestores
viram a necessidade de desenvolver um projeto que mantivesse a rota sustentável
para o futuro. Esse projeto visava criar diretrizes e orientações para quem estava
direta e indiretamente envolvido e poderia contribuir para a qualidade das propostas
turísticas.
O intuito de desenvolver o projeto foi ocasionado pelas mudanças que se
tinham e se têm observado no turismo. As rotas tradicionais foram surpreendidas
tanto pela concorrência de outras regiões da Alemanha e da Europa, como pela
facilidade de se chegar a locais na Ásia.
44
De acordo com a Rota Romântica a sua posição de ponta como rota de férias
e cultural somente se manterá se a qualidade dos serviços oferecidos, em todos os
locais envolvidos, se mantiverem ao longo de seus 350km (ROMANTISCHE...,
[2010]).
Então pela primeira vez foram reunidas pessoas do setor de turismo,
representantes das comunidades envolvidas, hotéis, restaurantes, comércio e
autoridades da rota para discutirem as diretrizes gerais, as inovações e medidas a
serem tomadas “[...] para que a Rota Romântica permanecesse o que sempre foi: a
mais conhecida e amada rota turística da Alemanha” (ROMANTISCHE..., [2010], s. 4,
tradução nossa).1
Em 1995, a associação turística da rota e a universidade de Munique
realizaram uma pesquisa junto a prefeituras e representantes locais em dez cidades,
afim de coletar opiniões e sugestões para a rota. A pesquisa revelou quatro pontos
fundamentais:
- havia desconhecimento por parte dos habitantes locais. Por exemplo,
menos da metade sabia nominar espontaneamente de quatro a seis
cidades que faziam parte da rota;
- o espírito comunitário era fraco. Para a maioria dos entrevistados a
expressão “nós da Rota Romântica trabalhamos em conjunto” não
significava nada;
- a atitude pró-turismo era positiva da parte das autoridades e setores
envolvidos com a rota;
- as pessoas gostariam de se engajar. Mais da metade das pessoas
entrevistadas estavam dispostas a tomar iniciativa para melhorar a rota e
trabalhar em conjunto.
O resultado da pesquisa demonstrou deficiências, mas também mostrou
aspectos positivos.
Para unir as pessoas de uma região tão grande e tão heterogênea em torno
de um objetivo era preciso se concentrar nos pontos em comuns. Por isso os
gestores da rota elaboraram um amplo protocolo de intenções porque possivelmente
a maioria dos moradores poderia ser estimulado para o futuro desenvolvimento
local; entre as cidades a variedade de opiniões era muito ampla e todos, em
1
“[...] damit die Romantische Straße das bleibt, was sie bis heute ist: Deutschlands bekannteste und
beliebteste Touristikroute (ROMANSTISCHE…, [2010], s. 4).
45
qualquer posição, no dia-a-dia poderiam contribuir para que os hóspedes da rota se
sentissem bem.
Mais de cem representantes, de três segmentos na rota, norte, centro e sul
participaram das discussões. Foram levantados os pontos fortes e fracos e
elaboraram diretrizes e propuseram providências. Muitos dos assuntos não eram
novos para os participantes, porém tratar do assunto de forma comunitária e chegar
ao consenso sobre o papel individual das cidades no projeto era a novidade.
Os pontos fortes elencados durante a reunião foram as
[...] cidades históricas e locais de visitação como museus; o acervo cultural rico,
diversificado; o grau de reconhecimento da rota adquirido ao longo dos anos,
tanto internamente como internacionalmente e a ampla e diversificada rede de
2
hotéis e restaurantes (ROMANTISCHE..., [2010], s. 7, tradução nossa).
Em relação aos pontos fracos foram destacados os seguintes aspectos
conforme o mapa turístico da Rota Romântica (ROMANTISCHE..., [2010]):
- falta do sentimento de pertencer a um grupo com objetivos comuns;
- falta de hospitalidade para recepcionar os turistas;
- falta de informação no que se refere as atividades culturais comuns aos
municípios;
- falta de trabalho em conjunto para coordenar as ações e informações
sobre as cidades integrantes à Rota;
- fragilidade dos guias e sinalizações turisticas.
As diretrizes definidas para a rota foram (ROMANTISCHE..., [2010]):
1. a Rota Romântica é a rota turística mais conhecida e mais amada da
Alemanha e as localidades querem que permaneça assim;
2. querem manter a posição de liderança com relação as demais rotas
turísticas. Todos os envolvidos devem se esforçar para isso;
3. no centro dos esforços está o hóspede. Ele deve vir a rota não apenas pela
história, pela beleza, etc., mas porque encontra hospitalidade e um
tratamento diferenciado;
2
“[...]die historischen Stadtbilder und Sehenswürdigkeiten sowie die Museen, all das eingebettet in
wundervolle Landschaften; ein reiches, äußerst vielseitiges kulturelles Angebot; ein in Jahren
gewachsener, hoher Bekanntheitsgrad im In- und Ausland; ein vielfältigies Hotel- und GastronomieAngebot (ROMANTISCHE…, [2010], s. 7).
46
4. somente e pensando em conjunto, hotelaria, restaurantes, empresários do
turismo de cada cidade garantirão o futuro da rota. Melhorando a
comunicação e modernizando a tecnologia da informação deve-se
promover o contato entre os atores;
5. ter consciência de que a qualidade da hotelaria e dos restaurantes é
decisivo para o bem estar dos hóspedes e pressuposto permanência mais
duradoura nas cidades e retorno futuro;
6. esforçar-se para oferecer pacotes conjuntos, nas modalidades solicitadas
pelos turistas, organizadores e agentes de viagens. Futuros investimentos
para melhoria deverão ser feitos;
7. a preservação e manutenção da imagem, dos pontos turísticos e
paisagens, bem como dos centros urbanos é obrigação de todos. Futuros
investimentos para melhoria deverão ser feitos;
8. a Rota Romântica tem um rico programa cultural. Como é crescente o
interesse do turista nesse âmbito, deve haver um esforço por uma melhor
coordenação e divulgação, contribuindo dessa forma para que o turista
permaneça mais tempo nas cidades;
9. reconhecer o turismo como importante fator econômico e como promotor
do bem-estar e qualidade de vida nas localidades que fazem parte da Rota
Romântica. Além disso, não medir esforços por um turismo universal e
socialmente sustentável.
Com o desenvolvimento do turismo coletivo e da aplicação destas diretrizes a
Rota Romântica teve mais de 5.040.97 hospedagens nas 28 cidades da rota no ano
de 2009.
A
experiência
alemã
demonstra
um
dos
aspectos
fundamentais
e
característicos da inovação social: o seu processo de difusão. Ao contrário da
difusão tecnológica, controlada pelas empresas através de mecanismos de proteção
industrial e de patentes, a difusão social permite uma troca de conhecimento e
experiências entre os atores.
47
4.2 SURGIMENTO ROTA ROMÂNTICA BRASILEIRA
A Rota Romântica brasileira – RR, situada no estado do Rio Grande do Sul,
surgiu em meados de 1995 a partir de uma proposta de diversas instituições e
organizações, como a secretaria de turismo do Estado, universidades, municípios,
agências e operadoras com a finalidade de desenvolver um turismo coletivo
conforme afirma o presidente da Rota:
“[...] a rota foi uma proposta que nasceu entre vários setores. Eu vou citar assim,
a Secretaria Estadual de Turismo, as Universidades por parte da questão
acadêmica, os próprios municípios através do Departamento de Turismo, as
agências de viagem, operadoras, então foi uma proposta conjunta. O que se
queria? Nós tínhamos a região das hortênsias aqui, mas a região das hortênsias
eram quatro municípios, não é então o que queríamos. Nós queríamos um
produto que pudesse englobar um maior número de municípios, principalmente
focando essa história forte da nossa influência alemã, da imigração alemã, então
o porquê São Leopoldo? Se iniciou em São Leopoldo por ser o berço da
imigração alemã. Tinha que ter um ponto de partida, poderia ser Novo
Hamburgo, poderia ser Dois Irmãos, enfim, então se iniciou em São Leopoldo
por ser o berço da imigração alemã.. Pegamos São Leopoldo e terminamos em
São Francisco de Paula. Com isso nós conseguimos ampliar a proposta, volto a
dizer que nós já tínhamos um produto consolidado, que já era um produto, que já
era um nome, é a região das hortênsias. Então foi mais ou menos dentro esta
proposta que foi trabalhada para consolidar o roteiro turístico da rota romântica,
de fazer uma proposta de turismo coletivo, fomentar o turismo. Esse é o nosso
principal objetivo. Também, fomentar, criar ações em conjunto entre os
municípios, para divulgar e fomentar o turismo de forma coletiva e não individual”
(informação verbal)3.
A definição da extensão da rota, portanto, foi ancorada tanto na tradição e na
história como na influência alemã.
Como se observa, o objetivo fundamental foi, a partir da experiência turística
acumulada principalmente por quatro municípios, expandir para outras localidades e
assim fomentar o turismo regional. Esta questão percebe-se na fala da Secretária de
educação, cultura, desporto e turismo do município de Picada Café ao mencionar o
que significa integrar a Rota Romântica:
“Integrar a rota romântica, na nossa concessão, vem a contribuir no sentido de
investir mais nas questões do turismo. Então é uma forma de municípios que
tem o perfil em comum, porque a rota é constituída de treze municípios muitos
pequenos, mas também com municípios de ponta como Gramado e Canela.
Então isso agrega, isso nos traz experiência de quem já vem investindo a muitos
e muitos anos, décadas no turismo e também nos faz partilhar anseios e
angustias, da mesma forma as ações entre os municípios pequenos a gente se
3
Entrevista concedida à autora, em Nova Petrópolis, no dia 17 de janeiro de 2011.
48
aproxima, uma vez que a gente vive as mesmas dificuldades e temos os
mesmos desejos” (informação verbal)4.
Em 26 de junho de 1995 deu-se o lançamento oficial da Rota Romântica junto
aos órgãos de turismo, comunidades em geral e entidades públicas e privadas. Na
oportunidade foi assinado um protocolo de intenções com o apoio da Secretaria
Estadual de Turismo, Câmara de Turismo do RS e EMBRATUR, entre onze
municípios e a Pontifícia Universidade Católica do RS, através da FAMECOS –
Curso Superior de Turismo para mapeamento e diagnóstico turístico dos municípios.
No início de 1996, de 16 a 29 de março foi promovida uma viagem de estudo
e observação à “Romantische Straße” da Alemanha e uma delegação partiu com o
objetivo de conhecer os meios, fatores, setores e agentes produtores do turismo
daquela região e colher subsídios para a implantação da rota gaúcha. O presidente
da rota comenta, sobre a ida à Alemanha, que:
“Nesta oportunidade se buscou justamente na Alemanha o modelo, o know-how
da coisa. Nós tínhamos que ter um ponto de partida, como eles trabalham então
se fez essa viagem técnica, onde participaram vários setores do trade turístico. E
nós conhecemos este roteiro que acabou de completar esse ano sessenta anos.
Conhecemos esse roteiro e vimos como eles trabalham esta questão de vender
uma região e não vender uma cidade. Vimos como eles trabalham a questão
administrativa, de manter juntos os municípios e a questão da divulgação.
Quando se retornou desta viagem foi efetivado, vamos dizer assim de fato e de
direito a rota romântica” (informação verbal)5.
Percebe-se que a questão da troca de conhecimento é um aspecto relevante
para quem participa da rota, como se observa na fala do diretor de turismo de
Estância Velha ao relatar a sua visão sobre a Rota Romântica Alemã:
“[...] a rota romântica da Alemanha tem sessenta anos de idade e eles
preservam a arquitetura, ele eles tem uma particularidade toda especial na
região que faz parte da rota romântica. São bem mais municípios do que nós
temos aqui e uma coisa que eu notei de diferente lá é que os prefeitos falam da
satisfação deles de fazerem parte da rota romântica. Isso tanto em municípios
que tem duzentos mil habitantes como em municípios que tem quatro mil
habitantes. Os municípios que tem quatro ou seis mil habitantes chega a receber
um milhão de turistas por ano. Os caras tem setecentos hotéis, então a cidade
vive em função, praticamente, do turismo” (informação verbal)6.
A fundação da Associação dos Municípios da Rota Romântica – AMRR - se
constituiu oficialmente no dia 22 de abril de 1996 com a realização da primeira
4
Entrevista concedida à autora, em Picada Café, no dia 25 de fevereiro de 2011.
Entrevista concedida à autora, em Nova Petrópolis, no dia 17 de janeiro de 2011.
6
Entrevista concedida à autora, em Estância Velha, no dia 21 de janeiro de 2011
5
49
Assembléia Geral dos municípios integrantes do então “Projeto Rota Romântica”.
Integravam-na à época onze municípios, como São Leopoldo, Novo Hamburgo, Ivoti,
Dois Irmãos, Morro Reuter, Presidente Lucena, Picada Café, Nova Petrópolis,
Gramado, Canela e São Francisco de Paula. Em março de 1997 mais dois
municípios foram incluídos na rota, Estância Velha e Santa Maria do Herval,
totalizando treze integrantes da Associação, conforme mostra a figura 2.
Figura 2 – Mapa da Rota Romântica
Fonte: Rota... (2010)
Em 14 de maio de 1996, foi eleita a primeira Diretoria e Conselho Fiscal da
entidade, para a gestão da AMRR até março de 1997. Até o ano de 2002 as
diretorias eram eleitas com mandato de 1 ano, diferentemente do ano de 2003, que
teve sua diretoria eleita com mandato de 2 anos (2003-2005).
A diretoria se encontra mensalmente para planejar e desenvolver ações de
divulgação da Rota Romântica bem como, da qualificação do material distribuído e
do serviço prestado aos turistas.
Em 19 de novembro de 1997 foi obtido o registro em cartório do primeiro
estatuto e a inscrição como pessoa jurídica da Associação nos órgãos competentes.
Sobre esta questão o presidente da Rota diz que:
“Foi elaborado uma ata de constituição no dia vinte e dois de abril de noventa e
sete. Na verdade a ata foi um ano antes mas, depois os estatutos ficaram
prontos em noventa e sete. Então pode-se considerar de fato e de direito que ela
50
foi constituída em noventa e sete, lá no município de Dois Irmãos” (informação
verbal)7.
A partir desta data a associação dos Municípios da Rota Romântica passou a
existir de fato e de direito. Atualmente, a Rota Romântica possui sede própria
localizada no município de Picada Café, na BR116 – Km 193 junto ao parque
histórico municipal Jorge Kuhn.
4.3 A ROTA ROMÂNTICA E A INOVAÇÃO SOCIAL
Tendo em vista a definição de inovação social considerada neste trabalho,
isto é, uma solução nova sendo mais eficaz, eficiente e sustentável para um
problema social. E que o valor criado seja principalmente revertido para a sociedade
como um todo (LE BER; BRANZEI, 2010), percebe-se que a Rota Romântica não
surgiu com o intuito de solucionar algum problema nos municípios, mas de acordo
com o presidente da rota ela surgiu para
“Fomentar, criar ações em conjunto entre os municípios pra divulgar e fomentar
o turismo de forma coletiva, não individual” (informação verbal)8.
Desta forma a Rota Romântica é um empreendimento turístico que gera
inovação social beneficiando todos os municípios. O secretário de turismo de Nova
Petrópolis afirma que praticamente
“Todo o trade turístico se beneficia. Desde o hotel, pousada, gastronomia, postos
de combustíveis [...]” (informação verbal)9.
E a população de forma geral também é beneficiada, uma vez que o turista
que visita a cidade acaba gerando receita para o município e este é reinvestido
através dos impostos na melhoria da infra-estrutura local. O secretário de turismo de
Gramado em relação a este aspecto exemplifica dizendo que:
“A questão dos bairros, toda esta questão do desenvolvimento dos bairros que
nós tivemos praticamente todos asfaltados ela vem da receita do turismo. Então
quer dizer, é uma questão social, a pessoa ter acesso asfaltado bem em frente a
sua casa, quer dizer, você pode vir com o mesmo calçado para trabalhar... Não
tem problema nestes acessos sem asfaltamento para as pessoas, então nós
tivemos um desenvolvimento grande nos bairros, aonde o turismo, inclusive
acaba beneficiando o armazém do bairro, a loja do bairro. Porque o garçom, a
7
Entrevista concedida à autora, em Nova Petrópolis, no dia 17 de janeiro de 2011.
Entrevista concedida à autora, em Nova Petrópolis, no dia 17 de janeiro de 2011.
9
Entrevista concedida à autora, em Nova Petrópolis, no dia 17 de janeiro de 2011.
8
51
camareira que recebe a receita no turismo ela acaba consumindo no seu bairro,
isto a gente já notou, e com isto as pessoas dos bairros começam a montar
equipamentos como lojas, restaurantes, pra buscar sim, pessoas da própria
comunidade, mas que tem receita no turismo e na questão do agro turismo, do
agro negócio no interior do município” (informação verbal)10.
Esta afirmação do secretário de turismo de Gramado deixa bem claro os
benefícios sociais que o município gera para a população, uma vez que são
realizadas melhorias na infra-estrutura, como o asfaltamento das ruas; geração de
emprego com a abertura de novos empreendimentos comerciais nos bairros e o
fomento da venda de produtos pelos colonos.
Já para o assessor do secretário de turismo de Novo Hamburgo os
beneficiados são:
“A população toda, os turistas, o comércio e a própria prefeitura, o turista que
vem pra Novo Hamburgo ele vem comprar, e ai gera renda pro comerciante,
gera impostos pra prefeitura. Pode se dizer que todo mundo sai beneficiado, os
restaurantes, os bares, enfim toda a infraestrutura turística da cidade”
(informação verbal)11.
O secretário de turismo de São Francisco de Paula também corrobora o
aspecto de que toda a população é beneficiada porque:
“[...] no momento que chega um visitante ele não vai deixar renda só para o
hoteleiro, para o pessoal do restaurante. Não, tem um posto de gasolina, tem
uma farmácia, tem um mercado e isso é uma roda, é uma engrenagem digamos
assim, porque ao mesmo tempo que o mercado e a farmácia, tá todo mundo
vendendo ele está empregando. E o cara que está empregado está levando
sustentabilidade para a sua família. Eu acredito que o turismo é uma forma de
trazer renda no geral para a cidade” (informação verbal)12.
A visão da associação sobre os beneficiários da rota também contempla os
municípios de uma forma geral, pois:
“Os grandes beneficiados são os municípios e a região como um todo também.
O estado ganha, a região ganha e as pessoas envolvidas com o trade turístico
ganham, como restaurantes, bares, hotéis, empresas de turismo. Elas tem o seu
ganho com isso e existe todo um trabalho que eu considero sempre assim, um
conjunto de ações. As vezes o retorno lá na ponta ele pode demorar um pouco,
mas ele vem. Daí talvez podemos pegar assim alguns municípios que vêem e
sentem esse retorno agora, alguns municípios vão ter uma dificuldade, vão ter
por uma questão de estrutura e vai demorar um pouco mais, mas os grandes
beneficiários são todos aqueles que tem essa proposta coletiva conosco e
acreditam no turismo como uma fonte de renda, seja ela direta ou indireta.
10
Entrevista concedida à autora, em Gramado, no dia 10 de fevereiro de 2011.
Entrevista concedida à autora, em Novo Hamburgo, no dia 02 de fevereiro de 2011.
12
Entrevista concedida à autora, em São Francisco de Paula, no dia 14 de fevereiro de 2011.
11
52
Agregar valor e serviço ao produto turístico então como é que se faz isso hoje?
Se você tem uma proposta de divulgação, você quer vender um produto e esse
produto pode atingir uma classe de setores, empresa, empresários, municípios e
instituições, ele precisa ter um foco, um caminho e esse caminho nós estamos
trilhando. É como coloquei no início, nós nunca temos essa falsa percepção que
nós estamos prontos. Nós estamos sempre evoluindo e a cada ano a gente
pretende subir alguns degraus pra atingir esse efetivo de conseguir atingir que
todos os nossos parceiros, que nós chamamos de pessoas físicas, jurídicas,
municípios, entidades, todos que TRABALHAM, até artesanato, produtos
coloniais, tudo entra nessa questão que eu estou colocando mas, que eles
tenham na ponta o seu retorno. Então é muito difícil prever numa questão assim
de turismo, de trabalhar numa região “ah, fulano que vai lá fabricar um vinho
colonial, vai vender isso na rota, vai ter um retorno amanhã”. Ele vai ter seu
retorno, mas um dia ele vai ter seu retorno de forma direta ou indireta, seja
vendendo isso para um feirante de estrada ou vai vender direto, mas ele vai
ganhar alguma coisa com esse produto turístico. Então esse é o trabalho que a
gente vem querendo fortificar” (informação verbal)13.
A rota tem como grande vantagem divulgar os municípios em escala nacional
e internacional e nesse sentido o presidente afirma que o maior beneficio da Rota
Romântica é:
“Fazer com que os municípios que não tinham nenhuma expressão, ou não
nenhuma ascensão ao turismo, eles estão hoje inseridos num cenário turístico,
se consolidou um roteiro e não um incremento de cidades que fazem a sua
promoção de forma isolada. Acho que isso foi o maior ganho e sempre divulgar
um roteiro, sempre divulga uma região, trazer esses município menor para que
eles trabalhassem um pouco o seu pátio a sua riqueza cultural e gastronômica”
(informação verbal)14.
A opinião de alguns secretários de turismo neste aspecto também se
assemelham com a idéia do presidente, pois segundo o Secretário de indústria,
comércio e turismo de Santa Maria do Herval as vantagens são:
“Várias. A gente consegue por exemplo fazer uma divulgação da região. Hoje tu
não consegue vender uma cidade sozinha, ai como tu tem uma entidade que
esta promovendo esta divulgação essa integração a nível regional facilita muito,
e hoje o grande problema é a prefeitura investir em uma coisa em termos
regionais, daí tem que ter uma entidade pra tu poder fazer isso, por exemplo, pra
fazer uma folheteria, uma sinalização a nível de região, daí a rota veio pra
proporcionar isso. A gente paga através da rota uma contribuição anual e
repassa, assim, por exemplo, participação de feiras, a gente faz a nível de
região, a nível de rota uma série de coisas aonde o município de repente
sozinho não ia ter como fazer ou até não ia conseguir bancar o custo. Tu vai
participar de uma feira grande, tu vai locar uma estande só pra ti, as vezes a
13
14
Entrevista concedida à autora, em Nova Petrópolis, no dia 17 de janeiro de 2011.
Entrevista concedida à autora, em Nova Petrópolis, no dia 17 de janeiro de 2011.
53
gente consegue locar um estande melhor, maior e melhor localizada, por um
preço bem acessível” (informação verbal)15.
Os municípios com menor tradição turística parecem vislumbrar mais as
vantagens da rota do que os municípios mais desenvolvidos turisticamente. Para o
secretário de turismo de Gramado a Rota ainda não agrega ao município por não ter
uma estrutura comercial, conforme afirmado a seguir:
“[...] estamos dentro do sistema da rota, ou como nós entendemos, e Gramado,
principalmente, a rota ainda não é um produto comercial que está nas
operadoras e agências de viagens, então o grande problema que nós, Gramado
temos com o sistema da rota ainda é turismo de carro, vindo de porto Alegre ou
de outros destinos do Brasil, que acabam subindo pela rota aproveitando a rota
romântica e fazendo paradas nas cidades, como Nova Petrópolis, desde o início
da rota, passando por Nova Petrópolis, Gramado, Canela e São Francisco, tá na
região das Hortênsias, mas ainda não existe a questão comercial. Como a
questão comercial, a partir do momento que tem um produto turístico que você
consegue estar dentro das operadoras e das agências de viagens do Brasil e do
exterior, você consegue consolidar a venda no mercado, e hoje, ainda, a rota
romântica ela depende do turismo de carro que é aquele de passagem, então
esta é a visão que nós, Gramado, ainda temos da rota romântica, não conseguiu
se consolidar um produto comercial como acontece hoje com a serra gaúcha,
Gramado e a região das Hortênsias, ela já é um produto comercial e a rota ainda
não conseguiu se transformar num produto comercial. Aí a questão do trabalho
da rota ela deveria começar a formatar pacotes dentro da rota romântica pra
distribuir nas operadoras e agências de viagens” (informação verbal)16.
O contraponto desta questão são os municípios menores que agora estão
visualizando no turismo uma forma de desenvolvimento, como é o caso de Morro
Reuter, onde o coordenador de turismo apresenta a importância da Rota Romântica
para o município e para a região:
“[...] a rota romântica, hoje na nossa região ela é fundamental para o turismo,
pois quando se pensa em turismo não tem como se pensar em turismo local,
única e exclusivamente pra atrair gente para um município. Se há vários
municípios envolvidos, por exemplo, Dois Irmãos tem o Kerb de São Miguel,
Gramado tem o Natal Luz, Nova Petrópolis outros eventos, então colocando isso
num pacote, torna-se mais atrativo e juntando tem mais opções de venda.
Juntando os treze municípios da rota romântica, junta os treze, cada qual com
seus atrativos, consegue atrair mais gente, então, fica fácil, se alguém vem pra
Nova Petrópolis e está passando aqui por um restaurante em Morro Reuter ele
vai parar. Então o papel fundamental da rota é juntar, unir estes treze municípios
e pegar o que tem de melhor em cada e botar num pacote e vender isso”
(informação verbal)17.
15
Entrevista concedida à autora, em Santa Maria do Herval, no dia 19 de janeiro de 2011.
Entrevista concedida à autora, em Gramado, no dia 10 de fevereiro de 2011.
17
Entrevista concedida à autora, em Morro Reuter, no dia 03 de fevereiro de 2011.
16
54
Outro ponto levantado pelos entrevistados foi a questão da captação de
recursos, uma vez que de forma coletiva o acesso a recursos nos órgãos públicos se
torna mais fácil, conforme afirma a secretária de educação, cultura, desporto e
turismo do município de Picada Café:
“Enquanto rota, enquanto grupo de municípios nós temos mais força também pra
conseguir recursos junto ao ministério do turismo, junto a secretaria de estado do
turismo. Então eu acho que parcerias com países como Alemanha que é a nossa
referência, que é o nosso país inspirador no projeto da rota romântica, então eu
acho que nós só ganhamos. A gente vai se inspirando, a gente vai ouvindo o
testemunho que vem investindo a muitos anos e que afirmam e que
testemunham de que realmente o turismo é hoje um grande investimento, é um
investimento que dá certo porque ele trás retorno pro município e vamos junto
com o grupo construindo” (informação verbal)18.
Apesar dos pontos positivos abordados pelos entrevistados algumas questões
inibem o funcionamento da rota, como a dificuldade de integrar os municípios e a
consolidação comercial da mesma. Sobre o primeiro aspecto o presidente da rota
diz que as dificuldades são de
“Manter os treze municípios unidos e trabalhar os municípios com mais
desenvolvimento turístico com os menores, as questões partidários políticas”
(informação verbal)19.
Isso também é afirmado pelo diretor de turismo de Estância Velha:
“A gente tem muito isso, depende o partido que entra ele muda totalmente a
relação com a rota ou o trabalho que vinha sendo desenvolvido em virtude de
coisas partidárias... A nossa rota romântica sendo uma OSCIP ela já muda os
principais cargos da direção, já não são mais cargos de pessoas públicas, são
pessoas da iniciativa privada, até é uma característica da OSCIP. Então eu acho
que isso já vai melhorar, só que a rota romântica, sem ter um apoio dos
municípios não tem razão de ser” (informação verbal)20.
Percebe-se que a entidade tem conhecimento das suas dificuldades e vem
trabalhando para sanar alguns pontos. A mudança para uma Organização da
Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP vem a contribuir com a rota uma vez
que a iniciativa privada passa a fazer parte da gestão, integrando assim outros
atores não vinculados a partidos. E outro aspecto positivo desta nova constituição
organizacional é a captação de verbas públicas, como afirma o presidente da rota
dizendo que
18
Entrevista concedida à autora, em Picada Café, no dia 25 de fevereiro de 2011.
Entrevista concedida à autora, em Nova Petrópolis, no dia 17 de janeiro de 2011.
20
Entrevista concedida à autora, em Estância Velha, no dia 21 de janeiro de 2011.
19
55
“Hoje nós como OSCIP já ganhamos uma verba parlamentar... e vamos
transformar em material promocional...” (informação verbal)21.
As ações desenvolvidas pela rota não têm uma integração com os
planejamentos desenvolvidos pelos municípios, pois os municípios ainda tendem a
encaminhar solicitações que não beneficiem o coletivo, conforme citado pelo
presidente:
“A gente faz agora nesses meses, até final de março, o planejamento para o ano
e aí esse planejamento para o ano que os municípios vão receber, aí eles
podem dizer “não, meu município gostaria de fazer isso”. Isso não entra nem em
votação porque senão eu vou ter que atender município A com uma sugestão,
município B com uma sugestão, município C com uma sugestão, então os
municípios trazerem as suas propostas devem ser propostas que beneficiem o
roteiro e isso é uma grande dificuldade porquê o município vai querer fazer o seu
pátio, então ele vai trazer “ah quero revitalizar uma praça”, então você busca
dinheiro pra nós ou vice e versa, eu preciso do apoio formal da rota... então são
ações assim que precisam ser discutidas, de forma conjunta, então normalmente
é a rota que propõe, como instituição” (informação verbal)22.
A partir da citação do presidente percebe-se que a Rota Romântica brasileira,
comparada com a Rota Romântica Alemã ainda tem muito a desenvolver no que se
refere ao pensar coletivamente, uma vez que a Rota Alemã já possui diretrizes
claras que salientam a importância do pensamento e desenvolvimento de ações
coletivas e que todos os envolvidos tem um papel fundamental no processo de
consolidação do projeto.
Mesmo com algumas divergências políticas e/ou estruturas diferenciadas os
atores envolvidos tentam contribuir com os demais membros da rota, principalmente
no aspecto de troca de conhecimentos, conforme afirmado pela assessora da
secretária de educação, cultura e desporto do município de Presidente Lucena:
“A gente sempre troca idéia, tipo ‘como é que vocês conseguiram isso’. Estância
Velha, Lindolfo Collor, eu já fui atrás até para fazer aqueles enfeites de natal. A
gente troca um com o outro, a cada qual ajuda o outro” (informação verbal).23.
A diretora de turismo de São Leopoldo reforça esta ação de trocas de
conhecimento quando diz que:
“A gente está sempre em contato. Nós temos reuniões periódicas, e quando
alguém precisa de alguma coisa grita. Me ajuda e tal. Puxa, precisaria do contato
lá, quero Fritz e Frida que seja e ligam para o pessoal de Ivoti, me dá o contato
21
Entrevista concedida à autora, em Nova Petrópolis, no dia 17 de janeiro de 2011.
Entrevista concedida à autora, em Nova Petrópolis, no dia 17 de janeiro de 2011.
23
Entrevista concedida à autora, em Presidente Lucena, no dia 09 de fevereiro de 2011.
22
56
lá queria pedir patrocínio, alguma coisa nesse sentido. A gente está sempre em
troca. O tempo todo. Nem sempre o diretor ou secretário de turismo é técnico na
área, desculpe, em outra área. Então isso também a gente troca muito. Nêmora
tu que tem..., pois sou formada em hotelaria e turismo, tenho as duas
faculdades, então as vezes poxa a gente esta com uma entrevista para dar
sobre a capacitação nova de hotéis e a Nêmora que vai, então me diz Nêmora o
que tu faz e ai vai trocando informações, o tempo todo. O tempo todo”
(informação verbal)24.
Um aspecto relevante na citação da secretária de turismo de São Leopoldo se
refere aos interesses dos atores, uma vez que o contato entre os municípios ocorre
quando alguém precisa de apoio e/ou informação para realizar determinada
atividade. Não há convergência absoluta entre as visões de cada ator sobre o
processo.
A rota, como associação, vem desempenhando um trabalho a fim de
beneficiar o grupo, como a realização de um levantamento turístico no ano de 2010,
o que contemplou além de um diagnóstico dos atrativos, atividades turísticas e infraestrutura o aspecto social e ambiental das cidades, conforme afirmação do
presidente:
“É um trabalho que está sendo iniciado, aliás foi iniciado no ano passado. Nós
vamos agora durante o ano empreender um inventário turístico em cada
município. Nós iniciamos no primeiro município para nós termos um banco de
dados atual. isso é feito de tempo em tempo. Em 2007 nós tínhamos um
levantamento assim e então hoje nós vamos atualizar ele. Então vai ser feito um
inventário turístico em cada município, onde serão também elencados essas
questões sociais. Aí entra uma outra questão, como hoje nós somos uma
OSCIP, a OSCIP tem por sua finalidade também a questão social e ambiental,
então é uma coisa que agente pretende trabalhar mais nos próximos anos com
mais foco voltado um pouco também a esta questão. No nosso material
promocional entram régua, lápis, material escolar, porque nós queremos que na
idade escolar a criança tenha essa visão de turismo, de preservação da natureza
e que ela grave o nome rota romântica. Então a gente fez todo um trabalho de
marketing, planejamento de marketing para atingir também a idade escolar.
Então são pastas, são cadernos, são réguas em grandes quantidades que nós
vamos dar nos municípios para eles distribuírem, através da secretaria da
educação, nas escolas pra atingir já esse aluno. Esse aluno quando está
entrando nessa visão um pouco mais acentuada dentro do município, pra que
ele conheça o produto da rota romântica e saiba quais são os nossos objetivos,
as nossas ações no lado social e como eu coloquei, de posse desse inventário
de cada município nós vamos ter um banco de dados eletrônico atual, com
população, economia, dificuldades, turismo, prédios históricos, o que pode se
fazer num município e aí nós vamos apontar nossas ações para os próximos dez
anos ou cinco anos” (informação verbal).25
24
25
Entrevista concedida à autora, em São Leopoldo, no dia 20 de janeiro de 2011.
Entrevista concedida à autora, em Nova Petrópolis, no dia 17 de janeiro de 2011.
57
Como se observa, a institucionalização da rota romântica se dá através da
criação de uma Oscip, um instrumento legal e formal que também tem por finalidade
cuidar de aspectos sociais, como o trabalho realizado com os alunos na entrega do
material escolar e ao mesmo tempo uma educação turística, afim de que esta
criança cresça com a consciência da importância do turismo/rota romântica para o
seu município.
Em relação aos municípios, estes, de uma forma geral, não possuem um
levantamento sobre as suas necessidades sociais, com exceção de Gramado que já
vem realizando um trabalho neste aspecto conforme apontado pelo secretário de
turismo de Gramado:
“A questão das creches hoje em Gramado é uma questão social muito grande,
nós conseguimos ter hoje creches noturnas, pra quem trabalha fim de semana,
porque que quem trabalha neste setor precisa trabalhar no fim de semana,
enquanto os outros descansam a gente trabalha [...]” (informação verbal).26
A rota romântica vem se consolidando ao longo dos anos, e repercutindo de
forma positiva para o turismo da região, apesar das dificuldades encontradas. Podese constatar que a rota romântica é um empreendimento turístico que gera inovação
social, uma vez que tendo como objetivo alavancar o turismo dos municípios, ela
“busca contribuir para a prosperidade, o entendimento e o bem estar da humanidade
através daqueles que viajam e das comunidades que os recebem, bem como do
patrimônio cultural, natural e social” (LAGE; MILONE, 2004, p. 89).
4.4 A ROTA ROMÂNTICA E A INOVAÇÃO SOCIAL TERRITORIAL
Partindo do pressuposto que a Rota Romântica é um empreendimento
turístico que gera inovação social, ela não se enquadra na definição de inovação
territorial de Moulaert et al. (2005), o qual esta tem como objetivo a satisfação das
necessidades humanas em nivel regional. O trabalho da associação em conjunto
com outras entidades proporcionam sim uma melhoria na qualidade de vida da
população dos municípios de uma forma indireta, como afirma o presidente da rota:
“Com certeza se fomos considerar que a melhor qualidade de vida é tudo, uma
educação voltada pra turismo, pra cultura, para a preservação, então nós
estamos falando diretamente de qualidade. De fazer com que o município
organize a sua área numa proposta turística, organize as estradas, estruturação
26
Entrevista concedida à autora, em Gramado, no dia 10 de fevereiro de 2011.
58
de informações de atendimento ao visitante, de pontos turísticos, de praça, de
limpeza de lixos, óbvio que isso é qualidade. Óbvio que é qualidade quando o
município ele tem que ter uma aparência, ele tem que ter uma cara. Se você faz
ele criar essa cara que antes não tinha, se você faz plantar flor num canteiro que
antes era abandonado, se você consegue fazer com que o município faça uma
revitalização de uma praça e coloque lixeiras e instrua a sua população pra usar
e fazer, então nós estamos falando de qualidade de vida. Não é apresentações
culturais e artísticas, através de eventos, são qualidade de vida que talvez antes
não eram trazidas ou eram trazidas em número menor ou esporadicamente, e
hoje por estar inserido num contexto e se auto valorizar mais é trazido essas
opções culturais, então estamos falando em qualidade de vida” (informação
verbal).27
A visão do secretário de turismo de Canela reflete também este aspecto da
melhoria na comunidade:
“Dentro da comunidade a gente percebe que o empresário, dentro deste foco
que a gente tem que entender, o empresário do turismo, que está ligado a este
tipo de associação, não só o gestor público, ele enxerga uma série de vantagens
que elas vão acabar repercutindo na comunidade, que isto é uma cadeia, que o
turismo nos traz, nos beneficia bastante nisso, que ele vai sempre distribuindo a
sua renda do turismo em toda a comunidade. Ele demora um pouco, porque é
uma cadeia que começa lá no restaurante que vai acabar fazendo uma reforma
que vai gastar numa loja de construção que o funcionário vai ter um salário um
pouco melhor, que vai gastar numa loja de roupas, então, economicamente ele
envolve toda uma comunidade, indiretamente ele tem este reflexo” (informação
verbal).28
A Rota Romântica, através de suas ações, proporciona a inovação social
territorial conforme visto nas falas acima, nos aspectos de educação, infra-estrutura,
cultura e a relação das empresas e o empresariado.
A rota se difere das demais rotas turísticas pela sua característica alemã, que
abrange cultura, gastronomia e arquitetura dos municípios e pelas belas paisagens
naturais. De acordo com o secretário de agricultura, turismo, indústria e comércio de
Dois Irmãos a rota
“Tem uma região extremamente bonita, em que a beleza da encosta da serra e
da serra gaúcha é um aspecto impar, que de fato nos distingue” (informação
verbal).29
Como se observa, um ator importante na configuração da Rota Romântica é a
própria natureza, os atrativos que oferecem os recursos naturais que instigam os
turistas a conhecer a região.
Já o assessor do secretário de turismo de Novo Hamburgo diz que:
27
Entrevista concedida à autora, em Nova Petrópolis, no dia 17 de janeiro de 2011.
Entrevista concedida à autora, em Canela, no dia 10 de fevereiro de 2011.
29
Entrevista concedida à autora, em Dois Irmãos, no dia 21 de janeiro de 2011.
28
59
“O que difere é a beleza que ela tem, os municípios que agregam ela, a cultura
que ela tem a oferecer, a história que ela tem a oferecer, e pode se dizer, a
cultura, os locais, as cidades. Acho que o que ela tem a oferecer é tudo isso ai”
(informação verbal).30
E o aspecto cultural da rota é salientado pela diretora de turismo de São
Leopoldo:
“[...] acho que primeiro a diferença da beleza natural mesmo. A primeira
identidade que ela tem comum, ela tem identidade de imigração alemã. São
Leopoldo foi berço da imigração alemã e todas as cidades que pertencem a RR
foram um dia São Leopoldo, colônia de São Leopoldo. Essa identidade comum
que é difícil de tu ver em outra região. Até tu vê imigração alemã, mas não
tantos municípios unidos numa rota tão bonita, subindo a serra, com uma beleza
natural tão bonita. Outra coisa, além dessa coisa em comum, dessa identidade
comum, a biodiversidade, nós temos morros, cachoeiras, nós temos cidades
urbanas, bem urbanas como São Leopoldo, a história fantástica. Diferente de ter
uma história tão rica, comum, como todos os municípios juntos tem. A
receptividade acho que é bem interessante, o visitante é recebido com uma
bandinha, recebido com muita comida diferente. Acho que é o diferencial que
nós temos. Mas a beleza natural, ela é realmente romântica” (informação
verbal).31
Na citação da secretária de turismo percebe-se a identidade alemã como
aspecto comum entre os atores que cria o diferencial da rota em relação a outros
projetos similares.
E para chegar a este ponto do projeto, de ser um projeto que traz benefícios
para os atores envolvidos o mesmo conta com o apoio de diversas entidades que
contribuem para o desenvolvimento das ações e crescimento da rota. O presidente
da rota diz que os parceiros são:
“Secretaria de Turismo do Estado, universidades, ainda o trade turístico, constituído
dentro de entidades governamentais ou sejam, por meio de operadoras, se falar
assim do turismo como um todo ele é nosso parceiro. Nós tivemos uma ação a dois
anos atrás com a Fecomércio, onde ela lançou um folder, rota e roteiros, então
existem sempre ações que a gente vai ampliando, a gente tenta sempre ampliar pra
outros setores. Nós sempre buscamos mais parceiros pra fortificar o nosso produto,
mas também tem uma linha assim, a gente tem que seguir uma linha de trabalho e
dentro desta linha de trabalho existem pessoas que podem somar e aí nós
buscamos essas” (informação verbal).32
Percebe-se a importância das parcerias, como as secretarias de turismo,
universidades, iniciativa privada, entidades governamentais entre outros que apóiam
30
Entrevista concedida à autora, em Novo Hamburgo, no dia 02 de fevereiro de 2011.
Entrevista concedida à autora, em São Leopoldo, no dia 20 de janeiro de 2011.
32
Entrevista concedida à autora, em Nova Petrópolis, no dia 17 de janeiro de 2011.
31
60
tanto financeiramente como através de ações especificas são fundamentais para o
crescimento e consolidação da rota.
E no âmbito de cada município também há parceiros que auxiliam nas ações
da rota, conforme afirmado pela diretora de turismo de São Leopoldo:
“Aqui em São Leopoldo nós tínhamos um associado, São Leopoldo não aderiu
muito ainda, um associado que era Vida Bela Turismo. Ela foi para Novo
Hamburgo e agora não é mais de São Leopoldo. Mas, sempre que a gente
precisa alguma coisa, sempre nos auxiliaram, ACIS, Pólo Gastronômico, eles
não são associados, mas eles sempre apóiam. são parceiros e apóiam. A
própria autorquia do SENAI apóia bastante. Então, o pessoal vê a importância
da rota romântica” (informação verbal).33
Os resultados gerados pela Rota Romântica não são completamente
tangíveis para os municípios, apesar de valorizarem as ações desenvolvidas pela
rota a fim de que o fluxo de turistas seja cada vez maior. O coordenador de turismo
de Morro Reuter afirma que:
“O município, ele sobrevive através das empresas que tem geração de impostos
e tal. E quanto mais serviços, mais restaurantes mais gente gastar o dinheiro
aqui melhor. E a rota tem esse papel de trazer gente e, mesmo embora a rota
não ganhando, a rota como instituição, com a vinda, os municípios ganham e é
feito um repasse anual que eu não saberia agora precisar de quanto seria
porque é variável conforme o orçamento e tal. Os municípios repassam pra
campanhas publicitárias e vinda de outros eventos e tal” (informação verbal).34
Aqui um aspecto importante se refere não necessariamente aos ganhos
econômicos, mas a ganhos de outra ordem, a outro tipo de valor, como a divulgação
dos municípios para atrair os turistas.
E o secretário de indústria, comércio e turismo de Santa Maria do Herval
também aponta os aspectos que a rota beneficia na localidade conforme
mencionado abaixo:
“[...] Essa visão de que o turismo aqui vai tem futuro, baseado em cima da
divulgação que tem sido feita pela rota, hoje nós temos restaurantes que antes
não havia, apesar de serem ainda familiares e não gerarem tanto emprego. Mas
se tu voltares dez anos atrás não existiam. Temos duas agencias de turismo, de
transporte, apesar de que elas não só fazem a parte de turismo, elas fazem
transporte urbano também, mas se tu voltares a dez anos atrás não existia. Quer
dizer que esse projeto ao longo desses doze anos que Santa Maria do Herval
esta fazendo parte trouxe algumas vantagens, pleitos junto ao estado pra
conclusão desta rodovia até aqui... Esse hotel fazenda que está sendo
implantado, ele vai levar de um a dois anos até ficar pronto, mas já em função da
33
34
Entrevista concedida à autora, em São Leopoldo, no dia 20 de janeiro de 2011.
Entrevista concedida à autora, em Morro Reuter, no dia 03 de fevereiro de 2011.
61
conclusão da rodovia, tu vê uma série de projetos novos e que vão movimentar
muito a economia do município futuramente. Com certeza vão gerar emprego,
vão gerar um retorno considerável, sem falar a questão do turismo rural. Nossa
vocação é mais pro turismo ecológico e rural. Hoje tem muita gente investindo na
agricultura orgânica, já pensando nessa questão do turismo, de vender pro
turista que é o publico diferenciado que compra esse produto um pouco mais
caro, mas que é sem agrotóxico, que é mais natural e mais indicado pra saúde”
(informação verbal).35
Mesmo com o incentivo das ações conjuntas os municípios mantêm sua
autonomia de trabalho, como a utilização do logotipo Rota Romântica. Não há
nenhuma punição caso não seja colocado nos materiais de divulgação, porém é
trabalhado os ganhos que esta pequena ação proporciona a todos. O secretário de
turismo de Nova Petrópolis, comenta que:
“Pelo tipo de parceria que nós temos é padrão em todo o material que nós
publicamos nós colocamos essa logomarca da RR também. Mas digamos, nós
temos essa autonomia, se nós quisermos colocar nós colocamos, se não
quisermos, nós não colocamos. Mas hoje por definição, por padrão em relação a
parceria que nós temos todos os materiais saem com a logomarca da rota”
(informação verbal).36
Já a assessora de turismo de Ivoti comenta sobre a divulgação coletiva da rota:
“Quando a gente participa fora a gente leva material do roteiro, que contempla
todos os municípios, mas a gente não leva, por exemplo, especifico de Novo
Hamburgo, Dois Irmãos, etc. A gente leva material de Ivoti e o material da RR
onde todos os municípios estão inseridos. Desta forma que a gente forma a
parceria” (informação verbal)37.
As ações desenvolvidas bem como os resultados da rota são comunicadas
para os associados através das reuniões mensais, envio de atas por e-mails e para
a comunidade através da mídia em geral, de forma espontânea. O presidente da
Rota, comenta sobre a reunião do conselho e dos municípios, dizendo que:
“É um conselho diretor formado por seis pessoas eleitas hoje pela iniciativa
privada e pelo poder público a cada quatro anos. Além do conselho diretor são
feitas reuniões, por exemplo, o conselho tem uma reunião, em estatuto o
conselho tem uma reunião mensal, que podem ser duas, três, conforme
necessidade, mas é uma reunião mensal e a cada três meses a gente faz uma
reunião com o secretário de turismo. A gente chama assim de seminário. A
gente vai chamando eles pra difundir as idéias, cada reunião é lavrada uma ata
e se faz um relatório e é enviado para os municípios, então amanhã nós vamos
ter uma reunião do conselho e se gera uma ata e gera um relatório que emitido
aos municípios para eles acompanharem as decisões tomadas e aí de tempo em
35
Entrevista concedida à autora, em Santa Maria do Herval, no dia 19 de janeiro de 2011.
Entrevista concedida à autora, em Nova Petrópolis, no dia 17 de janeiro de 2011.
37
Entrevista concedida à autora, em Ivoti, no dia 18 de janeiro de 2011.
36
62
tempo, pelo estatuto são três meses, às vezes pode ser seis, dois, a gente
chama os secretários pra discutir as ações” (informação verbal).38
O diretor de turismo de Estância Velha comenta sobre a comunicação da rota
com os municípios e acrescenta o aspecto da comunicação com o público através
de materiais. Ele afirma que:
“É pelas reuniões. Nessa reunião mesmo pra essa viagem que nós fizemos teve
um rapaz que trabalha no ministério do turismo, ele esteve visitando junto a
Alemanha e através dele agora já se conseguiu uma verba, se pleiteou com ele
e foi liberada agora. Então vai ser feito toda uma folheteria, vai ser feito todo um
material de divulgação com patrocínio do ministério do turismo, da rota romântica
e essa folheteira, esses materiais de divulgação vão ser disponibilizado também
pros municípios e isso vai ser, por exemplo, divulgado a rota também nas
demais regiões do estado. Então são este tipo de ações assim, nas reuniões,
nos fórum de turismo que isso se divulga e as ações se passa pra população via
jornal também” (informação verbal).39
O coordenador do departamento de turismo de Morro Reuter reforça o
aspecto do uso das mídias na divulgação para a população das ações da rota
afirmando que:
“Inicialmente são feitas reuniões onde todos os municípios da rota se reúnem,
fazendo um almoço, janta, uma reunião onde são feitos os informativos, e na
medida do possível isso é repassado pra imprensa, tem em especial o Jornal
Diário, e dos 15 municípios de abrangência do jornal, 13 pertencem a rota
romântica, então é um meio de comunicação importante de disseminação do que
a rota tá fazendo” (informação verbal).40
Apesar da Rota Romântica não ter surgido com a finalidade de satisfazer
alguma necessidade humana regional, mas que através do turismo acaba
atendendo este quesito, alguns aspectos da rota poderiam então ser enquadrados
nos recursos de inovação social territorial proposto no conceito da autora, como:
• núcleo da dinâmica de inovação: o núcleo da inovação é a própria
Associação da Rota Romântica, uma vez que ela é a fomentadora das
ações que trarão os benefícios para os municípios;
• papel das instituições: com a parceria com instituições públicas e privadas,
como ministério do turismo, secretaria estadual do turismo, entidades
locais como associações comerciais, entre outros a Rota Romântica
consegue inovar socialmente;
38
Entrevista concedida à autora, em Nova Petrópolis, no dia 17 de janeiro de 2011.
Entrevista concedida à autora, em Estância Velha, no dia 21 de janeiro de 2011.
40
Entrevista concedida à autora, em Morro Reuter, no dia 03 de fevereiro de 2011.
39
63
• desenvolvimento regional: a Rota Romântica não tem como trabalhar
sozinha, por isso é necessário a atuação de vários atores, como os
próprios municípios, o trade turístico, os estabelecimentos locais e diversas
instituições;
• cultura: a cultura predominante é de fortalecer as relações entre a
associação e os municípios e entre os próprios municípios, uma vez que o
trabalho coletivo beneficiará o grupo;
• tipo de relação entre os agentes: Os laços entre a associação e os
municípios não são igualitários. Existe municípios que estão mais
participativos dentro do projeto e outros menos. Este fato ocorre devido a
questões políticas e ao próprio nível de desenvolvimento turístico que o
município se encontra. Este quesito é um desafio para a atual gestão, que
é de integrar cada vez mais o grupo;
• tipo de relação com o ambiente: a Rota Romântica não tem a noção clara
ainda das questões sociais a serem trabalhadas nos municípios. De forma
indireta, com o fomento do turismo local, algumas questões acabam sendo
sanadas, como geração de empregos, geração de receitas e melhoria na
infra-estrutura local.
A rota ainda tem um longo trabalho a desenvolver nos aspectos sociais dos
municípios, porém eles estão se articulando a cada ano para que o turismo nos treze
municípios ocorra de uma forma organizada, sistemática e profissionalizada
implicando em aspectos positivos para a população de cada localidade.
4.5 A ROTA ROMÂNTICA COMO CONSTRUÇÃO SOCIAL
Baseado na teoria de Humphreys (2005) a construção social envolve quatros
aspectos, que são os grupos sociais relevantes, a flexibilidade interpretativa, o
encerramento e a estabilização. Em relação à Rota Romântica pode-se dizer que os
grupos sociais relevantes abrange os municípios. Em relação ao artefato, este é o
mesmo para todos os grupos, ou seja, é a própria Rota Romântica. Porém, os
diversos atores que a compõem possuem visões diferentes (flexibilidades
interpretativas) sobre o mesmo.
64
Estas diferentes interpretações ocorrem devido ao grau de desenvolvimento
em que determinados municípios se encontram no turismo, como, por exemplo,
Nova Petrópolis, Gramado, Canela e São Francisco de Paula que estão num estágio
mais avançado do que os demais e desta forma não conseguem perceber tão
densamente os benefícios da rota para suas localidades. A visão do secretário de
turismo de Nova Petrópolis sobre esta questão é de que:
“[...] falta uma unanimidade digamos assim. Que nem Nova Petrópolis, Gramado,
Canela e São Francisco são municípios que fazem parte da RR agora que se tu for
conversar com Gramado e Canela tu vai ver que eles não dão muita importância
para a RR, entendeu? Porque eles já estão consolidados no mercado, eles não
dependem da RR para absolutamente nada. Então isso é uma dificuldade que eles
estão enfrentando, inclusive agora” (informação verbal).41
Já o município de Picada Café faz o contraponto do entendimento da Rota ao
dizer que:
“Integrar a rota romântica na nossa concessão vem a contribuir no sentido de
investir mais nas questões do turismo, então é uma forma de municípios que tem
o perfil em comum, porque a rota é constituída de treze municípios muitos
pequenos, como também como municípios de ponta, como Gramado e Canela,
então isso agrega, isso nos traz experiência de quem já vem investindo a muitos,
a muitos anos, a décadas no turismo. E também nos faz partilhar anseios,
angustias e da mesma forma as ações entre os municípios pequenos. Então a
gente se aproxima, e uma vez que a gente vive as mesmas dificuldades, temos
os mesmos desejos, mas em função de que a gente sempre esbarra na questão
financeira, se tu vais olhar os municípios pequenos o orçamento não tem
destinado muito recurso pro turismo e sempre é um valor ínfimo e aí a gente
consegue compartilhar. E rota o que ela faz, ela vêm agregar porque daí ela
sistematiza as produções, eles pensam conosco, independente de ser um
município de grande porte ou município que vem investindo pouco em turism.
Então ela é um pensar coletivo, então nós pensamos e elaboramos e
desenvolvemos as estratégias de forma coletiva” (informação verbal).42
Em relação à etapa do encerramento, ou seja, o significado atribuído pelos
diferentes grupos sociais relevantes a um artefato pode-se dizer que os grupos ainda não
tem um significado único do que a Rota significa para todos os municípios, desta forma
pode-se inferir que esta etapa do encerramento ainda não foi concluída.
Embora haja, evidentemente, flexibilidade interpretativa com relação à forma
como cada ator considera o objeto (a RR), é possível afirmar-se que a Rota
Romântica ainda é um objeto em formação. Apesar dessa afirmação parecer
contraditória, pois há uma rota – a estrada – e há uma relação dos municípios com
41
42
Entrevista concedida à autora, em Nova Petrópolis, no dia 17 de janeiro de 2011.
Entrevista concedida à autora, em Picada Café, no dia 25 de fevereiro de 2011.
65
essa estrada, o projeto ainda está em desenvolvimento e ainda longe de sua total
consolidação. A Oscip criada, institucionalizando as ações da rota, indica um
caminho rumo ao encerramento das controvérsias e futura estabilização da rota.
4.6 A ROTA ROMÂNTICA VISTA SEGUNDO A TEORIA ATOR-REDE
A Teoria Ator-Rede procura entender como os atores e organizações,
formados por pedaços do tecido social, do técnico e do textual, são montados em
conjuntos e convertidos num produto científico, que apesar de possuir partes
heterogêneas, se assemelha a um único e compacto objeto (LAW, 1992). A Rota
Romântica inicialmente parece ser apenas uma estrada que interliga vários
municípios ao longo dos seus mais de 100km de extensão, porém ela é o elo de
uma extensa rede, composta por atores e por objetos duráveis que representam o
resultado de um projeto para unir o maior número de municípios com forte influência
da cultura alemã no Rio Grande do Sul em torno de um objetivo comum.
Cita-se como sendo os atores da rota os municípios (através de suas
representações legais), a população, a associação da Rota Romântica, o trade
turístico, as entidades, as universidades, as instituições públicas, a estrada, as
centrais de informações turísticas, o plátano e outras rotas que influenciaram e
influenciam o projeto e a gestão. O quadro 7 apresenta os principais atores e suas
funções dentro da Rota.
Quadro 7 – Atores e suas funções na Rota Romântica
Ator
Função
Municípios
Gestores municipais que desenvolvem o turismo
local e que fomentam o desenvolvimento
econômico e social das localidades.
População
Agentes que trabalham no turismo local e
sofrem a ação dos benefícios econômicos e
sociais da rota
Associação Rota Romântica
Gestora e articuladora da Rota
Trade turístico
Agentes inseridos nos municípios que
participam do fenômeno turístico, como
restaurantes, hotéis, empreendimentos de lazer,
entre outros.
Centrais de Informações Turísticas
Orientar os turistas quanto aos atrativos dos
municípios e infra-estrutura turística
Entidades
Incentivadora de ações
Universidades
Geram
conhecimento para melhoria e
desenvolvimento das ações da rota
Instituições Públicas
Provedora de recursos
Outras rotas turísticas
Modelo de gestão
Estrada
Elo de ligação entre os municípios
Fonte: Elaborado pela autora
66
De uma forma ou de outra estes atores se unem, uns mais e outros menos,
para que a Rota Romântica possa se consolidar cada vez mais no mercado nacional
e internacional. E para que tal ação se concretize o papel de liderança fica
direcionado ao presidente da rota, uma vez que no grupo não se destacou
naturalmente uma pessoa que pudesse entrar em contato com os municípios para
incentivar a participação das reuniões e ações da rota. A assessora de turismo de
Ivoti reforça este aspecto que somente a presidência faz um contato com os
municípios ao dizer que:
“Não tem ninguém especificamente que não seja a secretária do próprio roteiro
ou ele mesmo (presidente). É a própria diretoria que liga e faz os contatos e tal,
que movimenta. Um município em especial que lidere de alguma forma eu não
vejo” (informação verbal).43
Apesar de não haver uma liderança informal no grupo, parece que os
municípios seguem as melhores práticas/ações dos parceiros, como sustenta a
diretora de turismo de São Leopoldo quando afirma que:
“Não tem um tipo que sobressaia mais. Existe uma troca. São Leopoldo fez isso,
vou dar um exemplo. Quando a gente fez a central de informações RR depois
outros municípios fizeram as suas centrais também. Logo Novo Hamburgo fez
na praça depois Ivoti fez. E isso acontece de outra forma também, de outras
coisas também, alguém faz um material diferente, poxa este material. Mas não
que um se sobressaia que o outro seja mais líder, que um puxe mais a frente do
que o outro. Existem municípios que tão mais avançados no turismo [...]”
(informação verbal).44
Em relação aos símbolos que representam a rota pode-se citar a cultura
alemã, o estilo arquitetônico dos municípios, a gastronomia e o plátano, que é a
árvore símbolo da Rota Romântica e sua folha, transformada em selo-logomarca
que identifica o potencial turístico da região.
O secretário de turismo de Gramado afirma que o símbolo da rota são
“Os plátanos, a rota romântica pra mim é os plátanos, é a nossa questão da
nossa construção típica da região européia, mais focada no estilo germânico,
então, quer dizer, isso eu acho que pra mim é o símbolo da rota” (informação
verbal).45
Em relação ao símbolo da rota, o presidente diz que:
43
Entrevista concedida à autora, em Ivoti, no dia 18 de janeiro de 2011.
Entrevista concedida à autora, em São Leopoldo, no dia 20 de janeiro de 2011.
45
Entrevista concedida à autora, em Gramado, no dia 10 de fevereiro de 2011.
44
67
“Os plátanos que eu lembro agora. As pessoas não entendem que os plátanos
não caíram ali, os plátanos foram plantados há nove anos atrás e foi uma ação
se me lembro bem, foi na minha época ainda, foi uma ação pra gente fazer uma
sinalização natural e a nossa proposta é, você segue os plátanos então você
está na rota. E o plátano era uma árvore européia, que tem aquela
transformação no inverno, por exemplo, as folhas caem, ficam coloridas então
remetia ao lado romantismo e coisa agora nós vamos fazer uma outra ação que
é colocar liquitamber no meio, porque o liquitamber é popularmente chamado
plátano canadense e ele já tem uma outra coloração, mais avermelhada, então
se nós fizermos essa ação agora pra copa, ele vai ter três, quatro metros, então
ele ta bonito. Então são ações que a gente vai implantar agora ao longo de dois
mil e onze. Tudo que nós fizemos no início até hoje ajudou a consolidar o roteiro”
(informação verbal).46
Como se observa, a utilização dos principais conceitos avançados pela Teoria
Ator-Rede permite considerar alguns elementos que ressaltam na composição da
Rota Romântica. Ela não é composta apenas de asfalto, ela se impregna de
significados, ela se sustenta pela ação de alguns agentes – pessoas físicas e
jurídicas – e também de objetos e de mensagens explícitas e implícitas.
4.7 UMA ANÁLISE FINAL SOBRE A ROTA ROMÂNTICA
Uma rota turística pode ser considerada como um caminho que delimita o
território onde a população constrói sua identidade com base em características
comuns em termos de paisagens, história, composição étnica, cultura e economia,
mobilizando a população para desenvolver o turismo com o objetivo de melhoria de
qualidade de vida da região (AUOZANI, 2005).
A Rota Romântica surge como uma solução para os municípios que a
integram, uma vez que o trabalho coletivo através do turismo gerou resultados
sociais nas comunidades, como visto nos comentários dos secretários de turismo.
Ela não surgiu de um problema social como aponta a teoria (LE BER; BRANZEI,
2010) para explicar o que é a inovação social, porém classificar a Rota Romântica
como uma inovação social não leva em conta os objetivos iniciais mas, sim, os
resultados obtidos ao longo da implantação. Ou seja, embora, evidentemente,
estivessem embutidos aspectos sociais nas primeiras deliberações, o interesse
primário era o desenvolvimento do turismo.
46
Entrevista concedida à autora, em Nova Petrópolis, no dia 17 de janeiro de 2011.
68
Em outras palavras: a Rota Romântica não é uma inovação social, mas sim
um empreendimento turístico que gerou algumas inovações sociais que melhoraram
a qualidade de vida da população (POL; VILLE, 2009).
Os ganhos da inovação social devem ser revertidos para a comunidade. A
inovação social tende a criar valor para a sociedade, uma vez que é caracterizada
como sendo uma solução nova para um problema social, que é mais efetiva,
eficiente e sustentável que as soluções existentes, e pela qual o valor criado é
revertido para a sociedade como um todo, em vez de interesses próprios (CENTER
FOR SOCIAL INNOVATION, 2010) e neste sentido a Rota Romântica beneficia tanto
aqueles ligados ao trade turístico como a população de um modo geral, pois para
cada emprego formal gerado pelas empresas ligadas diretamente ao turismo, criamse novos trabalhos no mercado informal. Os recursos gerados pelo turista circulam a
partir dos gastos praticados nos hotéis, nos restaurantes, nos bares, nas áreas de
diversões e entretenimento, enfim, todo comércio local é beneficiado.
Outro aspecto teórico sobre a inovação é a participação e a cooperação de
diferentes atores neste processo (CLOUTIER, 2003). Em relação a Rota Romântica
ela já possui em sua essência a questão do trabalho cooperado, tendo em vista que
o objetivo inicial da rota era trabalhar o turismo de forma coletiva. Para isso ocorrer
era necessário fundamentalmente a cooperação dos treze municípios somados à
articulação da presidência da rota. Além disso, outras entidades apoiaram e ainda
apóiam a rota, seja de forma financeira ou de outras que visem auxiliar o
desenvolvimento
da
mesma.
Pode-se
citar
a
participação
de
entidades
governamentais como Ministério do Turismo, Secretaria do Turismo, Fecomércio e
universidades. Em nível municipal as associações comerciais e entidades locais dão
um suporte nas ações dos municípios.
A partir dos modelos propostos de inovação territorial (MOULAERT; SEKIA,
2003) verificou-se que a Rota Romântica se enquadra no modelo de inovação social
territorial proposto pela pesquisadora. Este modelo propõe inicialmente que o núcleo
da dinâmica de inovação ocorra através da capacidade das instituições públicas ou
privadas de inovar socialmente através da relação com outros agentes. E a Rota
Romântica é uma instituição que articula suas atividades com a iniciativa privada e
pública, por estar constituída como uma OSCIP, além de contar com diversos
parceiros para desenvolver as ações que resultarão em melhorias sociais para as
comunidades que integram a rota.
69
Pode-se considerar a Rota Romântica uma instituição que, através do
fomento do turismo, proporciona melhor qualidade de vida para a população. Ela
visa desenvolver os municípios economicamente, como o exemplo de Santa Maria
do Herval, que em decorrência da participação na rota empresários passaram a
investir na cidade. Atualmente está sendo construído uma pousada na cidade e isso
gerará impostos e contratação de pessoas da comunidade. E socialmente, como
Gramado que melhorou a infra-estrutura local dos bairros, através do asfalto das
ruas e da criação de creches noturnas, afim de que os pais pudessem deixar seus
filhos para trabalhar nos empreendimentos relacionados ao turismo.
Num modelo de inovação social territorial proposta pela pesquisadora a
cultura predominante é a cultura de rede. Na Rota Romântica acredita-se que esta
cultura ainda está em fase de consolidação, pois alguns aspectos mostram pontos
positivos do trabalho cooperado, como a questão dos municípios apesarem de terem
partidos diferentes, estruturas diferentes, parecem estar dispostos a contribuir com
todos os municípios integrantes da rota, principalmente em questão de aprendizado.
Em compensação, alguns aspectos precisam ser aprimorados, como a falta de
integração entre o planejamento das ações dos municípios com a associação da
rota romântica. O que atualmente ocorre é que a rota define um planejamento
estratégico para o ano e apresenta para os municípios aprovarem e/ou fazerem suas
considerações. Falta neste quesito a construção compartilhada por todos os atores
envolvidos.
A
Rota
Romântica
como
construção
social
contempla
os
quatros
componentes propostos pela teoria (HUMPHREYS, 2005). Os grupos sociais
relevantes e a flexibilidade interpretativa são aspectos que foram identificados na
pesquisa realizada, enquanto que o fechamento e a estabilização ainda estão em
fase de consolidação.
Analisando a rota baseado na teoria-ator-rede (LAW, 1992) percebe-se a
importância dos símbolos e aspectos intangíveis no processo de construção e
consolidação da Rota Romântica. As belas paisagens naturais e a característica
alemã, que inclui cultura, gastronomia e arquitetura dos municípios é o que
diferencia a rota de outros projetos similares. Já a folha do plátano é o símbolo que
melhor representa a rota, sendo destacado por todos os entrevistados durante a
pesquisa. A folha está presente em todos os materiais de divulgação além de ser um
aspecto paisagístico que embeleza a estrada que interliga os municípios.
70
Outro ponto na teoria (LATOUR, 2000) se refere à interpretação dada pelos
construtores de fatos aos seus interesses e aos das pessoas que eles alistam. Na
rota não há uma unanimidade nos motivos dos municípios integrarem este tipo de
proposta. Para alguns é apenas um marca que é utilizado como mais um atrativo ou
forma de divulgação enquanto outros já acreditam que a rota une esforços, seja para
trocar idéias, potencializar ações ou conseguir recursos afim de desenvolver o
turismo local. Apesar das divergências de entendimento e de as vezes algum
município tentar direcionar alguma vantagem para a sua comunidade a presidência
da rota não permite o avanço destas ações, tendo em vista que a rota é criada para
desenvolver ações coletivas. Falta nos municípios e na própria associação ter a
visão de que a rota tem o papel de desenvolver economicamente e socialmente as
localidades, através do fomento do turismo de forma mais coletiva. Talvez este
último ponto se justifique pela dificuldade da rota em integrar o grupo, tendo em vista
que muitas vezes a questão partidária acaba atrapalhando o desempenho de
determinado município no projeto, o que não condiz com o aspecto teórico da
problematização da TAR, que diz que é necessário determinar um conjunto de
atores e definir suas identidades, de tal forma a estabelecer o ponto de passagem
obrigatório na relação que está sendo construída na rede.
Enfim, falta o estabelecimento, coordenação e consolidação de roteiros
turísticos, talvez isto não ocorra por não existir uma liderança fora da diretoria que
instigue o grupo a participar ou desenvolver as ações propostas pela rota
(mobilização de aliados).
Em resumo, uma análise sobre o caso mostra que diversos aspectos
apresentados na teoria são apropriados na sua aplicação sobre a Rota Romântica. A
rota se constitui então num empreendimento turístico que gera inovação social
porque melhorou e continua melhorando a qualidade de vida das pessoas,
economicamente e socialmente, que habitam os municípios integrantes desta
proposta.
71
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inovação social é uma temática embrionária nas pesquisas acadêmicas
brasileiras, mas de extrema relevância, tendo em vista que ela busca apresentar
soluções para melhorar a qualidade de vida da população. E para que isso ocorra, é
necessária a participação e a cooperação de vários atores para a geração de
soluções sociais que permaneçam nas comunidades ou na sociedade de uma forma
geral.
Desta forma esta pesquisa contribui para buscar o aprofundamento neste
tema, bem como propor um novo conceito nesta área, a inovação social territorial.
Buscou-se também analisar de que forma os diferentes atores integrantes de
uma rota turística estabeleceram suas estratégias, desenvolveram suas ações e
interagiram para gerar a inovação social, tornando esta pesquisa relevante, pois
possibilitou verificar como o turismo, através de um trabalho coletivo dos municípios,
organizado e sistematizado pela Associação Rota Romântica motivaram melhorias
para as comunidades, seja através da geração de renda, empregos e outros fatores
sociais. A pesquisa constatou que a Rota Romântica não é uma inovação social por
si só, e sim um empreendimento turístico que acarretou na sua execução e
operação, inovações sociais que beneficiaram as comunidades.
O ponto de surgimento da Rota Romântica Gaúcha foi a Romântica Alemã,
que já por possuir mais de 50 anos apresenta alguns aspectos que devem ser
seguidos pela rota brasileira a fim de que esta se consolide mais no mercado
turístico e consequentemente gere mais benefícios para as localidades, como o
envolvimento mais sistemático das comunidades, dos hotéis, restaurantes, comércio
e dirigentes da associação da rota para discutirem os rumos da mesma. Notou-se
que a questão partidária das autoridades municipais é um entrave ao
desenvolvimento da Rota Romântica e deve haver mecanismos para superá-lo.
Um aspecto similar entre as rotas é o reconhecimento do turismo como
importante fator econômico e promotor do bem-estar e qualidade de vida nas
localidades que dela fazem parte. Ambas desenvolvem ações para divulgar os
municípios e desta forma geram fluxo turístico.
Através da pesquisa percebeu-se que com o turismo coletivo, fomentado pela
Associação da Rota Romântica, alguns benefícios sociais foram gerados em
determinadas comunidades, como a melhoria da infra-estrutura – asfalto em bairros
72
populares, criação de creches noturnas a fim de que os pais possam trabalhar nas
organizações voltadas ao turismo; investimento privado local, como o surgimento de
comércio, restaurantes e hotéis que empregam a mão-de-obra local; incentivo aos
produtores rurais para que vendam aos turistas os seus produtos coloniais como
geléias e cucas e ações em escolas para que as crianças cresçam valorizando o
turismo na sua cidade e recebam bem o turista. Apesar de se ter conseguido
verificar alguns aspectos sociais percebeu-se uma grande dificuldade dos gestores
públicos em elencar os resultados do trabalho, tanto da Rota Romântica como da
própria ação da secretaria de turismo, no que se refere às ações para melhorar a
qualidade de vida da população local. As secretarias desconhecem se há algum
estudo sobre as necessidade sociais dos municípios e tampouco há algum tipo de
articulação entre outras secretarias. Como o turismo é um campo que integra outros
setores da economia é fundamental que aja um trabalho integrado entre estes
atores.
Percebeu-se ao longo da pesquisa que o grau de interação dos municípios
com a Rota Romântico é desigual. Os municípios com menor tradição turística
tendem a integrar e participar mais das ações da Rota Romântica do que aqueles
que já possuem uma consolidação maior no âmbito turístico. Apesar deste fato
verificou-se que a nova diretoria da Rota está trabalhando para reverter esta
questão, se reunindo com todos os secretários de forma individual afim de integrálos mais ao projeto. E outro ponto detectado foi o não envolvimento das ações locais
com as ações da Rota, ou seja, cada ator desenvolve o seu planejamento, não
tendo uma articulação integrada. A Rota Romântica Alemã poderia servir de modelo
uma vez que eles estabeleceram em conjunto as diretrizes da rota.
Ressalta-se que por ter se utilizado de uma metodologia de estudo de caso os
resultados não devem ser considerados uma representação para outros tipos de
rotas ou empreendimentos turísticos.
O tema não foi integralmente exaurido nesse estudo, tendo como sugestão
para futuras pesquisas a investigação sobre outras rotas turísticas, a fim de
identificar se estas são inovações sociais ou apenas geradoras de inovação social
como o objeto deste estudo. Ou ainda realizar uma investigação com a população
participante e atingida pela inovação social determinada sobre a percepção destes
sobre os benefícios sociais que são gerados por empreendimentos turísticos que
geram inovação social e ainda, se na Rota Romântica alemã, que serviu de base
73
para a analisada neste trabalho, os impactos no desenvolvimento local para a
melhoria da qualidade de vida das pessoas através de novos serviços ou processos
públicos, o que evidencia a existência de inovação social, foram os mesmos aqui
identificados.
Enfim, a Rota Romântico tem o desafio de fomentar cada vez mais o turismo
nas localidades, através de um trabalho conjunto de diversos atores como iniciativa
pública, privada e organizações não governamentais, que unidos poderão mudar
cenários não desejados pela humanidade, através da geração de inovações sociais,
que resultarão em melhor qualidade de vida para a população.
74
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78
APÊNDICE A – Roteiro de entrevista com a Associação Rota Romântica
Bloco 1 – Caracterização da entidade
1.
Como você descreve (caracteriza, define) a Rota Romântica?
2.
Como surgiu a RR?
3.
Qual o objetivo da criação da RR?
4.
Quais foram os critérios para escolher as cidades que integrariam a rota na
época do lançamento?
5.
Quais eram as principais pessoas, municípios, empresas e associações
envolvidos na formação da rota?
6.
Quais são as cidades que fazem parte da RR atualmente? Como foram
integrados esses municípios?
7.
Quais são as ações desenvolvidas pela associação da RR?
8.
Como se sustenta a RR (orçamento, mensalidade)
Bloco 2 – A Rota Romântica como inovação social
1.
Quais as principais vantagens e desvantagens que trouxe a RR para a região?
2.
Que levantamentos sobre necessidades sociais foram realizados junto aos
municípios?
3.
De que forma a RR contribuiu para os municípios integrantes?
Bloco 3 – Ganhos para comunidade oriundos da Rota Romântica
1.
Quem são os beneficiários da RR? (Municípios, cidadãos, empresas,
associações)
2.
Que carências sociais foram atendidas pela RR?
3.
Como são desenvolvidos novos projetos da RR?
4.
Quais as repercussões sociais da RR?
Bloco 4 - Interação entre os agentes da Rota Romântica
1. Há troca de conhecimento e de experiências entre os municípios da RR?
2. Em que momento esta troca de conhecimento é compartilhada entre os
municípios?
3. Como é a interação entre os municípios da RR?
79
Bloco 5 - A Rota Romântica como inovação social territorial
1. O que a RR difere das demais rotas turísticas?
Bloco 6 - Os agentes da Rota Romântica envolvidos no processo de inovação
social
1. Quais eram as principais pessoas, municípios, empresas e associações
envolvidos na formação da rota?
2. De que forma os resultados da RR são disseminados entre os envolvidos?
Bloco 7 - A Rota Romântica como fomentadora da inovação social territorial
1. De que forma outras entidades, instituições, órgãos públicos contribuem para a
RR?
Bloco 8 - A cultura predominante na Rota Romântica
1. Como é gerenciada a RR?
2. Como é feita a escolha dos responsáveis pela gestão da RR?
3. Como é o tratamento entre os associados da RR?
4. Qual é a autonomia do município em realizar determinadas ações?
Bloco 9 – O que a Rota Romântica gerou em relação aos aspectos econômicos
e sociais
1. A RR proporciona melhor qualidade de vida para a população dos municípios,
podendo ser de forma direta e indireta?
2. Caso afirmativo, de que forma isso ocorre?
Bloco 10 - A capacidade da Rota Romântica em modificar o ambiente
1. A RR contribui de alguma forma para o desenvolvimento econômico e social dos
municípios? Como?
Bloco 11 - Relação dos atores da Rota Romântica com os materiais tangíveis
e intangíveis
1. Existe algo que represente a RR em relação à imagem/símbolo?
2. Caso afirmativo, como foi o processo de escolha desta imagem/símbolo?
80
Bloco 12 - Como foram escolhidos os atores da Rota Romântica; *Quais são os
interesses comuns entre os atores; *Qual é o tipo de envolvimento entre os
atores; *Quem dos atores se destaca como líder e o seu perfil
Existe alguma pessoa de alguma associação, entidade ou município que se
destaca como líder desta rota? E com se manifesta esta liderança?
Bloco 13 – Pergunta livre
1. Algo mais a comentar que não foi perguntado?
81
APÊNDICE B – Roteiro de entrevista com os municípios
Bloco 1 – Caracterização do município
1. Nome do município.
2. Data de fundação.
3. Nome do prefeito.
4. Nome do secretario de turismo.
5. Quando entrou na RR?
6. Quem é o representante do município que participa das ações da RR?
7. Como foi o processo de entrada do município na RR?
Bloco 2 - A Rota Romântica como inovação social
1. Quais as principais vantagens e desvantagens que a RR trouxe para o
município?
2. Que levantamentos sobre necessidades sociais foram realizados junto ao
município?
3. Quem são os beneficiários da RR? (cidadãos, empresas, associações)
Bloco 3 – Ganhos para a comunidade oriundos da Rota Romântica
1. Que carências sociais foram atendidas pela RR?
2. Como são desenvolvidos novos projetos da RR?
3. Quais as repercussões sociais da RR?
Bloco 4 - Interação entre os agentes da Rota Romântica
1. Que trocas ocorrem entre os municípios? (conhecimento, experiências, etc)
2. Em que momento estas trocas são compartilhadas entre os municipios?
Bloco 5 - A Rota Romântica como inovação social territorial
1. O que a RR difere das demais rotas turísticas?
Bloco 6 - Os agentes da Rota Romântica envolvidos no processo de inovação
social
82
1. Quais eram as principais pessoas, municípios, empresas e associações
envolvidos na formação da rota?
2. De que forma os resultados da RR são disseminados entre os envolvidos?
Bloco 7 - A Rota Romântica como fomentadora da inovação social territorial
1. De que forma outras entidades, instituições, órgãos públicos contribuem para a RR?
Bloco 8 - A cultura predominante na Rota Romântica
1. Como é o tratamento entre os municípios? É formal ou informal?
2. Qual é a autonomia do município em realizar determinadas ações? (ex.: folder)
Bloco 9 - O tipo de relação entre os atores da Rota Romântica
1. A RR trabalha em parceria com outras rotas, organizações ou instituições
públicas?
2. E de que forma estas parcerias contribuem para o crescimento da RR?
Bloco 10 - A capacidade da Rota Romântica em modificar o ambiente
1. A RR contribui de alguma forma para o desenvolvimento econômico e social do
município? Como?
Bloco 11 - Relação dos atores da Rota Romântica com os materiais tangíveis e
intangíveis
1. Existe algo que represente a RR em relação à imagem/símbolo?
Bloco 12 - Como foram escolhidos os atores da Rota Romântica; *Quais são os
interesses comuns entre os atores; *Qual é o tipo de envolvimento entre os
atores; *Quem dos atores se destaca como líder e o seu perfil
1. Existe alguma pessoa de alguma associação, entidade ou município que se
destaca como líder desta rota? E com se manifesta esta liderança?
Bloco 13 – Pergunta livre
1. Algo mais a comentar que não foi perguntado?
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