3070 Trabalho 2063 - 1/4 A VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL CONTRA A PARTURIENTE: UMA CONCESSÃO INCONSCIENTE E SILENCIOSA. PENNA, Lucia Helena Garcia1 NUNES, Ana Carolina da Conceição2 SILVA, Aparecida Martins3 ARAUJO, Luciana Menezes de4 QUARESMA, Michele de Lima Janotti5 Introdução: O presente estudo versa sobre a violência institucional à parturiente, destacando como princípio básico o cuidar à mulher, em particular em seu ciclo reprodutivo. Ao pensarmos sobre a prática obstétrica e a diretrizes governamentais preconizadas, como a Política de Humanização ao Parto e Nascimento, não podíamos deixar de entender que as ações que violem os direitos da mulher em seu processo de parturição podem ser consideradas como violência. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), violência é o uso intencional da força ou poder em uma forma de ameaça ou efetivamente, contra si mesmo, outra pessoa, grupo ou comunidade, que ocasiona ou tem grandes probabilidades de causar lesão, morte, dano psíquico, alterações do desenvolvimento ou privações (MARZIALE, 2004). A violência que ocorre contra a mulher durante o trabalho de parto e o parto, no cenário das instituições de saúde, abrange situações do cotidiano e em particular, aspectos que envolvem as relações humanas, as posturas e atitudes dos profissionais de saúde, as situações institucionais e ao contexto sócio-cultural da gestante e dos profissionais de saúde que estão assistindo-a. Contudo, atualmente ainda persiste uma assistência onde prevalece o poder e, com isso, no caso da parturiente há a ocorrência da dominação das relações de poder e da competição profissional. Todavia, essa dominação quando extrapola pode Enfermeira Obstétrica. Doutora em Saúde da Criança e da Mulher pelo Instituto Fernandes Figueiras da Fundação Oswaldo Cruz, Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e do Programa de Mestrado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ,e-mail: [email protected]. Orientadora. 2 Enfermeira, Pós-Graduanda em Neonatologia pela Universidade Gama Filho e em Enfermagem Obstétrica - UERJ, e-mail: [email protected]. 3 Enfermeira, Pós-Graduanda em Enfermagem Obstétrica - UERJ, Enfermeira do Hospital Maternidade Leila Diniz, e-mail: [email protected]. 4 Enfermeira, Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, PósGraduanda em Enfermagem Obstétrica - UERJ, Enfermeira do Hospital Maternidade Leila Diniz e do Hospital Universitário Pedro Ernesto – UERJ, e-mail: [email protected]. 5 Enfermeira, Pós-Graduanda em Enfermagem Obstétrica/UERJ, Enfermeira do Hospital Maternidade Leila Diniz, e-mail:[email protected]. 1 3071 Trabalho 2063 - 2/4 recair na desumanização da assistência, onde pode ser observado o não cuidado à paciente (WOLFF, WALDOW, 2004). A preocupação com a qualidade do atendimento oferecido a mulher durante o período gravídico-puerperal no SUS está atrelada a criação de uma política de humanização. Assim, torna-se de fundamental importância entender o tipo de cuidado oferecido a parturiente, considerando a abordagem das relações entre os profissionais de saúde e a mulher, a instituição e o entendimento das ações assistenciais, com base no Programa de Humanização do Parto e Nascimento – PHPN – e as ações que violem os direitos da mulher em seu processo de parturição. Deste modo, foram construídos os seguintes objetivos deste estudo: caracterizar, a partir da literatura e das políticas públicas de assistência à mulher, a violência no atendimento e na assistência a parturiente durante o trabalho de parto e parto; discutir a violência contra a parturiente com base nas perspectivas da PHPN e propor estratégias assistenciais que visem contribuir para a qualidade da assistência à mulher em trabalho de parto e parto com base nas perspectivas da PHPN . Metodologia: Este estudo foi baseado em uma pesquisa bibliográfica que tem o intuito de oferecer subsídios para o conhecimento sobre o que foi pesquisado, como e sob que enfoque e/ou perspectivas foi tratado o assunto e apresentado na literatura científica. O desenvolvimento se deu a partir do levantamento bibliográfico de publicações existentes entre o período de 2000 a 2009 que descrevessem acerca da violência contra a mulher relacionando-a a Política de Humanização da assistência à mulher no período reprodutivo, em especial no trabalho de parto e nascimento. A pesquisa foi realizada nas fontes de informações eletrônicas, como as Bases de Dados Bibliográficas e os Portais de Revistas Eletrônicas (Base de Dados LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde). As produções científicas selecionadas foram submetidas à leitura e ao fichamento contribuindo para avaliação quantitativa e qualitativa das produções, permitindo à caracterização da violência no atendimento e na assistência a parturiente durante o trabalho de parto e parto. Os dados foram analisados segundo o método de análise temática de Bardin (2000), permitindo a contextualização dos achados, de forma a atender aos objetivos propostos e a temática em questão. Resultados: Verificamos que parte dos casos de violência não são identificados, em muito casos podem ocorrer de forma inconsciente, tornando- 3072 Trabalho 2063 - 3/4 se invisível e silenciosa dentro dos serviços de saúde. Na realidade cotidiana, ainda nos deparamos com profissionais de saúde, os quais são os detentores do conhecimento técnico-científico e que exigem da gestante um comportamento passivo na aceitação das condutas traçadas por eles. Percebese então, que parece haver um esquecimento acerca da sensibilidade, da paciência, da compreensão e principalmente do acolhimento à parturiente; enfim, habilidades que são inerentes do ser humano. Considerações Finais: É fundamental que o acompanhamento de trabalho de parto e parto seja um momento de confiança e segurança entre profissional e cliente, exigindo um cuidado com orientações a cada procedimento, valorizando a participação ativa das parturientes e respeitando o momento de dor (BRASIL, 2001). Tais acontecimentos podem estar relacionados à supervalorização dos sintomas físicos, desconsiderando os aspectos psicossociais. A diversidade das formas de violência contra a mulher, seja ela, psicológica, física, sexual, emocional, doméstica, institucional, torna-se ainda mais séria quando se trata de uma mulher grávida, pois pode trazer conseqüências significativas para a saúde do binômio mãe-filho, como baixo peso ao nascer, abortos, parto e nascimento prematuro e até mesmo levar às mortes materna e fetal (MEDINA & PENNA, 2008). A violência é um produto das relações sociais e as unidades de saúde são cenários fundamentais na busca por uma sociedade sem violência, com o mínimo de agravos sobre a saúde do ser humano. Logo, é um espaço onde profissionais, usuários e o sistema institucional deve primar pela não violência. Referências Bibliográficas: BARDIN, L. Análise do conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2000, 223p.; BRASIL. Ministério da Saúde. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher. Brasília, DF, 2001.; MARZIALE, Maria Helena Palucci. A violência no setor saúde. Revista Latinoamericana de Enfermagem, 2004, março-abrl; 12(2): 147-8.; MEDINA, A.B.C., PENNA, L.H.G. Violência na Gestação: um estudo da produção científica de 2000 a 2005. Esc. Anna Nery Rev. Enferm., 2008 dez; 12 (4): 793-98.; WOLFF, L.R. ; WALDOW, V.R. Violência Consentida: mulheres em trabalho de parto e parto. Rev. Saúde e Sociedade, 2009 . Descritores: Violência, Humanização do Parto, Enfermagem Obstétrica. 3073 Trabalho 2063 - 4/4