2015-02-26 Drª. Adriana Watts Soares Rua Dom Francisco Manuel de Mello nr 13 CV 1070-085 Lisboa [email protected] 912810285 Interno da Especialidade Medicina Interna Hospital Beatriz Ângelo Doença de Menetrier: uma associação rara a Esclerose Sistémica Progressiva Adriana Soares, Maria Lobo Antunes, João Espírito Santo, Carla Noronha, José P. Graça A doenca de Menetrier é uma variante pouco frequente de gastropatia hipertrofica, descrita primeiramente em 1888 e caracteriza-se pela hipertrofia das pregas do fundo e corpo gastrico, alem da hipersecrecao da mucosa com consequente gastroenteropatia perdedora de proteinas. Afecta sobretudo homens, a partir dos 55 anos. A etologia é desconhecida, tendo-se colocado várias hipóteses- infecciosa (Helicobacter pylori, CMV) auto-imune (Ac anti-célula parietal) e genetica. (1) Apresentamos o caso de um homem de 50 anos, raça negra, natural de Cabo Verde admitido por um quadro de epigastralgias, sensação de enfartamento precoce, vómitos de estase e perda ponderal de > 10% no último mês. Era também evidente história de Fenómeno de Raynaud das mãos e pés com 2 anos de evolução e havia sido submetido a vagotomia troncular por queixas semelhantes 2 anos antes noutra instituição. Destacava-se, objectivamente, hábito leptossómico, emagrecido, desidratado, semiologia cardiorespiratória sem alterações, plastron doloroso epigástrico; fibrose cutânea até aos punhos e da face, esclerodactilia com Raynaud evidente e distrofia ungueal, sem telangiectasias ou calcinose. Da avaliação complementar destacava-se laboratorialmente anemia inflamatória, hipoalbuminémia, lesão renal aguda pré-renal, serologias virais negativas. A TC toracoabdominopelvica realçava um estômago moderadamente distendido, coexistindo dilatação do esófago e nivel hidroaéreo. A endoscopia digestiva alta mostrava esofagite de estase, estase gástrica e pregas gástricas hipertróficas, congestionadas, edemaciadas e friáveis no corpo e no fundo, levantando a suspeita diagnóstica de gastropatia hipertrófica, obrigando ao diagnóstico diferencial com patologia infiltrativa (amiloidose, linfoma) que foram excluídas histologicamente. O estudo complementar confirmou a suspeita de CREST (esclerodermia, forma limitada) incompleto concomitante- ANA e anti-centrómero fortemente positivos e capilaroscopia com padrão esclerodérmico precoce activo. Excluiu-se envolvimento cardio-pulmonar ou a existência de hipertensão pulmonar. O envolvimento gástrico (ao contrário do esofágico) na Esclerose Sistémica Progressiva (ESP) é raro estando descritos mais frequentemente alterações dispépticas, a gastroparésia e a GAVE (gastric antral vascular ectasia- “watermelon stomach”). A associação da ESP a Doença de Menétrier não foi encontrada na literatura.