SOMOS PIONEIROS - UMA VIAGEM SEM VOLTA Muitas vezes, vivemos um momento, sem nos darmos conta da sua dimensão e importância. O que realmente vivemos, qual o seu contexto. Digo a todos vocês presentes, que são pioneiros, "colonizadores" de uma nova era, onde o mundo nunca mais será o mesmo. Esta é a primeira geração que iniciou na magistratura e que ousou explorar um mundo novo, trazendo para o Judiciário os novos elementos da tecnologia, que nos anos de 1990 estava nos seus rudimentos, algo até ali totalmente inovatório. Nosso concurso não foi o primeiro, já encontrando situações implantadas, com juízes pioneiros, dos quais cito a Des.ª Maria Helena e Des.º Juraci. Em seu trabalho pioneiro, implantaram sistemas, custeados pelos próprios, na adoção de rudimentos de informática na Justiça do Trabalho. Foram sistemas que substituíram as antigas fichas, colocadas em gavetas, em barulhentos arquivos de metal, com suas anotações diárias. Quem não se lembra da sua sonoridade diária nas Secretarias? Gavetas batendo, "blem, blem". Poucas saudades deixaram. Aos novos colegas que chegavam à magistratura, os antigos, já conhecedores dos "meandros" do trabalho a ser executado, diziam que a aquisição de um computador era essencial. Mas afinal, o que viria a ser um computador? Computador pessoal? Ora, vinda da CEF, onde para um jurídico composto de aproximadamente 20 advogados, nº que a fraca memória conseguiu resgatar, havia um único computador. Operado pelo "sábio" Backes, atual advogado daquele Jurídico. As petições eram todas redigidas à mão, as citações coladas, num trabalho que ainda carecia do sábio conhecimento do "control C" e "control V". Findo isto, o único funcionário (Backes) era encarregado da sua digitação, com revisão final. Os rudimentos da informática estavam surgindo. Computador pessoal era algo apenas para "os entendidos", digam-se, aqueles que faziam um "completo curso de informática", para serem hábeis a conectar cabos, com suas cores, as funções. Havia gravação em "disquetes" que nada mais eram que miniaturas dos discos de Vinil, que hoje são adquiridos sem sebos a R$$ 1,00. Valiosos são pelo primor das suas capas. Após, modernidade suprema, oh, os disquetes. Sua função? Ora, manter gravados os dados em "back=up", para que não fossem perdidos do "winchester". As aulas de informática invariavelmente eram com a Júlia, ao menos dos colegas que conheci então, que ensinou, com seu sorrido e paciência, os rudimentos da informática, a pessoas preocupadas com seus resíduos de sentenças, com a "corregedoria". Ah sufoco. Enfim, registro meu agradecimento a ela, pois acredito que o aprendizado seria mais árduo sem uma professora de tal qualidade. Agora, conto um segredo, tais computadores vinham equipados com algo chamado de "winchesteres", disco rígido (?) (xiiii), o que definitivamente não entendia o que vinha a ser, mas a conseqüência dos problemas no mesmo conhecia bem - perda total do seu trabalho. Ai de nós se não gravasse no "disquete". Era o risco de nos embrenhar na mata virgem, povoada de indígenas dos novos caminhos. Todos os pioneiros pagaram seu preço, mas ganharam o prêmio da ousadia, sorveram a glória de ter participado da exploração, de conhecer o novo, sem nunca ninguém ter ali "posto os pés". Assim o foi com aqueles primeiros romanos que chegaram a China e compraram a primeira seda e nunca mais o mundo foi o mesmo; aqueles que circunavegaram a África na busca do caminho das índias e China, buscando uma rota alternativa àquela descoberta pelos romanos e desta forma alargaram ainda mais o mundo; aqueles que se propuserem a vir povoar América; aqueles que agora se propõem ir a Marte, numa viagem sem volta. É o risco do aprendizado, de conhecer o novo, da aventura humana, na qual nos colocamos, saindo da zona do conforto, expondo nossas estruturas cerebrais e orgânicas, abrindo e rasgando os nossos peitos. Somos os pioneiros e entregaremos a nossos filhos um LINDO E MARAVILHOSO MUNDO NOVO. Ouviu-se no ruído da caminhada um rapaz ruivo, chamado de "nerd", conceito que também não me era muito afeto à época, pois o Inglês ainda não era língua corrente como o é hoje, dizer que "um dia cada cidadão terá um computador tal qual temos um eletrodoméstico nas nossas residências". Que profecia. Eu com meus cabos, com as instalações, com os técnicos, aterramento, etc. (cito o caso do raio? Acho que não. Aqueles que tinham a "glória" de se aposentar, ainda diziam que as sentenças seriam todas "padrão", sem mais qualquer análise. Enfim, era o fim dos tempos, os Quatro Cavaleiros do Apocalipse descritos pelo Apóstolo João. Fomos caminhando, computadores não vinham mais com disquete de 3/4 - a miniatura do vinil, surgem os atuais disquetes e evoluímos ao máximo do máximo, que eram os computadores portáteis, pesados, sabemos, mas para quem atuavam no interior do RS, essenciais para trabalharmos, termos nossos "arquivos", e prestarmos a nossa jurisdição. Bill Gates profetizou a profecia se concretizou. Hoje o computador será o "computador" tal qual um eletrodoméstico? Ele é muito mais, abre mentes, conecta o mundo, estamos todos na NUVEM. Por curiosidade, a quem teve a oportunidade de assistir ao filme FARGO no cinema que trata de um filme recente, do ano de 1987, que é o ano de que vos falo, a carência de toda a tecnologia, ali nos informa o que avançamos nestes parcos 25 anos. Mero 1/4 de década. Mas, afinal, o que isto tem a ver com Justiça do Trabalho? Tudo, pois estamos migrando de um processo físico, que ainda ousa "entortar" colunas espinhais, consome mão de obra na organização, quando o foco, o centro de toda nossa energia deve ser a jurisdição e o processo em si. Processo no seu conceito único, qual seja, a efetiva prestação jurisdicional àquele que bate às nossas portas. Aqui surge um novo pensar, que toda a energia da Justiça do Trabalho seja a partir de agora drenada, sugada, consumida, no espírito de que um mundo melhor está vindo. Tal qual nós, geração que trabalhou com algo chamado de "winchester" e conheceu na carne as suas conseqüências, tenhamos coragem de ir em frente, implantando um novo sistema, melhor, mais ágil, que nos centre. Como visto, o caminho é íngreme. Dentro deste novo cenário que surge, algo novo também precisa surgir, que não parte apenas do JUIZ, chamado o CENTRO. Ele não é exatamente o CENTRO de tudo, ele é o ATOR principal, mas o grande motor é a JUSTIÇA. Temos visto cada vez mais que o paciente é entregue para tratamento com relatos de sintomas dos mais adversos, dificultando a análise da lesão que acomete o nosso paciente e a sua cura. A busca da JUSTIÇA é o objetivo que nos move, mas deve contaminar e comover a todos, o que se inicia na apresentação dos sintomas da lesão de forma clara e objetiva, na efetiva atuação daqueles que estão envolvidos no auxílio da estrutura, precisamente os funcionários e os juízes. A harmonia precisa ser estabelecida para o resgate da JUSTIÇA. Falamos de uma apresentação OBJETIVA dos sintomas, busca clara da reparação, com decisões claras e prática de atos objetivos. A partir daí se justifica a criação desta HÍPER-SÚPER-ULTRA-ESTRUTURA cuja única finalidade é prestar um serviço ao cidadão. Acredito piamente que o processo eletrônico será apenas uma grande ferramenta, mas o resgate dos valores da simplicidade e objetividade se impõe, numa colaboração estrutural e social. Trilhada uma NOVA ROTA DA SEDA, partimos agora, em busca de outra, também urgente. Por fim, quero agradecer aos meus pais, meu falecido pai Alfredo Willy, chamado carinhosamente por todos de Willy e minha mãe Anita aqui presente, que tiveram a sensibilidade de saber valorar o essencial da vida. Além de me darem a vida de que tenho, valor único, souberam me dar a luz dos estudos, que me possibilitaram seguir em frente, sustentada nas minhas próprias forças. Agradeço a Deus pelas duas filhas que tive nesta jornada e a elas peço perdão, pelas noites, que ligaram para a mãe, cinco, seis, sete vezes, e ela não pôde atender, pois estava em sessão, e elas, dentro do seu desespero esqueceram que havia uma lista de outras pessoas para ligar. Dos dias que não almocei em casa, porque as "instruções" não tinham terminado. A mamãe explicava, e afinal, hoje percebo que falava de "winchester", para as probrezinhas. Sessão, audiência, notoriamente não coisas que as cabecinhas não conheciam, e digo que era apenas "trabalho" que a mamãe teve que realizar. Que Deus abençoe a Todos.