PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
DISCIPLINA TEORIA DA EDUCAÇÃO
PROFESSORA DRA. PURA LUCIA OLIVER MARTINS
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SEMINÁRIO IV 1
26 de abril de 2011
ANÍSIO TEIXEIRA E A EDUCAÇÃO BRASILEIRA
Nasceu o educador Anísio Spínola Teixeira no fim do século XIX, em 1900, em Caetité, pequena cidade do interior
baiano (a 800 quilômetros de Salvador). A família do educador era proprietária de terras e apresentava prestígio político
consolidado. Considerando a educação inaciana recebida nos colégios que estudou, Anísio Teixeira tinha diante de si um
quadro de alternativas plausíveis à sua disposição: o sacerdócio; a magistratura; o exercício da advocacia, Medicina ou
Engenharia; o exercício do Jornalismo e das Letras; a condução dos negócios e interesses familiares ou a carreira de político
profissional. Tratava-se de um amplo repertório se comparado ao de outras crianças de origem social diferente, mas ao mesmo
tempo um repertório limitado pelas circunstâncias históricas. (NUNES, 2010, p.12).
Graduou-se em Direito no Rio de Janeiro em 1922, retornando à sua terra natal para concorrer à vaga de Promotor (na
época, carreira política, que era o sonho do seu pai).
Segundo Saviani (2008, p.218), pelo estudo da biografia de Anísio sabe-se que ao longo do processo de sua formação ele
se deparou com duas opções mais expressivas de carreira profissional: a eclesiástica e a política. Porém, ele acabou ficando
com a carreira de educador, iniciando sua vida pública em 1924, ao ser convidado para ocupar o posto de diretor da Instrução
Pública do estado da Bahia. Nessa condição, destaca Saviani, viajou para algumas cidades do Brasil, pela Europa e depois
duas vezes aos Estados Unidos (em um período em que se afastou da direção da Instrução Pública). Ocupou este cargo na
Bahia até 1928, conduzindo uma reforma educacional neste estado, ”[...] que se tornou uma referência regional e que o projetou
no cenário nacional em função de suas propostas inovadoras” (PAGNI, 2008, p.20).
Nos Estados Unidos, Anísio foi “[...] estudar um pouco mais a fundo a filosofia e a teoria da educação que haviam
inspirado as mudanças de rumo de sua reforma educacional e de seu pensamento” (p.22). Lá, foi aluno de Willian Kilpatrick e
provavelmente do próprio John Dewey. Pagni (2008) destaca que Anísio, ao retornar ao Brasil em 1929, passou a ser um dos
principais divulgadores da filosofia e da teoria da educação de Dewey no país.
As bases teóricas do pensamento de Anísio foram construídas em contato com o pensamento de John Dewey,
sobretudo sua concepção de democracia e mudança social (NUNES, 2010, p.37). Dewey, ao lado de Charles S. Peirce (1839-
Alunos: Carlos Alberto; Maiza Margraf Althaus
1914) e William James (1842-1910), construiu uma visão de mundo que ficou conhecida como pragmatismo. Esses
intelectuais trabalhavam em áreas de estudo próximas, mas distintas. Coube a Dewey, George Herbert Mead (1836-1931) e
seus colaboradores criar uma teoria da educação baseada na experiência. A concepção deweyana de democracia e
mudança social está centrada na criança. Sua perspectiva é a de que o enraizamento e as direções que essa mudança
assume estão postos na infância. Daí a importância da função social da educação e de seu caráter democrático, entendido
como o processo pelo qual os indivíduos desenvolvem um interesse pessoal nas relações pessoais, na sua direção e na
formação de hábitos que permitam mudanças sem criar desordens.
Na obra Democracy and Education (1916, mas lançado no Brasil em 1936) com prefácio de Anísio, Dewey expressa sua
concepção de democracia e os meios de realizá-la. Após examinar as filosofias típicas da história da educação (platônica,
racionalista e idealista), mostra seu reducionismo do ponto de vista dos objetivos educacionais por excluírem o desenvolvimento
natural da criança e a eficiência da sociedade e da cultura sobre esse desenvolvimento. É com essa referência, segundo Nunes
(2010) que ele trabalha a correlação entre interesse e disciplina, experiência e pensamento, pensamento e educação, e chega
ao cerne do trabalho escolar examinando problemas metodológicos, curriculares, epistemológicos e morais. Na apresentação
da obra, Anísio chama a atenção para o caráter conciliatório e sintético do pensamento deweyano: “nem restauração do
passado nem imposição de um futuro ainda inexistente” mas, diríamos nós, ação prudente, que não é bruta (e, portanto, cega e
ininteligente), nem repetição (e, portanto, preguiça)”.
Em 1931, Anísio assumiu o cargo de Diretor Geral da Instrução Pública do Distrito Federal, quando colocou em, prática
suas idéias renovadoras, especialmente no que respeita à formação docente, criando o Instituto de Educação e transformando
a Escola Normal em Escola de Professores (SAVIANI, 2008). À frente deste cargo, buscou dar continuidade à reforma da
educação do Rio de Janeiro, iniciada por Fernando de Azevedo, pensando os problemas administrativos e políticos
educacionais, além de elaborar propostas para solucioná-los a partir da filosofia de Dewey (PAGNI, 2008, p.26).
As suas propostas político-administrativas e a filosofia de sua administração – que advogava uma educação laica, pública
e gratuita, como meio de promoção da democracia, “ [...] foram alvos de críticas contundentes por parte da intelectualidade
católica”. (Idem). Juntamente com Fernando de Azevedo e Lourenço Filho, Anísio liderou o movimento intelectual em torno
destas idéias (durante os anos 30), militando para aglutinar outros setores da sociedade e formar uma opinião pública favorável
às aquelas idéias e à reforma da educação nacional. No ano de 1932, este grupo de pensadores publicou o Manifesto dos
Pioneiros da Educação Nova.
Cumpre destacar que a obra Educação Progressiva, publicada por Anísio, constituiu-se como um manual didático para a
disciplina Filosofia da Educação nos cursos da escola normal e dos institutos de educação. A obra serviu aos professores como
introdução a uma das principais tendências da Escola Nova, inspiradas no pragmatismo de Dewey.
Anísio Teixeira atuou também como Conselheiro do Ensino Superior da Unesco (em 1946), mas atuou por pouco tempo
neste órgão. No Distrito Federal (1951) foi convidado para assumir a Secretaria da Campanha de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (transformada por ele em Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES). Em 1952,
assumiu o cargo de Diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), onde permaneceu até 1964.
Em 1961, Anísio conseguiu aprovar a lei que criava a Universidade de Brasília, onde foi Reitor sucedendo Darcy Ribeiro.
“Do mesmo modo em que se afastou da vida pública com a emergência do Estado Novo, com o Golpe Militar de 1964,
abandonou os seus cargos, porém compulsoriamente.” (PAGNI, 2008,p.39). Também foi Professor na Universidade de
Columbia. Faleceu em 1971.
O homem que foi encontrado sem vida no poço do elevador de um dos edifícios da praia do Flamengo, no início da
década de 1970, ofereceu às novas gerações sua defesa apaixonada da educação. Tratava-se de uma defesa
iluminada pela imaginação pedagógica e polida, como argumentava Florestan Fernandes (1992), pela filosofia da
educação e por uma compreensão aguda da história da nossa sociedade. Deixava uma obra que não foi
revolucionária, como ensinou Antonio Candido (1980), mas expressão de um pensamento radical, que operou um
significativo deslocamento na direção da solidariedade e da justiça social. Na última fase da sua vida, Anísio não era
mais árvore, como pretendia, quando escreveu a Monteiro Lobato falando da secura feliz de apenas existir, sem mais
nada desejar (Vianna & Fraiz, 1986, p. 87). Tornara-se rizoma, escapando de todos os rótulos que tentaram, em vão,
capturá-lo: escolanovista, tecnicista, americanista, liberal, conservador, pioneiro, visionário, romântico, iluminista,
comunista, reacionário. Finalmente, atravessou seu último deserto. Mergulhou no Mistério! (NUNES, 2010, p.34- grifo
nosso).
Referência Bibliográfica
Nunes, Clarice. Anísio Teixeira . Recife: Massangana, 2010. 152 p. (Coleção Educadores – MEC).
Pagni, Pedro Angelo. Anísio Teixeira: experiência reflexiva e projeto democrático, a atualidade de uma filosofia da educação.
Rio de Janeiro: Vozes, 2008.
Saviani, Dermeval. História das idéias pedagógicas no Brasil. 2.ed. Campinas: Autores Associados.
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