n. 195, 15 de março de 2011. Ano V. na rua No Rio de Janeiro, no século XIX, houve um grande investimento na pacificação das festas populares do Entrudo. Festa mal-vista em sua expressão popular pelos excessos cometidos na rua e pela presença, ainda que por pouco tempo, do descontrole da população pobre e de escravos. As medidas de contenção incluíam força policial e elitização da festa, tentando, a princípio, reduzi-la a espaços fechados. Aos poucos a festa foi tomando as ruas novamente, mas desta vez pela elite. Uma vez que o populacho era proibido de sair mascarado, para que assim pudesse ser identificado, a elite considerou a rua um lugar seguro para as suas festividades. na comunidade O carnaval no Rio de Janeiro nasceu desta pacificação, carregando, entretanto, um tanto de excessos e descontrole, ainda que cercado de moralismos e hipocrisias. Na passarela do sambódromo a elite se junta ao povo da favela, sem medo, para festejar. Ali sente-se segura. Favelas pacificadas pelas UPPs, tornam-se um lugar de livre acesso para a chamada população de bem. O povo da comunidade permanece preso em seu território, mas feliz, porque o mundo lá fora deve ver agora que eles não representam perigo e sabem se comportar nos lugares a eles reservados. sem mais avesso No desfile de uma escola de samba carioca, todos integrantes da bateria estavam uniformizados de Bope e as integrantes amarraram o cabelo igualzinho às capitãs do morro da D. Marta e de outras UPPs, imitando seus sorrisos. Os comentaristas de carnaval da madrugada elogiavam a ‘desconstrução’ simpática da imagem do policial em um momento tão importante no Rio de Janeiro: o da pacificação das favelas. Foi sim uma oportunidade de ouro de se enraizar a polícia como um novo ”símbolo carioca”. Não era fantasia. Não era alegoria. Não é carnaval. É um insidioso choque de ordem num mundo em que parece não haver mais avesso. Outra “escola” vestiu sua bateria de policiais honestos do passado e a vencedora de almirantes de cruzeiros de luxo. Bombeiro, ninguém estranha. Todos lembramos daquele bombeiro que “pegou” a encoleirada rainha da bateria, esposa do mais rico empresário do Brasil e amigo de todos os políticos da ordem. do Silicon Valley aos Ys Na década de 1980, jovens do Silicon Valley imersos em aparelhos eletrônicos e pirataria, experimentaram outro modo de usar as sofisticadas tecnologias que eram até então restritas ao domínio militar. Com o objetivo de lhes dar um uso pessoal, lançaram um computador acessível ao grande público sob o slogan The computer for the rest of us. Nessa mesma década, nascia a chamada geração Y. Hoje os Ys, acostumados desde pequenos ao uso dos computadores, são identificados por sua constante conexão e facilidades de interações em redes sociais, microblogs, e-mails, enciclopédias colaborativas... e pouco importa quem é o patrão. à espera dos Zs Os jovens da geração Y, no entanto, não vivem apenas de colecionar amigos nas redes sociais. Afirma-se, também, que estes desconhecem hierarquias e lideranças, que são competitivos e ousados para criar melhorias à empresa. A respeito dos jovens há quem diga que são anarquistas pacifistas, que não seriam violentos como no XIX e XX, porque nas redes sociais não há um quadro hierárquico fixo. Destes jovens se esperaria a construção de sociedade mais justa e igualitária. Além de desqualificar propositalmente a anarquia e sua recusa a comandos, esquecem-se que a internet é constituída de bancos de dados sobre cada um e que ela administra informações e autoriza acessos. Aos jovens satisfeitos com a categoria Y e preocupados com suas vidas, fica o amor ao emprego e à empresa, a vontade de controlar a si e aos outros, a convocação a participação e a autorização para suas rápidas reivindicações em páginas pessoais. O jovem anarquista é insuportável para tudo isso. terremoto Sexta feira, Japão, a terra se movimenta. Um terremoto de grande magnitude atinge a zona nordeste do país destruindo prédios, casas, ruas, abalando alicerces. Alarmes de alerta são acionados no litoral. Após uma hora, um tsunami engole cidades inteiras, avança terra adentro, destruindo o que encontra pela frente. Os destroços podiam ser acompanhados pelas redes internacionais de televisão, imagens de celulares, satélites e aviões. Diante da força das águas na terra fendida, a grande onda fazia com que pontes, trens, metrôs, barcos, parecessem miniaturas. Centenas de chefes de Estado mobilizaram-se em solidariedade aos estragos causados pelo terremoto. No Haiti e na Indonésia o investimento foi “humanitário”, no Japão o investimento é em produtos e capital humano a serem reconstruídos. emergências Um dos efeitos do maior tremor de terra registrado na história do Japão foi à danificação do sistema elétrico e de refrigeração da estação nuclear de Fukushima, localizada a quase trezentos quilômetros de Tóquio. Durante a década de 1970, época em que esta usina foi erguida e na qual aconteceu o primeiro acidente nuclear considerado grave, em “Three Mile Island”, estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos, a produção de energia nuclear foi contestada radicalmente. Contudo, nos anos 1980, mesmo com o efeito das manifestações ecológicas e da explosão de quatro reatores em Chernobyl, na União Soviética, liberando quantidade de iodo, césio e urânio suficientes para matar dezenas de pessoas e contaminar outras centenas de milhares, este modo de produzir energia continuou a receber investimentos nos quatro cantos do planeta.