Pró-Reitoria de Graduação
Curso de Comunicação Social – Jornalismo
Trabalho de Conclusão de Curso
FOTOJORNALISMO NO INSTAGRAM:
FUNCIONA? UM ESTUDO SOBRE O @CBFOTOGRAFIA,
PERFIL DO CORREIO BRAZILIENSE NA REDE
Autor: Samuel Paz da Silva Neves Siqueira
Orientadora: Profª. Maria Bernadete Brasiliense
Brasília - DF
2014
SAMUEL PAZ DA SILVA NEVES SIQUEIRA
FOTOJORNALISMO NO INSTAGRAM:
FUNCIONA? UM ESTUDO SOBRE O @CBFOTOGRAFIA, PERFIL DO CORREIO
BRAZILIENSE NA REDE
Artigo apresentado ao curso de graduação em
Comunicação Social – Jornalismo da
Universidade Católica de Brasília, como
requisito parcial para obtenção de Título de
Bacharel em Comunicação Social com
habilitação em Jornalismo.
Orientadora: Profª Msc. Maria Bernadete
Brasiliense
Brasília
2014
Artigo de autoria de Samuel Paz da Silva Neves Siqueira, intitulado “Fotojornalismo
no Instagram: funciona? Um estudo sobre o @cbfotografia, perfil do Correio Braziliense na
rede” apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação
Social – Jornalismo da Universidade Católica de Brasília, em 18 de junho de 2014, defendido
e aprovado pela banca examinadora abaixo assinada
______________________________________
Profª. Msc. Maria Bernadete Brasiliense
Orientadora
Comunicação Social – UCB
______________________________________
Prof. Msc. Alberto Marques Silva
Comunicação Social – UCB
______________________________________
Prof. Msc. Alex Vidigal Rodrigues de Sousa
Comunicação Social – UCB
______________________________________
Profª. Dra. Ivany Câmara Neiva
Brasília
2014
Tiramos a roupa e nos pusemos a trabalhar. O
suor pingava do nosso corpo para o líquido
revelador. Nossas primeiras fotos estavam
prontas [...] Abrimos a porta de pano da barraca e
saímos para a brisa fresca do amanhecer no
deserto. (CAPA, 2010:101)
4 Fotojornalismo no Instagram: funciona? Um estudo sobre o @cbfotografia,
perfil do Correio Braziliense na rede
Resumo: O presente artigo se propõe a analisar o potencial do Instagram como
ferramenta para o fotojornalismo. Discutimos as vantagens e desvantagens dos
dispositivos móveis com função fotográfica, enfatizando o telefone celular, em
relação às câmeras digitais profissionais. Nosso lócus é o @cbfotografia, perfil da
equipe de fotografia do Correio Braziliense no Instagram. Analisamos o conteúdo e a
conduta da equipe, entrevistamos Luís Tajes, editor de fotografia do jornal, e
comparamos o perfil do Correio com os de outros veículos. Nosso objetivo é
entender como o Correio se apropria da nova tecnologia. Que vantagens ela oferece
ao jornalismo? O jornal tem explorado bem o potencial dela? Como lida com a
produção colaborativa? Entendemos que o Correio, assim como outros veículos,
ainda procura por uma fórmula que funcione bem e possa ser seguida como modelo.
Palavras-chave: Instagram. Fotojornalismo. Redes sociais digitais. Dispositivos
móveis.
Abstract: This article aims to analyze the potential of Instagram as a tool for
photojournalism. We discuss the benefits and drawbacks of mobile devices with
photographic function, emphasizing the cell phone, in relation to professional digital
cameras. Our locus is @cbfotografia, Correio Braziliense's photography team profile
on Instagram. We analyzed the content and conduct of the staff, interviewed Luís
Tajes, newspaper's photography editor, and we compared Correio Braziliense's
profile with other vehicles' profiles on instagram. Our goal is to understand how
Correio Braziliense uses and takes up the new technology. What advantages does it
offer to journalism? Has the newspaper explored the potential of it? How to deal with
the collaborative production? We understand that Correio as well as other vehicles, is
still looking for a formula that works well and can be followed as a model.
Key words: Instagram. Photojournalism. Digital social networks. Mobile devices.
1. Introdução
Quando Robert Capa retornou do ataque de paraquedistas à Sicília, na II
Guerra Mundial, estava angustiado pela urgência de revelar, ampliar, e enviar as
fotos do combate para os Estados Unidos. Capa foi o único fotógrafo a acompanhar
os saltos, portanto tinha fotos exclusivas da invasão. A missão havia ocorrido de
madrugada, em meio aos fogos de artilharia antiaérea. As portas do avião se
abriram e os militares lançaram-se na escuridão do céu noturno. Capa pensou,
inicialmente, em saltar com eles, mas preferiu voltar para a base imediatamente e
garantir o furo. “Se eu fizesse a fotografia do primeiro homem a saltar, teria a foto do
primeiro americano a pousar na Sicília” (CAPA, 2010:99). Ele estava desempregado
e precisava fazer as fotos chegarem aos EUA o mais rápido possível para, quem
sabe, conseguir um contrato com alguma revista e seguir na cobertura da guerra.
Mas, em 1943, enviar fotos de um continente para o outro pelos meios usuais levaria
semanas. Mais tempo do que se podia esperar. A solução veio de um amigo militar,
que sugeriu transmitir as imagens via rádio. As fotografias "chegariam às prensas
simultaneamente às primeiras grandes manchetes" (CAPA, 2010:99). As fotos
chegaram, Capa foi contratado pela revista Life e permaneceu na guerra.
5 A dificuldade para fazer as fotos chegarem às mãos do leitor diminuiu
bastante desde aquela época, mas a necessidade de rapidez e precisão no
fornecimento do conteúdo noticioso ainda existe. Nesse sentido, os dispositivos
móveis com função fotográfica surgiram como ferramentas muito úteis. Eles
permitem que as fotos sejam produzidas, editadas, tratadas digitalmente e
publicadas. Tudo em questão de minutos, ou até segundos. Martins, R. (2012a:9)
defende que “o fotografar-compartilhar-consumir simultâneo e georreferenciado 1
amplia a independência da fotografia como registro”, o que confere a ela o papel de
meio de comunicação capaz de sustentar-se por si próprio. A nova tecnologia
permite ainda a "massificação da cobertura através de redes sociais como o Twitter,
o Facebook, o Youtube e o Flickr" (ZUM, 2012:49).
Neste artigo, pretendemos analisar a capacidade que os dispositivos móveis
com função fotográfica – telefones celulares e tablets – têm de atender a certas
necessidades dos fotojornalistas: portabilidade das câmeras, discrição na hora de
fotografar e, principalmente, agilidade no processo fotográfico, desde a tomada da
foto até a publicação e distribuição. Abordaremos também algumas desvantagens
da nova tecnologia em relação às câmeras profissionais, como a menor resolução e
limitação das lentes. Nosso objeto de estudo é o Instagram e usamos o jornal
Correio Braziliense como lócus para verificação do uso desse aplicativo/rede social
digital. Escolhemos o Correio por ele ser o maior jornal do Distrito Federal, onde esta
pesquisa se constrói, e também por ser o jornal brasileiro com maior número de
fotos publicadas no Instagram, conforme a Tabela 1 à frente.
A pesquisa se dá devido a questionamentos que nos interessam
responder: que vantagens a fotografia por dispositivos móveis e as redes sociais
digitais oferecem ao jornal? Ele tem explorado bem o potencial dessas tecnologias?
Como o Correio tem se apropriado delas, especialmente na cobertura jornalística ao
vivo, por meio das redes sociais? Como ele trabalha com a produção colaborativa de
conteúdo fotojornalístico? Para responder a essas perguntas, entrevistamos Luís
Tajes, editor de fotografia do Correio Braziliense. As respostas da entrevista são
confrontadas, na medida do possível, com o que efetivamente se vê no perfil do
jornal no Instagram. Algumas das características encontradas no Instagram do
Correio dão margem a discussões teóricas, o que procuramos fazer ao longo do
texto. Nos decidimos por esta abordagem devido à escassez de bibliografia
específica acerca do fotojornalismo em redes sociais digitais. Escolhemos o celular
por ser o dispositivo com maior penetração no mercado consumidor – só no Brasil,
existiam 135,3 celulares/100 habitantes em março de 2014 (TELECO, 2014). Já o
Instagram, foi escolhido por ser a maior rede social especializada em fotografia da
atualidade2, com 200 milhões de usuários ativos e 60 milhões de fotos publicadas
diariamente, em média (INSTAGRAM, 2014). Abordamos as categorias de fotos
publicadas – factuais, autorais e institucionais –, a frequência de postagens, a
participação dos seguidores por meio de comentários, curtidas e envio de fotos, e o
feedback por parte do veículo.
1
Georreferenciamento: funcionalidade que permite “demonstrar num mapa – onde efetivamente se
deu o registro da imagem – no mais das vezes, num momento imediatamente posterior ao click, no
calor do ato fotográfico e da exposição” (ABREU; SOUSA, 2011 apud MARTINS, R., 2012b).
2
O Instagram nasceu para ser usado com fotografias e ainda tem nela seu foco principal. Contudo, é
possível publicar vídeos também.
6 2. A fotografia
Para Martins, J. (2011:9) vivemos “numa sociedade que se tornou visual
antes de tudo” o que encontra eco no que nos diz Sontag (2011:34-35), que “não
seria errado falar de pessoas que têm uma compulsão de fotografar: transformar a
experiência em si num modo de ver.” Tanto num autor como na outra, o que se fala
é sobre a importância da excessiva visualidade, esse fascínio do ser humano pela
imagem que existe desde a pré-história. Sempre buscamos representar
imageticamente o que vemos e nos aperfeiçoamos ao longo dos séculos,
procurando maior fidelidade, velocidade no processo e expressividade. O ponto
culminante desta busca foi o advento da fotografia. Vilém Flusser (2011:13-14)
argumenta que houve duas “revoluções fundamentais na estrutura cultural, tal como
se apresenta, de sua origem até hoje.” A primeira seria a “invenção da escrita linear”
e a segunda seria a “invenção das imagens técnicas”3, que tem a fotografia como
precursora. Com ela é possível fazer a representação fiel do que está em frente à
câmera, o referente; a imagem é produzida com rapidez inimaginável no passado e
a fotografia também permite que o fotógrafo se expresse, atribuindo novos
significados ao que fotografa, transmitindo mensagens.
Se a fotografia deu origem às imagens técnicas e revolucionou nossa
estrutura cultural, a apropriação da câmera digital pode ser vista como uma
revolução na fotografia jornalística4. O processo foi bastante simplificado em várias
etapas: colocar um cartão de memória é mais simples e rápido do que carregar a
câmera com filme; o filme permitia tirar no máximo 36 fotos em sequência, enquanto
o cartão possibilita milhares; eliminou-se o trabalho de laboratório 5 , tornando o
tratamento das fotos muito mais simples e preciso; o armazenamento requer menos
espaço físico e permite fazer infinitas cópias de segurança; a publicação tornou-se
mais rápida e prática.
Não por acaso, a popularização da fotografia digital iniciou-se na mesma
época em que a internet de banda larga começou a ganhar espaço, no início dos
anos 2000. Com a maior velocidade de transmissão de dados, os sites começaram a
usar cada vez mais fotos e o jornalismo on-line beneficiou-se bastante disso. Depois
chegou a Web 2.06, com sites interativos e redes sociais de internet com altíssimo
grau de interatividade. A cada avanço tecnológico, a fotografia ganhava mais
importância, não só para o web-jornalismo, mas em todos os tipos de sites.
3
Imagens técnicas: “Fotografias, filmes, imagens de TV, de vídeo e dos terminais de computador
assumem o papel de portadores de informação outrora desempenhado por textos lineares.”
(FLUSSER, 2008:15)
4
A terceira revolução no fotojornalismo, segundo Sousa (2000). A primeira foi o surgimento do
jornalismo diário ilustrado com fotos – Daily Mirror, em 1904, na Inglaterra –; a segunda revolução
veio entre as décadas de 1960 e 1980, quando o fotojornalismo atingiu um novo patamar de
profissionalismo e de qualidade, impulsionado pelas mudanças políticas, sociais e econômicas da
época.
5
Revelação do filme, ampliação em papel fotográfico e retoques. Às vezes era preciso ampliar a foto
várias vezes, até obter cor, brilho e contraste desejados.
6
“Web 2.0 é o termo criado por Tim O’Reilly em 2005 para definer a web como plataforma de
participação, por meio da qual não apenas se consome conteúdos, mas principalmente na qual
também se coloca conteúdos”. (GABRIEL, 2009)
7 3. As Redes sociais
De acordo com Recuero (2012:16), "redes sociais são as estruturas dos
agrupamentos humanos, constituídas pelas interações, que constroem os grupos
sociais". Quando os agrupamentos acontecem em um espaço virtual, mediado pelo
computador e por toda uma infraestrutura de tráfego de dados via internet –
ciberespaço – dá-se o nome de redes sociais digitais, também chamadas de redes
sociais da internet. Esses espaços materializam-se em sites de redes sociais, que
são “ferramentas que proporcionam a construção de redes sociais. [...] Nessas
ferramentas, essas redes são modificadas, transformadas pela mediação das novas
tecnologias e, principalmente, pela apropriação delas para a comunicação.”
Então, quando falamos em Facebook, Twitter, Orkut, YouTube, estamos
falando de sites que reúnem agrupamentos de pessoas em busca das
funcionalidades oferecidas por cada um deles, e que se juntam em torno de
interesses em comum. As modificações sofridas pelas redes, conforme cita Recuero,
são referentes à forma de interação entre os membros dos grupos, que se adaptam
ao uso das ferramentas. As relações humanas presentes na vida cotidiana são
transportadas para o ambiente virtual, que possui suas próprias regras de convívio,
linguagem e temporalidade. São formatos de relacionamentos adaptados para as
“limitações, possibilidades e características das ferramentas” (RECUERO, 2012:17).
Se analisarmos bem, veremos que essas adaptações ocorrem em uma via de
mão dupla. Os sites se adaptam para atender às necessidades dos usuários,
enquanto estes passam por mudanças de comportamento conforme aumentam sua
experiência no ciberespaço. “Tratam-se de novas formas de ‘ser’ social, que
possuem impactos variados na sociedade contemporânea a partir das práticas
estabelecidas no ciberespaço” (RECUERO, 2012:17). Quando a rede social digital
não consegue acompanhar as necessidades dos usuários, acaba correndo o risco
de ser superada por outras – um bom exemplo é o Orkut, que foi superado pelo
Facebook devido à lógica de compartilhamento de conteúdo, quase inexistente no
primeiro e que constitui a base de funcionamento do segundo. No Orkut era possível
publicar conteúdos e torná-los visíveis para o círculo de convivência do usuário.
Contudo, se outro membro desse círculo quisesse replicar o conteúdo, precisaria
fazer uma cópia, quebrando, assim, o fluxo de publicação compartilhada. Seria uma
nova publicação, como se a autoria pertencesse ao segundo usuário a publicar. Já o
Facebook permite o compartilhamento em série, o que possibilita identificar a autoria
e confere maior reputação7, popularidade8 e autoridade9 ao usuário que deu origem
ao conteúdo em questão.
É normal que uma pessoa utilize mais de um site de rede social, uma vez que
alguns deles são extremamente especializados – como o YouTube para publicação
7
Reputação é a “percepção construída de alguém pelos demais atores [...]. O conceito de reputação,
portanto, implica diretamente no fato de que há informações sobre quem somos e o que pensamos,
que auxiliam outros a construir, por sua vez, suas impressões sobre nós.” (RECUERO, 2008)
8
“A popularidade é um valor relacionado à audiência [...].Trata-se de um valor relativo à posição de
um ator dentro de sua rede social. [...]Podemos, por exemplo, avaliar a popularidade de um perfil no
Twitter pela quantidade de seguidores que esse perfil possui. Ou pela quantidade de referências que
são feitas ao perfil em uma conversação.” (RECUERO, 2008)
9
“A autoridade refere-se ao poder de influência de um nó na rede social.” (RECUERO, 2008)
8 de vídeos e o Soundcloud10 para arquivos de áudio – enquanto outros são voltados
para a conversação, expressão de pensamentos e disseminação de conteúdos
diversos, produzidos neles mesmos ou em outras redes – é o caso do Facebook e
do Twitter. Nesse caso, há convergência entre os sites de redes sociais, o que
enriquece a experiência no ciberespaço. A escolha das ferramentas é subjetiva,
baseada nas necessidades do usuário e na empatia com o modo de funcionamento
delas.
A formação dos grupos em sites de redes sociais de internet se dá pelos
interesses em comum, assim como nas redes tradicionais, existentes no mundo
físico, fora do ambiente computacional. Os usuários agrupam-se em torno de
conteúdos que os interessam, conhecem novas pessoas com os mesmos interesses
e também formam laços virtuais com quem já conheciam no mundo físico. É um
comportamento típico da cultura da mídia conceituada por Kellner (2001:10) como
uma cultura high-tech, que explora a tecnologia mais avançada. (...) um
modo de tecnocultura que mescla cultura e tecnologia em novas formas e
configurações, produzindo novos tipos de sociedade em que mídia e
tecnologia se tornam organizadores.
Todo tipo de conteúdo circula pelas redes sociais digitais. Desde assuntos
sérios, como política e discussões científicas até piadas e pornografia. Os grupos só
conseguem se manter coesos porque cada membro da rede, “de seus círculos
pessoais de interação, sejam estes amigos pessoais, conhecidos ou pessoas com
interesses comuns, cada um deles atua como um filtro de conteúdo próprio ou
externo” (MARTINS, R. 2012b), levando ao conhecimento de outros membros os
assuntos que julgar relevantes. Vale ressaltar, ainda, que as pessoas geralmente
participam simultaneamente de vários grupos, com interesses variados. Portanto,
nem tudo o que é compartilhado em um círculo de convivência é de fato relevante
para todos os integrantes desse círculo.
4. O Instagram
Criado em 2010 pelo brasileiro Mike Krieger e pelo estadunidense Kevin
Systrom, o Instagram é um aplicativo (app) para aparelhos celulares e tablets que
permite fotografar, tratar as fotos digitalmente e compartilhá-las em redes sociais
digitais e outros sites. Inicialmente era compatível apenas com o iPhone, da Apple, o
telefone celular mais avançado da época e, por consequência, o mais caro, o que
restringia o uso aos consumidores com maior poder aquisitivo. Em 2012, vendo o
sucesso do aplicativo, os desenvolvedores começaram a trabalhar em versões do
app para outros sistemas, como o Android, da Google e o Windows Phone, da
Microsoft. A diversificação de plataformas possibilitou a democratização e
popularização ainda maior do Instagram. Atualmente, somos mais de 200 milhões
de usuários ativos, com 20 bilhões de fotos publicadas e uma média de 60 milhões
de postagens diárias (INSTAGRAM, 2014).
Um dos impulsionadores do sucesso é a rede social de mesmo nome, na qual
os usuários podem seguir uns aos outros, recebendo, assim, na sua linha do tempo
– tela de abertura do aplicativo –, as atualizações dos perfis que seguem. Os
10
Site que permite fazer upload de arquivos de áudio. Como de costume em redes sociais digitais, os
usuários podem seguir uns aos outros, marcar favoritos e compartilhar conteúdos próprios ou alheios
em outros sites.
9 usuários podem visitar as páginas preferidas quando quiserem. Também há opção
de curtir11 as fotos dos usuários a quem seguem, deixar comentários e compartilhar
o conteúdo. Outra razão que torna o Instagram popular é a possibilidade de tratar as
fotos digitalmente, por meio da aplicação de filtros12. O Instagram trouxe, ainda,
outro elemento estético importante da era analógica: o formato das fotos. Elas são
quadradas, simulando as fotos de médio formato, feitas com filme 120 13 , por
exemplo. Mais que um detalhe estético, o formato quadrado influencia na
composição da imagem, uma vez que as dimensões alteram a forma de organizar os
elementos no quadro.
Como já foi dito, as redes sociais agrupam pessoas em torno de interesses
comuns. No caso do Instagram, as pessoas 14 , ou perfis, são identificados pelo
símbolo @ – @cbfotografia, por exemplo, é o perfil da equipe de fotografia do jornal
Correio Braziliense. Os conteúdos – objetos de interesse – podem ser encontrados
por meio de um sistema de buscas baseado em hashtags, que são palavras-chave
identificadas pelo símbolo #. Se um usuário gosta de cavalos, por exemplo, ele pode
fazer uma busca pela hashtag #cavalo, ou #cavalgada, ou qualquer outra
relacionada ao tema. O resultado será uma lista com fotos de diversos usuários. Ao
encontrar alguém que costuma tirar fotos de seu agrado, o usuário pode optar por
segui-lo e receber na linha do tempo todas as novas fotos que ele vier a publicar.
Assim formam-se os grupos de pessoas no Instagram.
5. Smartphones no fotojornalismo
Um ano antes do Instagram ser criado existia o Hipstamatic, um app similar,
que também usava filtros para simular fotos analógicas e permitia compartilhamento
de imagens. Esse app foi usado em 2010 no Basetrack, um importante projeto
fotojornalístico idealizado pelos repórteres de guerra Teru Kuwayama, Balazs Gardi,
Rita Leistner, Omar Mulick e Tivadar Domaniczky durante a guerra no Afeganistão.
Os repórteres conviveram com os soldados estadunidenses e os estimularam a
registrar a vida no front usando o Hipstamatic e compartilhar as fotos na página
criada no Facebook para o Basetrack15. “Até que a experiência coletiva se provou
inovadora demais para o governo americano, e os repórteres foram obrigados a
abandonar o batalhão.” (ZUM, 2012:32) Talvez os políticos tivessem medo de que a
repercussão das imagens pudesse jogar a opinião pública contra o esforço de
guerra, como aconteceu no Vietnã.
O fotógrafo de guerra Benjamin Lowy, um dos primeiros a usar o iPhone em
coberturas de conflitos armados, explica a vantagem estética do smartphone e
aplicativos como o Hipstamatic e Instagram: “como fotojornalistas, nossa
responsabilidade inclui não só mostrar um conteúdo, mas criar uma estética, a
narrativa visual que vai chamar a atenção do público” (ZUM, 2012:49). Outro ponto
positivo citado na reportagem são os “defeitos” que dão à imagem “um gosto de foto
roubada, porque são ligeiramente fora de foco, qualidade fundamental da foto de
11
Forma de marcar uma foto como favorita.
Os filtros foram inspirados nos filmes fotográficos e em efeitos causados por certas lentes de
câmeras antigas. Ao aplicar um filtro, a foto fica com a “aparência” de foto analógica, como se tivesse
sido feita com uma câmera e um filme específico, criando um sentimento nostálgico. 13
Formato de filme fotográfico maior do que os populares 35mm. Um erro comum, que deve ser
evitado é chama-lo de 120mm. O correto é apenas 120.
14
Não são necessariamente pessoas. Perfis podem ser criados por empresas, sites, associações, ou
em prol de uma causa, como um grupo que luta pela igualdade racial, por exemplo.
12
15 http://fb.com/basetrack 10 guerra, segundo o próprio Robert Capa (ZUM, 2012:49). A matéria ressalta ainda
mais duas qualidades da cobertura de guerra com smartphones: a necessidade de
chegar perto da ação para fotografar – outra regra básica de Capa – e a discrição do
equipamento, porque “(o equipamento de um fotógrafo é intimidador para a maioria
das pessoas). Para se aproximar dos fatos, Capa usava câmeras portáteis e lentes
curtas.” (ZUM, 2012:49)
Fora das zonas de conflito os telefones celulares também têm ganhado
espaço. O exemplo mais emblemático talvez seja o do jornal estadunidense Chicago
Sun Times, que demitiu cerca de 30 fotógrafos em maio de 2013. Hoje o jornal
trabalha apenas com freelances, fotos compradas de agências ou produzidas pelos
repórteres, que precisam apurar a matéria, fotografar e filmar as entrevistas. A
ferramenta usada para a cobertura multimídia é o iPhone, e os repórteres receberam
treinamento para usar o smartphone. A justificativa dos dirigentes do jornal é que o
jornalismo, enquanto negócio, está mudando rapidamente e que os leitores on-line
estão em busca de conteúdos multimídia junto com as notícias escritas (THE
ASSOCIATED PRESS, 2014). Na opinião do editor de fotografia do Correio
Brasiliense Luís Tajes que entrevistamos para escrever este artigo, a decisão de
substituir os fotógrafos por repórteres equipados com iPhones foi um erro
estratégico que visou “modernizar e diminuir custos, mas eles vão sentir na
qualidade.” Tajes compara o fato ao que acontecia no início do jornalismo on-line,
quando o que mais importava era ter o conteúdo publicado rapidamente, sem
preocupação com a qualidade. Para ele, o fato é um sintoma da falta de
conhecimento experimentado pelo jornalismo em relação às novas mídias. É por
isso que não existe um padrão de atuação nas redes sociais digitais: todos estão
experimentando novas práticas em busca de um modelo eficiente.
6. O Instagram no fotojornalismo
Entre os 35 jornais mais vendidos no Brasil, de acordo com o ranking da
Associação Nacional de Jornais de 2012 (ANJ, 2013), o último a ser divulgado,
apenas 11 têm perfis no Instagram. Entre eles, o jornal O Dia (RJ), parece ter
abandonado a nova ferramenta – a última foto é do dia 5 de novembro de 2013. A
tabela 1 a seguir tem alguns detalhes de como estão as contas de cada jornal:
Tabela 1 – Maiores jornais brasileiros que têm contas no Instagram
Jornal
Ranking
Categorias
Nº de
da ANJ
de fotos
Fotos
Folha de S. Paulo (SP)
1º
Noticiosas,
3.155
institucionais e
autorais
O Globo (RJ)
3º
Noticiosas e
1.581
autorais
Estado de S. Paulo (SP)
4º
Noticiosas,
1.497
institucionais e
autorais
Extra (RJ)
5º
Noticiosas e
120
autorais
Zero Hora (RS)
6º
Noticiosas,
2.058
institucionais e
autorais
Correio Braziliense (DF)
21º
Noticiosas,
5.654
institucionais
e autorais
Jornal NH (RS)
22º
Noticiosas,
138
Seguidores
33.107
Segue
quantos?
386
32.660
1.562
36.351
1.350
3.511
Nenhum
21.001
257
7.120
Nenhum
1.015
57
11 institucionais e
autorais
Jornal
O Dia (RJ)
Ranking
da ANJ
23º
Gazeta do Povo (PR)
24º
Jornal do Comércio (PE)
25º
Diário Catarinense (SC)
26º
Fonte: ANJ (2013) / perfis de Instagram
Categorias
de fotos
Noticiosas e
autorais
Noticiosas,
institucionais e
autorais
Noticiosas,
institucionais e
autorais
Noticiosas,
institucionais e
autorais
Nº de
Fotos
229
Seguidores
1.823
Segue
quantos?
40
2.509
6.248
1.558
5.128
6.746
3.416
2.857
6.383
5
16
Percebe-se que há grande disparidade entre os perfis em relação ao número
de fotos e número de seguidores. Não foi possível, em nossa pesquisa, identificar os
motivos dessa diferença. Para se obter essa informação seria preciso uma
investigação mais abrangente, envolvendo todos os veículos, com relatórios de
tráfego – que indiquem quais são os conteúdos mais visitados, os mais procurados,
os que tiveram maior repercussão – e, provavelmente, aplicação de questionários
para traçar o perfil dos seguidores e o que eles buscam nos perfis dos jornais.
Contudo, é possível cogitar que a fama do jornal, seu alcance comercial, frequência
de atualização do Instagram, qualidade das fotos e estratégias de divulgação da
conta sejam responsáveis pelo maior ou menor sucesso. O que nos faz pensar
dessa forma é o fato de os três primeiros jornais do ranking serem também os que
têm mais seguidores, apesar de terem comportamentos completamente distintos no
Instagram. Enquanto a Folha de S. Paulo publica, quase exclusivamente, a capa do
jornal, O Globo equilibra bem a publicação de fotos autorais 17e noticiosas. Já O
Estado de S. Paulo faz tudo isso e ainda publica muitas fotos institucionais e de
bastidores. Quanto ao número de fotos, eles estão bem atrás do Correio Braziliense
– a Folha, maior publicadora entre os três, tem 3.155 fotos; o Correio tem 5.654 –,
contudo acumula quase cinco vezes mais seguidores – 33.107 contra 7.120. Dado
este panorama, podemos partir para a análise aprofundada do @cbfotografia.
7. O Instagram no Correio Braziliense
O Correio Braziliense é o maior jornal do Distrito Federal e ocupa a 21ª
posição no ranking nacional de 2012, com média de 55.115 exemplares vendidos
por dia (ANJ, 2013). Está presente no ciberespaço com o site próprio18 , com o
Correio Web19, com a versão para dispositivos móveis – versão impressa transposta
para tablets e smartphones – e em redes sociais20. Neste artigo tratamos apenas do
Instagram.
16
@folhadespaulo, @jornaloglobo, @estadao, @jornalextra, @zerohorarbs, @cbfotografia,
@jornalnh, @odiaonline, @gazetadopovo, @jc_imagem e @diariocatarinense – acessados entre os
dias 15 e 17 de maio de 2014.
17
Fotos nas quais o fotógrafo tem liberdade criativa e editorial para agir com subjetividade.
18
www.correiobraziliense.com.br.
19
www.correioweb.com.br – site de conteúdo exclusivo para internet.
20
Facebook: fb.com/correiobraziliense
12 O @cbfotografia foi criado há cerca de um ano. Tem 7.120 seguidores e
postou 5.654 fotos (CBFOTOGRAFIA, 2014). Para entender o funcionamento desse
canal de comunicação com os leitores, entrevistamos o editor de fotografia do jornal,
Luís Tajes – trechos em itálico e entre aspas –, e fizemos uma análise do conteúdo
publicado no Instagram. Passemos agora a um breve histórico de como surgiu o
@cbfotografia e à exposição dos resultados da análise, em conjunto com as
informações apuradas na entrevista.
Figura 1 - @cbfotografia
Fonte: instagram.com/cbfotografia
Antes de criar o perfil no site, a equipe de fotografia do Correio cobria pautas
exclusivamente com câmeras fotográficas profissionais. Tajes explicou que o
repórter fotográfico copiava as fotos para um notebook e mandava para a redação
via internet 3G. Era preciso enviar as fotos com urgência para elas serem publicadas
no site do jornal, no Correio Web e nas redes sociais. Contudo, esse fluxo de
trabalho não era rápido o suficiente. Então o jornal resolveu substituir os notebooks
Twitter: twitter.com/cbonlinedf
Instagram: instagram.com/cbfotografia
13 por tablets, uma tentativa que fracassou. “Às vezes a foto levava três horas para sair
do iPad, porque era grande e a gente não poderia fazer foto pequena”.
A tentativa seguinte foi implementar o uso de iPhones. Foram comprados
cerca de dez aparelhos e a cobertura passou a ser feitas em duas etapas, como
Tajes nos explicou. “O fotógrafo chegava na pauta, fazia foto com o iPhone,
mandava para o site e depois ia fotografar para o jornal [com a câmera profissional].
O melhor dos mundos.” Os telefones celulares mostraram-se a solução ideal, porque
as fotos produzidas por eles tinham resolução mais baixa do que as de câmeras
profissionais21, logo a transmissão via internet móvel era mais rápida. Aliava-se a
isso o fato de que o fotógrafo não precisava parar de fotografar para enviar os
arquivos para a redação. Ele fotografava primeiro com o smartphone, dava o
comando para transmitir a foto para a redação e, enquanto era feito o upload, podia
concentrar-se em fotografar com a câmera profissional. As fotos publicadas na
internet durante a fase de apuração da pauta servem como prévias do que será
publicado em seguida, despertando interesse nos leitores, gerando tráfego nos
canais de internet e estimulando a venda de jornais impressos.
Com o sucesso dos iPhones veio a ideia de criar o perfil no Instagram. A
decisão partiu da própria equipe de fotógrafos, sem o conhecimento da editorachefe, ou da direção do jornal. Seria o perfil da fotografia do Correio Braziliense e
não do Correio em si. “A gente teve muitos problemas internos. O pessoal dizia
assim: ‘me dá a senha para eu publicar a foto do rei momo que veio visitar a
redação.’ Não [deixava pessoas de outros setores, que não a fotografia, publicarem].
Até o dia em que os níveis superiores me chamaram e disseram ‘vem cá, você está
achando que o Instagram é seu?’. Eu disse: não, não é meu, mas também não é do
Correio Braziliense, do correio.com.br, ou do Correio Web. É o Instagram da
fotografia do Correio.” Esse fato é interessante porque retrata uma tendência criada
pela fotografia digital e pela internet: a independência do repórter fotográfico.
Em muitos veículos os fotojornalistas têm liberdade para trabalhar de forma
independente, mesmo que às vezes sejam responsabilizados pelo espaço que lhes
é concedido. O blog de fotografia do jornal O Globo, o FotoGlobo, manteve-se no ar
por cinco anos, comandado pelo fotógrafo Marcelo Carnaval e outros repórteres
fotográficos. O site era voltado para as pessoas que gostavam de fotografia e
enviavam suas fotos para serem publicadas, discutidas e criticadas – às vezes
duramente – pela equipe de O Globo. No dia 30 de abril de 2013, Carnaval deixou
sua mensagem de despedida com um desabafo:
O problema é que cheguei à conclusão que a fórmula ficou velha e
cansada, como eu. Ao longo desses anos me prometeram por aqui mais
espaço para as fotos e maior envolvimento dos outros fotógrafos, mas nada
se concretizou. (CARNAVAL, 2013)
No Correio, todos os fotógrafos têm a senha do Instagram. Qualquer um
deles pode postar sem pedir permissão e sem passar pelo filtro do editor. Os
fotógrafos podem postar fotos a qualquer momento, uma vez que a câmera está
sempre ao alcance da mão – esta é uma vantagem relevante em relação às
câmeras profissionais, que são grandes, pesadas e pouco discretas, por isso não
costumam acompanhar os fotógrafos fora do horário de trabalho. Luís Tajes nos
contou que a sua única interferência na publicação é no sentido de evitar que sejam
21
A resolução da câmera do iPhone era boa o suficiente para publicação na internet e até mesmo
para impressão em tamanho reduzido no jornal.
14 postadas fotos muito parecidas entre si e quanto ao controle da quantidade de fotos
publicadas, para não haver exageros nem ficar com poucas atualizações. “No
começo eu tinha que segurar. Passava um rato e eles fotografavam. Eu pedi calma,
aí baixou tanto que teve um dia com apenas três fotos, a capa do jornal e mais duas.
Agora, eu estou saindo da fase de levantar, porque está começando a entrar numa
média boa.“ Checamos que nos últimos meses foram publicadas entre 15 e 25 fotos
por dia.
As fotos não seguem uma linha editorial, cada fotógrafo faz o que gosta mais
ou registros factuais. Contudo, a maior parte das fotos é autoral, com
representações do céu de Brasília, da arquitetura e de cenas cotidianas. Tajes disse
que trabalha dessa forma porque os seguidores do @cbfotografia não estão em
busca de notícias. São pessoas que gostam de fotografia, então não faria sentido
publicar no Instagram aquilo que já é tradicional no impresso ou nos sites de
notícias. A percepção do que interessava ao público veio aos poucos, baseada em
análise do feedback dos seguidores. “A gente começou botando tudo que era foto de
notícia junto. Até o dia em que a gente publicou um menino que foi atropelado em
cima da faixa e o mundo caiu, porque todos comentaram que era desnecessária
uma foto daquelas. O que essa foto tem de interessante pra estar aqui? Aí eu disse,
olha aqui, tá vendo? Os caras estão a fim de fotografia. Não estão a fim de notícia.”
Fotos noticiosas só aparecem no Instagram do Correio Braziliense quando se trata
de algum acontecimento importante, que impacte a vida das pessoas e precisa ser
informado rapidamente, como manifestações, um acidente ou uma greve. Além
disso, ela não pode ser um mero registro, precisa ter valor como fotografia em si.
“Geralmente é uma foto bacana, uma foto trabalhada. É ligado à foto, não é só
notícia.” Esse comportamento de entregar ao consumidor da informação aquilo que
ele quer encontrar, em vez de usar o agendamento22 para conduzi-lo, evidencia a
mudança de “um sistema ‘centrado nos meios’ para um ‘centrado no eu’, que implica
os usuários em todo o processo” (CANAVILHAS, 2011 apud MARTINS, R., 2012b).
Com relação à forma de lidar com o público, o Correio ainda está numa fase
intermediária entre o antigo modelo de comunicação de massa – no qual o veículo
age como emissor e o leitor como receptor – e o novo modelo – no qual ambos
emitem e recebem as mensagens. Ao mesmo tempo em que o tipo de fotos
presentes no Instagram se adequa ao gosto dos seguidores – os seguidores emitem
mensagens que influenciam o comportamento do veículo – o @cbfotografia se fecha
para o diálogo com os seguidores. Isso acontece porque a equipe de fotografia não
acompanha os comentários feitos nas fotos, não responde aos comentadores, não
pede opiniões ou sugestões aos seguidores, nem tampouco modera as discussões
que surgem em fotos polêmicas. “Eu não filtro ninguém. No dia da manifestação de
7 de setembro [em 2013] a gente botou a foto de um fotógrafo que levou uma bala
de borracha, aí um cara comentou assim: ‘bem feito, seu otário’. Eu apaguei e ele
comentou de novo: ‘bem feito outra vez, seu otário’. Eu entrei no Instagram dele,
entrei no Facebook, e vi que era um PM. Aí eu deixei lá. Até porque os outros
seguidores que entraram começaram a malhar ele. A gente não mexe com
comentário. Nunca apaguei um comentário a não ser esse, que voltou e eu não
apaguei mais. E é assim: pau no Agnelo23, pau no jornal, ‘me admiro o Correio dar
uma manchete dessas’. Fica tudo lá.“ Como disse Martins, R. (2012b: 6) “o jornalista
22
A agenda-setting é uma teoria da Comunicação surgida na década de 1970 que trata da
capacidade da mídia de inserir temas nas discussões do público.
23
Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal.
15 e/ou a empresa ainda se veem no papel de fornecedores de conteúdo, em lugar de
dialogar como os outros integrantes dessa esfera comunicacional.”
É possível identificar então que mesmo diante de possibilidades de
ampliação da interação e de coberturas in loco, há um processo de
redefinição dessas redes sociais quando de sua incorporação à prática
jornalística. Se em sua utilização comum na web elas estão associadas à
formação de laços, à manutenção de interações e ao estabelecimento de
comunidades que conjuntamente (de maneira mais ou menos coesa)
constroem conhecimento e cooperam na seleção, filtragem e circulação de
informações, o seu uso jornalístico é majoritariamente unilateral (MARTINS
apud MARTINS, R., 2012b).
Tajes justifica a falta de diálogo com os seguidores dizendo que a
repercussão dos comentários é pequena e não tem impacto positivo nem negativo,
“às vezes até teve, mas a gente nem viu. O instagram é o instante, não é? Ele
passa.”
Ainda sobre o relacionamento com os seguidores, outro ponto que o
@cbfotografia ainda não se habituou no Instagram é a publicação de conteúdos
produzidos por usuários (CPU). Martins, R. (2012a:9) defende que a publicação de
CPU cria um pertencimento simbólico e estreita o relacionamento com público,
gerando fidelização e aproximação entre o leitor e o veículo, além de garantir a
continuidade da publicação. O Correio Braziliense impresso tem um espaço
chamado Isto é Brasília, no caderno de Cidades, que publica fotos de leitores aos
domingos. Nos sites do jornal existem espaços para publicação de fotos de leitores,
mas no Instagram ainda não há essa prática. As únicas exceções são para
campanhas criadas pelo próprio jornal, visando o público do Instagram, como a
#vaitrabalhardeputado, que convida os leitores e seguidores a gravarem vídeos com
críticas ao expediente diferenciado dos deputados distritais, que às vésperas da
campanha eleitoral de 2014 só trabalham às terças-feiras.
As afirmações de Martins, R. são frutos de um estudo 24realizado sobre o
@jc_imagem, perfil do Jornal do Comércio, do Recife, no Instagram. Contudo,
mesmo sendo mais antigo do que o @cbfotografia e de aplicar diversas táticas de
aproximação com público, o jornal pernambucano tem menos seguidores. Isso
indica que as métricas, assim como as estratégias para alcançar maior fidelidade e
lealdade do público, precisam ser mais bem estudadas e aperfeiçoadas.
O ponto fraco da tecnologia, na visão de Tajes, é a rede celular de
transferência de dados, tanto a 3G, quanto a 4G. Ele relata que em locais com
grandes aglomerações de pessoas é praticamente impossível conseguir conexão.
Tajes conta que o Correio tem telefones das quatro operadoras de telefonia celular
que atendem à região de Brasília – Claro, Oi, Tim e Vivo – e mesmo assim tem
dificuldades para publicar fotos dos estádios em dias de jogo, ou em shows musicais
com grande público. “A gente sustentou a Copa das Confederações inteira com um
cabo de rede plugado na câmera, porque, no momento em que a torcida entrava,
que enchia de gente usando, já era. Tinha dois ou três [fotógrafos] plugados em
cabo de rede – iam fotografando e mandando via FTP para a redação –, eu com um
notebook e placa 4G e dois com ipad. De ipad não chegou nada que se mandou. De
iPhone, só antes do jogo.”
24
Artigo disponível em: portalintercom.org.br/anais/nordeste2013/resumos/R37-0922-1.pdf acessado
em 06/06/2014.
16 8. Considerações finais
Com base nos estudos que fizemos, chegamos à conclusão de que os
smartphones e o Instagram são ferramentas muito úteis ao fotojornalismo, porque
permitem ao fotógrafo estar com uma câmera em mãos o tempo todo, de forma
discreta, sem o esforço de carregar equipamentos grandes e pesados. Mas a maior
vantagem é a agilidade no processo de fotografar, tratar as imagens, publicar e
disseminar pelas redes sociais, contando para isso com os seguidores, que
promovem as publicações de forma espontânea quando curtem, comentam e
compartilham as fotos. O único entrave percebido é a qualidade ruim da rede de
dados móvel, que não suporta grandes aglomerações de pessoas. Em situações
desse tipo, os fotógrafos precisam esperar até que o sinal de internet móvel seja
restabelecido, ou então procurar outros meios de transmissão, como uma rede
cabeada, por exemplo. Há que se ressaltar também que existem limitações técnicas
nos aparelhos, como o alcance da lente – não dá para cobrir um jogo de futebol com
iPhone, por exemplo – e a resolução menor do que a das câmeras profissionais –
isso impede que uma foto seja impressa em tamanho grande, mas é aceitável para
fotos de até um quarto de página.
Quanto à prática do jornalismo via Instagram, o que falta aos veículos é saber
lidar com a tecnologia. Precisam deixar de lado antigos hábitos, abandonar o “papel
de fornecedores de conteúdo” e aprender a “dialogar com os outros integrantes
dessa esfera comunicacional” Martins, R (2012b:6). O relacionamento entre os
membros de uma rede social digital é a base para o sucesso dela e os jornais ainda
não se habituaram a dialogar com o seu público para saber o que ele quer, se está
satisfeito com o conteúdo publicado, quais são suas críticas e sugestões. Como
quase tudo no jornalismo de internet, o Instagram ainda é um terreno novo, vasto e
que está sendo explorado aos poucos.
Contudo, esta é uma pesquisa preliminar, que requer maior aprofundamento,
com estudos envolvendo diversos veículos, estabelecimento de métricas
apropriadas para verificar a aceitação do conteúdo pelo público e identificação de
métodos eficazes de trabalho na rede.
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ZUM: Revista de fotografia. São Paulo: Instituto Moreira Sales, 2012
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Samuel Paz da Silva Neves Siqueira