Artigo original / Review Articie Percepção dos cuidadores sobre os aspectos éticos do atendimento odontológico a pacientes com necessidades especiais The caregivers' perception on the ethical aspects of the dentistry attendance to patient with special care Fabiano de Sant’Ana dos Santos 1, Jeferson Flosi Camargo2, Alex Tadeu Martins3, Fábio Luiz Ferreira Scannavino4, Rodrigo Ventura Rodrigues 1. Departamento de Clínica Diagnóstico e Cirurgia, Curso de Odontologia, Unifeb Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos, 2. Cirurgião-Dentista, Curso de Odontologia, Unifeb Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos 3. Departamento de Fisiologia, Curso de Odontologia, Unifeb Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos 4. Departamento de Clínica Infantil, Curso de Odontologia, Unifeb Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos 5. Departamento de Farmacologia e Terapêutica Medicamentosa, Curso de Odontologia, Unirp Centro Universitário de Rio Preto. DESCRITORES: RESUMO Cuidadores; Ética odontológica; Pessoas com Necessidades Especiais. O objetivo do presente estudo foi avaliar a percepção dos cuidadores sobre os aspectos éticos do atendimento aos pacientes com necessidades especiais (PNE) pelo Grupo de Atendimento Multiprofissional a Pacientes com Necessidades Especiais (GAMPE) do Curso de Odontologia do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (UNIFEB). O projeto de pesquisa constou de um questionário estruturado com 14 questões fechadas, que abordavam os aspectos éticos do atendimento prestado aos PNE por meio do GAMPE. Dos 40 questionários distribuídos, todos foram respondidos, constatando-se que os pacientes são provenientes de diferentes cidades do estado de São Paulo. As mulheres acima de 50 anos de idade representaram 80% das entrevistadas. Verificou-se, também, alto índice de satisfação dos cuidadores em relação aos atendimentos prestados pelos profissionais aos pacientes. Conclui-se, portanto, que o atendimento disponibilizado aos PNE bem como aos cuidadores contém os fatores relacionados à humanização no atendimento odontológico, concomitantemente, à qualidade nos serviços odontológicos realizados pelo GAMPE. 337 Keywords: ABSTRACT Composite resin; Spectrophotometry; Toothbrushing. The main concern of patients in dentistry is the aesthetics of the smile. In this sense, the manufacturers of dental materials have improved, like the resins that are used for restorations in anterior and posterior teeth and that have excellent aesthetics and good mechanical properties. The aim of this study is to evaluate the influence of different drinks (wine, Coke and coffee) on color stability of composite resin with and without brushing with toothpaste. Specimens were fabricated with composite resin, which underwent an initial assessment of color and divided into groups that were immersed for 30 and 60 days in their net regarding the experimental groups. After this period of immersion, the color was measured again, and the specimens were submitted to brushing, to assess whether toothbrushing is an effective method to prevent or reduce the staining in composite resin, caused by drinking in study. Drinks in the study affected the color stability of composite resins, with color changes visible. Brushing was not effective in removing the pigment in red wine, however, resulted in improved staining caused by Coke. Endereço para correspondência Prof. Dr. Fabiano de Sant’Ana dos Santos Av. 27, 931 - Centro Barretos/SP – Brasil CEP: 14780-340 E-mail: [email protected] / tel.: (17) 8132-6963 e (17) 3321-6402 INTRODUÇÃO Os pacientes com necessidades especiais são indivíduos, que apresentam qualquer tipo de condição que os faça necessitar de atendimento diferenciado por um período de tempo ou por toda a vida. Nesse grupo, estão incluídos os portadores de doenças metabólicas, as alterações dos sistemas, as condições transitórias e as pessoas que perderam sua condição de normalidade, como as vítimas de acidentes, os idosos, os deficientes mentais, entre outros1-3. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 10% da população mundial apresentam algum desvio da normalidade, sendo que, no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual eleva-se para 15% de pacientes com necessidades especiais, e apenas 3% recebem atendimento odontológico4,5. O cirurgião-dentista deve reconhecer e identificar as infecções bucais, determinando o tipo de lesão, o agente etiológico e outros dados relevantes para o diagnóstico e o tratamento. A especialidade de pacientes com necessidades Odontol. Clín.-Cient., Recife, 10 (4) 337-340, out./dez., 2011 www.cro-pe.org.br Percepção dos cuidadores sobre os aspectos éticos do atendimento odontológico a pacientes com necessidades especiais Santos FS, et al. especiais exige o conhecimento da complicação orgânica, identificando a deficiência e os distúrbios que envolvem o comportamento e a personalidade desses pacientes 2,6. Para o sucesso do tratamento odontológico, é indispensável o estabelecimento do vínculo entre o profissional/paciente/família assim como a legitimidade do tratamento por meio da obtenção do termo de consentimento livre e esclarecido. Dessa forma, torna-se imprescindível que o atendimento odontológico seja pautado nos princípios éticos que regem o relacionamento de toda a equipe de saúde bucal com o paciente e sua família 5-9. O objetivo do estudo foi avaliar a percepção dos cuidadores sobre os aspectos éticos do atendimento aos PNE atendidos pelo Grupo de Atendimento Multiprofissional a Pacientes com Necessidades Especiais (GAMPE) do Curso de Odontologia do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (UNIFEB). os aspectos éticos do atendimento prestado aos PNE pelo GAMPE (Quadro 1). O referido instrumento foi elaborado, submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa – CEP/ UNIFEB sob protocolo nº 06/2008. Os questionários foram aplicados, no período de agosto/2008 a julho/ 2009, aos cuidadores que acompanhavam os pacientes com necessidades especiais em tratamento na clínica odontológica, independente de gênero, idade ou raça. O preenchimento desses questionários foi realizado de maneira individual pelos cuidadores na sala de espera das Clínicas Odontológicas do Unifeb, em horário que antecedia o da consulta odontológica. Após a obtenção dos dados relativos aos questionários distribuídos, as informações foram armazenadas no aplicativo Excel (Microsoft Co., 2002) e, posteriormente, realizada a análise estatística descritiva dos dados no aplicativo SPSS 10.0 (SPSS Co., 2003). MATERIAL E MÉTODO RESULTADOS E DISCUSSÃO O presente projeto de pesquisa constou de um questionário estruturado com 14 questões fechadas que abordavam A aplicação do questionário para os cuidadores foi de grande valia, já que esse proporcionou um maior embasamen- Quadro 1 Este questionário é parte de um trabalho de pesquisa científica. Os dados obtidos deverão ser divulgados em publicações e reuniões científicas. O sigilo em relação a sua identidade está assegurado. Sua participação no sentido de responder às questões abaixo é voluntária. Dados Gerais Gênero: ( ) masculino ( ) feminino Idade: ( ) 18 – 20 anos ( ) 21 – 30 anos ( ) 31 – 40 anos ( ) 41 – 50 anos ( ) mais de 50 anos Cidade: Estado: 338 A. Sobre o Atendimento Quanto à receptividade na clínica odontológica da Unifeb, assinale: ( ) Não fomos bem recebidos ( ) Nem todas as pessoas são cordiais ( ) As pessoas são cordiais Sobre o tempo de espera, responda: ( ) Muito demorado ( ) Pouco demorado ( ) Rápido Há quanto tempo, o paciente que acompanha faz tratamento? ( ) Primeira consulta ( ) Menos de 1 ano ( ) Entre 1 e 2 anos ( ) Mais de 2 anos Se você vem há mais de 1 ano, qual o principal motivo? ( ) Paciente é bastante difícil ( ) Paciente tem muitos procedimentos para realizar ( ) Dentistas demoram demais ( ) Poucos dias de atendimento ( ) outros Como você avalia a qualidade dos atendimentos e serviços prestados? ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Péssimo B. Sobre o Tratamento São prestadas informações sobre a realização dos tratamentos? ( ) Sim ( ) Não ( ) Algumas vezes Foi explicado porque é importante tratar para que o paciente tenha saúde bucal? ( ) Sim ( ) Não ( ) Explicou, mas não entendi O paciente necessitou ser “segurado” durante o tratamento? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei Se a resposta foi sim: ( ) Não me incomoda, pois sei que é necessário ( ) Mesmo sabendo que é necessário, isso me incomoda ( ) Não aceito esse procedimento O paciente que acompanha precisou tomar remédio para ser atendido? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei Quanto ao tratamento, realizaram tudo o que foi explicado? ( ) Sim ( ) Não ( ) Parcialmente Obrigado. Odontol. Clín.-Cient., Recife, 10 (4) 337-340, out./dez., 2011 www.cro-pe.org.br Percepção dos cuidadores sobre os aspectos éticos do atendimento odontológico a pacientes com necessidades especiais Santos FS, et al. to para o conhecimento dos aspectos éticos que envolveu o atendimento prestado pelo GAMPE (Grupo de Atendimento Multiprofissional a Pacientes com Necessidades Especiais). A avaliação qualitativa das respostas apresentadas permitiu elucidar as maiores dúvidas e dificuldades dos cuidadores no que diz respeito à ética no atendimento, corroborando experiências anteriormente relatadas na literatura 6. Dos 40 questionários distribuídos, todos foram preenchidos e evidenciaram que os pacientes atendidos pelo GAMPE são procedentes de diversas cidades da região de Barretos/ SP, de acordo com a divisão administrativa da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo por meio dos Departamentos Regionais de Saúde. Essa informação sugere que o serviço odontológico realizado pelo GAMPE apresenta uma difusão que vai além da área de jurisdição da Divisão Regional de Saúde de Barretos, uma vez que as referidas cidades sediam DRS que possuem serviços para atendimentos odontológicos para PNE. Oitenta por cento dos cuidadores entrevistados são do gênero feminino, com a faixa etária acima dos 50 anos. Esses dados corroboram os de outros autores que relataram o destaque da mulher em relação à responsabilidade pelos PNE10. As atividades de sala de espera realizadas pelo GAMPE envolvendo os cuidadores demonstraram a grande satisfação destes com relação ao trabalho desenvolvido pelo Grupo. Em relação ao atendimento, os entrevistados foram unânimes em afirmar a cordialidade dos atendentes sociais, funcionários, alunos e professores. A maioria dos cuidadores revelou serem ótimos os atendimentos prestados pelo GAMPE aos PNE. Outro estudo também revelou ótimos índices de satisfação, quando se avaliou a cordialidade no atendimento11. Os entrevistados também demonstraram em 45% dos questionários que os PNE aguardam longo período de tempo para serem atendidos, o que gera ansiedade. Preocupados com o tempo excessivo na sala de espera, os profissionais do GAMPE têm realizado treinamentos constantes e respeitando os princípios regidos pela ergonomia no atendimento odontológico. Um estudo demonstrou que o tempo em sala de espera deve ser o menor possível, pois a demora para o atendimento ao paciente é um dos fatores que contribuem para a elevação do grau de ansiedade12. Quanto à frequência, 40% dos PNE realizam tratamentos há mais de dois anos, e 47% apresentam muitos procedimentos a serem realizados. Para 75% dos cuidadores, a qualidade dos atendimentos prestados é classificada como ótima. A condição de saúde odontológica dos PNE atendidas pelo GAMPE é, geralmente, precária em virtude da carência de serviços odontológicos especializados ou mesmo que aceitem pessoas com deficiência. Tal situação também tem sido observada por outros trabalhos5,9,13. Esse fato é um dos motivos para se justificar o tempo superior a 12 meses para se concluir um tratamento odontológico nos PNE. A atual Política Nacional de Saúde Bucal prevê a atenção à saúde bucal de indivíduos portadores de necessidades especiais nos Centros de Especialidade Odontológica. Acredita-se que a implementação dessa política possa garantir maior acesso ao tratamento odontológico desse grupo populacional 14. Quanto ao tratamento, 87% dos entrevistados relataram que os acadêmicos do Curso de Odontologia informaram-lhes sobre a realização dos tratamentos. Além disso, 90% dos entrevistados ressaltaram a importância sobre a explicação do tratamento. Ressalta-se nesse trabalho que os alunos participantes do GAMPE assimilaram as orientações concernentes à ética e também à bioética na realização dos tratamentos. Dessa forma, o GAMPE tem procurado seguir os 4 princípios (autonomia, beneficência, não maleficência e justiça), elaborados de acordo com o Informe Belmont, de 1978, e complementado pela consagrada obra Principles of Biomedical Ethics dos au- tores Tom L. Beauchamps e James F. Childress, em 19791,15-16. Quanto à necessidade de o paciente ser contido, 55% dos cuidadores informaram ser necessário o uso da contenção física, tanto a ativa como a passiva. 87% relataram não se incomodar, caso seja necessária a utilização da contenção. A contenção física tem demonstrado ser um facilitador para o tratamento. Salienta-se que os métodos de contenção têm sido preconizados por outros autores com sucesso 9,16,17. A utilização de medicamentos com a finalidade de sedação consciente dos PNE foi necessária em 70% dos atendimentos. Para 72% dos cuidadores, o planejamento do tratamento foi executado inteiramente, nos PNE que se encontram em fase de manutenção. O uso de ansiolíticos em Odontologia ainda é pouco comum, entretanto é um recurso seguro que o CD deve utilizar na prática diária da especialidade em questão 18. CONCLUSÃO Conclui-se, portanto, que o atendimento disponibilizado aos PNE bem como aos cuidadores contém os fatores relacionados à humanização no atendimento odontológico, concomitantemente, à qualidade nos serviços odontológicos realizados pelo GAMPE. AGRADECIMENTOS Aos cuidadores, pacientes e funcionários do Curso de Odontologia do Unifeb e ao Programa de Iniciação Científica (PIBIC) institucional pela concessão de bolsa ao aluno para a realização dessa pesquisa. REFERÊNCIAS 1. Beauchamp TL, Childress JF. Princípios de ética biomédica. 4. ed. São Paulo: Edições Loyola; 2002. 574 p. 2. Conselho Federal de Odontologia. 2009 out. 15. Disponível em: http://www.cfo.org.br/index.htm. 3. Resende VLS. A odontologia e o paciente especial. Jornal da Odontologia CROMG. 1998; p.18-2. 4. Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Contagem da População – 2007. Brasília: IBGE; 2007. 316p. 5. Varellis MLZ. O paciente com necessidades especiais na odontologia – manual prático. 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