FEDERATION INTERNATIONALE DES FEMMES DES CARRIERES JURIDIQUES Rua Manuel Marques, 21-P, 1750-170 Lisboa ♦ Portugal Telf. 00 351 21 7594499 ♦Fax 00 351 21 7594124 www.fifcj-ifwlc.net ♦ [email protected] Luísa e João Luísa e João começaram a viver juntos pouco após se terem encontrado, em férias, no Verão de 2007. Juntos, compraram o apartamento para onde foram viver. Luísa era divorciada e Luís, seu filho, nascido em 1997, vivia com ela. Luísa era médica cardiologista e, com três colegas, era proprietária de uma clínica médica. Ela queria obter dinheiro suficiente que lhe permitisse passar um ano nos Estados Unidos, a fim de aprofundar os seus conhecimentos de cardiologia. João nunca tinha sido casado. Era professor de Direito numa Universidade privada. Queria começar a preparar o seu doutoramento. Desde o início da relação entre ambos, João tinha o hábito de pedir a Luísa que lhe contasse com quem tinha estado durante o dia, onde tinha ido e com quem. Muitas vezes enviava-lhe SMS, perguntando-lhe onde estava e a que horas se poderiam encontrar, ou a que hora ia chegar a casa. Luísa achava engraçada esta atitude de João, e dizia a si própria: « ele é muito atento, não consegue passar sem mim!”. O trabalho de Luísa exigia-lhe muito tempo e uma grande dedicação, mas era economicamente compensador. 1 FEDERATION INTERNATIONALE DES FEMMES DES CARRIERES JURIDIQUES Rua Manuel Marques, 21-P, 1750-170 Lisboa ♦ Portugal Telf. 00 351 21 7594499 ♦Fax 00 351 21 7594124 www.fifcj-ifwlc.net ♦ [email protected] No final de 2008, não foi renovado o contrato de trabalho de João na Universidade. Então, ele decidiu ficar em casa para trabalhar na sua tese de doutoramento. Nessa ocasião, para não diminuírem o seu nível de vida, e como João iria passar mais tempo em casa, ambos decidiram reduzir o horário de trabalho da empregada. A partir de então, passou a caber a João a tarefa de se ocupar das pequenas coisas do quotidiano, aquelas que a empregada não tinha tempo para fazer, e a Luísa a de pagar todas as despesas de manutenção da casa. Ao fim de alguns meses, João começou a dizer a Luísa, quando ela chegava a casa, que ele não achava normal que ela voltasse para casa sempre tão tarde, e em mais do que uma ocasião, acrescentou: “tu tens lá alguém, na tua clínica, com quem te divertes”. Noutras ocasiões, João perguntava a Luísa, para onde e com quem tinha ido, quando acabava as consultas. Estas observações de João foram feitas, quase sempre, na presença de Luís. Um dia, quando Luísa chegou a casa, mostrou ao seu filho uma camisola que ela lhe tinha comprado, e também um colar e uma écharpe que ela havia comprado para si própria. Vendo isto, e na presença de Luís, João disse: “Tu não sabes administrar o dinheiro! Mas que bonita écharpe! Quem é que tu queres atrair com isso! Um dos teus doentes ? Pobres parvos ! » 2 FEDERATION INTERNATIONALE DES FEMMES DES CARRIERES JURIDIQUES Rua Manuel Marques, 21-P, 1750-170 Lisboa ♦ Portugal Telf. 00 351 21 7594499 ♦Fax 00 351 21 7594124 www.fifcj-ifwlc.net ♦ [email protected] Nestas ocasiões, Luísa, que não gostava de ouvir essas observações, não respondia nada a João. Aos domingos à tarde, Elisa, amiga de Luísa costumava visitá-la, tomavam um chá e conversavam, por vezes saiam as duas e iam ao cinema ou jantavam fora num restaurante. Nos primeiros tempos da vida em comum, João também conversava com Elisa e saía com elas, para ir ao cinema ou ao restaurante. Depois de ter sido despedido da Universidade, sempre que Elisa chegava, João fechava-se no quarto e recusava-se a acompanhá-las quando elas saíam. Nessas ocasiões, quando Luísa regressava a casa, encontrava fechada à chave a porta do quarto. Ela era, então, obrigada a ir dormir com o seu filho, no quarto dele. Luísa atribuía a mudança de comportamento de João ao despedimento da Universidade e ao stress de preparação de tese de doutoramento. Quando as/os suas/seus amigas/os ou colegas a convidavam para ir ao cinema ou jantar fora, Luísa recusava e inventava desculpas para ter não ter problemas com João. Em mais do que uma ocasião, ela tomou a iniciativa de convidar João para ir ao cinema ou jantar fora num restaurante. João recusava, dizendo que não tinha dinheiro para desperdiçar nesse género de despesas e que não queria depender de uma mulher para se poder divertir. 3 FEDERATION INTERNATIONALE DES FEMMES DES CARRIERES JURIDIQUES Rua Manuel Marques, 21-P, 1750-170 Lisboa ♦ Portugal Telf. 00 351 21 7594499 ♦Fax 00 351 21 7594124 www.fifcj-ifwlc.net ♦ [email protected] À noite, na cama, João afastava-se de Luísa, e de cada vez que ela tentava aproximar-se ele ficava imóvel, se ela tentava dar-lhe um beijo, ele desviava a cara. Uma noite disse-lhe: “Eu não sei o que é que fizeste durante todo o dia”. Numa ocasião em que foram convidados para jantar em casa de uns amigos comuns, e enquanto Luísa se maquilhava, João disse-lhe: “Não sei para quem é que te estás a maquilhar... os teus amigos da clínica não vão lá estar!”. Nessa noite, e na presença dos amigos, João virou-se para Luísa e disse-lhe:”Cala-te! … estás sempre a falar e só dizes disparates! És insuportável!” Quando chegaram a casa, Luísa decidiu ir dormir para o quarto do seu filho. No dia seguinte, João dirigiu-se à clínica de Luísa e dos seus colegas, e, abrindo a porta sem antes ter pedido autorização, entrou no gabinete de Luísa gritando: “Quero ver o homem com quem te divertes!”. Naquele momento, Luísa atendia pela primeira vez um empresário de renome e estava a examiná-lo. Surpreendida e confundida com a atitude de João, Luísa ordenou-lhe que saísse imediatamente do seu gabinete. Em resposta, João gritou “Puta! Tu não passas de uma puta”, agarrou numa jarra com flores e atirou-a à cabeça de Luísa. Perplexo e assustado, o empresário saiu rapidamente do gabinete de Luísa e da clínica. 4 FEDERATION INTERNATIONALE DES FEMMES DES CARRIERES JURIDIQUES Rua Manuel Marques, 21-P, 1750-170 Lisboa ♦ Portugal Telf. 00 351 21 7594499 ♦Fax 00 351 21 7594124 www.fifcj-ifwlc.net ♦ [email protected] As secretárias da clínica e os colegas de Luísa entraram também no seu gabinete e obrigaram João a ir-se embora. Durante esse tempo, ele não cessou de gritar: “Que puta de colega vocês têm! Em casa eu já não quero nada com ela, faz tempo que já nem lhe toco … Ela só vem aqui para se encontrar com homens!”. Nessa ocasião na sala de espera da clínica encontravam-se várias pessoas e todas ouviram os gritos de João. Nesse dia, Luísa decidiu terminar a sua relação com João. Foi ao colégio buscar o seu filho e foi dormir a casa de Elisa. No dia seguinte, Luísa foi a casa, para ir buscar umas roupas e outros objectos pessoais seus e do seu filho. Contudo não conseguiu entrar, porque a fechadura da porta tinha sido mudada. Face ao ordenamento jurídico do seu país, indique por favor: 1- A conduta de João para com Luísa constitui um crime, ou mais do que um crime? 2- Na afirmativa, que crime ou crimes? 3- Dando como assente que um desses crimes prevê e pune a violência contra as mulheres na família, queira indicar a sua designação e se crime está contemplado no Código Penal ou num diploma especial. 4- Desde quando? 5 FEDERATION INTERNATIONALE DES FEMMES DES CARRIERES JURIDIQUES Rua Manuel Marques, 21-P, 1750-170 Lisboa ♦ Portugal Telf. 00 351 21 7594499 ♦Fax 00 351 21 7594124 www.fifcj-ifwlc.net ♦ [email protected] 5- Se esse crime está contemplado no Código Penal, pode indicar o Capítulo ou a Secção em que está incluído? 6- Se estiver contemplado num diploma especial, pode indicar o nome desse diploma? 7- Pode reproduzir o texto da norma em questão? 8- Qual é a pena prevista para esse crime? 9- Estão previstas algumas penas acessórias? 10- Se Luísa não apresentar queixa contra João, pode mesmo assim ser dado início ao procedimento criminal? 11- Se não houver lugar a processo crime, Luísa pode beneficiar de alguma medida de protecção? 12- Na afirmativa, quais? 13- Conferidas por quem? 14- Iniciado um processo-crime contra João, por causa destes factos, Luísa pode solicitar algum tipo de protecção? 15- Na afirmativa, qual? Junto de quem? 16- Se Luísa tiver apresentado uma queixa e o Ministério Público não proferir uma Acusação, que pode Luísa fazer? 17- No âmbito do processo-crime acima referido, João pode ser sujeito a algum tipo de medidas para acautelar a segurança de Luísa ou que impeçam a continuação da actividade criminosa? 18- Na afirmativa, que medidas podem ser aplicadas e por quem? 6 FEDERATION INTERNATIONALE DES FEMMES DES CARRIERES JURIDIQUES Rua Manuel Marques, 21-P, 1750-170 Lisboa ♦ Portugal Telf. 00 351 21 7594499 ♦Fax 00 351 21 7594124 www.fifcj-ifwlc.net ♦ [email protected] 19- Existe algum procedimento para avaliar o risco para a vida, segurança ou integridade da vítima? 20- Na afirmativa, qual? 21- O que pode Luísa fazer para poder voltar a entrar em casa? 22- Para crimes como o praticado por João, a lei estabelece prazos máximos para averiguar os factos, ser proferida a Acusação e ser realizado o Julgamento? 2324- Na afirmativa, quais? Se Luísa pretender pedir uma indemnização a João, em virtude dos factos acima narrados, pode fazê-lo no âmbito do processocrime? 2526- Na negativa, indique o que deverá Luísa fazer. Na afirmativa, indique por que danos pode Luísa pedir indemnização. 27- Tendo em consideração a Jurisprudência do seu país, indique o montante da indemnização que Luísa receberia. 28- Existe algum meio legal que permita a Luísa receber uma indemnização antes do final do processo? 29- Em média, quanto tempo transcorre entre a data do início e a data de decisão de um Tribunal de 1ª instância num processo por um crime idêntico ao praticado por João? 30- Se João fosse pai de Luís, a sua condenação como autor do crime narrado podia ter alguma consequência legal relativamente às suas 7 FEDERATION INTERNATIONALE DES FEMMES DES CARRIERES JURIDIQUES Rua Manuel Marques, 21-P, 1750-170 Lisboa ♦ Portugal Telf. 00 351 21 7594499 ♦Fax 00 351 21 7594124 www.fifcj-ifwlc.net ♦ [email protected] responsabilidades parentais? 31- Indique algumas especificidades da sua legislação nacional sobre esta matéria que entenda úteis. Lisboa, Março de 2012 8