O Homem e o Mundo do
Trabalho
Por que trabalho e realização parecem
estar em eterno conflito?
O Conflito entre Trabalho e Realização

O homem realizado, no sentido absoluto, não existe.
Tanto a felicidade como a realização, consideradas
absolutas, não são propriedades do ser humano. É a
busca incessante da realização que permite ao homem
transformar o seu meio natural, fazer história e instituir
o trabalho.

Se por trabalho entendemos toda atividade do homem
transformando a natureza, a relação entre trabalho e
realização humana parece evidente. Essa relação é tão
antiga quanto a história da humanidade.

Mas de fato, há um conflito entre trabalho e
realização. Esse deve-se ao fato de o
homem ter organizado a sociedade de tal
forma que, para a maioria dos indivíduos, o
trabalho que fazem não são projetos seus,
como também não são seus os frutos dos
esforços. Nessas circunstâncias, longe de
ser sinônimo de criação e de transformação
o trabalho que desenvolvem torna-se
opressivo e estafante.
O Trabalho na Antigüidade Greco-Romana

Nas sociedades greco-romanas
o trabalho era hierarquizado. O
trabalho braçal era visto como
degradante e destinado aos
povos dominados e
considerados inferiores.

Na sociedade grega, ao
cidadão era proibido o trabalho
braçal, já que ele deveria ter o
tempo livre para se dedicar à
reflexão e ao exercício da
cidadania.

Em Roma, o império foi fundado na escravidão.
Trabalhar, para o cidadão romano, era negar o ócio
(negotium), negar o tempo livre e o lazer.
A Experiência Medieval

A Idade Média não alterou substancialmente o
conceito de trabalho desenvolvido no mundo
antigo.

O trabalho servia como um meio de dominação
social e de condenação a qualquer rebeldia à
ordem instituída. A servidão era justificada pela
ordem divina.

O ócio não era sinônimo de preguiça, mas de
abstenção às atividades manuais para se
dedicar a funções mais nobres, como a
política, a guerra, a caça, o sacerdócio, isto é,
ao exercício do poder.

Na sociedade estratificada medieval, aos
servos cabiam as atividades agrícolas ou
artesanais, obedecendo a um ritmo de
trabalho próprio da economia de subsistência
e na mais completa ausência de direitos
políticos.
O Trabalho na Economia de Mercado


No mundo moderno
surge a instituição do
sistema capitalista,
com base na divisão
da sociedade em
classes sociais.
O crescimento do
mercado fez nascer
um novo tipo de
escravidão: o trabalho
compulsório dos
africanos nas colônias
da América.

Mas para as elites o
trabalho livre era a
forma ideal. Essa é por
excelência a
concepção burguesa
da liberdade individual:
ele é livre para usar a
força de seu corpo e
“escolher” o seu
trabalho.
França 1880 - Crianças trabalhando em
fábrica de ferramentas

Ocorre a separação entre o trabalhador e a
propriedade dos meios de produção; entre o
capital e o trabalho. Surge o trabalhador
“livre” assalariado (dono da força de trabalho)
e o burguês capitalista (dono do meios de
produção).
A Ética Capitalista do Mercado


Nasce com os modernos a idéia do trabalho
como essência da natureza humana.
O trabalho que, até a Idade Média, era
condenado como fator de enriquecimento
pessoal, adquire na ética capitalista o sentido
da salvação divina. A riqueza não é vista
mais como um pecado, mas como vontade
de Deus.

Valoriza-se o
trabalho como
força passível de
gerar riquezas.
Sua finalidade
principal é
produzir riqueza
a qualquer custo.

A Reforma Protestante com M. Lutero contribuiu
para reforçar o espírito capitalista. Ao ligar o
trabalho à expiação e depositar na Providência
Divina a determinação e sucesso das profissões,
Lutero justificava o enriquecimento não como
resultado da exploração do homem pelo homem,
mas como fruto do esforço pessoal e da graça de
Deus.

Moralmente, ocorre a valorização do trabalho
produtivo como sinônimo de progresso e salvação
divina.

Adam Smith afirmava que a riqueza de uma
nação dependia da produtividade baseada
na divisão do trabalho. O trabalho, então,
passa a ser decomposto em tarefas
específicas. O que estava em jogo era o fim
da autonomia do trabalho artesanal e a
reordenação dos trabalhadores nas fábricas.

Desenvolve-se com a ordem burguesa de
produção o corpo disciplinado, a ética do
tempo útil, o trabalho produtivo.

Nova moral: a valorização do trabalho
produtivo como sinônimo de progresso e de
salvação divina.

O tempo útil do trabalho produtivo deveria
funcionar como um “relógio moral” que cada
indivíduo levaria dentro de si.
O Apogeu do Mundo Liberal
Taylorismo e Fordismo
Estratégias de “domesticação” do trabalhador.

Taylorismo: Taylor (1856-1915) aperfeiçoou as concepções
de A. Smith, defendendo um método científico de
racionalizar a produção, economizando tempo mediante a
eliminação de gestos e atitudes improdutivas. Para
garantir o lucro era preciso romper com a prática da
indolência e da preguiça. Era necessário eliminar o
trabalhador politizado e resistente ao controle e instituir o
trabalhador forte e dócil.

Fordismo: Introduzido por Henry Ford (1886-1974) na fabricação em
massa de automóveis. Foi a continuidade do taylorismo. Sua
principal inovação foi a linha de montagem, que inseria a atividade
motora e dispensava qualquer possibilidade de iniciativa própria. O
trabalhador, confundido com a máquina é obrigado a cumprir um
ritmo padrão de produção.
Trabalho e Alienação

Nas sociedades modernas o trabalho ao
mesmo tempo que é a realização do homem
é, também, sua negação como sujeito social
e histórico.

O mercado produz uma nova identidade no
trabalhador, causando sua alienação e o
processo de coisificação humana.
Os Caminhos da Realização
“Caminhar em direção da maior satisfação de viver
significa romper com o reinado da alienação, em
que a vontade da maioria é dominada pelas
ideologias e pela máquina da indústria cultural e
das culturas de massa. Significa resgatar os
princípios do homem-cidadão e transformar o
debate sobre a valorização do trabalho numa
questão política. A conquista da dignidade não
interessa apenas àqueles que vivem do trabalho,
mas é fundamental para toda a sociedade”.
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Trabalho e homen