Solenidade de N. S. Jesus Cristo,
Rei do Universo. Ano B
15 de novembro de 2015
Caríssimos irmãos e irmãs:
Para este Domingo, a liturgia da Palavra, solenemente proclamada, nos conduziu à compreensão da
verdadeira realeza do Filho do Homem, que Daniel
havia profetizado: “seu poder é um poder eterno que
não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se
dissolverá.” (Dn 7,14)
No Evangelho Jesus disse, respondendo a Pilatos: “Tu o dizes: Eu sou rei!” (Jo 18,37). De fato, o
Senhor flagelado e humilhado se apresenta como rei
de um reino estranho a esse mundo.
Durante sua vida pública, teve o Cristo máximo
cuidado para não dar conotação política à sua missão.
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Quando o povo quis aclamá-lo rei, esquivou-se. Entretanto, rei enquanto único mediador da salvação de toda a criação, sendo “a testemunha fiel, o primeiro a
ressuscitar dentre os mortos, o soberano dos reis da
terra.” (Ap1,5)
A perícope do Evangelho de São João que escutamos, inicia-se com a pergunta de Pilatos ao Senhor: “Tu és o Rei dos judeus?”
Essa pergunta e
acusação ao mesmo tempo revelava o motivo pelo
qual fora condenado. Conforme os judeus, o Nazareno
teve a pretensão de restaurar o reino de Davi e libertá-los do jugo dos romanos. Essa acusação delatava-O
como agitador político.
Jesus não negara sua messianidade nem sua
realeza, cuja força e eficácia tange os corações, não
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gerando coação nem opressão nem morte, mas liberdade, vida e ressurreição.
No prefácio da Missa de hoje, que o presidente
da celebração fará logo mais em nome de toda a assembleia dirigida a Deus Pai, está contida toda a teologia desta solenidade, conforme o axioma “lex orandi,
lex credendi”, ou seja, o que a Igreja tem como oração oficial em sua liturgia é lei para crer.
O Pai consagrou seu Filho, o Verbo Eterno feito
carne no seio de Maria, com o óleo da exultação; ungiu-O
com o óleo da alegria, isto é, com a unção de
seu Espírito. Consagrou-O para ser sacerdote eterno e
rei do universo.
Como sacerdote, Cristo pontificou no altar da
cruz, sendo Ele próprio a vítima de imolação e, assim,
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realizou a redenção da humanidade; “por seu sangue
nos libertou dos nossos pecados.” (Ap 1,5)
Sendo Rei do universo, consagrado para esse
ministério, submeteu toda a criatura ao seu poder para
consigná-la ao Pai.
O reino
que veio pregar e pelo qual deu sua
vida, inaugurou-o com sua pregação, ratificando-o em
seu mistério pascal. Um reino da verdade e da vida,
da santidade e da graça, da justiça, do amor e da
paz. Eis o texto do prefácio da Missa de hoje.
Mas, “Meu reino não é deste mundo”, respondeu
Jesus a Pilatos durante o processo de sua condenação.
O reino deste mundo é aquele no qual impera a
mentira, a fraude e a violência gerando desumanização
e morte; é aquele onde a santidade é identificada co4
mo fraqueza; onde a gratuidade e a ação de graças
degenera em avareza e demagogia; um reino cuja justiça é protocolada por quem tem o poder da persuasão, da simulação, do dinheiro e da arte de representar no palco da vida o espetáculo dos falsos heróis;
um reino do amor que deixa de ser doação de si
mesmo para objetivar a pessoa do outro em interesses
múltiplos e, por fim, um império da paz que é sinônimo de ausência de conflitos, mantido por armas bélicas e usinas nucleares, drogas farmacêuticas e entretenimentos que paralisam, distraem, esvaziam e alienam o ser humano.
“Eu sou Rei,” a resposta de Jesus ao representante do poder romano na Palestina e diante de todo
o povo, que presenciava o interrogatório, não foi compreendido por ninguém, nem sequer pelos seus discí5
pulos que fugiram todos amedrontados. Um rei que
decepcionou e frustrou a todos, fazendo da cruz seu
trono, da coroa de espinhos o diadema real, de uma
cana em mão seu cetro e do manto escarlate a veste
do ultrage.
O Cristo, rei e sacerdote, por seu sacrifício “fez
de nós um reino, sacerdotes para seu Deus e Pai” (Ap
1,6), para darmos continuidade à sua obra neste mundo, enquanto esperamos seu retorno glorioso.
Renascidos do sacramento do batismo, confirmados pelo poder do Espírito Santo e alimentados pelo
Corpo e Sangue do Senhor, não banalizemos pela
nossa inconsistente fé e más ações a obra da redenção Daquele que é, que era e que vem, o Todo-
poderoso”. (Ap 1,8)
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O medo de participar de seu sacrifício e a surdez de nossa orgulhosa auto-suficiência não impeçam
de escutarmos a voz de quem é a Verdade, pois disse
Jesus: “Todo aquele que é da verdade escuta a minha
voz”. Sejamos da Verdade; sejamos, pela nossa vida,
uma confissão pública de fé Naquele que foi o Amém
ao Pai, do trono da cruz.
Assim seja!
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Homilia do Domingo Solenidade de Cristo Rei