Mark W. Baker
O poder da
personalidade de
Jesus
S U­M Á­R I O
IN­T RO­D U­Ç ÃO CAPÍTULO
1
7
Jesus versus Darth Vader 11
CAPÍTULO 2 Poder pessoal 33
CAPÍTULO 3 Três formas de poder 54
CAPÍTULO 4 O poder do rico e do famoso 74
CAPÍTULO 5 Narcisismo e poder 92
CAPÍTULO 6 Poder e liderança 119
CAPÍTULO 7 O poder do amor 146
CONCLUSÃO 164
NOTAS 166
AGRADECIMENTOS 169
I n t ro d u ç ã o
S
e eu soubesse o título do maior best-seller do seu país, você não
iria me perguntar que livro é esse? E se eu lhe dissesse que é o livro
mais vendido em seu país há muitos anos, você não iria querer um
exemplar? E se eu ainda acrescentasse que esse mesmo livro é o mais
vendido no mundo, você não iria querer lê-lo? Pois então: esse livro
é a Bíblia. Nenhum outro livro teve tanto impacto desde a invenção
da imprensa do que esse que conta a história de um mestre judeu
itinerante chamado Jesus.
Postei esse mesmo comentário em um site da internet há cerca
de dois anos. Eu tinha sido convidado pelo site a participar de um
debate como especialista, por ser psicólogo clínico, e mencionei na
ocasião que a Bíblia continua vendendo como “pão quente” a cada
ano que passa. Imediatamente, recebi o comentário de uma mulher
que chamarei de Amanda. A mensagem dela tinha um assunto:
“Pão quente? Tem certeza?” Ela se ofendeu com a minha referência
à Bíblia e a pôs em dúvida.¹ Eu lhe respondi afirmando que a Bíblia
vende pelo menos 25 milhões de exemplares por ano, em mais de
100 idiomas, e que, apesar da crítica atual a toda religião organizada, ela ainda é o maior best-seller do planeta. Afirmei também que
achava que as pessoas deveriam lê-la, se tivessem o mínimo interessse em espiritualidade. Trocamos opiniões mais algumas vezes,
porém Amanda não aceitou nada do que eu disse, pois, aparentemente, já tinha uma opinião formada sobre a Bíblia e não estava
aberta a discussões.
Alguns meses mais tarde, reparei que Amanda tinha postado um
comentário de cunho muito pessoal naquele site. Ela perdera uma
amiga íntima e resolveu pegar uma Bíblia que estava jogada em
8 O poder da personalidade de Jesus
algum canto da casa. Contou que aquele livro a tocou tanto que não
conseguia parar de chorar. Amanda ainda disse algumas coisas negativas sobre as pessoas religiosas, mas queria que todos soubessem
que ela tinha se convertido pelo impacto poderoso que a Bíblia pode
ter na vida das pessoas em situação de crise.
Perto do final da história de Jesus, seus seguidores mais próximos
se reuniram com ele no Jardim do Getsêmani. Enquanto Jesus orava,
eles pensavam no que estava para acontecer com ele. Os discípulos
tinham largado tudo para segui-lo, e esperavam que ele estabelecesse algum tipo de estrutura de poder sob a qual eles o servissem.
Pedro, um dos amigos mais íntimos de Jesus e a personalidade mais
forte do grupo, afirmou que estava preparado para tudo. Ele chegou
a prometer a Jesus: “Mesmo que seja preciso que eu morra contigo,
nunca te negarei” (Mateus 26:35).
Quando os guardas vieram prender Jesus, Pedro tentou assumir o
controle da situação. Ele conhecia o poder de seu Mestre e sabia que
ele poderia facilmente derrubar aquele pelotão de soldados. Mesmo
assim, sacou a espada e cortou a orelha de um dos atacantes.
Jesus o repreendeu imediatamente e mandou que recolhesse
a espada. Disse a Pedro que, se fosse da sua vontade, ele poderia
dominar aquela multidão com seu próprio exército de milhares de
anjos. Mas não quis. Em vez disso, curou a orelha do homem ferido
e disse: “Todos os que empunham a espada, pela espada morrerão”
(Mateus 26:52). Quando Jesus estava sendo amarrado e preso, seus
discípulos fizeram a única coisa que acharam que podiam fazer naquela situa­ção: fugiram.
Assim como Amanda, eles não entenderam logo. Jesus era a
pessoa mais poderosa que já tinham conhecido, e, no entanto, sua
ideia sobre poder era muito diferente da de seus seguidores. Estes
não entendiam como era possível ter todo o poder do mundo e não
usá-lo para dominar alguém quando a situação exigisse. Os judeus
estavam sendo oprimidos social e economicamente, e os discípulos
sabiam que alguma coisa precisava ser feita a respeito disso. Jesus
Introdução 9
tinha um poder ilimitado, e com certeza poderia usá-lo para corrigir
as injustiças sociais e econômicas visíveis para todos. Eles esperavam
que Jesus exercesse seu poder sobre os dominadores do povo judeu,
por causa dos benefícios que isso traria. Mas Jesus não o fez. E por
essa razão todos desertaram. Pedro chegou a negar que conhecia
Jesus – três vezes!
Jesus sabia bem o que estava para acontecer com ele, e sabia que
precisava se submeter às pessoas que queriam matá-lo. Ele agiu assim para cumprir o plano de Deus para sua vida e sua obra sobre a
Terra. Mas ele estava nos ensinando também sobre poder. Ele não
estava apenas falando sobre poder; ele o estava vivendo. A maneira
como Jesus exerceu esse impacto sobre a história foi tão poderosa
que, no princípio, pouca gente entendeu. Ele não dominou os que
vieram para prendê-lo porque entendia que dominar os outros não
é a maior nem a melhor forma de poder.
O resto da história todo mundo conhece. Jesus nunca estabeleceu
o poder político que seus seguidores esperavam. Ele foi crucificado
entre dois ladrões comuns. Porém, depois de sua morte, cada um
dos discípulos mais próximos sofreu o tremendo impacto do encontro pessoal com Jesus. Um impacto que mudou suas vidas. A
partir daí, e da vinda do Espírito Santo em Pentecostes, perderam
o medo e saíram contando a todo mundo como suas vidas tinham
sido poderosamente transformadas por Jesus. A mensagem que eles
pregavam era tão forte que se alastrou como fogo na mata, até mesmo entre alguns da agressiva oposição.
Seus discípulos fugiram do jardim primeiramente porque até
aquele momento eles só conheciam o poder sobre os outros. Foi
só depois da morte e ressurreição de Jesus que eles entenderam a
importância do poder com os outros. Jesus não estava interessado
em dominar. Sua meta era a transformação dos corações humanos. Jesus não precisava controlar as pessoas pelo medo; ele podia
transformá-las pelo amor e assim alcançar muito mais. Embora os
seus seguidores mais próximos não tivessem entendido a princípio,
10 O poder da personalidade de Jesus
a sua abordagem do poder foi a mais bem-sucedida que o mundo
já conheceu.
Os capítulos seguintes falam do poder pessoal com base na vida
de Jesus. Embora eu acredite que Jesus seja Deus, vou focalizar, na
maior parte das vezes, a sua humanidade. Vou me concentrar no
poder “pessoal” de Jesus, na forma como ele se relacionava com os
outros como pessoa humana. Muitos livros foram escritos falando
de seu poder divino e de seu poder miraculoso, mas este livro trata
da maneira como ele era poderoso no seu relacionamento humano
com as pessoas. Há muita coisa que nós podemos aprender com o
comportamento de Jesus como homem entre nós. Veremos como
podemos nos beneficiar da brilhante psicologia contida em seu ensinamento sobre o poder. Não se preocupe se achar meio confuso
no início. Você estará em boa companhia se não compreender Jesus
de imediato.
Ao longo do livro, vou me referir ao best-seller que mencionei
anteriormente – a Bíblia. Embora eu tenha passado muitos anos
estudando em seminário, não é preciso nenhum conhecimento
teológico para ler esse livro. Mesmo que você não tenha certeza de
como se sente em relação a Jesus, será possível surpreender-se com
o quanto pode crescer ao tomar conhecimento do que ele tem a
transmitir sobre poder pessoal.
C a p í t u l o
1
Jesus versus Darth Vader
As pessoas em geral se sentem poderosas quando estão no controle. Elas acreditam que para se ser realmente poderoso é preciso ser
rico, famoso ou estar no topo de algum governo ou grupo empresarial. No mínimo, elas acham que ser poderoso significa ter força
física para subjugar os outros. Quando a maioria das pessoas pensa
em poder, elas o associam ao Super-Homem, ao Batman ou ao vilão
de Guerra nas estrelas, Darth Vader.
Há pouco tempo fiz contato com uma psicóloga que se especializou no tratamento de sobreviventes de traumas. As pessoas que ela
ajuda passaram pela experiência de quase morte, sofreram abuso
físico ou foram confrontadas com outras situações assustadoras. Em
seu consultório, ela me mostrou como incentiva seus clientes a selecionar, entre centenas de pequenas figuras que ela coloca ao redor
da sala, as que representam as histórias que eles desejam contar mas
têm dificuldade de colocar em palavras. As imagens são organizadas
sobre prateleiras com base no significado que possuem. São figuras
de pessoas, lugares e personagens facilmente identificáveis de filmes
ou histórias em quadrinhos.
Olhei em volta e fiquei surpreso ao ver o Super-Homem, o Batman
e o Darth Vader juntos em um grupo de figuras, enquanto Jesus estava meio escondido em um canto, bastante solitário.
Quando perguntei à minha colega por que o Super-Homem e
Darth Vader foram colocados juntos, e Jesus em outro lugar, ela
respondeu: “Ah... porque o Super-Homem e o Darth Vader representam poder, e Jesus é apenas uma figura pacífica.”
12 O poder da personalidade de Jesus
Tem certeza?, pensei comigo mesmo. Então é isso que a maioria das
pessoas pensa sobre o poder? Super-heróis com força bruta ou alguma
habilidade extraordinária são considerados os verdadeiros poderosos. Não importa quais sejam as suas intenções ou os seus atos. Para
a grande maioria das pessoas, poder é a capacidade de dominar os
outros. Jesus não fez isso, logo, para elas, ele não é poderoso. Jesus é
pacífico. Poderoso é Darth Vader. Eis o que quase todos acham.
Eu concordo com a minha colega: estar no controle é uma forma de ser poderoso. De fato, Jesus demonstrou esse poder com os
milagres que realizou, mas ele sempre desconfiava das pessoas que
o seguiam apenas pelos milagres.1 Ele sabia que existiam outras
formas de poder e que a sede de domínio impedia as pessoas de
descobri-las.
Muita gente que procura ajuda em terapia acredita que precisa
de mais controle para resolver seus problemas. Elas pensam, “Se eu
fosse mais forte, isso não teria acontecido comigo”, ou “Eu preciso
parar de reclamar e de ficar remoendo o passado”. Essas pessoas
acham que expressar sentimentos dolorosos é sinal de fraqueza e
que ser capaz de controlar esses sentimentos é demonstração de força. Mas a solução para os seus problemas não é um controle maior.
Há um modo mais poderoso de viver.
As diferentes formas de poder
A ideia de que Darth Vader é poderoso e Jesus é manso vem do fato
de as pessoas não saberem que existe mais de um tipo de poder. A
Bíblia começa narrando: “No princípio Deus criou os céus e a terra.”
Deus iniciou a história da Bíblia com o seu poder de domínio físico
supremo, que é a forma mais elementar de poder. Mas Deus não
parou nisso: “Criou Deus o homem à sua imagem...” (Gênesis 1:27).
Sua criação do mundo físico e de tudo o que há nele culminou com
a criação da humanidade. Ao criar o mundo físico, Deus estabeleceu
Jesus versus Darth Vader 13
o poder do domínio, mas, com a entrada da humanidade na criação,
uma nova forma de poder foi criada – a autoridade.
Depois de criar o mundo inanimado, Deus criou os seres vivos
para habitar nele. Primeiro, Ele criou outros animais, alguns deles
com capacidade de pensar, sentir e com vários níveis de relacionamento. As formas mais avançadas desses animais podem até mesmo
sonhar. Mas então Deus criou os humanos – os únicos animais sobre a terra que sabem que sonham.
Ser criado à imagem de Deus significa que os seres humanos têm
uma capacidade diferenciada de relacionamento.2 Deus criou a humanidade como macho e fêmea, estabelecendo os seres humanos
fundamentalmente como seres que se relacionam, tal como Deus
é também relação entre três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Ele
nos criou com a capacidade exclusiva de termos um relacionamento
de autoridade com Ele, no qual não nos sentíssemos controlados,
mas seguros. Esse poder de autoridade acontece quando o poder se
compromete com o bem-estar das pessoas que precisam dele. O ato
final da criação de Deus foi soprar “o fôlego de vida” na humanidade, nos animando como seres espirituais para termos relacionamentos pessoais, tanto com Ele quanto uns com os outros. É nesse
relacionamento que nos descobrimos completos e nos sentimos
mais em casa.
Controle é o poder de comandar, dominar, impedir ou fazer com
que alguma coisa aconteça por meio da força. Mas autoridade é o
poder para incluir, inspirar, transformar e soprar vida nos outros.
Uma relação pessoal com alguém que tem autoridade pode nos dar
orientação, coragem, motivação e, sobretudo, para os que procuram
terapia, tornar-se um abrigo para suas dores.3
A maior parte das pessoas que me procuram em busca de ajuda
não entende que há maneiras diferentes de poder.4 Elas tentam
desesperadamente ter mais controle sobre suas vidas para resolver
seus problemas. O que elas não percebem é que ter capacidade para
controlar temporariamente a dor é diferente de receber poder para
14 O poder da personalidade de Jesus
enfrentá-la. A capacidade de estar no controle serve para determinado propósito na vida, porém os seres humanos necessitam de um
relacionamento pessoal com a autoridade para serem curados.
Dando forças para um soldado
“Deus, me ajude” foi minha reação automática quando desliguei o
telefone.
Um médico do Exército me encaminhou John porque ele estava
sendo dispensado após atuar em várias frentes de combate. O médico descreveu em detalhes o Transtorno de Estresse Pós-Traumático
(TEPT) de John, e ficou claro que o soldado vivia uma aflição
interna bastante significativa. Os psicólogos inventaram o diagnóstico TEPT para ex-combatentes, como John, que foram treinados
para serem guerreiros nas violentas situações do campo de batalha,
mas que depois voltavam para a pacífica vida civil e tinham que se
readaptar à rotina. Isso é muito difícil, e graves problemas psicológicos podem surgir quando a sua vida depende de você estar no
controle a cada segundo, durante meses sem fim, e depois voltar
para casa na expectativa de que retome rápida e automaticamente
a vida normal.
John estava enredado em um conflito de poder terrível, com sentimentos de medo e necessitando desesperadamente de força para
lidar com esses conflitos. Mas, assim como a maioria de nós, ele definia poder apenas como domínio. O poderoso é muito rico, ocupa
um cargo político, tem autocontrole absoluto ou é o mais forte da
turma e ganha qualquer briga. É por isso que tanto o Super-Homem
(um cara do bem) quanto o Darth Vader (um cara do mal) são
vistos como poderosos. Quase todo mundo só se sente poderoso
quando domina a situação, mas buscar forças em Darth Vader não é
o mesmo que buscar forças em Jesus. O que recebemos quando nos
voltamos para Jesus é bem diferente.
Jesus versus Darth Vader 15
John concordou em fazer uma entrevista terapêutica, e eu fiquei
contente e ansioso ao mesmo tempo. Eu tinha um grande respeito
por John e sua atuação como combatente nas forças armadas, e me
perguntei se ele teria o mesmo respeito por mim. Eu queria lutar por
John, já que ele tinha pago um preço alto lutando por mim e pelo
nosso país. Ainda que qualquer um o visse como uma pessoa poderosa, John não tinha forças para aplacar sua constante ansiedade,
ataques de raiva e pesadelos – e não sabia o que fazer a respeito disso.
– Como posso ajudar? – perguntei quando ele se sentou.
– Não sei, doutor – John respondeu.
– Você já fez terapia antes? – perguntei.
– Sim, senhor – ele assentiu.
– Foi útil para você?
– Não, senhor – John respondeu quase sem expressão, olhando
direto em meus olhos.
Aquele tratamento ia ser exatamente como eu pensava: difícil.
John não confiou em mim, e eu não o culpo. Outros tinham fracassado em ajudá-lo, o que fez com que ele não falasse de suas
experiências em combate com ninguém. John contou que bebia demais e que se envolvia em brigas de bar, mas, por causa de seu treinamento militar, quase sempre vencia nas brigas. Ele sabia como
dominar a situação quando precisava. Relatou-me um incidente
em um restaurante, quando o manobreiro lhe devolvera o carro de
um jeito que ele não tinha gostado, e ele xingou o rapaz, esperando
que ele o atacasse primeiro. Em poucos segundos, John estava cercado por todos os manobreiros do estacionamento. Cuspiu em um
deles, tentando provocar uma briga, porque acreditava que seria
capaz de machucar a todos. Mas também achava que merecia ser
machucado por todos.
John tinha tentado de todas as maneiras manter sua dor emocional sob controle, e usou a palavra derrota para se referir ao fracasso
de suas tentativas. Eu posso vencer isso, ele dizia a si mesmo quando se
sentia deprimido, e Vamos esquecer isso era o que lhe vinha à mente
16 O poder da personalidade de Jesus
quando as lembranças dolorosas apareciam. Essa abordagem estoica
do tipo Darth Vader para controlar sua dor só a enterrava mais fundo, fazendo com que ela voltasse mais tarde em forma de pesadelos.
John estava em um carrossel de medo e de tentativa de controle do
qual não poderia saltar. O medo torna as pessoas mais controladoras,
e lutar para ter controle não cura ninguém de seus medos.
John acreditava que Deus ajuda as pessoas necessitadas. Mas não
acreditava que a ajuda de Deus se aplicasse a ele. É fácil pensar que
John estava traumatizado por tudo o que vira nos combates. Mas a
verdade é que John estava traumatizado pelas coisas que ele tinha
feito nos combates, e isso o deixava culpado e envergonhado de se
aproximar de Deus. São em momentos como esses que as pessoas
precisam do poder curativo do relacionamento pessoal com outro
ser humano. Era esse o tipo de relacionamento que eu pretendia ter
com John.
O soldado estava tentando manter as coisas sob controle. Era só o
que ele sabia fazer. Mas isso só o mantinha ansioso, isolado e preso
ao passado. John achava que homens poderosos tinham que estar no
controle. Jesus, porém, ensinou que a única maneira de encontrar
poder verdadeiro é abrindo mão do controle. Ele disse: “Pois quem
quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a sua vida
por minha causa, a encontrará” (Mateus 16:25). Isto significa que
precisamos estar abertos para a ajuda de alguém. Só assim somos
capazes de abrir mão do controle temporário dos nossos problemas
e encontrar um poder maior que nos ajude a enfrentá-los com honestidade. Na mentalidade militar de John, renunciar era coisa de
perdedores – bons soldados tinham tudo sob controle. Mas, mesmo
sendo extremamente difícil para ele, nas semanas seguintes John foi
se abrindo aos poucos à minha influência, e descobriu que seu medo
de perder o controle fazia parte do problema.
– Eu tenho um pesadelo que me persegue, e o mais estranho é
que ele acontece quando estou acordado – disse John em uma das
sessões de terapia.
Jesus versus Darth Vader 17
– Você quer dizer uma lembrança? – eu lhe perguntei.
– Sim, acho que é isso – disse ele.
– Você pode me contar? – eu quis saber, mas temeroso do que
podia vir em seguida.
– Nós voltávamos do patrulhamento. Eu tentava manter os soldados em estado de alerta o tempo todo, mas eles estavam muito
cansados, e nós recuamos. Eu não sei, mas às vezes nós relaxávamos – disse John.
Eu escutava com toda a atenção.
– No caminho, Derek começou a conversar com um garoto que
encontramos. Ele não falava inglês, mas Derek estava tentando ser
agradável. Eu deveria ter lhe dado uma bronca por isso, mas não dei.
Não sei por que, mas não dei. Então o inferno explodiu.
– Sim – eu reagi, incentivando-o a continuar.
– O moleque tinha uma pistola Glock escondida no casaco e,
antes que pudéssemos nos mexer, ele fez dois buracos na cabeça de
Derek. – John prosseguiu como se estivesse em transe. – Então eu
acabei com o garoto. E logo um cara mais velho saiu correndo de
uma casa, vindo em nossa direção, gritando e segurando uma faca,
e eu atirei nele também. Acho que era o pai ou um parente, não sei.
Acabei com os dois. Mortos. Acho que nunca vou me esquecer disso.
Depois de um silêncio que durou uma eternidade, eu disse:
– Você guardou essa história durante muito tempo.
– Eu nunca contei para ninguém.
– Fico feliz que tenha me contado.
– Agora você deve estar achando que eu estou realmente doente –
ele disse com um sorriso afetado.
– Eu acho que manter esse tipo de história só para você é que
pode torná-lo doente. Mas, ao confiar em mim, você pode impedir
que isso aconteça – repliquei.
Durante todas as sessões com John, eu mantive uma cadeira vazia junto de nós. Gostava de imaginar que Jesus estava sentado ali.
Pensava no que ele podia estar querendo me dizer e no que Jesus
18 O poder da personalidade de Jesus
gostaria de dizer para John. Terapia tem o poder de curar porque
é um processo muito pessoal em que a força do relacionamento é
capaz de ter um efeito poderoso. À medida que John me dava autoridade para exercer um relacionamento curativo em sua vida, eu me
voltava para Jesus como uma autoridade na minha. Este é o significado mais profundo do que disse João Batista: “É necessário que ele
cresça e que eu diminua” (João 3:30). Precisamos mudar o significado de poder para que Jesus possa aumentar o seu poder em nós.
Por fim, John parou de brigar nos bares e seus pesadelos diminuíram bastante. Ele começou a perceber que não seria um poder
supra-humano que controlaria seus medos e seu sentimento de
culpa. Alguma coisa realmente forte estava acontecendo entre nós,
e ela estava demolindo a sua imagem Darth Vader de poder. Isso
permitiu que John fizesse o que não podia fazer antes – renunciar à sua necessidade de controle, aceitar sua vulnerabilidade,
estabelecer uma relação forte que o deixasse encarar a sua dor. A
princípio, John pensou que as consultas o ajudariam a controlar
melhor a própria vida, mas eu o ajudei a abrir mão desse controle
para encontrar algo melhor.
Não há figuras do Super-Homem e de Darth Vader em meu
consultório, apenas uma cadeira vazia onde eu imagino que Jesus
está sentado. E seu impacto sobre nós dois era muito mais do que
simplesmente pacífico.
O poder pessoal da autoridade
Assim como John, Jesus teve de enfrentar seus próprios acontecimentos traumáticos. Antes de começar seu ministério que mudou o
mundo, ele foi levado ao deserto para ser tentado por Satanás. Isso
seria um pesadelo para qualquer pessoa.
Vendo que Jesus estava com fome, o tentador procurou seduzi-lo
com comida, sugerindo que ele transformasse pedras do deserto em
Jesus versus Darth Vader 19
pães para saciar a fome. Mas Jesus lhe disse: “Nem só de pão viverá
o homem” (Mateus 4:4). Ele sabia que o controle sobre as necessidades físicas era essencial para a vida humana, mas que a autoridade
que vinha do seu relacionamento com Deus e com as pessoas era
mais fundamental para se manter plenamente vivo. Portanto, a
possibilidade de morrer de fome não apavorou Jesus. Mais tarde, ele
disse: “Foi-me dada toda a autoridade nos céus e na terra. Portanto,
vão e façam discípulos” (Mateus 28:18,19). Seu desejo não era controlar. Ele veio para ter relacionamentos poderosos.
Sigmund Freud achava que as pessoas acreditam em Deus porque não conseguem lidar com seus sentimentos de desamparo. Eu
acho que Freud tinha um problema com autoridade. Ele enxergava
equivocadamente a religião como uma tentativa de controlar os
sentimentos dolorosos, o que não seria uma forma autêntica de
viver. Mas Freud estava confundindo controle com autoridade.
Tentar se manter sempre no controle provoca um sentimento
de fraqueza, porque não é possível estar permanentemente nessa posição. Logo, qualquer pessoa que usa a religião para tentar
controlar a si mesma ou os outros demonstra medo de sentir-se
fraca. Mas essa não é a religião de que Jesus falava. Trazer todos os
nossos sentimentos de desamparo para a relação com Deus produz
uma sensação de verdadeira paz, porque viver sob a autoridade de
Deus não apenas nos faz sentir seguros, mas também nos ajuda a
viver em verdadeira autoridade com os outros. A palavra “autoridade” pode ter um sentido muito negativo, porque as figuras de
autoridade em nossa vida em geral quiseram nos controlar, usando até maneiras perversas. Para que entendam de que autoridade
estou falando, vou contar a história de uma mulher que viveu essa
poderosa ligação de autoridade com Deus e que, a partir desse relacionamento íntimo, exerceu uma autoridade suave sobre as pessoas, mesmo durante as provações mais duras da vida. Por não ter
resistido a aceitar a autoridade de Deus, ela foi capaz de viver uma
existência muito poderosa.
20 O poder da personalidade de Jesus
Há coisas na vida piores do que a morte
Debbie procurou terapia por causa da depressão. Era uma cristã
dedicada, mas sofria de uma depressão biológica que a debilitava
bastante. No auge das crises, ela não conseguia dormir, mal podia
comer e perdia o interesse por qualquer coisa agradável da vida.
Por vezes, até se tornava potencialmente suicida. Era humilhante
para Debbie ter uma relação profunda e comprometida com Deus
e ainda assim pensar em acabar com a própria vida. Ela custou
a compreender que uma depressão biológica não é causada por
falta de fé, mas que a presença de uma enfermidade pode incutir
pensamentos mórbidos até nas pessoas mais devotas. Suas ideias
suicidas, contudo, eram muito perigosas, pois as pessoas clinicamente deprimidas às vezes acabam cometendo o suicídio por
causa da doença.
Depois de alguns meses de terapia e de excelente medicação,
Debbie não sofre mais dessas crises intensas de depressão. Ela sabe
que ainda está sujeita à doença, mas aprendeu a lidar com esse mal
quando ele aparece. Tragicamente, porém, quando estava em processo de recuperação, depois de alguns meses de tratamento, Debbie
recebeu um diagnóstico de câncer de mama em estágio avançado.
Eu não sei por que algumas pessoas têm de sofrer mais do que
outras, e pretendo perguntar a Deus sobre esta aparente injustiça
quando estiver no céu. Debbie é uma dessas pessoas. Ela não apenas
teve de vencer uma depressão profunda, como agora precisava lutar
por sua vida contra um câncer agressivo.
Após meses de quimioterapia, orações e uma coragem férrea, o
câncer regrediu. Debbie o enfrentou com uma força que espantou
os médicos. Eles chegaram a pedir que ela falasse para alguns grupos
de pacientes com câncer, como exemplo inspirador de como enfrentar essa doença que ameaça a vida. Debbie aceitou e falou com uma
autoridade que encorajou os outros enfermos, porque a autoridade
dela derivava do seu relacionamento com Deus. Isso lhe deu a força
Jesus versus Darth Vader 21
de que precisava para atravessar as circunstâncias mais difíceis – até
o medo de perder a própria vida.
Certo dia, quando se preparava para falar a um grupo de pacientes, Debbie comentou comigo que ficava surpresa com a reação que
recebia quando falava de sua batalha contra o câncer.
– É engraçado... – disse Debbie sorrindo.
– O que é engraçado? – perguntei.
– Ouvir as pessoas dizerem quanto eu sou corajosa por enfrentar
o câncer com uma atitude tão positiva.
– E por quê? – perguntei de novo.
– Bem, porque na vida há coisas piores do que a morte. Quando
se enfrenta uma depressão profunda que nos faz ter pensamentos
suicidas, descobre-se que há coisas piores do que perder a vida física.
A morte não é a nossa maior ameaça. Perder a força para enfrentar
a vida é pior.
Debbie sabia que nem só de pão viverá o homem. Nós, seres humanos, temos a capacidade de transcender as necessidades mais
elementares de controle para viver com autoridade por alguma
coisa maior do que nós. No momento em que Debbie percebeu que
era Deus, e não ela, quem estava no controle, foi possível enfrentar
qualquer problema com uma confiança que impressionava a todos
que a conheciam. Esse é o tipo de poder que Satanás nunca pôde
compreender inteiramente.
Medo, orgulho e desejo de dominação
Depois de Jesus recusar a oferta de comida naquele deserto, o demônio resolveu tentá-lo novamente, dizendo-lhe que se atirasse do alto
de uma montanha para ver como Deus o salvaria. Satanás achava
que todo mundo tinha medo de morrer. Mas Jesus retrucou: “Não
ponha à prova o Senhor, o seu Deus” (Mateus 4:7). Satanás sabia
bem usar o medo para fazer as pessoas terem desejo de dominação,
22 O poder da personalidade de Jesus
mas Jesus não tinha medo, pois sabia que os pedidos feitos a Deus
por domínio físico eram extremamente superficiais se comparados
ao poder que vem de um relacionamento com ele.5
Então, por fim, o tentador levou Jesus para a montanha mais
alta de todas e ofereceu-lhe o domínio sobre o mundo e sobre tudo
o que havia nele, se ele o adorasse. Satanás achava que sabia o que
todas as pessoas secretamente desejam – o poder de governar o
mundo. Mas Jesus, mais uma vez, o venceu, por sua completa ausência de orgulho. Enquanto Satanás lhe oferecia o domínio sobre as
necessidades físicas, sobre a própria vida e até sobre todas as coisas
do mundo, Jesus estava focado na sua relação pessoal com Deus e
as pessoas, e não em conquistar o mundo para si mesmo. Domínio
sobre as pessoas era uma coisa insignificante se comparada com a
razão por que Jesus veio – exercer uma autoridade amorosa no coração dos seres humanos.
Depois disso, Satanás retirou-se. Esse texto do Evangelho concentra-se na capacidade de Jesus para escolher servir a Deus – o bem – e
não a Satanás – o mal. Ao fazer essa escolha, Jesus deu uma demonstração clara da natureza do poder.
Pense nisso. Por que Jesus não atacou Satanás com mil descargas
de raios e depois estabeleceu um reinado de bondade na Terra, do
qual ele seria governante supremo? Ele mesmo poderia ter escrito
a Bíblia, nomeado seus discípulos como ministros de seu reino e
estabelecido regras claras sobre como todos nós deveríamos agir.
Pense nas inúmeras guerras que poderiam ter sido evitadas, em
toda a pobreza que teria sido erradicada e em todo o sofrimento
humano sem sentido que nunca teria acontecido nos últimos 2 mil
anos. Se ele tivesse feito isso, nós seríamos mais felizes e viveríamos
em harmonia.
Mas Jesus não fez nada disso. E nós estamos apenas começando a
entender a grandeza de sua escolha. Satanás nos tenta com o desejo
de domínio para encobrir nossos medos e satisfazer nosso orgulho.
Deus, porém, nos oferece a capacidade de viver com uma autoridade
Jesus versus Darth Vader 23
pessoal que vem do nosso relacionamento com Ele e com as pessoas.
É possível conseguir um controle sobre o medo e o egoísmo, mas há
um tipo diferente de poder que não está baseado no medo ou no
orgulho e que nada tem a ver com domínio ou controle. Um poder
que multiplica nossa capacidade muitas vezes mais do que alguém
pode alcançar sozinho.
Jesus disse a alguns judeus que o perseguiam: “Por mim mesmo,
nada posso fazer... pois não procuro agradar a mim mesmo, mas
àquele que me enviou” (João 5:30). Esse não é o poder de dominação e controle para benefício próprio. É o poder para exercer autoridade em relacionamentos horizontais com as pessoas, com base em
um relacionamento vertical com Deus. Domínio exterior é apenas
uma força para manter os outros submissos. Autoridade, ao contrário, é um poder que transforma os corações. Satanás nos tenta com
o desejo de dominar as pessoas e as situações, mas Deus nos criou à
sua imagem para viver com autoridade.
De um modo ou de outro, todos nós passamos pela prova que
Jesus enfrentou com Satanás naquele deserto. Sem dúvida, ter domínio completo sobre o nosso mundo e sobre tudo o que há nele soa
atraente para a maioria. É verdade que se pode dominar as pessoas
pela força durante algum tempo – às vezes até por um longo tempo.
Mas Deus fez o Universo para que esse tipo de poder não dure para
sempre.
É possível obter coisas pela força, mas a única maneira legítima
para viver com os outros é por meio da autoridade que vem da influência pessoal.6 Ninguém possui autoridade legítima por si mesmo. A autoridade foi criada por Deus para existir entre as pessoas no
momento em que elas estabelecem um verdadeiro relacionamento
umas com as outras, mas é retirada quando não o fazem.
Muitos livros foram escritos para provar que poder pessoal
é a capacidade de estar no controle. Na verdade, a maioria dos
best-sellers sobre como ter sucesso nos negócios, levar vantagem
sobre os outros ou até sobre como conquistar as pessoas mais
24 O poder da personalidade de Jesus
atraentes tem como base essa definição de poder. O conselho que
se recebe desses livros é que precisamos estar no controle para ter
poder de conquista. Mas Jesus nos oferece uma orientação bem
diferente.
Um desses best-sellers sobre o poder7 nos diz: “Nunca confie demais nos amigos, aprenda a usar seus inimigos.” Mas Jesus diz: “Eu
vos chamei de amigos.” O livro afirma também: “Mande os outros
fazerem o trabalho para você, mas sempre fique com o crédito.”
Jesus porém disse: “Bem-aventurados os humildes.” O mesmo livro
de autoajuda prossegue: “Use uma honestidade e uma generosidade
calculadas para desarmar suas vítimas.” Mas Jesus nos diz: “Dê como
lhe foi dado.” O tal livro diz ainda: “Esmague seus inimigos.” Jesus,
entretanto, nos ensina: “Ame seus inimigos.”
Se você não entendeu ainda que há formas diferentes de poder,
ficará confuso com essas contradições. Geralmente, nós queremos
dominar para obter benefícios. No entanto, precisamos é de autoridade para viver por algo maior do que nós mesmos. Tanto o domínio quanto a autoridade podem ser definidos como poder, mas eles
produzem coisas muito diferentes para você e em você.
Por que as pessoas querem ter domínio
Se viver com autoridade é mais eficaz, por que tanta gente quer ter
mais domínio? Há duas respostas básicas para isso.
A primeira é que as pessoas têm medo.
O meu paciente John tinha muito medo, e por isso queria desesperadamente ter mais domínio. A sua dor era tão intensa, que ele só
desejava que ela desaparecesse. O domínio é um antídoto para a dor
e pode aliviar-nos de nossos medos. Ele lhe permite levantar muros
de autoproteção, mas dessa forma a influência dos outros em sua
vida fica bloqueada. O objetivo do domínio é fazer as coisas ruins
pararem de acontecer. E o objetivo da autoridade é fazer as coisas boas
Jesus versus Darth Vader 25
acontecerem. Como John aprendeu, controlar os medos não gera
crescimento, mas penetrar no coração machucado que sente medo
leva ao crescimento.
Embora o medo seja uma forte motivação para que se deseje mais
controle e domínio, ele não é a única.
A segunda razão para as pessoas quererem sempre dominar é o
orgulho.
Vou dar um exemplo real de alguém que lutou com o medo, o
orgulho e o desejo de ter mais domínio na busca de poder pessoal
para a sua vida.
A história de Anderson
Anderson cresceu em uma região muito pobre da cidade, onde
sempre se sentiu controlado, ou por traficantes de drogas, ou pela
polícia. Ele enxergava o poder em termos muito simples – lute para
ter domínio se quiser continuar vivo.
Anderson mora na favela de uma grande cidade brasileira. As
lutas por poder são um meio de vida quando se cresce em um nicho
de pobreza de um país que convive com o crime e onde a violência
é muito grande. Há poucas coisas no mundo que clamam mais pelo
uso do poder do que a pobreza extrema e a violência.
Anderson ia dormir toda noite com o barulho de tiros e de pessoas gritando. Ainda bem jovem, ele se envolveu com uma facção
criminosa, porque isso parecia o único jeito de conseguir proteção.
Hoje, mais da metade dos seus amigos de infância estão mortos ou
na cadeia. Vivendo entre pessoas indefesas, ele tentava desesperadamente encontrar poder para sobreviver.
Em agosto de 1993, aconteceu uma coisa terrível que mudou a vida de Anderson. Seu irmão foi morto quando a polícia invadiu a favela. O irmão não tinha envolvimento com o tráfico, e sua morte foi
uma perda injustificável e sem sentido. Anderson ficou inconsolável
26 O poder da personalidade de Jesus
e ansioso por vingança. A polícia tinha eliminado alguém muito
precioso, e ele se sentiu no direito de buscar retaliação. Ele sabia que
os chefes do tráfico vingavam cada assassinato de seus familiares
matando policiais e quis agir da mesma forma com relação à morte
imperdoável de seu irmão inocente. Sua reação inicial era compreensível, mas tinha como raiz o orgulho.
Orgulho é o sentimento da importância do que é devido a nós
mesmos e está apenas focado nas nossas necessidades. O orgulho
de Anderson o levou a querer ter o domínio da situação e acertar
contas com a polícia. Porém, ele estava tão abalado pela morte do
irmão que alguma coisa muito relevante aconteceu dentro dele. No
começo, ele mesmo estranhou quando essa pergunta brotou em seu
interior. Em vez de “Como posso me vingar?”, ouviu seu coração
dizer “Como podemos acabar com essa violência?”.
Em vez de alimentar o desejo de vingança que só causaria uma
violência maior e batalhas infindáveis pelo poder, Anderson começou a sonhar com uma vida melhor. Então decidiu lutar. Mas,
dessa vez, por uma vida melhor para ele e para sua comunidade.
Anderson percebeu que precisava conseguir poder para mudar o
seu mundo. Tentar controlar a ação da polícia ou dos chefes do
tráfico não era mais o caminho. Ele precisava de uma nova forma
de poder para sobreviver.
Anderson começou canalizando sua energia para reformar a
sua comunidade e ajudou a criar um grupo de músicos chamado
AfroReggae, que influenciaria os jovens sem rumo da favela e os
ensinaria a tocar instrumentos e a dançar. Ele proporcionou a esses
jovens uma identidade e uma visão que trouxe sentido às suas vidas.
A música e a dança de rua do AfroReggae foram tão marcantes, que
centenas de crianças da comunidade quiseram fazer parte do grupo.
Muitos dos amigos de Anderson acharam que era uma reação estranha à morte do irmão, mas ela acabou sendo uma resposta muito
poderosa. Hoje, o projeto AfroReggae beneficia milhares de crianças
e jovens de diversas comunidades.
Jesus versus Darth Vader 27
Anderson abandonou as drogas, a obsessão por dinheiro e o desejo de dominar os outros. Ele conseguiu alguma coisa muito mais
poderosa do que a vida na criminalidade seria capaz de lhe dar.
Hoje, Anderson inspira respeito. Ele foi impotente para evitar o que
aconteceu com seu irmão, mas aprendeu que ser ferido não faz de
alguém uma pessoa fraca. Ao contrário, é uma experiência que nos
dá a oportunidade de reagir positivamente.
Anderson resolveu parar de buscar o poder sobre os outros e, em
vez disso, decidiu criar poder com os outros. Em vez de tentar controlar as pessoas, ele escolheu liderá-las com autoridade. Autoridade
é o compromisso que uma pessoa assume de servir de inspiração
para que os outros se tornem aquilo para o qual foram criados.
Para atingirem o melhor de si mesmos. Era uma nova forma de
poder, algo criado entre os membros do grupo quando trabalhavam
juntos. Uma experiência de poder criada em conjunto por pessoas
que brilharam na sua capacidade de superar circunstâncias difíceis
e limitações individuais em tempos de carência.
A Bíblia nos diz que Deus criou o mundo de modo que nós possamos descobrir o poder verdadeiro se o procurarmos. “Pois desde a
criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder
e sua natureza divina têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas” (Romanos 1:20). Você escolhe.
Você pode procurar ter poder sobre as pessoas e cair na armadilha
de só investir na riqueza material, na dominação e em outros ídolos
que nunca lhe satisfarão completamente. Ou pode escolher buscar
a autoridade junto com os demais, ocupando seu lugar no Universo
como alguém que não está acima dos outros, mas que é capaz de
ficar ao lado deles e incentivá-los a buscar em primeiro lugar a vida
que Deus planejou para todos os seres humanos. Esse tipo de poder
é possível porque nós fomos criados à imagem de Deus e podemos
ser usados por ele para inspirar todas as pessoas que nos cercam.
Eu não sei como Anderson chegou a essa mudança de compreensão do que é o poder. Talvez eu venha a conversar sobre isso com ele
28 O poder da personalidade de Jesus
um dia. Não posso deixar de acreditar que os ensinamentos de Jesus
tiveram algum papel na sua transformação e na descoberta do poder
da autoridade. Cada um de nós é capaz de escolher seguir ou não o
exemplo de Jesus. Não se trata de uma religião, de uma filosofia ou
de uma ideologia – trata-se de uma maneira de viver. Aqueles que
descobriram esse estilo de vida mudaram tanto a própria perspectiva quanto o caminho de milhares de pessoas ao seu redor. Viver com
autoridade significa comprometer-se com o bem dos outros e abrir
mão do medo e da satisfação do próprio orgulho. Anderson descobriu que esse é o estilo de vida mais poderoso, mesmo nas situações
mais difíceis. Deus vem e nos fortalece quando escolhemos viver da
maneira para a qual fomos criados. Viver comprometido com o bem
dos outros, em vez de controlá-los e dominá-los, reflete a imagem
de Deus na Terra e mostra a sua natureza divina na criação. Quer
Anderson atribua ou não sua transformação a Deus, ele sabe que
escolheu o modo de vida mais poderoso.
Poder com os outros ou
poder sobre os outros
Se lhe fosse dada a oportunidade de dominar o mundo e tudo o
que há nele, talvez não fosse fácil recusar a oferta. Jesus foi capaz de
transcender suas necessidades físicas mais básicas, mas isto seguramente não seria tão fácil para nós, simples mortais.
Mas não é porque uma coisa é mais básica que ela se torna mais
forte. Essa é a lição que John, Debbie e Anderson aprenderam ao lutar
para ter uma vida melhor. O controle físico pode ser tirado de nós,
mas a autoridade pode ser renovada cada vez que nos conectamos
com Deus e com as pessoas. Somos capazes de superar as situações
mais desesperadoras com o poder que emana das relações pessoais.
Como fomos criados à imagem de Deus, possuímos um poder
extraordinário que é revelado por meio dos relacionamentos. Os
Jesus versus Darth Vader 29
psicólogos constataram que o poder que emana de nossas relações
com o próximo é um fundamento indispensável para desenvolver o
potencial humano. Nós descobrimos que o poder pessoal verdadeiro é o poder com os outros e não sobre os outros.
Resolvendo as lutas pelo poder
Há muitos anos eu quis trabalhar com pré-adolescentes porque
achava que poderia fazer diferença na vida deles quando ficassem
mais velhos. Eu sabia que não iria ser fácil por tudo o que havia
escutado sobre os conflitos com jovens, mas decidi ser professor em
uma igreja local. Procurei os líderes da igreja e eles foram mais do
que receptivos. Imagino que não devia haver muitos pretendentes
para o cargo.
Eu estava ao mesmo tempo entusiasmado e temeroso antes
da primeira aula. Não sabia muito sobre ensino, mas achava que
aquele era provavelmente um bom lugar para começar. Preparei
um longo plano de aula, mas esgotei-o antes mesmo que soasse
o sinal. Sentir-se despreparado diante de um grupo de adolescentes é assustador. No instante em que parei de falar, os alunos
transformaram a sala de aula em um caos. Os últimos 15 minutos
exigiram mais de mim do que o tempo em que dei a aula e as horas
de preparação. Naquele momento percebi que era indispensável
estar preparado.
À medida que as aulas foram transcorrendo, pude criar um bom
relacionamento com os garotos. Lembro-me de Allen, que era filho
de um dos líderes da igreja. Por isso eu queria deixar uma boa impressão nele.
Allen se vestia de maneira despojada, seu cabelo comprido caía
sobre o rosto, impedindo que as pessoas vissem seus olhos. Ele
não economizou palavras para expressar sua revolta por ter sido
obrigado a frequentar minha turma e, a fim de me ridicularizar,
30 O poder da personalidade de Jesus
abaixava a cabeça nos primeiros minutos de aula, como se estivesse
dormindo. Apesar disso, eu me recusei a entrar em conflito direto
com ele. Achava que era isso que ele queria: que eu o confrontasse
ou criticasse o seu comportamento. Optei, porém, por tratá-lo com
o devido respeito. Era a minha primeira experiência como professor e eu não tinha ideia de como controlá-lo, mas queria ser uma
influên­cia positiva na vida dele. Combati meu medo de fracassar e
pedi a Deus que me inspirasse as palavras certas para me comunicar
com Allen. Isso me deu a força necessária para rebater com humor
seus comentários irados. Acho que ele não esperava que eu reagisse
dessa forma à sua falta de respeito e isso acabou gerando um novo
tipo de relacionamento entre nós dois, o que me dava esperança de
fazer alguma diferença na vida dele.
Com o passar do tempo, eu me mudei para um bairro distante
da cidade e deixei o cargo de professor da escola dominical. Avaliei
que tinha sido uma experiência de crescimento para mim. Aprendi
muitas coisas com aqueles adolescentes, mas não tinha certeza se algum deles tinha aprendido algo comigo. Principalmente quando me
lembrava de Allen, eu tinha quase certeza de que ele nunca ouvira
uma palavra do que eu dizia na sala de aula.
Certa noite, anos depois, alguém tocou a campainha do meu
apartamento. Para minha surpresa, era Allen. Ainda se vestia daquela maneira despojada e usava cabelo comprido, mas agora preso
em um rabo de cavalo. Quase não o reconheci por causa do sorriso
largo com que me saudou.
– Mark – disse ele alegremente quando eu abri a porta.
– Allen? – reagi com surpresa.
– Bom ver você – ele replicou de maneira inesperada.
– Bom ver você também – eu disse sem disfarçar a surpresa.
– Estou feliz por tê-lo encontrado – disse Allen, apertando firme
a minha mão. Esse gesto de confiança era estranho vindo da parte
dele, mas retribuí da mesma maneira, o que fez com que nos sentíssemos bem.
Jesus versus Darth Vader 31
– Entre – eu disse, recuperando-me. – Como me encontrou? – perguntei, sem saber o que dizer.
– Olha, não foi fácil. Mas eu precisava ver você – disse Allen enquanto entrava em meu apartamento, com a cabeça erguida.
– Então, o que está acontecendo? – perguntei um tanto timidamente, com medo da resposta.
– Ah, está tudo bem – ele respondeu, com um jeito animado que
eu nunca vira antes. – Eu só queria lhe dizer obrigado – completou,
me olhando direto nos olhos. – Quer dizer, aquelas coisas que você
ensinou na escola dominical realmente me tocaram. Tenho certeza
de que eu não seria o homem que sou hoje se não fosse você. Eu
entendo agora. E só queria agradecer pela influência que teve em
minha vida.
Fiquei sem palavras. Aquilo parecia surreal. O garoto que eu considerava menos promissor agora me aparecia como um rapaz maduro. Não sei qual de nós dois estava mais grato naquele momento.
Pude entender, então, por que os professores se dedicam tanto ao
seu trabalho. Momentos como aquele fazem tudo valer a pena.
O relacionamento com Allen me ajudou a compreender algo
importante sobre as lutas pelo poder. Lutas pelo poder são resultado
de pessoas lutando pelo controle, e só são resolvidas quando alguém se
rende à autoridade. Eu não resolvi a minha luta pelo poder brigando com Allen nem cedendo a ele, mas tive que renunciar à minha
necessidade de controle para causar um impacto na vida do rapaz.
Jesus não dominava. Ele falava com tamanha autoridade que
levava as pessoas a quererem ser diferentes. Eu fui tentado a me estressar com Allen, disputando o controle da sala de aula quando tive
receio de não estar fazendo um bom trabalho. Mas me voltei para
Deus, pedindo-lhe força para, em vez de tentar exercer o controle,
falar com autoridade. Ao contrário de tentar dominar Allen, eu procurei inspirá-lo. Hoje percebo que esse tipo de autoridade transforma internamente as pessoas, em vez de dominá-las externamente.
Esse é o poder verdadeiro com os outros, e não sobre os outros. Não
32 O poder da personalidade de Jesus
sei o que aconteceu com o resto da turma, mas a transformação de
Allen fez tudo aquilo ter valido a pena.
Jesus ensinou que para sermos fortes precisamos ser fracos. Ele
disse que devemos ser os últimos para sermos os primeiros e que
para achar o poder verdadeiro temos, antes, que nos perder. Para Jesus, os realmente poderosos desejam contribuir para o crescimento
dos outros, em vez de dominá-los. Esta é a autoridade pessoal que
resolve as lutas pelo poder e que inspira as pessoas a mudarem por
dentro.
De acordo com Jesus, poder pessoal começa com renúncia. E isso
é oposto a tudo o que Darth Vader representa. Se o seu principal
desejo é dominar os outros, renunciar a esse poder significa derrota.
Porém, se você deseja ter uma autoridade verdadeira com os outros,
renunciar ao poder que controla e domina é o primeiro passo para
conquistar seu objetivo.
Apesar de não possuir nada, de ter apenas 33 anos de um ministério itinerante sem apoio da mídia e de nunca ter escrito um livro,
Jesus tem cerca de 2 bilhões de seguidores dedicados no mundo de
hoje. Isto é poder. Seu estilo de influência foi diferente do estilo dos
líderes que surgiram antes dele, mas ninguém desde Jesus deixou
uma marca tão ampla e duradoura no mundo. Nenhum rei na
história, nenhum comandante de exército, nenhum líder mundial
governou uma multidão maior do a que Jesus governa no mundo
de hoje.
INFORMAÇÕES SOBRE OS
PRÓXIMOS LANÇAMENTOS
Para saber mais sobre os títulos e autores
da EDITORA SEXTANTE,
visite o site www.sextante.com.br,
curta a página facebook.com/esextante
e siga @sextante no Twitter.
Além de informações sobre os próximos lançamentos,
você terá acesso a conteúdos exclusivos e poderá participar
de promoções e sorteios.
Se quiser receber informações por e-mail,
basta cadastrar-se diretamente no nosso site
ou enviar uma mensagem para
[email protected]
www.sextante.com.br
facebook.com/esextante
twitter: @sextante
Editora Sextante
Rua Voluntários da Pátria, 45 / 1.404 – Botafogo
Rio de Janeiro – RJ – 22270-000 – Brasil
Telefone: (21) 2538-4100 – Fax: (21) 2286-9244
E-mail: [email protected]
Download

Mark W. Baker