FLÁVIA CERIZE VALLERINI EXPRESSÃO DO RECEPTOR ANDROGÊNICO EM CÉLULAS DO FOLÍCULO PILOSO DE PACIENTES COM PUBARCA PRECOCE IDIOPÁTICA Dissertação apresentada ao Curso de Pós- Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção de título de Mestra em Medicina São Paulo 2015 FLÁVIA CERIZE VALLERINI EXPRESSÃO DO RECEPTOR ANDROGÊNICO EM CÉLULAS DO FOLÍCULO PILOSO DE PACIENTES COM PUBARCA PRECOCE IDIOPÁTICA Dissertação apresentada ao Curso de Pós- Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção de título de Mestra em Medicina Área de Concentração: Ciências da Saúde Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Longui São Paulo 2015 FICHA CATALOGRÁFICA Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Vallerini, Flávia Cerize Expressão do receptor androgênico em células do folículo piloso de pacientes com pubarca precoce idiopática./ Flávia Cerize Vallerini. São Paulo, 2015. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde. Área de Concentração: Ciências da Saúde Orientador: Carlos Alberto Longui 1. Receptores androgênicos 2. Folículo piloso 3. Adrenarca 4. Puberdade precoce BC-FCMSCSP/01-15 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho ao meu amado marido, Guilherme, e aos meus filhos, Guilherme e Laura, que são a minha família, que são o meu mundo. Aos meus pais, Pedro e Helenita, que me ensinaram a crescer e a viver, agradecendo por todos os esforços que fizeram por mim. Aos meus irmãos e irmãs, tias e tios, sobrinhos e primos, que fazem parte da minha história. E à minha avó Iolanda, “in memoriam”, minha amiga eterna. Dedicatória AGRADECIMENTOS Agradeço ao Prof. Dr. Carlos Alberto Longui, meu orientador, por todo o apoio e pelo grande aprendizado e crescimento pessoal a mim proporcionados. Ao Dr. Flávio Richeti, que me ajudou e me ensinou com a dedicação e paciência com que só um amigo faria. À Dra. Tatiane Sousa e Silva, pela grande ajuda operacional no laboratório, minha sincera gratidão. Aos alunos da graduação e aos residentes de endocrinologia pediátrica da FCMSCSP, fundamentais para a realização do meu trabalho. À minha tia e também professora, Dra. Eliane Arantes Braga, pela ajuda nos momentos de necessidade. À Eliane Roseli Barreira e Miguel Ângelo de Góes Junior, pelos conselhos, suporte e ajuda direta. À Érika Tiemi Fukunaga e ao Serviço de Estatística da Pós-Graduação, pela competência e pela precisão na realização do seu trabalho. Aos Professores da Banca de Exame de Qualificação e Defesa, pelas sugestões e críticas essenciais ao aperfeiçoamento deste estudo. À Mirtes Dias Souza, Sônia Regina Alves e toda equipe da Pós Graduação, pelo auxílio e atenção. À CAPES, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal De Nível Superior, pelo incentivo financeiro para a realização da minha pesquisa, possibilitando o desenvolvimento da mesma. À Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, à Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e à Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho, pela oportunidade de realizar este trabalho. A todos os pacientes que, voluntariamente, cederam suas esperanças em busca de algo melhor para todos. Meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que, de forma direta ou indireta, colaboraram para a idealização deste trabalho. Agradecimentos ABREVIATURAS E SÍMBOLOS 17OHP: 17-hidroxiprogesterona ACTH: Hormônio Adrenocorticotrópico AMPc: Adenosina Monofosfato Cíclico (AMPc) ANDRO: ∆4-androstenediona BCR: Gene Normalizador (Breakpoint Cluster Region) C: Controle CRH: Hormônio Liberador de Corticotropina Ct: Ciclo limite (Cycle threshold) DHT: Dihidrotestosterona E2: Estradiol EST: Estatura HAC: Hiperplasia Adrenal Congênita ID: Idade IDPBC: Idade Pubarca IDTLC: Idade Telarca M: Medula MM: Idade da Menarca Materna SDHEA: Sulfato de Deidroepiandrosterona OMIM: Herança Mendeliana Humana disponível online (Online Mendelian Inheritance in Man) P: Peso PCR: Reação em Cadeia da Polimerase (Polymerase Chain Reaction) PPI: Pubarca Precoce Idiopática Q: Quencher (fluorocromo inibidor) qRT-PCR: PCR quantitativa em Tempo Real R: Reporter (fluorocromo emissor) RA: Receptor de Andrógenos RIE: Radioimunoensaio SOP: Síndrome do Ovário Policístico StAR: Proteína Reguladora Aguda da Esteroidogênese TESTOT: Testosterona Total TESTO: Testosterona Xq11-12: Braço longo do cromossomo X, região 11-12 ZF: Zona Fasciculada ZG: Zona Glomerular ZR: Zona Reticular Abreviaturas e Símbolos SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ……………………………………………………………………... 1 1.1. Revisão de literatura................................................................................. 3 1.1.1. Pubarca precoce idiopática............................................................. 3 1.1.2. Desenvolvimento puberal normal em meninas............................... 4 1.1.3. Esteroidogênese adrenal................................................................ 5 1.1.4. Hormônios andrógenos................................................................... 9 1.1.5. A pele como órgão endócrino......................................................... 10 1.1.6. Receptor de andrógeno (RA) ......................................................... 12 1.2. O gene do receptor de andrógeno (OMIM: 313700) ............................... 13 1.3. Justificativa deste estudo.......................................................................... 14 2. OBJETIVOS ………………………………………………………………………... 15 3. CASUÍSTICA E MÉTODO.………………..…………………………………….... 17 3.1. Casuística.................................................................................................. 18 3.2. Coleta das amostras de bulbo capilar....................................................... 19 3.3. Análise bioquímica.................................................................................... 19 3.4. Análise molecular...................................................................................... 20 3.5. Extração do RNA....................................................................................... 20 3.5.1. Folículo piloso (amostras).................................................................... 20 3.5.2. Curva padrão (próstata)....................................................................... 21 3.6. Reação enzimática de transcrição reversa............................................... 21 3.7. PCR em tempo real quantitativa (qRT-PCR)............................................ 22 3.8. Iniciadores e sondas direcionados ao gene AR....................................... 25 3.8.1. Iniciadores e sondas direcionados ao gene utilizado como normalizador da reação (BCR- Breakpoint Cluster Region)............. 25 3.8.2. A Reação de PCR em tempo real (RT-PCR).................................... 26 3.9. Construção da curva padrão.................................................................... 27 3.10. Cálculo da expressão de RNAm do RA em amostras de pelo pubiano. 28 3.11. Análise estatística.................................................................................. 29 4. RESULTADOS.…………………………………………………………………….. 30 4.1. Resultados descritivos das variáveis........................................................ 33 4.2. Resultados analíticos das variáveis clínicas............................................. 34 4.3. Resultados analíticos das variáveis hormonais........................................ 35 Sumário 4.4. Análise da expressão do Gene RA........................................................... 35 4.4.1. Expressão do gene RA em pacientes e controles no grupo PII-III.. 36 4.4.2. Expressão do gene RA em pacientes e controles no grupo PIV-V 37 4.4.3. Expressão do gene RA na evolução da puberdade......................... 38 4.5 Correlação entre SDHEA e expressão do gene RA................................... 3939 5. DISCUSSÃO.……………………………………………………………………….. 41 6. CONCLUSÃO.…………………………………………………………………….... 45 7. ANEXOS.…………………………………………………………………………..... 47 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.…………………………………………….. 56 RESUMO.………………………………………………………………………….... 63 ABSTRACT.……………………………………………………………………….... 65 Sumário 1. INTRODUÇÃO 2 Pubarca precoce idiopática (PPI) no sexo feminino é definida como o aparecimento de pelos pubianos antes dos oito anos de idade, sem outros sinais de desenvolvimento puberal ou virilização(1,2). Na maioria das vezes, é uma situação benigna e autolimitada, seguida por puberdade em idade normal(3,4). O mecanismo subjacente parece ser o amadurecimento precoce da zona reticular (ZR) do córtex adrenal, independente ou parcialmente adrenocorticotrópico ACTH, que origina dependente de hormônio aumento na produção de andrógenos adrenais, em particular o aumento de dehidroepiandrosterona (DHEA) e sulfato de deidroepiandrosterona (SDHEA)(3). Os andrógenos agem através da ligação a receptores nucleares, o que é facilitado por serem hormônios lipofílicos derivados do colesterol e capazes de atravessar a membrana celular. A ligação do esteroide ao seu receptor determina a migração do complexo hormônio-receptor para o núcleo, onde reconhece o sítio específico de ligação ao DNA (elemento responsivo) modulando a transcrição dos genes-alvo(5). Esses hormônios são reconhecidos como os principais moduladores do desenvolvimento e da manutenção do fenótipo masculino, bem como sua função reprodutiva, mas também afetam a função de diversos tecidos não reprodutivos, como, por exemplo, o ósseo e o musculoesquelético. A maioria dessas funções envolve a expressão do receptor de andrógenos (RA)(6,7). A hiperexpressão do RA no complexo pilo-sebáceo pubiano pode ser um dos fatores responsáveis pela hipersensibilidade desse tecido aos andrógenos, causando o aparecimento precoce dos pelos. A quantificação dos receptores de andrógenos pode reconhecer a influência da expressão dos receptores na idade de início da pubarca, bem como oferecer subsídios para o planejamento terapêutico nos casos que apresentem hiperexpressão do receptor androgênico. O objetivo deste projeto foi comparar a expressão tecido-específica do gene de receptor androgênico entre meninas com pubarca precoce idiopática e um grupo controle, e também correlacionar tal expressão às concentrações séricas dos hormônios andrógenos. Introdução 3 1.1. Revisão de literatura 1.1.1. Pubarca precoce idiopática A adrenarca é denominada por alguns como sendo a “puberdade” da glândula adrenal(8), caracterizada pela ativação da produção de andrógenos adrenais e por aumento progressivo da dehidroepiandrosterona (DHEA) e SDHEA, ambos produtos da ZR da adrenal (Fig. 1)(9). A adrenarca relaciona-se ao desenvolvimento da ZR do córtex adrenal, mas os mecanismos que regulam a secreção dos andrógenos adrenais DHEA e androstenediona (ANDRO) não estão completamente esclarecidos(10). Por volta dos seis anos de idade, ou menos, ocorre aumento gradual na secreção de andrógenos adrenais. Esse fato foi reconhecido pela primeira vez há 60 anos atrás, por Talbot et al(11), que identificaram o aumento da excreção de 17cetoesteroides urinários em crianças normais. Observando a presença de pelos pubianos em pacientes com disgenesia gonadal, Albright et al(12) postularam que, durante a maturação sexual humana, a adrenal secreta quantidades crescentes de esteroides com atividade androgênica. Albright et al(12,13) atribuíram a esse processo de desenvolvimento a denominação de adrenarca. Pubarca é o termo que descreve o aparecimento dos pelos pubianos, que pode ser acompanhado do surgimento de pelos axilares ou não, sendo a representação clínica da adrenarca. Esse processo é considerado precoce quando acontece em meninas antes dos oito anos de idade(14,15,16). Introdução 4 Figura 1: Coloração de hematoxilina e eosina de corte histolológico da adrenal, mostrando a zona glomerular (ZG), a zona fasciculada (ZF), a zona reticular (ZR) e a medula (M), nas idades de 3 anos (A) e 12 anos (B) [Modificado de Nakamura et al, (9) 2009 ]. 1.1.2. Desenvolvimento puberal normal em meninas As características físicas dos estágios de desenvolvimento e de pelos pubianos estão resumidos no Quadro 1 e ilustrados pelo Anexo 1. Introdução 5 Quadro 1: Estágios de desenvolvimento de pelos pubianos. Caracteres Sexuais Estágio I Secundários (meninas) Pelos sobre o púbis não estão mais desenvolvidos do que os da parede abdominal. Pelos pubianos ausentes. Crescimento esparso de pelos longos, finos, lisos ou Estágio II discretamente encaracolados, principalmente ao longo dos grandes lábios. Desenvolvimento de Estágio III Pelos Pubianos Pelos tornam-se mais escuros, espessos e encaracolados, distribuindo-se na região pubiana. Pelos são do tipo adulto, mas com área de distribuição Estágio IV menor do que em adultos, não se estendendo para a superfície interna das coxas. Estágio V (2) Pelos adultos em tipo e quantidade, estendendo-se até a superfície interna das coxas. (5) Marshall, Tanner, 1969 ; Monte et al, 2006 . Caracterizar separadamente o surgimento dos pelos pubianos (pubarca) e das mamas (telarca) é importante, pois ambos os desenvolvimentos constituem eventos distintos(17). O desenvolvimento da mama é controlado primariamente pela secreção de estrógeno ovariano, enquanto o desenvolvimento de pelos pubianos é estimulado pela secreção de andrógenos adrenais(5) . 1.1.3. Esteroidogênese adrenal A descrição anatômica da adrenal foi feita há mais de 450 anos pelo anatomista italiano Bartholomeo Eustachio, tendo sido ignorada até 1855, quando Thomas Addison descreveu com detalhes a doença que leva seu nome(18). BrownSéquard demonstrou, em 1856, que as adrenais eram indispensáveis para a vida, após realizar adrenalectomia em animais(19). Experiências posteriores demonstraram ser a zona cortical, e não a medular da adrenal, a indispensável para a vida(20). O conceito de hiperfunção e suas manifestações clínicas, por sua vez, surgiu depois, com Cushing(21), Albright(22) e Conn(23). Entre 1935 e 1937, o isolamento dos Introdução 6 hormônios adrenais, com a definição de sua estrutura e síntese(24), e, mais recentemente, associado aos avanços nas técnicas de quantificação hormonal, bem como nas técnicas moleculares, ampliaram nossa compreensão a respeito da fisiologia, da bioquímica e da fisiopatologia do córtex adrenal. O córtex adrenal produz três hormônios principais: os glicocorticoides (corticosterona e cortisol), os mineralocorticoides (aldosterona e deoxicorticosterona) e os andrógenos (DHEA e SDHEA). O precursor de todos os hormônios provenientes da esteroidogênese adrenal é o colesterol, sendo sua principal fonte a lipoproteína de baixa densidade (LDL-colesterol) oriunda da circulação, mas sabe-se que essa não é a única fonte de colesterol para a glândula adrenal, que pode ser gerado de novo no córtex adrenal, a partir da acetil-coenzima A, e há evidências da utilização da lipoproteína de alta densidade (HDL-colesterol), através da captação dessa molécula pelo receptor scavenger tipo I-SR-BI, o receptor de HDL(25). A esteroidogênese adrenal envolve as vias bioquímicas apresentadas na Figura 2. Figura 2: Esteroidogênese na adrenal humana [Modificado de Arlt, Stewart, 2005(25)]. A primeira etapa limitante da esteroidogênese adrenal é a ligação hormonal a um sistema de transporte intracelular do colesterol, a partir do citoplasma até a Introdução 7 membrana mitocondrial interna, para a conversão em pregnenolona pelo citocromo P450 scc, a enzima de clivagem da cadeia lateral. Essa etapa é mediada pela atividade enzimática da proteína reguladora aguda da esteroidogênese (StAR), induzida pelo aumento da concentração intracelular de adenosina monofosfato cíclico (AMPc), proporcionado pela ligação do ACTH ao seu receptor de membrana(26). A esteroidogênese envolve a ação combinada de várias enzimas do citocromo P450. As enzimas CYP11B e a P450scc estão localizadas na mitocôndria e utilizam um sistema de transporte de elétrons proveniente da adrenodoxinaredutase para oxidar e hidrolisar os esteroides. Já as enzimas 17α-hidroxilase e 21hidroxilase, que estão localizadas no retículo endoplasmático, têm seu transporte facilitado por flavoproteínas, a POR e o citocromo b5(5). Na zona reticular, a enzima 17-hidroxilase (CYP17) possui uma atividade extra, ela cliva a ligação carbono-carbono 17-20 (atividade 17,20-liase), originando compostos com 19 carbonos. Essa mesma enzima converte 17-hidroxipregnenolona em DHEA que, por sua vez, é convertida pela 3β-HSD em ANDRO que poderá, posteriormente, ser convertida em testosterona e estrógenos quando atingir outros tecidos(25). A 17α- hidroxilase é necessária na ZF da adrenal para a produção de glicocorticoide, sendo que ambas as atividades 17α-hidroxilase e 17,20-liase são necessárias para a produção de andrógenos adrenais na ZR da adrenal. Portanto, a CYP17 é reconhecida como uma das principais reguladoras qualitativas da esteroidogênese, sendo essencial para a adrenarca(27). O citocromo b5 (CYB5) é considerado um importante regulador da função da CYP17 e, particularmente, de sua atividade 17,20-liase. Essa proteína é mais evidente na ZR da adrenal e resultados sugerem que desempenha um importante papel no desenvolvimento do córtex adrenal, por meio do seu sistema de transferência de elétrons, aumentando a atividade da 17,20-liase(28). A enzima sulfotransferase (SULT2A1) realiza a sulfatação da DHEA, sendo obrigatória na síntese de SDHEA, sendo este o principal esteroide em massa produzido pela adrenal adulta, além de ser o mais abundante na circulação do ser humano adulto. O SULT2A1 é predominantemente expresso no citoplasma das células adrenocorticais da ZR da adrenal e inclui outros substratos, como pregnenolona e 17α-hidroxipregnenolona, metabolizando-os aos seus respectivos produtos sulfatados. Estudos demonstraram que o aumento da produção de SDHEA Introdução 8 que ocorre na adrenarca está associado com a aceleração da expressão dessa enzima. Mas ainda há muito a ser esclarecido no que se refere ao papel da transcrição desse gene na regulação da ZR da adrenal e na adrenarca(9). A 3β-hidroxiesteroide desidrogenase tipo 2 (HSD3B2) catalisa a conversão de pregnenolona, 17α-hidroxipregnenolona e DHEA a progesterona, 17α- hidroxiprogesterona e androstenodiona, respectivamente (Fig. 2). Essa enzima normalmente atua de maneira competitiva com a CYP17, diminuindo a produção de SDHEA. Alterações que diminuam sua atividade podem representar um papel importante na adrenarca(29). A 21-hidroxilase do citocromo P450 (CYP21) converte a progesterona e a 17OHP em 11-desoxicorticoesterona, na ZG adrenal, e 11-desoxicortisol, na ZF, respectivamente. Apesar de não estar diretamente envolvida na produção de DHEA, assim como a HSD3B2, sua presença desvia a metabolização de produtos esteroides em mineralocorticoides e glicocorticoides (Fig. 2). Sua deficiência leva ao aumento da produção de esteróides C19, com consequentes manifestações clínicas de hiperandrogenismo(30). Evidências sugerem que a adrenarca não depende de alterações na expressão de CYP21 na zona reticular da adrenal(31). Apesar de algumas enzimas e cofatores proteicos serem comuns a todas as zonas adrenais, as classes específicas de esteroides produzidos dentro de cada uma delas são predominantemente determinadas pela expressão zona-específica característica de cada enzima esteroidogênica. A Fig. 3 ilustra as principais diferenças na expressão das enzimas que facilitam a produção de andrógenos adrenais. Introdução 9 Figura 3: Vias para a produção de esteroides adrenocorticais. A produção envolve a ação combinada da StAR, P450scc (CYP11A1), citocromo P450c17; 17α-hidroxilase/17, 20-liase (CYP17), e sulfotransferase DHEA (SULT2A1). Um facilitador da biossíntese de SDHEA é o citocromo b5 (CYB5), que pode aumentar a atividade da 17,20-liase de CYP17. Ao contrário, a 3β-hidroxiesteroide desidrogenase tipo 2 (HSD3B2) e a 21-hidroxilase do citocromo P450 (CYP21) impactam negativamente na produção do SDHEA [Modificado de Nakamura et al, 2009(9)]. 1.1.4. Hormônios andrógenos As gônadas e o córtex adrenal têm o mesmo potencial de esteroidogênese, por sua origem embrionária mesodérmica comum, mas se especializaram na formação particular de esteroides na dependência do sexo genético e da expressão de vários fatores de transcrição, tais como o WT1, NR5A1, NR0B1, SRY, SOX9, AMH, e WNT4(5). O hormônio adrenocorticotrópico (ACTH) regula a secreção das células da zona reticular, a camada mais profunda do córtex adrenal que secreta a DHEA e a ANDRO. Outros fatores parecem estar envolvidos nessa regulação, mas o mecanismo de controle da produção de andrógenos adrenais não está totalmente elucidado(25,32) . Introdução 10 A secreção do ACTH pela hipófise anterior é controlada pelo hormônio liberador de corticotropina do hipotálamo (CRH). O CRH é secretado no plexo capilar primário do sistema porta hipofisário, chegando à eminência média do hipotálamo, sendo então transportada para a hipófise anterior, onde induz a secreção de ACTH(15). Os andrógenos adrenais (DHEA, SDHEA e ANDRO) são os esteroides mais abundantes secretados a partir da glândula adrenal adulta (20 mg/d)(25). O aumento progressivo da síntese de DHEA e de SDHEA, principais andrógenos adrenais, ocorre entre 5-25 anos, atingindo seu ápice no início da idade adulta e declinando a seguir (33). A ação desses hormônios é exercida principalmente pela conversão, em outros tecidos, em andrógenos ou estrógenos mais ativos(34). Enquanto nas mulheres cerca de 50% dos andrógenos são de origem adrenal(35), em homens adultos esse valor é de cerca de 2%, devido à grande produção de andrógenos testiculares(36). 1.1.5. A pele como órgão endócrino A pele e seus apêndices, incluindo folículos pilosos, glândulas sebáceas e glândulas écrinas e apócrinas, à semelhança dos órgãos esteroidogênicos clássicos, como gônadas e adrenais, estão munidos de todas as enzimas necessárias para a síntese e metabolização de andrógenos. Além disso, pele e fâneros também se constituem em tecido-alvo para a ação dos próprios andrógenos(37,38). O efeito dos andrógenos é mediado pela ligação a receptores nucleares específicos. Mutações no gene do RA, como, por exemplo, na Síndrome da Insensibilidade Completa aos Andrógenos, impede a ação dos andrógenos em todos os tecidos, incluindo a pele(39). Os hormônios androgênicos circulantes com ação em todos os tecidos, incluindo a pele, são o SDHEA e a ANDRO (produzidos nas adrenais), a testosterona (TESTO) e a dihidrotestosterona (DHT), principalmente sintetizadas nas gônadas, mas também sintetizadas ou metabolizadas pela pele. O SDHEA adrenal, que chega à pele pela circulação, apesar de ser um andrógeno fraco, pode ser convertido a DHEA pela atividade sulfatase de monócitos Introdução 11 e, posteriormente, sebócitos e queratinócitos podem converter DHEA em ANDRO, um andrógeno mais potente, bem como sebócitos podem metabolizar andrógenos até TESTO. A ativação da TESTO, por sua conversão em DHT, é catalisada por 5αredutase tipo 1, expressa em quase todas as células da pele, mas especialmente em sebócitos, ao passo que a 5α-redutase tipo 2 é expressa por fibroblastos e papilas dérmicas(40). Assim, a pele pode ser considerada um órgão endócrino, com capacidade de sintetizar significativa quantidade de andrógenos com ação parácrina e intrácrina (Fig. 4). Figura 4: Esquema do metabolismo dos precursores de andrógenos até seus metabólitos mais ativos com ações androgênicas, tanto endócrinas como parácrinas. ∆4A: androstenediona; DHT: di-hidrotestosterona; DHEAS: Sulfato de Deidroepiandrosterona; DHEA: Deidroepiandrosterona; AR: Receptor de Andrógenos; T: Testosterona; S: sulfatase; 3βOHD: 3βOHD hidroxiesteroide desidrogenase; 5αR:5α-redutase. (Modificado de Pombo, 2000) (3). Introdução 12 1.1.6. Receptor de andrógeno (RA) Os andrógenos são hormônios lipofílicos, que de maneira passiva ou facilitada, atravessam a membrana celular e atingem seus receptores citoplasmáticos, promovendo sua translocação nuclear. O RA tem a capacidade de se ligar tanto à TESTO como à DHT, porém com afinidade maior para DHT e, consequentemente, maior atividade. A estrutura tridimensional do domínio de ligação ao hormônio é semelhante ao de outros receptores esteroides. A ligação ao hormônio altera a conformação do receptor, permitindo sua dimerização, translocação ao núcleo, ligação ao elemento responsivo do gene-alvo e, finalmente, a ligação de moléculas coativadoras, que estabilizam e amplificam a transdução do sinal hormonal e a transcrição do genealvo(5). Numerosos tecidos expressam o RA e essa expressão depende da resposta aos andrógenos, da concentração de receptores, bem como da concentração de DHT ou TESTO e, segundo se pesquisa, também de coativadores existentes em cada tecido. Por excelência, os tecidos com resposta androgênica são: o testículo, a próstata, os genitais, a cartilagem cricoide, o músculo estriado, a pele e, principalmente, o folículo piloso. Também podemos encontrá-la, entre outros exemplos, na cartilagem de crescimento e no osso. Em grande parte de tais tecidos é essencial a ação da enzima 5α-redutase na transformação de TESTO em DHT, que se expressa nas mesmas células que expressam os receptores. Em outros tecidos, porém, o andrógeno TESTO não pode atuar diretamente, senão através de sua transformação em estradiol (E2) mediante a enzima aromatase (por exemplo, na hipófise). Existem, consequentemente, duas vias para se intensificar ou variar a ação dos andrógenos: a transformação de TESTO em DHT, intermediada pela 5αredutase, e a transformação de TESTO em E2, que a modifica. Ainda que somente uma pequena quantidade de TESTO se transforme em E2 (0,2%), como o E2 atua em concentrações inferiores, essa via adquire importância biológica(3). Introdução 13 1.2. O gene do receptor de andrógeno (OMIM: 313700) A localização cromossômica do RA é o braço longo do cromossomo X (Xq1112), cópia única(41,42,43), que se estende por 75 a 90 kilobases (kb) de DNA genômico. A região codificadora compreende 2757 pares de bases, dividida em oito exons(44). Os genes da superfamília dos receptores nucleares apresentam domínios comuns, denominados domínio de ligação ao ligante hormonal, domínio de ligação ao DNA e domínio de ativação de função (transativação). Existe também uma pequena porção do exon 4 que conecta esses dois domínios, conhecida como dobradiça hinge(45). O domínio N-terminal é codificado pelo éxon1, correspondente à zona promotora reguladora da transcrição, sendo constituído por 1613 pares de bases e possui função moduladora, sendo responsável pela velocidade de transcrição do gene(46), conforme a Figura 5. Figura 5: Receptor androgênico com os três principais domínios: Domínio N-terminal codificado pelo éxon 1, domínio de ligação ao DNA codificado pelos éxons 2 e 3 e domínio de ligação ao andrógeno, codificado pelos exons 4 a 8 [Richeti, 2011(47)]. O domínio de ligação ao DNA é codificado pelos exons 2 e 3 e constituído por 65 aminoácidos. São seus dois dedos de zinco que o tornam capaz de se ligar aos elementos responsivos do gene-alvo da ação androgênica. Os éxon de 4 a 8 codificam o domínio de ligação ao andrógeno, a região da proteína que se une especificamente aos andrógenos. Antes do advento da PCR quantitativa em Tempo Real (qRT-PCR), a expressão do gene do RA só podia ser avaliada em ensaios qualitativos ou Introdução 14 semiquantitativos, mas, com a sua introdução, tornou-se possível a avaliação quantitativa da expressão gênica. O grupo que desenvolve pesquisas relacionadas a esse tema, do qual esta autora faz parte, descreveu inicialmente a padronização de um ensaio utilizando qRT-PCR na quantificação da expressão do gene do receptor glicocorticoide(48,49), seguida da padronização da expressão do RA em pele prepucial e em folículos pilosos(50). 1.3. Justificativa deste estudo Considerando que a pele produz, metaboliza e, simultaneamente, está sob o efeito de andrógenos(51), levantou-se a hipótese de que o aumento da expressão dos receptores androgênicos ao nível do folículo piloso possa conferir maior sensibilidade da pele aos andrógenos e, finalmente, determinar o aparecimento precoce dos pelos pubianos. Embora a PPI seja uma situação benigna, cerca de 25% dos casos pode evoluir em longo prazo para hirsutismo, acne, irregularidade menstrual e síndrome dos ovários policísticos, situações nas quais o excesso de produção dos andrógenos ou maior sensibilidade a estes estão presentes (6,52,53,54) . Entre as pacientes com PPI, a detecção precoce daquelas que potencialmente possuem hipersensibilidade aos andrógenos pode contribuir para o reconhecimento de pacientes com risco evolutivo de virilização, permitindo melhor planejamento terapêutico. Introdução 15 2. OBJETIVOS 16 1– Quantificar e comparar a expressão tecido-específica do RNA mensageiro do receptor de andrógenos em folículos pilosos pubianos provenientes de meninas com pubarca precoce idiopática e meninas controles. 2– Correlacionar a quantidade do RNA mensageiro do receptor de andrógenos com a idade de início da pubarca e com a concentração do SDHEA. Objetivos 17 3. CASUÍSTICA E MÉTODO 18 3.1. Casuística O protocolo do estudo (Processo nº 163/10) foi aprovado no Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos da Irmandade Santa Casa de São Paulo. Todos os pacientes ou seus responsáveis assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido antes de serem incluídos no estudo (Anexos 2 e 3). Foram obtidas amostras de pelo da região dos grandes lábios para quantificação do RNAm do RA de 110 meninas, sendo que 52 delas apresentavam pubarca precoce idiopática (PPI) e 58 controles pareadas pelo estágio de desenvolvimento de pelos pubianos de acordo com os critérios de Marshall, Tanner(2). No momento da coleta dos pelos era realizado o exame físico detalhado das pacientes e eram colhidas informações sobre as variáveis a serem analisadas no estudo, tais como peso, IMC, presença de acne, acantose, hirsutismo, idade de menarca, idade de telarca, e as características físicas dos pelos pubianos (Anexo 4). As pacientes foram divididas em dois grupos, PII-III e PIV-V, de acordo com o fato de a pilificação pubiana estar em estágios iniciais (PII-III) ou finais (PIV-V) . Foram excluídas pacientes com hiperplasia adrenal congênita (HAC), segundo os critérios diagnósticos utilizados no ambulatório de endocrinologia pediátrica da ISCMSP, que se baseiam na obtenção da concentração da 17OHP por radioimunoensaio (RIE). O diagnóstico de HAC é descartado para concentrações de 17OHP menores do que 2 ng/mL, sujeitas a teste de estímulo com ACTH para valores entre 2 e 10 ng/mL (ou se possível, estudo molecular para detecção de mutações) e provável diagnóstico, se os valores resultarem acima de 10 ng/mL, visto a impossibilidade de realização do teste de estímulo com ACTH para todas as pacientes com essa suspeita. Foram também excluídas pacientes com puberdade precoce. Nos critérios de exclusão iniciais constava tumor gonadal ou adrenal, ou uso exógeno de andrógenos, ou terapia antiandrogênica há menos de seis meses, mas nenhuma paciente submetida ao diagnóstico diferencial de pubarca apresentou estes critérios. Casuística e Método 19 3.2. Coleta das amostras de bulbo capilar Foram obtidas amostras de 4 a 6 pelos da região dos grandes lábios (2 a 3 pelos de cada grande lábio), extraídos suavemente por tração manual simples com luva. Os pelos com os folículos presentes foram armazenados em tubo específico com solução de armazenamento apropriado e, em seguida, agitados vigorosamente, a fim de expor esse substrato à solução de armazenamento para minimizar a degradação do RNA. Em seguida, as amostras foram armazenadas em Freezer a -80ºC, idealmente mantidas por um período máximo de 15 dias, devido à constante, porém lenta, degradação do RNA das amostras. 3.3. Análise bioquímica Com intervalo inferior a três meses da obtenção dos pelos genitais, foram obtidas amostras de sangue periférico para quantificação por quimioluminescência de SDHEA (Siemens Healthcare, Llanberis, United Kingdom) e TESTOT (Siemens Healthcare, Llanberis, United Kingdom). Por RIE foram determinadas a ANDRO (IMMUNOTECH a.s., Prague, Czech Republic) e 17OHP (DIAsource Immunoassays S.A., Louvain-la-Neuve, Belgium). Há um grande problema metodológico, que se apresenta para qualquer grupo que queira utilizar em seu estudo medidas hormonais na faixa pediátrica, devido à escassez de valores de referência para a referida faixa etária da população. Abaixo, seguem os valores de referências indicados pelos kits utilizados: SDHEA (ng/mL) • Meninas Tanner I: 132 - 650 Meninas Tanner II e III: 220 - 1750 Meninas Tanner IV: 570 - 2300 Meninas Tanner V: 760 - 3780 • TESTOT (ng/mL) Meninas Tanner I: 2 - 10 Meninas Tanner II, III, IV e V: 5 – 40 Casuística e Método 20 • ANDRO (ng/mL) Crianças de 1 a 6 meses: 0,10 a 0,33 Crianças de 7 a 12 meses: 0,10 a 0,28 Crianças de 1 a 6 anos: 0,10 a 0,23 Crianças de 7 a 9 anos: 0,10 a 0,34 Mulheres: 0,10 a 3,00 • 17OHP (ng/mL) Crianças de 1 mês a 1 ano: 1 a 40 Crianças de 1 a 13 anos: 0,1 a 1,5 Mulheres fase folicular: 0,11 a 1,08 Mulheres fase lútea: 0,95 a 5 Inicialmente pretendíamos coletar o sangue no mesmo momento da amostra de pelo, mas encontramos grande resistência por parte das pacientes, principalmente as do grupo controle. Assim, optamos por coletar os exames juntamente aos exames de rotina das pacientes, desde que não ultrapassasse o período máximo de três meses, para que não houvesse interferência maior nas concentrações séricas hormonais, visto que a paciente poderia mudar de estádio puberal. 3.4. Análise molecular As amostras de bulbo piloso foram submetidas à extração de RNA e à transcrição reversa para a obtenção de DNA complementar (cDNA), posteriormente quantificado por PCR em tempo real para a determinação da quantidade de RNA mensageiro específico do receptor androgênico. 3.5. Extração do RNA 3.5.1. Folículo piloso (amostras) As amostras foram descongeladas e, após pipetagem vigorosa, o conteúdo foi transferido para um tubo de 2 mL e os folículos pilosos descartados. Foram adicionados 200 µL de clorofórmio para cada 1 mL de Trizol (Trizol Reagent Casuística e Método 21 Invitrogen). As amostras foram agitadas novamente, incubadas em temperatura ambiente por 2 minutos e, em seguida, centrifugadas a 12500 rpm, por 15 minutos, a 4°C. Após a centrifugação, a fase aquosa de cada amostra foi transferida para um tubo de 1,7 mL e foram acrescentados 500 mcL de isopropanolol para cada 1 mL de Trizol, agitada em vórtex e, após repouso de 10 minutos, em temperatura ambiente, a solução foi novamente centrifugada a 12500 rpm, por 10 minutos, a 4°C. O sobrenadante foi descartado com pipeta, e o precipitado lavado com 1000 µL de etanol 85% gelado, agitado no vórtex e, em seguida, centrifugado a 9500 rpm, por 8 minutos, a 4°C. Foi realizada a remoção cuidadosa do etanol e, no gelo, o precipitado foi ressuspenso em 40 µL de água livre de DNase e RNase, e sua concentração medida por meio de espectrofotometria. A essa solução acrescentouse 1 µL de enzima inibidora de RNase (Applied N8080234) com armazenamento a -80°C, por um período de no máximo duas semanas, até a realização da transcrição reversa. 3.5.2. Curva padrão (próstata) A próstata é um órgão que expressa grandes quantidades do RA. Um tecido que expresse grande quantidade do gene em questão é necessário, pois a solução utilizada como curva padrão deve ser diluída seriadamente e suas concentrações conhecidas(55). Em estudo anterior de nosso grupo, a padronização da curva padrão foi realizada utilizando-se a próstata de doador-cadáver para quantificação dos ensaios de expressão do RA. Neste estudo, a mesma curva padrão foi empregada. Em resumo, a partir do cDNA extraído do fragmento prostático, com o rompimento das células por homogeneização (Tissue Disruptor Qiagen), foi realizada a extração do RNA, utilizando-se o kit (rNeasy Mini Kit - Cat. No. 74104, Qiagen), seguida de transcrição reversa a cDNA. Esse cDNA serviu como subsídio para o desenvolvimento da curva padrão. 3.6. Reação enzimática de transcrição reversa Tanto o RNA procedente do bulbo capilar quanto o de próstata foram diluídos em 50µl de água ultra pura (GIBCO) e submetidos a uma reação enzimática Casuística e Método 22 modulada pela ação da transcriptase reversa, possibilitando a síntese do cDNA. A reação contém o RNA da amostra a ser transcrita, tampão, dNTPs, iniciadores aleatórios (Random primers), transcriptase reversa (Multiscribe reverse transcriptase) e a enzima inibidora de RNase (RNase Inhibitor) (Tab. 1). Tabela 1: Componente para realização da Reação de Transcriptase Reversa (Kit Taq Man ReverseTranscriptase Reagents N8080234). Componentes Volume/Tubo µl Buffer TaqMan RT 5,0 25nM MgCl2 11,0 DeoxyNTP 10,0 Randon Primers 2,5 Inibidor de RNase 1,0 Tanscriptase Reversa MultiScribe 1,25 Total Mix 30,75 RNA 19,25 Total 50,0 3.7. PCR em tempo real quantitativa (qRT-PCR) A reação de cadeia da polimerase (Polymerase Chain reaction) é uma técnica de amplificação in vitro do DNA. O PCR em tempo real, uma variante da reação de PCR convencional, representa grande avanço nos métodos moleculares de quantificação da expressão gênica em determinado tecido ou amostra biológica. Esse método utiliza um sistema fluorescente baseado na atividade 5´ 3´exonuclease da Taq DNA polimerase, capaz de clivar uma sonda de hibridização não-extensível Casuística e Método 23 (Sonda TaqMan) durante a fase de extensão da PCR. Tal sonda de hibridização é marcada com dois fluorocromos. Neste estudo, o fluorocromo utilizado foi o FAM (6carboxi-fluoresceína), este servindo como emissor de fluorescência (R: reporter). Seu espectro de onda é absorvido pelo fluorocromo inibidor (Q: quencher), que neste estudo foi o TAMRA (6-carboxitetrametilrodamina) (Fig. 6). Figura 6: Ilustração da Sonda TaqMan (Universal PCR Master Mix, Part Number: 4304437 Applied Biosystems, Branchburg, New Jersey, USA)(56). Enquanto a sonda está intacta, ocorre transferência da energia fluorescente do emissor, que é absorvida pelo fluorocromo inibidor pela proximidade física entre eles. Durante a fase de extensão da PCR, a sonda de hibridização é clivada pela ação nucleolítica 5´ 3´ da Taq polimerase. Como consequência, essa sonda será degradada e a emissão fluorescente de FAM já não é mais transferida eficazmente para o fluorocromo inibidor, resultando em incremento da emissão fluorescente, que passa a ser detectada a cada ciclo da PCR. A intensidade da fluorescência produzida durante as amplificações de PCR, em cada um dos 96 poços do bloco do aparelho, é possível devido a uma câmara CCD (charged coupled device) presente no equipamento, que capta o sinal durante 25 milissegundos, a cada 8,5 segundos, durante a PCR. Um algoritmo do computador compara a quantidade de fluorescência emitida pelo fluorocromo emissor (reporter) com a absorção pelo fluorocromo inibidor (quencher), gerando um valor de ∆RN (R/Q). O valor ∆RN reflete a quantidade da sonda de hibridação que foi degradada. O algoritmo calcula a média dos valores ∆RN coletados nos três últimos ciclos de extensão, produzindo uma representação gráfica (amplification Casuística e Método 24 plot), na qual, na abscissa, estão representados os números de ciclos e, na ordenada, está representado o sinal de fluorescência(57,58,59) (Fig. 7). Figura 7: Representação gráfica (amplification plot) demonstrando a quantificação de RNA da amostra (∆RN), representada no eixo-Y, e do tempo, representada pelo número de ciclos, plotada no eixo X. Esse gráfico é a representação dos resultados da amplificação da curva-padrão do GRα. O ponto 1:100.000.000 não amplificou. A figura mostra ainda um paciente exemplo (A), que amplificou com um Ct 29,16. [Modificada por Silva, 2014(60)] Durante os primeiros 10 a 15 ciclos da amplificação por PCR, os valores de ∆RN se mantêm em linha basal (baseline). Dessa maneira, o sinal vai sendo acumulado, mas permanecendo abaixo dos limites de detecção do aparelho. Haverá um aumento de sinal fluorescente, correspondente às sondas que serão clivadas a cada ciclo da reação de PCR, durante o qual a Taq DNA polimerase sintetiza novas cadeias. Os sinais medidos durante os ciclos da PCR são utilizados para demarcar uma linha de corte (threshold). A linha de corte é calculada pelo programa como uma função da quantidade de fluorescência da linha basal e é traçada num ponto em que o sinal gerado a partir de uma amostra é significativamente maior do que a fluorescência basal. Geralmente essa linha de corte corresponde a dez desviospadrão acima da média da emissão dos ciclos iniciais. Adicionada à linha de corte, forma-se uma intersecção com a curva de amplificação detectada acima da linha de corte, que corresponde à fase exponencial da reação de PCR. Esse ponto é utilizado Casuística e Método 25 para definir o ciclo limite (Cycle threshold ou Ct) de uma amostra. Portanto, o número de ciclos da PCR, requeridos para gerar um sinal fluorescente significativamente maior do que a fluorescência de base, é definido como o ciclo limite, ou Ct(57,58,59). A quantificação real depende ainda do cálculo de expressão ajustado em relação a um gene normalizador, neste estudo representado pelo BCR, que possua expressão constitutiva estável, ao longo do tempo, e que sirva para corrigir a expressão do gene em estudo, para a quantidade total de RNA extraído. A construção de uma curva com quantidades conhecidas de RNA permite criar um padrão que possa ser repetidamente utilizado para corrigir diferenças entre sucessivos ensaios de expressão. 3.8. Iniciadores e sondas direcionados ao gene AR Neste estudo, utilizamos iniciadores sense e antisense desenhados na transição dos exons 4-5 do gene AR e sonda marcada com o fluorocromo 6-FAM. Tanto o desenho dos iniciadores da reação como o da sonda para AR foram baseados em sequência depositada no http://www.ncbi.nlm.nih.gov/nuccore/21322251, NCBI, acessada disponível pelo na página OMIM (Online Mendelian Inheritance in Man): Assay ID (Hs00171172_m1); localização (3293); sonda (FAM5NFQ); sequência (AGGCCTTGCCTGGCTTCCGCAACTT); que faz pareamento nos exons (4-5). A PCR gera um Amplicon com 72pb. 3.8.1. Iniciadores e sondas direcionados ao gene utilizado como normalizador da reação (BCR- Breakpoint Cluster Region) Uma das etapas essenciais para a análise da expressão gênica por meio de PCR em tempo real inclui a escolha de um gene controle ou normalizador, cuja expressão não encontre variação desprezível entre as amostras analisadas. Muitos genes podem ser utilizados para isso, como o GAPDH, o G6PD e o ABL. Neste estudo, o gene BCR (22q11.21) foi escolhido como normalizador, devido à sua expressão estável e constante ao longo do tempo, bem como à eficiência de Casuística e Método 26 amplificação similar ao gene de estudo (RA). A sonda e os iniciadores para o gene normalizador BCR foram: • Iniciador BCR Sense: C C T T CGACGT CAATAACAAGGAT; • Iniciador BCR Anti-sense: C C TGCGATGGCGT T CAC; • Sonda BCR: 6- FAM TCCATCTCGCTCATCATCACCGACA- TAMRA; • Tamanho do Produto: 67 pb. 3.8.2. A Reação de PCR em tempo real (RT-PCR) As reações de PCR foram realizadas em tubos de alta claridade óptica (PCR optical tubes, Applied Biosystems), específicos para PCR em tempo real. Foi utilizada uma solução-mãe ou mix para cada gene no preparo das reações (Tab. 2). Tabela 2: Componentes da reação de PCR em tempo real somados a 5 µl de cDNA. Componente Master Mix BCR Sense (30µM) BCR AS (30µM) BCR PROBE VIC (25µM) H2O Volume final Componente Master Mix 2x Assay AR 20x (FAM) H2O Volume final Vol/RX 12,5 0,2 0,2 0,27 6,83 20 Mix 1 Vol/RX 12,5 1,25 6,25 20 Mix 2 Os tubos foram colocados no termociclador de tempo real (7500, Applied Biosystems). A programação de temperatura compreendeu uma ativação inicial da Taq Polimerase, que ocorre a 95ºC, por dez minutos, seguida da amplificação da sequência em 40 ciclos de dois estágios: 15 segundos, a 95ºC, para desnaturação das fitas de cDNA, seguidos de 90 segundos, a 60ºC, para anelamento e extensão dos iniciadores. Na fase de extensão, a Taq Polimerase, por meio de sua atividade 5' exonuclease, desloca e fragmenta a sonda, que emite fluorescência quando o fluorocromo inibidor (TAMRA) se afasta do emissor (6-FAM). Casuística e Método 27 3.9. Construção da curva padrão Para obtermos um número absoluto de moléculas das amostras amplificadas é necessária a construção de uma curva padrão de amplificação. Uma amostra padrão de cDNA da próstata é diluída de forma seriada 1:10, para a obtenção de diferentes concentrações. Para cada ensaio, são utilizadas amostras de cDNA da próstata e dos indivíduos do estudo, nos quais são amplificados os genes BCR e o RA. A Figura 8A exemplifica a curva de amplificação de 4 pontos da curva padrão do RA, utilizando cDNA proveniente de próstata. Figura 8A: Exemplo de curva padrão: curvas de amplificação com amostras em duplicata em quatro concentrações, obtidas por diluição sucessiva 1:10 de cDNA proveniente de próstata humana de doador-cadáver. O coeficiente de regressão linear (r2) deve ser maior do que 0,99 para verificar a eficiência da reação, ou seja, para sua validação, a curva necessita de um valor próximo a 1, significando estreita relação entre os pontos da curva, e o valor ideal da inclinação da curva (slope) é de 3,33, mostrando que ocorreu duplicação total em cada ciclo e eficiência de 100% da reação (Fig. 8B). Casuística e Método 28 Figura 8B: Gráfico de regressão linear em função dos dados oriundos da Figura 8A 7A, utilizando-se a quantidade de moléculas por tubo (abscissa) e o CT de cada ponto da curva (ordenada). 3.10. Cálculo da expressão de RNAm do RA em amostras de pelo pubiano A média dos Cts (Cycle threshold) das duplicatas das amostras dos pelos pubianos é corrigida pela média dos Cts da curva padrão (Fig. 8A). Foi realizada a divisão das concentrações obtidas de ambos os genes, para que possam ser estabelecidos os valores que representam o número de unidades de expressão de RA/BCR de cada amostra (Fig. 9). Casuística e Método 29 Figura 9: Representação de amplificação das duplicatas do gene BCR (A), apresentando um Ct aproximado de 27 e do gene RA(B), apresentando um CT aproximado de 32. Considerando-se o Ct RA=32 e o Ct BCR=27 (Fig. 9), cada um desses Cts gerou um número quantitativo de unidades de expressão determinados pela curva padrão (Mean Qty). Foi realizada a razão simples, entre as médias das duplicatas dos valores obtidos do RA sobre a média das duplicatas dos valores obtidos do BCR atribuídos pela curva padrão, obtendo-se um valor quantitativo absoluta da expressão do RA . 3.11. Análise estatística As análises estatísticas foram realizadas empregando-se o software SPSS (Statistical Package for Social Sciences) 13.0 for windows, Chicago, Il; USA. A comparação da mesma variável entre pacientes e controles foi feita através do Test-t Student ou do teste Mann-Whitney, de acordo com a distribuição paramétrica ou não paramétrica dos resultados. Os valores foram descritos como médias e desvios-padrão. Valores de p<0.05 foram considerados significantes. A correlação entre duas variáveis quantitativas de um mesmo indivíduo foi realizada por teste de correlação de Pearson, e a visualização da correlação pelo diagrama de dispersão dos resultados. Casuística e Método 30 4. RESULTADOS 31 Em 19/52 (35%) das pacientes com PPI e 18/58 (31%) dos controles não foi possível obter quantidades adequadas de RNA para análise por qRT-PCR. Em alguns casos, principalmente nas meninas em fases muito iniciais do desenvolvimento sexual, os pelos eram finos e com folículos pequenos, dificultando a extração de RNA dessas amostras. Desse modo, a quantificação do RNAm foi possível em 33 pacientes com PPI e em 40 controles. Do grupo controle foi excluída uma menina e do grupo das pacientes com PPI foram excluídas sete que, na evolução, se enquadraram nos critérios de exclusão. Também consideramos necessária a exclusão de duas pacientes, uma entre os casos e uma entre os controles, que apresentaram uma hiperexpressão do RA, e, pela impossibilidade de realizarmos uma recoleta para confirmação desses resultados, optou-se por excluí-las do estudo, resultando em um total de 25 pacientes com PPI e 38 controles, conforme demonstrado na Tabela 3. Tabela 3: Divisão das pacientes conforme estágios de pilificação. Estágios de pilificação PPI (n) C (n) 52 58 Sem RNAm viável 19 18 Excluídas pelos critérios 7 1 Excluídas por hiperexpressão 1 1 25 38 PII-III 16 11 PIV-PV 9 27 Total de coletas Total PPI: pubarca precoce idiopática; C: controle. No projeto inicial foi programada a avaliação de 100 pacientes. Como não havia estudos anteriores que nos fornecessem o tamanho da amostra necessário, foi realizada uma análise a partir dos resultados iniciais obtidos. Se as diferenças entre os grupos fossem mantidas em uma casuística maior, o número de casos necessários para se atingir um poder do teste estatístico de 0,8 seria superior a mil participantes em cada grupo. Assim, mantivemos o número de casos inicialmente programado. Ao completar a inclusão de casos deste estudo, o cálculo de tamanho amostral foi refeito, empregando-se o Teste t de Student. A comparação entre casos Resultados 32 e controles no grupo PII-III com nível de significância de 0,05, poder de 0,8, utilizando-se a diferença entre as médias de 0,007 e desvio padrão de 0,020. Desta forma, encontrando-se um tamanho amostral necessário de 130 indivíduos por grupo, para adequada análise da expressão do RA.Quando se utilizou a diferença de 0,05 na média e desvio-padrão de 0,018, proveniente da média dos desviospadrão dos casos e controles do grupo PIV-V, encontramos um tamanho amostral de 205 por grupo, para análise da expressão do RA. Os valores finais sugerem que futuros estudos envolvendo expressão do RA em folículo piloso pubiano são viáveis como grupos de estudo locais, não exigindo escala populacional. Resultados 33 4.1. Resultados descritivos das variáveis Os resultados descritivos das variáveis clínicas e hormonais das pacientes com PPI e de controles nos grupos PII-III e PIV-V são descritos na Tabela 4 e 5. Tabela 4: Resultados descritivos de média e desvio padrão das variáveis clínicas e laboratoriais de pacientes PPI e controles nos estágios de pilificação PII-III. Variável Grupo Caso Idade Controle Caso Peso Controle Caso Estatura Controle Caso IMC Controle Caso Controle ID TLC Caso ID Pub Controle Caso 170HP Controle Caso SDHEA Controle Caso TESTO Controle Caso ANDRO Controle Caso AR/BCR Controle Caso mnc_mat Controle N 16 11 16 10 16 10 16 10 11 8 15 8 11 8 10 7 11 7 10 8 16 11 15 11 Média 8,1 11,4 36,29 36,44 1,35 1,41 20,1 18,2 6,9 10,8 6,1 10,2 0,9 0,8 866 624 11,5 15,9 0,76 1,11 0,0176 0,0276 11,8 13,1 Mediana 8,1 11,8 33,95 34,35 1,36 1,39 18,5 17,6 7,0 10,5 6,3 10,0 0,5 0,8 788 636 10,0 10,0 0,60 0,90 0,0153 0,0232 12,0 12,0 Desvio 1,4 1,6 8,78 11,56 0,11 0,08 4,7 4,1 1,8 1,7 1,0 1,7 1,3 0,6 594 456 5,1 10,1 0,60 0,71 0,0187 0,0217 1,6 2,0 Minimo 5,6 9,1 24,80 24,10 1,16 1,26 14,6 13,3 4,0 9,0 4,0 8,5 0,2 0,2 75 39 10,0 10,0 0,10 0,10 0,0004 0,0024 9,0 11,0 Máximo 10,3 14,6 55,00 65,40 1,49 1,52 32,0 28,5 9,0 14,0 7,5 13,0 4,6 2,1 2210 1210 27,0 34,0 2,00 2,00 0,0750 0,0640 15,0 17,0 p < 0,001 * 0,895 ** 0,142 * 0,225** < 0,001 * < 0,001 * 0,507** 0,558** 0,106** 0,285** 0,114** 0,101** IDTLC= Idade da Telarca; IDPub= Idade da Pubarca; 17OHP= 17-hidroxiprogesterona; SDHEA= Sulfato de Deidroepiandrosterona; TESTOT= Testosterona Total; ANDRO= ∆4-androstenediona; Mnc mat=idade da menarca materna. * Teste t-Student / ** Mann-Whitney Resultados 34 Tabela 5: Resultados descritivos de média e desvio padrão das variáveis clínicas e laboratoriais de pacientes PPI e controles nos estágios de pilificação PIV-V. Variável Idade Peso Estatura IMC ID TLC ID Pub 170HP SDHEA TESTO ANDRO AR/BCR mnc_mat mnc_idade Grupo Caso Controle Caso Controle Caso Controle Caso Controle Caso Controle Caso Controle Caso Controle Caso Controle Caso Controle Caso Controle Caso Controle Caso Controle Caso Controle N 9 26 9 26 9 26 9 26 6 23 8 23 5 17 4 17 5 17 5 15 9 27 7 25 8 22 Média 13,7 14,3 51,21 53,64 1,55 1,56 20,6 21,9 8,4 10,6 6,8 10,1 1,3 1,2 1220 1029 30,6 18,3 3,14 1,98 0,0150 0,0185 14,3 12,7 10,7 12,0 Mediana Desvio 13,9 3,1 13,8 2,0 50,10 16,34 50,35 13,18 1,61 0,12 1,56 0,07 20,4 4,2 21,3 4,5 8,1 1,7 11,0 1,4 7,0 0,7 10,0 1,1 1,2 0,7 1,0 1,0 868 889 1100 582 38,0 19,2 10,0 12,7 3,20 2,40 1,50 1,89 0,0100 0,0136 0,0080 0,0223 14,0 2,1 13,0 1,7 11,5 1,6 12,0 1,1 Minimo 8,0 11,0 24,10 32,33 1,30 1,43 14,3 14,6 7,0 8,0 5,6 8,4 0,3 0,3 615 118 10,0 6,6 0,80 0,70 0,0025 0,0006 12,0 9,0 8,0 10,0 Máximo p 18,9 18,9 0,678** 76,50 91,20 0,610** 1,69 1,72 0,664** 27,8 34,3 0,497** 11,4 14,0 0,017** 8,0 12,0 <0,001** 2,1 4,4 0,610** 2530 2270 0,788** 49,0 48,0 0,180** 6,80 0,294** 8,50 0,0450 0,0850 0,784** 18,0 0,060** 17,0 12,0 14,0 0,042** IDTLC= Idade da Telarca; IDPub= Idade da Pubarca; 17OHP= 17-hidroxiprogesterona; SDHEA= Sulfato de Deidroepiandrosterona; TESTOT= Testosterona Total; ANDRO= ∆4-androstenediona; Mnc mat= Idade da Menarca Materna; Mnc idade=idade da menarca ** Mann-Whitney 4.2. Resultados analíticos das variáveis clínicas A idade cronológica é significativamente menor nas pacientes com PPI em estágios iniciais de pelos pubianos (PII-III), quando comparadas aos seus controles. No momento da avaliação, as pacientes em estágios finais de pelos pubianos (PIVV) apresentaram idade cronológica similar. Conforme o esperado (1,2), tanto no grupo PII-III quanto no grupo PIV-V, a idade da pubarca foi diferente, sendo significativamente menor nas pacientes com PPI em relação aos controles. Resultados 35 A idade da telarca também foi diferente, sendo tal diferença significativamente menor nas pacientes com PPI, quando comparada aos controles em ambos os grupos. A comparação de pacientes com PPI e controles em ambos os grupos mostrou uma proporção de casos com e sem menarca semelhante. Apenas 1/16 pacientes apresentou a menarca, entre as pacientes com PPI no grupo PII-III (aos 11 anos), não havendo nenhum caso entre as 11 meninas do grupo controle. No grupo PIV-V, a menarca já estava presente em 8/9 pacientes com PPI e em 22/27 controles. No grupo PIV-V, a mediana da menarca foi menor no grupo PPI, em relação aos controles (11,5 x 12 anos), e essa diferença é significativa pelo Teste de Mann-Whitney (p:0,042). Não houve diferença significativa entre pacientes PPI e controles quando analisamos o peso, bem como estatura e IMC. A idade da menarca materna foi igual quando comparamos PPI e controles tanto no grupo PII-III, quanto no grupo PIV-V. 4.3. Resultados analíticos das variáveis hormonais Não foi encontrada diferença significativa nas medidas de 17OHP basal, tanto em PPI quanto nos seus controles. Não houve diferença significativa quando foram comparados os valores SDHEA entre PPI e controles de um mesmo grupo. Não houve diferença significativa entre pacientes PPI e controles quando analisamos a dosagem da TESTOT .Mesmo na comparação das medidas de ANDRO, não encontramos diferença significativa entre PPI e controles. 4.4. Análise da expressão do Gene RA A expressão do RA nos dois grupos apresenta dispersão ampla e não paramétrica, tanto em pacientes com PPI como em controles. Não houve diferença de expressão do RA quando pacientes com PPI e controles foram comparadas, tanto no grupo PII-III, quanto no grupo PIV-V. Resultados 36 4.4.1. Expressão do gene RA em pacientes e controles no grupo PII-III Não houve diferença significativa quanto à expressão do gene RA entre pacientes com PPI e controles do grupo PII- III (Tab. 6, Fig. 10). Tabela 6: Expressão do RA em pacientes e controles no grupo PII-III. Variável Grupo Caso AR/BCR Controle N Média Mediana 16 0,0176 0,0153 11 0,0276 0,0232 Desvio Mínimo Máximo 0,0187 0,0004 0,0750 0,0217 0,0024 0,0640 p 0,114 ** * * Mann-Whitney Figura 10: Gráfico da comparação da expressão do gene RA entre pacientes com PPI e controles do grupo PII-III. PPI=pubarca precoce idiopática e C=controles. Resultados 37 4.4.2. Expressão do gene RA em pacientes e controles no grupo PIV-V Não houve diferença significativa quanto à expressão do gene RA entre pacientes com PPI e controles no grupo PIV-V (Tab. 7, Fig. 11). Tabela 7: Expressão do RA em pacientes e controles no grupo PIV-V. Variável AR/BCR Grupo N Média Mediana Desvio Mínimo Máximo Caso 9 0,0150 0,0100 0,0136 0,0025 0,0450 Controle 27 0,0185 0,0080 0,0223 0,0006 0,0850 p 0,784 ** ** Mann-Whitney Figura 11: Gráfico da comparação da expressão do gene RA entre pacientes com PPI e controles em estágios finais de pelos pubianos (PIV-V), PPI=pubarca precoce idiopática e C=controles. Resultados 38 4.4.3. Expressão do gene RA na evolução da puberdade Quando agrupamos as meninas PII-III, independente de serem casos ou controles e comparamos a expressão do RA destas com as meninas PIV-V, também agrupadas pelo Tanner, não encontramos diferença significativa. (Tab.8) Tabela 8: Expressão do RA em pacientes e controles no grupo PIV-V. Variável AR/BCR Grupo N Média Mediana Desvio Mínimo Máximo PII-III 27 0,0216 0,0170 0,0202 0,0004 0,0750 PIV-V 36 0,0176 0,0086 0,0203 0,0006 0,0850 p 0,311 ** ** Mann-Whitney Resultados 39 4.5. Correlação entre SDHEA e expressão do gene RA Não se observou correlação significante entre a expressão do RA e os valores de SDHEA entre pacientes com PPI e controles, tanto do grupo PII-III, quanto do grupo PIV-V. Figura 12: Diagrama de dispersão de resultados da expressão do RA e os valores de SDHEA em pacientes com PPI e controles do grupo PII-III. PPI=pubarca precoce idiopática. Resultados 40 Figura 13: Diagrama de dispersão de resultados da expressão do RA e os valores de SDHEA em pacientes com PPI e controles do grupo PIV-V. PPI=pubarca precoce idiopática. Resultados 41 5. DISCUSSÃO 42 Um estudo transversal realizado nos Estados Unidos com 17.077 meninas apontou sinais de desenvolvimento puberal em idades cada vez mais jovens(61), sugerindo mudanças nos critérios atuais para diagnóstico de pubarca precoce. Tais resultados devem ser interpretados com cautela, pois existem falhas metodológicas no estudo(6,62). Alguns aspectos relevantes apresentados naquele estudo, que também merecem reflexão, incluem causas possíveis da PPI, como predomínio da precocidade sexual no sexo feminino, revisão de critérios diagnósticos(63) e riscos a que as pacientes estariam sujeitas durante sua evolução, na maturidade. Em pacientes com PPI existe a associação em longo prazo com o aparecimento de sinais de hiperandrogenismo, tais como hirsutismo, acne, irregularidade menstrual e alterações metabólicas compatíveis com a síndrome dos ovários policísticos (SOP) ou a síndrome metabólica(6,52,53,54,64,65,66). Reconhecer precocemente, durante a infância, os casos com maior risco evolutivo para tais distúrbios na vida adulta seria importante para a prática clínica. A hipótese de trabalho desta pesquisa sugeriu que um potencial mecanismo envolvido no aparecimento da PPI seria a hipersensibilidade do folículo piloso à ação androgênica, mediada pelo receptor androgênico. Portanto, procuramos identificar se o excesso de expressão tecido-específico do RA seria determinante do aparecimento da PPI. Quando comparamos pacientes com PPI e controles com pubarca em idade cronológica normal, não identificamos anormalidades de expressão do RA, tanto no grupo com estágios iniciais de pilificação pubiana (PII-III), quanto nos estágios finais de pilificação (PIV-V). Analisando a expressão do RA em sua evolução durante a puberdade através da comparação de meninas em estágios iniciais de pilificação(PII-III) com meninas em estágios finais de pilificação (PIV-V), observamos que esta se mantém similar durante todo este processo. Relatos anteriores identificaram associação entre a obesidade e maior frequência de adrenarca precoce(67,68). Mudanças no estado nutricional, causando elevação do IMC, foram consideradas importantes reguladores fisiológicos de adrenarca, independentemente da concentração de andrógenos adrenais, idade ou estágio de desenvolvimento puberal(69). Na amostra presente neste trabalho, o excesso de peso não figurou como um interferente significante, visto que peso, estatura e IMC foram similares entre PPI e controles, o que também coincide com estudos que mostram PPI gerando aceleração apenas transitória de crescimento, Discussão 43 com efeitos insignificantes sobre o aparecimento e a progressão da puberdade ou altura final(70,71). A comparação entre pacientes com PPI e controles em ambos os grupos mostrou uma proporção de casos com e sem menarca semelhante, sugerindo que, embora possa haver antecipação do início puberal, não se espera a antecipação da menarca em pacientes com PPI. Embora a idade da menarca seja menor do que a mediana da população geral em pacientes com PPI, quando se compara com os controles no grupo PIV-V, esse achado deve ser interpretado com limitações, devido ao pequeno tamanho da amostra, visto que as pacientes apresentaram menarca ainda dentro de um intervalo de normalidade. Estudos prévios sugerem que a PPI seja secundária à maturação precoce e independente da adrenal(72,73,74,75). Os resultados deste trabalho identificam valores similares de SDHEA em pacientes com PPI e controles, quando os mesmos são pareados para o mesmo estágio de Tanner, sugerindo que a antecipação da adrenarca, e não o excesso de produção androgênica adrenal, seja o principal fator determinante dessa condição. Nas pacientes com PPI, valores similares de SDHEA, em relação às controles, foram atingidos em média 3,5 anos antes. Tais achados estão em concordância com estudos anteriores, que demonstram que androgênios adrenais são considerados aumentados para a idade cronológica, mas similares para os estágios puberais(74,75,76). Alguns trabalhos levantam a hipótese de que o aumento do DHEA possa oferecer maior quantidade de substrato para conversão em estradiol nas mamas, representando uma fonte significativa de estrogênio na criança pré-púbere(77). Apesar de relatos demonstrarem que apenas uma pequena porcentagem da conversão de DHEA ao estradiol ocorre na periferia(78), essa quantidade poderia ser significativa para o tecido-alvo, quando a concentração de DHEA estiver aumentada. Tal fenômeno poderia explicar o fato de algumas das pacientes com PPI, que participaram deste estudo, apresentarem telarca mais cedo, em comparação às controles. Neste trabalho foi feita uma opção por dosar o SDHEA, em vez do DHEA, pois o primeiro apresenta uma origem quase exclusivamente adrenal e suas concentrações séricas não apresentam flutuações circadianas como a DHEA, que ainda apresenta, também, variações em função da fase do ciclo menstrual. Igualmente não foi dosado o DHT, por tratar-se do metabólito mais ativo da TESTOT Discussão 44 que foi dosada juntamente a outros precursores, como a ANDRO, a 17OHP e o SDHEA. Quando se buscou correlacionar as concentrações de SDHEA e a expressão de RA, acreditava-se encontrar qualquer uma das seguintes três possibilidades: 1. A hiperprodução de SDHEA causando um “down regulation” com menor expressão do RA; 2. A principal hipótese deste estudo: concentrações baixas de SDHEA para o estádio de pilificação pubiana, com hiperexpressão do RA justificando a PPI; 3. E, o que realmente foi encontrado: concentrações de SDHEA normais para o estádio de pilificação pubiana, com expressão normal do RA. Em conjunto, os achados desta pesquisa apontam para uma expressão normal do RA em células do folículo piloso dos grandes lábios de pacientes com PPI. As concentrações de SDHEA são adequadas para o estágio de pilificação pubiana, porém se elevam de forma antecipada no tempo em relação aos controles, evidenciando a ativação precoce da zona reticular do córtex adrenal. Um limitante deste estudo é o reduzido número de casos com PPI, especialmente no grupo PII-III. Se as diferenças entre os grupos fossem mantidas em uma casuística maior, como calculado, permitiria a identificação de uma pequena diferença na comparação dos resultados. O questionamento a ser feito é se uma diferença dessa magnitude possa ter qualquer significância clínica. A grande relevância deste estudo foi testar uma hipótese inédita e, oferecer a informação de que não existem diferenças grosseiras na expressão do RA entre pacientes PPI e controles. Ademais, o estudo viabilizou um cálculo amostral para se prosseguir futuramente com essa investigação. Discussão 45 6. CONCLUSÃO 46 1. A quantidade de RNAm do RA foi similar entre pacientes com PPI e controles, tanto nos estágios iniciais quanto nos finais de desenvolvimento dos pelos pubianos, sugerindo expressão normal do RA em pacientes com PPI. 2. A quantidade de RNAm do RA foi semelhante entre meninas com estágios iniciais de pilificação quando comparadas a meninas com estágios finais de pilificação, sugerindo expressão constante do RA durante toda a evolução puberal. 3. Não se observou correlação significante entre a expressão do RA e os valores de SDHEA. 4. As concentrações de SDHEA nas pacientes com PPI são adequadas para o estágio da pilificação pubiana, porém antecipadas em relação aos controles, indicando ativação precoce da zona reticular do córtex adrenal. 5. Em conjunto, pode-se concluir que pacientes com PPI apresentam concentração normal de SDHEA circulante, bem como expressão normal dos receptores androgênicos ao nível do folículo piloso pubiano, porém em idade cronológica antecipada em relação aos controles. Portanto, os dados que constam neste trabalho sugerem que a pubarca precoce devido à adrenarca prematura seja um fenômeno de antecipação de maturação, sem elevação das concentrações hormonais ou aumento dos receptores androgênicos que pudessem determinar a hipersensibilidade local aos andrógenos. Conclusão 47 7. ANEXOS 48 ANEXO 1 Desenvolvimento dos pelos pubianos Carel, Leger, 2008(79). Anexos 49 ANEXO 2 Aprovação do Comitê de Ética Anexos 50 ANEXO 3 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Você está sendo convidado a participar de um estudo de pesquisa cujo título é: "Determinação da quantidade de RNA-mensageiro do receptor de andrógenos em indivíduos com pubarca precoce idiopática.” Eu, _____________________________________________, responsável pela menor ________________________________________________, fui informado(a) que minha filha participará de um estudo sobre meninas com pelos pubianos para comparar a idade que o pelo começou e os exames laboratoriais de sangue e do próprio pelo. Na consulta médica, serão colhidos de 4-6 pelos da região dos grandes lábios, puxados com a mão suavemente pelo médico. Também será colhida amostra de sangue (3ml). Este estudo será feito para entendermos melhor os motivos que determinam o aparecimento dos pelos pubianos. Compreendo que a participação de minha filha não é obrigatória e pode não trazer qualquer benefício direto a ela, mas proporcionará um melhor conhecimento à respeito deste problema, que poderá beneficiar outras crianças. Em alguns casos, o resultado dos exames pode ainda orientar o melhor tratamento a ser realizado. Fui informado(a) quanto ao desconforto no momento da coleta do pelo, que será puxado com os dedos. Fui ainda informado (a) que a coleta de sangue pode também trazer o desconforto da picada e o aparecimento de inchaço ou uma mancha roxa no local da picada. Estou ciente que poderei recusar participar deste estudo, assim como retirar minha filha durante a avaliação, sem que isto traga prejuízos ao seu acompanhamento neste serviço. Fica garantido o sigilo quanto aos dados oferecidos e resultados de exames, mantendo a privacidade dos pacientes quanto aos dados confidenciais da pesquisa. Você não deve assinar este formulário de consentimento a menos que você tenha tido a oportunidade de fazer todas as perguntas e ter esclarecido todas as suas dúvidas. Quaisquer dúvidas que eventualmente possam ocorrer você poderá entrar em contato com a pesquisadora Dra. Flávia Cerize Vallerini no telefone (0xx11) 2176-7000 (ramal: 5862/5863). Assim sendo, autorizo a participação da minha filha neste estudo. Nome e Assinatura do Responsável pelo menor Nome e Assinatura do Responsável pela pesquisa São Paulo ___/___/________ Anexos 51 ANEXO 4 EXAME FÍSICO NOME:____________________________________________________________________ P:______________ DATA NASCIMENTO:___/___/______ E:______________ IMC:___________ ACNE: NÃO SIM LOCAIS:_____________________ CA:____________ ACANTOSE: NÃO SIM LOCAIS:_________________ ESTÁGIO PUBERAL DE TANNER: PII PIII PIV PV MI MII MIII MIV MV MENARCA:__________________ IRREGULARIDADE:___________ CARACTERÍSTICAS: PELO FINO □ NÃO PIGMENTADO PELO GROSSO □ □ LISO □ PIGMENTADO/ESCURO □ ENCARACOLADO □ MENARCA MÃE:__________________ PUBARCA MÃE:__________________ TELARCA MÃE:__________________ COLETADA AMOSTRA COLETADO SANGUE Anexos IMC ID TLC ID PUB 15,34 8,63 6,25 17,71 8,75 6,5 17,84 N 5 28,44 <7 19,71 4 5 14,56 N 7 16,15 9 7,5 18,19 5 7 20,67 7,9 6 23,86 N 5,08 17,11 N 7 22,31 8,5 7 20,98 5 4 17,99 7 7,08 18,80 6 6 32,05 6 5,5 P III III II II II III III II III III II III III III III II M III III III II II I III III I I I III III III III II MM IC/IO 17OHP SDHEA TESTOT ANDRO 13 9a2m/11a 10 4,6 1120 <20 1,5 12 7a/5e9-6a10m 0,2 <150 <20 0,1 9 07/08/2011 0,8 587 <20 0,5 12 5a8m/6a10m 0,2 <20 0,2 14 7a6m/8a10m 0,3 1030 <20 0,7 13,5 7a/10a 0,7 256 <20 0,4 11,83 8a/11a 1,6 734 <20 0,4 7a9m/10a 0,4 605 <20 1 10 5a6m/6a 15 11 0,6 2210 27 2 12 11 12 0,5 842 <20 0,8 11 0,5 1200 <20 RA/BCR 0,01107 0,02046 0,01430 0,02002 0,01631 0,00075 0,00043 0,00201 0,00117 0,01859 0,01368 0,00826 0,01700 0,07500 0,01900 0,04400 PPI= Pubarca Precoce Idiopática; IDTLC= Idade da Telarca; IDPUB= Idade da Pubarca; P=Estágio de Tanner para pelos pubianos M=Estágio de Tanner para mamas; MM= Idade da Menarca Materna; IC/IO= Idade Cronológica/ Idade Óssea; 17OHP= 17-hidroxiprogesterona; SDHEA=Sulfato de Deidroepiandrosterona; TESTOT= Testosterona Total; ANDRO=Δ4-androstenediona; RA= Receptor Androgênico; BCR= Gene Normalizador (Breakpoint Cluster Region ) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 IDADE PESO ESTATURA 9,62 29 1,38 10,24 33 1,37 7,13 24,8 1,18 7,82 52,6 1,36 5,76 28,1 1,19 8,88 29,7 1,43 10,30 35,7 1,49 8,43 38,5 1,46 8,27 36,9 1,34 5,58 32,1 1,16 8,14 34,6 1,42 9,50 49 1,48 6,90 33,3 1,26 7,92 30,4 1,30 8,00 37,9 1,42 7,64 55 1,31 Dados individuais das pacientes com PPI do grupo PII-III 52 ANEXO 5 Anexos IDADE PESO ESTATURA IMC ID TLC ID PUB P M MM IC/IO 17OHP SDHEA TESTOT ANDRO RA/BCR 1 12,30 42,4 1,51 18,67 9 7 IV IV 14 12a3m/14a 1,2 615 <20 3,2 0,01003 2 13,20 51 1,56 20,96 7,16 6,5 V V 9a4m/13-14a 0,00644 3 16,45 50,1 1,62 19,21 5,58 V V 13 14a6m/13a6m 2,1 2530 49 3,7 0,02078 4 7,98 24,1 1,30 14,26 <8 IV I 16 7a6m/8a10m 1,2 1010 <20 0,8 0,00327 5 14,40 43,8 1,61 17,00 11,4 8 V IV 18 14a4m/15a 0,3 725 46 1,2 0,00253 6 11,41 42 1,44 20,40 7 7 IV IV 12 11a4m/13a 0,01346 7 14,71 76,5 1,66 27,76 7 7 V V 13 1,7 38 6,8 0,02512 8 18,95 73,7 1,69 25,74 6 V IV 0,00837 9 13,90 57,3 1,62 21,83 9 7 V V 14 0,04500 PPI= Pubarca Precoce Idiopática; IDTLC= Idade da Telarca; IDPUB= Idade da Pubarca; P=Estágio de Tanner para pelos pubianos M=Estágio de Tanner para mamas; MM= Idade da Menarca Materna; IC/IO= Idade Cronológica/ Idade Óssea; 17OHP= 17-hidroxiprogesterona; SDHEA=Sulfato de Deidroepiandrosterona; TESTOT= Testosterona Total; ANDRO=Δ4-androstenediona; RA= Receptor Androgênico; BCR= Gene Normalizador (Breakpoint Cluster Region) Dados individuais das pacientes com PPI do grupo PIV-V 53 ANEXO 6 Anexos IDADE PESO ESTATURA IMC ID TLC ID PUB P M MM IC/IO 17OHP SDHEA TESTOT ANDRO RA/BCR 1 12,38 34,6 1,37 18,57 11-12a III III 11 2,1 1210 <20 1,8 0,02315 2 9,09 9,75 8,58 II I 11 0,5 636 <20 0,6 0,05833 3 11,79 65,4 1,51 28,53 9-10a III II 16 0,00237 4 10,17 31,7 1,36 17,19 8-9a III III 17 0,17 39 10,64 0,7 0,00833 5 12,12 32 1,36 17,35 11,4 11,58 III III 14 11a11m/10a 0,9 226 <20 1,1 0,01349 6 10,75 35,2 1,50 15,64 10 9 III II 12 0,00293 7 10,56 24,1 1,26 15,18 9 9 III II 14 1 336 <20 0,1 0,05100 8 9,41 38 1,40 19,39 9 8,5 III II 12 0,3 0,7 0,03100 9 11,77 43,3 1,52 18,74 11 11 II II 12 1 740 27 1,9 0,06400 10 14,63 34,1 1,38 17,91 14 13 II III 13 0,7 1180 34 2 0,02100 11 12,35 26 1,40 13,27 12 11 II II 12 0,02800 PPI= Pubarca Precoce Idiopática; IDTLC= Idade da Telarca; IDPUB= Idade da Pubarca; P=Estágio de Tanner para pelos pubianos M=Estágio de Tanner para mamas; MM= Idade da Menarca Materna; IC/IO= Idade Cronológica/ Idade Óssea; 17OHP= 17-hidroxiprogesterona; SDHEA=Sulfato de Deidroepiandrosterona; TESTOT= Testosterona Total; ANDRO=Δ4-androstenediona; RA= Receptor Androgênico; BCR= Gene Normalizador (Breakpoint Cluster Region ) Dados individuais dos controles do grupo PII-III 54 ANEXO 7 Anexos IDADE PESO ESTATURA IMC ID TLC ID PUB P M MM IC/IO 17OHP SDHEA TESTOT ANDRO RA/BCR 1 70,7 1,66 25,66 9-10a V V 13 13a7m/15a 0,02368 2 14,07 32,33 1,49 14,56 11,08 10,75 IV IV 13 14a/13a6m 0,00767 3 13,75 43,4 1,51 19,06 9 10 V V 11 13a8m/15a 0,01306 4 14,78 11 12 V V 1,9 344 <20 1 0,00160 5 11,47 49,9 1,47 23,09 8,4 8,4 IV III 11 11a4m/13a 0,45 117,9 6,62 0,01809 6 12,22 47,9 1,57 19,43 11 8,5 V III 15 0,4 1320 <20 1,9 0,00954 7 16,50 51,8 1,56 21,18 11,16 10,5 V V 0,3 1130 <20 1,8 0,07208 8 14,09 59 1,66 21,46 11-12a V V 13 1,6 668 46 2,7 0,00395 9 15,40 50,7 1,56 20,97 9-10a V V 13 0,6 1520 22 1,1 0,00617 10 13,59 54,7 1,56 22,56 9,66 9,66 V V 13 0,3 483 <20 0,7 0,00144 11 18,56 46,3 1,63 17,43 10 10 V V 12 0,00063 12 14,49 91,2 1,69 32,12 11 10 V V 9 0,5 1660 25 0,00665 13 18,07 43,5 1,55 18,15 10,5 9 V V 15 0,00267 14 13,11 45 1,43 21,94 9,5 11 IV IV 13 12a/12a 1 822 25 2,1 0,00828 15 12,72 63,9 1,72 21,60 9,5 9,5 V V 12 12a/14a 0,00591 16 15,20 50,7 1,47 23,62 14 12 V V 10 0,01834 17 15,27 68,2 1,57 27,67 11 10 V V 13 4,4 1550 <20 22 0,02085 18 13,20 42,1 1,54 17,77 10,5 10,5 V V 12 1,2 564 48 1,9 0,00726 19 13,48 53,3 1,61 20,56 12 10 V IV 14 0,4 697 <20 1,1 0,00600 20 15,29 45,8 1,61 17,67 11 11 V IV 17 0,7 1350 22 1,5 0,03200 21 13,85 44,3 1,51 19,43 12 9 V IV 12 1,6 1100 <20 0,8 0,03000 22 18,92 62 1,58 24,84 11 11 V V 12 0,00500 23 11,00 82,3 1,55 34,26 9 10 V V 13 2,4 369 26 1 0,00400 24 13,38 44,4 1,56 18,24 11 11,4 IV IV 13 0,08500 25 13,42 50 1,45 23,78 13 12 IV IV 15 1,3 1520 <20 1,4 0,06500 26 13,78 59,1 1,56 24,29 8 8,5 V V 11 1,4 2270 <20 8,5 0,03100 27 12,58 42 1,57 17,04 N 9 IV I 13 0,02100 PPI= Pubarca Precoce Idiopática; IDTLC= Idade da Telarca; IDPUB= Idade da Pubarca; P=Estágio de Tanner para pelos pubianos M=Estágio de Tanner para mamas; MM= Idade da Menarca Materna; IC/IO= Idade Cronológica/ Idade Óssea; 17OHP= 17-hidroxiprogesterona; SDHEA=Sulfato de Deidroepiandrosterona; TESTOT= Testosterona Total; ANDRO=Δ4-androstenediona; RA= Receptor Androgênico; BCR= Gene Normalizador (Breakpoint Cluster Region ) Dados individuais dos controles do grupo PIV-V 55 ANEXO 8 ‘ Anexos 56 8. 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As pacientes foram divididas em dois grupos, PII-III e PIV-V, de acordo com sua classificação nos estágios de Tanner. Androstenediona, testosterona total, 17-hidroxiprogesterona e sulfato de deidroepiandrosterona (SDHEA) também foram dosados. Como esperado, a idade cronológica e da pubarca foram reduzidas em PPI comparadas às controles. A idade da telarca foi reduzida em ambos os grupos PPI iniciais e finais. A proporção de pacientes com menarca foi semelhante em PPI e controles, mas a idade da menarca foi reduzida em PPI. As concentrações hormonais foram semelhantes nos dois grupos, quando são pareados para o mesmo estágio de pelos pubianos de Tanner. A mesma concentração de DHEAS foi atingida em média 3,5 anos antes em PPI quando comparadas às controles. Não houve diferença na expressão de RNAm do RA entre as pacientes com PPI e controles em fases iniciais, quando comparadas com fases finais de Tanner. Nenhuma correlação significativa foi detectada entre SDHEA e expressão de RA. Concluiu-se que as pacientes com PPI têm secreção de SDHEA normal, mas mais precoce, além de expressão normal de RNAm do RA. Palavras- chave: pubarca precoce, receptor androgênico, adrenarca. Resumo 65 ABSTRACT 66 Vallerini FC. Expression of androgen receptor in hair follicle cells of patients with idiopathic premature pubarche. Master Dissertation, 2015. The pathogenesis of idiopathic Precocious Pubarche (iPP) is still unclear. A potential mechanism is the androgen hypersensitivity of pubic hair follicles. Progression to virilization and polycistic ovary syndrome can occur. Early detection of androgen hypersensitivity may allow better treatment strategies. We hypothesized that excessive androgen receptor (AR) expression of pubic hair is related to iPP development. AR mRNA was measured by real time PCR in hair follicles from major labia of 68 girls (iPP:25; controls:38). ). The patients were divided in two groups, PIIIII and PIV-V, based on their Tanner stage classification. Androstenedione, total testosterone, 17OH progesterone and dehydroepyandrosterone sulfate were also measured. As expected, chronologic and pubarche ages were reduced in iPP compared with controls. Telarche age was reduced in both initial and late iPP groups. Proportion of patients with menarche were similar in iPP and controls, but menarche age was reduced in iPP patients. Hormone concentrations were similar in both groups when adjusted for Tanner pubic hair stage. The same level of DHEAS was reached 3.5 years earlier in iPP compared with controls with the same Tanner stage. There was no difference in androgen receptor mRNA expression between iPP patients and controls or when initial were compared with later Tanner stages. No significant correlation was detected between DHEAS and AR expression. We conclude that iPP patients have normal but earlier DHEAS secretion in the presence of normal androgen receptor mRNA expression. Key words: androgen receptor, adrenarche, pubarche. Abstract