artigo 4 por LIANA SIGNORINI 1* LUCIANA SIGNORINI 2* Hepcidina Um hormônio essencial à homeostase do ferro Resumo Objetivo: A hepcidina é um hormônio essencial à regulação da homeostase do ferro, pois atua tanto no processo de absorção intestinal, como na manutenção dos estoques hepáticos e na liberação do ferro por macrófagos. Ela tem participação na fisiopatogênese da Anemia de Doenças Crônicas e sua expressão é regulada por quatro mecanismos principais. Assim, tornou-se alvo de pesquisadores no desenvolvimento de novas ferramentas para diagnóstico, monitoramento terapêutico e acompanhamento dos distúrbios do metabolismo do ferro. Palavras-chave: Hepcidina. Ferro. Ferroportina. Anemia de Doenças Crônicas. Inflamação. Summary Title: Hepcidin – essential hormone to iron homeostasis Objective: Hepcidin is an essential hormone to iron homeostasis regulation, because it acts in the intestinal absorption process, in the maintenance of hepatic stores and in the release of iron from macrophages. It participates in anemia of chronic diseases pathogenesis and their expression is regulated by four main mechanisms. Thus, it became a target to develop new tools for diagnosis, therapeutic monitoring, and follow iron metabolism disorders. Keywords: Hepcidin. Iron. Ferroportin. Anemia of Chronic Disease. 044 1 Farmacêutica-bioquímica, aluna do Curso de Especialização em Hematologia Laboratorial da Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR, Curitiba - PR. 2 Cirurgiã-dentista; Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial - EAP/ABO - Ponta Grossa; Doutora em Ciências da Saúde PUC-PR; PósDoutora em Cirurgia UFPR - Universidade do Porto Portugal. Introdução O ferro é um elemento fundamental ao metabolismo energético oxidativo de quase todos os animais, plantas e microrganismos (1,2). Em humanos, ele é essencial não só a moléculas que possuem oxigênio (hemoglobina e mioglobina), mas também à atividade de enzimas catalisadoras de reação redox (citocromos), à produção de intermediários metabólicos, à proliferação celular, ao reparo do DNA e à defesa do organismo (1,3,4). O tecido que tem maior demanda por ferro é a medula óssea, já que o utiliza no processo de síntese de hemoglobina durante a eritropoiese (4). Seu aporte é garantido pelo controle da absorção pelas células intestinais e por um sistema eficiente de reciclagem, no qual macrófagos presentes no baço (esplênicos), na medula óssea e no fígado (células de Küpffer) reconhecem modificações bioquímicas na membrana das hemácias senescentes (que sinalizam a necessidade de sua eliminação), fagocitam-nas, degradam a hemoglobina e exportam o ferro à circulação para que ele seja novamente utilizado (2,3,4). A quantidade não utilizada é armazenada nas células retículoendoteliais do fígado, do baço e da medula óssea, nas formas de ferritina e hemossiderina (5). Porém, como a capacidade desse armazenamento é limitada, não há um mecanismo específico de eliminação do exces- so de ferro (ele é eliminado do organismo por secreções corpóreas, descamação de células intestinais e epidérmicas e por sangramento menstrual) e ele pode ser extremamente tóxico (devido à sua ação catalítica na produção de radicais livres de oxigênio), os seres vivos desenvolveram sistemas de regulação para garantir o equilíbrio (3,4,5,6). Um deles, intracelular, atua de acordo com a quantidade de ferro disponível às células; o outro, sistêmico, conta com a participação crucial de um hormônio: a hepcidina (3,4,5). Como os locais de absorção, reciclagem, armazenamento e utilização do ferro estão distantes uns dos outros, era esperada a existência de hormônios reguladores que explicassem as interações entre esses compartimentos (3). A importância da hepcidina na homeostase do ferro A hepcidina - proteína de 25 aminoácidos, que contém 8 resíduos de cisteína envolvidos em 4 pontes dissulfeto intramoleculares - foi descrita por Krause et al. (2000) e por Park et al. (2001) no sangue e na urina de humanos, respectivamente (figura 1). Inicialmente, ela foi chamada de LEAP-1 (Liver-Expressed Antimicrobial Peptide-1); Revista NewsLab | Jun-Jul/15 liferação (4). O aumento excessivo de ferro pode gerar efeitos profundos na função de células T, com aumento de células TCD8+ às custas da diminuição de células TCD4+, e uma redução na resposta mitótica a antígenos (12). A importância do ferro na imunidade inata A imunidade inata depende de uma série de mecanismos efetores na defesa contra a invasão de microrganismos (8). Em vertebrados, a participação do fígado na resposta de fase aguda frente à infecção ou à inflamação se dá pelo aumento da síntese e secreção de proteínas, dentre as quais estão peptídios catiônicos que possuem pontes dissulfeto e atividade antimicrobiana de amplo espectro - contra bactérias, fungos, protozoários e vírus (7,8). Esses peptídios estão amplamente distribuídos na natureza, nos reinos animal e vegetal (7,8). São expressos, predominantemente, nas células epiteliais do sistema respiratório, digestivo e gênito-urinário, assim como nos grânulos de fagócitos circulantes. Compartilham elementos estruturais comuns, são anfipáticos e carreiam cargas positivas ao pH fisiológico que, ao se ligarem aos fosfolipídeos carregados negativamente da membrana citoplasmática dos micro-organismos, causam seu rompimento (7,12). Esse mecanismo de ação inespecífico demonstra a atividade de amplo espectro (7). Visto que tanto o hospedeiro quanto os microrganismos dependem de ferro para seu metabolismo, numa infecção bacteriana a resistência do hospedeiro pode ser aumentada pelo sequestro de ferro, restringindo sua disponibilidade aos organismos invasores (3) Para isso, os mecanismos de diminuição da oferta de ferro são ativados: ocorre aumento da produção de proteínas ligantes de ferro, redução da absorção de ferro da dieta, aumento da produção hepática de haptoglobina e hemopexina e aumento da liberação de apolactoferrina a partir dos neutrófilos (para sequestrar ferro dos sítios invadidos pelos micro-organismos) (12). A transferrina está intimamente relacionada à lactoferrina (proteína ligante de ferro). A existência dessas proteínas homólogas demonstra a correlação entre o metabolismo do ferro e a imunidade inata (3). Ao induzirem o sequestro de ferro por macrófagos e a diminuição da sua absorção pelas células intestinais, as infecções e as doenças inflamatórias levam à Anemia da Inflamação, também chamada de Anemia de Doenças Crônicas, caracterizada pela diminuição da concentração plasmática de ferro (assim como ocorre na Anemia Ferropriva), porém com a presença de ferro nos macrófagos da medula óssea e com a ferritina sérica elevada, indicando um estoque adequado de ferro (1,3) (figura 4). O metabolismo do ferro O íon férrico (Fe3+) proveniente da dieta, após sofrer processo de redução a íon ferroso (Fe2+) pela enzima ferroredutase DcytB (Duodenal cytochrome B), é captado pela superfície apical dos enterócitos através do transportador DMT1 (Divalent Metal Transporter 1), também chamado de Nramp2 (Natural-resistance-associated macrophage protein 2). No citoplasma dos enterócitos, o ferro pode ser armazenado na forma de ferritina ou ser movido para a superfície basolateral das células, de onde será exportado para o plasma pela ferroportina (FPT ou Ireg1 - Iron regulated transporter 1) (3). Assim como o DMT1, a FPT também é seletiva para o Fe2+ (5) (figura 5). Já o ferro proveniente do grupamento heme é internalizado nas células do duodeno, fígado e rins pela HCP1 (proteína transportadora do heme 1) (5). A regulação dessa absorção é feita de acordo com o nível de ferro intracelular: havendo deficiência, a HCP1 se redistribui do citoplasma para a membrana plasmática das células duodenais; por outro lado, em condições de excesso, a redistribuição se dá inversamente (a partir da borda em escova da célula para o seu citoplasma). No interior da célula, o ferro é liberado da protoporfirina pela hemeoxigenase e armazenado na forma de ferritina ou liberado do enterócito para o sangue (5) (figura 5). Nos macrófagos, a absorção do ferro é mais complexa, visto que eles possuem vários transportadores: Nramp1, Nramp2 (DMT1) e Ireg1 (2,3). Para ser captado pela transferrina (Tf) e 045 artigo 4 porém, devido aos arranjos simétricos dos pares de cisteína ao redor de um segmento catiônico e das pontes dissulfeto serem semelhantes à estrutura molecular de peptídios antimicrobianos conhecidos, os pesquisadores denominaram-na hepcidina: hep devido ao seu local de síntese (fígado) e cidin devido às suas propriedades antimicrobianas (8). Há relatos também de sua produção por neutrófilos, monócitos, linfócitos, adipócitos, células renais e β-pancreáticas (4). Em humanos, o gene da hepcidina (HAMP - Hepcidin Anti-Microbial Peptide) está localizado no cromossomo 19q13.1. Ele codifica uma proteína precursora de 84 aminoácidos (a pré-pró-hepcidina), que é processada na extremidade amino-terminal por clivagem enzimática, resultando na pró-hepcidina (com 64 aminoácidos). Esta, por sua vez, é levada ao lúmen do retículo endoplasmático onde, em seguida, sofre uma remoção pós-transcricional de 39 aminoácidos, resultando na hepcidina bioativa (3,8,10). Após ser sintetizada pelos hepatócitos e processada em sua forma ativa, ela atua controlando a concentração de um receptor transmembrana responsável pela exportação celular de ferro - a ferroportina - induzindo-o à sua internalização e degradação, limitando assim a saída de ferro dos tecidos para o plasma. Esse mecanismo ocorre, principalmente, nos enterócitos (que absorvem o ferro da dieta), nos macrófagos (que o reciclam a partir dos eritrócitos senescentes) e nos hepatócitos (que constituem o principal reservatório de ferro do organismo) (4,11). Dessa forma, a hepcidina inibe a absorção intestinal de ferro da dieta, o efluxo dele após ser reciclado por macrófagos (esplênicos e hepáticos) e a sua liberação dos estoques hepáticos, levando à diminuição da distribuição de ferro aos tecidos (2). Portanto, ela atua como um regulador central do metabolismo do ferro no organismo (4,11,12) (figuras 2 e 3). Ao mediar a retenção de ferro nos macrófagos, a hepcidina pode ser responsável por favorecer o crescimento de microrganismos que utilizam este metal em seu metabolismo (4). Por outro lado, linfócitos acumulam ferro em seu interior como controle de sua própria pro- 49° Congresso Brasileiro de Patologia Clínica Medicina Laboratorial e 1° Congresso Brasileiro de Informática Laboratorial Exposição Técnico-Científica In teg raçã o par a o d i ag n ós ti c o Fortaleza - CE Centro de Eventos do Ceará 29 de setembro a 2 de outubro de 2015 www.cbpcml.org.br Realização Congresso Brasileiro de Patologia ° 49 Clínica/Medicina Laboratorial Conferências Magnas A fase pré-analítica e a segurança do paciente Ana Maria Simundic Palestrante: Ana Maria Simundic (Croácia) Dia: 29/09/2015 - Esta atividade é viabilizada pela BD Clemente Nóbrega Especialista em inovação Médica e professora Disrupção em medicina laboratorial Palestrante: Clemente Nóbrega Dia: 30/09/2015 Adequando o laboratório para integração dos cuidados clínicos: novas abordagens para a interação na solicitação de exames e emissão de laudos Palestrante: William Morice II (EUA) Dia: 01/10/2015 - Esta atividade é viabilizada pela Clínica Mayo Reaprender a aprender Palestrante: Zeca de Mello Dia: 02/10/2015 William Morice II Médico da Clínica Mayo Zeca de Mello Professor convidado da Fundação Dom Cabral (MG) Lançamentos Tecnologia da Informação em Medicina Laboratorial Posicionamento da SBPC/ML 2015 Dia: 30/09/2015 Diretriz para a Gestão e Garantia da Qualidade de Testes Laboratoriais Remotos (TLR) da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial Dia: 30/09/2015 1° Congresso Brasileiro de Informática Laboratorial 30 de setembro Tecnologia da informação na Saúde Suplementar M Health - Aplicativos Disrupção em Medicina Laboratorial TIID - Tecnologia, Informática, Inovação e Disrupção Segurança do paciente Como o big data vai revolucionar a medicina Lançamento do Posicionamento da SBPC/ML 2015 - Tecnologia da Informação em Medicina Laboratorial Apoio: Sociedade Brasileira de Informática em Saúde - SBIS artigo 4 por LIANA SIGNORINI 1* LUCIANA SIGNORINI 2* 048 distribuído aos tecidos, é preciso que o Fe2+ (externalizado pela ferroportina) seja reoxidado à Fe3+ (forma pela qual a transferrina sérica tem grande afinidade) (3,5). A hefaestina, oxidase semelhante à ceruloplasmina sérica, é responsável por essa conversão (5) (figura 5). A transferrina não só solubiliza como também atenua a reatividade e facilita a liberação do ferro para as células. Quando a capacidade de ligação da Tf está totalmente saturada, o ferro pode circular livremente pelo soro na forma não-ligada à Tf, que é facilmente internalizada pela célula, contribuindo para o dano celular nos casos de sobrecarga de ferro. Quando complexado à Tf, a internalização do ferro é iniciada pela ligação desse complexo a um receptor específico (TfR) presente na superfície da maioria das células (5). A afinidade do TfR à Tf diférrica parece ser determinada pela HFE (proteína da Hemocromatose), também presente na membrana plasmática dos eritroblastos, uma vez que, no citosol, a HFE forma um complexo com o TfR, reduzindo o número desses receptores na membrana celular (5) (figura 5). A interação Tf-TfR é facilitada pelo pH extracelular (7,4) e, a partir dessa ligação, inicia-se o mecanismo de captação de ferro pelas células: o complexo Tf-TfR-HFE é internalizado por endocitose; dentro do endossoma, a bomba de prótons dependente de ATP encarrega-se de reduzir o pH, facilitando a liberação do ferro da Tf, que permanece ligada ao seu receptor; o complexo apoTf-TfR-HFE é reciclado à superfície celular e a apo-Tf é liberada do TfR; o ferro do endossoma (Fe3+) é reduzido pela ferroredutase Steap 3 (Six-transmembrane epithelial antigen of the prostate 3) a Fe2+, que atravessa a membrana da vesícula por meio do DMT1 e alcança o citoplasma. A incorporação do ferro ao anel de protoporfirina irá então gerar o grupamento heme que, em combinação com as cadeias globina, formará a molécula de hemoglobina (5,13). Um produto da clivagem do TfR tecidual (sTfR) circula no plasma na forma solúvel (5) Oitenta por cento (80%) da massa de TfR celular está nas células da linhagem eritrocítica da medula óssea; assim, existe uma correlação direta entre a quantidade de sTfR circulante e a de TfR celular. Portanto, a concentração de sTfR circulante é determinada primariamente pela atividade medular eritroide. Situações caracterizadas por hipoplasia da série vermelha, como anemia aplásica ou insuficiência renal crônica, apresentam níveis reduzidos de sTfR, enquanto condições de hiperplasia eritroide (como Anemia Falciforme ou outras anemias hemolíticas crônicas) estão associadas a níveis elevados de sTfR. Outro fator que regula a expressão do TfR e, consequentemente, altera as concentrações circulantes do sTfR, é o estado do ferro intracelular, mediado pelos elementos responsivos ao ferro (IRE) e pelas proteínas reguladoras do ferro (IRP). A privação de ferro favorece a formação do complexo IRE-IRP no mRNA do TfR, aumentando sua síntese. É o que pode ser observado em pacientes com Anemia Ferropriva, que apresentam concentrações séricas elevadas de sTfR (5). Regulação da expressão hepcidina As consequências do desequilíbrio no metabolismo do ferro caracterizam-se de um lado pela Anemia por Deficiência de Ferro e de outro pelas doenças de sobrecarga, tais como a Hemocromatose, em que a hiperferremia pode levar à lesão tecidual em vários órgãos, gerando cirrose hepática, diabetes, hipogonadismo, artrite ou cardiopatia (4). Dessa maneira, para assegurar o aporte de ferro necessário para a eritropoiese e proteger o organismo tanto de sua deficiência quanto de seu excesso, a expressão da hepcidina é regulada, basicamente, por quatro tipos de sinais (4) (figura 6). 1) Aumento da atividade eritropoiética, hipóxia e anemia O aumento da atividade eritropoiética suprime a síntese de hepcidina, permitindo a liberação do ferro armazenado (em macrófagos e hepatócitos) e o aumento da sua absorção, de modo a garantir sua mobilização para a medula óssea, visando a síntese de hemoglobina (2,4,12) (figura 6) Outro mediador associado com a eritropoiese na regulação negativa da hepcidina é o GDF15 (Growth Differentiation Factor 15), um membro da família de fatores de crescimento TGFβ, que é estimulado em condições de depleção celular de ferro (4) (figura 6). Nos mamíferos, a homeostase do oxigênio é mantida, em parte, pelo fator de transcrição HIF (Hypoxia Inducible Factor). Ele contém uma subunidade β, que é expressa constitutivamente, e uma subunidade α, que é regulada (14). Em condições normais de tensão de oxigênio, a subunidade α do HIF é hidroxilada e degradada através da via ubiquitina-proteossoma, numa interação com um gene supressor de tumor VHL (Von Hippel-Lindau), impedindo assim a formação do heterodímero ativo HIF (4,14). Já em situações de hipóxia e anemia, ocorre estabilização da subunidade α, devido à inibição da sua hidroxilação, permitindo assim sua interação com a subunidade β e, consequentemente, induzindo a ativação de genes que respondem a HIF, tais como o gene da eritropoietina (4,14). Uma vez produzida pelo rim, a eritropoietina atua, através da interação com seu receptor (EPOR), como o principal agente anti-apoptótico nos eritroblastos e inibe a síntese de hepcidina pelos hepatócitos através da inibição do fator de transcrição C/EBPα (CCAAT/Enhancer Binding Protein α) (4). Assim, ocorre maior absorção de ferro pelos enterócitos e sua maior exportação pelo sistema retículoendotelial, deixando-o disponível para compensar a eritropoiese (3,5). Como consequência, ocorre hiperabsorção de ferro, levando a uma sobrecarga sistêmica, que Revista NewsLab | Jun-Jul/15 2) Concentração de ferro circulante O aumento tanto da concentração plasmática de ferro quanto do seu estoque estimula a produção de hepcidina que, por sua vez, bloqueia a absorção dele a partir da dieta, até que os níveis plasmáticos se normalizem, evitando assim a sobrecarga, que pode ser tóxica (4,12). Por outro lado, a produção de hepcidina é suprimida na deficiência de ferro, permitindo assim maior absorção da dieta e reposição dos estoques. Esse mecanismo de retroalimentação (feedback) garante um controle rígido da concentração de ferro plasmática (2,12) (figura 7). Para evitar excesso de ferro livre ou falta dele dentro da célula, as proteínas reguladoras IRP1 e IRP2 controlam a expressão pós-transcricional de genes responsáveis pela modulação da síntese de proteínas envolvidas na captação e estoque do ferro, tais como TfR1 e ferritina (1,5). Em condições de baixa quantidade de ferro intracelular, as IRPs 1 e 2 ligam-se às regiões IRE do mRNA, codificando assim as proteínas reguladas (1,5). Por outro lado, em condições de excesso de ferro intracelular, as IRPs ficam inativas (5). A DMT1 e a ferroportina apresentam estruturas “IRE like”; logo, na deficiência de ferro em modelos experimentais, há aumento dos níveis de mRNA da DMT1 (5). Assim, em condições de hipoferremia, as concentrações intracelulares de ferritina diminuem e as de TfR1 aumentam, levando à correção da deficiência de ferro e deixando-o disponível para o metabolismo (1). A expressão da hepcidina é regulada pela HFE, pelo receptor TfR2, pela BMP (Bone Mor- phogenic Protein), pela HJV (hemojuvelina) e por serina-proteases TMPRSS6 (TransMembrane PRoteaSe Serine 6) (12,15,16). A proteína HFE interage com os receptores da transferrina, TfR1 e TfR2 (4,17). À medida que a saturação de transferrina aumenta, a HFE perde sua ligação com o TfR1, ficando disponível para se ligar ao TfR2, ativando assim a via de sinalização MAPK/ERK (Extracelular Regulated MAP Kinase). Isso contribui para o aumento da BMP6, com consequente elevação da expressão de hepcidina através da via de sinalização das SMADS (Son of Mothers Against Decapentaplegic) (4) (figuras 6 e 8). Aparentemente, a Tf diférrica tem um papel fundamental nessa regulação (5). Na superfície celular do hepatócito, a Tf diférrica competiria com a HFE pela ligação à TfR1. Em condições de altas concentrações de Tf diférrica, haveria uma maior ligação da Tf ao seu receptor e a HFE livre sinalizaria para o núcleo sintetizar mais hepcidina. Numa situação inversa, com baixa saturação de Tf, a competição para a ligação ao TfR seria vantajosa para a HFE; assim, uma diminuição nos níveis de HFE livre levaria à redução na expressão da hepcidina (5). Como a expressão da hepcidina é regulada também pelas proteínas HJV e TfR2, mutações nessas moléculas e na β2-microglobulina, que interagem com a HFE na superfície celular, levam ao fenótipo de Hemocromatose, em que a expressão da hepcidina está diminuída ou não responsiva ao excesso de ferro absorvido da dieta (5). A proteína HJV é a principal responsável pelas formas mais severas de Hemocromatose Juvenil e é um co-receptor de BMP. As BMPs são membros da família TGFβ (Transforming Growth Factor-β) e induzem a transcrição do gene da hepcidina através da via das SMADs (4,18). A ligação das BMPs aos seus receptores (BMP1 e BMP2), ativa a fosforilação das SMADs 1, 5 e 8 (R-SMAD), as quais interagem com a SMAD-4 (19). Este complexo migra para o núcleo e, ligando-se à região promotora do gene da hepcidina, regula sua transcrição (19) (figuras 6 e 8). A HJV pode ser clivada pela furina (mesma convertase responsável pela maturação da hep- cidina) e libertada numa forma solúvel que, ao contrário da HJV de membrana, é capaz de inibir a produção de hepcidina, possivelmente por um mecanismo de competição com as BMPs. Embora várias BMPs sejam capazes de induzir a expressão de hepcidina, a BMP6 é o mediador essencial à resposta da hepcidina ao ferro no fígado (4,18) (figura 6). A serina-protease TMPRSS6, também conhecida como matriptase-2, é responsável pela proteólise da HJV. Como está envolvida na via de ativação HJV/BMP, é um inibidor da hepcidina. Recentemente, foi demonstrado que esta protease é também regulada por fatores induzidos pela hipóxia, evidenciando-se a inter-relação entre os mecanismos reguladores da hepcidina. A deficiência de TMPRSS6 é responsável pela Anemia de Deficiência de Ferro Refratária ao Ferro (IRIDA - Iron-Refractory Iron Deficiency Anemia) (4,18) (figura 6). 3) Resposta inflamatória A descoberta da regulação das concentrações de hepcidina por mecanismos inflamatórios ajudou a explicar o surgimento das Anemias de Doenças Crônicas (ADC) - também chamadas de Anemias da Inflamação - em pacientes com doenças inflamatórias crônicas, tais como infecções, doenças malignas ou autoimunes (12). Existem 3 mecanismos que, dirigidos pelo sistema imune, contribuem para seu desenvolvimento (20). O primeiro deles diz respeito à retenção de ferro nos macrófagos (sistema fagocítico mononuclear) e à inibição de sua absorção por enterócitos, mediada pela hepcidina, que leva à hipoferremia. Consequentemente, a limitação da disponibilidade de ferro para a eritropoiese gera anemia (2,5,20). Achados clínicos de hipoferremia logo após o início de um quadro inflamatório comprovam esta teoria (12). Ademais, ocorre diminuição da saturação da transferrina e aumento do estoque de ferro na medula óssea e na ferritina (12). A concentração de hepcidina está relacionada com os níveis de ferritina sérica, sendo esta considerada um marcador de inflamação (3). Concentração urinária elevada de hepcidina em pacientes com Anemia da Inflamação já 049 artigo 4 resulta em dano ao organismo (1,5) (figura 6). Durante a hipóxia, existe também um aumento da concentração de radicais livres de oxigênio (ROS - Reactive Oxygen Species), os quais podem ser responsáveis pela diminuição da expressão de hepcidina através da alteração da atividade de C/EBPα e de STAT-3 (Signal Transducer and Activator of Transcription 3) (4) Ocorre indução da síntese da HCP1, facilitando a captação de heme quando há maior necessidade do organismo, e aumento da expressão de ferroportina (5). artigo 4 por LIANA SIGNORINI 1* LUCIANA SIGNORINI 2* 050 foi citada por Ganz (16), e o decréscimo de sua excreção foi detectado por Nemeth et al. (21) ao longo do tratamento de pacientes com quadro inflamatório ou infeccioso. Ocorre também diminuição na contagem de reticulócitos, indicando uma baixa produção de eritrócitos. A concentração de transferrina é normal ou levemente diminuída, e os níveis de receptor de transferrina sérico (TfR) ficam ligeiramente aumentados (12). Portanto, laboratorialmente, a ADC é caracterizada por hipoferremia na presença de estoque de ferro (5), ou seja, ocorre uma preservação inadequada de ferro num ambiente de anemia (12). O segundo resulta da saturação anormal de transferrina, que também limita a disponibilidade de ferro para as células progenitoras eritroides, gerando uma deficiência de ferro funcional (20). Por fim, citocinas inflamatórias, tais como TNF-α (Fator de Necrose Tumoral-α), IFN-Ɣ (Interferon-Ɣ), IL-1 (Interleucina-1), IL-6 (Interleucina-6) e IL-10 (Interleucina-10), afetam a eritropoiese devido a um impacto negativo na proliferação e diferenciação dos progenitores eritroides e à indução de apoptose, comprometendo a resposta à eritropoietina (16,20) (figura 9). Dentre elas, a IL-6 tem um papel fundamental, já que é a principal estimuladora da produção de hepcidina pelos hepatócitos (5). Durante as infecções, lipopolissacarídeos (macromoléculas específicas de patógenos) atuam nos macrófagos, induzindo-os a produzir IL-6 e outras citocinas inflamatórias que, ao ativarem STAT3, levam à ligação deste a um elemento regulatório no promotor do gene HAMP, induzindo sua transcrição (3,5) (figura 6). Estudos de Nemeth et al. (21) demonstraram a indução da produção de hepcidina por IL-6, indicando assim uma resposta de fase aguda do tipo II, por meio da via de sinalização JAK/ STAT3 (4,15). A ligação de IL-6 ao seu receptor ativa o gene JAK (Janus Kinase) e a fosforilação de STAT3, que se liga ao promotor do gene da hepcidina (10) (figura 6). A região reguladora deste gene contém sítios de ligação a fatores de transcrição, como C/EBP, que também são recrutados na presença de lipopolissacarídeos bacterianos e inflamação (12). Ao induzir o sequestro de ferro por macrófagos, a hepcidina diminui a disponibilidade dele aos micro-organismos, que o requerem para a produção de superóxido dismutase, responsável pela proteção contra radicais livres (12). Ademais, as vias que utilizam IFN-Ɣ tornam-se ineficazes na destruição de patógenos intracelulares em macrófagos sobrecarregados de ferro (12). Isso acontece porque o excesso de ferro inibe as vias mediadas por TNF-Ɣ nos macrófagos, tais como a formação de óxido nítrico (por inibição da óxido nítrico-sintase), a formação do complexo principal de histocompatibilidade de classe II e a expressão de ICAM-1 (12). Deste modo, a resposta Th1 (resposta imune celular) pode ficar diminuída (12). As proteínas de fase aguda tipo I, tais como α1-glicoproteína ácida, requerem a ação sinérgica de IL-6 e IL-1β para serem sintetizadas (10). Por outro lado, as do tipo II (haptoglobina, α2-macroglobulina e hepcidina) requerem apenas IL-6 (10). A deficiência funcional de ferro em pacientes com Anemia de Doenças Crônicas pode se complicar por perda crônica de sangue (que causa hipoferremia). Assim, a diferenciação entre ADC e ADC/IDA (Anemia de Doenças Crônicas/ Anemia por Deficiência de Ferro) é clinicamente importante, porque a suplementação de ferro pode ter efeitos danosos em pacientes com ADC por infecções ou câncer, devido à ação desse metal como promotor de crescimento para células tumorais e micro-organismos, além de seu efeito negativo na função imune inata. Em contraste, ela pode ser benéfica para pacientes com ADC/IDA, já que eles requerem ferro para suas funções metabólicas básicas e para a eritropoiese (20). Na prática clínica, a diferença entre elas é difícil, já que ambas apresentam diminuição da concentração de ferro sérico e da saturação de transferrina. Além disso, é complicado interpretar os resultados da dosagem de ferritina durante um quadro inflamatório, porque sua expressão é induzida tanto pela sobrecarga de ferro quanto por citocinas inflamatórias (20). Logo, novos marcadores, que indiquem com acuracidade a necessidade de ferro para eritropoiese, são necessários (20). Os níveis de hepcidina são claramente diferentes entre pacientes com ADC e ADC/IDA; por isto, a determinação deste peptídeo no soro poderá ter valor diagnóstico na distinção entre as duas patologias, no monitoramento da terapia de suplementação de ferro (mesmo antes da observação do aumento dos níveis de hemoglobina) e na estimativa da necessidade de ferro para a eritropoiese (em pacientes anêmicos que fazem diálise) (20). 4) Estresse retículo endoplasmático A exposição de células a agentes tóxicos, patológicos ou a alterações nutricionais causa estresse celular (4,22). Nessas situações, o processo de desdobramento de proteínas é bastante afetado; portanto, o retículo endoplasmático - compartimento celular responsável por esta função - desenvolveu mecanismos que permitem a detecção e correção de proteínas desenoveladas para garantir a manutenção da homeostase celular (23). Esse mecanismo consiste na ativação de uma via de sinalização intracelular denominada UPR (Unfolded Protein Response), que permite à célula não só identificar o aumento de proteínas mal dobradas no lúmen do retículo endoplasmático, mas também incrementar a capacidade de redobrá-las de maneira correta ou induzi-las à degradação (23). A presença de proteínas desenoveladas também ativa sensores presentes no retículo endoplasmático, tais como o CREBH (cAMP-Responsive Element-Binding Protein H) e o C/EBPα, que induzem a expressão de hepcidina (4,22) (figura 6) Revista NewsLab | Jun-Jul/15 artigo 4 A hepcidina como alvo para o diagnóstico e o tratamento de desordens do metabolismo do ferro Os mecanismos de regulação da hepcidina ajudaram na compreensão de muitas doenças do metabolismo do ferro (4). Mutações nos genes HFE, TfR2 (receptor semelhante ao TfR), HJV e HAMP têm um mecanismo patogênico comum, que consiste na produção inapropriada ou ausência de produção de hepcidina em resposta ao excesso de ferro. Assim, ocorre acúmulo de ferro no organismo devido a sua contínua absorção pelo intestino (1,5) levando à Hemocromatose Humana (2,4). Em doenças hepáticas crônicas - hepatites B, C e doença alcoólica - ocorre sobrecarga de ferro, favorecendo o desenvolvimento de lesões hepáticas e, consequentemente, deficiência da produção de hepcidina (4,16,25). Por outro lado, a produção elevada desse hormônio causa Anemia Ferropriva, devido à incapacidade de absorção do ferro, mesmo com uma dieta normal (2). Seu aumento mediado por inflamação crônica ou estresse oxidativo favorece a depleção de ferro do sangue e a sua retenção nas células do sistema retículo-endotelial, principalmente nas células de Küpffer, podendo estimular ainda mais a resposta imune. Sendo assim, pode ser considerada como um fator de agravamento da própria doença (4). Destaca-se, portanto, a importância do conhecimento das vias de transdução de sinal da hepcidina no desenvolvimento de alvos farmacológicos: agonistas da hepcidina ou estim- uladores de sua produção poderão ser utilizados no tratamento e prevenção de desordens de sobrecarga de ferro em quadros de deficiência de hepcidina (como acontece na Hemocromatose) (3,16). Por outro lado, antagonistas e inibidores de sua produção terão utilidade no tratamento de Anemias por Deficiência de Ferro (16). Pouco se sabe sobre a relação estrutura-atividade da interação entre a hepcidina e seu respectivo receptor – a ferroportina. Porém, Clark et al. (9) demonstraram que existem resíduos na região N-terminal da hepcidina que influenciam nessa interação e que podem ser utilizados no desenvolvimento de análogos para o tratamento de patologias associadas à sobrecarga hereditária de ferro. Quanto ao doseamento da hepcidina, os primeiros estudos foram realizados na urina de humanos por cromatografia de troca iônica; porém, tratava-se de um teste muito laborioso (4). Mais tarde, foram desenvolvidas técnicas por espectroscopia de massa, que permitiram seu doseamento não só na urina, mas também no soro. Elas apresentaram boa reprodutibilidade, mas dependiam de equipamentos caros e não disponíveis facilmente (4). Um método imunoenzimático para detecção de pró-hepcidina por meio de ELISA, que é barato e de fácil execução, foi descrito (26). No entanto, ele nunca foi validado clinicamente, pois seus resultados não se relacionavam com as concentrações esperadas de hepcidina-25, nem com outros parâmetros do metabolismo do ferro (4). Recentemente, um teste de ELISA competitivo, que é capaz de detectar alterações fisiológicas e patológicas nos níveis de hepcidina-25 (no soro e na urina) com precisão e reprodutibilidade, também foi relatado; todavia, sua comercialização tem sido difícil, provavelmente pela dificuldade de se garantir estoques de anticorpo - devido ao tamanho da molécula alvo (apenas 25 aminoácidos), à sua estrutura compacta e complexa e à grande conservação genética entre espécies - o que torna difícil a indução de uma resposta imune nos modelos hospedeiros (4,26). O doseamento da hepcidina no soro, sem dúvida, será usado no futuro como uma ferramenta importante no diagnóstico, classificação, acompanhamento de pacientes com patologias relacionadas ao ferro e avaliação da eficácia do tratamento com ferro em pacientes com Anemias de Doenças Crônicas. No entanto, ainda não há um teste de referência, comercialmente disponível e a um preço acessível, que torne o doseamento deste hormônio um teste de rotina na prática clínica (4,26). Assim, mais estudos são necessários até que se consiga validar uma metodologia padrão, a um custo adequado, para padronizar esse exame no diagnóstico laboratorial de doenças. Figura 1 – Estrutura tridimensional da hepcidina, mostrando as pontes dissulfeto e os resíduos de cisteína. Fonte: CLARK et al., 2011. 051 artigo 4 por LIANA SIGNORINI 1* LUCIANA SIGNORINI 2* Figura 2 - Ação da hepcidina no metabolismo do ferro. A hepcidina faz com que haja internalização e degradação da ferroportina. Assim, nos enterócitos, ocorre inibição tanto da absorção de ferro quanto da sua liberação para o plasma (figura à esquerda). Nos macrófagos, a exportação de ferro também é inibida, gerando seu acúmulo dentro das células e diminuição de sua disponibilidade para a eritropoiese (figura à direita). Fonte: GROTTO, 2008. Figura 3 - Regulação da exportação celular de ferro para o plasma pela hepcidina. Quando as concentrações de hepcidina são baixas, a ferroportina (Fpn) é expressa na membrana plasmática e exporta o ferro. Quando aumentam as concentrações de hepcidina, esta se liga à ferroportina e induz sua internalização e degradação; assim, a liberação de ferro é progressivamente diminuída. Fonte: GANZ, 2007. 052 Figura 4 – Síntese da hepcidina no fígado e seus efeitos no metabolismo do ferro. A exposição de hepatócitos (H) e macrófagos hepáticos (células de Kupffer - K) a micro-organismos ou transferrina saturada por ferro (Fe/Tf) causa a liberação de IL-6 e de outras moléculas sinalizadoras (setas vermelhas), que induzem a síntese e secreção de hepcidina (setas amarelas). A hepcidina plasmática (setas amarelas largas) inibe a recaptação de ferro pelo duodeno e a liberação de ferro por macrófagos. Fonte: GANZ, 2003. Revista NewsLab | Jun-Jul/15 artigo 4 por LIANA SIGNORINI 1* LUCIANA SIGNORINI 2* Figura 5 - O enterócito e as proteínas envolvidas na absorção do ferro. DcytB: ferroredutase; DMT1: transportador de metal divalente 1; HCP1: proteína transportadora do heme 1; Nu: núcleo; HFE: proteína da hemocromatose; TfR: receptor da transferrina. Fonte: GROTTO, 2008. Figura 6 - Representação esquemática dos mecanismos moleculares envolvidos na regulação e ação da hepcidina: nível de ferro circulante, eritropoiese, anemia, hipóxia, inflamação e estresse do retículo endoplasmático. Legenda: Fpn (ferroportina); RE (retículo endoplasmático). Fonte: PORTO et al., 2012. 054 Revista NewsLab | Jun-Jul/15 Figura 8 – Modelo hipotético da regulação da hepcidina pelo holotransferrina. Esta sinalização consiste no receptor da BMP (BMPR), seu ligante BMP2/4 e no co-receptor hemojuvelina (HJV), formando um complexo receptor que é estimulado pela ligação da holotransferrina (holoTf) aos seus receptores (TfR1 e TfR2). A ligação da holoTf ao TfR1 libera HFE; já a ligação de holoTf ao TfR2 estabiliza TfR2 e, tanto a HFE quanto o TfR2 associam-se com o complexo receptor, que então fosforila R-Smad. Esta se liga a Smad-4 e ambas deslocam-se até o núcleo e formam um complexo de transcrição que aumenta a síntese do mRNA da hepcidina. A serina-protease TMPRSS6 e a sHJV diminuem a síntese de hepcidina. Fonte: GANZ, 2008. 055 artigo 4 Figura 7 – Homeostase do ferro. A hepcidina controla a entrada de ferro no plasma, regulando a ferroportina. Os maiores fluxos de ferro regulados pela interação hepcidina-ferroportina são: liberação de ferro por macrófagos, reciclagem de ferro no baço e outros órgãos, absorção de ferro da dieta no duodeno e liberação de ferro dos estoques hepáticos. A retroalimentação do sistema pela saturação plasmática e estoque de ferro garante que sua concentração extracelular e os estoques fiquem dentro de limites normais. A síntese de hepcidina é diminuída pela atividade eritropoiética, permitindo um aporte de ferro suficiente para a medula óssea quando a demanda pela síntese de eritrócitos é aumentada. Durante a inflamação, a produção de hepcidina é estimulada e a entrada de ferro no plasma é inibida, causando hipoferremia e Anemia da Inflamação. Fonte: GANZ, 2007. artigo 4 por LIANA SIGNORINI 1* LUCIANA SIGNORINI 2* Figura 9 - Alterações do metabolismo do ferro na Anemia de Doenças Crônicas. Papel dos mediadores inflamatórios e do sistema imune nos distúrbios do ferro, levando à sua retenção nos macrófagos e à limitação da sua disponibilidade para as células eritroides. Fonte: GROTTO, 2008. 18. Silvestri L, Pagani A, Nai A, De Domenico I, Kaplan J, Camaschella C. The Serine Protease Matriptase-2 (TMPRSS6) Inhibits Hepcidin Activation by Cleaving Membrane Hemojuvelin. Cell Metabolism. 2008; 8:502-511. Bibliografia 1. Ganz T, Nemeth E. Regulation of iron acquisition and iron distribution in mammals. Biochimica et Biophysica Acta. 2006; 1763:690-699. 2. Ganz T. Molecular Control of Iron Transport. J. Am. Soc. Nephrol. 2007; 18:394400. 3. Ganz T. Hepcidin, a key regulator of iron metabolism and mediator of anemia of inflammation. Blood. 2003; 102(3):783-788. 4. Porto G, Oliveira S, Pinto JP. Hepcidina: A Molécula-Chave na Regulação do Metabolismo do Ferro. J. Port. Gastrenterol. 2012; 19(1):26-32. 5. Grotto HZW. 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The Transferrin Receptor Modulates Hfe-Dependent Regulation of Hepcidin Expression. Cell Metabolism. 2008; 7:205-214. Correspondência para: Liana Signorini E-mail: [email protected] Este trabalho deve ser atribuído à Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR Revista NewsLab | Jun-Jul/15 Lançamento 3 0 d e s e te m b ro d e 2015, no estande da SBPC/ML, durante o 49º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica Medicina Laboratorial I nteg ra çã o pa r a o di ag nós ti co 49° Congresso Brasileiro de Patologia Clínica 29/9 2/10 2015 Medicina Laboratorial e 1° Congresso Brasileiro de Informática Laboratorial Exposição Técnico-Científica a de Fortaleza - CE Centro de Eventos do Ceará www.cbpcml.org.br Os congressistas regularmente inscritos e presentes no Congresso receberão gratuitamente um exemplar impresso do livro no estande da SBPC/ML Participe e não perca a oportunidade de receber esta publicação inédita. O uso do teste laboratorial remoto (TLR) ou point-of-care testing (POCT), na língua inglesa, vem se tornando cada vez mais presente nos serviços de saúde por proporcionar uma resposta rápida para tomada de decisão médica. O laboratório clínico desempenha papel fundamental no processo de implantação e gestão dessa tecnologia, provendo subsídios para a garantia da qualidade dos resultados, com o objetivo de proporcionar maior segurança ao paciente. Nesta segunda edição, atualizada e revisada, da Diretriz para a Gestão e Garantia da Qualidade de Testes Laboratoriais Remotos (TLR) da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), são abordados os conceitos básicos, as orientações em relação à implantação e gestão desses dispositivos, a legislação vigente, os requisitos dos programas de acreditação laboratorial e as aplicações mais recentes nas diferentes áreas da medicina laboratorial. Trata-se de uma obra indispensável para o laboratório clínico e para os profissionais da área da saúde que atuam diretamente na assistência ao paciente. Este livro foi escrito por especialistas com larga experiência na área laboratorial, utilizando linguagem simples e abordando os aspectos práticos da aplicação e utilidade dos TLR. Abbott • HemoCue • mexglobal Group • Radiometer • Roche