UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÌS-GRADUAÇÀO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O PRECONCEITO E SUAS INFLUÂNCIAS NA APRENDIZAGEM INFANTIL Por: IRAMARA NOGUEIRA Orientador Professor Vilson Sérgio de Carvalho Rio de Janeiro 2006 1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÌS-GRADUAÇÀO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O PRECONCEITO E SUAS INFLUÂNCIAS NA APRENDIZAGEM INFANTIL Por: IRAMARA NOGUEIRA Trabalho apresentado no curso de Pós-graduação na especialidade Psicopedagogia do Instituto A Vez do Mestre da Universidade Candido Mendes para obtenção de grau de pós-graduado em Psicopedagogia. Rio de Janeiro 2006 2 RESUMO Não podemos deixar nunca de admitir que a educação é peça fundamental na engrenagem de um país desenvolvido é item no qual um país em desenvolvimento tem que dar prioridade, pois será através de um povo instruído que se consegue alcançar grandes objetivos e atingir metas necessárias para o progresso de uma nação. Mas o entrave que algumas atitudes promove, faz com que a estagnação do desenvolvimento do país aflore, e o preconceito é um dos principais motivos, pois a quantidade de problemas encontrados na educação, originados de ações preconceituosas faz com que crianças, jovens e até mesmo adultos se prostem diante do medo da vergonha que possam passar e abdicam da possibilidade de progredir na vida, realizando seus estudos. Este trabalho abordara as diversas temáticas que o preconceito na educação envolve e nos auxiliará no trabalho, que é de fundamental importância, de lutar para que a igualdade entre as pessoas e a qualidade de cada indivíduo possa ser trabalhada, demonstrando que todos podem lutar por sua dignidade, respeito e sucesso, independente de etnia, aparência, cultura ou até mesmo instrução, já que em muitas oportunidades aprendemos com pessoas sem nenhum a instrução mas que a experiência de vida já ensinou tanto que mesmo catedráticos se r endem à sabedoria adquirida com a vida. 3 METODOLOGIA A metodologia adotada na realização deste trabalho está centrada na pesquisa bibliográfica, consulta a sites e fundamentalmente em entrevistas com experiência vividas por pessoas no âmbito escolar onde possam ter sofrido ou mesmo presenciado ações preconceituosas ou discriminação devido sua origem social ou racial. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço ao meu filho, Neuber Nogueira, pois seu incentivo e confiança foram fundamentais para que eu pudesse ingressar nesta árdua tarefa de ingressar um uma Pós-graduação. Saber que temos em quem confiar, ajudar e nos alavancar rumo ao sucesso ao sucesso intelectual, cultural e profissional, nos dá a certeza e a segurança de dizermos que somos capazes de enfrentar as mais perversas dificuldades e a transposição das mais altas barreiras tornam-se pequenos obstác ulos pois sabemos que do outro lado teremos alguém para nos amparar. 5 Dedicatória Dedico este trabalho à memória de minha filha Nárria Nogueira, que mesmo não estando mais entre nós, tem estado presente em todos os momentos da minha vida e com todas as dificuldades que diariamente surgem para superar sua perda, tenho encontrado forças e determinação para fazer o melhor em tudo aquilo que faço e colher no futuro o s ucesso daquilo que plantei e, então, ter o orgulho de dedicar tudo isso a presenç a eterna da Nárria em minha vida e ter a certeza de que sempre estaremos juntas , não importando o momento, quer seja de felicidade ou tristeza, pois a vida não teria sentido se não pudéssemos contar com aqueles que nos amam, estejam onde estiverem. 6 —Minha presença no mundo não é a de quem a ele se adapta, mais de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto mais sujeito também da História.“ Paulo Freire 7 SUMÊRIO INTRODUÇÀO CAPÈTULO I - PRECONCEITO ...............................................11 CAPITULO II - APRENDIZAGEM INFANTIL ..........................17 CAPÈTULO III - INFLUÂNCIA DO PRECONCEITO NA..........21 APRENDIZAGEM INFANTIL CAPÈTULO IV - ESTUDOS DE CASOS ...............................27 CONCLUSÀO ..........................................................................31 REFERÂNCIAS BIBLIOGRÊFICAS .......................................33 ANEXO 8 INTRODUÇÀO Embora nosso século seja considerado de grande avanço cientifico e tecnológico, com um olhar mais cuidadoso em relação aos dir eitos humanos, observamos que o brasil ainda é cenár io de vários problemas sociais, considerados como um entrave na educação favorecendo a incompatibilidade com os ideais de cidadania, visto que a educação é condição sinegua para o desenvolvimento de um país. A discriminação por exemplo, é um dos fatores que contribuem negativamente no processo de aprendizagem, favorecendo o insucesso do indivíduo e consequentemente sua exclusão no âmbito educacional. A discriminação considerada hábito arr aigado de julgamento verdades de um povo, oprime de forma sistemática, grande parcela da população como por exemplo: negros, homossexuais, especiais, etc. Observamos que o preconceito é um tipo de discriminação que age de forma perversa dentro desse processo e é referendado pelo próprio currículo escolar que privilegia a cultura européia, não levando em consideração a formação cultural do povo brasileiro que originam-se de etnias diversas, colocando a figura do negro, muitas vezes de forma depreciativa contribuindo para a baixa auto-estima do educando. 9 CAPÈTULO I PRECONCEITO 10 PRECONCEITO Podemos recorrer a um dicionário e dar uma explicação literalmente correta como œ —Preconceito é um juízo preestabelecido baseado em mera crença ou opinião que formamos sem conhecer devidamente a realidade sobre a qual nos manifestamos“, o que significa que antecipadamente tiramos conclusões, sem nos importarmos com a veracidade dos fatos, para tentarmos entender melhor sobre preconceito a m elhor maneir a seria fazer um estudo profundo com uma pesquisa de campo continuada, e mesmo assim a descrição, ou melhor , o entendimento de fatos que resultam em preconceito ficaria incompleto devido a sua complexidade. Falar sobre o preconceito nos r emeter a diversos momentos em que presenciamos situações no dia-a-dia, nos quais o preconceito se faz presente. São momentos que em muitos casos nos passa desapercebidos, mas que podem causar conseqüências graves nas pessoas que sofrem essas ações diversas tipos de preconceito, não podemos deixar de mencionar que podemos também ser vítimas e agressores ao mesmo tempo e sofremos com suas conseqüências. Portanto, vemos que as diversas formas que podemos encontrar com o preconceito, nos coloca em um verdadeiro —impasse“, pois ao mesmo tempo em que pré concebemos uma idéia sobre determinada coisa, assunto, pessoa, etc.., também estamos de certa forma sendo vitimas de conclusão precipitadas de outras pessoas. Não importa a forma de preconceito, veremos alguns exemplos mais adiante, estamos todos propenso a ser atingido por ele, quer seja por classe social, condições financeira, cor de pele, por nível cultural ou educacional, tipo de cabelo, postura, aparência, etc.. Não importa a forma ou a maneira, mas por algum motivo alguém pode e provavelmente será preconceituoso com outro individuo. Precisamos trabalhar a nossa personalidade para que não tenhamos que utilizar das 11 diversas formas em que o preconceito se apresenta, esta é uma tarefa extremamente árdua, mas que temos a necessidade de tentar colocá-la em prática. O preconceito racial é uma das questões em que é possível sublinhar a complexidade da r elação entre desempenho escolar e desigualdade. O despreparo dos professores para lidar em com essa questão e a dificuldade das crianças em verbalizar as experiências de preconceito sofridas, muitas vezes, se constitui num impedimento para que esta questão seja discutida em sala de aula. E esta dificuldade tende a ser reproduzida na universidade. Existe uma espécie de 'conspiração do silêncio' sobre este assunto. Para uns é extremamente doloroso falar sobre isso, para outros porque é cômodo não discuti-lo. Buscar soluções para este problema significa deixar de tratar o preconceito racial como um fenômeno monolítico. Seria importante, na luta contra o preconceito na escola, saber em quais situações as manifestações de preconceito acontecem já que, aquelas crianças que trocam ofensas durante o recreio podem, num outro momento, brincarem juntas na sala de aula. Ao discutir a situação educacional dos negros no Brasil, nós estamos, fundamentalmente, interagindo num debate público. Portanto vimos que o preconceito está enraizado na sociedade e quanto trabalho a ser feito temos pela frente com o objetivo de erradicar esta forma de desmoralização do indivíduo dentro da sociedade. Mas será que o preconceito racial pode ser erradicado da sociedade? Alguns cientistas sociais concordam que existem três maneiras mais efetivas para erradicar o preconceito. 12 1. Disseminação de informações científicas sobre raça, de modo que as bases de julgamento errôneo sejam r emovidas. 2. Suprir de oportunidades continuas pessoas de raças difer entes para associar-se de situações favoráveis. Estudos desenvolvidos durante a Segunda Guerra Mundial demonstraram que experiências positivas com membros de outras raças estão entre os meios mais poderosos para remover este tipo de preconceito. 3. Remoção de condições sociais e econômicas que criam dificuldades e frustrações. Investigações de gr ande profundidade demonstravam que pessoas continuamente frustradas são mais aptas de desenvolver preconceito, porque elas têm uma maior necessidade de um bode expiatório contra aqueles de sentimentos reprimidos de hostilidade que possam ser expressados. Cada indivíduo que desejar tomar parte na grande tarefa de remover o preconceito racial da sociedade pode fazê-lo, tornando-se bem informado sobre as descobertas da ciência a cerca da raça, participando continuamente em atividades inter-r aciais, ajudando a melhorar aquelas condições sociais gerais que trazem frustrações e dificuldades a muitos grupos de pessoas, e encorajando outros se juntar a ele nestes louváveis empreendimentos. Há, ainda, outro fator de pré-requisito para o sucesso de qualquer programa destinado a remover o pr econceito - uma fonte de motivações para causar a ação corr etora, apesar da resistência que a mudança provoca. É extremamente difícil empreender ações necessárias que irão modificar e desenvolver tanto o próprio indivíduo como a sociedade. A enorme resistência do preconceito humano parece impossível de ser superado. Infelizmente, o 13 mero conhecimento sobre discriminação e injustiça racial não irá necessariamente inspirar alguém a fazer alguma coisa a respeito. As convicções intelectuais devem ter uma confirmação emocional, antes que resultem em ações persistentes. A humanidade deve possuir um desejo de superar o resíduo de superstições e das noções infundadas sobre pessoas e coisas, às quais muitos estão propensos a aceitar como uma simples verdade, porque elas têm sido muitas vezes repetidas pelos parentes, companheiros, e amigos íntimos. Desde tempos memoráveis, a religião tem sido a fonte desta motivação em direção ao bom trabalho e conduta que é necessário para a eliminação do preconceito racial dos grupos. Na presente era, a religião deve novamente ajudar todos os empreendimentos dedicados à solução dos pr oblemas desta mais desafiadora área do crescimento humano. Finalizando este capítulo, vislumbramos uma situação que nos mostra a grande possibilidade de que o preconceito e a discriminação se perpetuem na sociedade mundial, pois por mais que este assunto seja discutido e que ações sejam tomadas para tentar diminuir os efeitos causados pelas diversas formas já existentes de preconceito, nos deparamos com a notícia que novas formas de discriminação estão surgindo, como por exemplo, nos EUA e na Austrália já temos o preconceito genético, onde exames de DNA são realizados com o intuito de verificar se aquela pessoa tem pré-disposição a determinados tipos de doenças, encarecendo seu plano de saúde ou até mesmo sendo impossibilitada de fazê-lo. Algumas empresas se utilizam de exames periódicos em seus funcionários e mesmo sem autorização fazem estes testes de DNA, com o objetivo de prever possíveis doenças que seu colaboradores possam vir a ter. Se fosse para prevenir, até que seria uma boa ação, porém sabemos ou imaginamos o objetivo da realização destes testes. Portanto o indivíduo já tem marcado na sua vida a possibilidade de ser discriminado desde 14 o momento em que é gerado no ventre de sua mãe. E este e um tipo de preconceito que independe da cor da pele e aí sim alguns daqueles que se dizem melhores que outros por sua origem racial, passam a ter a possibilidade de sofrerem os m esmos tipos de preconceitos por sua origem genética. Não que isto seja bom, mas quem sabe se um dia possa fazer refletir de uma forma geral as conseqüências que esta forma de pensamento pode atrapalhar a vida do ser humano. 15 CAPÈTULO II APRENDIZAGEM INFANTIL 16 APRENDIZAGEM INFANTIL Precisamos chamar a atenção, em especial daqueles que tem em suas mão a responsabilidade social da Educação, para o fato de que precisamos rever nossas posturas diante da fase inicial da vida escolar de nossas crianças, dando especial atenção para a idade do zero ao seis anos. Temos que repensar toda a estrutura Educacional no que concerne a Educação Infantil, com uma ampla gama de transformações necessárias para garantir aos nossos alunos uma educação de qualidade, como é tão freqüentemente defendido nos discursos político e em inúm eras teorias. Por meio de um diálogo com professores do Ensino Fundamental que trabalham com primeira série poderemos, com certeza alavancar algumas diferenças básicas encontradas por estes em alfabetizar alunos que freqüentaram a Educação Infantil e aqueles que chegam na escola pela primeira vez já na primeira série, sendo que os primeiros, se bem preparados em nossas creches e escolas que trabalham com esta modalidade de ensino, chegarão à primeira série com o devido alicerce para acompanharem a fase de alfabetização, o que consequentemente facilitará todos os processos educativos, m elhorando em muito o seu desempenho ao longo da sua vida escolar. Sabemos que é na Educação infantil que a criança adquire os primeiros preparos para o convívio social, tem a primeira noção de valores morais e também, através de atividades apropriadas, aprimora suas capacidades cognitivas e motoras. O alicerce na educação do indivíduo é fundamental para o seu sucesso escolar. Precisamos, então, pensar na necessidade do bem preparo do professor para que desenvolva atividades adequadas a esta faixa etária das crianças, para que não aconteça de, ao invés de bem prepará-las, acabar fazendo com que tudo acabe ruindo, ou seja, que todo o conhecimento que 17 deve ser adquirido posteriormente, não tenha sustentação e seja um disperdicio de tempo, dinheiro e de trabalho em cima daquela criança. A falta de conhecimento do professor que não domina ao processo cognitivo e psicológico pelo qual a criança passa nesta idade pode levar ao fracasso, o que pode "comprometer toda a obra" ou seja, comprom eter todo o desempenho da criança, não apenas escolar, mas social e familiar também. A criança aprende mais do zero aos seis anos do que um adulto ao longo de toda sua vida. Precisamos pensar então sobre o que queremos que ela aprenda, mais os valores que precisam ser alicerçados neste período e qual o compromisso da escola e do Estado com a referida aprendizagem. Creio que precisamos, urgentemente, repensar a prática educativa de nossas escolas, onde, comumente, são designados os professores menos preparados e menos comprometidos para trabalhar com a Educação Infantil, já que uma fase escolar que não possui obrigatoriedade legislativa, sem precisar apresentar resultados quanto ao desempenho do aluno, ou seja, muitos professores preferem a Educação Infantil "por não haver cobranças e não precisar apresentar resultados". Enfim, por julgarem não existir necessidade de compromisso do professor com a aprendizagem das crianças. Se pensarmos assim, nossos alunos vão ruir, se continuarmos encarando desta forma a prim eira fase escolar das crianças, entregando-as, em alguns casos, nas mãos de profissionais e instituições despreparadas e descomprometidas. Precisamos portanto repensar as propostas educacionais hora vigentes para a fase da Educação Infantil, pois se confiarmos nossas crianças a profissionais competentes, que detêm profundo conhecimento sobre a fase do desenvolvimento infantil propostas por autor es como Piaget, Montessori, Vigotski, entre outros, os resultados serão bem mais compensatórios, facilitando em muito a aquisição do saber nos anos vindouros do estudante. Outro item de relevância neste repensar hora proposto é o de que, atualmente, muitas das fam ílias brasileiras não possuem as mínimas 18 condições, tanto econômicas como culturais de bem atender seus pequeninos, sendo que , neste caso, profissionais bem preparados e o devido investimento do Estado poderão contribuir em muito pra que estas sejam melhor cuidadas, tanto física quanto educacionalmente, contribuindo assim para que sejam futuros adultos mais atuantes, conhecedores dos seus direitos, críticos, ou seja, cidadãos por completo. Esta pode ser a chave para combater males como drogas e violência, afinal, o caminho da tão falada dignidade social passa antes de mais nada pelo banco de uma escola. Precisamos rever inclusive a questão legislativa, novas políticas educacionais devem ser implantada e as políticas vigente devem atuar de forma efetiva para dar melhor formação aos profissionais da área educacional, atr avés de medidas eficazes como por exemplo proporcionar cursos de aperfeiçoamento e formação continuada pra os profissionais de nossos Centros de Educação Infantil, escolhendo os melhores professores, com o devido embasamento teórico, "alicerçando" adequadamente a base desta construção, compromisso pessoal e coletivo de todos aqueles que de uma forma ou de outra possuem alguma ligação com a educação, tendo a família, como os professores, políticos, etc. desta forma, garantiremos aos nossos educandos uma forte base educativa, capaz de suportar todo o peso da obra educacional que será acrescentada ao longo dos seus anos escolares, e conduzindo-os de forma sadia e responsável para uma vida adulta plena de realizações, e estaremos certos de que cumprimos com nossa missão. 19 CAPÈTULO III INFLUENCIA DO PRECONCEITO NA APRENDIZAGEM INFANTIL 20 INFLUÂNCIA DO PRECONCEITO NA APRENDIZAGEM INFANTIL "Em uma sala de aula , no primeiro dia de aula, a professora precisou sair. Falou para as crianças se comunicar, se conhecerem melhor, conversarem com os amiguinhos de trás, com o da frente. Um aluno olhou para a professora e falou: "Eu vou conversar com essa pretinha aí de trás?"" E a professora ficou desarmada, sem saber o que falar." (depoimento do aluno Tupã - SP) Este exemplo nos mostra a gravidade da situação, se de um lado o aluno branco, se podemos dizer que brasileiro é branco, esperava da professora uma resposta de (pré) conceito que já trazia introjetado. Por outro lado, a aluna negra também ansiava por uma resposta que lhe permitisse perceber, naquele primeiro dia de aula, como seriam dali em diante suas relações sociais na escola. A conseqüência exata do silêncio expressivo e significativo da professora não se pode avaliar. Quando alguém ou grupo julga uma pessoa não pelo que ela é, ma por sua nacionalidade, cor, sexo, orientação sexual, isto é discr iminação. Trata-se de um hábito arraigado em todos os povos, aprendido pelas crianças ao copiarem as atitudes de seus pais, com conseqüências medonhas na forma de guerras e progressão sistemática de grandes parcelas da população (negros pelos brancos, índios pelos colonizadores, mulheres pelos homens, judeus pelo cristão, etc.) apesar de ser muito difícil mudar opiniões aprendidas na primeira infância, não é impossível exercitar a tolerância na forma de controle de ações discriminatórias. Expomos este fato para enfatizar a importância da Escola no aprendizado da criança e mostrar com o a discriminação racial prejudica o aprendizado. Sabemos que a população brasileira é constituída de indivíduos 21 descendentes de diversas etnias e dessas variadas etnias surge o povo brasileiro. Mas os currículos escolares privilegiam especificamente a cultura européia, e não incorpora, em termos de conhecimento, a soma das experiências de todas estas etnias, o que reforça a discriminação racial na sala de aula, o aluno que sofre a agressão ver bal sente-se menos capaz e automaticamente incorpora um sentimento de inferioridade que o outro impõe, o que prejudica demasiadamente seu desempenho. No que diz respeito ao material didático, que por muitas vezes tem o caráter discriminatório, e racistas, mostrando pouquíssimas ocorrências de personagens negras e quando isto ocorre, a figura do negro quase sempre aparece de forma depr eciativa, em situação servil, jocosa e etc... O caráter assumido pela nossa produção didática acaba por interferir negativamente na construção da auto-imagem da criança negra. Os conteúdos dos textos didáticos são em grande parte responsáveis pelo complexo de inferioridade que com alguma freqüência é identificado na personalidade da criança negra e acaba por reforçar os estereótipos atribuídos ao negro. Embora sejam os todos igualmente brasileiros, nossas origens étnicas nos fazem indivíduos diferentes. No Brasil, a cor da pele e as implicações históricas e sociológicas que esta diferenciação epidérmica produziu, nos fizeram diferentes. Reconhecemos-nos como diferentes. A sociedade brasileira caracteriza-se por uma pluralidade étnica, sendo esta produto de um processo histórico que inseriu num mesmo cenário três grupos distintos: portugueses, índios e negros africanos. Esse contato favoreceu o intercurso dessas culturas, levando à construção de um país inegavelmente miscigenado, multifacetado, ou seja, uma unicidade marcada pelo antagonismo e pela imprevisibilidade. 22 Apesar do inter curso cultural descrito acima, esse contato desencadeou alguns desencontros. As diferenças se acentuaram, levando à formação de uma hierarquia de classes que deixava evidentes à distância e o prestígio social entre colonizadores e colonos. Os índios e, em especial, os negros permaneceram em situação de desigualdade situando-se na marginalidade e exclusão social, sendo esta última compreendida por uma relação assimétrica em dimensões múltiplas - econômicas, política, cultural. Sem a assistência devida dos órgãos responsáveis, os sujeitos tornam-se alheios ao exercício da cidadania. Esse conhecimento inicial parece ter de algum modo subsistido, contribuindo para o quadro situacional do negro . o seu cotidiano coloca-o frente à vivência de circunstâncias como preconceito, descrédito, evidenciando a sua difícil inclusão social. Sendo assim, busca-se por meio deste trabalho compreender coo são construídas as relações raciais num dos espaços da superestrutura social do país, que é a escola, e como ela contribui para a formação da identidade das crianças negras. O estudo da interface racismo e educação oferecem uma possibilidade de colocar num mesmo cenário a problematizarão de duas temáticas de inquestionável im portância. Ao contemplarmos as relações raciais dentro do espaço escolar, questionamo-nos até que ponto ele está sendo coerente com a sua função social quando se propões a ser um espaço que preserva a diversidade cultural, responsável pela promoção da equidade. Sendo assim, aguardamos mecanismos que devam possibilitar um aprendizado mais sistematizado favorecendo a ascensão profissional e pessoa de todos os que usufruem os seus serviços. A escola é r esponsável pelo processo de socialização infantil no qual se estabelecem relações com crianças de difer entes núcleos familiares. Esse contato diversificado poderá fazer da escola o primeiro espaço de vivência das 23 tensões raciais. A relação estabelecida entre crianças brancas e negras numa sala de aula pode acontecer de modo tenso, ou seja, segregando, excluindo, possibilitando que a criança negra adore em alguns momentos uma postura introvertida, por medo de ser rejeitada ou ridicularizada pelo seu grupo social. O discurso do opressor pode ser incorporado por algumas crianças de modo caciço, passando então a se reconhecer dentro dele: "feia, preta, fedorenta, cabelo duro", iniciando o processo de desvalorização de seus atributos individuais, que interferem na construção da sua identidade de criança. A exclusão simbólica, que poderá ser manifestada pelo discurso do outro, parece tomar forma a partir da observação do cotidiano escolar. Este poderá ser uma via de disseminação do preconceito por meio da linguagem, na qual estão contidos termos pejorativos que em geral desvalorizam a imagem do negro. O cotidiano escolar pode demonstrar a (re) apresentação de imagens caricatas de crianças negras em cartazes ou textos didáticos, assim como os métodos e currículos aplicados, que parecem em parte atender ao padrão dominante, já que neles percebemos a falta de visibilidade e reconhecimentos dos conteúdos que envolvem a questão negra. Essas mensagens ideológicas tomam uma dimensão mais agravante ao pensarmos em quem são seus receptores. São crianças em processo de desenvolvimento emocional, cognitivo e social, que podem incorporar mais facilmente as mensagens com conteúdos discriminatórios que permeiam as relações sociais, ao quais passam a atender os interesses da ideologia dominante, que objetiva consolidar a suposta inferioridade de determinados grupos. Dessa forma, compreendemos que a escola tanto pode ser um espaço de disseminação quanto um meio eficaz de prevenção e diminuição do preconceito. Com essa finalidade surge a Lei nº 10639/2003 œ Lei de História da Êfrica, de 09 de Janeiro de 2003 œ Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir 24 no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática —História e Cultura Afro-Brasileira“. Mas não devemos deixar este papel somente para a escola, pois a incorporação de conceitos não discriminatório deve começar dentro de casa, pois o exemplo dado pelos pais e por pessoas mais velhas que fazem parte do convívio da criança, tem influência fundamental na construção do pensamento e da formação da personalidade deste indivíduo. Incorporar e demonstrar ações que permitam a criança perceber que todos somos iguais, e que uns tem apenas mais capacidade em determinados assuntos enquanto outros são melhores em diferentes assuntos. A escola será um dos principais meios de disseminação desta igualdade, cabendo aos educadores um papel importante no conjunto de conhecimentos adquiridos pelos alunos. Porém os pais não devem deixar que estes educadores ajam sozinhos pois se os professores tem papel importante na construção intelectual do indivíduo, os pais tem o papel principal. 25 CAPÈTULO IV ESTUDOS DE CASOS 26 ESTUDOS DE CASOS O preconceito está tão presente na sociedade que mesm o quando tentamos indagar pessoas sobre casos de preconceitos sofridos durante sua vida, quer seja na infância ou mesmo na fase adulta, não conseguimos relatos deste tipo de problema ocorrido. Já existe uma espécie de preconceito ou mesmo uma preocupação das pessoas admitirem que sofreram qualquer tipo de discriminação. Devido a este fato podemos creditar a dificuldade que é a coleta de inform ações para a elaboração deste capítulo, pois o medo de discriminação e do preconceito já sofrido, faz com que muitas pessoas saiam pela tangente no momento de dizer se já passaram por algum problema ligado a preconceitos sofridos em sua vida. Alguns outros falam somente de fatos ocorridos com pessoas próximas e pouquíssimas conseguem assumir que o preconceito já esteve ou está ligado a sua vida de alguma maneira, quer seja sofrendo ou até mesmo se utilizando de alguma forma de preconceito ou discriminação. Seguimos então reproduzindo o relato de algumas pessoas que se enquadram nesta última citação e que passaram por experiências desagradáveis em suas vidas e quais as conseqüências que estes fatos puderam trazer ou se incorporar em sua personalidade ou até mesmo na criação de sentimentos que o influencie no decorrer de suas vidas. Um dos casos que podemos relatar envolveu a jovem Monique Almada, moradora de Olaria, hoje com 17 anos, mas aos cinco chegou em casa abismada, após o primeiro dia de aula, contando para a mão que havia uma 27 criança negra na sala de aula dela, como se fosse algo espantoso que uma criança negra estudasse na mesma sala que ela. Uma espécie de preconceito involuntário mas que já está embutido na sociedade e que acabam se enraizando nas crianças desde seus primeiros passos, cabendo aos pais e parentes mais próximos a explicação e orientação sobre casos como estes, permitindo que a criança não seja preconceituosa e nem discrimine seus colegas de turma, fazendo com que a convivência e o sucesso de novas amizades possam se fazer de forma natural e proveitosa. Mas nunca é demais ressaltarmos a importância da orientação dentro de casa para que estas crianças possam ter sucesso neste processo de socialização, o que aconteceu com a Monique. Rafael, 8 anos, é um menino negro do bairro de Irajá no Rio de Janeiro, e por diversas vezes é vítima de brincadeiras preconceituosas de uma pessoa de idade que sem o menor pudor e discer nimento, o agride verbalmente como por exemplo chamando-o de carvão, neguinho safado, piche, etc. E não importando quem esteja perto, quer sejam os pais do garoto, a avó, vizinhos ou qualquer pessoa desconhecida, o garoto é sempre vítima desses insultos. Porém esta pessoa idosa que o agride não consegue identificar que ele próprio é um descendente negro e que ele próprio já sofreu e sofre discriminações devido à cor de sua pele. Vemos que é muito fácil atingirmos outras pessoas mas não podemos de deixar de fazer o máximo para identificarmos os problemas que estão presentes em nós mesmos. Pois a arma que usamos para atacar, poderá e 28 certamente será usada contra nós um dia, pois como diz o ditado, "quem com ferro fere, com ferro será ferido". M as não são só os negros que sofrem preconceitos e discriminações devido sua aparência. Aqueles que por infelicidade da vida ou até mesmo por acomodação, estão em situação sociais inferior, passam também por diversas dificuldades em relação a preconceitos sofridos em suas vidas. Podemos citar o caso do jovem Robson, que devido sua classe social e as dificuldades financeiras que sua família sempre passou, teve a necessidade de estudar em escolas públicas e infelizmente não conseguiu passar no vestibular para uma universidade pública, porém devido a seu esforço e sua capacidade intelectual, conseguiu, através de uma prova, uma bolsa integral em uma faculdade particular da zona sul do Rio de Janeiro, no curso de engenharia. Contudo, seus companheiros de classe eram todos de alta classe, com pais que bancavam seus estudos, com carros do ano e sem nenhum tipo de responsabilidade com contas ou afazeres. Diferentemente de Robson, que morava bem longe, tendo que pegar duas conduções para estudar, tinha que trabalhar, pois mesmo tendo bolsa integral na faculdade, precisava se manter, com pagamento de passagens, livros, material escolar, refeições e principalmente ajudar em casa pois como já vimos, sua família sempre passou dificuldades. Robson, em seu primeiro ano, nunca era chamado para as festinhas organizadas pela turma, era sempre alijado quando da elaboração de 29 trabalhos a serem apresentados na faculdade, nunca estava presente nas rodas de chopp no barzinho da faculdade pois nunca podia pagar a sua parte, pois tudo era sempre muito caro, etc. Só que o tempo e a perseverança foram fazendo com que as coisas começassem a mudar pois a determinação em ser alguém na vida e tirar seus pais da situação precária em que viviam, fizeram com que Robson se tornasse o melhor aluno da classe e seus companheiro, que um dia se acharam superiores e discriminavam Robson por ser pobre, começaram a ver que eles estavam aquém em relação a Robson intelectualmente, e com medo que isto afetasse suas vidas, m ais do que depressa fizeram de amizade e tinham até orgulho de estar fazendo parte do grupo de amigos do melhor aluno da turma. Com isso podemos ver que mesmo que possam os nos sentir superiores em relação à outra pessoa, sempre estaremos sujeitos a estar em grau inferior em determ inados fatos e devido a este fato não devemos discriminar ninguém para que não possamos sofrer esta discriminação da mesma forma. 30 CONCLUSÀO Diante da problemática da discriminação racial, é necessário que o educador adote uma postura crítica em relação ao cur rículo escolar e o material didático recebido e adotado nas escolas do Brasil em geral. Observando a realidade do educando, sua bagagem sociocultural, trazendo a discussão de suas raízes para a sala de aula de forma que todos se sintam indivíduos inseridos no processo de aprendizagem respeitando a diversidade, construíndo sua auto-imagem de forma positiva. Assim existe a necessidade da escola funcionar como espaço de luta contra a discriminação der rubando paradigmas, ensinando a aceitar, compreender as diferenças, objetivando a justiça social, educando para a igualdade. Desta forma impedindo a construção de uma sociedade aliciada em preconceitos. No processo de aprendizado é importante que a criança se identifique com os conteúdos que lhe são transmitidos. Por isso, o educador não pode desprezar a bagagem sociocultural de seus alunos, deve-se realçar que na constituição da cultura brasileira as contribuições e etnoculturais são importantes. No que diz respeito à cultura africana a simples constatação histórica negra no Brasil, á mais de quatro séculos, deixa-nos patente sua influência. 31 Cabe ao educador despir-se de todo etnocentrismo e aceitar as relações inter-raciais brasileiras. Usando a sociedade, como um todo, aprender a compreender e aceitar as diferenças, se existem os que devem aprender, naturalmente faz-se necessária à presença daqueles cuja função é ensinar OS EDUCADORES. 32 REFERENCIAS BIBLIOGRÊFICAS DIMESNSTEIN, Gilberto. Aprendiz do Futuro - Cidadania hoje e amanhã. São Paulo: editora Êtica, 1998. LAROSA, Marco Antônio. AYRES, Fernando Arduini. Como produzir uma Monografia passo a passo. 4ª edição. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2005. PAIN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Tradução de Ana Maria Netto Machado. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985. MURCIA, Juan Antonio Moreno. Aprendizagem através do jogo. São Paulo: Artmed Editora, 2005. SIMONI, Ciro. Visões do m undo negro: ontem e hoje. Porto Alegre: Editora da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, 1998. HOLANDA, Aurélio Buarque de. Dicionário da língua portuguesa.... WEBGRAFIA www.nead.unama.br/bibliotecavirtual 06/12/2005 www.renascebrasil.com.br/f_preconceito.htm 03/11/2005 www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/2003/L10.639.htm 17/1/2006 33 ANEXOS 34 Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos LEI No 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de Mensagem de veto 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REP BLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B: "Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, tornase obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. § 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da Êfrica e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. § 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras. § 3o (VETADO)" "Art. 79-A. (VETADO)" "Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ”Dia Nacional da Consciência Negra‘." Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 9 de janeiro de 2003; 182o da Independência e 115o da República. LUIZ INÊCIO LULA DA SILVA Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque 35 As diferenças importam realmente, ou o essencial é ser humano respeitando nossas diversidades. 36 Porque os heróis nunca são negros? Montagem sobre a ilustração da Bela Adormecida, com o príncipe e donzelas negros: imagem inexistente nas histórias infantil. Aluno desenha herói branco, falta de referência da própria raça negra em livros, filmes e novelas. 37 Cartaz criado por Claudius Ceccon para a Campanha "Direitos são pra valer" Negro é lindo! Negro é inteligente! Negro é honesto! Negro é gente! Negro é irmão! Foto: Joaquim Duarte. 38