ISSN 1981-1594
23/03/2011
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número
B o l e t i m
R e d e s p e l e o
subterranea
Novas cavernas são encontradas
em Bulhas D’água
encontrados durante a expedição de janeiro, e escalar
um paredão próximo ao Rio Pilões. Novamente nos
dividimos em equipes, agora sem o Prof. Bueno e sua
filha, que retornaram a São Paulo. Parte da turma foi
escalar o paredão e o restante foi mapear a gruta.
Por Marcos Silvério, Grupo Bambui de Pesqisas Espeleológicas
foto de Alexandre Camargo (Iscoti)
A primeira investida neste paredão foi realizada em
janeiro de 2006, mas foi interrompida por ameaça de
marimbondos e falta de equipamentos adequados. Em
janeiro de 2011 uma equipe tentou novamente a subida,
porém não conseguiu atingir a suposta entrada avistada.
Desta vez os escaladores Neto e Rodrigo, munidos de
uma furadeira, costuras, etc., alcançaram o referido local.
Tratava-se apenas de uma reentrância na rocha. Merece
destaque o preparo e motivação dos dois para escalar as
paredes podres e enlameadas e para encarar o terrível
macarrão preparado por nós. Esperamos mesmo assim
contar com eles em outras atividades.
A equipe de topografia deveria mapear uma caverna
próxima à Gruta Capinzal. Porém um pequeno vale ao
lado da trilha chamou nossa atenção e nos obrigou a
realizar um desvio. Logo encontramos um pequeno
abismo sem continuação e, mais à frente, um ralo que
recebe grande quantidade de água durante as chuvas.
Realizamos uma pequena busca nos afloramentos
próximos, e logo encontramos um espaço entre blocos
que denunciava um grande abismo. O Daniel, que já
vinha equipado do outro abismo, logo se espremeu
pela passagem e chegou ao final da corda, sem atingir
o fundo, a cerca de 25 m de profundidade. Devido à
sua localização e morfologia o abismo possui grande
potencial para descoberta de fósseis.
Gruta do Lago Subterrâneo
Após seis anos de atividades constantes, a região de
Bulhas D’água continua nos brindando com muitas
descobertas, diversão e certa dose de sofrimento.
Mas como a memória espeleológica trata de registrar
somente o que nos interessa, pelo menos a cada mês
retornamos entusiasmados para muita caminhada,
lama, bichos e, quem sabe, um encontro com a onça que
teima em nos seguir nas trilhas.
Nos dias 18 e 19 de fevereiro último, uma equipe do
Grupo Bambuí formada por Bedu, Carolina Anson, César
Augusto, Daniel Menin, Fabio Von Tein, Iscoti e Marcos
Silverio, os escaladores Rodrigo e Beto, de São Carlos, e
o Professor Sérgio Bueno, da USP, e sua filha, estiveram
na região de Bulhas d’Água para mais uma investida de
prospecção e mapeamento na área.
Como já estávamos com o tempo curto para cumprir
nosso objetivo resolvemos seguir por este vale até
o abismo descoberto em janeiro. Na verdade tratase de um lance vertical de 5 m que atinge uma rede
de condutos estreitos e baixos com possibilidade de
conexão com outras cavernas próximas.
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A caverna localiza-se no fundo de uma dolina e apresenta
uma entrada apertada, com desnível de aproximadamente
5 m entre blocos. Um pequeno curso d’água no início
da caverna logo encontra um afluente, surgido de um
conduto baixo, e segue por um trecho encachoeirado e
muito estreito até o lago subterrâneo. Acima deste conduto
há uma galeria que acessa o lago através de uma fenda
com cerca de 10 m de desnível. Este lago, com trechos
profundos e cerca 30 m de comprimento, preenche toda
a largura da galeria de 4 m. Neste local há possibilidades
de continuação através da escalada das paredes laterais.
O escalador Rodrigo (Amarelo) subiu uma das paredes,
porém não encontrou continuação. Resta ainda uma
pequena possibilidade mais à frente, na galeria do lago.
No retorno a subida pela fenda, após um dia de
atividade, foi um desafio para os menos familiarizados
com cordas e blocantes. E, como se tratava de Bulhas,
tudo podia ficar ainda mais divertido. Na saída trovões
chacoalhavam as paredes da caverna e pela pequena
entrada começou a jorrar água e lama enquanto nos
espremíamos para fora, na chuva. A trilha parecia
mais íngreme e escorregadia e a corda foi útil para,
literalmente, puxar o pessoal para cima.
De noite, debaixo de uma garoa fina, fomos de trator até
a casa de pesquisa de Bulhas para nos preparar para as
atividades do dia seguinte. O objetivo era mapear uma
gruta, verificar a continuidade de um abismo, ambos
foto de Alexandre Camargo (Iscoti)
O objetivo no primeiro dia era verificar uma provável
continuação no trecho final da Gruta do Lago
Subterrâneo, realizar o mapeamento desta caverna e
coletar exemplares de Aegla avistados no lago. Parte da
equipe ficou responsável pelo mapeamento da caverna,
outra pela escalada na parede junto ao lago, enquanto a
última acompanhou o Prof. Bueno na coleta das Aeglas.
Escalada do paredão
Seguimos então até a gruta que deveríamos topografar
para checar a possibilidade de continuação após um
lago azul, encontrado em janeiro. Na água gelada,
sem macacão e sem as botas, verifiquei que há uma
possibilidade de continuação em uma das laterais. Mas
nesta época chuvosa a passagem estava totalmente
sifonada. Esta caverna é interessante, pois existe a
possibilidade de atingirmos a galeria de uma outra
caverna próxima, que hoje encontra-se bloqueada por
um desmoronamento. Uma ligação entre elas após
o desmoronamento levaria a gruta a mais de 1 km de
desenvolvimento.
Como não exploramos sem mapear sempre deixamos
dúvidas e possibilidades para as próximas saídas. Então,
quem sabe o que ainda descobriremos por lá. Com
certeza a curiosidade é a nossa maior motivação.
2
Pesquisa sobre cavernas em
formações ferríferas na Serra da
Piedade, Minas Gerais
Por Manuela Corrêa Pereira¹; Leda Zogbi²; Roberto Cassimiro ² e 3 ; Luciano
Emerich Faria4; André Augusto Rodrigues Salgado5
¹Programa de Pós-graduação em Geografia - IGC/UFMG, ²Meandros Espeleo
Clube, 3Instituto do Carste, 4Professor da Newton Paiva e 5Professor Adjunto
do Departamento de Geografia IGC/UFMG.
O trabalho de prospecção está sendo realizado desde
meados de 2010 e até o momento já foram identificadas
35 cavidades. Novas cavidades deverão ser identificadas
nas próximas etapas da prospecção e através de um mapa
confeccionado pelo Frei Rosário Joffily (1913 – 2000),
antigo reitor do Santuário de Nossa Senhora da Piedade,
onde constam algumas grutas com denominações
religiosas, como a Gruta do Eremita (vide artigo no
Conexão Subterrânea nº 85). Posteriormente, serão
selecionadas, mapeadas e analisadas as cavidades mais
significativas para a área de estudo.
Meandros disponibiliza seus
mapas pela internet
Por Leda Zogbi, Meandros Espeleo Club
foto de Leda Zogbi
O Meandros Espeleo Clube decidiu tomar acessível a sua
produção de mapas de caverna realizados desde a sua
fundação. São cerca de 40 mapas disponíveis em baixa
definição, mas que dão uma boa idéia do trabalho que
foi realizado pelo grupo desde 2008, e que podem ser
acessados através do link https://sites.google.com/site/
meandrosespeleoclube/mapas
Dobras do Itabirito
A Serra da Piedade, situada 50 km a oeste de Belo
Horizonte, se insere na porção setentrional do Quadrilátero
Ferrífero. Constitui um divisor de águas, contribuindo
para o abastecimento da bacia do Rio das Velhas, abriga
o Observatório Astronômico da UFMG e os radares do
CINDACTA, que monitoram os céus da região. Também
abriga o complexo arquitetônico do Santuário de Nossa
Senhora da Piedade, um local tradicional de romarias.
Esta é uma ação inovadora, já que se trata do primeiro
grupo nacional a disponibilizar todos os seus mapas on
line para qualquer interessado.
A decisão de disponibilizar os mapas foi tomada depois
de uma reflexão conjunta dos sócios, na qual chegamos
à conclusão de que os mapas produzidos seriam muito
mais úteis se fossem conhecidos por todos do que se
ficassem restritos aos membros do grupo. A utilização
dos mapas poderá ser feita apenas mediante autorização
do grupo.
número
Geologicamente a Serra é composta por itabiritos e
cangas (as formações ferríferas) que sustentam o relevo;
os xistos e filitos, que são mais susceptíveis à erosão,
são observados nas áreas mais rebaixadas. Segundo o
“Mapa de Potencialidade de Ocorrência de Cavernas”,
elaborado pelo CECAV-ICMBio, as formações ferríferas
supracitadas possuem um potencial espeleológico muito
alto. Entretanto, até o momento, não existe nenhuma
cavidade da Serra registrada no banco de dados deste
órgão.
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Além da beleza cênica, a Serra da Piedade possui um
grande significado para a história social, cultural e
religiosa de Minas Gerais. A história de sua ocupação está
relacionada ao bandeirismo do século XVII, sendo que
desde então a Serra foi descrita por diversos viajantes.
Devido à sua imponência diante do relevo que a circunda,
logo servia de referência para aventureiros, assim como
refúgio para os eremitas que buscavam por tranqüilidade.
Viajantes como Auguste de Saint-Hilaire, em 1818, e
George Gardner, em 1840, descreveram as belezas do
sítio, flora, fauna e uso da Serra da Piedade.
Tendo em vista os aspectos históricos e sócio-culturais, o
significativo potencial espeleológico e a falta de registros
e estudos destas cavernas, a área tombada da Serra da
Piedade foi escolhida para ser palco de dois projetos
de pesquisa. O primeiro se iniciou em março de 2010 e
visa reconhecer, mapear e estudar a gênese e dinâmica
das cavidades desenvolvidas em formações ferríferas; o
segundo projeto teve início em dezembro e tem como
objetivo identificar a caverna descrita pelo botânico
Saint-Hilaire, assim como outras cavernas de caráter
religioso.
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Maiores informações, entre em contato com o Meandros
pelo email [email protected].
3
Cavernas são mapeadas na Serra
da Piedade, Caeté, MG
Por Leda Zogbi e Roberto Cassimiro, Meandros Espeleo Clube
Desde novembro de 2010, o Meandros Espeleo Clube
tem realizado expedições na Serra da Piedade com o
objetivo de documentar esse importante patrimônio
espeleológico e cultural brasileiro e contribuir com o
trabalho da mestranda em geografia, Manuela Corrêa
Pereira, vinculado ao Instituto de Geociências da
Universidade Federal de Minas Gerais, que escolheu a
Serra para sua área de estudo (ver artigo neste boletim).
Além de ajudar a compreender a gênese das cavernas em
formações ferríferas, seu mapeamento deverá contribuir
para a compreensão de diversos documentos históricos
deixados por naturalistas e religiosos que descrevem
cavernas da região.
Trata-se de uma área de preservação: desde 1956, a Serra
da Piedade é protegida pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Em 09 de
dezembro de 2010, o Conselho Consultivo do Patrimônio
Cultural aprovou a extensão de tombamento do conjunto
arquitetônico e urbanístico da Serra da Piedade, que
também é tombado em nível estadual e municipal. Ainda
assim, o monumento natural tem sido ameaçado pela
ação de mineradoras que atuam na área, e infelizmente é
vitima da degradação da paisagem e do desmatamento.
foto de Leda Zogbi
Neste período de quatro meses, foram realizadas seis
investidas na Serra da Piedade, e dentre as diversas cavernas
localizadas e mapeadas, vale um destaque especial para a
maior delas, denominada Gruta da Piedade.
Topografia na Gruta da Piedade
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A entrada da caverna se localiza na encosta, a
aproximadamente 300 metros da estrada que leva ao
santuário. O acesso é realizado escalando-se as rochas, em
meio à vegetação arbustiva e espinhosa da região. A entrada
da caverna é volumosa, e abre-se em um salão que prossegue
em diversos condutos, praticamente para todas as direções.
Estes condutos são geralmente bastante tortuosos, e
subdividem-se por sua vez, formando uma verdadeira “teia de
aranha” na vertente da montanha. Diversos condutos levam
a novas saídas. Um verdadeiro labirinto, que acompanha a
declividade e morfologia da encosta.
A caverna se desenvolveu no contato do itabirito com a
canga. Não há nenhum curso de água perene na caverna,
porém as fortes chuvas que tivemos a oportunidade de
presenciar transformaram muitos trechos em verdadeiras
cachoeiras, que exemplificam a erosão que continua
atuando na cavidade. Foi também observada a presença de
uma grande colônia de morcegos em um dos salões laterais.
A topografia foi bastante prejudicada pela interferência
magnética do itabirito, que modifica significativamente
os resultados da bússola, à medida que o instrumento se
aproxima do teto ou das paredes. Por este motivo, esta
etapa foi lenta, pois houve a necessidade de constantes
conferências das leituras. Finalmente, após 3 expedições
unicamente para esta caverna, foram mapeados
aproximadamente 500 m em linha de trena, que devem
render, após os descontos, aproximadamente 350 m de
desenvolvimento, dimensão bastante significativa para
cavernas formadas em formações ferríferas. Os trabalhos
na Serra da Piedade prosseguem.
Governo afrouxa regras
ambientais
Um pacote de decretos promoverá o que vem sendo
entendido no governo como “choque de gestão” na área de
licenciamento ambiental, com regras mais simples e redução
de prazos e custos. Os decretos vão fixar novas normas por
setores, e os primeiros a passarem por reforma serão petróleo,
rodovias, portos e linhas de transmissão de energia.
Em algumas obras, como o asfaltamento de rodovias,
não serão mais exigidas licenças, mas uma simples
autorização do órgão ambiental.
Além de acelerar a liberação de licenças com regras mais
claras e menos burocracia, o pacote de decretos deverá
reduzir o custo de exigências do Instituto Brasileiro de
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA). O custo médio dessas exigências, que incluem
até a urbanização e a instalação de saneamento de
cidades, é estimado entre 8% e 10% do preço total dos
empreendimentos. Em alguns casos, supera 15%.
A área ambiental é alvo de críticas no governo por
supostamente impor atrasos nos cronogramas de
empreendimentos. Mudanças nas regras vêm sendo
negociadas desde o fim do governo Luiz Inácio Lula da
Silva, mas a edição dos decretos pela presidente Dilma
Rousseff estava prevista para depois do carnaval.
O licenciamento de hidrelétricas não passará por mudanças
neste momento. Essa é uma das áreas mais complicadas na
agenda do governo Dilma Rousseff. O Plano Decenal de
Energia prevê a construção de cinco grandes usinas em
áreas de conservação ambiental no Pará. As hidrelétricas
do Complexo Tapajós, com potência estimada em 10,5 mil
MW (megawatts), quase uma Belo Monte, deverão alagar
uma área de 1.980 km², 30% maior que a cidade de São
Paulo.
Um dos decretos cujo texto já foi aprovado pelo Planalto
acelera o licenciamento de linhas de transmissão
de energia. O objetivo é impedir que a energia a ser
gerada pela hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira (RO),
por exemplo, não possa ser distribuída por atraso no
licenciamento da linha de transmissão.
Na área de petróleo, o número de licenças - que hoje
pode chegar a 12 para cada projeto - será reduzido. A
intenção é facilitar a exploração do pré-sal, sem abrir
mão de critérios de segurança dos empreendimentos,
proporcionais ao impacto ambiental dos projetos.
Nota da Comissão Editorial: Esta notícia preocupa, pois
esta “simplificação” pode colocar em um risco ainda
maior o já ameaçado patrimônio espelológico brasileiro.
Vamos aguardar a publicação do texto dos decretos para
definirmos qual a melhor conduta a ser tomada.
Fonte: artigo de Marta Salomon - O Estado de S.Paulo, em:
h t t p : / / e c o n o m i a . e s t a d a o. c o m . b r / n o t i c i a s / e c o n o m i a % 2 0
bra sil,governo- afrouxa-regra s- ambientais,55568,0.htm
4
Poço Encantado é reaberto para
o turismo
manejo para exploração turística, como foi feito no Poço
Encantado. De acordo com o documento assinado pelo
Ibama, Ministério Público e Miguel Mota, um técnico em
cavernas será contratado e ficará à disposição do Parque
da Chapada Diamantina. O caminho no interior da gruta
que leva ao Poço deverá ser iluminado. O número de
visitantes por descida foi limitado a 10, acompanhados
por três guias.
foto de Divulgação
Crianças até 12 anos não entram e, para os que têm
entre 12 e 18 anos, os pais devem assinar um termo de
responsabilidade. Para entrar na caverna é obrigatório o
uso de capacetes e lanternas. Há pontos do acordo que
somente poderão ser executados a médio prazo, como o
reflorestamento da área.
Fonte: artigo de Glauco Wanderley, http://www.atarde.com.br/cidades/noticia.
jsf?id=5697921
Visita realizada no dia da reabertura do Poço Encantado
Mais de três anos após o seu fechamento, ocorrido em
novembro de 2007 (ver artigo no Conexão Subterrânea
número 85), foi reaberto oficialmente no último dia 11 de
março a caverna Poço Encantado, um dos cartões postais
da Chapada Diamantina, em uma solenidade que contou
com a presença do Presidente do Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Sr. Rômulo
José Fernandes Barreto Mello, do Chefe do Centro Nacional
de Pesquisa e Conservação de Cavernas (CECAV), Sr. Jocy
Brandão Cruz, e do Superintendente do Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA), Dr. Célio Costa Pinto, dentre outras autoridades
de âmbito federal, estadual, e municipal, integrantes do
Circuito do Diamante. Encerrou-se assim o impasse criado
pela construção de uma escada de cimento e pedras pelo
proprietário da área em que se encontra a caverna, Miguel
de Jesus Mota. Já não era sem tempo.
Curso Internacional sobre Traçadores
em Sistemas Cársticos será realizado
em Belo Horizonte
Uma das técnicas internacionais mais difundidas e
utilizadas na hidrogeologia cárstica consiste na aplicação
de traçadores, tornando possível a determinação de
rotas de drenagem subterrânea no carste. No Brasil o seu
uso ainda é pouco difundido, muito embora tenha um
considerável campo de aplicações práticas.
número
“A Chapada é a preferência sentimental do governo”,
afirmou Domingos Leonelli, secretário estadual do
Turismo. Entre os planos do governo para incentivar o
turismo na região, foi anunciado que o aeroporto de
Lençóis passará a ter dois vôos semanais, permitindo que
o turista tenha condições de chegar na quinta e voltar
no domingo. Miguel Mota prometeu cumprir os termos
do acordo com o Ibama, o Ministério Público Federal e o
Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas
(Cecav), órgão do Instituto Chico Mendes.
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foto de Divulgação
A famosa escada vai permanecer. Os especialistas em
cavernas que estudaram o caso entenderam que a
sua remoção poderia ser mais danosa à caverna. Em
compensação, Miguel Mota se comprometeu a obedecer
normas para a conservação do lugar. “Precisamos garantir
a preservação deste patrimônio para muitas gerações
que ainda virão”, justificou o superintendente do Ibama
na Bahia, Célio Costa Pinto.
O Instituto do Carste, com o apoio da Karst Commission da
International Association of Hydrologists, está organizando
o I Curso Internacional de Traçadores no Carste. O curso
já foi ministrado com grande sucesso há alguns anos na
Europa, e agora será realizado no Brasil pelo Dr. Philippe
Meus, um dos maiores especialistas europeus sobre o
tema.
O curso ocorrerá em Belo Horizonte, no Miniauditório da
COPASA, Rua Mar de Espanha, 525, 2º andar, de 4 a 8 de
abril de 2011. O valor por participante é de R$250,00.
Maiores informações em: www.institutodocarste.org.br, ou
pelo email [email protected]
Miguel Mota, proprietário da área.
Segundo o chefe do Cecav em Brasília, Jocy Cruz, as 11
cavernas da Chapada possuem um plano emergencial,
mas será preciso que sejam elaborados planos de
5
Realizado inventário de cavidades
subterrâneas do Parque Nacional
do Pico da Neblina
usar essas informações como material de consulta e
aprendizagem nas escolas locais. Além da expedição às
serras Quatá e Gavião, nas quais foram identificadas e
cadastradas cinco cavidades naturais subterrâneas ao
longo de 60 km de linhas de prospecção espeleológica,
o projeto prevê ainda expedições à região do rio Maiá
e Morro dos Seis Lagos, numa primeira iniciativa de
inventariar sistematicamente as cavidades naturais da
região do Alto Rio Negro, de extrema relevância devido
à incipiência de estudos espeleológicos nessas áreas de
litologias singulares.
A Dibio aprovou a continuidade, neste ano do projeto
“Levantamento Etnoespeleológico” no Parque Nacional
do Pico da Neblina, no Amazonas, iniciado em 2010. O
projeto visa gerar conhecimento sobre a ocorrência de
cavidades naturais subterrâneas dentro do parque, para
posterior proposição de medidas de proteção, elaboração
do etnozoneamento e do seu plano de manejo. Busca
também registrar o conhecimento sobre os Yanomami
residentes nas comunidades próximas, seus mitos e
histórias relacionadas às cavidades.
Fonte: Boletim Interno do ICMBio, nº 137 - Ano IV, pg 2, Brasília, 18/03/2011.
Brasileiros pré-históricos faziam
obras de arte com mortos
A expedição teve conhecimento e autorização das
lideranças Yanomami durante assembléia realizada em
julho de 2010, além de receber proteção espiritual do
cacique Joaquim Figueiredo, na comunidade Ariabú.
A proteção se deve à relação mítica que os Yanomami
têm com as cavernas, locais sagrados e habitados por
entidades espirituais que, avisadas da presença do
homem branco, ajudam a garantir a segurança daqueles
que irão explorar esses ambientes subterrâneos.
Diante de outras experiências malsucedidas na divulgação
indiscriminada de informações estratégicas, com problemas
relativos à propriedade intelectual e proteção ao conhecimento
tradicional, a equipe envolvida no projeto está trabalhando na
elaboração de um documento-base com especial atenção
ao uso, proteção, descarte ou revelação de dados gerados,
de modo a proteger a confidencialidade de informações
assim consideradas pelo povo Yanomami. O projeto
prevê apresentação dos resultados obtidos de maneira
compreensível aos indígenas, para então levantar eventuais
riscos envolvidos na divulgação das informações, de modo
que a decisão final quanto à sua divulgação seja tomada em
assembléia representativa dos povos Yanomami.
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foto de Arquivo Parma do Pico da Neblina
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foto de Divulgação
O projeto é desenvolvido por uma equipe multidisciplinar
composta por analistas ambientais do Cecav, Cepam e do
próprio parque, além de parceiros Yanomami residentes
nas comunidades de Maturacá e Ariabú, no interior
da Unidade de Conservação (UC), e conhecedores das
cavidades existentes na região. A primeira expedição de
reconhecimento do patrimônio etnoespeleológico foi
realizada durante 11 dias nas serras Quatá - complexo de
serras Baruri, “Paruri”, na língua Yanomami – e do Gavião
– “Moxihepiwei”, na língua Yanomami, região de entorno
da serra do Pico da Neblina, onde se localiza o seu cume.
Na hora de lidar com a morte, criatividade é o que não
faltava à misteriosa gente que vivia no coração de
Minas Gerais há quase 9.000 anos. Os sepultamentos
ali parecem ter sido realizados como obras de arte, cuja
principal matéria-prima era o corpo humano. Cortados
com instrumentos de pedra, os ossos de diversos mortos
podiam ser reunidos dentro do crânio de outra pessoa. Em
outros casos, o uso de tinta ou fogo dava uma aparência
diferente ao cadáver. E, às vezes, dentes de um indivíduo
eram arrancados para adornar os restos mortais de outro.
O inventário dessas estranhas práticas está sendo feito
pelo arqueólogo André Strauss, cujo mestrado na USP
versou sobre o tema. “Embora a região seja escavada
desde o século 19, com centenas de esqueletos
encontrados, todo mundo achava que os sepultamentos
ali eram muito simples, muito sem graça”, diz ele. Até
então, lembra Strauss, o principal interesse dos cientistas
era o formato do crânio dos chamados paleoíndios, como
são conhecidos os povos que habitavam as Américas no
período.
A região central de Minas é famosa por ter abrigado uma
gente cujas feições lembravam às dos atuais africanos e
aborígines da Austrália, bem diferente do tipo físico dos
índios atuais. É lá que foi achada a célebre Luzia, mulher
mais antiga do continente, com mais de 11 mil anos.
Índios e equipe durante a expedição.
Ao final, espera-se que o material produzido possa
dar origem a publicações que deverão ser feitas em
português e Yanomami, uma vez que eles pretendem
Ao longo da década passada, uma equipe da USP liderada
pelo bioantropólogo Walter Neves (que orientou o
mestrado de Strauss) e pelo arqueólogo Renato Kipnis
voltou à região e fez uma exploração detalhada da
gruta conhecida como Lapa do Santo. O resultado: 26
sepultamentos que enterram a idéia de que os funerais
ali padeciam de falta de imaginação.
6
“É muito difícil saber o que se passava na cabeça das
pessoas. Mas dá para perceber, por exemplo, regras
lógicas na maneira como esses ossos eram cortados”,
diz Strauss, que hoje faz seu doutorado no Instituto Max
Planck de Antropologia Evolutiva (Alemanha).
era meticulosamente moldado em formato de copo. “Foi
um processo muito meticuloso, dadas as ferramentas
disponíveis”, afirma Bello.
Embora haja documentação histórica do uso de crânios
humanos como copos e recipientes para alimentos,
exemplos arqueológicos deles são extremamente raros.
Um dos exemplares encontrados em Somerset está
sendo exposto no Museu de História Natural de Londres
desde de 1º de março.
Há, por exemplo, uma estranha simetria: nos enterros
“compostos”, quando o crânio é de um adulto, o resto
do esqueleto é de crianças, enquanto ossos de pessoas
maduras acompanham crânios infantis. Uma mandíbula
perfurada parece não ter sido um mero colar: ossos foram
arrumados em cima dela, como se fosse uma cesta.
Fonte: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI211937-17770,00CRANIO+ERA+USADO+COMO+CANECA+HA+MIL+ANOS+NA+GRABRETANHA.
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“Muita gente me pergunta se não há uma ligação disso
tudo com canibalismo. Mas um dos sinais de antropofagia
é quando os ossos humanos encontrados num sítio
[arqueológico] são tratados da mesma maneira que os
ossos de animais, e isso a gente não vê”, pondera ele.
Moda das cavernas
Outra possibilidade, a de sacrifício humano e posterior
ritual com os mortos, também não parece muito provável,
argumenta Strauss. Não há sinais de violência -fraturas na
cabeça, por exemplo- entre os mortos da gruta. Os ossos
parecem ter sido manipulados (e descarnados) logo
depois da morte.
A pesquisa recebeu apoio financeiro da Fapesp (Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/879209-brasileiros-prehistoricos-faziam-obras-de-arte-com-mortos.shtml
Crânio era usado como caneca
há 15 mil anos na Grã-Bretanha
Com 14.700 anos, o recipiente é um dos mais antigos
exemplos de caneca produzida a partir de crânio humano
no mundo. Junto com outros ossos humanos, os copos
foram descobertos por paleontólogos na caverna Gough,
em Somerset, na Grã-Bretanha.
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foto de Divulgação
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A análise de marcas nos três crânios usados como
canecas revela alguns dos passos no processo de
fabricação do artefato. “As ranhuras e marcas de corte
mostram como todos os tecidos moles, como a pele,
eram removidos do crânio logo após a morte”, afirma
Silvio Bello, do Museu de História Natural de Londres.
Depois da remoção dos tecidos, os ossos da face e a base
do crânio também eram retirados e o restante do crânio
foto de Divulgação
É tentador pensar na Lapa do Santo como uma Cidade dos
Mortos, um local onde as tribos da região se reuniam para
celebrar a ida de seus membros para o além. Porém, diz o
arqueólogo, coleções antigas de esqueletos de outros sítios
também andam revelando marcas de corte, agora que
foram reanalisadas. “Antes não se prestava atenção a isso.”
A Itália tem ditado as regras no mundo da moda por
mais tempo do que se imaginava. Isto é o que dizem
alguns arqueólogos, que alegam possuir evidências de
que os Neandertais usavam penas como ornamentos
pessoais 44 mil anos atrás. Tal argumento joga lenha no
debate existente entre os que consideram nossos primos
distantes apenas uns brutos e aqueles que, por outro
lado, consideram sua cultura tão evoluída quanto a dos H.
sapiens contemporâneos.
Marco Peresani, da Universidade de Ferrara, na Itália,
encontrou 660 ossos de aves misturados com ossos de
Neandertais na Caverna de Fumane, no norte do país.
Muitos dos ossos das asas estavam cortados e raspados
nos locais onde as penas estavam originalmente ligadas,
sugerindo que as mesmas tenham sido sistematicamente
removidas.
Assim como as conchas que os Neandertais aparentemente
usavam à guisa de jóias, Peresani acha que as penas
tenham sido usadas como ornamentos pessoais. Ele
descarta outras explicações, baseando-se nos fatos de
que a maioria das espécies de aves encontradas são fontes
pobres de alimento, e de que as flechas feitas de penas
ainda não existiam na época. João Zilhão, da Universidade
de Barcelona, na Espanha, acredita que isso se constitua
em mais uma evidência de que os Neandertais possuíam
uma cultura tão complexa quanto a dos H. sapiens
contemporâneos. Por outro lado, Thomas Higham, da
Universidade de Oxford, acha que Peresani interpretou os
dados disponíveis de forma exagerada.
Fonte: http://www.newscientist.com/article/dn20155-did-neanderthals-usefeathers-for-fashion.html?DCMP=OTC-rss&nsref=online-news,
7
Morre turista americano na
Caverna de Las Brujas, Argentina.
Um turista americano de 65 anos, que estava conduzindo
uma expedição na Caverna de Las Brujas, em Malargue,
(centro-oeste da Argentina), morreu de ataque cardíaco.
A morte do visitante, identificado como Robert Jerônimo,
ocorrida na tarde de quinta-feira, foi noticiada no site
de turismo do Sul da Província. Segundo algumas
testemunhas, a vítima tentou tomar um medicamento,
mas este não agiu em tempo hábil. Existia também um
médico na expedição, que realizou os primeiros socorros,
mas o ataque foi fulminante.
II Encontro Ibérico de Biologia
Subterrânea
Por Ana Sofia Reboleira
Ocorrerá entre os dias 2 e 4 de Setembro de 2011, na
Universidade de Aveiro, Portugal, o II Encontro Ibérico de
Biologia Subterrânea. Iniciou-se em março o período de
inscrição e submissão de resumos para o Encontro.
Esperamos contar com a sua presença na Universidade de
Aveiro.
Fonte: http://www.mdzol.com/mdz/nota/274192
Imagens mostram caverna na Lua
Imagens capturadas pela câmera do satélite de
reconhecimento lunar e divulgadas pela Nasa revelam
que o que os cientistas acreditavam ser um grande
buraco, é, na verdade, a entrada de uma caverna. Eles
conseguiram observar o interior do local através de parte
do teto que cedeu.
A caverna, avistada pela primeira vez em 2009, foi fotografada
quatro vezes com mudanças nas condições de iluminação
solar e angulação da câmera para que os pesquisadores
conseguissem uma imagem mais precisa do local.
Quando o satélite finalmente conseguiu mostrar o
interior da caverna, eles confirmaram a presença de uma
passagem horizontal por baixo de uma plataforma de
rochas, provavelmente formada de lava vulcânica.
Mais informações pelo email: biologiasubterranea@gmail.
com ou em: www.cesam.ua.pt
Museu londrino devolverá restos
de ancestrais australianos
O anúncio se deu após um ano e meio de negociações
envolvendo o museu, a população das ilhas e o governo
australiano. “Esta decisão foi recebida com bastante
emoção e considerada um avanço pelo reconhecimento
da importância em deixar que os espíritos dos ancestrais
da população das ilhas descansem em paz”, disse Ned
David, representante do povo de Torres Strait.
foto de Divulgação
O museu informou que 138 peças - na maioria esqueletos
e mandíbulas, mas também uma múmia - seriam
devolvidas. As 274 ilhas de Torres Strait estão espalhadas
por 48 km² entre a costa norte da Austrália e Papua Nova
Guiné. Cerca de 6 mil pessoas vivem na ilha e 40 mil
emigraram para a Austrália.
número
ISSN 1981-1594
23/03/2011
86
Passagens subterrâneas criadas por passagem de lava
são comuns na Terra, mas essa foi a primeira vez que as
cavernas foram encontradas na Lua. O próximo passo dos
cientistas é estudar a composição da caverna e como foi
sua formação.
A maioria dos restos mortais veio de uma caverna na
ilha de Pulu, uma área sagrada para a população de
Mabiuag. Um missionário instigou a remoção dos restos
mortais da caverna e os ossos foram comprados por
um mercador em 1884, de acordo com informações do
museu. Outros restos que não eram desta mesma caverna
foram negociados pela população das ilhas, oficiais e
naturalistas de navios de pesquisas navais e trocados por
facas, machados, tabaco e roupas, informou o museu.
Fonte:
http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI21062817770,00-IMAGENS+MOSTRAM+CAVERNA+NA+LUA.html
Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,museu-londrino-devolverarestos-de-ancestrais-australianos,690134,0.htm, 10/03/2011.
A caverna poderia servir de abrigo contra radiação,
raios cósmicos, temperaturas extremas e meteoritos a
eventuais missões tripuladas à Lua.
8
Espaço Cartoon
Expediente
Comissão Editorial: Daniel Menin, Leda Zogbi, Roberto
Cassimiro e Yuri Stávale .
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Revisão: Pedro Lobo.
Logotipo e Projeto Gráfico: Danilo Leite
DFUSE DESIGN, [email protected]
Diagramação: Cristina Serafim de Andrade
DFUSE DESIGN, [email protected]
Fotografia da Capa: Escalada na Gruta do Lago
Subterrâneo. Foto de Alexandre Camargo (Iscoti).
número
86
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ISSN 1981-1594
23/03/2011
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