ISSN 1981-1594 23/03/2011 86 número B o l e t i m R e d e s p e l e o subterranea Novas cavernas são encontradas em Bulhas D’água encontrados durante a expedição de janeiro, e escalar um paredão próximo ao Rio Pilões. Novamente nos dividimos em equipes, agora sem o Prof. Bueno e sua filha, que retornaram a São Paulo. Parte da turma foi escalar o paredão e o restante foi mapear a gruta. Por Marcos Silvério, Grupo Bambui de Pesqisas Espeleológicas foto de Alexandre Camargo (Iscoti) A primeira investida neste paredão foi realizada em janeiro de 2006, mas foi interrompida por ameaça de marimbondos e falta de equipamentos adequados. Em janeiro de 2011 uma equipe tentou novamente a subida, porém não conseguiu atingir a suposta entrada avistada. Desta vez os escaladores Neto e Rodrigo, munidos de uma furadeira, costuras, etc., alcançaram o referido local. Tratava-se apenas de uma reentrância na rocha. Merece destaque o preparo e motivação dos dois para escalar as paredes podres e enlameadas e para encarar o terrível macarrão preparado por nós. Esperamos mesmo assim contar com eles em outras atividades. A equipe de topografia deveria mapear uma caverna próxima à Gruta Capinzal. Porém um pequeno vale ao lado da trilha chamou nossa atenção e nos obrigou a realizar um desvio. Logo encontramos um pequeno abismo sem continuação e, mais à frente, um ralo que recebe grande quantidade de água durante as chuvas. Realizamos uma pequena busca nos afloramentos próximos, e logo encontramos um espaço entre blocos que denunciava um grande abismo. O Daniel, que já vinha equipado do outro abismo, logo se espremeu pela passagem e chegou ao final da corda, sem atingir o fundo, a cerca de 25 m de profundidade. Devido à sua localização e morfologia o abismo possui grande potencial para descoberta de fósseis. Gruta do Lago Subterrâneo Após seis anos de atividades constantes, a região de Bulhas D’água continua nos brindando com muitas descobertas, diversão e certa dose de sofrimento. Mas como a memória espeleológica trata de registrar somente o que nos interessa, pelo menos a cada mês retornamos entusiasmados para muita caminhada, lama, bichos e, quem sabe, um encontro com a onça que teima em nos seguir nas trilhas. Nos dias 18 e 19 de fevereiro último, uma equipe do Grupo Bambuí formada por Bedu, Carolina Anson, César Augusto, Daniel Menin, Fabio Von Tein, Iscoti e Marcos Silverio, os escaladores Rodrigo e Beto, de São Carlos, e o Professor Sérgio Bueno, da USP, e sua filha, estiveram na região de Bulhas d’Água para mais uma investida de prospecção e mapeamento na área. Como já estávamos com o tempo curto para cumprir nosso objetivo resolvemos seguir por este vale até o abismo descoberto em janeiro. Na verdade tratase de um lance vertical de 5 m que atinge uma rede de condutos estreitos e baixos com possibilidade de conexão com outras cavernas próximas. número ISSN 1981-1594 23/03/2011 86 A caverna localiza-se no fundo de uma dolina e apresenta uma entrada apertada, com desnível de aproximadamente 5 m entre blocos. Um pequeno curso d’água no início da caverna logo encontra um afluente, surgido de um conduto baixo, e segue por um trecho encachoeirado e muito estreito até o lago subterrâneo. Acima deste conduto há uma galeria que acessa o lago através de uma fenda com cerca de 10 m de desnível. Este lago, com trechos profundos e cerca 30 m de comprimento, preenche toda a largura da galeria de 4 m. Neste local há possibilidades de continuação através da escalada das paredes laterais. O escalador Rodrigo (Amarelo) subiu uma das paredes, porém não encontrou continuação. Resta ainda uma pequena possibilidade mais à frente, na galeria do lago. No retorno a subida pela fenda, após um dia de atividade, foi um desafio para os menos familiarizados com cordas e blocantes. E, como se tratava de Bulhas, tudo podia ficar ainda mais divertido. Na saída trovões chacoalhavam as paredes da caverna e pela pequena entrada começou a jorrar água e lama enquanto nos espremíamos para fora, na chuva. A trilha parecia mais íngreme e escorregadia e a corda foi útil para, literalmente, puxar o pessoal para cima. De noite, debaixo de uma garoa fina, fomos de trator até a casa de pesquisa de Bulhas para nos preparar para as atividades do dia seguinte. O objetivo era mapear uma gruta, verificar a continuidade de um abismo, ambos foto de Alexandre Camargo (Iscoti) O objetivo no primeiro dia era verificar uma provável continuação no trecho final da Gruta do Lago Subterrâneo, realizar o mapeamento desta caverna e coletar exemplares de Aegla avistados no lago. Parte da equipe ficou responsável pelo mapeamento da caverna, outra pela escalada na parede junto ao lago, enquanto a última acompanhou o Prof. Bueno na coleta das Aeglas. Escalada do paredão Seguimos então até a gruta que deveríamos topografar para checar a possibilidade de continuação após um lago azul, encontrado em janeiro. Na água gelada, sem macacão e sem as botas, verifiquei que há uma possibilidade de continuação em uma das laterais. Mas nesta época chuvosa a passagem estava totalmente sifonada. Esta caverna é interessante, pois existe a possibilidade de atingirmos a galeria de uma outra caverna próxima, que hoje encontra-se bloqueada por um desmoronamento. Uma ligação entre elas após o desmoronamento levaria a gruta a mais de 1 km de desenvolvimento. Como não exploramos sem mapear sempre deixamos dúvidas e possibilidades para as próximas saídas. Então, quem sabe o que ainda descobriremos por lá. Com certeza a curiosidade é a nossa maior motivação. 2 Pesquisa sobre cavernas em formações ferríferas na Serra da Piedade, Minas Gerais Por Manuela Corrêa Pereira¹; Leda Zogbi²; Roberto Cassimiro ² e 3 ; Luciano Emerich Faria4; André Augusto Rodrigues Salgado5 ¹Programa de Pós-graduação em Geografia - IGC/UFMG, ²Meandros Espeleo Clube, 3Instituto do Carste, 4Professor da Newton Paiva e 5Professor Adjunto do Departamento de Geografia IGC/UFMG. O trabalho de prospecção está sendo realizado desde meados de 2010 e até o momento já foram identificadas 35 cavidades. Novas cavidades deverão ser identificadas nas próximas etapas da prospecção e através de um mapa confeccionado pelo Frei Rosário Joffily (1913 – 2000), antigo reitor do Santuário de Nossa Senhora da Piedade, onde constam algumas grutas com denominações religiosas, como a Gruta do Eremita (vide artigo no Conexão Subterrânea nº 85). Posteriormente, serão selecionadas, mapeadas e analisadas as cavidades mais significativas para a área de estudo. Meandros disponibiliza seus mapas pela internet Por Leda Zogbi, Meandros Espeleo Club foto de Leda Zogbi O Meandros Espeleo Clube decidiu tomar acessível a sua produção de mapas de caverna realizados desde a sua fundação. São cerca de 40 mapas disponíveis em baixa definição, mas que dão uma boa idéia do trabalho que foi realizado pelo grupo desde 2008, e que podem ser acessados através do link https://sites.google.com/site/ meandrosespeleoclube/mapas Dobras do Itabirito A Serra da Piedade, situada 50 km a oeste de Belo Horizonte, se insere na porção setentrional do Quadrilátero Ferrífero. Constitui um divisor de águas, contribuindo para o abastecimento da bacia do Rio das Velhas, abriga o Observatório Astronômico da UFMG e os radares do CINDACTA, que monitoram os céus da região. Também abriga o complexo arquitetônico do Santuário de Nossa Senhora da Piedade, um local tradicional de romarias. Esta é uma ação inovadora, já que se trata do primeiro grupo nacional a disponibilizar todos os seus mapas on line para qualquer interessado. A decisão de disponibilizar os mapas foi tomada depois de uma reflexão conjunta dos sócios, na qual chegamos à conclusão de que os mapas produzidos seriam muito mais úteis se fossem conhecidos por todos do que se ficassem restritos aos membros do grupo. A utilização dos mapas poderá ser feita apenas mediante autorização do grupo. número Geologicamente a Serra é composta por itabiritos e cangas (as formações ferríferas) que sustentam o relevo; os xistos e filitos, que são mais susceptíveis à erosão, são observados nas áreas mais rebaixadas. Segundo o “Mapa de Potencialidade de Ocorrência de Cavernas”, elaborado pelo CECAV-ICMBio, as formações ferríferas supracitadas possuem um potencial espeleológico muito alto. Entretanto, até o momento, não existe nenhuma cavidade da Serra registrada no banco de dados deste órgão. ISSN 1981-1594 23/03/2011 Além da beleza cênica, a Serra da Piedade possui um grande significado para a história social, cultural e religiosa de Minas Gerais. A história de sua ocupação está relacionada ao bandeirismo do século XVII, sendo que desde então a Serra foi descrita por diversos viajantes. Devido à sua imponência diante do relevo que a circunda, logo servia de referência para aventureiros, assim como refúgio para os eremitas que buscavam por tranqüilidade. Viajantes como Auguste de Saint-Hilaire, em 1818, e George Gardner, em 1840, descreveram as belezas do sítio, flora, fauna e uso da Serra da Piedade. Tendo em vista os aspectos históricos e sócio-culturais, o significativo potencial espeleológico e a falta de registros e estudos destas cavernas, a área tombada da Serra da Piedade foi escolhida para ser palco de dois projetos de pesquisa. O primeiro se iniciou em março de 2010 e visa reconhecer, mapear e estudar a gênese e dinâmica das cavidades desenvolvidas em formações ferríferas; o segundo projeto teve início em dezembro e tem como objetivo identificar a caverna descrita pelo botânico Saint-Hilaire, assim como outras cavernas de caráter religioso. 86 Maiores informações, entre em contato com o Meandros pelo email [email protected]. 3 Cavernas são mapeadas na Serra da Piedade, Caeté, MG Por Leda Zogbi e Roberto Cassimiro, Meandros Espeleo Clube Desde novembro de 2010, o Meandros Espeleo Clube tem realizado expedições na Serra da Piedade com o objetivo de documentar esse importante patrimônio espeleológico e cultural brasileiro e contribuir com o trabalho da mestranda em geografia, Manuela Corrêa Pereira, vinculado ao Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais, que escolheu a Serra para sua área de estudo (ver artigo neste boletim). Além de ajudar a compreender a gênese das cavernas em formações ferríferas, seu mapeamento deverá contribuir para a compreensão de diversos documentos históricos deixados por naturalistas e religiosos que descrevem cavernas da região. Trata-se de uma área de preservação: desde 1956, a Serra da Piedade é protegida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Em 09 de dezembro de 2010, o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural aprovou a extensão de tombamento do conjunto arquitetônico e urbanístico da Serra da Piedade, que também é tombado em nível estadual e municipal. Ainda assim, o monumento natural tem sido ameaçado pela ação de mineradoras que atuam na área, e infelizmente é vitima da degradação da paisagem e do desmatamento. foto de Leda Zogbi Neste período de quatro meses, foram realizadas seis investidas na Serra da Piedade, e dentre as diversas cavernas localizadas e mapeadas, vale um destaque especial para a maior delas, denominada Gruta da Piedade. Topografia na Gruta da Piedade número ISSN 1981-1594 23/03/2011 86 A entrada da caverna se localiza na encosta, a aproximadamente 300 metros da estrada que leva ao santuário. O acesso é realizado escalando-se as rochas, em meio à vegetação arbustiva e espinhosa da região. A entrada da caverna é volumosa, e abre-se em um salão que prossegue em diversos condutos, praticamente para todas as direções. Estes condutos são geralmente bastante tortuosos, e subdividem-se por sua vez, formando uma verdadeira “teia de aranha” na vertente da montanha. Diversos condutos levam a novas saídas. Um verdadeiro labirinto, que acompanha a declividade e morfologia da encosta. A caverna se desenvolveu no contato do itabirito com a canga. Não há nenhum curso de água perene na caverna, porém as fortes chuvas que tivemos a oportunidade de presenciar transformaram muitos trechos em verdadeiras cachoeiras, que exemplificam a erosão que continua atuando na cavidade. Foi também observada a presença de uma grande colônia de morcegos em um dos salões laterais. A topografia foi bastante prejudicada pela interferência magnética do itabirito, que modifica significativamente os resultados da bússola, à medida que o instrumento se aproxima do teto ou das paredes. Por este motivo, esta etapa foi lenta, pois houve a necessidade de constantes conferências das leituras. Finalmente, após 3 expedições unicamente para esta caverna, foram mapeados aproximadamente 500 m em linha de trena, que devem render, após os descontos, aproximadamente 350 m de desenvolvimento, dimensão bastante significativa para cavernas formadas em formações ferríferas. Os trabalhos na Serra da Piedade prosseguem. Governo afrouxa regras ambientais Um pacote de decretos promoverá o que vem sendo entendido no governo como “choque de gestão” na área de licenciamento ambiental, com regras mais simples e redução de prazos e custos. Os decretos vão fixar novas normas por setores, e os primeiros a passarem por reforma serão petróleo, rodovias, portos e linhas de transmissão de energia. Em algumas obras, como o asfaltamento de rodovias, não serão mais exigidas licenças, mas uma simples autorização do órgão ambiental. Além de acelerar a liberação de licenças com regras mais claras e menos burocracia, o pacote de decretos deverá reduzir o custo de exigências do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). O custo médio dessas exigências, que incluem até a urbanização e a instalação de saneamento de cidades, é estimado entre 8% e 10% do preço total dos empreendimentos. Em alguns casos, supera 15%. A área ambiental é alvo de críticas no governo por supostamente impor atrasos nos cronogramas de empreendimentos. Mudanças nas regras vêm sendo negociadas desde o fim do governo Luiz Inácio Lula da Silva, mas a edição dos decretos pela presidente Dilma Rousseff estava prevista para depois do carnaval. O licenciamento de hidrelétricas não passará por mudanças neste momento. Essa é uma das áreas mais complicadas na agenda do governo Dilma Rousseff. O Plano Decenal de Energia prevê a construção de cinco grandes usinas em áreas de conservação ambiental no Pará. As hidrelétricas do Complexo Tapajós, com potência estimada em 10,5 mil MW (megawatts), quase uma Belo Monte, deverão alagar uma área de 1.980 km², 30% maior que a cidade de São Paulo. Um dos decretos cujo texto já foi aprovado pelo Planalto acelera o licenciamento de linhas de transmissão de energia. O objetivo é impedir que a energia a ser gerada pela hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira (RO), por exemplo, não possa ser distribuída por atraso no licenciamento da linha de transmissão. Na área de petróleo, o número de licenças - que hoje pode chegar a 12 para cada projeto - será reduzido. A intenção é facilitar a exploração do pré-sal, sem abrir mão de critérios de segurança dos empreendimentos, proporcionais ao impacto ambiental dos projetos. Nota da Comissão Editorial: Esta notícia preocupa, pois esta “simplificação” pode colocar em um risco ainda maior o já ameaçado patrimônio espelológico brasileiro. Vamos aguardar a publicação do texto dos decretos para definirmos qual a melhor conduta a ser tomada. Fonte: artigo de Marta Salomon - O Estado de S.Paulo, em: h t t p : / / e c o n o m i a . e s t a d a o. c o m . b r / n o t i c i a s / e c o n o m i a % 2 0 bra sil,governo- afrouxa-regra s- ambientais,55568,0.htm 4 Poço Encantado é reaberto para o turismo manejo para exploração turística, como foi feito no Poço Encantado. De acordo com o documento assinado pelo Ibama, Ministério Público e Miguel Mota, um técnico em cavernas será contratado e ficará à disposição do Parque da Chapada Diamantina. O caminho no interior da gruta que leva ao Poço deverá ser iluminado. O número de visitantes por descida foi limitado a 10, acompanhados por três guias. foto de Divulgação Crianças até 12 anos não entram e, para os que têm entre 12 e 18 anos, os pais devem assinar um termo de responsabilidade. Para entrar na caverna é obrigatório o uso de capacetes e lanternas. Há pontos do acordo que somente poderão ser executados a médio prazo, como o reflorestamento da área. Fonte: artigo de Glauco Wanderley, http://www.atarde.com.br/cidades/noticia. jsf?id=5697921 Visita realizada no dia da reabertura do Poço Encantado Mais de três anos após o seu fechamento, ocorrido em novembro de 2007 (ver artigo no Conexão Subterrânea número 85), foi reaberto oficialmente no último dia 11 de março a caverna Poço Encantado, um dos cartões postais da Chapada Diamantina, em uma solenidade que contou com a presença do Presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Sr. Rômulo José Fernandes Barreto Mello, do Chefe do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (CECAV), Sr. Jocy Brandão Cruz, e do Superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Dr. Célio Costa Pinto, dentre outras autoridades de âmbito federal, estadual, e municipal, integrantes do Circuito do Diamante. Encerrou-se assim o impasse criado pela construção de uma escada de cimento e pedras pelo proprietário da área em que se encontra a caverna, Miguel de Jesus Mota. Já não era sem tempo. Curso Internacional sobre Traçadores em Sistemas Cársticos será realizado em Belo Horizonte Uma das técnicas internacionais mais difundidas e utilizadas na hidrogeologia cárstica consiste na aplicação de traçadores, tornando possível a determinação de rotas de drenagem subterrânea no carste. No Brasil o seu uso ainda é pouco difundido, muito embora tenha um considerável campo de aplicações práticas. número “A Chapada é a preferência sentimental do governo”, afirmou Domingos Leonelli, secretário estadual do Turismo. Entre os planos do governo para incentivar o turismo na região, foi anunciado que o aeroporto de Lençóis passará a ter dois vôos semanais, permitindo que o turista tenha condições de chegar na quinta e voltar no domingo. Miguel Mota prometeu cumprir os termos do acordo com o Ibama, o Ministério Público Federal e o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (Cecav), órgão do Instituto Chico Mendes. ISSN 1981-1594 23/03/2011 86 foto de Divulgação A famosa escada vai permanecer. Os especialistas em cavernas que estudaram o caso entenderam que a sua remoção poderia ser mais danosa à caverna. Em compensação, Miguel Mota se comprometeu a obedecer normas para a conservação do lugar. “Precisamos garantir a preservação deste patrimônio para muitas gerações que ainda virão”, justificou o superintendente do Ibama na Bahia, Célio Costa Pinto. O Instituto do Carste, com o apoio da Karst Commission da International Association of Hydrologists, está organizando o I Curso Internacional de Traçadores no Carste. O curso já foi ministrado com grande sucesso há alguns anos na Europa, e agora será realizado no Brasil pelo Dr. Philippe Meus, um dos maiores especialistas europeus sobre o tema. O curso ocorrerá em Belo Horizonte, no Miniauditório da COPASA, Rua Mar de Espanha, 525, 2º andar, de 4 a 8 de abril de 2011. O valor por participante é de R$250,00. Maiores informações em: www.institutodocarste.org.br, ou pelo email [email protected] Miguel Mota, proprietário da área. Segundo o chefe do Cecav em Brasília, Jocy Cruz, as 11 cavernas da Chapada possuem um plano emergencial, mas será preciso que sejam elaborados planos de 5 Realizado inventário de cavidades subterrâneas do Parque Nacional do Pico da Neblina usar essas informações como material de consulta e aprendizagem nas escolas locais. Além da expedição às serras Quatá e Gavião, nas quais foram identificadas e cadastradas cinco cavidades naturais subterrâneas ao longo de 60 km de linhas de prospecção espeleológica, o projeto prevê ainda expedições à região do rio Maiá e Morro dos Seis Lagos, numa primeira iniciativa de inventariar sistematicamente as cavidades naturais da região do Alto Rio Negro, de extrema relevância devido à incipiência de estudos espeleológicos nessas áreas de litologias singulares. A Dibio aprovou a continuidade, neste ano do projeto “Levantamento Etnoespeleológico” no Parque Nacional do Pico da Neblina, no Amazonas, iniciado em 2010. O projeto visa gerar conhecimento sobre a ocorrência de cavidades naturais subterrâneas dentro do parque, para posterior proposição de medidas de proteção, elaboração do etnozoneamento e do seu plano de manejo. Busca também registrar o conhecimento sobre os Yanomami residentes nas comunidades próximas, seus mitos e histórias relacionadas às cavidades. Fonte: Boletim Interno do ICMBio, nº 137 - Ano IV, pg 2, Brasília, 18/03/2011. Brasileiros pré-históricos faziam obras de arte com mortos A expedição teve conhecimento e autorização das lideranças Yanomami durante assembléia realizada em julho de 2010, além de receber proteção espiritual do cacique Joaquim Figueiredo, na comunidade Ariabú. A proteção se deve à relação mítica que os Yanomami têm com as cavernas, locais sagrados e habitados por entidades espirituais que, avisadas da presença do homem branco, ajudam a garantir a segurança daqueles que irão explorar esses ambientes subterrâneos. Diante de outras experiências malsucedidas na divulgação indiscriminada de informações estratégicas, com problemas relativos à propriedade intelectual e proteção ao conhecimento tradicional, a equipe envolvida no projeto está trabalhando na elaboração de um documento-base com especial atenção ao uso, proteção, descarte ou revelação de dados gerados, de modo a proteger a confidencialidade de informações assim consideradas pelo povo Yanomami. O projeto prevê apresentação dos resultados obtidos de maneira compreensível aos indígenas, para então levantar eventuais riscos envolvidos na divulgação das informações, de modo que a decisão final quanto à sua divulgação seja tomada em assembléia representativa dos povos Yanomami. ISSN 1981-1594 23/03/2011 86 foto de Arquivo Parma do Pico da Neblina número foto de Divulgação O projeto é desenvolvido por uma equipe multidisciplinar composta por analistas ambientais do Cecav, Cepam e do próprio parque, além de parceiros Yanomami residentes nas comunidades de Maturacá e Ariabú, no interior da Unidade de Conservação (UC), e conhecedores das cavidades existentes na região. A primeira expedição de reconhecimento do patrimônio etnoespeleológico foi realizada durante 11 dias nas serras Quatá - complexo de serras Baruri, “Paruri”, na língua Yanomami – e do Gavião – “Moxihepiwei”, na língua Yanomami, região de entorno da serra do Pico da Neblina, onde se localiza o seu cume. Na hora de lidar com a morte, criatividade é o que não faltava à misteriosa gente que vivia no coração de Minas Gerais há quase 9.000 anos. Os sepultamentos ali parecem ter sido realizados como obras de arte, cuja principal matéria-prima era o corpo humano. Cortados com instrumentos de pedra, os ossos de diversos mortos podiam ser reunidos dentro do crânio de outra pessoa. Em outros casos, o uso de tinta ou fogo dava uma aparência diferente ao cadáver. E, às vezes, dentes de um indivíduo eram arrancados para adornar os restos mortais de outro. O inventário dessas estranhas práticas está sendo feito pelo arqueólogo André Strauss, cujo mestrado na USP versou sobre o tema. “Embora a região seja escavada desde o século 19, com centenas de esqueletos encontrados, todo mundo achava que os sepultamentos ali eram muito simples, muito sem graça”, diz ele. Até então, lembra Strauss, o principal interesse dos cientistas era o formato do crânio dos chamados paleoíndios, como são conhecidos os povos que habitavam as Américas no período. A região central de Minas é famosa por ter abrigado uma gente cujas feições lembravam às dos atuais africanos e aborígines da Austrália, bem diferente do tipo físico dos índios atuais. É lá que foi achada a célebre Luzia, mulher mais antiga do continente, com mais de 11 mil anos. Índios e equipe durante a expedição. Ao final, espera-se que o material produzido possa dar origem a publicações que deverão ser feitas em português e Yanomami, uma vez que eles pretendem Ao longo da década passada, uma equipe da USP liderada pelo bioantropólogo Walter Neves (que orientou o mestrado de Strauss) e pelo arqueólogo Renato Kipnis voltou à região e fez uma exploração detalhada da gruta conhecida como Lapa do Santo. O resultado: 26 sepultamentos que enterram a idéia de que os funerais ali padeciam de falta de imaginação. 6 “É muito difícil saber o que se passava na cabeça das pessoas. Mas dá para perceber, por exemplo, regras lógicas na maneira como esses ossos eram cortados”, diz Strauss, que hoje faz seu doutorado no Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva (Alemanha). era meticulosamente moldado em formato de copo. “Foi um processo muito meticuloso, dadas as ferramentas disponíveis”, afirma Bello. Embora haja documentação histórica do uso de crânios humanos como copos e recipientes para alimentos, exemplos arqueológicos deles são extremamente raros. Um dos exemplares encontrados em Somerset está sendo exposto no Museu de História Natural de Londres desde de 1º de março. Há, por exemplo, uma estranha simetria: nos enterros “compostos”, quando o crânio é de um adulto, o resto do esqueleto é de crianças, enquanto ossos de pessoas maduras acompanham crânios infantis. Uma mandíbula perfurada parece não ter sido um mero colar: ossos foram arrumados em cima dela, como se fosse uma cesta. Fonte: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI211937-17770,00CRANIO+ERA+USADO+COMO+CANECA+HA+MIL+ANOS+NA+GRABRETANHA. html “Muita gente me pergunta se não há uma ligação disso tudo com canibalismo. Mas um dos sinais de antropofagia é quando os ossos humanos encontrados num sítio [arqueológico] são tratados da mesma maneira que os ossos de animais, e isso a gente não vê”, pondera ele. Moda das cavernas Outra possibilidade, a de sacrifício humano e posterior ritual com os mortos, também não parece muito provável, argumenta Strauss. Não há sinais de violência -fraturas na cabeça, por exemplo- entre os mortos da gruta. Os ossos parecem ter sido manipulados (e descarnados) logo depois da morte. A pesquisa recebeu apoio financeiro da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/879209-brasileiros-prehistoricos-faziam-obras-de-arte-com-mortos.shtml Crânio era usado como caneca há 15 mil anos na Grã-Bretanha Com 14.700 anos, o recipiente é um dos mais antigos exemplos de caneca produzida a partir de crânio humano no mundo. Junto com outros ossos humanos, os copos foram descobertos por paleontólogos na caverna Gough, em Somerset, na Grã-Bretanha. ISSN 1981-1594 23/03/2011 86 foto de Divulgação número A análise de marcas nos três crânios usados como canecas revela alguns dos passos no processo de fabricação do artefato. “As ranhuras e marcas de corte mostram como todos os tecidos moles, como a pele, eram removidos do crânio logo após a morte”, afirma Silvio Bello, do Museu de História Natural de Londres. Depois da remoção dos tecidos, os ossos da face e a base do crânio também eram retirados e o restante do crânio foto de Divulgação É tentador pensar na Lapa do Santo como uma Cidade dos Mortos, um local onde as tribos da região se reuniam para celebrar a ida de seus membros para o além. Porém, diz o arqueólogo, coleções antigas de esqueletos de outros sítios também andam revelando marcas de corte, agora que foram reanalisadas. “Antes não se prestava atenção a isso.” A Itália tem ditado as regras no mundo da moda por mais tempo do que se imaginava. Isto é o que dizem alguns arqueólogos, que alegam possuir evidências de que os Neandertais usavam penas como ornamentos pessoais 44 mil anos atrás. Tal argumento joga lenha no debate existente entre os que consideram nossos primos distantes apenas uns brutos e aqueles que, por outro lado, consideram sua cultura tão evoluída quanto a dos H. sapiens contemporâneos. Marco Peresani, da Universidade de Ferrara, na Itália, encontrou 660 ossos de aves misturados com ossos de Neandertais na Caverna de Fumane, no norte do país. Muitos dos ossos das asas estavam cortados e raspados nos locais onde as penas estavam originalmente ligadas, sugerindo que as mesmas tenham sido sistematicamente removidas. Assim como as conchas que os Neandertais aparentemente usavam à guisa de jóias, Peresani acha que as penas tenham sido usadas como ornamentos pessoais. Ele descarta outras explicações, baseando-se nos fatos de que a maioria das espécies de aves encontradas são fontes pobres de alimento, e de que as flechas feitas de penas ainda não existiam na época. João Zilhão, da Universidade de Barcelona, na Espanha, acredita que isso se constitua em mais uma evidência de que os Neandertais possuíam uma cultura tão complexa quanto a dos H. sapiens contemporâneos. Por outro lado, Thomas Higham, da Universidade de Oxford, acha que Peresani interpretou os dados disponíveis de forma exagerada. Fonte: http://www.newscientist.com/article/dn20155-did-neanderthals-usefeathers-for-fashion.html?DCMP=OTC-rss&nsref=online-news, 7 Morre turista americano na Caverna de Las Brujas, Argentina. Um turista americano de 65 anos, que estava conduzindo uma expedição na Caverna de Las Brujas, em Malargue, (centro-oeste da Argentina), morreu de ataque cardíaco. A morte do visitante, identificado como Robert Jerônimo, ocorrida na tarde de quinta-feira, foi noticiada no site de turismo do Sul da Província. Segundo algumas testemunhas, a vítima tentou tomar um medicamento, mas este não agiu em tempo hábil. Existia também um médico na expedição, que realizou os primeiros socorros, mas o ataque foi fulminante. II Encontro Ibérico de Biologia Subterrânea Por Ana Sofia Reboleira Ocorrerá entre os dias 2 e 4 de Setembro de 2011, na Universidade de Aveiro, Portugal, o II Encontro Ibérico de Biologia Subterrânea. Iniciou-se em março o período de inscrição e submissão de resumos para o Encontro. Esperamos contar com a sua presença na Universidade de Aveiro. Fonte: http://www.mdzol.com/mdz/nota/274192 Imagens mostram caverna na Lua Imagens capturadas pela câmera do satélite de reconhecimento lunar e divulgadas pela Nasa revelam que o que os cientistas acreditavam ser um grande buraco, é, na verdade, a entrada de uma caverna. Eles conseguiram observar o interior do local através de parte do teto que cedeu. A caverna, avistada pela primeira vez em 2009, foi fotografada quatro vezes com mudanças nas condições de iluminação solar e angulação da câmera para que os pesquisadores conseguissem uma imagem mais precisa do local. Quando o satélite finalmente conseguiu mostrar o interior da caverna, eles confirmaram a presença de uma passagem horizontal por baixo de uma plataforma de rochas, provavelmente formada de lava vulcânica. Mais informações pelo email: biologiasubterranea@gmail. com ou em: www.cesam.ua.pt Museu londrino devolverá restos de ancestrais australianos O anúncio se deu após um ano e meio de negociações envolvendo o museu, a população das ilhas e o governo australiano. “Esta decisão foi recebida com bastante emoção e considerada um avanço pelo reconhecimento da importância em deixar que os espíritos dos ancestrais da população das ilhas descansem em paz”, disse Ned David, representante do povo de Torres Strait. foto de Divulgação O museu informou que 138 peças - na maioria esqueletos e mandíbulas, mas também uma múmia - seriam devolvidas. As 274 ilhas de Torres Strait estão espalhadas por 48 km² entre a costa norte da Austrália e Papua Nova Guiné. Cerca de 6 mil pessoas vivem na ilha e 40 mil emigraram para a Austrália. número ISSN 1981-1594 23/03/2011 86 Passagens subterrâneas criadas por passagem de lava são comuns na Terra, mas essa foi a primeira vez que as cavernas foram encontradas na Lua. O próximo passo dos cientistas é estudar a composição da caverna e como foi sua formação. A maioria dos restos mortais veio de uma caverna na ilha de Pulu, uma área sagrada para a população de Mabiuag. Um missionário instigou a remoção dos restos mortais da caverna e os ossos foram comprados por um mercador em 1884, de acordo com informações do museu. Outros restos que não eram desta mesma caverna foram negociados pela população das ilhas, oficiais e naturalistas de navios de pesquisas navais e trocados por facas, machados, tabaco e roupas, informou o museu. Fonte: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI21062817770,00-IMAGENS+MOSTRAM+CAVERNA+NA+LUA.html Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,museu-londrino-devolverarestos-de-ancestrais-australianos,690134,0.htm, 10/03/2011. A caverna poderia servir de abrigo contra radiação, raios cósmicos, temperaturas extremas e meteoritos a eventuais missões tripuladas à Lua. 8 Espaço Cartoon Expediente Comissão Editorial: Daniel Menin, Leda Zogbi, Roberto Cassimiro e Yuri Stávale . Associe-se ! Entre você também no mundo das cavernas! Para se tornar um sócio-colaborador da Redespeleo Brasil basta acessar o site: www.redespeleo.org.br, preencher o formulário on line e contribuir com a anuidade. Você terá então acesso à lista de discussões da Redespeleo Brasil na internet e descontos em todos os eventos organizados pela rede. Revisão: Pedro Lobo. Logotipo e Projeto Gráfico: Danilo Leite DFUSE DESIGN, [email protected] Diagramação: Cristina Serafim de Andrade DFUSE DESIGN, [email protected] Fotografia da Capa: Escalada na Gruta do Lago Subterrâneo. Foto de Alexandre Camargo (Iscoti). número 86 Artigos assinados são de responsabilidade dos autores. Artigos não assinados são de responsabilidade da comissão editorial. A reprodução de artigos aqui contidos depende da autorização dos autores e deve ser comunicada à REDESPELEO BRASIL pelo email: [email protected]. ISSN 1981-1594 23/03/2011 O Conexão Subterrânea pode ser repassado, desde que de forma integral, para outros e-mails ou listas de discussões. Quer mandar uma tirinha bem-humorada para ser publicada no próximo número? Encaminhe o seu material para conexã[email protected], e não deixe de enviar também os seus artigos! Participe! 9