REDEMAT REDE TEMÁTICA EM ENGENHARIA DE MATERIAIS UFOP – CETEC – UEMG UFOP - CETEC - UEMG Dissertação de Mestrado "Efeito de superfícies na aderência de Limnoperna fortunei (Dunker,1857)" Autor: Madrith Sthel Costa Duarte Orientador: Prof. José Roberto Tavares Branco Julho de 2012 REDEMAT REDE TEMÁTICA EM ENGENHARIA DE MATERIAIS UFOP – CETEC – UEMG UFOP - CETEC - UEMG Madrith Sthel Costa Duarte "Efeito de superfícies na aderência de Limnoperna fortunei (Dunker,1857)" Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Materiais da REDEMAT, como parte integrante dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Engenharia de Materiais. Área de concentração: Engenharia de Superfícies. Orientador: Prof. José Roberto Tavares Branco Belo Horizonte, Julho de 2012 D812e Duarte, Madrith Sthel Costa. Efeito de superfície na aderência de Limnoperna fortunei (Dunker, 1857) [manuscrito] / Madrith Sthel Costa Duarte – 2012. xvi, 77 f.: il. color.; graf.; tab.; mapas. Orientador: Profª Drª. José Roberto Tavares Branco. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de Minas. Rede Temática em Engenharia de Materiais - REDEMAT. Área de concentração: Engenharia de Superfícies. 1. Superfícies (Tecnologia) - Teses. 2. Voltametria - Teses. 3. Mexilhão Teses. 4. Tintas antiincrustantes - Teses. I. Branco, José Roberto Tavares. II. Universidade Federal de Ouro Preto. III. Título. CDU: 620.1:594 Catalogação: [email protected] CDU: 669.162.16 A Deus a quem nada é impossível. A Gustavo e Davi grandes amores da minha vida, fonte de coragem e inspiração. iv AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pela oportunidade ao aprendizado, pelo Amor incondicional e misericórdia infinita. Aos meus pais pelo dom da vida, aos meus irmãos pela amizade. Aos meus familiares (Tristão, Sthel, Costa, Freitas, Duarte) e amigos de todos os tempos pelo apoio e encorajamento. Ao Prof. Dr. José Roberto Tavares Branco pela oportunidade de formação, e a Gislene Custódio pelo apoio na orientação e trabalho. Aos professores e funcionários da Rede Temática em Engenharia de Materiais (REDEMAT) pelo suporte técnico dado ao desenvolvimento dos trabalhos. Aos colegas pesquisadores dos Setores de Tecnologia Metalúrgica, Testes Químicos, Análise de Águas da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (SDT-STQ-SAA/CETEC), e também pelo incentivo e suporte técnico dado ao desenvolvimento dos trabalhos. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo apoio financeiro. A Claudia, Marina e Jordana pela parceria e paciência. A Adriana Marinho pela dedicação a nós estudantes. Pelas suas orações e apoio nos momentos mais delicados. A Camila Berdague que com seu exemplo de luta e superação me ensinou o “continue a nadar”. Também Elenice, Leandro, Roqueline e Kelany pelo incentivo em vários momentos. A Rogério e Vilma pela amizade e apoio em momentos difíceis. v As amigas Paula e Ana Paula pelo companheirismo e amizade. Também ao André Faria pelo apoio em vários momentos. Ao Padre Richard pelo aconselhamento espiritual, mensageiro de Deus para o anuncio de um ânimo novo. E a todos os sacerdotes e religiosas que nesta jornada contribuíram com palavras de transformação. A todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho. Muito Obrigada! vi 1 Sumário INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1 2 OBJETIVO ....................................................................................................................... 4 3 2.1 Objetivo geral .............................................................................................................. 4 2.2 Objetivo específico ...................................................................................................... 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................ 5 3.1 Limnoperna fortunei, sua introdução e expansão na América do Sul. ........................ 5 3.2 Modo de vida e fenômeno de adesão do Mexilhão Dourado. ..................................... 9 3.3 Substratos e Tintas Comerciais.................................................................................. 12 3.3.1 Propriedades dos substratos e fixação ................................................................ 12 3.3.2 Fatores críticos pertinentes aos substratos ......................................................... 12 Composição .......................................................................................................................... 12 Morfologia ............................................................................................................................ 13 Parâmetro Ra ....................................................................................................................... 14 Parâmetro Ry ....................................................................................................................... 14 Energia Livre de Superfície.................................................................................................. 15 3.3.3 Fatores relativos às tintas antiincrustantes. ........................................................ 18 Caracterização ...................................................................................................................... 20 Polarografia .......................................................................................................................... 21 4 METODOLOGIA .......................................................................................................... 23 4.1 Estudo de substratos e adesão do mexilhão dourado ................................................. 23 4.1.1 Seleção e tratamento de superfícies ................................................................... 23 4.1.2 Caracterização de superfície............................................................................... 24 Morfologia ............................................................................................................................ 24 Energia superficial................................................................................................................ 24 4.1.3 Construção de equipamento capaz de medir força necessária ao desligamento do mexilhão dourado. ............................................................................................................ 25 4.1.4 Cultivo de mexilhão dourado em processo de adesão e análise da força máxima necessária ao desligamento. ............................................................................................. 26 4.2 Avaliação de tintas antiincrustantes comerciais ........................................................ 29 4.2.1 Seleção de revestimentos e coleta de amostras. ................................................. 29 vii 5 4.2.2 Análises em matriz líquida ................................................................................. 29 4.2.3 Preparo de amostras em película seca ................................................................ 30 4.2.4 Teste de adesão do mexilhão dourado em tintas ................................................ 31 4.2.5 Polarografia ........................................................................................................ 31 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 34 5.1 Avaliações de substratos e de adesão do mexilhão dourado ..................................... 34 5.1.1 Análise morfológica de superfície...................................................................... 34 5.1.2 Análise de energia de superfície dos materiais. ................................................. 36 5.2 Construção de equipamento capaz de medir força necessária ao desligamento do mexilhão dourado. ................................................................................................................ 39 5.2.1 Análise da força máxima necessária ao desligamento do mexilhão dourado em cobre, Teflon e vidro. ....................................................................................................... 44 5.2.2 5.3 Materiais e força de tração ................................................................................. 45 Avaliação de tintas antiincrustantes comerciais ........................................................ 52 5.3.1 Seleção de revestimentos e coleta de amostras. ................................................. 52 5.3.2 Análises de identificação de biocida .................................................................. 52 5.3.3 Difração de raio X na caracterização de pigmentos de tintas. ........................... 54 5.3.4 Teste de adesão do mexilhão dourado em tintas ................................................ 57 5.3.5 Polarografia ........................................................................................................ 58 Construção de curvas padrão dos íons Zn2+ e/ou Cu2+......................................................... 59 6 CONCLUSÃO ................................................................................................................ 65 7 RELEVÂNCIA DOS RESULTADOS.......................................................................... 66 8 SUGESTÃO PARA TRABALHOS FUTUROS .......................................................... 67 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 68 PUBLICAÇÕES DO AUTOR RELACIONADAS AO TRABALHO ............................... 75 10 Anexos ............................................................................................................................. 76 10.1 Anexo A: Projeto mecânico de equipamento construído para medida de força de desligamento do mexilhão dourado...................................................................................... 76 viii 10.2 Anexo B: Tabela de tintas antiincrustantes com orientações dos respectivos fornecedores. ........................................................................................................................ 77 ix Lista de Figuras Figura 1.1: Corda de embarcação com aglomerados do mexilhão dourado (CESP 2005). ....... 1 Figura 3.1: Regiões e datas de aparecimento do mexilhão dourado na América do Sul. (ROLLA et al, 2004, OLIVEIRA et al, 2004). .......................................................................... 7 Figura 3.2: Sistema de água de lastro de navio (Associação Desafio). ...................................... 8 Figura 3.3: (A) Mexilhão dourado aderido em lâmina de vidro, os fios de bissos podem ser visualizados em processo de estiramento (CETEC-MG). (B) Esquema de um fio de bisso e placa adesiva de M. edulis. (a) região proximal, (b) região distal, (c) placa adesiva. (Wiegemann, 2005). ................................................................................................................. 10 Figura.3.4: Estrutura química do politetrafluoretileno (PTFE) com unidade mero identificada no quadro. ................................................................................................................................. 13 Figura.3.5: Perfilometria bidimensional indicativa do parâmetro Ra. Eixo x indica a linha média entre picos e vales da textura geral. (l) indica o comprimento de amostragem denominado cut off................................................................................................................... 14 Figura 3.6.: Perfilometria bidimensional indicativa do parâmetro Ry ..................................... 14 Figura.3.7: Esquema líquido sobre substrato para medida do ângulo θ capaz de fornecer valores de energia superficial. .................................................................................................. 15 Figura 3.8: Modelo das moléculas dos líquidos utilizados em ensaios de molhabilidade. (A) 16 Figura 3.9: Resina epóxi, com destaque para o grupo glicidila no círculo. ............................. 20 Figura 4.1: Paquímetro usado para medida da concha do mexilhão dourado .......................... 26 Figura 4.2: Limnoperna fortunei colocado sobre Teflon para realização de ensaios de tração. Limnoperna fortunei colocado sobre vidro para realização de ensaios de tração. ................... 27 Figura 4.3: Placa de vidro com mexilhão aderido em teste de força de desligamento. ........... 28 Figura 4.4: Placas de madeira com revestimento de tintas antiincrustantes comerciais. ......... 30 Figura 4.5: Teste de adesão do mexilhão dourado em placas de tintas antiincrustantes. ......... 31 Figura 5.1: Imagem da placa bissal de fios de bissos de mexilhão aderido em Teflon. As setas escuras indicam o comprimento da placa. As setas claras indicam a largura da placa. ........... 35 Figura 5.2: O valor do ângulo θ é usado na determinação de energia superficial de materiais. .................................................................................................................................................. 36 Figura 5.3: Representação geométrica da gota para cálculo do ângulo de contato corrigido (Wolf, 2005). ............................................................................................................................ 37 x Figura 5.4: Imagem obtida para gota do líquido etilenoglicol sobre o substrato Teflon. ........ 38 Figura 5.5: Equipamento de tração para medida da força de desligamento do Limnoperna fortunei. (a) Indicador de pesagem. (b) motor. (c) suporte para fixação do transdutor de força. (d) estrutura metálica de bandeja móvel. (e) inversor de freqüência. (f) transdutor de força com capacidade 2,94N. ............................................................................................................ 40 Figura 5.6: Exemplo do software para leitura de força de desligamento do mexilhão dourado em amostras de vidro. O gráfico inferior representa a leitura registrada após o rompimento. 41 Figura 5.7: Curva de tensão-deformação para fibra de α-queratina. (A) deformação elástica. (B) região de reconstituição. (C) região de pós-reconstituição. (D) ponto de ruptura. (WAGNER, 2006) .................................................................................................................... 42 Figura 5.8: Mexilhão dourado em período de adesão sobre substrato vidro............................ 45 Figura 5.9: Óxido de cobre (I) em pó finamente dividido. ...................................................... 54 Figura 5.10: Teste de avaliação de fixação do mexilhão dourado para tintas em placas tipo tabuleiro de xadrez com casas intercaladas de primer a base de flocos de vidro. .................... 57 Figura 5.11: Voltamogramas referentes às adições sucessivas das soluções padrão de Zn 2+ e Cu2+, consecutivamente. ........................................................................................................... 59 Figura 5.12: Gráficos de corrente de indução versus concentrações de Zn2+ e Cu2+ nas soluções padrões, consecutivamente. ....................................................................................... 60 Figura 5.13: Variação das concentrações de Zn2+ e Cu2+ com o tempo de coleta na tinta A... 61 Figura 5.14:Variação das concentrações de Zn2+ e Cu2+ com o tempo de coleta na tinta B. ... 61 Figura 5.15: Variação das concentrações de Zn2+ e Cu2+ com o tempo de coleta na tinta C. .. 61 Figura 5.16: Variação das concentrações de Zn2+ e Cu2+ com o tempo de coleta na tinta D... 61 Figura 5.17: Variação das concentrações de Zn2+ e Cu2+ com o tempo de coleta na tinta E. .. 62 Figura 5.18: Variação das concentrações de Zn2+ e Cu2+ com o tempo de coleta na amostra F. .................................................................................................................................................. 62 Figura 5.19: Variação das concentrações de Zn2+ e Cu2+ com o tempo de coleta na tinta G... 62 Figura 5.20: Variação das concentrações de Zn2+ e Cu2+ com o tempo de coleta na tinta H... 63 Figura 5.21: Variação das concentrações de Zn2+ e Cu2+ com o tempo de coleta na tinta I. ... 63 Figura 5.22: Variação das concentrações de Zn2+ e Cu2+ com o tempo de coleta na amostra J .................................................................................................................................................. 63 xi Lista de Gráficos Gráfico 5.1: Curva referente carga aplicada ao mexilhão x deslocamento de bandeja para organismo aderido ao material vidro. ....................................................................................... 43 Gráfico 5.2: Curva referente carga aplicada ao mexilhão x deslocamento de bandeja para organismo aderido ao material Teflon. .................................................................................... 43 Gráfico 5.3: Comparação do sistema (com fluxo e sem fluxo) para variável força de desligamento no vidro. ............................................................................................................. 47 Gráfico 5.4: Comparação do sistema (com fluxo e sem fluxo) para variável força de desligamento no Teflon. ........................................................................................................... 47 Gráfico 5.5: Comparação do sistema (com fluxo e sem fluxo) para variável número de filamentos no vidro................................................................................................................... 48 Gráfico 5.6: Comparação do sistema (com fluxo e sem fluxo) para variável número de filamentos no Teflon. ............................................................................................................... 48 Gráfico 5.7: Comparação entre força de desligamento em materiais (vidro e Teflon) para a variável do sistema sem fluxo. ................................................................................................. 50 Gráfico 5.8: Comparação entre força de desligamento em materiais (vidro e Teflon) para a variável do sistema com fluxo. ................................................................................................. 50 Gráfico 5.9: Comparação entre número de filamentos em materiais (vidro e Teflon) para a variável do sistema sem fluxo. ................................................................................................. 51 Gráfico 5.10: Comparação entre número de filamentos em materiais (vidro e Teflon) para a variável do sistema com fluxo. ................................................................................................. 51 Gráfico 5.11: DRX do pigmento em pó da tinta A. ................................................................. 55 Gráfico 5.12: DRX do pigmento em pó da tinta B................................................................... 55 Gráfico 5.13: DRX do pigmento em pó da tinta C................................................................... 55 Gráfico 5.14: DRX do pigmento em pó da tinta D. ................................................................. 55 Gráfico 5.15: DRX do pigmento em pó da tinta F. .................................................................. 55 Gráfico 5.16: DRX do pigmento em pó da tinta G. ................................................................. 55 Gráfico 5.17: DRX do pigmento em pó da tinta H. ................................................................. 56 Gráfico 5.18: DRX do pigmento em pó da tinta I. ................................................................... 56 Gráfico 5.19: DRX do pigmento em pó da tinta J. ................................................................... 56 xii Gráfico 5.20: DRX do pigmento em pó extraído do primer penetrante, identificado como Tinta E. ..................................................................................................................................... 56 xiii Lista de Tabelas Tabela 3.I: Datas e locais de registro da presença do mexilhão dourado na América do Sul. (ROLLA et al, 2004, OLIVEIRA et al, 2004). .......................................................................... 6 Tabela 3.II: Dados obtidos em experimentos com mexilhão dourado. (MATSUI et al, 2001) 11 Tabela-.3.III: Energia Livre de Superfície (ELS) de materiais segundo Faria (2005), em relação a força média de desligamento (FMD) de mexilhões. Dados encontrados em “Handbook of polymers” (A), Müller (2002) (B) e não informado pelo autor (*). ................. 17 Tabela 4.I Líquidos e valores de energia livre dispersiva, polar, de hidrogênio e total (Matsui, 2001)......................................................................................................................................... 25 Tabela 4.II :Condições utilizadas nas titulações voltamétricas. ............................................... 32 Tabela.4.III: Concentrações de Zn2+ e Cu2+ nas curvas padrões. .......................................... 32 Tabela 5.I :Rugosidade dos substratos após tratamento de superfície ..................................... 34 Tabela 5.II :Dimensões da placa bissal dos mexilhões analisados .......................................... 35 Tabela 5.III: Ângulo de contato para todos os substratos com respectivos líquidos e coeficiente de variação (CV%). Valores finais de energia livre de superfície (ELS). ............. 38 Tabela 5.IV: limites de detecção e intervalo de confiança de calibração em transdutores de força. ......................................................................................................................................... 41 Tabela 5.V: Ensaio de tração em fios de cabelo e grumos de mexilhão dourado .................... 44 Tabela 5.VI:Resultados de teste de tração em materiais. ......................................................... 46 Tabela 5.VII: Resultados de Teste U de Mann-Whitney para comparação entre sistemas de ensaio em vidro e Teflon .......................................................................................................... 46 Tabela 5.VIII: Resultados de Teste U de Mann-Whitney para comparação de material em vidro e Teflon. .......................................................................................................................... 49 Tabela 5.IX: Resultados de teores de matéria volátil, não volátil e pigmentos para amostras de tintas antiincrustantes comerciais. ............................................................................................ 53 xiv RESUMO O presente trabalho aborda a avaliação de superfícies antiincrustantes com potencial uso para minimização do avanço da dispersão do Limnoperna fortunei, mexilhão dourado, em cursos d’água no Brasil, onde a espécie é classificada como invasora. Foi realizada a avaliação da força de desligamento dos organismos a cobre, Teflon e vidro, sob fluxo de água de 550L/h e em água parada. Verificou-se efeito letal de cobre após 24 horas de experimento, e para vidro e Teflon as forças de desligamento foram diferenciadas com maior adesão do organismo ao vidro em relação ao Teflon. Tintas antiincrustantes comerciais também foram avaliadas quanto à composição química e taxa de lixiviação de íons cobre (Cu2+) e zinco (Zn2+). A técnica utilizada para análise de íons lixiviados foi a voltametria de redissolução anódica previamente justificada pela utilização de difração de raios-x para identificação da presença dos compostos de interesse. As concentrações máximas liberadas para os íons Zn2+ e Cu2+ foram 0,111mgL-1 e 1,269mgL-1, respectivamente, no tempo de 48horas. Palavras-chave: mexilhão dourado, força de desligamento, voltametria, tintas antiincrustantes. xv ABSTRACT The dissertation presents an evaluation of antifouling surfaces with potential to minimize the advancement of the Limnoperna fortunei, gold mussel, which is now dispersed in Brazilian waterways. Evaluation of detachment forces of this organisms from copper, Teflon and glass surfaces were performed in systems sitting in steady water and under 550L/h of water flow. The results showed the lethal effects of copper over the mussels, after test runs lasting 24hours and consequently there were no organisms attached to such samples. The detachment forces were higher for glass with respect to Teflon. Commercial antifouling paints were also evaluated with respect to chemical composition, through ray- x diffraction and leaching rate of copper ions (Cu2+) and zinc (Zn2+), by using anodic stripping voltammetry. The maximum concentration for Zn2+ e Cu2+ were 0,111mgL-1 and 1,269mgL-1, respectively, in the time of 48 hours. Keywords: gold mussel, detachment force, voltammetry, anti-fouling paint. xvi 1 INTRODUÇÃO O Limnoperna fortunei (Dunker,1857), conhecido popularmente como mexilhão dourado, é um bivalve invasor de origem asiática, que desde a década de 90 se tornou um problema ambiental em rios e lagos brasileiros, além das bacias hidrográficas Argentina e Uruguaia. De acordo com registros da Capitania dos Portos de Porto Alegre, sua entrada no Brasil aconteceu no Delta no Jacui em frente ao porto de Porto Alegre no Rio Grande do Sul, provavelmente por água de lastro de navios vindos da Argentina. Devido à facilidade de reprodução e fixação do animal, sua expansão aconteceu de forma rápida, cerca de 240 km por ano, segundo Mansur et al (2003). Figura 1.1: Corda de embarcação com aglomerados do mexilhão dourado (CESP 2005). A água de lastro é usada em compartimentos específicos de navios para manter boa condição de estabilidade em manobra e flutuação. O volume de água nestes tanques pode viajar por variados ambientes aquáticos e ser depositada em locais diferentes ao de sua origem. A água transportada carrega espécies aquáticas que serão introduzidas em um novo habitat. Dentre as mais de trinta espécies identificadas como invasoras no Brasil está o Limnoperna fortunei, que possui alto potencial de incrustação e rápida reprodução colocando em risco a presença de espécies nativas nas regiões de sua ocorrência. 1 Os prejuízos ambientais associados a esta expansão acontecem sobretudo no setor de geração de energia e transportes além dos prejuízos causados à pesca profissional. A incrustação em cascos, motores e hélices de navios e embarcações prejudicam o deslocamento dos mesmos gerando maior desgaste dos motores, e gasto extra de combustível. Ainda em turbinas de usinas hidrelétricas, o aparecimento de mexilhões obriga o desligamento para freqüentes limpezas, resultando em grandes perdas econômicas. Nas usinas hidrelétricas, o acúmulo de mexilhões pode afundar equipamentos flutuantes, prejudicar a operação de equipamentos submersos e obstruir tubulações (DARRIGRAN, 2000). As alternativas de combate à espécie mais utilizadas, desde o aparecimento do mexilhão dourado no Brasil, são agentes químicos com alto grau de letalidade para os organismos podendo oferecer igual risco às espécies nativas (CATALDO, 2002). O estudo de materiais associado ao modo de adesão desses organismos espera-se, auxilia a vislumbraremse alternativas de minimização da ocorrência do molusco por meio da não incrustação de estruturas submersas, dentro dos padrões sustentáveis, ou seja, em níveis aceitáveis de emissão de biocidas em águas doces. Ações sócio-educativas vêm sendo realizadas por empresas atingidas pelo problema como o Grupo Interno de Controle do Mexilhão Dourado de Furnas, Centrais Elétricas SA, que desenvolveu cartilha educativa para conscientização da comunidade local, eventos e palestras para divulgação do modo de controle. A CESP, Companhia Energética de São Paulo, adotou procedimentos mecânicos de limpeza de equipamentos bem como a Usina Binacional de Itaipu (MUSTAFA, 2007). A Companhia Energética de Minas Gerais, Cemig, investe em projetos de pesquisa que visam o controle da invasão do organismo nos recursos hídricos sob sua responsabilidade e no estudo de novos materiais para utilização em suas usinas. Dentre os materiais utilizados no combate ao organismo invasor em pauta, destacamse as tintas e revestimentos antiincrustantes que tem como objetivo evitar o ataque biológico em superfícies submersas, sobretudo no que concerne às incrustações (CATALDO, 2002). Os revestimentos, no entanto, podem conter diferentes tipos de biocidas e o modo de liberação dessas substâncias também pode ser diferenciado. Conhecer os componentes de tintas bem como sua liberação e influência no meio em que será exposto é de fundamental importância 2 para compreensão do modo de interação entre superfícies e espécies aquáticas e o restante do ecossistema onde se inserem. No mercado de tintas, as exigências por recobrimentos antiincrustantes que apresentem alta durabilidade, baixo custo e adequação as exigências ambientais tem levado as indústrias deste setor a buscar novas alternativas. O processamento das tintas industriais da atualidade, segundo Neto (2006), vêm se adequando às necessidades de redução ou eliminação de agentes agressivos ao homem e ao meio ambiente. Resinas, aditivos e solventes de tintas geralmente formulados a partir de metais pesados e solventes orgânicos, têm tido notada reformulação nos últimos anos. Os metais pesados têm sido eliminados e os solventes orgânicos substituídos por água ou outros de menor toxidez. A presença de polímeros nas formulações também tem contribuído na melhora de aplicação e eficiência destes produtos. Neste trabalho apresenta-se o resultado de uma investigação de materiais antiincrustantes, especialmente no que concerne seu potencial de ligação com o mexilhão dourado, medido por uma força de desligamento. 3 2 2.1 OBJETIVO Objetivo geral Investigar o efeito de variáveis da superfície de materiais na aderencia de Limnoperna fortunei (Dunker,1857). 2.2 Objetivo específico - Desenvolvimento de equipamento para a realização de ensaio de desligamento do mexilhão dourado de superfícies. - Avaliar a força de desligamento do Limnoperna fortunei quanto à fixação do organismo em substratos de cobre, vidro e politetrafluoretileno (PTFE-Teflon) e recobrimentos antiincrustantes comerciais. - Estudo das propriedades químicas de tintas antiincrustantes comerciais, com uso de técnica de voltametria de redissolução anódica para determinação da taxa de lixiviação de íons Zn+2 e Cu+2. 4 3 3.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Limnoperna fortunei, sua introdução e expansão na América do Sul. O Limnoperna fortunei, conhecido popularmente como mexilhão dourado, é um molusco bivalve que pode atingir um comprimento em torno de 3 a 4cm quando adulto. Segundo Cataldo et al (2000) o Limnoperna fortunei possui fertilização externa onde se dá o início da formação larval. A larva ou veliger é capaz de nadar e após desenvolvimento, em seu ultimo estado larval, conta com um pé muscular que sonda o substrato a ser ancorado. Após a sondagem este desenvolve filamentos protéicos, denominados bissos, que são lançados para a fixação no substrato. O organismo vive em águas doces ou salobras definidas na resolução CONAMA nº357 como aquelas que possuem salinidade igual ou inferior a 0,5% para águas doces. Para águas salobras a salinidade deve ser superior a 0,5% e inferior a 3,0%. Segundo experimentos conduzidos por Uryu et al. (1996), in vitro, o mexilhão dourado apresenta uma tendência gregária, com formação de agregados conhecidos como grumos. O organismo apresenta ainda capacidade de soltar fios de bissos, tipos de deslocamento, formação de novos assentamentos principalmente em espécimes menores de 15mm. A presença de organismos maiores estimula os menores a secretarem os fios de bissos, e estes movimentos e comportamentos podem justificar a resposta adaptativa em relação à predação e ao deslocamento por ondas e correnteza d’água. Darrigran et al (2003) propõe que os grandes e compactos aglomerados formados por mexilhões ajuda a impedir a predação. Os organismos menores se fixam junto as laterais destas aglomerações e à medida que crescem buscam outras superfícies, preferencialmente oxigenadas, como demonstrou Mansur et al (2003) em estudos de laboratório. Oliveira et al (2001) afirma que um fator limitante para a reprodução do bivalve invasor pode ser a baixa concentração de oxigênio dissolvido na água. A observação foi feita durante o período de “dequada”, fenômeno natural que acontece no Rio Paraguai anualmente. Com a deterioração da qualidade da água dos rios e lagoas marginais, que acontece dentro do 5 ciclo de cheias e secas, a vegetação aquática morre dando lugar à vegetação terrestre. Já no período das cheias as águas recobrem a vegetação em lâminas rasas levando à decomposição de matéria orgânica. Com o aumento do nível de inundação, os produtos da decomposição são levados para os lagos, córregos e rios. O processo de decomposição acontece de forma tão intensa, que o oxigênio dissolvido na água é todo consumido na atividade de oxidação da matéria orgânica realizada pelas bactérias. Valores medidos para concentração de oxigênio dissolvido em água nesta região revelaram redução de 60,0 mg/L para 0,0 mg/L. Segundo Oliveira (2009) outros fatores ambientais observados para a região do Pantanal sul-matogrossense podem diminuir a chance do organismo se estabelecer em determinados locais, como pH maior que 6.0, teor de cálcio maior que 1.0 mg/L e IScalcita (índice de saturação da calcita) maior que -4.0. O mexilhão dourado é natural do sudeste da Ásia (Coréia e China) e o primeiro registro na América do Sul data de 1991 no Rio da Prata, Balneário de Bagliardi, próximo a Buenos Aires, Argentina (PASTORINO et al., 1993). Desde então a proliferação do organismo seguiu uma rota, que pode ser observada na tabela 3.I e figura 3.1. Tabela 3.I: Datas e locais de registro da presença do mexilhão dourado na América do Sul. (ROLLA et al, 2004, OLIVEIRA et al, 2004). Ano Local de aparecimento do mexilhão dourado 1991 Rio da Prata, Buenos Aires, Argentina. 1994 Primeira ocorrência no Uruguai. 1995 Rio Paraná, Usina Hidrelétrica de Yacyretá, Argentina/Paraguai. 1998 Porto de Assunção, Paraguai. Bacia do Alto Paraguai, Corumbá, MS, Brasil. 1999 Bacia do Guaíba, Porto Alegre, RS, Brasil. 2001 Usina Hidrelétrica de Itaipu, Paraguai/Brasil. 2002 Usina hidrelétrica de Porto Primavera, SP/MS, Brasil. 2003-2004 Rio Paraná até na foz com o rio Paranaíba, incluindo as usinas de Porto Primavera, Jupiá e Ilha Solteira, Brasil. 6 2000 2002 2004 2001 1998 1995 1999 1994 1993 1991 Figura 3.1: Regiões e datas de aparecimento do mexilhão dourado na América do Sul. (ROLLA et al, 2004, OLIVEIRA et al, 2004). A chegada do organismo em Buenos Aires coincidiu com os picos mais altos de intercâmbio comercial entre China e Argentina (MANSUR et al, 2003), o que explica a introdução do mexilhão dourado via água de lastro de navio. 7 O lastro pode ser qualquer material usado para manter o equilíbrio de um objeto na água. A massa relativa à carga de um navio pode alterar em vários metros a sua linha d’água, o que torna a embarcação instável com risco de naufrágio diante uma tempestade, por exemplo. Para conferir estabilidade a um navio as embarcações possuem compartimentos específicos capazes de armazenar água de uma localidade e transportá-la para diferentes regiões onde esta será descartada quando o navio receber nova carga. O esquema a seguir ilustra o tanque de lastro em situações distintas. Figura 3.2: Sistema de água de lastro de navio (Associação Desafio). Segundo dados fornecidos por Associação Desafio (2008), estima-se que cinco bilhões de toneladas de água de lastro sejam transportados por ano. Anterior ao uso de água, o lastro eram sólidos como pedras, sacos de areia e metal. O uso da água tornou o processo mais rápido e menos oneroso. Contudo a quantidade de espécies vegetais e animais transportadas cresceu de forma descontrolada. Outro fator de destaque foi o aumento da velocidade dos navios que encurtou o tempo de viagem, logo, os seres aquáticos são submetidos menos tempo às condições adversas permitindo que os mesmos cheguem vivos ao local de destino. Após a introdução no novo ambiente via água de lastro, o mexilhão dourado encontra outras formas de dispersão. No rio Paraguai e seus tributários, Oliveira et al (2004) identificou ser a navegação local, por pequenos barcos de turismo de pesca, a pesca profissional, o comércio entre populações ribeirinhas e o transporte de gado veículos de transporte do mexilhão. Identificou também que o tráfego terrestre de barcos puxados por reboque pode ser um vetor da introdução da espécie, uma vez que estes transportes, seus reservatórios e equipamentos de pesca permanecem poucos dias fora da água, e o mexilhão dourado pode sobreviver neste ambiente por até sete dias. 8 Darrigran et al (2000) relata que desde o primeiro registro do aparecimento do mexilhão dourado em águas argentinas em dez anos de invasão foi possível encontrar regiões onde a densidade demográfica alcançou valores de até 150.000indivíduos/m2. Este valor comprova a adaptação do organismo no novo ambiente e a facilidade de proliferação do mesmo. Os prejuízos advindos do alastramento veloz do mexilhão dourado nos rios e lagos brasileiros afetam o sistema de transporte de embarcações e as usinas geradoras de energia hidroelétrica e de abastecimento de água. O entupimento de tubulações, segundo Darrigran et al (2000), reduz a velocidade de fluxo de água em sistemas coletores de indústrias além de obstruir bombas, filtros e sistemas de refrigeração. A mortandade dos organismos nestes equipamentos leva ao acumulo de conchas vazias o que também gera riscos de contaminação de águas. Os prejuízos também afetam o equilíbrio do ecossistema uma vez que a introdução de uma espécie exótica no ambiente compromete a sobrevivência de organismos nativos. Devido ao mexilhão dourado se fixar sobre substratos firmes estes podem aderir em bivalves nativos levando-os ao sufocamento (MANSUR et al, 2003). 3.2 Modo de vida e fenômeno de adesão do Mexilhão Dourado. Segundo Wiegemann (2005) a adesão de organismos, como mexilhões, em superfícies é um fenômeno físico-químico. As propriedades físicas do adesivo dependem fortemente do caráter do substrato para determinar o quanto a interação com a superfície é possível. Estes adesivos, também chamados bioadesivos, são proteínas, polissacarídeos, polifenóis e lipídios, e muitas vezes estas estruturas químicas aparecem combinadas. Algumas proteínas com propriedades adesivas já identificadas em mexilhões são a elastina, colágeno, fibronectina, laminina, fibrinogênio e queratina. Outros bivalves como o Mytilus edulis, conhecido como mexilhão azul, é um dos organismos que possui bioadesivo bem caracterizado e descrito na literatura. O estudo sobre o bivalve Limnoperna fortunei é recente e ainda possui lacunas. Apesar de os mecanismos de adesão de mexilhões apresentarem características comuns para diferentes espécies, faz-se necessário o estudo de comportamento e caracterização para cada organismo devido às particularidades de cada espécie. 9 No processo de sondagem o mexilhão dourado se utiliza de um pé muscular capaz de sondar o substrato e, em seguida, inicia a ancoragem por meio de fios de bissos. Estes fios são estruturas fibrosas e comumente dividida em três regiões: proximal, distal e placa adesiva, conforme pode ser visto em esquema da figura 3.3 (WIEGEMANN, 2005). A região proximal se encontra junto à concha do bivalve, surge a partir de um ramo central ligado ao músculo retrator interno, e possui aspecto rugoso. A região distal é completamente externa a concha com aspecto liso. Ligada a região distal encontra-se a placa adesiva, responsável pela aderencia a materiais (VACCARO et al, 2001, CARRINGTON, 2002). A região proximal é mais elástica que a região distal e esta diferença estrutural é ideal para o organismo se adaptar em ambiente onde deverá absorver impactos e movimento das águas (WIEGEMANN, 2005). (a) (b) (c) A B Figura 3.3: (A) Mexilhão dourado aderido em lâmina de vidro, os fios de bissos podem ser visualizados em processo de estiramento (CETEC-MG). (B) Esquema de um fio de bisso e placa adesiva de M. edulis. (a) região proximal, (b) região distal, (c) placa adesiva. (Wiegemann, 2005). Vaccaro et al (2001) relata que as diferenças morfológicas existentes nas regiões de cada filamento do bisso são atribuídas aos diferentes tipos de colágenos encontrados nos fios, o que leva a observação de propriedades mecânicas diferentes em tais regiões quando submetidos a ensaios de tração. Segundo Crisp et al, (1985) os mexilhões podem se movimentar, e quando isto acontece os fios de bissos são rompidos e regenerados em outro local. Os mexilhões mais jovens apresentam alta atividade, porém sua mobilidade diminui com a idade. 10 Matsui et al (2001) relaciona a força máxima de tração para retirada do mexilhão dourado de materiais com natureza química e energia superficial diferentes, e afirma que o mexilhão dourado adere mais fortemente em superfícies polares, tais como vidro, e adere com menor intensidade em superfícies apolares, tais como silicone. Os valores encontrados por Matsui et al (2001) para vidro, cobre e Teflon, dentre outras superfícies e materiais estudados pelo autor, podem ser visualizados na tabela 3.II. Tabela 3.II: Dados obtidos em experimentos com mexilhão dourado. (MATSUI et al, 2001) Substrato Força Média de tração para Número Médio de fios de desligamento (N) Bissos Secretados Vidro 1,49 + 0,28 32,2 + 6,4 Cobre 0,30 + 0,08 13,3 + 3,7 PTFE (Teflon) 0,12 + 0,03 14,7 + 2,6 O registro da tração máxima para o desligamento nos ensaios realizados por Matsui et al (2001) foi para mexilhões coletados em rio e mantidos em laboratório para nova adesão aos materiais de estudo por um período de 7 dias. Os organismos apresentavam tamanho de concha entre 2-3cm e boa atividade metabólica por observação da abertura de concha para filtração e resposta a estímulo externo. O equipamento utilizado para ensaios de tração foi o EZ Test 20N, Shimadzu Corporation, Kyoto, Japão. Com base nos trabalhos de Faria (2005) e Melo (2005), a tração realizada para retirada do molusco da superfície de materiais pode ser chamada de força de desligamento. Tal força de desligamento é um bom indicador da aderencia de mexilhões a materiais onde eles se fixam e constitui parâmetro de comparação para diferentes tipos de recobrimento quando associados às características dos materiais. Faria (2005) encontrou valores para a força de desligamento do mexilhão dourado da ordem de 0,490N para o vidro e de 0,198N para o Teflon. As condições de ensaio seguidas neste estudo, entretanto foram para organismos fixados não livremente aos materiais por 7 dias, onde as medições da força de desligamento foram realizadas manualmente com aparato envolvendo fio metálico, garra e balança. 11 3.3 Substratos e Tintas Comerciais 3.3.1 Propriedades dos substratos e fixação A capacidade de incrustação dos bivalves está relacionada às necessidades vitais deste tipo de organismo como a captura do alimento e realização de filtragem por abertura da concha. Segundo Galvão et al. (2009) os espaços existentes no local reservado a filtragem de alimento pelo organismo varia de diâmetro entre os bivalves. Com isso o tamanho de partícula é fator importante na etapa de retenção e incorporação de contaminantes via alimentação, apesar de existirem outras formas de seleção do alimento, não só a mecânica, mas a bioquímica e a de palatabilidade. O autor cita ainda que os bivalves tem o seu ganho energético, via alimentação, comprometido pelos metais uma vez que há um desvio de energia para o metabolismo destes contaminantes. Recobrimentos antiincrustantes tendo como base o pó de PET aspergido com diferentes concentrações de cobre foram desenvolvidos por Nunes (2008), e mostraram bom desempenho quanto ao potencial antiicrustação para o mexilhão dourado em testes de campo. Segundo testes realizados por Faria (2003) não há incrustação para o PET-cobre (20%) comparado a incrustação de três organismos por mês para placas de PET-cobre (10%). 3.3.2 Fatores críticos pertinentes aos substratos Composição Os substratos de interesse selecionados para este estudo foram o vidro, o cobre e o Teflon devido a diferença de propriedades dos materiais. O vidro é definido como material cerâmico de composição e propriedades bem definidos. Aplicações típicas para este material são recipientes, janelas e lentes onde as duas principais características deste material são a sua transparência ótica e relativa facilidade de fabricação. Os vidros consistem em silicatos nãocristalinos e outros óxidos como CaO, Na2O, K2O e Al2O3, que influenciam as propriedades deste material (CALLISTER, 2002). 12 O cobre é um material metálico não magnético com comprovado efeito biocida para organismos como mexilhões, por isso é um dos metais utilizados em formulações de recobrimentos antiincrustantes na forma de óxidos. O metal apresenta coloração vermelho claro, é maleável, dúctil, bom condutor térmico e elétrico, apresenta considerável durabilidade e resistencia à corrosão. É encontrado na forma metálica cristalina cúbica de faces centradas como o óxido de cobre (I) ou óxido cuproso de fórmula Cu2O. O metal junto ao oxigênio também é encontrado como um cristal monoclínico e reconhecido como óxido de cobre (II) ou óxido cúprico de fórmula CuO, e ainda pode ser encontrado como sulfeto, Cu2S. As ligas de cobre possuem propriedades físicas que permitem uma variedade de aplicações. Quando combinado com níquel em 30%, a liga recozida e deformada a frio é utilizada na fabricação de componentes de condensadores e trocadores de calor além de tubulações para água salgada (CALLISTER, 2002). O material polimérico politetrafluoretileno, (PTFE), é comercialmente conhecido como Teflon. Por se tratar de um polímero possui uma unidade mero que será a estrutura de repetição. O material possui satisfatória resistencia à degradação quando exposto a ácidos oxidantes e não-oxidantes, soluções salinas, álcalis aquosos, solventes, polares e não-polares (CALLISTER, 2002). Figura.3.4: Estrutura química do politetrafluoretileno (PTFE) com unidade mero identificada no quadro. Morfologia Rugosidade é a denominação dada ao conjunto das irregularidades que caracterizam a textura da superfície. Esta característica pode ser quantificada através de parâmetros relacionados à altura (amplitude) e largura (ou espaçamento) das irregularidades (GADELMAWLA, 2002). Os parâmetros relacionados a seguir contribuem na caracterização morfológica de materiais. 13 Parâmetro Ra A rugosidade média, denominada Ra, pode ser expressa como o desvio médio de um perfil de sua linha média, como mostrado na Figura 3.5 (GADELMAWLA, 2002). Figura.3.5: Perfilometria bidimensional indicativa do parâmetro Ra. Eixo x indica a linha média entre picos e vales da textura geral. (l) indica o comprimento de amostragem denominado cut off. Parâmetro Ry O parâmetro Ry indentifica a maior distância entre o pico e o vale, dentro de um comprimento de amostragem do perfil. Conforme ilustrado na figura 3.6 Ry será representado por Rt3. Figura 3.6.: Perfilometria bidimensional indicativa do parâmetro Ry A morfologia dos substratos pode interferir no crescimento de filmes biológicos em materiais. Isto porque a textura da superfície de um material possui irregularidades que são resultado direto do seu processo de produção ou de tratamento de superfície. Levando em 14 consideração que microorganismos possuem tamanhos distintos, o início do crescimento de biofilme se dará a partir de uma seleção natural do organismo frente ao tamanho das irregularidades, ou seja, organismos menores que os tamanhos dos vales no material, podem encontrar maior facilidade de adesão e crescimento (KERR et al, 2003). A rugosidade dos materiais podem ainda influenciar nos valores de energia superficial dos substratos que para passar por testes de molhabilidade devem preferencialmente ser lisos, planos, horizontais, quimicamente homogêneos, estáveis e inertes a atmosfera e temperatura de teste (LUZ, 2008). Energia Livre de Superfície Em um sólido ou líquido, os átomos e moléculas estão em equilíbrio e encontram-se unidos através de forças de atração mútua. Em geral, estas forças existem em todas as direções dos átomos ou moléculas com exceção para as superfícies dos materiais. Sendo assim, a energia livre de superfície é a energia resultante de interações intermoleculares remanescentes na superfície dos materiais. Para se determinar seu valor ensaios de molhabilidade são realizados a partir de um líquido de energia livre conhecida. Para uma gota deste liquido em equilíbrio com seu vapor e em contato com uma superfície sólida, observa-se a existência de uma linha comum entre as três fases, conhecida como linha de contato (figura 3.7). Essa configuração origina a definição macroscópica do ângulo de contato θ, como sendo o ângulo resultante entre a linha tangente a interface líquido-vapor e a linha paralela à superfície do sólido (FERREIRA; E. G. SHAFRIN). Vapor Líquido Superfície Figura.3.7: Esquema líquido sobre substrato para medida do ângulo θ capaz de fornecer valores de energia superficial. 15 O fenômeno de formação da gota decorre das interações químicas que os líquidos são capazes de realizar com uma tendência a forma espacial energeticamente mais favorável (Atkins, 2009). Os líquidos de interesse neste estudo são água, etilenoglicol e hexadecano. A água é considerada um dipolo por possuir uma geometria angular que advêm da teoria de repulsão dos pares eletrônicos e possui alto ponto de ebulição por realizar fortes interações intermoleculares chamadas ligações de hidrogênio (RUSSEL,1994). O etilenoglicol apesar da presença de duas hidroxilas nas extremidades da pequena cadeia de carbonos possui momento dipolo igual a zero devido à simetria de molécula, mas também possui alto ponto de ebulição devido a capacidade de fazer ligação intermolecular de hidrogênio. O hexadecano é um composto orgânico com dezesseis carbonos em uma cadeia saturada e sem ramificações. Estes hidrocarbonetos geram apenas dipolos instantâneos, são extremamente apolares pela ausência de grupos polarizáveis. A figura 3.8 mostra um esquema de representações das moléculas dos líquidos usados na determinação da energia superficial. A B C Figura 3.8: Modelo das moléculas dos líquidos utilizados em ensaios de molhabilidade. (A) Água-esfera vermelha representa o átomo de oxigênio e esferas claras os dois átomos de hidrogênio, (B) Etilenoglicol- modelo de bolas e fórmula de linhas (C) Hexadecano-fórmula de linhas. Faria (2005) verifica em seu trabalho a correlação existente entre energia livre de superfície e força de tração máxima para o desligamento do mexilhão dourado em diferentes materiais, onde observa que o cobre tem efeito letal sobre 100% dos organismos, e ainda que a força média de desligamento varia conforme os materiais. 16 Ensaios realizados por Faria (2005) em equipamento goniômetro Contact Anglometer – modelo 1501 - Micromeritics Corporation S.A., indicam valores de energia livre de superfície comparado a força necessária ao desligamento do mexilhão dourado conforme tabela 3. III. Tabela-.3.III: Energia Livre de Superfície (ELS) segundo Faria (2005), em relação a força média de desligamento (FMD) de mexilhões. (A) “Handbook of polymers”; (B) Müller (2002); (*) não informado pelo autor. Material Faria (2005) Autores (A) e (B) ELS (mJ/m2) FMD (N) ELS (mJ/m2) Vidro 160,3 0,490 95,00 (A) Teflon 19,5 0,128 19,5 (A) Cobre * 0 177 (B) A energia livre de superfície pode ser mensurada por diferentes técnicas, onde o objetivo comum é a detecção da imagem da gota que se forma sobre a superfície para identificação do ângulo de contato. Aplicando-se uma combinação das equações de Fowkes e Yong-Dupré pode-se verificar a energia livre de superfície dos sólidos em contato com os líquidos caracterizados (MATSUI, 2001). 1 * d p h * 1 cos d * d L L L S L 2 1 2 Sp * Lp 1 2 Sh * Lh 1 2 (3.1) Onde: Sd = Componente dispersiva do sólido (mJ/m2); Sp = Componente polar do sólido (mJ/m2); Sh = Componente ligação de hidrogênio do sólido (mJ/m2); Ld = Componente dispersiva do líquido (mJ/m2); Lp = Componente polar do líquido (mJ/m2); Lh = Componente ligação de hidrogênio do líquido (mJ/m2). cos ϴ = cosseno do ângulo de contato líquido - superfície do material. 17 3.3.3 Fatores relativos às tintas antiincrustantes. Tintas são definidas como revestimentos líquido-viscosos constituídos de um ou mais pigmentos dispersos em um aglomerante que após um processo de cura, quando estendida em película fina, forma um filme opaco e aderente ao substrato (FAZENDA, 2005). Os componentes básicos das tintas são as resinas, pigmentos, aditivos e solventes. As resinas, geralmente não voláteis, aglomeram partículas de pigmentos sólidos insolúveis. Os aditivos têm como característica principal a melhora do desempenho do recobrimento quanto à secagem, sedimentação, nivelamento entre outros. Os solventes costumam ser líquidos voláteis com valores baixos para ponto de ebulição e como função principal a dissolução de resina (FAZENDA, 2005). Tintas antifouling também chamadas de tintas anti-vegetativas ou antiincrustantes são aquelas que possuem, além da função de proteção e beleza, o propósito de não permitir ataque e adesão de organismos biológicos sejam eles micro ou macroorganismos. Estes revestimentos são usados geralmente em superfícies submetidas a imersões em água parada ou corrente. O surgimento deste tipo de revestimento data do mesmo período do inicio do uso de embarcações como meio de transporte pelo homem. Tendo em vista a necessidade de proteger os cascos das embarcações, eram usados produtos naturais como ceras, alcatrões e asfaltos (ALMEIDA et al, 2007). Em meados do século XIX, o óxido cuproso passou a ser utilizado como biocida em tintas antiincrustantes apesar de terem sido os fenícios e cartagineses os primeiros a usarem cobre com o objetivo de impedir incrustações biológicas em suas embarcações (ALMEIDA et al, 2007, GODOI et al, 2003). No entanto, o cobre como biocida apresentava-se ineficiente por períodos maiores que um ano, o que motivou a busca por biocidas mais eficientes como é o caso dos organoestânicos. Por volta de 1950, as tintas antiincrustantes passaram a ser formuladas à base de tributil-estanho (TBT), o que possibilitou revestimentos que proporcionavam proteção por mais de cinco anos além de versatilidade de cores (ALMEIDA et al, 2007, GODOI et al, 2003). No início dos anos 80, o uso de formulações a base de TBT se tornou uma preocupação, uma vez que estas substâncias não alteravam apenas os organismos que tentavam incrustação em superfícies de navios, mas também plantas e animais expostos ao 18 mesmo ambiente. O uso do TBT se tornou um problema ambiental, principalmente em ancoradouros onde embarcações passam longos períodos parados (GODOI et al, 2003). No caso específico de navios a pintura deve ter diferentes utilidades em ambientes que vão desde o casco ao convés, passando por estruturas como tanque de combustível e lastro (ALMEIDA et al, 2007). Na região do casco, o ataque biológico é mais pronunciado devido à constante exposição em água onde há diversidade biológica e necessidade de ancoragem de organismos. Nesta região do navio, a incrustação de 10m de material biológico pode significar um aumento de 0,3 a 1% no consumo de combustível (CHAMP, 1987). Entretanto, a exposição do navio em água apresenta região que está constantemente imersa, outra região que apresenta imersão alternada além de zonas de salpico e aquela sempre exposta à atmosfera. Para a proteção anti-corrosiva, os diferentes tipos de condições a que uma extensão é submetida é um grave problema a resolver. Almeida et al (2007) relatam que a atual proteção anti-corrosiva por pintura (PAP) de regiões imersas do navio inclui uma aplicação primária de anti-corrosivo e em seguida um acabamento antiincrustante. Em alguns casos, entre a aplicação primária e o antiincrustante há aplicação de um selante caso o primário anti-corrosivo tenha características que afetem o desempenho do antiincrustante. A partir da segunda metade do século XX, tintas antiincrustantes passaram a ter melhores características de aplicação, comportamento e duração devido aos diferentes mecanismos de lixiviação dos biocidas dispersos em diferentes tipos de polímeros. Atualmente tintas anti-corrosivas ou primárias utilizadas na pintura de navios são geralmente formuladas com resinas tipo epóxi (epoxídicas) bicomponentes como as poliuretanas e o alcatrão de hulha epoxídico (ALMEIDA et al, 2007). As resinas epóxi são polímeros caracterizados pela presença de grupos glicidila em sua molécula, que devido à capacidade de reação com diferentes funções químicas, permite a formação de uma estrutura tridimensional na formação do filme de tinta no processo de cura (FAZENDA, 2005). 19 Figura 3.9: Resina epóxi, com destaque para o grupo glicidila no círculo. Os revestimentos à base de resinas epóxi convencionais são conhecidos por apresentarem boas propriedades em geral, com exceção ao comportamento diante de intempéries, sobretudo à ação da luz ultravioleta, atribuída aos núcleos aromáticos que predominam em sua molécula. Na tentativa de melhorar a resistencia desta resina frente às intempéries os núcleos aromáticos foram substituídos por núcleos de cicloexano, que devido à estrutura saturada é mais resistente ao intemperismo. Assim foi possível a formulação do sistema epóxi-poliuretânicos. O sistema epóxi bicomponente é então utilizado na formulação de tintas protetoras de alto desempenho para manutenção industrial, revestimentos de alta resistencia química, de alta aderencia e resistencia à abrasão. Por isso são importantes na formulação de tintas marítimas (FAZENDA, 2005). Caracterização Ensaios de caracterização de tintas levam em consideração o estado físico que a tinta se encontra: matriz líquida ou película seca. Segundo Fazenda (2005) todos os métodos analíticos convencionais e técnicas instrumentais espectroscópicas podem ser utilizados na identificação de compostos isolados ou na tinta final. Ensaios em amostras líquidas que determinam teor de massa específica, matéria volátil e pigmento são bons indicadores de composição. Em tintas antiincrustantes o pigmento, normalmente avermelhado, é também o material utilizado como biocida, o óxido de cobre conhecido por cuprita de fórmula química Cu2O. Para caracterização de pigmento pode-se utilizar técnica como a difração de raios X. A técnica inicialmente desenvolvida pelo físico alemão Max Von Laue em 1912, leva em consideração a propriedade de difração de estruturas cristalinas. A relação entre raios emitidos e raios refletidos foi demonstrada por Willian e Lawrence Bragg em 1913, na equação de Bragg (3.2) que relaciona distância entre camadas de átomos, comprimento de onda da radiação e o ângulo de difração do cristal analisado (Russell, 1994). 20 (3.2) Onde n= número inteiro positivo (geralmente igual a 1) λ = comprimento de onda dos raios X d = distância entre camadas adjacentes de átomos θ = ângulo entre o raio incidente e os planos refletidos. A técnica de difração de raios X é relativamente simples e apresenta boa resposta quanto à caracterização dos compostos cristalinos a partir de comparação com espectros padrões que indicam picos característicos de cada material. Segundo o princípio da técnica estado de amostra pode interferir na intensidade do sinal, mas não no ângulo característico da estrutura cristalina de interesse. Polarografia A polarografia é um método eletroanalítico descoberto pelo químico Heyrovsky em 1922, usado na detecção de metais pesados como cobre¸ zinco¸ cádmio entre outros. O método é considerado uma técnica voltamétrica por utilizar a intensidade de corrente gerada por reações de oxirredução entre íons em solução e um eletrodo de trabalho. Quando este eletrodo de trabalho é o de mercúrio gotejante, a técnica é chamada de polarografia, isto porque o aumento gradativo e constante do potencial aplicado na cela eletroquímica resulta no fenômeno de polarização do eletrodo (WANG, 1985). A técnica de polarografia de redissolução anódica requer que uma representativa fração do analito seja inicialmente depositada no eletrodo. O analito, cátion metálico, é reduzido ao estado elementar e é amalgamado pelo mercúrio sob agitação da solução, para que ocorra aumento do transporte das espécies eletroativas até a superfície do eletrodo. A partir desta etapa o metal é reoxidado e a corrente gerada é relacionada com a concentração dos íons em solução. Devido à oxidação que ocorre durante a redissolução do analito 21 anteriormente pré-concentrado, produzindo uma corrente elétrica, a técnica também recebe o nome de voltametria de redissolução anódica (CUSTÓDIO, 2001). A voltametria de redissolução é uma das técnicas mais sensíveis, disponíveis para determinação de íons em solução. Limites de detecção estão na faixa de partes por bilhão, e a técnica ainda apresenta a vantagem de determinar dois ou mais metais em solução (CUSTÓDIO, 2001). 22 4 METODOLOGIA A parte experimental do presente trabalho se constitui de duas etapas, quais sejam, desenvolvimento de equipamento capaz de avaliar a força de tração máxima para desligamento dos fios de bissos do mexilhão dourado aderidos nos substratos cobre, PTFE (Teflon) e vidro estabelecendo comparação com as características dos materiais e avaliar recobrimentos antiincrustantes comerciais quanto a composição e comportamento do organismo em cada um destes recobrimentos. 4.1 Estudo de substratos e adesão do mexilhão dourado 4.1.1 Seleção e tratamento de superfícies A seleção dos materiais vidro, Teflon e cobre para este estudo, teve como principal motivação os aspectos relacionados à energia livre de superfície. Em cooperação com o trabalho de Fróes (2012), que objetivou o estudo de padrões de rompimento dos filamentos de bissos por avaliação histológica, os materiais foram selecionados e tratados conforme necessidades de ensaio. Algumas características relacionadas aos materiais selecionados e tratamento de amostra estão relacionados a seguir: 1) Lâminas de vidro são utilizadas em estudos biológicos do organismo tais como cortes histológicos para reconhecimento de estrutura e funcionamento do bivalve. Por apresentar estrutura extremamente lisa, com baixos valores de rugosidade amostras de vidro receberam um tratamento com lixa d’água de 400mesh para aumento da rugosidade. 2) O Teflon foi utilizado em placas conforme fabricação direta. Os substratos receberam polimento com lixa d´água de 1200mesh a fim de diminuir os valores de rugosidade obtendo um material com aspecto de menor aspereza, um substrato mais liso. 23 3) O cobre foi selecionado por apresentar reconhecido efeito biocida para o mexilhão dourado. Formulações atuais de tintas antiincrustantes vêm apresentando teores deste metal, o que estimula a investigação de seus efeitos em relação à aderência do organismo. As amostras deste metal receberam tratamento de decapagem em solução de ácido clorídrico para retirada de camada superficial. Após pré-tratamento nas amostras citadas, todas receberam o tratamento padrão adotado por Faria (2005) e seguido no Setor de Metalurgia (SDT-CETEC). O tratamento consiste em lavagem em solução de surfactante 2% e enxágue em banho ultrassônico com acetona. Antes da colocação em aquários para o teste cada material recebeu limpeza com álcool 70% e enxágue em água destilada. 4.1.2 Caracterização de superfície Morfologia Uma técnica eficiente para caracterização de morfologia dos materiais é a de perfilometria tridimensional e bidimensional, pois permitem encontrar valores de rugosidade de substratos e filmes em escala nanométrica. As amostras após tratamento inicial e acondicionamento em dessecador passou por leitura bidimensional de rugosidade em perfilômetro Taylor-Hobson, marca Form Talysurf Series 2, do setor de tribologia (SDT/CETEC). Os parâmetros selecionados para leitura foram Ra e Ry com cinco comprimentos de cut off de 0,8mm totalizando uma distância de leitura de 4mm. Foram realizadas medidas em três sentidos da amostra, definidas como direção x, y e z. As condições do ambiente de teste apresentavam umidade relativa do ar em 50% e temperatura constante em 26,3ºC. Energia superficial Para medida da energia superficial dos materiais foi utilizado o método de medida do ângulo de contato de gota por obtenção de imagem das mesmas. 24 As gotas apresentavam mesmo volume, 0,05ml, e foram fotografadas com câmera fotográfica digital SONY CYBER SHOT DSC, 3.2 mega pixels, a uma distância de captura da imagem fixa por utilização de tripé para câmera fotográfica. Foram utilizados três líquidos caracterizados, segundo tabela 4.I. Tabela 4.I Líquidos e valores de energia livre dispersiva, polar, de hidrogênio e total (Matsui, 2001). Líquidos Ld(mJm-2) Lp(mJm-2) Lh(mJm-2) L total (mJ/m-2) n-Hexadecano 27.6 0 0 27.6 Água 29.1 1.3 42.4 72,8 Etilenoglicol 30.1 0 17.6 47,7 As imagens obtidas foram tratadas no programa Autocad® para detecção do ângulo de contato. O ensaio foi realizado em triplicata para cada líquido nos diferentes materiais. 4.1.3 Construção de equipamento capaz de medir a força necessária ao desligamento do mexilhão dourado. Conforme objetivo do programa de pesquisa financiado pelo CNPq em parceria com a Embrapa Pantanal, no projeto intitulado “Desenvolvimento de medidas de controle para a dispersão do mexilhão dourado na bacia do alto rio Paraguai”, foi idealizado e construído equipamento capaz de mensurar a força máxima de tração necessária ao desligamento do mexilhão dourado em diferentes materiais. O projeto mecânico foi desenvolvido (Anexo A) a fim de se criar um sistema capaz de tracionar o organismo fixado ao material e capturar a força máxima necessária ao desligamento do animal. O equipamento final projetado para a medida da força máxima de tração no desligamento do mexilhão dourado recebeu instrução de operação conforme fabricante de cada peça integrante. Os transdutores de força foram certificados no Laboratório Isaac Newton do Setor de Teste Físicos/CETEC, por meio de calibração a compressão segundo a norma ASTM E 74-06 e a Norma do Sistema de Qualidade CETEC NSQC 1102. 25 Testes para ajuste do equipamento completo foram realizados conforme adaptação à norma ABNT NBR ISO 1924-3:2006. A norma que determina propriedades de tração em papel e cartão pelo método da velocidade constante de alongamento (100mm/min), exemplifica ensaios de sete laboratórios do Scandinavian Pulp, Paper and Board Committee, para amostras de papel tipo jornal. Como corpo de prova foi utilizado fio de cabelo humano. Os fios foram selecionados de um mesmo couro cabeludo, receberam tratamento padrão de limpeza em água destilada para retirada de agentes químicos, foram mantidas úmidas durante o teste e sob temperatura constante de 25,2ºC. O teste foi realizado fixando-se as duas extremidades de cada fio e realizando-se a tração em velocidade constante de alongamento até o rompimento do fio, onde se coletou a força máxima. 4.1.4 Cultivo de mexilhão dourado em processo de adesão e análise da força máxima necessária ao desligamento. Foram escolhidos 300 organismos saudáveis, com boa resposta a estímulo externo e tamanho de concha médio de 2,5cm de comprimento. O tamanho de concha é bom indicador de idade de organismos, e para manter as mesmas condições de ensaio não foram selecionados organismos muito jovens ou muito velhos. Figura 4.1: Paquímetro usado para medida da concha do mexilhão dourado 26 Em aquários de 58x27x29cm, foi adicionada água declorada em quantidade suficiente para manter a proporção de dois litros para cada dez organismos. Foram colocadas também placas de PTFE (Teflon), vidro e cobre em aquários diferentes e 100 organismos por aquário contendo o material de estudo. Figura 4.2: Limnoperna fortunei colocado sobre Teflon para realização de ensaios de tração. Limnoperna fortunei colocado sobre vidro para realização de ensaios de tração. Os organismos permaneceram no sistema por 45 dias em aeração constante, manutenção realizada com alimentação a base de algas e ração de peixe dissolvida. Os organismos mortos foram substituídos diariamente para que ao final do período de incrustação houvesse boa colonização estabelecida. A água dos aquários sofreu renovação a cada 48 horas. O local de ensaio recebeu controle de temperatura, mantido em 25ºC, e iluminação local natural com proteção parcial em janelas para meia-sombra, uma vez que o organismo apresenta maior atividade em locais com pouca luminosidade. Após observação inicial de que, em aquários com água estática, os organismos não apresentavam boa fixação nos materiais foi escolhido um sistema com fluxo de água com a utilização de bomba de recirculação de água com fluxo de 550litros/hora. Após período de fixação do mexilhão foi realizada a análise de força de desligamento destes organismos onde foi aplicada força de tração no animal separando-o do substrato. O ensaio apresentou seqüência onde as placas foram retiradas dos aquários, secas com papel toalha e fixadas na bandeja do equipamento. O transdutor de força conectado a garra acoplada na concha do organismo forneceu dados de massa em quilogramas-força (Kgf) por unidade de tempo em segundos. 27 Figura 4.3: Placa de vidro com mexilhão aderido em teste de força de desligamento. Na sequência do ensaio após a tara inicial do indicador de pesagem, a bandeja deixa a posição inicial gerando uma velocidade de separação garra-material, constante, de 100mm/min, conforme norma ABNT NBR 9622:1986 que determina propriedades mecânicas a tração para plásticos. Também foram consultadas as normas ABNT NBR ISO 1924-3:2006 que determina as propriedades de tração para papel e cartão, e ainda a norma ABNT NBR 10456:2004 que determina a resistência de colagem para adesivos. As normas foram utilizadas por não haver normas especificas para o ensaio realizado. Os dados foram coletados pelo software e salvos em planilhas do programa Excel. Durante a tração do organismo, os fios de bisso foram contados visualmente por dois operadores para conferencia dos dados e armazenados para análise histológica referente ao trabalho de Fróes (2012). Os valores de força máxima de desligamento em materiais e o número de filamentos produzidos receberam tratamento estatístico não paramétrico. Foi utilizado teste U de MannWhitney com uso do programa estatístico Statistica® versão 7.0. 28 4.2 Avaliação de tintas antiincrustantes comerciais 4.2.1 Seleção de revestimentos e coleta de amostras. Em parceria com pesquisadores do Instituto de Pesquisa de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), dentro do Programa de Pesquisa para Controle do Mexilhão Dourado Limnoperna fortunei, nas Águas Jurisdicionais Brasileiras, número 507675/2004-5 do CNPq, fabricantes de tintas antiincrustantes foram convidados a participar do estudo que objetivava a seleção de tintas com melhor performance antiincrustante e níveis de emissão de biocidas aceitáveis para uso em navios e embarcações de médio e pequeno porte. As empresas forneceram amostras de seus produtos com recomendação de aplicação e uso. Estas foram recebidas no setor de metalurgia (SDT/CETEC), e após armazenagem em local seco e arejado, foi aplicada conforme recomendação do fabricante (Anexo B). 4.2.2 Análises em matriz líquida A caracterização de tintas antiincrustantes comerciais, cedidas por empresas do setor, seguiu metodologia conforme normas ABNT NBR 15438:2006 que determina método de ensaio para diferentes propriedades de tinta. Foi selecionada a análise de teor de pigmento para identificação do biocida. O ensaio foi realizado em triplicata e os cálculos seguiram recomendações da norma de ensaio. Para caracterização do pigmento extraído das tintas antiincrustantes foi aplicada a técnica de difração de raio X no equipamento Shimadzu® modelo XRD 6000 com ângulo de varredura para todas as amostras de 20° a 70°. A velocidade de varredura foi de 5°/min. com os parâmetros 40kV de voltagem, corrente de 30mA, 2Ө=4,0. Todos os ensaios de caracterização em matriz líquida foram realizados no Setor de Análises Químicas STQ/CETEC. 29 4.2.3 Preparo de amostras em película seca Em parceria com pesquisadores do Instituto de Pesquisa de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), foi escolhido como substrato de teste compensado naval de espessura 10mm. As amostras passaram por corte e foram preparadas com dimensões de 150x150mm para ensaios biológicos em laboratório e em campo. Amostras de 50x50mm foram preparadas para ensaio de lixiviação que permitisse a análise de polarografia na avaliação de cobre e zinco em solução. As amostras foram lixadas com lixa 1200mesh e limpas com trincha. Em seguida, receberam primer penetrante para proteger a madeira de encharcamento e apodrecimento quando em contato com a água. O primer de base flocos de vidro também deu suporte de ancoragem para aplicação das tintas. Apenas quatro tintas tiveram amostras preparadas com primer próprio, exigido pela empresa fornecedora dos produtos. A aplicação foi realizada com trincha de três polegadas, por apenas um aplicador sempre na mesma direção a fim de minimizar diferenças entre amostras. Após aplicação do primer e esperado tempo de cura recomendado pelo fabricante, foram aplicadas as tintas em formato quadriculado com quadrados de 30x30mm. As placas receberam um gabarito de fita adesiva e as quadrículas foram pintadas utilizando-se trincha de 1 polegada. As amostras foram identificadas e armazenadas em galpão ventilado e ao abrigo da luz. A temperatura ambiente na armazenagem manteve-se entre 20º e 27ºC. Figura 4.4: Placas de madeira com revestimento de tintas antiincrustantes comerciais. 30 4.2.4 Teste de adesão do mexilhão dourado em tintas Foram selecionados organismos saudáveis, com boa resposta a estímulo externo e tamanho de concha médio de 2,5cm de comprimento. As placas de teste foram enxaguadas com água corrente e colocadas em número de três por aquário de 58x27x29cm. A água utilizada foi declorada em quantidade de vinte litros por aquário a temperatura de 22ºC. Quatro organismos foram colocados em cada placa na região central, com tinta antiincrustante, a fim de verificar a migração do bivalve para a região sem a tinta, apenas com primer. O comportamento do organismo foi observado na primeira hora de teste, após 3 horas, após 15 horas e após 24 horas. Figura 4.5: Teste de adesão do mexilhão dourado em placas de tintas antiincrustantes. 4.2.5 Polarografia As determinações voltamétricas foram realizadas em um analisador polarográfico PAR (Princeton Applied Research), modelo 384B, da marca EG&G, acoplado a uma célula polarográfica Par modelo 303A do Laboratório de Química Analítica da Universidade Federal de Viçosa (UFV). A técnica voltamétrica empregada foi a voltametria de redissolução anódica com pulso diferencial. Para a análise dos íons Zn2+ e Cu2+, utilizou-se solução tampão de 31 acetato de sódio pH 4,72, como eletrólito de suporte e soluções padrão de concentração 2,5g/mL de cada um dos íons analisados. Os parâmetros utilizados nas titulações voltamétricas são descritos na tabela 4.II. Tabela 4.II :Condições utilizadas nas titulações voltamétricas. Parâmetros Valores Tempo de desoxigenação longo 600s Tempo de desoxigenação curto 120s Tempo de equilíbrio 30s Tempo de deposição 60s Tempo de condicionamento 0s Potencial inicial -1,20V Potencial final +0,20V Altura de pulso 50mV Incremento de varredura 2mVs-1 Para construção de curvas padrão dos íons analisados, adicionou-se 5mL de eletrólito de suporte (NH4Ac/HAc) na cuba eletrolítica do polarógrafo, fazendo-se a leitura voltamétrica para determinar a curva do “branco”. Adicionou-se 50L das soluções padrão (Zn2+ e Cu2+) com concentrações de 2,5g/mL. Repetiu-se o volume adicionado dos padrões acima por mais quatro vezes, obtendo-se as concentrações apresentadas na tabela 4.III. Após cada adição, realizaram-se as leituras voltamétricas. A partir das correlações lineares dos gráficos de id (corrente de difusão) versus concentração, obtidas pelos polarogramas das curvas padrão, determinou-se as concentrações dos íons Zn2+ e Cu2+ em cada uma das amostras. Tabela.4.III: Concentrações de Zn2+ e Cu2+ nas curvas padrões. Adição Padrão 1 Padrão 2 Padrão 3 Padrão 4 Padrão 5 Concentração (ppb) 24,75 49,02 72,82 96,15 119,05 32 As amostras de placas revestidas com tintas foram colocadas em béqueres com volume de água deionizada de 200mL. As mesmas permaneceram no sistema em repouso para retirada de alíquotas de teste (100L) nos tempos de 1h, 15h, 24h e 48h. Antes de cada retirada o sistema recebeu agitação mecânica constante, por dez minutos, com agitador magnético para homogeneização da amostra. 33 5 5.1 RESULTADOS E DISCUSSÃO Avaliações de substratos e de adesão do mexilhão dourado 5.1.1 Análise morfológica de superfície. As chapas de cobre, Teflon e vidro tiveram a rugosidade avaliada e como resultado obtiveram-se medidas para os parâmetros Ra (rugosidade média) e Ry (rugosidade máxima) conforme tabela5. I. Tabela 5.I :Rugosidade dos substratos após tratamento de superfície Substrato Ra (µm) Ry (µm) Cobre 0,16 + 0,02 1,7 + 0,4 Teflon 0,27 + 0,08 1,4 + 0,3 Vidro 8,2x10-3 + 4x10-4 7x10-2 + 2x10-2 Os valores de rugosidade foram mensurados a fim de verificar as condições de texturas de superfície dos materiais. Segundo trabalho de Melo (2005) a textura de uma superfície pode alterar a força de adesão do organismo em um material e esta adesão mais acentuada foi observada para intervalos de rugosidade média (Ra) entre 0,15µm e 3,24µm para o material aço inoxidável com variação da força de desligamento de 0,07N a 0,15N. Para o PTFE (Teflon) a variação de Ra na faixa de 0,28 µm a 5,74 µm foi relacionada a uma variação de força de desligamento do organismo na ordem de 0,04N a 0,06N. Os dados de Melo (2005) levam a crer que o aumento da rugosidade nos níveis citados, para o teflon, pode aumentar a força de adesão do organismo ao substrato, mas não significativamente. Nota-se que o tratamento dos substratos de teste não permitiu aproximação de níveis de rugosidade como modo de eliminar tal variável, mas possibilitou a inspeção visual de texturas mais uniformes, o que possibilita melhores condições de medida de energia livre de superfície. Ainda pode-se observar que os níveis de rugosidade dos materiais testados 34 apresentam valores inferiores em relação aos níveis onde se observa alteração da força de aderencia do mexilhão segundo Melo (2005). Outro fator observado foi a dimensão da placa bissal do mexilhão dourado (figura 5.1) responsável pela adesão ao material. A medida realizada no microscópio ótico com ocular 10/18, objetiva com aumento de 10 vezes e com utilização de fator de correção, demonstra resultados conforme a tabela 5.II. Figura 5.1: Imagem da placa bissal de fios de bissos de mexilhão aderido em Teflon. As setas escuras indicam o comprimento da placa. As setas claras indicam a largura da placa. Tabela 5.II :Dimensões da placa bissal dos mexilhões analisados Substrato Comprimento médio (µm) Largura média (µm) Vidro 717 + 9 467 + 7 Teflon 517 + 8 374 + 7 Comparando os valores de rugosidade e as dimensões da placa bissal do organismo nota-se uma diferença de tamanho da ordem de 27.000%. Tal diferença permite supor que uma ancoragem física ou mecânica do animal sobre os materiais com maior rugosidade não foi facilitada. Quando há rugosidade e porosidade em superfícies de substratos os bissos podem se fixar mesmo sem existir compatibilidade química com o material pois os filamentos penetram em cavidades da superfície e se prendem a elas (YEBRA, 2004). Baixos valores de rugosidade permitem compreender melhor os mecanismos químicos e biológicos de adesão do mexilhão dourado sobre materiais com diferentes energias superficiais. 35 5.1.2 Análise de energia de superfície dos materiais. A medida da energia livre de superfície é utilizada amplamente na caracterização de materiais e pode ser realizada com técnicas e equipamentos diferenciados. Dentre as técnicas experimentais mais conhecidas está o espalhamento de uma gota líquida sobre uma superfície sólida em temperatura constante (LUZ, 2008). A molhabilidade é o fenômeno de espalhamento de uma gota sobre uma superfície, e pode ser observado pelo ângulo de contato entre gota e material conforme figura 5.2. Figura 5.2: O valor do ângulo θ é usado na determinação de energia superficial de materiais. Se o líquido possui alta energia e se espalha sobre uma superfície, pode-se dizer que há interação sólido-líquido e a energia livre do material é alta, o que pode ser verificado por um ângulo θ entre 0º e 90º, ao contrário da gota que não sofre o espalhamento, e apresenta ângulo θ entre 90º e 180º. Tradicionalmente, utiliza-se a medida de ângulos de contato destas gotas sobre superfícies pelo método da gota assentada (sessile drop), a fim de se quantificar a energia superficial de materiais, porém, valores muito diferenciados como os encontrados por Faria (2005) e Melo (2005) para os mesmos materiais se justifica porque a medida é dependente do estado da superfície da amostra e características como texturas podem alterar a energia remanescente das interações internas dos sólidos (LUZ, 2008; FARIA, 2005). Segundo Wolf (2005) uma maneira macroscópica de identificar o ângulo de contato pode ser adotada para os casos em que se desconsidera a região próxima à linha de contato. O formato esférico da gota nem sempre pode ser visualizado na imagem obtida e a identificação do ângulo de contato pode ser irreal, sobretudo para aqueles líquidos que sofrem grande espalhamento sobre o material. Extrapolando a curvatura da parte posterior da gota até a 36 superfície sólida uma aproximação esférica é feita, e calcula-se o ângulo de contato requerido a partir de uma relação trigonométrica conforme equação 5.1 aplicada à gota da figura 5.3. (5.1) Onde: H é altura total da gota rh é o raio da base relativa a altura h e ϴh e o ângulo medido na altura h Com a aplicação da relação trigonométrica citada é possível encontrar um ângulo ϴ corrigido para a gota do líquido de interesse. Figura 5.3: Representação geométrica da gota para cálculo do ângulo de contato corrigido (Wolf, 2005). A análise de fotos realizadas com o uso de software Autocad® permite mensurar a altura da gota em relação a superfície (H) e ainda uma altura escolhida na parte superior da gota (h) para uso da relação matemática de interesse. A figura 5.4 se refere ao estudo de Teflon em relação ao líquido etilenoglicol. 37 Figura 5.4: Imagem obtida para gota do líquido etilenoglicol sobre o substrato Teflon. Foram obtidas imagens de três gotas para cada líquido em todos os substratos. Os ângulos de contato obtidos estão apresentados na tabela 5.III assim como o valor da energia livre de superfície (ELS) calculada a partir dos ângulos segundo a equação de Fowkes (3.1). Tabela 5.III: Ângulo de contato para todos os substratos com respectivos líquidos e coeficiente de variação (CV%). Valores finais de energia livre de superfície (ELS). Líquido Cobre Vidro Teflon Ângulo ϴ CV% Ângulo ϴ CV% Ângulo ϴ CV% Não -- 11,5° 16,7% 72° 10% Água identificado Etilenoglicol 50° 8% 18° 27,5% 61° 8% Hexadecano 68° 11% 30,7° 8% 22° 10% ELS (mJ/m2) Não realizado 596,7 mJ/m2 74,6 mJ/m2 Os ângulos obtidos por imagens em tréplicas apresentaram coeficiente de variação em torno de 10% para a maior parte dos líquidos. O vidro apresentou coeficientes maiores, 27,5% e 16,7% em etilenoglicol e água respectivamente, que podem ser atribuídos a uma dificuldade de detecção da imagem de líquidos próprio da forma de aquisição de imagem. Quanto à detecção da imagem da gota de água sobre o material cobre há grande espalhamento do líquido sobre o material o que não possibilitou a identificação do ângulo para todas as imagens adquiridas. 38 A energia superficial calculada para os materiais a partir dos ângulos obtidos demonstram que o Teflon foi o material com menor energia livre de superfície em relação ao vidro como já era esperado. O fator a ser observado é que os valores encontrados são superiores aos descritos por outros pesquisadores como Faria (2005) e Melo (2005). Isto pode ser devido a necessidade do uso de fator de correção para imagens obtidas a partir de máquinas fotográficas. O cobre não teve energia livre de superfície calculada devido a necessidade do uso de uma condição limite que seria admitir ângulo de contato igual a zero para o líquido água. 5.2 Construção de equipamento capaz de medir força necessária ao desligamento do mexilhão dourado. O projeto mecânico desenvolvido a fim de se criar um sistema capaz de tracionar o organismo fixado ao material e capturar a força máxima necessária ao desligamento do animal é composto de: bandeja móvel com velocidade controlável por um inversor de freqüência, transdutor de força acoplado ao sistema com instrumentação eletrônica para indicação de pesagem, garra para fixação do organismo e fio metálico para acoplagem garra-transdutor de força. A figura 5.5 é a imagem do equipamento final com indicações das partes integrantes do equipamento. A estrutura metálica é constituída de suporte fixo onde apenas a bandeja é movimentada. A bandeja permite a fixação do material em estudo com o organismo aderido. O motor Weg, CE NBR 7094, de indução monofásico é acoplado a estrutura mecanica para movimentação da bandeja. O controle do motor é feito por um inversor de freqüência Weg modelo CFW 10 para velocidade e direção do giro. Garra apropriada para fixação do organismo é ligada ao transdutor de força por fio metálico. Os transdutores de força selecionados são da marca HBM e apresentam capacidade máxima de leitura nas faixas de 2,94N (modelo PW4KC3), 4,90N (modelo PW4KC3) e 29,42N (modelo PW6KC3). 39 (c) (f) (b) (d) (a) (e) Figura 5.5: Equipamento de tração para medida da força de desligamento do Limnoperna fortunei. (a) Indicador de pesagem. (b) motor. (c) suporte para fixação do transdutor de força. (d) estrutura metálica de bandeja móvel. (e) inversor de freqüência. (f) transdutor de força com capacidade 2,94N. Para organismos aderidos em madeira ou estruturas cerâmicas submersas em rio, a força de desligamento é muito superior aquela para organismos cultivados em laboratório, por isso a utilização de transdutores de força capazes de alcançar até 4,90 e 29,42N são previstos apenas para uso in situ. A leitura realizada pelo transdutor de força é capturada por instrumentação eletrônica indicadora de pesagem marca Weigh Tech, modelo WT3000-P com três leituras por segundo. A unidade fornecida pelo equipamento é dada em quilogramas-força com faixa nominal de quatro dígitos. Os valores de leitura são gerenciados em microcomputador por meio de software desenvolvido no setor de metalurgia do CETEC/SDT. O programa computacional fornece a curva das forças de tração exercidas durante o desligamento do organismo em relação ao tempo do ensaio em segundos. 40 Figura 5.6: Exemplo do software para leitura de força de desligamento do mexilhão dourado em amostras de vidro. O gráfico inferior representa a leitura registrada após o rompimento. Os transdutores de força utilizados para os ensaios de medida da força de desligamento do mexilhão foram calibrados conforme norma ASTM E 74-06 e Norma do Sistema de Qualidade CETEC NSQC 1102. Limites de detecção dos transdutores e intervalo de confiança das calibrações podem ser visualizados na tabela 5.IV. Tabela 5.IV: limites de detecção e intervalo de confiança de calibração em transdutores de força. Faixa nominal do Força limite inferior (N) Intervalo de confiança 300 gf – (2,94N) 0,081N 99% 500 gf – (4,90N) 0,15N 99% 3000 gf – (29,42N) 15N 99% Transdutor de força Ensaios preliminares foram realizados no equipamento capaz de medir a força máxima ao desligamento utilizando-se como corpos de prova fios de cabelo humano. 41 A escolha de fio de cabelo se deu por se tratar de uma estrutura protéica com comportamento mecânico semelhante aos fios de bissos secretados pelo mexilhão dourado. Ambas as estruturas sofrem estiramento antes da ruptura e a resposta esperada foi a reprodutibilidade de ensaios. O cabelo tem como principal constituinte a queratina, uma proteína caracterizada por ter alto índice de enxofre derivado da cistina. A proteína forma uma rede de ligações cruzadas através de pontes dissulfídicas que confere ao cabelo resistência mecânica (WAGNER, 2006). Curva típica de tensão-deformação para fios de cabelo no sentido longitudinal demonstram que há uma deformação que pode variar de 2 % a 30% linearmente com a tensão até o momento da ruptura (WAGNER, 2006). Figura 5.7: Curva de tensão-deformação para fibra de α-queratina. (A) deformação elástica. (B) região de reconstituição. (C) região de pós-reconstituição. (D) ponto de ruptura. (WAGNER, 2006) Os filamentos de bissos tracionados apresentaram deformação média no estiramento entre 20% e 50% linearmente à tensão aplicada até o momento da ruptura. Exemplo de curva de tensão deformação obtidas podem ser visualizadas nos gráficos 5.1 e 5.2. É possível notar que os gráficos apresentam a leitura de força máxima ao desligamento em patamares. Estes valores máximos de força se mantiveram constante ao longo de alguns trechos de deslocamento sem registro de aumento na força devido a sensibilidade do transdutor. O comportamento se dá porque os mexilhões se fixam por mais de um filamento de bisso. Sendo assim os filamentos menos aderidos ou os mais afastados da região central de 42 adesão se destacam ou rompem primeiro fornecendo valores menores de força de desligamento. A consideração para este estudo foi para a força máxima de desligamento que foi observada, na maior parte das amostras, ao rompimento dos filamentos centrais. Curva Traçao de 5 filamentos de bisso em Vidro Carga (Kgf) 0,14 0,12 0,10 0,08 6 7 8 Deslocamento (mm) Gráfico 5.1: Curva referente à carga aplicada ao mexilhão x deslocamento de bandeja para organismo aderido ao material vidro. 0,08 Curva traçao de 3 filamentos de bisso em teflon Carga (Kgf) 0,07 0,06 0,05 0,04 0,03 0 1 2 3 4 5 Deslocamento (mm) Gráfico 5.2: Curva referente à carga aplicada ao mexilhão x deslocamento de bandeja para organismo aderido ao material Teflon. 43 A capacidade de incrustação do mexilhão dourado propicia ainda formação de grumos onde os organismos se fixam sobre eles mesmos. Testes preliminares foram realizados com tais grumos de mexilhão para avaliação de uso do transdutor e ajustes da técnica de medida da força de desligamento. O resultado para ensaio de tração em amostras teste se encontram na tabela 5.V. Tabela 5.V: Ensaio de tração em fios de cabelo e grumos de mexilhão dourado Material Fios de cabelo Fios de cabelo Grumos de mexilhão Transdutor utilizado 300 gf - (2,94N) 500 gf – (4,90N) 500 gf – (4,90N) N 10 10 10 Média da força máxima 2,42 + 0,25 N 2,79 + 0,18 N 3,54 + 1,13 N 10% 6% 32% no rompimento Coeficiente de variação. Segundo resultados obtidos a adequação à norma técnica ABNT NBR ISO 19243:2006 pode ser boa alternativa por apresentar resultados com coeficiente de variação baixo, máximo 10%, para amostras de mesmo material e origem, como no caso de testes com fios de cabelo. Para os testes com grumos de mexilhões o coeficiente de variação maior, da ordem de 32%, se justifica pela variação de organismos, que lançam diferentes números de fios de bissos para se fixar, e modo de adesão a outros organismos. 5.2.1 Análise da força máxima necessária ao desligamento do mexilhão dourado em cobre, Teflon e vidro. A fixação dos organismos nas placas de teste representa um desafio para o ensaio uma vez que os organismos escolhem preferencialmente as arestas das placas testes ou realizam o processo de incrustação sobre os próprios organismos. Sendo assim, no prazo máximo de 45 dias, foi possível observar quantidade suficiente colonizada nos materiais que permitisse a realização do ensaio. 44 Figura 5.8: Mexilhão dourado em período de adesão sobre substrato vidro. Após a colocação dos mexilhões sobre os substratos, os organismos tendem a uma aproximação uns dos outros procurando a formação de grumos. A incrustação dos animais sobre eles mesmos gera uma mortandade dos mesmos ao longo do período de teste. Os organismos mortos foram retirados ao longo do período de teste para não interferir no metabolismo dos organismos saudáveis. A metodologia é padrão para ensaios realizados no laboratório de biosegurança do CETEC (SAA/CETEC). 5.2.2 Materiais e força de tração A força de desligamento de mexilhão dourado em diferentes tipos de substrato é informação que, isoladamente, não determina a eficácia de um material com potencial antiincrustante, mas sim corrobora outras informações sobre comportamento do mexilhão dourado frente a natureza de materiais. A medida da força de desligamento do mexilhão dourado em diferentes substratos possibilita uma quantificação de força adesiva de organismos o que contribui com a criação de novos materiais com propriedades físicas ou químicas que inviabilizem a adesão dos mesmos. As informações de força de desligamento para os materiais segundo análise estatística descritiva se encontra na tabela 5.VI. 45 Tabela 5.VI:Resultados de teste de tração em materiais. Substrato Vidro Teflon Condição Força de desligamento (N) Número de bissos secretados ambiente Média Desvio Média Desvio Com fluxo 2,53 1,64 17,89 9,69 Estático 2,11 1,04 8,41 1,25 Com fluxo 1,77 0,91 15,30 1,27 Estático 1,80 0,55 17,05 2,85 No teste de normalidade (distribution fitting) se verificou assimetria para os dados de força de desligamento dos organismos em Teflon, p= 0,000, e em vidro, p= 0,007 (p<0,05 diferença significativa). Para os dados de filamentos de bissos observou-se simetria em relação ao teste de normalidade tanto para Teflon, p= 0,168, quanto para vidro, p= 0,063 (p>0,05 não há diferença significativa). A assimetria em relação a força determinou a escolha de teste não paramétrico. Dentre os testes não paramétricos foi utilizado o teste U de MannWhitney para comparar dois grupos independentes (material: vidro e Teflon ou sistema: estático e com fluxo). Os resultados estatísticos podem ser visualizados nas tabelas 5.VII e 5.VIII e ainda nos gráficos de 5.3 a 5.10. Tabela 5.VII: Resultados de Teste U de Mann-Whitney para comparação entre sistemas de ensaio em vidro e Teflon Material Força de desligamento Nº de filamentos de bissos Sistema Vidro Não há diferença Houve diferença significativa Estático p=0,068 p= 0,000 Com fluxo Não há diferença Não há diferença Estático p= 0,173 p= 0,588 Com fluxo Teflon 46 Boxplot by Group Variable: Força 9 8 7 6 Força 5 4 3 2 1 0 -1 sem fluxo com fluxo Median 25%-75% Min-Max Vidro Gráfico 5.3: Comparação do sistema (com fluxo e sem fluxo) para variável força de desligamento no vidro. Boxplot by Group Variable: Força 7 6 5 Força 4 3 2 1 0 com fluxo sem fluxo Median 25%-75% Min-Max Teflon Gráfico 5.4: Comparação do sistema (com fluxo e sem fluxo) para variável força de desligamento no Teflon. 47 Boxplot by Group Variable: Filamentos 50 45 40 Filamentos 35 30 25 20 15 10 5 0 sem fluxo com fluxo Median 25%-75% Min-Max Vidro Gráfico 5.5: Comparação do sistema (com fluxo e sem fluxo) para variável número de filamentos no vidro. Boxplot by Group Variable: Filamentos 45 40 35 Filamentos 30 25 20 15 10 5 0 com fluxo sem fluxo Median 25%-75% Min-Max Teflon Gráfico 5.6: Comparação do sistema (com fluxo e sem fluxo) para variável número de filamentos no Teflon. 48 As análises relacionadas à força de desligamento e número de filamentos de bissos nos materiais vidro e Teflon, com consideração para o sistema com fluxo e sem fluxo (estático), revelam que houve diferença significativa apenas para o número de filamentos que o mexilhão dourado libera no vidro. A presença do fluxo de água neste material gerou maior produção de filamentos do organismo na tentativa de fixação, o que não acontece com o material Teflon, onde a presença de fluxo não interferiu na produção de filamentos do organismo. Comparação entre materiais revelam que para sistema estático há diferença significativa na produção de filamentos de bissos onde a maior produção foi para o material Teflon. Em relação à força de desligamento o sistema com fluxo apresentou diferença significativa entre materiais com maior valor de força de desligamento para o material vidro. Tabela 5.VIII: Resultados de Teste U de Mann-Whitney para comparação de material em vidro e Teflon. Material Força de desligamento Nº de filamentos de bissos Sistema Vidro Não há diferença Houve diferença significativa Estático Teflon p= 0,696 p= 0,010 Vidro Houve diferença significativa Não há diferença Teflon Com fluxo p= 0,076 p= 0,000 49 Boxplot by Group Variable: Sem fluxo 8 7 6 Sem fluxo 5 4 3 2 1 0 -1 Vidro Teflon Median 25%-75% Min-Max Força Gráfico 5.7: Comparação entre força de desligamento em materiais (vidro e Teflon) para a variável do sistema sem fluxo. Boxplot by Group Variable: Com fluxo 9 8 7 Com fluxo 6 5 4 3 2 1 0 -1 Vidro Teflon Median 25%-75% Min-Max Força Gráfico 5.8: Comparação entre força de desligamento em materiais (vidro e Teflon) para a variável do sistema com fluxo. 50 Boxplot by Group Variable: Sem fluxo 45 40 35 Sem fluxo 30 25 20 15 10 5 0 Vidro Teflon Median 25%-75% Min-Max Filamento Gráfico 5.9: Comparação entre número de filamentos em materiais (vidro e Teflon) para a variável do sistema sem fluxo. Boxplot by Group Variable: Com fluxo 50 45 40 Com fluxo 35 30 25 20 15 10 5 0 Vidro Teflon Median 25%-75% Min-Max Filamento Gráfico 5.10: Comparação entre número de filamentos em materiais (vidro e Teflon) para a variável do sistema com fluxo. 51 5.3 Avaliação de tintas antiincrustantes comerciais 5.3.1 Seleção de revestimentos e coleta de amostras. Todas as tintas recebidas pelos respectivos fornecedores foram armazenadas em condições padrão. Foram observados tempo de prateleira de cada produto, modo de aplicação, tempo mínimo de repintura entre demãos e tempo máximo de estocagem da amostra até imersão em água (alagamento). As tintas recebidas apresentavam tempo mínimo de alagamento entre 10 e 24 horas e tempo máximo para alagamento entre 72 horas e 3 meses. Esta grande diferença em tempo máximo de alagamento sugere que há uma preocupação do fabricante com a perda de efetividade do produto que pode ser manifestada em reações de decomposição de resina ou oxidação de agentes químicos fundamentais ao efeito antiincrustante. Todas as amostras antes das análises químicas e antes da aplicação em placas de teste receberam agitação mecanica por um tempo de dez minutos para cada amostra a fim de manter a distribuição uniforme de todos os compostos da mistura. Observou-se nesta etapa um grande acúmulo, em todas as amostras, de material sólido particulado de coloração vermelho escuro depositado ao fundo das respectivas latas (recipientes próprios dos fabricantes). Em suspensão líquida apresentava-se um fluido de coloração semelhante ao sólido com uma estreita faixa de líquido mais translúcido o que sugere ser parte do material volátil responsável pela solubilização da tinta. 5.3.2 Análises de identificação de biocida A caracterização de tintas pode mostrar um padrão de materiais com potencial antiincrustante. Análise de propriedades físico-químicas de tintas é prática comum no setor uma vez que são indicadores de qualidade e de padronização de produtos. A norma ABNT NBR 15438:2006 apresenta método de ensaio para determinação de diferentes propriedades de tintas. O parâmetro de interesse foi a determinação do teor de pigmentos uma vez que estes são também os biocidas responsáveis pela ação antifouling. 52 As amostras recebidas foram identificadas por letras de A a J. Os resultados podem ser visualizados na tabela 5.IX. Tabela 5.IX: Resultados de teores de matéria volátil, não volátil e pigmentos para amostras de tintas antiincrustantes comerciais. Código da Teor de pigmentos amostra (%) A 53,65 + 0,22 B 54,77 + 0,20 C 60,77 + 0,20 D 59,19 + 0,20 E 27,67 + 0,01 F 60,72 + 1,49 G 49,91 + 1,96 H 61,88 + 2,85 I 56,20 + 0,01 J 71,20 + 2,76 A amostra de letra E não constitui tinta antiincrustante, mas um primer aplicado antes do revestimento final. Seu teor de pigmento é inferior aos teores das outras amostras. Outra observação é quanto a composição química deste material, o mesmo não é identificado como óxido de cobre I, pois resultado de difração de raios X (gráfico 5.20) não apresenta picos compatíveis com os pigmentos identificados para as amostras de tintas antifouling. Observase ainda com os valores obtidos na tabela 5.IX que as tintas antiincrustantes comerciais apresentam em sua composição cerca de 20% a 70% de pigmentos. Estes teores de biocida podem estar relacionados ao tempo de vida útil do material ou até mesmo a efetividade do efeito antifouling da tinta. Contudo a taxa de lixiviação deste biocida é dependente da resina utilizada na formulação (BALDISSERA, 2008). 53 5.3.3 Difração de raio X na caracterização de pigmentos de tintas. Os pigmentos extraídos das tintas antiincrustantes apresentaram característica muito semelhante ao óxido de cobre (I), Cu2O, devido à coloração vermelha característica deste óxido (figura 5.9). Espectros obtidos por difração de raios X (DRX) comparados a padrões do International Centre for Diffraction Data – 2000 JCPDS ® indicam que os picos encontrados são relacionados a óxido de cobre (I) - Cu2O, óxido de cobre (II) - CuO, óxido de zinco - ZnO e hidróxido de zinco - Zn(OH)2. Os espectros obtidos são referentes aos pigmentos das tintas e podem ser vistos nos gráficos 5.11 a 5.20. A tinta E (gráfico 5.20) trata-se de um primer para preparo de superfície e não de um revestimento antiincrustante. Os picos encontrados sugerem a presença de material amorfo e alguns picos de material cristalino. Figura 5.9: Óxido de cobre (I) em pó finamente dividido. (Imagem disponível em pt.wikipedia.org) 54 25000 25000 1+3 1 Tinta A 1-Zn(OH)2 2-Cu2O 3-ZnO 15000 Tinta D 20000 Intensidade Intensidade 20000 10000 1-Zn(OH)2 2- Cu2O 15000 10000 2 2+3 2 5000 2 211 1 1 5000 2 1 2 1 1 2 1 2 0 0 10 20 30 40 50 60 70 10 80 20 30 40 50 60 70 80 2 2 Gráfico 5.11: DRX do pigmento em pó da tinta A. Gráfico 5.14: DRX do pigmento em pó da tinta D. 16000 2 14000 1 8000 14000 2= Cu2O 12000 Intensidade Intensidade 12000 10000 16000 Tinta B 1= Zn(OH)2 1 6000 1 1 4000 2000 1 2 - Cu2O 10000 1 8000 6000 2 2 2 1 2000 2 Tinta F 1- Zn(OH)2 4000 2 1 2 1 1 0 0 10 20 30 40 50 60 70 10 80 20 30 40 50 60 Gráfico 5.12: DRX do pigmento em pó da tinta B. 25000 Tinta C 1+2 20000 1-Zn(OH2) Tinta G 1+2 1-Zn(OH)2 20000 Intensidade 2-Cu2O 15000 10000 2- Cu2O 15000 2 10000 2 2 5000 80 Gráfico 5.15: DRX do pigmento em pó da tinta F. 25000 1 70 2 2 Intensidade 2 1 2 2 1 2 1 2 5000 2 2 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 2 Gráfico 5.13: DRX do pigmento em pó da tinta C. 10 20 30 40 50 60 70 80 2 Gráfico 5.16: DRX do pigmento em pó da tinta G. 55 30000 2 Tinta H 25000 20000 Primer - Tinta E 2000 Intensidade Intensidade 3000 1-ZnO 2- Cu2O 15000 1+2 10000 2 1000 2 5000 2 2 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 2 0 30 60 90 2 Gráfico 5.17: DRX do pigmento em pó da tinta H. Gráfico 5.20: DRX do pigmento em pó extraído do primer penetrante, identificado como Tinta E. Tinta I 1+2 20000 1-Zn(OH)2 2- Cu2O Intensidade 15000 10000 2 2 5000 21 1 2 1 0 10 20 30 40 50 60 70 80 2 Gráfico 5.18: DRX do pigmento em pó da tinta I. 30000 Tinta J 1+3 25000 1-Zn(OH)2 2-Cu2O Intensidade 20000 3-ZnO 15000 10000 3 2+3 2 5000 2 0 10 20 30 40 50 60 70 80 2 Gráfico 5.19: DRX do pigmento em pó da tinta J. 56 5.3.4 Teste de adesão do mexilhão dourado em tintas Placas de teste foram preparadas seguindo o padrão tabuleiro de xadrez. As placas foram colocadas em água para retirada do excesso inicial de pigmentos da tinta, o que foi facilmente detectado pela coloração inicial da água do aquário de teste que tomou a coloração avermelhada. Após colocação dos organismos sobre o centro das placas foi observado se o organismo apresentava atividade (figura 5.10), e esta observação realizada nos períodos determinados do teste levaram em conta a abertura de concha para filtragem e a tentativa do organismo em se aderir ao material. Figura 5.10: Teste de avaliação de fixação do mexilhão dourado para tintas antiincrustantes (Tinta A) em placas tipo tabuleiro de xadrez com casas intercaladas de primer a base de flocos de vidro. No momento da colocação dos organismos sobre as placas de teste os mesmos apresentaram resposta imediata com o fechamento de concha. Este comportamento foi observado em todas as amostras de tintas. O fechamento de concha interrompe o processo de filtragem do animal. Após todos os períodos de observação o organismo permaneceu com o fechamento de concha e não houve lançamento de fios de bissos para ancoragem em nenhum dos materiais de teste. O mesmo estudo foi realizado simultaneamente, além de testes de campo com os mesmos materiais, pelo Instituto de Pesquisa de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM). Resultados foram divulgados pelo próprio grupo de pesquisa como relatório final dentro do Programa de Pesquisa para Controle do Mexilhão Dourado Limnoperna fortunei, nas Águas Jurisdicionais Brasileiras, número 507675/2004-5 do CNPq. 57 5.3.5 Polarografia Um parâmetro importante na voltametria de redissolução anódica de pulso diferencial é o valor da amplitude do pulso. A escolha adequada deste parâmetro implica na resolução do voltamograma, pois aumentando a amplitude do pulso aumenta-se o valor da corrente, sendo então maior a sensibilidade. A escolha da amplitude é um compromisso entre o aumento da sensibilidade e a perda de resolução. Geralmente escolhe-se um valor entre 10 e 100 mV (ALEIXO, 2003). Para as análises realizadas, utilizou-se 50mV por ser o valor mais indicado para processos eletródicos envolvendo dois elétrons. Outro parâmetro importante a ser determinado é a velocidade de varredura. No caso da voltametria de pulso diferencial o valor máximo que pode ser usado é de 10 mVs-1(ALEIXO, 2003). O valor que apresentou uma melhor resolução para os picos de cobre e zinco, foi de 2mVs-1. Os picos voltamétricos fornecem uma informação qualitativa que é o valor do potencial de pico (Ep) e uma informação quantitativa que é a corrente de pico (Ip). Para obtenção de uma curva de calibração normalmente constrói-se a partir dos valores das correntes de pico versus as concentrações da espécie eletroativa, correspondentes a eles. Outra alternativa que pode ser utilizada também é a área sob o pico versus a concentração. Esta situação gera melhores resultados quando ocorrem fenômenos de adsorção, por exemplo, alterando a forma do pico de uma medida para outra. Sendo assim, a altura muda, mas a área permanece constante. Não há uma regra definida para a escolha, de modo que ambas podem ser testadas para verificar qual delas é a mais adequada (TONIETTO, 2006.). Eletrólito de suporte é a solução na qual se adicionam as amostras já prontas para análise; sua principal característica é estabilizar a espécie, ou espécies, que são analisadas, além de proporcionar um aumento no coeficiente de difusão, isto é, permitir um aumento no grau de movimento dos íons na solução ou causar pouca resistência à migração dos mesmos. Isto significa que o eletrólito deve ter boa condutividade. Se possível este eletrólito deverá ter característica extra de inibir, com o efeito exatamente oposto ao descrito acima, possíveis interferências na análise. Como eletrólito foi utilizado solução tampão de acetato de sódio pH= 4,72. O oxigênio se dissolve em água pura, que está em contato com a atmosfera a 25 oC, para formar uma solução de concentração aproximadamente igual a 0,5mmolL-1. Nesta 58 concentração, a corrente obtida na redução catódica pode obscurecer o sinal analítico de interesse e, conseqüentemente, deve ser removido antes de se executar as medidas voltamétricas através do borbulhamento com nitrogênio. Construção de curvas padrão dos íons Zn2+ e/ou Cu2+ Os voltamogramas obtidos apresentaram picos de curvas (figura 5.11). As alturas desses picos aumentaram progressivamente devido às adições dos padrões a cada leitura, pois esta altura da onda, no voltamograma, aumenta com a concentração da espécie, que é proporcional à corrente de difusão. Com o software Origin®, assinalou-se o valor máximo da corrente de difusão de cada curva, associando estes valores com os valores da concentração do padrão após a sua adição à solução. Com estes dois valores, plotaram-se os gráficos corrente de indução versus concentração dos padrões, em g/L, referentes a cada íon metálico em solução (figura 5.12). Figura 5.11: Voltamogramas referentes às adições sucessivas das soluções padrão de Zn2+ e Cu2+, consecutivamente. 59 Figura 5.12: Gráficos de corrente de indução versus concentrações de Zn2+ e Cu2+ nas soluções padrões, consecutivamente. Os voltamogramas de cada uma das 10 amostras apresentaram picos referentes aos valores máximos de corrente de difusão para cada um dos quatro tempos de coleta. As correntes de difusão obtidas eram proporcionais à concentração de cada um dos íons (Zn2+ e Cu2+), e a partir das correlações lineares dos gráficos apresentados na figura 5.17, determinaram-se as concentrações destes íons em cada uma das 10 amostras. A seguir são apresentados os gráficos com a variação da concentração dos íons Zn2+ e Cu2 nos diferentes tempos de coleta, e as tabelas com os respectivos valores de concentrações para cada uma das 10 amostras analisadas a partir de voltamogramas obtidos nas análises (figura 5.13 a 5.22). 60 400 400 Tinta A Tinta C [Zn2+] [Cu2+] -1 -1 Concentraçao (g L ) Concentraçao ions (g L ) [Zn2+] [Cu2+] 300 200 100 300 200 100 0 0 0 20 40 60 -5 0 5 10 Tempo (h) 10,82236 14,73249 19,50328 26,31809 1 15 24 48 Figura 5.13: Variação 20 25 30 35 40 45 50 Tempo (h) [Zn2+](gL-1) [Cu2+](gL-1) Tempo (h) 15 Tempo (h) [Zn2+](gL-1) [Cu2+](gL-1) 1 15 24 48 3,742 23,955 105,985 110,847 31,222 184,578 296,223 345,285 42,84095 45,3873 72,18418 371,71681 das concentrações de Zn2+ e Cu2+ com o Figura 5.15: Variação tempo de coleta na tinta A. das concentrações de Zn2+ e Cu2+ com o tempo de coleta na tinta C. 400 400 Tinta B [Zn2+] [Cu2+] -1 Concentraçao ions (g L ) Tinta D [Zn2+] [Cu2+] -1 Concentracao (g L ) 300 200 100 300 200 100 0 0 0 20 40 0 60 [Zn2+](gL-1) [Cu2+](gL-1) 1 15 24 48 18,27024 18,10473 17,29788 26,42153 42,21121 45,27778 81,54817 369,5264 Figura 5.14:Variação das concentrações de Zn2+ e Cu2+ com o tempo de coleta na tinta B. 40 60 Tempo (h) Tempo (h) Tempo (h) 20 Tempo (h) 1 15 24 48 [Zn2+](gL-1) [Cu2+](gL-1) 7,65701 14,64974 18,78745 35,23485 40,73268 47,33128 72,12942 375,00241 Figura 5.16: Variação das concentrações de Zn2+ e Cu2+ com o tempo de coleta na tinta D. 61 400 [Zn2+] [Cu2+] 300 Tinta G [Zn2+] [Cu2+] -1 Concentraçao ions (g L ) -1 Concentraçao ions (g L ) Tinta E- Primer 200 0 0 20 40 200 100 60 0 Tempo (h) 0 20 40 60 Tempo (h) [Zn2+](gL-1) [Cu2+](gL-1) Tempo (h) 1 15 0,27119 9,58104 1,95975 2,11308 24 48 27,35665 42,82755 87,57179 369,2526 Figura 5.17: Variação [Zn2+](gL-1) [Cu2+](gL-1) Tempo (h) das concentrações de Zn2+ e Cu2+ com o tempo de coleta na tinta E. 7,18117 8,89832 22,63346 40,32424 1 15 24 48 39,96604 56,50087 113,32823 299,24173 Figura 5.19: Variação das concentrações de Zn2+ e Cu2+ com o tempo de coleta na tinta G. 400 [Zn2+] [Cu2+] Tinta H 1200 [Zn2+] [Cu2+] -1 Concentraçao ions (g L ) -1 Concentraçao ions (g L ) Tinta F 200 0 0 20 40 600 0 60 Tempo (h) 0 20 40 60 Tempo (h) Tempo (h) [Zn2+](gL-1) [Cu2+](gL-1) 1 15 0,70565 8,27767 2,72365 3,5916 24 48 15,10489 37,11751 73,82699 365,96699 Figura 5.18: Variação das concentrações de Zn2+ e Cu2+ com o Tempo (h) 1 15 24 48 [Zn2+](gL-1) [Cu2+](gL-1) 2,0711 9,2914 20,25013 38,35883 28,28 14,82 271,64 1268,75 tempo de coleta na amostra F. 62 Figura 5.20: Variação das concentrações de Zn2+ e Cu2+ com o tempo de coleta na tinta H. 400 [Zn2+] [Cu2+] -1 Concentraçao ions (g L ) Tinta J 400 [Zn2+] [Cu2+] -1 Concetraçao ions (g L ) Tinta I 200 200 0 0 20 40 60 Tempo (h) 0 0 20 40 60 Tempo (h) [Zn2+](gL-1) [Cu2+](gL-1) Tempo (h) Tempo (h) 1 15 24 48 1 15 24 48 [Zn2+](gL-1) [Cu2+](gL-1) 2,09179 10,22239 20,52529 34,71764 1,90225 2,6552 5,91891 368,9788 2,54694 2,98139 7,76045 34,28318 0,31968 2,46354 2,65246 372,26441 Figura 5.22: Variação das concentrações de Zn2+ e Cu2+ com o tempo de coleta na amostra J Figura 5.21: Variação das concentrações de Zn2+ e Cu2+ com o tempo de coleta na tinta I. Todas as amostras apresentaram liberação de íons Zn2+ e Cu2+ contudo comportamentos diferentes quanto à variação das concentrações foram observadas com o tempo de lixiviação. Na maioria das amostras, o aumento das concentrações não foi proporcional ao tempo de coleta. Muitas apresentaram aumentos pequenos de concentrações entre 1 a 24h e aumentos bruscos com 48h (como exemplo as tinta I e J). Segundo resolução CONAMA 357/05, os limites toleráveis em água doce de classe 3 são de 5mgL-1 para zinco total e de 0,013mgL-1 para cobre dissolvido. A liberação de íons Zn2+ foi de no máximo 0,111mgL-1 para 48h na tinta C. A liberação de íons Cu2+ foi alta principalmente quanto à tinta H com liberação de 1,269mgL-1 em 48 horas, o valor é cerca de quatro vezes superior as demais tintas testadas. Para cobre o valor mínimo encontrado foi de 0,299mgL-1 (amostra G, após 48h), valor bem acima do especificado pela resolução CONAMA 357/05. 63 No entanto, estes ensaios foram realizados em amostras de água deionizada, sem a presença de matéria orgânica. O fato de ser constatada a existência de metais pesados em águas marinhas ou em rios não significa que o mesmo esteja biodisponível para as espécies do meio já que para isso o metal precisa estar em sua forma iônica livre. Em ambientes aquáticos, os metais podem ser encontrados na forma de íons hidratados livres, complexados por ligantes orgânicos e inorgânicos ou ainda na forma sólida, devido às várias associações com sedimentos e com o material particulado suspenso. Os efeitos tóxicos devido à presença de metais pesados no ambiente aquático são reduzidos pela presença de ligantes naturais que formam complexos tornando-os não biodisponíveis. A liberação dos íons Zn2+ e Cu2+ nas amostras pode ter sido ocasionada por fenômenos de adsorção e desorção ou por diferença de potencial químico pelas amostras terem sido coletadas a partir de água deionizada, ocorrendo migração dos íons para atingir o equilíbrio químico. 64 6 CONCLUSÃO O estudo de superfícies associado ao modo de adesão dos organismos de interesse contribui para o desenvolvimento de novos materiais de engenharia com potencial antiincrustante. O estudo da força de desligamento em diferentes materiais mostra que materiais com menores valores de energia superficial apresentam menor afinidade com o modo de adesão do mexilhão dourado como pode ser observado para o Teflon em relação ao vidro. A adesão do organismo é influenciada pelo número de filamentos de bissos que o organismo é capaz de lançar para fixação. O organismo em uma tentativa de adaptação ao meio lança maior número de fios de bissos sobre o material Teflon. O equipamento de tração construído para os ensaios de força de desligamento do mexilhão dourado em materiais apresentou facilidade de teste, além de ser totalmente automatizado, o que diminui a probabilidade de erros por operação de diferentes analistas. A facilidade de transporte do equipamento também possibilita que os ensaios sejam realizados no laboratório de biosegurança ou ainda em campo. A análise polarográfica é de grande valia para a quantificação de substâncias eletroredutíveis ou eletro-oxidáveis em solução. Primeiro, por ser uma técnica onde a análise é feita por método instrumental, o que diminui os erros de repetibilidade, além de ser automatizada. Segundo, por apresentar sensibilidade para medir baixas concentrações dos metais, como os que foram analisados nas amostras investigadas. Em terceiro lugar, por ser realizada com aparelho de fácil manejo, quase todo automatizado, cabendo ao analista somente escolher parâmetros de análise e fazer as adições das soluções. O valor máximo encontrado para zinco nas amostras foi inferior ao valor limite estabelecido pela resolução CONAMA 357/05. Para cobre, o valor mínimo encontrado foi bem acima do especificado pela resolução CONAMA 357/05. Constatou-se que as tintas antiincrustantes utilizadas comercialmente para pintura de embarcações possuem os metais pesados em suas composições e têm potencial de contaminação de águas por liberação destes metais. 65 7 RELEVÂNCIA DOS RESULTADOS Foi construído um equipamento para medida da força de desligamento de organismos bem como um software para a aquisição dos dados. Os resultados de força de desligamento do mexilhão dourado por meio do equipamento de tração construído mostram eficiência no estudo de tração de organismos em materiais com menor custo de ensaio. O equipamento pode ainda ser dimensionado para estudo de tração compressão de materiais frágeis que necessitem de cargas inferiores a três quilogramas força. Os estudos de voltametria mostram que a técnica pode ser eficiente em estudos de emissão de biocidas para materiais antiincrustantes. 66 8 SUGESTÃO PARA TRABALHOS FUTUROS Sugere-se o estudo de força de desligamento do bisso do mexilhão dourado em materiais à base de cobre e em placas de cobre com variações de concentração do íon lixiviado (Cu2+) em relação ao sistema de água. Avançar nos estudos de força de desligamento com a influência de biofilmes em sistemas com emissão de íons de cobre, bem como realizar análises em campo para a força de desligamento. Aprofundar o estudo de tintas antiincrustantes com a utilização de água com diferentes valores de salinidade e ainda com água dos rios onde o organismo é identificado como invasor. Investigar a capacidade de complexação dos íons cobre, principal biocida utilizado em recobrimentos antiincrustantes, por matéria orgânica como modo de identificar a contaminação aquática em locais de infestação do mexilhão dourado. 67 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACKERMAN, J.D.; COTTRELL, C.M.; ETHIER, C.R.; ALLEN, D.G. e SPELT, J.K., Attachment strength of Zebra mussels on natural, polymeric, and metallic materials, Journal of environmental engineering, Fevereiro 1996. ALMEIDA E., DIAMANTINO T., SOUSA O. Breve História das Tintas Antivegetativas. Corros. Prot. Mater., vol. 26, nº 1 (2007). AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM B 117 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Adesivos – Determinação da resistencia da colagem – ABNT NBR 10456:2004. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Ecotoxicologia aquáticatoxicidade aguda - método de ensaio com Daphnia spp (Crustacea, Cladocera) - ABNT NBR 12713:2004. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 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L; DUARTE M.S.C. Estudo morfológico das estruturas envolvidas no mecanismo de adesão do Limnoperna fortunei (Dunker, 1857). Artigo Aceito em 18 de maio de 2012: Revista Agrogeoambiental. Instituto Federal do Sul de Minas (ISSN 1984-428X). CHADID, N. M. P.; DUARTE, M. S. C. ; FERREIRA, H. L. M. ; BRANCO, J. R. T.. Estrutura da Comunidade Microfaunistica de Biofilme em Diferentes Materiais. II SIMPÓSIO MINEIRO DE CIÊNCIAS DOS MATERIAIS. Ouro Preto, Brasil. 2007 CUSTODIO G.; DUARTE, M. S. C.; BRANCO, J. R. T.. Desempenho de tintas antiincrustantes medido por voltametria em função do tempo. II SULMEX ENCONTRO SUL AMERICANO DE INTEGRAÇÃO DE AÇÕES PARA O CONTROLE DO MEXILHÃO DOURADO. Parque Tecnológico de Itaipu, Foz do Iguaçu, Brasil. 2007. DUARTE, M. S. C.; BRANCO, J. R. T. . Características químicas e físicas de tintas antiincrustantes comerciais. II SULMEX ENCONTRO SUL AMERICANO DE INTEGRAÇÃO DE AÇÕES PARA O CONTROLE DO MEXILHÃO DOURADO. Parque Tecnológico de Itaipu, Foz do Iguaçu, Brasil. 2007. FROES, C. L.; DUARTE, M. S. C.; BRANCO, J. R. T.; PATRICIO, F. C.. Estudo da força de desligamento e padrões de rompimento do bisso do Limnoperna Fortunei (Dunker 1857) em materiais com diferentes energias de superfície. II SIMPÓSIO MINEIRO DE CIÊNCIAS DOS MATERIAIS. Ouro Preto, Brasil. 2007. 75 10 Anexos 10.1 Anexo A: Projeto mecânico de equipamento construído para medida de força de desligamento do mexilhão dourado. 76 10.2 Anexo B: Tabela de tintas antiincrustantes com orientações dos respectivos fornecedores. Tinta Temperatura de Umidade de aplicação aplicação A 25ºC Menor que 85% Método de aplicação Preparo de superfície Intervalo de Espessura de camada seca Tempo mínimo e repintura máximo de alagamento com 6horas a 3meses 125 microns 12horas a 3 meses Airless, trincha e rolo B 25ºC * Trincha Superfície seca primer apropriado Superfície limpa e livre 6horas de porosidade com selante apropriado C 25ºC * Trincha D 25ºC * F Entre 10º e 40ºC G 100 microns 10horas a 10 dias Superfície limpa e livre 6horas de porosidade com selante apropriado 100 microns 10horas a 10 dias Trincha Superfície limpa e livre 6horas de porosidade com selante apropriado 100 microns 10horas a 10 dias Menor que 80% Airless, trincha e rolo 60 a 90 microns 24 a 72 horas * * Trincha ou rolo Superfície seca com 6 horas primer apropriado * 6 horas * 24horas a 20 dias H * * Trincha ou rolo * 6 horas * 24horas a 20 dias I * * * * * * * J * * * * * * * K 25ºC Menor que 80% Trincha ou airless Superfície limpa, seca e Aplicação única * com primer apropriado. * *Informações não citadas pelos fornecedores. 77