Artigos Técnicos Sistema Digital de Controle Distribuído: robustez e alta disponibilidade Flávio Bemelmans, Supervisor de Engenharia de Aplicação da Yokogawa América do Sul. Sistema aberto Os aqui chamados Sistemas Digitais de Controle Distribuído – SDCDs (originalmente DCS – Digital Control System) tiveram suas primeiras aplicações a partir dos anos 70, tornando-se amplamente utilizados nos anos 80 com a proposta de controlar e otimizar processos de produção, reduzindo as intervenções do operador no controle do processo, aumentando a estabilidade operacional. Nos anos 90, os critérios de redução de custo e gestão empresarial tornaram-se importantes e, assim, os requisitos dos clientes mudaram para a busca pela melhor solução em sistemas de gestão (ou ERPs - Enterprise Resource Planning) e sistemas de logística (ou SCMs – Supply Chain Management). As demandas de hoje incluem arquitetura aberta e redução de custos, que são ainda necessidades essenciais, mas a interação com sistemas de gerenciamento de informações é o mais importante e um problema atual. Até meados da década de 80, os SDCDs utilizavam microprocessadores de 16 bits. A garantia de robustez e desempenho era sustentada por sistemas operacionais e dispositivos eletrônicos proprietários, especialmente desenvolvidos pelo fabricante do sistema de controle. Esse esquema, entretanto, constituía uma arquitetura fechada que desagradava aos usuários. Com a evolução dos microprocessadores, os SDCD adotaram o sistema operacional Unix como ponte para troca de informações através da rede corporativa do usuário. Ao final da década de 90, a robustez atingida pelas máquinas compatíveis com IBM-PC, aliada à estabilidade comprovada pelo sistema operacional da Microsoft, tornou a dupla Windows-Intel a especificação de hardware padrão para os dispositivos de interface homem-máquina (IHM) dos sistemas de automação e controle. A plataforma Windows abriu para o mercado de automação de processo as mais variadas soluções de análise e gerenciamento desenvolvidas sobre tecnologias de informação (TI) emergentes ao custo de aplicação de escritório. Hoje o SDCD é um sistema aberto que adota padrões de fato e tecnologias emergentes tanto de TI quanto da indústria de automação. Do lado de TI, os navegadores Web aliados a componentes Active-X e controles Java permitem visualização remota e ininterrupta do processo produtivo. A tecnologia OPC (OLE para Controle de Processo) viabiliza a troca de informações com sistemas Midleware PIMS/LIMS – Sistemas de Gerenciamento de Informações de Planta e Laboratório, ou com os corporativos como SCM/ERP – Logística de Vendas e Suprimentos e Gestão de Recursos. Do lado da indústria, a referência são os protocolos de campo Fieldbus Foundation, Profibus, Hart, além de muitas outras interfaces sobre RS232, RS485 e Ethernet, que garantem a conectividade entre o SDCD, a instrumentação inteligente e os demais equipamentos (balanças, CCMs, etc) existentes na planta. Confiabilidade O aspecto mais essencial do SDCD vem de seu projeto. Os administradores de plantas e fábricas reconhecem que o sistema de controle não deve parar por qualquer tipo de problema ou anormalidade na planta. Paradas inesperadas causam atrasos de produção e, conseqüentemente, perda de negócios e crédito junto aos seus clientes, ocasionando sérios prejuízos financeiros. Além da robustez de cada parte individual, o SDCD usa arquitetura tolerante a falhas. A redundância total entre módulos garante a operação ininterrupta em cada uma das três fases associadas à falha de um componente. 1. Detecção: Funções de autodiagnóstico em cada módulo do sistema detectam a anormalidade e informam a operação no espaço de um segundo, mesmo que diversas falhas ocorram ao mesmo tempo. 2. Recuperação: O chaveamento do controle ente módulos redundantes é realizado dentro de um segundo, garantindo que a aplicação (controle de seqüência e regulatórios) não seja afetada pela anormalidade detectada. 3. Manutenção: O módulo defeituoso deve ser trocado por um novo. A característica de troca à quente (hot -swap) e on-line de módulos do SDCD garante, ao final de tudo, o retorno do sistema à condição normal de operação sem que qualquer variação no processo possa ser notada. A redundância é uma concepção de projeto e diferente de configuração dual. Isso significa que não são usados relês ou outros componentes externos para a realização do chaveamento, bem como nenhum esforço adicional de engenharia de configuração. Blocos de função para controle regulatório e seqüencial É vital assegurar a confiabilidade do controle, independente do processo ser caracterizado como contínuo ou de batelada (batch). No SDCD todas as aplicações de controle e execução de seqüências residem nas estações de controle redundantes. O desenvolvimento da aplicação no SDCD pode ser realizado através de diversas ferramentas (ou linguagens), entre as quais, os blocos de função são os mais comuns. Qualquer lógica de controle, seqüência ou intertravamento pode ser implementada através da parametrização e conexão desses blocos. São blocos diversos, inteligentes e versáteis, que permitem a configuração da estratégia de controle de forma fácil e rápida. A incorporação de filtros de entrada, funções de conversão e controle de alarme nesses blocos propicia confeccionar um diagrama de controle limpo, porém eficaz. A adoção do modelo S88 para padronização da estrutura da linguagem e controle de processo de batelada traz benefícios específicos a esse tipo de aplicação. Caracterizada por freqüentes modificações, a modularidade e reusabilidade impostas pela norma de maneira transparente permitem racionalizar a engenharia, diminuindo o custo associado ao longo de seu ciclo de vida. Engenharia eficiente e confiável Do ponto de vista do esforço de engenharia, a abordagem dada às ferramentas de configuração de projetos em sistemas SDCD traz o benefício de redução de custo de desenvolvimento em cada uma das etapas do processo: configuração, validação e carga. 1. Configuração concorrente: A ferramenta permite que um único PC comporte vários projetos e que cada projeto possa ser compartilhado por mais de um engenheiro. Dessa maneira, projetos grandes podem ser divididos em partes e configurados paralelamente, diminuindo o tempo total de implementação. 2. Teste virtual e simulação: Novamente, a confiabilidade da aplicação reside na capacidade de gerar aplicações livres de erros. A função de teste virtual possibilita a depuração das funções de controle, sem que qualquer estação de controle esteja realmente disponível. A estação de engenharia dispara um simulador de controlador em memória e todas as entradas e saídas de sinal são virtualmente executadas. Uma interface especial para testes permite adicionar formas de onda específicas ou atrasos entre blocos para simulação realística do processo, sem a necessidade de alterações no diagrama lógico original. 3. Modificações on-line: Como já citado, o processo produtivo deve ser ininterrupto para não gerar prejuízos financeiros. Ao longo do tempo, entretanto, pequenas modificações (às vezes grandes) são necessárias para que o controle se mantenha alinhado às variações do processo e/ou do mercado. A capacidade de o SDCD realizar alterações na configuração sem exigir a parada do controlador garante que as duas exigências acima sejam satisfeitas. Suíte de soluções integradas A tecnologia associada ao SDCD não está limitada tão somente às funções de controle do processo. Existe uma suíte de produtos e soluções apoiadas sobre o núcleo de controle, que pode ser a responsável por adicionar o diferencial competitivo esperado. 1. Modelamento da planta orientado ao negócio: Informações do processo são agrupadas e relacionadas com informações de negócio. Qualidade e produtividade são relacionadas com logística e finanças, possibilitando que uma série de análises possam ser executadas, tais como balanço de massa e energia, contabilidade e planejamento de produção, monitoração da capacidade e eficiência produtiva, monitoração e controle da qualidade produtiva e ambiental, entre outros. 2. Assistência operacional avançada: Em reposta aos desafios de competição pela sobrevivência, o SDCD criou o conceito de “ciclo de aumento da eficiência operacional” decomposta em três estágios (identificados por três ferramentas): A análise dos eventos de alarmes de processo contra os eventos e ações operacionais identifica limites de alarmes mal dimensionados ou redundantes, bem como operação excessiva ou inadequada. A criação de Procedimentos Operacionais Padrão automáticos, semi-automáticos ou manuais, através da experiência real dos operadores, auxilia na uniformização do padrão de qualidade operacional num patamar elevado. A incorporação de sistemas de treinamento dedicados, através das funções básicas de teste virtual (já citada anteriormente), ou por meio de simuladores dinâmicos de processo on-line ou off-line auxiliam na manutenção da eficiência operacional. 3. Controle avançado, otimização e predição: O controle regulatório convencional mostra-se incapaz de atender às exigências de racionalização de recursos e, ao mesmo, tempo garantir a qualidade e os volumes mínimos de produção. A técnica de controle multivariável possibilita o modelamento de planta com alta precisão, permitindo a compensação de distúrbios não mensuráveis. A técnica de otimização usa a associação de valores às matérias-primas para parametrizar o controle do processo em função do menor custo. Quando o processo de verificação da qualidade do produto final toma mais tempo do que o permitido, as técnicas de modelo linear de regressão múltipla ou modelo não linear de rede neural realizam a estimativa da qualidade de modo racional e de baixo custo. Conclusão Os SDCDs são adequados para uma vasta lista de segmentos industriais, tais como: refino de óleo, petroquímico, químico, papel & celulose, vidro, farmacêutico, alimentício & bebidas, energia, ferro & aço e, tratamento & suprimento de água. O SDCD contribui da maneira mais otimizada possível para o controle e operação desses tipos de plantas, através de soluções estado da arte em suas várias camadas de aplicações – do controle ao gerenciamento. Seu núcleo de controle é desenvolvido visando robustez e alta disponibilidade. O controle pode se distribuir de modo consistente por subsistemas inteligentes usando conexões com tecnologias padrão de fato da indústria. A operação e a monitoração são eficientes e usam tecnologias emergentes de TI. Ferramentas de assistência operacional e controle avançado aumentam o desempenho e a qualidade da planta. Finalmente, o modelamento orientado ao negócio relaciona os dados de processo aos dados corporativos, proporcionando análises que levam ao diferencial competitivo esperado.