0 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ FERNANDA AMABILE DA SILVA RODRIGO XAVIER MATOS VISÃO SOBRE A CONSULTA ODONTOLÓGICA DE CRIANÇAS ATENDIDAS NA CLÍNICA DE ODONTOPEDIATRIA DA UNIVALI: estudo qualitativo. Itajaí 2012 1 FERNANDA AMABILE DA SILVA RODRIGO XAVIER MATOS VISÃO SOBRE A CONSULTA ODONTOLÓGICA DE CRIANÇAS ATENDIDAS NA CLÍNICA DE ODONTOPEDIATRIA DA UNIVALI: estudo qualitativo. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial à obtenção do título de cirurgião-dentista, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências da Saúde Orientadora: Profª.MSc Elisabete Rabaldo Bottan Itajaí 2012 2 FERNANDA AMABILE DA SILVA RODRIGO XAVIER MATOS VISÃO SOBRE A CONSULTA ODONTOLÓGICA DE CRIANÇAS ATENDIDAS NA CLÍNICA DE ODONTOPEDIATRIA DA UNIVALI: estudo qualitativo. Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para a obtenção do título de cirurgião-dentista e aprovado pelo Curso de Odontologia, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências da Saúde. Área de concentração: Odontologia Social e Coletiva. Itajaí, XX de setembro de 2012. Profª MSc Elisabete Rabaldo Bottan UNIVALI – CCS – Curso de Odontologia Orientadora Profa. MSc Beatriz Helena Eger Schmitt UNIVALI – CCS – Curso de Odontologia Membro Profa. MSc Eliane Garcia da Silveira UNIVALI – CCS – Curso de Odontologia Membro 3 DEDICATÓRIA Dedicamos este trabalho aos nossos pais, que tanto se esforçaram para que conseguíssemos chegar até aqui. Fernanda e Rodrigo 4 AGRADECIMENTOS Ao longo de nossa trajetória acadêmica, muitas pessoas nos incentivaram, ou de algum modo, nos ajudaram a chegar até aqui. Para que não haja nenhuma injustiça, causada pelo esquecimento que ocorre pela emoção deste momento, que é tão importante para nós, e para que ao nos alonguemos demais, deixamos desde já nosso muito obrigado a todos. Porém, existem aqueles que precisam ter seus nomes citados, em nosso agradecimento, e todos compreenderão o porquê. Agradecemos primeiramente a Deus, porque nos deste a força e a coragem necessária em nossa caminhada. Agradecemos aos nossos pais, que sempre foram nosso porto seguro, que nos ensinaram os valores e o que de mais importante devemos priorizar em nossas vidas e que, além disso, nos criaram com todo amor e carinho que puderam nos dar, incondicionalmente. Modéstia a parte, se hoje estamos aqui, prestes a nos formar, foi porque realizaram um ótimo trabalho. São nossos heróis maiores, nossos exemplos de vida e vocação. Agradecemos também aos nossos padrinhos, familiares, pessoas especiais, que estiveram sempre nos ajudando, nos momentos em que mais precisávamos. Agradecemos também aos nossos amigos: Angélica, Francine, Karina, Luiza e Julia e a todos os outros que não citamos aqui, por que senão este texto ficaria extremamente longo. Agradecemos a Adalina, a Renata e a Magatha, que tanto nos ajudaram durante a etapa de pesquisa, e que voluntariamente se doaram também para que o nosso trabalho tivesse êxito. Agora, como não agradecer a nossa querida orientadora Bete, por seus puxões de orelha, seus conselhos e palavras sempre muito bem colocados. Obrigada, saiba que temos muito orgulho de dizer que fostes nossa orientadora neste trabalho de conclusão de curso, mas, muito mais do que isso temos orgulho de te chamar de amiga. Fernanda Amábile da Silva e Rodrigo Xavier Matos. 5 Agradeço também aos nossos amigos: Angélica, Francine, Karina, Luiza e Julia e a todos os outros que não citamos aqui, por que senão este texto ficaria extremamente longo. E também quero agradecer ao meu namorado Everton, que me apoiou sempre, e que estava sempre disposto a me ajudar, até mesmo a escanear os desenhos, quando era preciso. E, finalmente, agora tomo a palavra, para agradecer ao meu parceiro de TCC, por ter se esforçado e se preocupado tanto quanto eu, para fazer deste trabalho, um bom trabalho, cujo qual nós pudéssemos nos orgulhar de termos feito. Nossas qualidades e aptidões, sem dúvidas são diferentes, mas durante a confecção deste trabalho, percebemos que, de alguma forma se completavam. Pois quando há respeito mútuo e consideração pelo outro, as diferenças não atrapalham, mas sim, somam e trazem resultados surpreendentes. Broncas, discussões e birras fazem parte de uma amizade, assim como o fazem as risadas e brincadeiras. Amigos não precisam concordar em tudo, nem precisam pedir desculpas a cada palavra mal dita. Amigos precisam apenas compreender o outro e estar lá para o que der e vier, porque lembranças de momentos ruins e brigas passam, e o que fica são as coisas boas que guardamos um do outro. Obrigado, Rodri, pelos momentos que passamos juntos, seja nos preocupando com coisas que não fazíamos ideia de como resolver, seja rindo de nossas próprias trapalhadas. Saiba que não poderia ter escolhido parceiro mais desorganizado e estressante, mas também que daria mais certo como minha dupla de TCC. Fernanda Amábile da Silva Queria frisar aqui que conviver, como com qualquer um, é uma arte que requer paciência, compreensão e dedicação, portanto não há como não deixar de agradecer principalmente à minha dupla e grande amiga Fernanda, por ter me aturado, durante esses quatro anos de amizade. Obrigado por fazer parte desse momento marcante de minha vida; fiz muitos amigos durante esses anos, mas você, Fê, sabe que foi a primeira. Nunca esqueço, eu vim de transferência e fiquei perdido no bloco 24, até que te encontrei, e nesse momento começou nossa grande amizade. Brigamos, rimos muito, quebramos porta de vidro, dançamos muito, festamos, corremos e nos escondemos da Prof. Bete, enfim nos divertimos como crianças e se for contar todas as 6 atrapalhadas que já passamos, daria um livro. Tudo isso vai deixar uma enorme saudade, obrigado por tudo, Fê. Mas também não há como não lembrar e mencionar as minhas amigas, Francine, Karina, Júlia, e minha irmã de coração e dupla de clínica, Angélica. Agradeço-as por fazerem dos meus dias mais valorosos e memoráveis com as tantas risadas, encrencas que vocês me meteram e tantos outros fatos que não tenho como esquecer, como os almoços na UNIVALI, as baladas na Wood's e na Shed, a diversão quando fomos ao Beto Carreiro, o Interodonto, que deixou muitas boas lembranças, e que vão deixar um vazio de saudade muito grande, porém não vão nos separar, porque "as amizades verdadeiras, a distância fortalece", e vocês não vão se ver livres de mim assim tão fácil. Rodrigo Xavier Matos 7 RESUMO VISÃO SOBRE A CONSULTA ODONTOLÓGICA DE CRIANÇAS ATENDIDAS NA CLÍNICA DE ODONTOPEDIATRIA DA UNIVALI: estudo qualitativo. Acadêmicos: Fernanda Amábile da SILVA; Rodrigo Xavier MATOS Orientadora: MSc Profa. Elisabete Rabaldo BOTTAN Resumo Objetivo: Conhecer a visão de crianças sobre a consulta odontológica. Método: Estudo exploratório, com abordagem qualitativa, tendo como população-alvo as crianças em atendimento na Clínica de Odontopediatria da Univali, no período de outubro de 2011 a maio de 2012. Para a coleta dos dados, foi utilizada a técnica do desenho-estória com tema, quando foi obtido um corpus, em substituição a uma amostragem representativa. O número de crianças foi delimitado pela saturação dos dados. Para a estruturação dos dados, foram consideradas quatro categorias, desdobradas em subcategorias. A análise dos dados foi efetuada com base na técnica de análise temática de Bardin. Resultados: Foram consideradas 162 evocações. A categoria Ambiente Odontológico foi a que mais apareceu, com 52,5%, sendo que as categorias Tratamento Odontológico, Imagem do CD e Manifestações Comportamentais obtiveram, respectivamente, as seguintes frequências: 13,6%, 16,1% e 17,9%. Das subcategorias correspondentes à categoria Ambiente Odontológico, a mais representativa foi Material/Instrumental/Equipamentos, correspondendo a 23,5% evocações. Na categoria Tratamento Odontológico, 10,5% das evocações eram a respeito da subcategoria Preventivo, concordando com a subcategoria Humanizada, presente na categoria Imagem do CD, que recebeu 14,2% das evocações. Por fim, na categoria Manifestações Comportamentais, a evocação positiva em relação ao profissional que a atendia e a consulta odontológica apareceu com 16,0% em relação à posição negativa que apresentou 1,9% de evocações. Conclusão: Com os resultados obtidos percebeu-se a importância que tem o ambiente odontológico, na construção da visão que criança tem sobre a 8 consulta odontológica, e o quanto há necessidade de que este seja receptivo a ela. Outro dado importante encontrado é a correlação que há entre a visão humanizada e positiva do dentista e da consulta odontológica com o aumento da perspectiva preventiva incutida nelas. Concluindo assim que a criança possui uma visão preventiva e positiva a respeito do dentista e da consulta odontológica. Palavras-chaves: Assistência Odontológica Integral; Odontologia para Crianças; Saúde Bucal. Projeto financiado pelo Programa ProBIC/Universidade do Vale do Itajaí de Iniciação Científica 9 SUMÁRIO ARTIGO................................................................................................. 10 REVISÃO DE LITERATURA................................................................. 29 10 ARTIGO 11 VISÃO SOBRE A CONSULTA ODONTOLÓGICA DE CRIANÇAS ATENDIDAS NA CLÍNICA DE ODONTOPEDIATRIA DA UNIVALI: estudo qualitativo. Fernanda Amábile da Silva Bolsista de Iniciação Científica; Integrante do Grupo de Pesquisa Atenção à Saúde Individual e Coletiva em Odontologia da UNIVALI. Rodrigo Xavier Matos Bolsista de Iniciação Científica; Integrante do Grupo de Pesquisa Atenção à Saúde Individual e Coletiva em Odontologia da UNIVALI. Elisabete Rabaldo Bottan MSc em Educação e Ciências; Integrante do Grupo de Pesquisa Atenção à Saúde Individual e Coletiva em Odontologia da UNIVALI. Endereço para Correspondência: Profa. Elisabete Rabaldo Bottan Av. Atlântica, 1020, ap. 1801- CEP: 88330-006 - Balneário Camboriú – SC E-mail: [email protected] - Fone/Fax (47) 33417564. 12 VISÃO SOBRE A CONSULTA ODONTOLÓGICA DE CRIANÇAS ATENDIDAS NA CLÍNICA DE ODONTOPEDIATRIA DA UNIVALI: estudo qualitativo. Resumo Objetivo: Conhecer a visão de crianças sobre a consulta odontológica. Método: Estudo exploratório, com abordagem qualitativa, tendo como população-alvo as crianças em atendimento na Clínica de Odontopediatria da Univali, no período de outubro de 2011 a maio de 2012. Para a coleta dos dados, foi utilizada a técnica do desenho-estória com tema, quando foi obtido um corpus, em substituição a uma amostragem representativa. O número de crianças foi delimitado pela saturação dos dados. Para a estruturação dos dados, foram consideradas quatro categorias, desdobradas em subcategorias. A análise dos dados foi efetuada com base na técnica de análise temática de Bardin. Resultados: Foram consideradas 162 evocações. A categoria Ambiente Odontológico foi a que mais apareceu, com 52,5%, sendo que as categorias Tratamento Odontológico, Imagem do CD e Manifestações Comportamentais obtiveram, respectivamente, as seguintes frequências: 13,6%, 16,1% e 17,9%. Das subcategorias correspondentes à categoria Ambiente Odontológico, a mais representativa foi Material/Instrumental/Equipamentos, correspondendo a 23,5% evocações. Na categoria Tratamento Odontológico, 10,5% das evocações eram a respeito da subcategoria Preventivo, concordando com a subcategoria Humanizada, presente na categoria Imagem do CD, que recebeu 14,2% das evocações. Por fim, na categoria Manifestações Comportamentais, a evocação positiva em relação ao profissional que a atendia e a consulta odontológica apareceu com 16,0% em relação à posição negativa que apresentou 1,9% de evocações. Conclusão: Com os resultados obtidos percebeu-se a importância que tem o ambiente odontológico, na construção da visão que criança tem sobre a consulta odontológica, e o quanto há necessidade de que este seja receptivo a ela. Outro dado importante encontrado é a correlação que há entre a visão humanizada e positiva do dentista e da consulta odontológica com o aumento da perspectiva preventiva incutida nelas. Concluindo assim que a criança 13 possui uma visão preventiva e positiva a respeito do dentista e da consulta odontológica. Palavras-chaves: Assistência Odontológica Integral; Odontologia para Crianças; Saúde Bucal. Introdução O atendimento odontológico de crianças é um campo que, apesar das inúmeras investigações, cujos resultados vêm sendo publicados nas duas últimas décadas, merece uma atenção especial. Notoriamente, a partir dos anos 70, no século passado, houve um significativo avanço no que diz respeito a equipamentos, procedimentos, técnicas, materiais, ampliação da oferta de cuidados para a criança, no entanto, os aspectos relativos às manifestações infantis frente ao tratamento odontológico, ainda, trazem uma série de inquietudes ao cirurgião-dentista. (ALVES, 2005; FIORAVANTE; MARINHOCASANOVA, 2009; POSSOBON et al., 2007) O contexto odontológico pode gerar ansiedade e, também, relacionar-se a padrões comportamentais de fuga ou esquiva. O manejo da criança no consultório odontológico, em algumas circunstâncias, se torna um grande desafio para o profissional. Estudos, em diferentes contextos socioculturais, demonstram que experiências negativas no consultório odontológico favorecem e reforçam a associação entre dentista, dor, sofrimento e, conseqüentemente, medo da consulta odontológica. (BOTTAN; DALL’ OGLIO; MARCHIORI, 2007; FIORAVANTE; MARINHO-CASANOVA, 2009; KLINGBERG; BROBERG, 2007; POSSOBON et al., 2007) Assim, a identificação de variáveis comportamentais relacionadas ao tratamento odontológico pode minimizar os comportamentos negativos dos pacientes infantis. Deste modo, o profissional da Odontologia deve considerar seu paciente como um ser integral, tomando decisões quanto ao tratamento baseadas não somente em aspectos técnicos, mas também em aspectos psicossociais inerentes ao paciente. 14 Metodologia A pesquisa caracteriza-se como uma investigação exploratória, com abordagem qualitativa. Os sujeitos do estudo foram crianças de 6 a 12 anos de idade, em atendimento nas Clínicas de Odontopediatria do curso de Odontologia da UNIVALI, no período de outubro de 2011 a maio de 2012. Considerando-se a abordagem qualitativa do estudo, optou-se pela construção de um corpus, em substituição a uma amostragem representativa. O corpus é delineado com base na linguagem (BAUER; AARTS, 2002) e, no caso desta pesquisa, ele foi estruturado a partir de textos (transcrição das falas) e desenhos. Assim, o número de crianças que integraram a pesquisa foi delimitado pela técnica da saturação dos dados. (BAUER; AARTS, 2002) Para a obtenção dos dados, foi utilizada a técnica do desenho-estória com tema. O desenho-estória com tema é uma técnica projetiva constituída pela associação de processos expressivos-motores (desenhos livres) e perceptivos dinâmicos (verbalização temática).(ALVES, 2005). O procedimento desta estratégia deu-se através dos seguintes passos. Inicialmente, foi solicitado à criança que elaborasse um desenho sobre o tema consulta odontológica. Posteriormente, ela foi convidada a falar espontaneamente sobre o seu desenho; eventualmente, foram inseridos tópicos com o objetivo de se fazer a conversa fluir naturalmente (ALVES, 2005; BAUER; AARTS, 2002). Nesta pesquisa, foram abordadas as vivências, os significados, as atitudes e os valores que as crianças possuem quanto à consulta odontológica. Previamente à etapa de coleta dos dados, os pesquisadores foram treinados quanto aos procedimentos para a coleta de dados. As crianças foram abordadas pelos pesquisadores, ao chegarem à sala de espera. Os pesquisadores se apresentavam e explicavam, às crianças e aos seus pais ou responsáveis, os procedimentos e os objetivos da pesquisa. Para os que aceitaram participar da pesquisa, por livre e espontânea vontade, foi solicitada a assinatura do responsável junto ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Estas crianças, em grupos, eram conduzidas para um espaço, previamente organizado, na própria sala de espera, onde foram acomodas para realizarem o desenho-estória. 15 Para a elaboração do desenho foi disponibilizado folha de papel sulfite branca, lápis de cor, lápis de cera, lápis preto, borracha, apontador. Posteriormente à etapa do desenho, cada criança, individualmente, procedia à descrição do seu desenho-estória, mediante conversa gravada. O gravador era deixado de modo discreto sobre uma mesa para que a criança não se intimidasse e se expressasse naturalmente. A análise dos dados ocorreu com base na técnica de análise temática (BARDIN, 2002), cujas etapas operacionais podem ser resumidas como se segue. Inicialmente, foi efetuada a leitura flutuante, que consiste na tomada de contato inicial com o material produzido (desenhos e transcrição das falas), quando foram identificadas, de modo assistemático, as visões manifestadas pelas crianças. Posteriormente, foi realizada a observação sistemática dos desenhos, com agrupamento por semelhanças gráficas, e a leitura sistemática dos textos obtidos com a transcrição das falas das crianças, para agrupamento por semelhanças. Para a categorização do conteúdo dos desenhos e das falas, foram adotas as categorias e subcategorias indicadas por Alves (2005), conforme quadro abaixo. Quadro 1: Categorias e subcategorias pré-estabelecidas para o estudo. CATEGORIA SUBCATEGORIA Descrição do ambiente odontológico -Espaço físico, material, instrumental, pessoas. - Técnico/ curativo Modelo de tratamento odontológico - Preventivo - Humanizada Imagem do dentista - Tecnicista/mecanicista Manifestações quanto ao -Psicológicas (medo, ansiedade, tratamento odontológico nervosismo) -Comportamentais (choro, esquiva, birra, participativo) As manifestações foram tabuladas segundo as categorias e subcategorias; após, calculou-se a frequências (relativa e absoluta). A 16 quantificação das categorias, mediante cálculo da frequência relativa, definiu o pensamento compartilhado coletivamente pelo grupo de sujeitos pesquisados. Finalmente, foi produzido o texto-síntese com base no referencial teórico obtido através do levantamento bibliográfico junto às bases de dados localizadas no site da Bireme. Como esta pesquisa integra a linha de investigação do Grupo de Pesquisa Atenção à Saúde Individual e Coletiva, em Odontologia, do ponto de vista ético, ele se encontra ao abrigo do parecer emitido pela Comissão de Ética em Pesquisa da Univali nº 190/09. Resultados Participaram do estudo 49 crianças com idades que variaram de 06 a 12 anos. A maioria (58%) era da faixa de 08 a 09 anos de idade. As crianças do gênero feminino corresponderam a 36% e as do gênero masculino a 64%. Todas as crianças já haviam, anteriormente, realizado consultas odontológicas nas Clínicas de Odontopediatria da UNIVALI. Através da técnica do desenho-estória, foram obtidas 162 evocações, sendo que a maioria delas estava relacionada com o ambiente do consultório. A frequência de cada categoria e respectivas subcategorias pode ser identificada na tabela 1. 17 Tabela 1: Distribuição das frequências (absoluta e relativa) de cada categoria respectivas subcategorias. Categorias e Subcategorias Ambiente odontológico Nº 85 % 52,5 Material/Instrumental/Equipamentos EPI Presença do CD Presença do Paciente Presença do acompanhante 38 06 19 20 02 23,5 3,7 11,7 12,3 1,2 22 13,6 Curativo Preventivo 05 17 3,1 10,5 Imagem do CD 26 23 03 16,1 14,2 1,9 29 03 26 17,9 1,9 16,0 Tratamento Odontológico Humanizada Tecnicista Manifestações Comportamentais Negativas Positivas A seguir, estão alguns dos desenhos-estória sobre a consulta odontológica produzidos pelas crianças participantes desta pesquisa. 18 Figura 1: Desenho-estória de menina 6 anos de idade, evidenciando a categoria Ambiente Odontológico. Eu gosto de ir no dentista, essa é eu na cadeira e minha dentista, ela cuida dos meus dentes, e eu sempre escovo depois de comer. 19 Figura 2: Desenho-estória de menino 11 anos de idade, evidenciando a categoria Ambiente Odontológico, com ênfase na subcategoria materiais/instrumentais/equipamentos. Eu gosto de ir no dentista, gosto dos meus dentistas, quando eles usam a vassourinha no meu dente, só não gosto da anestesia, porque dói a picada. 20 Figura 3: Desenho-estória de menino 8 anos de idade, em que a categoria Ambiente Odontológico aparece como pano central do desenho. Esse é meu dentista e eu na cadeira do dentista, eu gosto de ir no dentista. 21 Figura 4: Desenho-estória de menina 7 anos de idade, em que a categoria Tratamento Odontológico é evidenciada, associada a subcategoria Preventivo. Eu desenhei assim, que pra deixar o dente limpinho tem que usar a escova, com a pasta e o fio dental, que tira essas sujeirinhas, e daí o dente fica branco. Se não escovar os dentes eles ficam igual aqueles ali, tudo sujo e feio. 22 Figura 5: Desenho-estória de menino 8 anos de idade, evidenciando a categoria Tratamento Odontológico, com evocações da subcategoria Preventivo. Esse é eu escovando os dentes, os pontinhos amarelos é sujeira no meu dente, dai tenho que escovar pra não estragar meu dente, eu gosto de ir no dentista. 23 Discussão O comportamento da criança diante da consulta odontológica pode ser determinado por uma série de fatores, tais como: maturidade da criança, relacionamento com os pais, abordagem do odontopediatra, experiências pregressas, ambiente do consultório. Consequentemente, o manejo da criança, em algumas circunstâncias, se torna um grande desafio para o profissional (CARDOSO; LOUREIRO; NELSON-FILHO, 2004; FIORAVANTE; MARINHOCASANOVA, 2009; JOSGRILBERG; CORDEIRO, 2005; MACEROU, 2004; POSSOBON et al., 2007). A postura do profissional é um aspecto importante para o bom desenvolvimento da consulta odontológica. O manejo inadequado dos instrumentos, a utilização de coerção e a negação dos sentimentos infantis potencializam o medo e o comportamento não colaborativo por parte da criança (BOTTAN; DALL’OGLIO; MARCHIORI, 2009; FARDIN et al., 2004; HANNA et al., 2009). Geralmente, o paciente infantil que manifesta um comportamento positivo frente à consulta odontológica é aquele que recebe condutas positivas por parte do profissional, tais como: fornecimento de informações, compreensão das reações emocionais, uso de fantasias. Portanto, a identificação e o manejo de variáveis comportamentais relacionadas tanto ao cirurgião-dentista quanto à criança são um importante passo na redução da aversividade ao contexto odontológico (BOTTAN; DALL’OGLIO; MARCHIORI, 2009; DANIEL et al., 2008; HANNA et al., 2009; SOTO;REYES, 2005). Neste sentido, se percebeu entre a maioria dos sujeitos desta pesquisa manifestações que caracterizam comportamentos positivos, pois foram expressivas as falas demonstrando tranquilidade, empatia, estabelecimento de diálogo, enfim ficou muito evidente que há uma relação de confiança, uma boa comunicação entre os acadêmicos que atendem estas crianças, nas clínicas do curso de Odontologia da UNIVALI. Além do que, na maioria dos desenhosestória, o ambiente odontológico é retratado de modo familiar, onde se pode observar uma descrição detalhada de equipamentos, instrumentos, a presença do dentista e do paciente. A comunicação entre o dentista e a criança, objetivada por um relacionamento amigável e amistoso durante o atendimento, é essencial ao 24 sucesso do tratamento odontológico e, portanto, para o estabelecimento de comportamentos saudáveis. Essa interação do profissional com a criança faz emergir a imagem de um profissional humanizado. (BOTTAN; DALL’OGLIO; MARCHIORI, 2009; DANIEL et al., 2008; HANNA et al., 2009; KETZER et al., 2011; MORAES et al., 2004; MONTONI et al., 2009; SOTO; REYES, 2005). E esta condição foi muito percebida nos relatos dos desenhos-estória realizados pelas crianças pacientes das clínicas de odontopediatria da UNIVALI. Os métodos que o dentista utiliza na aproximação e nos procedimentos com a criança apresentam fundamental importância nas atitudes e reações do paciente infantil diante do tratamento odontológico. Assim, percebe-se que, neste estudo, estes aspectos são de grande relevância, pois sendo a imagem humanizada predominante acredita-se que o atendimento tem se apresentado mais agradável e descontraído. Dessa forma, a participação humana do profissional durante o atendimento é primordial na busca de um tratamento harmonioso e eficaz e que não proporcione o surgimento de sentimentos aversivos nos pequenos pacientes. (ALVES, 2005; DANIEL et al., 2008; FARDIN et al., 2004; FIORAVANTE; MARINHO-CASANOVA, 2009; HANNA et al., 2009; PIRES et al., 2009) Outro aspecto que se destaca nos desenhos-estória é quanto ao desenvolvimento de ações preventivas em saúde, as quais objetivam contribuir para que as pessoas tenham consciência de seus padrões de comportamento, substituindo-os por estilos de vida mais saudáveis, compreendendo a relação saúde-doença na perspectiva da melhoria da qualidade de vida. (ALVES, 2005; KETZER et al., 2011; MASSONI et al., 2008; PERIN et al., 2004). As crianças neste estudo demonstraram que são orientadas quanto às medidas preventivas importantes para o estabelecimento de boas condições de saúde bucal. Diante das exposições das crianças através de seus desenhos-estórias, pode-se afirmar que, para a maioria destas crianças, o contexto da consulta odontológica estrutura-se, principalmente, através de situações agradáveis que são balizadas por uma prática educativo-preventiva, permeada por uma visão humanizada do profissional da Odontologia, ratificando as concepções de Ketzer et al. (2011) e de Montoni et al. (2009). 25 Conclusão A partir dos resultados obtidos percebeu-se a importância que tem o ambiente odontológico, na visão que criança constrói a respeito da consulta odontológica, observando-se nisso a preocupação que o Cirurgião-Dentista deve ter para este ambiente seja receptivo. É preciso compreender que visão a criança terá ao adentrar num consultório odontológico, para que se possa torná-lo menos estressante. Em relação ao tratamento a ser realizado, observou-se que as crianças se mostram mais favoráveis em relação aos tratamentos preventivos. A grande maioria declarou que gosta de ir ao dentista, e as evocações mais presentes destas crianças eram a respeito de tratamentos preventivos, mostrando que há uma correlação entre a visão humanizada e positiva do dentista e da consulta odontológica com o aumento da perspectiva preventiva incutida nelas. Tais aspectos aparecem como desenhos de dentinhos felizes ao lado de instrumentos para higienização. Anteriormente a pesquisa, esperávamos, como o demonstrado em outros estudos, atitudes e evocações mais negativas e o que ocorreu foi exatamente o contrário. Pode-se notar há um espaço de possibilidades para a desmistificação da consulta odontológica como algo que gera estresse e sensações desagradáveis como dor, e que exige capacitação do profissional na área odontológica e também na área da psicologia. Concluindo assim que a criança possui uma visão preventiva a respeito do dentista e da consulta odontológica. Agradecimentos Ao Programa de Iniciação Científica ProBIC, da Pró-Reitoria de Pesquisa, PósGraduação, Extensão e Cultura da UNIVALI, pelo financiamento da pesquisa. Referências ALVES, R.D. O tratamento odontológico sob o olhar da criança: um estudo de representações sociais. Dissertação. (Mestrado)- Programa de Mestrado em Odontologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2005. BARDIN, E. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2002. 26 BAUER, M.W.; AARTS, B. A construção do corpus: um princípio para coleta de dados qualitativos. In: BAUER, M.W.; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. Petrópolis: Vozes, 2002. p. 39-63. BOTTAN, E.R.; DALL’ OGLIO, J.; MARCHIORI, S.A. Ansiedade ao tratamento odontológico em estudantes do ensino fundamental. Pesq Bras Odontoped Clin Integr, João Pessoa, v.7, n.3, p. 241-246, set/dez. 2007. BOTTAN, E.R.; DALL’ OGLIO, J.; SILVEIRA, E.G.; MARCHIORI, S.A. Cirurgião-dentista ideal: perfil definido por crianças e adolescentes. RSBO, Joinville, v. 6, n. 4, p. 381-386, 2009. CARDOSO, C. L.; LOUREIRO, S. R.; NELSON-FILHO, P. Tratamento Dentário Pediátrico: manifestações de estresse em pacientes, mães e alunos de Odontologia. Braz. oral res., São Paulo, v.18, n.2, abr./jun. 2004. DANIEL, T. S.; GUIMARÃES, M. S.; LONG, S. M.; MAROTTI, N. R. L.; JOSGRILBERG, E.B. Percepção do paciente infantil frente ao ambiente odontológico. Odontologia Clín.- Científ., Recife, v.7, n.2, p. 129-132, abr./jun. 2008. FARDIN, A. C.; GARBIN, C. A. S.; ARCIERI, R. M.; MOIMAZ, S. A. S. O cirurgião dentista no olhar das crianças. Encontro de Saúde Coletiva e Bioética, II, 2004, Araçatuba. Anais... Araçatuba: UNESP, 2004. Disponível em: <http://www.foa.unesp.br/pos_graduacao/odontosocial/anais_evento.doc> Acesso em: 31 out. 2010. FIORAVANTE, D.P.; MARINHO-CASANOVA, M.L. Comportamento de crianças e de dentistas em atendimentos odontológicos profiláticos e de emergência. Interação psicol., Curitiba, v. 13, n. 1, p. 147-154, 2009. HANNA, L.N.O.; ARAÚJO, R.J.G.; GABRIEL, D.P.; NOGUEIRA, A.J.S. O perfil do dentista sobre olhar infantil. Ezamaz, Belém, v. 1, n.1, p. 24-37, p. 24-39, jul./dez. 2009. KETZER, J.C.; BOTTAN, E.R.; ARAUJO, S.M.; ROCHA, A.L.H. A visão de crianças de escolas públicas e particulares de Itajaí (SC) sobre o atendimento odontológico. Relatório Final (Programa de Iniciação Científica)Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura, Universidade do Vale do Itajaí, 2011. KLINGBERG, G.; BROBERG, A.G. Dental fear/anxiety and dental behaviour Management problems in children and adolescents: a review of prevalence and concomitant psychological factors. Int. j. paediatr. dent., Oxford, v.17, n. 6, p. 391-406, Nov. 2007. JOSGRILBERG, E.B.; CORDEIRO, R.C.L. Aspectos psicológicos do paciente infantil no atendimento de urgência. Odontologia. Clín.- Científ., Recife, v. 4, n. 1, p. 13-18, jan./abr. 2005. 27 MACEROU, R. T. P. Representação social do cirurgião dentista e o comportamento infantil, face ao tratamento odontopediátrico. Dissertação. (Mestrado) – Programa de Mestrado em Psicologia, Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande, 2004. MASSONI, A. C. L. T.; FERREIRA, J. M. S.; COLARES, V.; DUARTE, R. C. Roteiro para interpretação de desenhos: facilitando a abordagem da criança no consultório odontológico. Arq. odontol., Belo Horizonte, v. 44, n. 3, p. 31-36, 2008. MORAES, A. B. A.; SANCHEZ, K.A. S.; POSSOBON, R.F.; COSTA, A.L. Psicologia e odontopediatria: a contribuição da análise funcional do comportamento. Psicol. reflex. crit., Porto Alegre, v.17, n.1, p.75-82, 2004. MONTONI, K. M. M. C.; TENÓRIO, M. D. H.; SANTOS, L. M.; SANTOS, N. B. Percepção dos escolares de ensino fundamental da rede pública da cidade de Maceió-AL sobre a consulta odontológica. UFES rev. odontol., Vitória, v.11, n. 2, p.24-29, 2009. PIRES, M. B. S. M.; ROSSI, G. A clínica odontopediátrica e a imagem do aluno formada pelo paciente. In: Simpósio Internacional de Iniciação Científica da Universidade de São Paulo, 17, 2009, Ribeirão Preto. Anais... Ribeirão Preto: USP, 2009. Disponível em <http://www.usp.br/siicusp/Resumos/17Siicusp/resumos/5523.pdf>. Acesso em: 19 mar. 2010. POSSOBON, R.F.; CARRASCOZA, K. C.; MORAES, A. B. A.; COSTA JUNIOR, A. L. O tratamento odontológico como gerador de ansiedade. Psicol. estud., Maringá, v. 12, n. 3, p.609-616, set./dez. 2007. SOTO, R. M.; REYES, D. D. Manejo de las Emociones del Niño en la Consulta Odontologica. Rev. Latinoamericana de Ortodoncia y Odontopediatría, Caracas, 2005. Disponível em: <http://www.ortodoncia.ws/publicaciones/2005/art10.asp>. Acesso em: 15 maio 2012. 28 REVISÃO DA LITERATURA 29 Barreto (2003) aborda, em seu artigo, a questão da afetividade na Odontologia para bebês, um estudo que analisa as representações das verbalizações de dentistas, durante sessões clínicas de atendimento a crianças, e por meio de entrevistas individualizadas. A afetividade foi delineada enquanto representações ou imagens que reconhecem ou desconhecem relações e vínculos possíveis. Um dos grandes interesses da pesquisa era acompanhar a hipótese de indiferenciação, concebida como a sobreposição de lugares no discurso. A pesquisa foi realizada com três Odontopediatras do sexo feminino, sendo que duas possuíam mais de três anos de experiência profissional e uma com menos de três anos de prática profissional nessa área. As cirurgiãs-dentistas foram acompanhadas durante vinte sessões clínicas. A análise do registro das observações sobre o lugar do profissional e de sua prática indicou ser correta a hipótese de indiferenciação, pois as dentistas durante o atendimento clínico assumiam os dois papéis no discurso, falando ora como profissionais ora como os pacientes. A indiferenciação do profissional foi reconhecida principalmente pelo uso da primeira pessoa do plural, o que pode demonstrar tanto aproximação quanto indiscriminação de lugares discursivos. Segundo Fardin et al. (2004), o cirurgião-dentista na prática odontológica não deve ficar restrito aos conhecimentos técnicos e científicos. Ele precisa, também, saber lidar com as variações do comportamento humano, principalmente quando o paciente é a criança. O profissional deve estar consciente que o seu comportamento causa algum impacto nas atitudes das crianças, influenciando dessa maneira o tratamento. O objetivo deste trabalho foi verificar através de desenhos e relatos a imagem que a criança tem do cirurgião-dentista. Foi utilizado um teste com desenhos previamente padronizados, que continha cinco figuras representando os sentimentos de alegria, satisfação, insatisfação, preocupação e medo. As crianças escolheram um dos desenhos expressando, dessa forma, suas percepções e sentimentos em relação ao cirurgião-dentista e ao tratamento odontológico. A maioria das crianças (59%) escolheu a figura que representava alegria. Foi possível constatar, através da análise dos dados e dos comentários das crianças, que mesmo quando houve referências a uma vivência de dor e medo, o bom relacionamento entre profissional e paciente foi um fator preponderante e, 30 muitas vezes, desencadeador de reações positivas e atitudes de colaboração. Os autores concluíram que, apesar da maioria ter expressado uma reação positiva, ainda houve referências de medo demonstrando a necessidade da melhora no comportamento e atenção no atendimento. De acordo com Macerou (2004), conhecer os fatores que influenciam o comportamento da criança na situação odontológica facilita o estabelecimento de estratégias adequadas para o tratamento da criança, levando em consideração a evolução dos aspectos científicos, tecnológicos e, principalmente, interacionistas do paciente infantil e do profissional. Saber lidar com o comportamento infantil em odontopediatria pode significar a chave para o sucesso do tratamento. Para o estabelecimento de uma relação satisfatória entre o odontólogo e o paciente, é necessário que o primeiro saiba o que pode ocorrer ao corpo do indivíduo quando seu estado emocional está alterado e o que pode ocorrer ao estado emocional e ao comportamento do indivíduo quando este adoece. O dentista deve ter clareza quanto ao fato de que o homem é um ser biopsicossocial e que qualquer alteração em uma dessas unidades alterará todas as outras. Para que se obtenha um bom tratamento, é necessário conhecer o todo e ter em mente que alterações ao nível do corpo e dos processos mentais ocorrem em termos fisiológicos ou funcionais, simultaneamente. A vinculação profissional-paciente também não ocorre de uma vez. É um processo que envolve conhecimento mútuo, estabelecimento de limites claros e respeito às limitações do outro. O profissional da odontologia deve conhecer seus pacientes, permitir a eles que confiem no profissional, e principalmente, verificar quais são as emoções presentes que podem estar interferindo neste encontro. Assim, a preocupação com aspectos psicológicos tem sido cada vez maior. O conhecimento sobre o comportamento do ser humano favorece um relacionamento satisfatório entre cirurgião-dentista e paciente, principalmente o paciente infantil. A comunicação é a base para o estabelecimento de um bom relacionamento com a criança, permitindo a complementação dos procedimentos clínicos. Oliveira et al. (2004) explicaram que o relacionamento entre o cirurgiãodentista e seu paciente constitui um fator importante no manejo do comportamento infantil. O desenvolvimento mental, emocional, social e cognitivo de cada criança deve ser observado individualmente pelo profissional. 31 O objetivo da pesquisa foi correlacionar o tipo de vestuário e EPI utilizado pelo Odontopediatra com a receptividade da criança. Foram pesquisadas 39 mães, acompanhadas de seus filhos, de dois a cinco anos de idade, frequentadoras de uma creche, na cidade de Belo Horizonte-MG. As mães responderam perguntas sobre a experiência médica e odontológica da criança. Três fotos de uma Odontopediatra em diferentes apresentações foram exibidas para a criança, que deveria indicar a cirurgiã-dentista por quem queria ser atendida. As figuras representativas eram as seguintes: Figura 1(roupa colorida), Figura 2 (roupa branca) e Figura 3 (EPI completo). Os resultados demonstraram que houve uma correlação estatisticamente significante entre a foto escolhida pela criança e o fato de a criança já ter tido experiência odontológica, e se essa experiência foi positiva ou negativa. Das crianças que escolheram a foto 3, 66,6% já tinham tido experiência odontológica. A foto 1 foi escolhida por 57% daquelas que não tiveram tal experiência. Dos participantes que tiveram experiência odontológica negativa, 33,4% optaram pela foto 1. Baseado neste estudo, o uso da roupa branca e do EPI pelo profissional não é um empecilho para o atendimento da criança que já foi ao cirurgião-dentista. A utilização do EPI (Equipamento de Proteção Individual) em Odontopediatria é uma medida de biossegurança importante. Além disso, uma consulta odontológica positiva favorece uma maior aceitação do EPI pelo paciente infantil. Os autores concluíram que: a) houve uma grande identificação das crianças com experiência odontológica em relação ao profissional portando roupa branca; b) o uso da roupa branca e do EPI pelo profissional não foi um empecilho para o atendimento da criança que já foi ao cirurgião-dentista, principalmente, nos casos em que ela é apresentada gradativamente a estes acessórios. Perin et al. (2004) tiveram como objetivo verificar a percepção e a condição de saúde bucal das crianças que frequentavam a Instituição Comunidade Educacional para o Trabalho, da cidade de Lins-SP. Foi efetuado o levantamento de cárie dentária em 82 crianças, com 12 anos de idade, de ambos os gêneros, sendo que estas crianças recebiam noções de higiene bucal. Para avaliação da cárie dentária, foi utilizado o índice de CPO-D, segundo os critérios e códigos de Klein e Palmer. Foi aplicado a todas as crianças um questionário com perguntas referentes à percepção com cuidados bucais. O CPO-D médio obtido foi de 2,5 (prevalência baixa). A análise do 32 questionário demonstrou que as crianças tinham conhecimento sobre saúde e saúde bucal, enfatizando a estética na saúde bucal como fator importante. A grande maioria frequentava o cirurgião-dentista e relatou que escovava seus dentes, em média, três vezes ao dia. O principal anseio relatado foi quanto à colocação de aparelhos ortodônticos. A conclusão do estudo foi de que os conhecimentos referentes à saúde bucal transmitidos pelo programa da disciplina de Odontologia Social e Preventiva foram relativamente assimilados pelas crianças. O estudo conduzido por Cardoso, Loureiro e Nelson Filho (2004) teve por objetivo comparar um grupo de crianças com necessidades especiais cognitiva, com um alto nível de ansiedade ao tratamento odontológico e necessidade de contenção física, com um grupo de crianças que colaboraram com tratamento odontológico. Todas as crianças estavam acompanhadas pelas mães. A idade média das mães foi de 33 anos e o grau de escolaridade variou de primeiro grau ao ensino universitário incompleto. Os alunos que atenderam as crianças eram do quarto ano do curso de Odontologia, da Universidade de São Paulo, de Ribeirão Preto (SP). Todos os alunos tiveram, pelo menos, duas sessões de tratamento com as crianças. O estresse foi avaliado individualmente em uma sessão de 25 minutos. As mães foram entrevistadas sobre o comportamento da criança e avaliadas em termos de estresse e dos níveis de medo, individualmente. A avaliação de estresse dos alunos de odontologia foi realizada coletivamente em sala de aula. Como resultados, foram apresentados os seguintes dados. O grupo 1 de crianças apresentou mais dificuldades comportamentais que o grupo 2. As mães das crianças do grupo 1 também apresentaram maior número de indicadores de estresse quando comparadas ao grupo 2. O que sugere que, nos dois grupos, há dificuldades de crianças e de suas mães para lidar com tratamento dentário, o que pode aumentar o estresse durante o tratamento. Quanto aos alunos, os resultados mostram que aqueles que realizaram tratamento no grupo 1 apresentaram níveis de estresse acima do normal. O que ressalta que o estudante de Odontologia está rodeado de fatores de estresse em potencial, como atendimento a pacientes que não colaboram, não aceitam o tratamento, ou estão muito ansiosos quanto ao tratamento. 33 Segundo Alves (2005), é importante para os cirurgiões-dentistas perceberem que a satisfação do tratamento odontológico não é independente das experiências vividas pelo paciente. É necessário que o profissional conheça as atitudes infantis a fim de configurar a abordagem de relacionamento e o procedimento a serem estabelecidos para a construção de estratégias de promoção a saúde bucal e obtenção do êxito no tratamento. Configura-se, então, a necessidade de realização de trabalhos que desenvolvam modelos voltados para a promoção da saúde bucal, numa perspectiva psicossociológica. O atendimento odontológico infantil é um campo bastante fecundo, repleto de nuances e reconhecidamente complexo, que requer muita dedicação e paciência. Por um longo tempo, o tratamento odontológico se satisfez em direcionar quase todos os seus esforços e energias para o desenvolvimento de refinamentos técnicos e tecnológicos das suas práticas operativas, em detrimento do estudo e da compreensão dos diversificados eventos biológicos e biopsicossociais relacionados com o processo saúde-doença. A abordagem restauradora tradicional centrada no tratamento da doença influenciou a prática odontológica em muitas partes do mundo. Desenvolveu-se uma maneira mecânica de solucionar problemas que não promoveu tratamento efetivo da doença. Essa odontologia restauradora apenas ganhava tempo, criando um novo problema: a manutenção e a restauração do dente. Nas últimas décadas, a odontologia migrou da chamada “era da Odontologia restauradora”, em que o diagnóstico e o tratamento da doença eram baseados, quase que exclusivamente no reparo da lesão, para uma odontologia da promoção de saúde. Dessa forma, as crianças terão desde cedo maior contato com a situação odontológica, familiarizando-se com o ambiente e com o profissional, tendo oportunidade de adquirir hábitos mais saudáveis. Esta pesquisa identificou como crianças concebem o tratamento odontológico e a imagem do dentista. A pesquisa utilizou como suporte teórico/metodológico a Teoria das Representações Sociais. O cenário foi a Escola Estadual “Professor José Fernandes Machado”, na cidade de Natal/ RN. Participaram do estudo 30 crianças, selecionadas pelos seguintes critérios: faixa etária entre 6 e 10 anos de idade; crianças que tenham sido submetidas a tratamento odontológico há menos de um ano ou que estejam em tratamento no momento da coleta de dados. Para obtenção dos dados, foram utilizadas a 34 entrevista em profundidade e a técnica do desenho-estória com tema. Dentre os avaliados, 73% eram meninas e 27% meninos. Quanto à elaboração das representações sociais das crianças sobre o tratamento odontológico, o conhecimento formado com base no material coletado pelas entrevistas foi dimensionado três categorias. A primeira categoria referia-se ao modelo de tratamento odontológico infantil, que apresentou duas subcategorias: técnicocurativo (68,04%) e preventivo (31,96%). A segunda categoria abordava a imagem do dentista com a subcategoria tecnicista/mecanicista (18,05%) e humanizada (81,95%). A terceira categoria se reportou às manifestações frente ao tratamento odontológico, cujas subcategorias foram: psicológicas (21,2%) e comportamentais (78,8%). A análise dos desenhos evidenciou quatro categorias, a saber: descrição do ambiente odontológico, concepção do modelo de tratamento odontológico, percepção da imagem do dentista e manifestações frente ao tratamento odontológico. A estrutura do campo da representação social do tratamento odontológico infantil, percebido e construído pelos participantes desta pesquisa com o auxílio da técnica do desenho-estória com tema, estruturou-se, principalmente, através de situações desagradáveis encontradas técnico-curativista do dentista, como os próprios elementos constituintes desta prática – espaço físico e material/instrumental- e a forma de abordagem tecnicista/mecanicista do dentista. O ambiente clínico odontológico surgiu em todos os grafismos, com destaque as espaço físico, aos materiais e instrumentais constituintes de nossa prática e à figura do dentista, revelando, assim, mesmo em nível inconsciente, todos os elementos que elas consideram importantes no contexto do atendimento odontológico. O modelo de tratamento odontológico predominante nos relatos e nos grafismos das crianças foi o técnico/curativo, centrado em procedimentos operatórios e principalmente invasivos. Apesar de já ser conhecido que esse modelo tradicional não se tem mostrado capaz de controlar as doenças bucais, é triste perceber-se que esta prática reducionista se encontra ainda bastante difundida e incrustada no mundo infantil. No que concerne à imagem do dentista, observou-se que as crianças valorizam por demais a relação humana durante o atendimento. Elas expressam os seus desejos de serem atendidas por profissionais que se comuniquem e interajam de forma criativa e lúdica, e a repulsa por aqueles que executam os procedimentos de forma técnica/mecânica. Em relação às 35 manifestações infantis face ao tratamento odontológico, as dimensões psicológicas e comportamentais consideravelmente aversivas, com medo, ansiedade, dor e esquiva, foram referências percebidas com muita propriedade pelo mundo infantil. Josgrilberg e Cordeiro (2005) identificaram quais objetos utilizados no tratamento odontológico podem causar medo ou ansiedade na criança. Foram analisadas 68 crianças, de 4 a 11 anos que já tinham sido submetidas a tratamento odontológico. As crianças foram divididas em dois grupos de acordo com a idade: faixa etária pré –escolares (4 – 7 anos) e idade escolares (8 – 11 anos). Na sala de espera, antes da consulta, foram apresentadas cartelas em ordem aleatória com fotografias de objetos utilizados rotineiramente na clínica de odontopediatria. Para cada figura, a criança escolheu um item da escala facial. Os resultados obtidos indicaram que os objetos que causaram menor medo ou ansiedade para os dois grupos foram: cadeira odontológica, espelho clínico, seringa tríplice. Em quanto que carpule, baixa rotação, perfurador de dique de borracha e isolamento absoluto foram os que causaram um medo generalizado entre as crianças. As crianças do grupo 1 apresentaram menor medo objetivo frente a maioria dos instrumentos avaliados. As pesquisadoras concluíram que carpule, baixa rotação, perfurador de dique de borracha e isolamento absoluto demonstraram ser os instrumentos mais ameaçadores para as crianças; e que o grupo 2 (8 a 11 anos) apresentaram mais emoções negativas frente aos instrumentos odontológicos. Segundo Rank et al. (2005), a criança que vai ao dentista pela primeira vez cria, antes da consulta, uma expectativa de como será o tratamento. Este grau de ansiedade varia muito de criança para criança, dependendo de fatores como: informações distorcidas a respeito do que é um tratamento odontológico, que são repassadas por familiares ou amigos; ansiedade dos pais; e influência cultural. O primeiro encontro da criança com o cirurgião-dentista deve ser agradável, pois assim o profissional estará preparando o comportamento infantil, para que a próxima visita seja melhor que a anterior. A ansiedade é um estado emocional interno, não observável, porém de grande importância no processo cognitivo, assim sendo, a autodescrição deste acontecimento subjetivo e individual, pela própria criança, supre valiosos dados inacessíveis em comparação a outras técnicas mais objetivas. A ansiedade infantil, que 36 acompanha o tratamento odontológico, tem sido objeto de estudo por vários autores, relatando sua complexa e multifatorial etiologia e afirmando que a ansiedade varia quantitativamente e qualitativamente de criança para criança, pois cada indivíduo tem sua história individual, sofrendo influência de experiências odontológicas anteriores e do contexto sócio-econômico e cultural. Os pacientes não temem ir ao consultório por causa do dentista, mas porque este pode produzir ou induzir a dor. Desse modo, quando o medo e a ansiedade são modificados também se modifica a percepção da dor. Para se conseguir o controle do comportamento da criança, é preciso, primeiramente, conseguir o controle da ansiedade, sendo que vários fatores refletem neste comportamento infantil, como atitudes familiares, história médica, disposições variáveis do ambiente como o tempo e o espaço (fome, hora do dia e sono). O cirurgião-dentista que se propõe a assumir a responsabilidade de trabalhar com o paciente infantil, na idade pré-escolar, deve ter em mente que o exercício da odontopediatria não pode limitar-se à prevenção ou a tratamentos curativos, mas trabalhar a criança como um todo. Para possibilitar facilitar a execução de uma odontologia de alto padrão, é importante que o profissional busque trabalhar preventivamente na ansiedade e tensão emocional infantil, evitando o uso exagerado de contenções físicas e agentes farmacológicos. A tarefa de transformar o paciente cativo em cooperador é a chave mestra para melhorar o relacionamento do cirurgião-dentista e paciente. Soto e Reyes (2005) destacaram que a conduta frente ao paciente infantil exige do profissional muito mais que habilidade técnica, exige também conhecimento psicológico do desenvolvimento da criança e treinamento para definir que técnicas utilizar para condicionar o paciente ao tratamento. É preciso que o profissional entenda que nem sempre uma técnica é efetiva para todos os pacientes. Em alguns casos, é necessária a associação de várias técnicas conjuntas para conseguir o controle das emoções das crianças. A psicologia explica que comportamento pode ser modificado através de intervenções nas condições ambientais. A emoção é a agitação do ânimo resultante de uma causa passageira; este estado envolve trocas fisiológicas e reacionais ao ambiente. É importante que o profissional fale com o seu paciente, independente da idade. Esta abordagem verbal deve se adequar à idade, pois o paciente infantil é um receptor emocional que consegue absorver 37 mais rápido os conceitos que lhe são expostos, permitindo que seja conduzido de modo a torna-se um agente colaborador para sua saúde bucal. Bottan, Dall`Oglio e Marchiori (2007) explicaram que estudos têm demonstrado um interesse crescente na prevalência da ansiedade ao tratamento odontológico e sua influência no desenvolvimento do trabalho do cirurgião-dentista. O medo do tratamento odontológico, apesar de todos os avanços tecnológicos na área da Odontologia, continua sendo uma significativa barreira à otimização dos serviços de saúde bucal. Ele se situa entre os medos mais comuns da população em geral, diferenciando-se, de um grupo para o outro, quanto à frequência com que se manifesta. Logo, é fundamental que o cirurgião-dentista tenha consciência de que o seu paciente não é somente boca, que ele é um sujeito que traz uma série de temores e esperanças. Portanto, quando da formação do cirurgião-dentista é necessário que se desperte, no futuro profissional, a atenção para o estudo das relações pacientedentista. Possobon et al. (2007) afirmaram que a submissão ao tratamento odontológico tem sido relatada, por muitos pacientes, como uma condição geradora de estresse e de ansiedade. Alguns estudos que investigaram as origens da ansiedade e medo relacionados à situação de tratamento odontológico sugerem que o paciente percebe como aversivos elementos relacionados aos comportamentos dos profissionais e aos procedimentos utilizados no tratamento. Para que o cirurgião-dentista possa implementar estratégias que minimizem o estresse comumente gerado pelo tratamento e pelo ambiente do consultório, é necessário que aprenda a identificar comportamentos indicadores de ansiedade e seja capaz de estabelecer uma adequada relação com o paciente. Estabelecer uma boa relação com a criança, ajudando-a a enfrentar a situação de tratamento odontológico com o mínimo de ansiedade, e manejar comportamentos não-colaborativos são habilidades indispensáveis ao clínico. Com uma adequada interação o paciente se sente mais seguro e amparado, mais tranquilo e relaxado, facilitando a realização do procedimento. De acordo com Daniel et al. (2008), o medo e a ansiedade da criança representam um dos maiores obstáculos que os odontopediatras enfrentam para estabelecer uma relação profissional favorável ao desenvolvimento 38 adequado do tratamento. É necessário que o profissional perceba as características individuais das crianças, para construir um relacionamento satisfatório e permitir um tratamento eficiente. O ambiente odontológico também é um fator que pode influenciar a conduta do paciente, pois neste local são experimentados materiais, instrumentos, odores e ruídos que podem ser considerados pelo paciente como possíveis geradores de dor e desconforto, interferindo no seu comportamento. A atuação do profissional não deve se restringir à execução de procedimentos técnicos; ele deve estar preparado para lidar com problemas comportamentais e emocionais do paciente. Quanto mais vulnerável o indivíduo se sentir em uma determinada situação, maior a intensidade com que as variáveis psicossociais tendem a se manifestar em um consultório. Deste modo, a identificação de fatores causadores do medo e da ansiedade no tratamento odontológico permite o emprego de procedimentos e atitudes que podem auxiliar a reduzir o caráter estressante com que a criança percebe a situação de tratamento dentário. O estabelecimento de uma comunicação paciente/profissional eficiente também é fundamental para o sucesso do tratamento. Lima et al. (2008) estudaram as representações sociais de um grupo de pré-adolescentes pertencentes a famílias de baixa renda, assistidos por um programa de prevenção e assistência odontológica numa instituição filantrópica. Este estudo foi realizado na Casa do Pequeno Cristo, no Aglomerado Morro das Pedras, região de alto risco social em Belo Horizonte (MG). O entrevistador participou, antes da coleta de dados, das atividades da instituição durante quatro meses. A metodologia utilizada foi qualitativa. Foram realizadas entrevistas individuais, gravadas em fita cassete, com dez préadolescentes, na faixa etária de 10 a 12 anos. As entrevistas tiveram um aspecto de conversa livre, com estimulo à manifestação espontânea e seguiram um roteiro semi-estruturado dando ênfase aos temas: processo saúde/doença; saúde/doença bucal; importância e função da boca e seus componentes; avaliação do serviço odontológico prestado pela Casa. A análise dos dados seguiu a proposta da hermenêutica-dialética, que considera o significado dado pelas pessoas, avaliado dentro de seu contexto social. Os entrevistados apresentaram uma boa noção sobre a sua realidade social e o conhecimento da dificuldade do acesso a serviços de saúde bucal. Eles 39 possuem uma visão ampla de saúde relacionada com qualidade de vida, porém a saúde bucal, para eles, restringe-se a métodos de higienização, tendo, então, a necessidade de ações que ampliem esses conceitos. Massoni et al. (2008) elaboraram um roteiro para auxiliar na interpretação de desenhos infantis relacionados à situação odontológica, a fim de contribuir para com a abordagem psicológica da criança durante o atendimento. Para avaliação deste roteiro, foi utilizada uma amostra de 43 escolares do município de João Pessoa, Paraíba, na faixa etária de sete a doze anos, de ambos os gêneros, de uma escola pública, de nível socioeconômico baixo; e de uma escola privada, de médio a alto nível socioeconômico. O teste foi aplicado coletivamente em grupos de 10 crianças de mesma idade e divididas quanto ao gênero. Foram distribuídas folhas de papel A4, lápis e borracha e solicitado que cada criança desenhasse o seu dentista. O resultado demonstrou que as crianças possuem imagem positiva do dentista e que as imagens negativas referem-se, sobretudo, a procedimentos cirúrgico- restauradores. A utilização de desenhos e do roteiro mostrou-se uma técnica eficiente e vantajosa para obtenção de dados a respeito da imagem do cirurgião-dentista pela criança, favorecendo a capacitação para o atendimento odontológico. Para Stolz et al. (2008), a satisfação do paciente está relacionada com as informações recebidas. Há disposição dos profissionais em compreender seus pacientes de forma holística, porém muitas vezes não se demonstram capacitados para isso. O paciente gosta que o profissional olhe diretamente em seus olhos, pois esta atitude demonstra preocupação e interesse pelo que está sendo comunicado, intensificando uma emoção positiva ou negativa. Para os pacientes, o relacionamento profissional-paciente é manifestado por três tendências: positiva, negativa e neutra. A percepção positiva é relacionada à atenção e às explicações transmitidas pelo profissional ao paciente. A percepção negativa para com o profissional é devida a falta de confiança do paciente, a insegurança do dentista e o não esclarecimento do procedimento. A percepção neutra do profissional é destacada por alguns pacientes por meio de uma postura passiva por acreditarem que não têm competência para julgar ou acham que tudo faz parte de uma rotina de procedimentos. 40 Fioravante e Marinho-Casanova (2009) descreveram comportamentos de odontopediatras e de crianças durante atendimentos odontológicos. Participaram do estudo dois profissionais graduados em Odontologia, há um ano, sendo um do sexo masculino e outro do feminino, com a mesma faixa etária. Também participaram 20 crianças, pacientes de um Núcleo de Odontologia para Bebês, que presta atendimento gratuito à população. As crianças eram de ambos os sexos, com idades entre 18 meses e seis anos. Cada profissional atendeu a 10 crianças: cinco casos de procedimentos profiláticos e cinco em situação de emergência. Todos os atendimentos foram gravados em vídeo para posterior análise. Duas observadoras, que não participaram das filmagens efetuaram a categorização das respostas apresentadas pelos odontopediatras e pelas crianças durante a realização dos atendimentos odontológicos. As categorias comportamentais adotadas foram estabelecidas previamente, em: categorias para avaliação dos odontopediatras (adequados/inadequados) e categorias para avaliação das respostas das crianças (cooperativos/opositores). Foi registrada a frequência de ocorrência de cada uma das categorias de respostas dos odontopediatras e das crianças em cada minuto da consulta. O registro dos comportamentos da criança e do odontopediatra foram feitos separadamente. Os dados apresentados indicam que em 14 dos 20 atendimentos analisados os odontopediatras emitiram mais respostas adequadas do que respostas inadequadas. Em todos os 10 atendimentos de profilaxia, os profissionais apresentaram mais respostas adequadas. Em procedimentos de emergência, apenas 4, de 10 atendimentos, foram registradas respostas adequadas. Houve um percentual de 30% de respostas opositoras, no caso das crianças. Os pesquisadores concluíram que as interações dos odontopediatras com as crianças foram caracterizadas principalmente pelas respostas adequadas por parte dos profissionais e que assim o tipo de atendimento tem influência sobre o comportamento de crianças de dentistas. No estudo de Hanna et. al. (2009), utilizou-se na pesquisa uma abordagem de comunicação verbal (questionário) associada a uma de comunicação não-verbal (desenho), para verificar que visão o paciente infantil tem do dentista e do ambiente odontológico através da interpretação dos desenhos de um grupo de crianças. Esta associação de técnicas, além de 41 retratar muito bem o que a criança pensa e sente, é uma forma agradável e fácil de conseguir a atenção e colaboração da criança, podendo-se ser utilizada tanto em pesquisas como também em consultório para observação de níveis de estresse na criança. A abordagem ideal a criança e o próprio sucesso do tratamento odontopediátrico, Deve envolver a compreensão total dos fatores que interferem no atendimento odontológico e que se relacionam ao paciente, ao profissional, ao ambiente odontológico e a estrutura familiar em que esta criança está incluída. Para essa compreensão nenhum instrumento parece ser mais valioso do que as técnicas projetivas, pois os desenhos constituem a fonte mais rica de informação que uma criança pode nos dar, principalmente as de idade mais tenra, isso porque a criança transfere para o desenho seus sentimentos a respeito de uma pessoa específica. Entretanto estes desenhos devem ser acompanhados de observação ou entrevista, em que questionamentos sobre o desenho podem nos dar informações adicionais, ainda mais específicas, como ocorreu nesta pesquisa. É por isso que se torna tão importante que os profissionais que trabalham com as crianças se preparem melhor para que possam entender ainda melhor o que a criança está tentando comunicar através dos desenhos. Essa técnica de desenho além de possibilitar que a criança expresse, de acordo com seu nível de compreensão, seus desejos, fantasias e preocupações, é uma tarefa que desperta o interesse da criança muito mais que um questionário, trazendo inclusive mais informações do que este. Pois que a linguagem não se realiza apenas por meio de palavras, é interessante que se utilizem outros métodos de linguagem. Assim nesta pesquisa, as respostas obtidas no questionário foram primeiramente analisadas de forma isolada e depois comparadas aos desenhos, conseguindo-se assim uma melhor compreensão das respostas das crianças. Sendo que a hostilidade apresentou-se pelas características da ausência da figura humana, ou a presença desta mas com traçados básicos e sem formas, assim como a de objetos e móveis com ausência de detalhes, soltos e isolados entre si, além de cores escuras e sombreamentos. Já a presença de duas ou mais figuras humanas e móveis, detalhados e utilizandose um gama de cores, apresentou-se como critério de receptividade tanto ao dentista como ao tratamento. Sendo que a maioria das crianças mostrou-se receptiva ao dentista e ao tratamento, concluindo ao final da pesquisa, os 42 autores, que a utilização de desenhos associados ao questionário é uma técnica eficaz de verificar a visão que a criança tem do cirurgião-dentista. Montoni et al. (2009) analisaram a percepção atual sobra a consulta odontológica de escolares de ensino fundamental da rede pública da cidade de Maceió-AL. Foi realizado um estudo transversal descritivo com 322 escolares de ambos os sexos, de 6 a 14 anos de idade, regularmente matriculados, nas séries da 1ª a 4ª do ensino fundamental de 15 instituições de ensino público de Maceió-AL e que já haviam consultado um cirurgião-dentista, pelo menos, uma vez. Em cada escola foram escolhidos aleatoriamente 20 alunos. O instrumento de coleta de dados foi um questionário com quatro questões fechadas, composto de dados de identificação do escolar (escola, série, idade e gênero) e de perguntas e respostas relacionadas com a visita ao cirurgião-dentista. Para análise de dados, foi considerado o grau de escolaridade dos alunos. Os resultados foram os seguintes: 60,6% dos escolares vão ao cirurgião-dentista com objetivo preventivo; 28% dos escolares consultavam o cirurgião-dentista apenas para procedimentos curativos. Dos que apresentaram como motivo a prevenção,18% eram da 4ª série, mostrando a importância do amadurecimento intelectual na conscientização em saúde bucal. As sensações mais esperadas foram: dor (37,27%) e medo (34,16%), sendo a anestesia a maior preocupação. Assim, 41,6% gostariam que houvesse algo que os divertisse e 30,2% algo que os fizesse relaxar. A conclusão do estudo foi de que a percepção sobre saúde bucal dos escolares de ensino fundamental de escolas públicas de Maceió é preventiva, porém a dor e o medo continuam como as sensações mais esperadas e sentidas diante da consulta odontológica, sendo que é esperado que haja meios de dissipar essas sensações desagradáveis. Oliveira (2009) utilizou do método desenho-estória com tema livre para crianças que se recusavam a realizar a intervenção odontológica. A criança, ao desenhar, consegue se comunicar melhor quanto às necessidades inatingíveis pela fala. O objetivo desse estudo foi averiguar a hipótese de que o procedimento de Desenhos-Estórias tem uma função terapêutica e possibilitadora do atendimento em Odontopediatria. Os desenhos normalmente representam a situação emocional da criança, constituindo-se em um instrumento de aproximação do profissional com os conteúdos mentais dos pacientes. O procedimento foi aplicado a todos os sujeitos no consultório 43 particular, no período diurno, em um ambiente claro e silencioso em que estavam presentes um terapeuta e a criança. Ao término do desenho, as crianças eram estimuladas a contar uma estória a respeito do desenho. Cada caso clínico foi avaliado separadamente. Os resultados obtidos confirmam que o desenho-estória permite a exposição dos aspectos bons e ruins de uma consulta odontológica. O pesquisador conclui que a impossibilidade do atendimento é devido às angústias intensas e mal resolvidas que necessitam de compreensão e de um processo terapêutico efetivo. Esse estudo é uma contribuição no sentido de minimizar o sofrimento de pacientes e colaborar nas demais abordagens na área odontológica. Piovesan et al. (2009) afirmaram que os problemas de saúde bucal têm sido cada vez mais reconhecidos como importantes fatores que provocam um impacto negativo no desempenho diário e na qualidade de vida. A cárie dental, por exemplo, é o principal problema de saúde pública que afeta às crianças, causa prejuízos na mastigação, diminuição do apetite, perda de peso, problemas do sono, alterações comportamentais e baixo desempenho escolar. O traumatismo dentário representa um impacto sócio-dental na vida diária das crianças. Lesões dos tecidos moles, má oclusão e fluorose dentária, também, são exemplos de problemas comuns na boca, mas poucos estudos incidiram sobre as suas características funcionais, sociais, emocionais e efeitos nas crianças. Em saúde pública, a medição da qualidade de vida é uma ferramenta útil para planejar políticas de bem-estar, pois é possível determinar as necessidades da população, a prioridade de atendimento, tratamento e avaliação das estratégias adaptadas, ajudando assim no processo de tomada de decisão. A seleção de um instrumento deve envolver a confiabilidade e os objetivos específicos da investigação além da forma da entrevista, ou questionário, uma vez que podem influenciar as propriedades psicométricas dos indicadores utilizados para recolher os resultados. Os autores destacaram que as crianças têm uma visão única da realidade. No entanto, as crianças e os jovens são, muitas vezes, incapazes de completar um questionário sozinho, portanto, é importante obter os relatórios de seus pais ou responsáveis. Vários instrumentos têm sido propostos para medir a qualidade de vida das crianças e devem ser selecionados, dependendo do resultado desejado e das características da população-alvo. 44 Pires e Rossi (2009) identificaram e analisaram a imagem construída pelo paciente da clínica odontopediátrica em relação ao dentista que o atende, utilizando-se do desenho como forma de representação. A amostra foi composta por 30 pacientes entre 5 e 12 anos de idade, de ambos os sexos, atendidos semanalmente na Clínica de Odontopediatria por alunos do 4º ano da Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic Campinas – São Paulo. Para o levantamento de informações, foi solicitado que os pacientes desenhassem a si próprios e o dentista que os atendia. Os desenhos foram classificados considerando os seguintes aspectos: cenário (ausência ou presença); instrumental odontológico (ausência ou presença); vestuário do profissional; presença de emoções (face tristonha, alegre ou indiferente entre outras); presença ou não do paciente no desenho; e outros elementos. As análises dos dados coletados indicaram que 20% das crianças representaram um cenário odontológico. Em nenhum dos desenhos o instrumental odontológico apresentou-se de forma negativa, 75% manifestaram emoções agradáveis nos desenhos e 12% deles não incluíram o dentista ou o paciente. As autoras concluíram afirmando que a imagem do dentista é positiva, o que pode contribuir para o êxito no tratamento. Oliveira et al. (2010) utiliza dois métodos em seu estudo para buscar compreender quanto de ansiedade as crianças demonstram frente ao tratamento odontológico. Um desses métodos é a Facial Image Scale (FIS) que corresponde a uma escala de faces variando de muito feliz a muito triste, em que a face número 1 corresponde a resposta mais positiva e a número 5 para a resposta mais negativa, essa escala foi aplicada na pesquisa com as crianças, por ser mais fácil, rápida e poder ser utlizada em crianças de pouca idade. O segundo método usado, aplicado na coleta de dados com os responsáveis, foi o Corah's Dental Anxiety Scale (DAS), que é uma escala psicométrica que consiste em quatro perguntas de múltipla escolha relacionadas com as reações subjetivas do paciente diante de diferentes situações odontológicas. A escala para cada pergunta varia de 1 para não ansioso até 5 para extremamente ansioso, sendo que pontuação final pode ser de 4 a 20, com pontuações acima de 15 indicando profunda ansiedade. Esse estudo demonstrou ser importante porque a ansiedade e o medo ainda são os principais motivos pelos quais um paciente desiste de realizar o tratamento odontológico, porém a fuga só 45 exacerba os problemas bucais desse tipo de paciente, pois não houve o tratamento preventivo, surgindo aí um ciclo, em que o tratamento que resta, quando o paciente finalmente vai ao consultório, é aquele que ele mais teme, extremamente invasivo e desconfortável. Sendo que pacientes não temerosos comparados a estes, possuem melhor sáude bucal. Deve-se salientar que comparados os gêneros, as mulheres sentem mais medo e ansiedade que os homens, sendo que as crianças demonstram ter mais medo e mais ansiedade que qualquer outro indivíduo. Nesta pesquisa foram avaliados 98 crianças entre 4 e 11 anos, pacientes atendidos na clínica de odontopediatria da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos - UNESP, e seus respectivos responsáveis, e a pesquisa foi aplicada antes e depois do atendimento. A grande maioria das crianças não demonstrou estar ansiosa com tratamento odontológico, mesmo diante do procedimento anestésico, tanto que que o FIS 4 e FIS 5 não apareceu em nenhuma criança com idade entre 8 e 11 anos, e a grande maioria que estava na FIS 3 era de 4 a 7 anos. Para os responsáveis não ansiosos a maioria das crianças apresentou FIS, nos responsáveis com ansiedade moderada essa correlação permaneceu, pois a maioria das crianças apresentou FIS 2. Ocorrendo o inverso no caso dos responsáveis altos níveis de ansiedade, já que a minoria das crianças apontou FIS 4 e 5. Concluindo então que nessa amostra de crianças abordadas não se apresentou ansiosa, e que existe uma correlação entre os níveis baixos de ansiedade dos responsáveis e com as crianças não ansiosas. E que além da maioria possuir responsáveis não ansiosos, os pouco que eram ansiosos não transmitiam essa ansiedade às crianças. Podendo-se perceber que a conduta clínica está adequada, conseguindo controlar satisfatoriamente a ansiedade dos pacientes. Roberts et al. (2010) explicaram que a influência do manejo do comportamento do paciente para o desenvolvimento adequado de um atendimento odontológico é um aspecto extensamente concordante entre os autores. Ela é um fator chave para o cuidado dental de crianças. É imperativo que todo o processo de atenção odontológica esteja suportado na empatia e no bem-estar de cada criança. Os autores destacaram que estudos efetuados com base nas várias apresentações em congressos da Academia Européia de Odontologia Pediátrica (EAPD) evidenciam que todos os aspectos referentes às técnicas de gerência comportamental não-farmacológicas, descritas na 46 literatura nos últimos 80 anos, foram revistas. Há uma grande diversidade de técnicas, mas nem todas são aceitas de modo universal, por odontopediatras, em virtude das diferenças culturais e filosóficas. O estudo destaca que as técnicas que têm aceitação universal são a do Dizer, Mostrar, Fazer (TSD), ou o reforço positivo. Apesar da grande variedade de técnicas de gerência comportamental, é importante destacar que o odontopediatra deve utilizá-las considerando aspectos culturais, filosóficos e legais, os quais são específicos de cada realidade. Ketzer et al. (2011) conduziram um estudo exploratório de abordagem qualitativa com o objetivo de conhecer a percepção de crianças sobre a consulta odontológica. A população-alvo foram crianças de 4 a 9 anos matriculadas em escolas públicas e privadas do perímetro urbano de Itajaí (SC), em 2010. Para a coleta dos dados, foi utilizada a técnica do desenhoestória com tema. O número de crianças que integraram a pesquisa foi delimitado pela técnica de saturação dos dados. Para a estruturação dos dados, foram consideradas quatro categorias, desdobradas em subcategorias. Integraram a pesquisa 40 crianças de escolas públicas e 36 de escolas particulares. A categoria ambiente odontológico foi a que mais se destacou, nos dois grupos, com ênfase na descrição do consultório odontológico. Na categoria imagem do dentista, houve predomínio da imagem humanizada e na categoria modelo de tratamento a ênfase foi para o tratamento preventivo. Para os dois grupos investigados, o contexto da consulta odontológica estrutura-se, principalmente, através de situações agradáveis que são balizadas por uma prática educativo-preventiva, permeada por uma visão humanizada do profissional da odontologia. Santi (2011) afirmou que a percepção que as pessoas têm em relação ao dentista é um tema que, nas últimas décadas, vem despertando a atenção e o interesse dos profissionais da área odontológica. Assim, o objetivo deste estudo foi identificar as características de um dentista ideal na visão de adolescentes. A pesquisa é do tipo descritivo, transversal, mediante coleta de dados primários. A população-alvo foi constituída por alunos de 5ª a 8ª séries, matriculados em uma escola particular e uma escola pública, localizadas no perímetro urbano-central da cidade de Santiago, na região centro-oeste do Rio Grande do Sul. O plano amostral foi não probabilístico e a obtenção da amostra 47 se deu por conveniência. A coleta de dados foi efetuada com base nos princípios da Técnica de Associação Livre de Palavras. A análise dos dados foi realizada de acordo com os pressupostos de pesquisa qualitativa, mediante identificação de categorias de análise. O grupo pesquisado ficou constituído por 190 sujeitos, sendo 44% da escola pública e 56% da escola particular; 50,5% eram do gênero feminino e 49,5% do masculino. As idades variaram de 10 a 15 anos, sendo que a faixa etária de 12 a 15 anos foi a mais frequente (62,6%). Foram identificadas 5 categorias de análise. Para as duas escolas, a categoria relacionamento interpessoal foi a mais citada (32,6%, na pública; 29,6%, na particular). Para a escola pública, a segunda categoria mais evidenciada foi competência profissional (28,8%) e, na escola particular foi biossegurança (28,9%). A pesquisadora explicou que o cirurgião-dentista deve conhecer seus pacientes, deve saber interagir e se comunicar, para criar uma relação profissional-paciente satisfatória, que é fundamental para o estabelecimento de um vínculo de confiança. Ele deve ser atencioso e gentil, responder às perguntas formuladas por seus pacientes, fazendo com que ele se sinta acolhido e mais tranquilo durante o procedimento a que será submetido. A conclusão da pesquisa foi de que, independente do tipo de escola, os adolescentes consideram um bom dentista aquele que, prioritariamente, consegue estabelecer um vínculo afetivo com seus pacientes e que tenha domínio de habilidades e competências técnico-científicas relacionadas à profissão. 48 REFERÊNCIAS ALVES, R. D. O tratamento odontológico sob o olhar da criança: um estudo de representações sociais. Dissertação. (Mestrado)- Programa de Mestrado em Odontologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2005. BARRETO, R. A. Sobre a afetividade na odontologia para bebês. Psicologia Ciência e Profissão, Brasília, v. 21, n. 3, p. 30-37, 2003. BOTTAN, E. R.; DALL’ OGLIO, J.; MARCHIORI, S. A. Ansiedade ao tratamento odontológico em estudantes do ensino fundamental. Pesqui. bras. odontopediatria clín. integr., João Pessoa, v.7, n.3, p. 241-246, set/dez. 2007. BOTTAN, E. R.; DALL’ OGLIO, J.; SILVEIRA, E. G.; MARCHIORI, S.A. Cirurgião-dentista ideal: perfil definido por crianças e adolescentes. RSBO, Joinville, v. 6, n. 4, p. 381-386, 2009. CARDOSO, C. L.; LOUREIRO, S. R.; NELSON-FILHO, P. Tratamento Dentário Pediátrico: manifestações de estresse em pacientes, mães e alunos de Odontologia. Braz. oral res., São Paulo, v.18, n.2, abr./jun. 2004. DANIEL, T. S.; GUIMARÃES, M. S.; LONG, S. M.; MAROTTI, N. R. L.; JOSGRILBERG, E. B. Percepção do paciente infantil frente ao ambiente odontológico. Odontol. clín.-cient., Recife, v.7, n.2, p. 129-132, abr./jun. 2008. FARDIN, A. C.; GARBIN, C. A. S.; ARCIERI, R. M.; MOIMAZ, S. A. S. O cirurgião dentista no olhar das crianças. Encontro de Saúde Coletiva e Bioética, II, 2004, Araçatuba. Anais... Araçatuba: UNESP, 2004. Disponível em: <http://www.foa.unesp.br/pos_graduacao/odontosocial/anais_evento.doc> Acesso em: 31 out. 2010. 49 FIORAVANTE, D. P.; MARINHO-CASANOVA, M. L. Comportamento de crianças e de dentistas em atendimentos odontológicos profiláticos e de emergência. Interação psicol., Curitiba, v. 13, n. 1, p. 147-154, 2009. HANNA, L.N.O.; ARAÚJO, R.J.G.; GABRIEL, D.P.; NOGUEIRA, A.J.S. O perfil do dentista sobre olhar infantil. Ezamaz, Belém, v. 1, n.1, p. 24-37, p. 24-39, jul./dez. 2009. JOSGRILBERG, E. B.; CORDEIRO, R. C. L. Aspectos psicológicos do paciente infantil no atendimento de urgência. Odontol. clín.- cient., Recife, v. 4, n. 1, p. 13-18, jan./abr. 2005. KETZER, J. C.; BOTTAN, E. R.; ARAUJO, S. M.; ROCHA, A. L. H. A visão de crianças de escolas públicas e particulares de Itajaí (SC) sobre o atendimento odontológico. Relatório Final (Programa de Iniciação Científica)- Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura, Universidade do Vale do Itajaí, 2011. LIMA, F. L. T.; TRAVASSOS, D. V.; FERREIRA, E. F.; VARGAS, A. M. D. A representação social da saúde bucal em pré-adolescentes moradores de área de risco social. Arq. odontol., Belo Horizonte, v.44, n.3, p.13-18, 2008. MORAES, A. B. A.; SANCHEZ, K.A. S.; POSSOBON, R. F.; COSTA, A. L. Psicologia e odontopediatria: a contribuição da análise funcional do comportamento. Psicol. reflex. crit., Porto Alegre, v.17, n.1, p.75-82, 2004. MACEROU, R. T. P. Representação social do cirurgião dentista e o comportamento infantil, face ao tratamento odontopediátrico. Dissertação. (Mestrado) – Programa de Mestrado em Psicologia, Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande, 2004. MASSONI, A. C. L. T.; FERREIRA, J. M. S.; COLARES, V.; DUARTE, R. C. Roteiro para interpretação de desenhos: facilitando a abordagem da criança no consultório odontológico. Arq. odontol., Belo Horizonte, v. 44, n. 3, p. 31-36, 2008. 50 MONTONI, K. M. M. C.; TENÓRIO, M. D. H.; SANTOS, L. M.; SANTOS, N. B. Percepção dos escolares de ensino fundamental da rede pública da cidade de Maceió-AL sobre a consulta odontológica. UFES rev. odontol., Vitória, v.11, n. 2, p.24-29, 2009. OLIVEIRA, A. C. B.; RAMOS-JORGE, M. L.; PAIVA, S. M.; PORDEUS, I. A. Percepção da criança sobre o uso do equipamento de proteção individual pelo odontopediatra. Rev Ibero-am Odontopediatr Odontol Bebê, Curitiba, v. 7, n. 36, p. 159-167, 2004. OLIVEIRA, R. S.; TORRES, L. M. S.; GOMES, I. S.; DI NICOLÓ, R. Correlação entre nível de ansiedade em crianças frente ao tratamento odontológico. IJDInt. J. Dent., Recife, v. 9, n. 4, p.193-197, 2010. OLIVEIRA, F.C.M. um método para compreensão dos conteúdos emocionais da criança em odontopediatria. Rev. ABO Nac., São Paulo, v. 17, n.3, p.155159, 2009. PERIN, P. C. P; GARBIN, A. J. I.; PERIN, L. F. M. G.; PEREIRA. M. A.; ABREU, K. C. S. Percepção e condição de saúde bucal em crianças numa instituição na cidade de Lins/SP. Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba, v. 16, n. 2, p.33-38, 2004. PIOVESAN, C., BATISTA, A., FERREIRA, F. V., ARDENGHI, T. M. Oral healthrelated quality of life in children: conceptual issues. Rev. odonto ciênc., Porto Alegre, v.24, n.1, p. 81-85, 2009. PIRES, M. B. S. M.; ROSSI, G. A clínica odontopediátrica e a imagem do aluno formada pelo paciente. In: Simpósio Internacional de Iniciação Científica da Universidade de São Paulo, 17, 2009, Ribeirão Preto. Anais... Ribeirão Preto: USP, 2009. Disponível em <http://www.usp.br/siicusp/Resumos/17Siicusp/resumos/5523.pdf>. Acesso em: 19 mar. 2010. 51 POSSOBON, R. F.; CARRASCOZA, K. C.; MORAES, A. B. A.; COSTA JUNIOR, A. L. O tratamento odontológico como gerador de ansiedade. Psicol. estud., Maringá, v. 12, n. 3, p.609-616, set./dez. 2007. RANK, R. C. I. C.; CARVALHO, A. S.; RAGGIO, D. P.; CECANHO, R.; IMPARATO, J. C. P. Reações emocionais infantis após o atendimento odontológico. RGO (Porto Alegre), Porto Alegre, v.53, n.3, p. 176-180, jul./ago./set. 2005. ROBERTS, J.F.; CURZON, M.E.; KOCH, G.; MARTENS, L.C. Review: behaviour management techniques in paediatric dentistry. Eur. Arch. Paediatr. Dent., Leeds, v.11, n.4, p.166-174, Aug. 2010. SANTI, D. G. Características de um cirurgião-dentista ideal: definição de escolares da cidade de Santiago/RS. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação)- Curso de odontologia, Universidade do Vale do Itajaí, 2011. SOTO, R. M.; REYES, D. D. Manejo de las Emociones del Niño en la Consulta Odontologica. Rev. Latinoamericana de Ortodoncia y Odontopediatría, Caracas, 2005. Disponível em: <http://www.ortodoncia.ws/publicaciones/2005/art10.asp>. Acesso em: 15 maio 2012. STOLZ, A.S.B; ABREU, M.E.R; VIEGAS, V.N; PAGNONCELLI, R.M; OLIVEIRA, M.G. Sentimentos, percepções e manifestações de pacientes e profissionais sobre a cirurgia ambulatorial de terceiros molares. Pesqui. bras. odontopediatria clín. integr., João Pessoa, v.8, n.2, p.229-232, maio/ago. 2008.