i UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS: UMA ANÁLISE ERGONÔMICA ESPECÍFICA PARA MELHORA NA QUALIDADE DE VIDA DO CIRURGIÃO-DENTISTA. CLOVIS COSTA DE SOUZA FLORIANÓPOLIS, Santa Catarina 2003 i CLOVIS COSTA DE SOUZA A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS: UMA ANÁLISE ERGONÔMICA ESPECÍFICA PARA MELHORA NA QUALIDADE DE VIDA DO CIRURGIÃO-DENTISTA. Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Engenharia da Produção, Curso de PósGraduação em Engenharia da Produção Orientador: Prof. Doutor José Luiz Fonseca da Silva Filho FLORIANÓPOLIS 2003 ii TERMO DE APROVAÇÃO CLOVIS COSTA DE SOUZA A ILUMINAÇÃO EM CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS: UMA ANÁLISE ERGONÔMICA ESPECÍFICA PARA MELHORA NA QUALIDADE DE VIDA DO CIRURGIÃO-DENTISTA. Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre no curso de PósGraduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina, pela seguinte banca examinadora: Orientador: Prof. Dr. José Luiz Fonseca da Silva Filho. Profª. Dra. Eliete de Medeiros Franco. Prof. Dr. Alcion Alves Silva Florianópolis, 17 de fevereiro de 2003 iii DEDICATÓRIAS A MARIA LUCIA, minha esposa, ANDRÉ, meu filho e BETINA, minha filha, cujo amor e compreensão somaram esforços para a superação dos obstáculos. iv AGRADECIMENTOS À Universidade Federal de Santa Catarina e à Coordenação do Programa de PósGraduação em Engenharia de Produção: pela oportunidade de cursar o Mestrado, de poder usufruir dos ensinamentos de seus pesquisadores e pelo atendimento eficiente e personalizado de seus técnicos administrativos. Ao Professor Doutor José Luiz Fonseca da Silva Filho, minha gratidão como orientador e por me ter propiciado construir conhecimentos individualmente e no coletivo, em nosso grupo de discussões. Por sua orientação, amizade e suas contribuições na orientação deste trabalho. À Professora Doutora Eliete de Medeiros Franco, componente da banca examinadora, com quem muito tive oportunidade de aprender. Sua postura profissional e amiga, sua disponibilidade e contribuições valiosas, marcaram significativamente, para mim, sua presença no desenvolvimento do Mestrado. Ao Professor Doutor Alcion Alves Silva, companheiro e amigo, um agradecimento especial pelas suas orientações seguras para o bom desenvolvimento deste trabalho. À Professora Doutora Ana Regina de Aguiar Dutra, pela sua disponibilidade e contribuições valiosas para o aperfeiçoamento deste trabalho, minha amizade. Às pessoas com quem tive oportunidade de conviver durante o período de Mestrado, pelo companheirismo, convivência intelectual e amizade. v “A maior graça da natureza – e o maior perigo da graça – são os olhos. Tanto aqueles com que vemos, quanto aqueles com que somos vistos” Pe. A. Vieira. “O olho é responsável pela aquisição de aproximadamente 80% do conhecimento humano. Portanto, qualquer deficiência nesse órgão compromete, em maior ou menor extensão, o desenvolvimento das aptidões intelectuais e psicomotoras, interferindo na vida escolar e profissional do indivíduo. A função do olho é captar luz do meio ambiente e convertê-la.” Fund. Hilton Rocha Em oposição ao preto, o branco é a cor da vida e da paz. “Disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas. “ Guimarães (2000). vi SUMÁRIO LISTA DE TABELAS ............................................................................................... VIII LISTA DE ILUSTRAÇÕES......................................................................................... IX GLOSSÁRIO............................................................................................................... X RESUMO.................................................................................................................. XIV ABSTRACT............................................................................................................... XV 1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................1 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .............................................................................1 1.2 JUSTIFICATIVA .................................................................................................1 1.3 OBJETIVOS .......................................................................................................1 1.4 DELIMITAÇÃO DO TRABALHO ........................................................................2 1.5 RELEVÂNCIA DO ESTUDO ..............................................................................2 1.6 ESTRUTURA E DESENVOLVIMENTO DA DISSERTAÇÃO.............................3 2 REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................................5 2.1 LUMINOTÉCNICA..............................................................................................5 2.1.1 Objetivos da Iluminação .................................................................................7 2.1.2 Efeitos da Luz ................................................................................................8 2.1.3 Grandezas Fundamentais da Luminotécnica ...............................................10 2.1.3.1 Luz........................................................................................................10 2.1.3.2 Cor........................................................................................................11 2.1.4 Intensidade Luminosa ..................................................................................12 2.1.5 Iluminamento................................................................................................12 2.1.5.1 Escolha da Luminária ...........................................................................13 2.1.6 Avaliação Qualitativa das Lâmpadas ...........................................................13 2.1.6.1 Índice de reprodução de cores – IRC ...................................................13 2.1.6.2 Eficiência ..............................................................................................14 2.1.6.3 Temperatura da cor ..............................................................................15 2.1.6.4 Curva espectral ....................................................................................16 2.1.7 Tipos de Luminárias .....................................................................................16 2.1.8 Formas de Iluminação para Consultório Odontológico ...............................17 2.2 ERGONOMIA ...................................................................................................17 2.2.1 Histórico da Ergonomia ................................................................................19 2.2.2 Definições ....................................................................................................21 2.2.3 Tipos de Ergonomia .....................................................................................22 2.2.4 Objetivos da Ergonomia ...............................................................................23 2.2.5 Métodos e Técnicas .....................................................................................24 2.3 IMPORTÂNCIA DOS PROJETOS DE ILUMINAÇÃO PARA OS ESTUDOS ERGONÔMICOS....................................................................................................29 2.3.1 Ergonomia....................................................................................................29 vii 2.3.2 Projeto de Iluminação..................................................................................29 2.3.3 Caracterização do Trabalho do Cirurgião-Dentista .....................................30 2.3.4 Saúde Ocular dos Odontólogos ...................................................................31 2.3.5 Iluminação Geral .........................................................................................31 2.4 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO..........................................................32 2.4.1 Concepções Sobre o Trabalho.....................................................................35 2.4.2 Modelos e Fatores Determinantes de QVT ..................................................37 2.4.3 Produtividade X Qualidade de Vida no Trabalho .........................................47 2.4.4 O Taylorismo e a Ergonomia........................................................................49 2.4.4.1 A Resistência dos Trabalhadores ao Taylorismo .................................49 2.4.4.2 A Transformação do Taylorismo...........................................................50 2.4.5 Eficácia e Trabalho ......................................................................................52 3 ESTUDO DE CASO: A ANÁLISE ERGONÔMICA DO AMBIENTE LUMÍNICO NO TRABALHO DO CIRURGIÃO-DENTISTA ...............................................................55 3.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................55 3.2 ANÁLISE DE DADOS .....................................................................................57 3.2.1 Procedimentos Metodológicos .....................................................................58 3.3 APLICAÇÃO DA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO .........................58 3.3.1 Análise da Demanda....................................................................................58 3.3.2 Características do local de trabalho .............................................................58 3.4 ANÁLISE DA TAREFA ....................................................................................59 3.4.1 Descrição da tarefa .....................................................................................59 3.4.2 Características físico-ambientais do espaço de trabalho: ............................60 3.5 ANÁLISE DA ATIVIDADE ................................................................................61 3.5.1 Análise das atividades em termos gestuais e posturais ..Erro! Indicador não definido. 3.5.2 Análise das atividades em termos cognitivos...............................................63 3.6 DIAGNÓSTICO ................................................................................................63 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................67 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ........................................................................69 ANEXOS ....................................................................................................................... viii LISTA DE TABELAS TABELA III – ÍNDICE DE REPRODUÇÃO DE CORES. REF.: MOREIRA (1987). .....14 TABELA IV – LÂMPADAS FLUORESCENTES (POTÊNCIA E FLUXO LUMINOSO). FONTE: CREDER (1986). .........................................................................................16 TABELA VI – CONCEPÇÃO EVOLUTIVA DE QVT (NADIER E LAWLER, 1983). .....35 TABELA VII – CATEGORIAS CONCEITUAIS DE QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO - QVT.....................................................................................................42 TABELA VIII – INDICADORES DA QVT ....................................................................43 TABELA IX – MODELO DE WERTHER & DAVIS ( ELEMENTOS DE QVT ). ............44 TABELA X - MODELO DE BELANGER (1973). .........................................................45 TABELA XI – MODELO DE DIMENSÕES BÁSICAS DA TAREFA, SEGUNDO HACKMAN & OLDHAM (1975). .................................................................................46 ix LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA I – ESPECTRO DA LUZ VISÍVEL EM FUNÇÃO DO COMPRIMENTO DE ONDA. CREDER, H. (1986).......................................................................................11 FIGURA II - STANDARD 150W - 2.000 LUMENS ......................................................15 FIGURA III - POWERSTAR HQIT 150W - 12.000 LUMENS ......................................15 FIGURA IV – LAYOUT DA CLÍNICA ODONTOLÓGICA ............................................77 FIGURA V – LAYOUT DA SALA DE ATENDIMENTO................................................78 FIGURA VII – FOTO DA JANELA DA SALA DE ATENDIMENTO EM OUTRO ÂNGULO ...................................................................................................................80 FIGURA VIII – FOTO DOS EQUIPAMENTOS DO CONSULTÓRIO NA SALA DE ATENDIMENTO ........................................................................................................81 FIGURA IX – LAYOUT DA DISPOSIÇÃO DOS EQUIPAMENTOS NA SALA DE ATENDIMENTO ........................................................................................................82 FIGURA X – FOTO DAS LUMINÁRIAS NO TETO NA SALA DE ATENDIMENTO.....83 x GLOSSÁRIO Definição de termos considerados relevantes no decorrer do estudo: Análise Ergonômica do Trabalho: metodologia desenvolvida por ergonomistas de língua francesa, que inclui as fases da: análise da demanda, análise da tarefa e análise das atividades para se chegar ao diagnóstico e recomendações ergonômicas. A análise é realizada em uma situação real de trabalho e as conclusões objetivam melhorar condições de trabalho e saúde dos trabalhadores, a produtividade e a qualidade de produtos e serviços produzidos ou realizados. SANTOS E FIALHO (1997). Análise da demanda: fase da análise ergonômica do trabalho que corresponde à definição do problema a ser analisado, a partir da negociação com os diversos atores sociais envolvidos. A demanda é o marco inicial de toda análise ergonômica do trabalho. A sua análise possibilita a compreensão da natureza e a dimensão dos problemas apresentados, assim como elaborar um plano de intervenção para abordá-los. “A demanda pode ser formulada diretamente, de forma explícita, por um dos atores sociais (individual e coletivo), ou ainda, indiretamente, de forma implícita, pelo confronto dos diferentes pontos de vista a respeito do objeto de estudo.“ SANTOS E FIALHO (1997). Análise da tarefa: fase da análise ergonômica do trabalho que corresponde ao que o trabalhador, efetivamente, realiza para executar a tarefa. Refere-se à análise do comportamento do homem no trabalho. SANTOS e FIALHO (1997). A atividade: corresponde a um conceito que remete à mobilização ativa dos recursos do ser humano quando trabalha, incluindo estratégias denominadas modos xi operatórios. Estes, compõem-se de gestos técnico observáveis – ação sobre a matéria, equipamentos, organizações – e não observáveis – planificação da ação, antecipação do comportamento do sistema e representação da situação. CASTILHO e VILLENA (1998). Para MONTMOLLIN (1990), a atividade constitui-se em um “processo complexo, original e em evolução, destinado a adaptar-se à tarefa mas ao mesmo tempo a transformá-la.” Aparelho Óptico Humano – Segundo GUIMARÃES (2000): OLHO – é uma “câmara obscura”, dotada de um “jogo de lentes”, que converge os raios luminosos para a parede interna oposta ao orifício, captando, desta forma, a imagem. Ele é formado basicamente por três camadas (esclerótica, coróide e retina) e por meios de refração (cristalino, humores aquoso e vítreo). ESCLERÓTICA – é a camada externa que dá forma arredondada ao olho. É uma membrana branca, opaca e fibrosa. Na sua parte anterior, ou frontal, mostra-se transparente e mais convexa e recebe o nome de córnea; em sua parte posterior, reveste o nervo óptico (nervo que leva os impulsos visuais ao cérebro). CORÓIDE – é uma membrana intermediária, mais fina, vascular e pigmentada. Após ultrapassar a córnea, a luz atravessa a coróide por um orifício: a pupila. Um anel muscular, a íris (parte “colorida” dos olhos), envolve a pupila e, como um diafragma, regula a entrada da luz. CRISTALINO – situa-se atrás da pupila, e é uma lente biconvexa que converge os raios luminosos para a camada interior, a retina. O cristalino é rodeado pelos músculos ciliares, que aumentam a refração, alterando a convexidade do cristalino, para focalizar a imagem. RETINA – é a membrana fotosensível que reveste a parede interna do globo ocular. Compõe-se de várias camadas, entre elas, a inferior ou nervosa (formada por ramificações do nervo óptico). A camada nervosa é a responsável pela visão: compõe-se de cerca de 130 milhões de células, das quais cerca de 100 milhões são os bastonetes – sensíveis à luz e à sua mudança, mas sem sensibilidade à cor – e cerca de 3 milhões, os cones – sensíveis às cores e formas. xii HUMORES AQUOSO E VÍTREO – os outros meios de refração, preenchem, respectivamente, a área entre a córnea e o cristalino e a cavidade central, atrás do cristalino, sendo o primeiro um líquido e o segundo um material gelatinoso , ambos transparentes. Atividade laboral: A atividade adaptada para as necessidades impostas pelo tipo de trabalho, realizadas sem sair do posto, em breves períodos de tempo, ao longo de todo o dia de trabalho, pode produzir excelentes resultados, principalmente no que diz respeito à prevenção de dores no pescoço e nos braços. RELASUR (1997). Diagnóstico: corresponde a uma síntese da análise ergonômica do trabalho e objetiva a redação de um caderno de encargos e recomendações ergonômicas. Visa sempre a uma transformação e não apenas à descrição de uma situação de trabalho. SANTOS e FIALHO (1997). Ergonomia: conjunto de conhecimentos sobre o desempenho do homem em atividade, com a finalidade de aplicá-los à concepção das tarefas, instrumentos, máquinas e sistemas de produção. LAVILLE (1977). “A Ergonomia implica no estudo de um trabalho concreto, a observação de realizações da tarefa no local e com os equipamentos e equipes envolvidos, a coleta de todos os dados, qualitativos e quantitativos, incertos, incompletos ou contraditórios, necessários a um diagnóstico.” SANTOS E FIALHO (1997). Fluxo luminoso: é a grandeza característica de um fluxo energético, exprimindo sua aptidão de produzir uma sensação luminosa no ser humano através do estímulo da retina ocular, avaliada segundo os valores da eficácia luminosa relativa admitidos pela Comissão Internacional C.I.E.” (ABNT). A unidade do fluxo luminoso é o lúmen (lm). MOREIRA (1990). xiii Intensidade luminosa: é o limite da relação entre o fluxo luminoso em um ângulo sólido em torno de uma direção dada e o valor desse ângulo sólido, quando esse ângulo sólido tende para zero. A unidade de intensidade luminosa no nosso sistema legal é a candela (cd). MOREIRA (1990). Iluminamento: é o fluxo luminoso incidente por unidade de área iluminada. A unidade brasileira de iluminamento é o lux (lx). MOREIRA (1990). Iluminação incandescente: é resultante do aquecimento de um fio, pela passagem da corrente elétrica, até a incandescência. As lâmpadas incandescentes comuns são compostas de um bulbo de vidro incolor ou leitoso, de uma base de cobre ou outras ligas e um conjunto de peças que contém o filamento, que é a peça mais importante. Atualmente, os filamentos são de tungstênio, que tem um ponto de fusão de aproximadamente 3.400 ºC. CREDER (1986). Iluminação fluorescente: é uma lâmpada que utiliza a descarga elétrica através de um gás para produzir energia luminosa. Consiste em um bulbo cilíndrico de vidro, tendo em suas extremidades eletrodos metálicos de tungstênio (catodos), por onde circula corrente elétrica. Em seu interior existe vapor de mercúrio ou argônio a baixa pressão e as paredes internas do tubo são pintadas com materiais fluorescentes, conhecidos como cristais de fósforo. CREDER (1986). Luminância: é o limite da relação entre a intensidade luminosa com a qual irradia, em uma direção determinada, uma superfície elementar contendo um ponto dado e a área aparente dessa superfície para uma direção considerada, quando essa área tende pra zero. MOREIRA (1990). xiv SOUZA, Clovis Costa de A iluminação em consultórios odontológicos: uma análise ergonômica específica para melhora na qualidade de vida do CirurgiãoDentista. Orientador: Dr. José Luiz Fonseca da Silva Filho. Florianópolis: UFSC/PósGraduação em Engenharia de Produção, 2002. Dissertação (Mestre em Engenharia de Produção). RESUMO Esta dissertação tem por objetivo mostrar a necessidade de um estudo da análise ergonômica do trabalho, mais especificamente, como a intensidade de luz dentro da sala de tratamento do paciente em um consultório odontológico pode afetar o trabalho do Cirurgião-Dentista, levando a uma fadiga tanto muscular quanto ocular. Os vários ambientes que um consultório odontológico possui, têm iluminações diversas: a sala de recepção, a sala de entrevistas, a sala de repouso pré e pós-operatório, o banheiro, os corredores e a sala de tratamento propriamente dita, que é o objeto deste estudo, e estes devem estar adequadamente iluminados. A fundamentação teórica e conseqüente revisão bibliográfica busca aprofundar temas como: trabalho, condições de trabalho, ergonomia e qualidade de vida. Utilizando-se a Análise Ergonômica do Trabalho, estabeleceu-se um diagnóstico e um caderno de encargos com recomendações ergonômicas, mostrando aspectos a serem considerados e a relevância da iluminação para a atividade humana, como meio de obtenção das condições de conforto e satisfação no ambiente de trabalho. Palavras-chave: ergonomia, luminotécnica, iluminação odontológica. xv SOUZA, Clovis Costa de A iluminação em consultórios odontológicos: uma análise ergonômica específica para melhora na qualidade de vida do CirurgiãoDentista. Orientador: Dr. José Luiz Fonseca da Silva Filho. Florianópolis: UFSC/PósGraduação em Engenharia de Produção, 2002. Dissertação (Mestre em Engenharia de Produção). ABSTRACT This dissertation intends to show the necessity of discution of work ergonomics analisys, most especificaly how light intensity in a odontologic treatment room can affect cirurgio-dentist work, resulting in muscular or ocular stress. Most ambients in a odontologic consulting room have many kinds of illumination: reception room, interview room, resting room, pre and post operator room, bathroom, other rooms, and treatment room, this one, object of this study, because this must be illuminated correctly. By this motive, odontologic instruments have an anti-reflexive treatment, what avoid an ocular stress and rises reading velocity and efficient illumination must be good to permit efficient and confortable work. So, a good illumination project shows aspects that have to be considerated in a work ergonomic analisys and illumination importance for human activities to intend confortable condictions and satisfaction in work environement. Key-words: ergonomy, luminotecnics, odontologic illumination. 1 1 INTRODUÇÃO 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Com o constante desenvolvimento tecnológico, a crise de energia que o Brasil e o mundo enfrentam e a necessidade de melhor aproveitamento dos recursos naturais, várias tecnologias foram implementadas à iluminação, com menos investimento, menor manutenção e maior economia de energia elétrica. A necessidade de luminárias de maior rendimento luminoso e equipamentos auxiliares que forneçam às lâmpadas suas condições de funcionamento com eficiência, tudo isso aliado a uma alta confiabilidade, baixa manutenção e vida longa conduz a um conforto aos trabalhadores, trazendo uma diminuição de riscos acidentais e ocupacionais e uma diminuição da fadiga. 1.2 JUSTIFICATIVA Esta dissertação tem por objetivo mostrar a necessidade de um estudo da análise ergonômica do trabalho, mais especificamente, como a intensidade de luz dentro da sala de tratamento do paciente em um consultório odontológico pode afetar o trabalho do Cirurgião-Dentista, levando a uma fadiga tanto muscular quanto ocular. 1.3 OBJETIVOS Objetivo geral: 2 Identificar e analisar a adoção de um projeto adequado de conforto lumínico, considerando a abordagem ergonômica do trabalho de um Cirurgião-Dentista. Objetivos específicos: a) Pesquisar bibliografias que possibilitem sustentar teoricamente as etapas metodológicas do estudo e a argumentação a ser desenvolvida sobre ergonomia, condições de trabalho e condições de trabalho específicas do Cirurgião-Dentista; b) Realizar uma Análise Ergonômica do Trabalho, relacionando o ambiente de um consultório odontológico com o Cirurgião-Dentista, fornecendo desta maneira subsídios que contribuam para o melhor entendimento do trabalho profissional; c) Diagnosticar os erros relativos à iluminação e onde fazer recomendações para a melhoria da situação analizada. 1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO A pesquisa realizada dentro de um consultório odontológico, mais especificamente na sala de tratamento do paciente, constituir-se-á em um estudo de caso, como conceituado por Godoy (1995). Embora o estudo de caso apresente como vantagem possibilitar uma análise aprofundada da situação, apresenta a desvantagem de não permitir generalizações das conclusões do trabalho para outras situações semelhantes. 1.5 RELEVÂNCIA DO ESTUDO Este trabalho caracteriza-se como um estudo de um projeto adequado de intensidade de luz, juntamente com as necessidades inerentes à tarefa exercida pelo Cirurgião-Dentista, a fim de participar na melhoria da qualidade de vida do mesmo em seu espaço de trabalho. O estudo classifica-se como exploratório/descritivo. O estudo exploratório, de acordo com Triviños (1992), possibilita aprofundar análises nos limites de uma 3 realidade específica. Enquanto que o estudo descritivo, permite caracterizar uma situação pela descrição de fatos e fenômenos que a compõem, indo além da coleta, ordenação e classificação de dados ou fatos, com o objetivo de permitir o estabelecimento e análise de relações entre eles. Ainda, em função da necessidade de conhecer-se profundamente a realidade estudada, fez-se a opção pelo estudo de caso. De acordo com Godoy (1995), é uma estratégia que possibilita responder às questões relativas ao modo e causa de acontecimento de certos fenômenos. Também é a estratégia escolhida quando há pouca possibilidade de controle sobre os eventos estudados e o foco de interesse é sobre fenômenos visuais, só possíveis de serem analisados dentro de algum contexto de vida real. Em resumo, este trabalho caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa, um estudo exploratório/descritivo, onde foi feita a opção pelo estudo de caso para aprofundar o conhecimento da realidade focalizada. 1.6 ESTRUTURA E DESENVOLVIMENTO DA DISSERTAÇÃO O trabalho está estruturado em três capítulos: O primeiro capítulo tratará do referencial teórico abordando: fatores de iluminação (Luminotécnica); questões da ergonomia, como histórico, definições, conceitos, e normas regulamentadoras; revisão de literatura caracterizando a importância dos projetos e iluminação para os estudos ergonômicos; importância da qualidade de vida no trabalho e a preocupação com a satisfação das necessidades das pessoas a esta questão (suporte para a realização do estudo de caso); No segundo capítulo, apresentar-se-á a análise ergonômica do ambiente odontológico e as necessidades das mudanças referentes à iluminação. Ainda neste 4 capítulo, são apresentados os dados obtidos e a articulação deles com a literatura de ergonomia; No último e terceiro capítulo do trabalho correspondente a considerações finais, incluem-se as conclusões sobre a pesquisa, relacionadas aos objetivos; à abordagem utilizada; à escolha da situação referência para o estudo de caso; aos aspectos cognitivos, organizacionais e ambientais, incluindo recomendações buscando a melhoria das condições de saúde e trabalho do Cirurgião-Dentista. 5 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 LUMINOTÉCNICA CREDER (1986), diz que enxergamos os corpos pela luz que emitem. Esse fluxo luminoso emitido pode ser próprio (fonte primária de luz), refletido ou transmitido (fonte secundária de luz). As fontes primárias podem ser naturais ou artificiais. A principal fonte primária natural de luz para a terra é o sol. As primárias artificiais são geralmente classificadas de acordo com o fenômeno que é a causa produtora do fluxo luminoso (combustão, incandescência, descarga elétrica, eletroluminescência, etc..) e são chamadas de lâmpadas. A luz natural sempre foi a principal fonte de iluminação para a população. Com a descoberta da eletricidade e a invenção da lâmpada por Thomas Edison, a iluminação artificial se tornou cada vez mais inseparável das edificações, permitindo ao homem utilizá-la tanto para iluminar alguns ambientes interiores, como à noite, para dar continuidade às suas atividades. Portanto, um bom projeto de iluminação deve garantir às pessoas a possibilidade de executar atividades visuais com o máximo de precisão e segurança bem como com o menor esforço. As lâmpadas fornecem a energia luminosa que lhes são inerentes com auxílio das luminárias que são os seus sustentáculos, através dos quais se obtém melhor rendimento luminoso, ligação à rede, além do aspecto visual agradável e estético. Ainda de acordo com CREDER (1986), as lâmpadas pertencem basicamente a um dos seguintes grupos: a.Irradiação por efeito térmico (Incandescentes) Incandescentes para iluminação geral: são as mais comuns. Seu princípio de funcionamento é produzir luz pela elevação da temperatura de um filamento, 6 geralmente de tungstênio, ao ser submetido à corrente elétrica. O tamanho reduzido, o funcionamento imediato e o desnecessário uso de aparelhagem auxiliar são algumas das principais vantagens deste tipo de lâmpada. Empregam-se em locais nos quais se deseja a luz dirigida, portátil e com flexibilidade de escolha de diversos ângulos de abertura de facho luminoso, como edificações residenciais e comerciais, basicamente três tipos de lâmpada incandescentes: incandescente comum, refletora (espelhadas) e halógena. As incandescentes comuns são as mais conhecidas e de tecnologia mais antiga. Apresentam-se em bulbos claros ou leitosos. Apesar do custo inicial baixo, seu custo global (operação, manutenção e inicial) é alto. As lâmpadas espelhadas possuem refletor interno para melhorar o direcionamento da luz. A área espelhada funciona como uma luminária, com a vantagem de não necessitar limpeza ou sofrer deterioração. As lâmpadas halógenas possuem, além dos gazes tradicionais, um halogênio (normalmente iodo) no interior do bulbo. Algumas lâmpadas halógenas são equipadas com um refletor multifacetado coberto com uma película dicróica, proporcionando desta forma, uma luz mais “fria” que aquela obtida com refletores comuns. b. Descarga em gases e vapores (Fluorescentes, vapor de mercúrio, de sódio,etc..) Fluorescentes: são lâmpadas que, pelo seu ótimo desempenho, são mais indicadas para iluminação de interiores, como escritórios, lojas e indústrias, tendo espectros luminosos indicados para cada aplicação. Devido ao seu princípio de funcionamento, as lâmpadas com descarga gasosa requerem alguns dispositivos auxiliares, como reatores e starters. Uma das desvantagens das lâmpadas de descarga é o efeito estroboscópico que produzem. As lâmpadas piscam na mesma freqüência da tensão de alimentação (60 hz). Um motor cujo eixo gire em velocidade alta (3.600 rpm, por exemplo) pode parecer estar parado e causar algum acidente de trabalho. Por este motivo, em locais onde haja a possibilidade de ocorrer este problema, é recomendado o uso de pelo menos duas lâmpadas ligadas em circuitos 7 diferentes ou com reator duplo, que terão suas piscadas defasadas, evitando o efeito estroboscópico. Luz mista: são utilizadas na iluminação de interiores - como indústrias, galpões, postos de gasolina - na iluminação externa, etc. Vapor de mercúrio: são empregadas em interiores de grandes proporções, em vias públicas e áreas externas. Vapor de sódio de alta pressão: utilizadas na iluminação de ruas, áreas externas, indústrias cobertas, etc. 2.1.1 Objetivos da Iluminação Segundo CREDER (1986), a iluminação de interiores é a instalação executada para iluminar artificialmente locais fechados. Nos projetos de iluminação, é preciso saber dosar entre o belo e as especificações para o conforto lumínico. Para tanto, é necessário considerar alguns fatores fundamentais, como: a) Conforto: para garantir ao usuário as condições ideais de bem-estar, devese aplicar níveis adequados de luminosidade, evitando ofuscamentos e contrastes muito acentuados na iluminação. b) Atmosfera: para se criar o clima desejado, seja frio ou cálido, é preciso descobrir a tonalidade adequada da luz através da escolha de lâmpadas específicas. c) Orientação: para facilitar a compreensão do espaço, é fundamental a correta distribuição dos pontos de luz e seus respectivos efeitos. d) Composição: para compor um ambiente, é necessário encontrar o equilíbrio no conjunto de luzes a partir de seus efeitos, cores, destaques e sombras. e) Visibilidade: considerando que o homem percebe cerca de 80% das informações através da visão, é importante assegurar que a iluminação proporcione plena percepção dos elementos à sua volta. f) Imagem: o resultado da boa aplicação dos fatores acima resultará na visão de um quadro harmonioso. 8 A. Aspectos que devem ser considerados no Estudo do Ambiente Lumínico: a) Levantamento físico detalhado do espaço a ser trabalhado. b) Pesquisar: largura, comprimento, pé direito, layout, cores, texturas, materiais, material do rebaixo (se houver), profundidade do rebaixo (se houver), posição de dutos, posição de vigas, posição de colunas, posição da alimentação disponível (carga e tensão) e posição dos comandos ou seções disponíveis (interruptores independentes). c) Estudar: ventilação ou refrigeração, carga térmica de outros equipamentos, horário de utilização e aproveitamento da iluminação natural. Observação: as atividades que este espaço abrigará deverão ser também conhecidas, assim como as características de seus futuros usuários. d) Características do usuário: idade do usuário, tipo de atividade, prioridade da atividade e prioridades do usuário. B. Especificação da lâmpada e da luminária. Seguir os seguintes procedimentos: Para a escolha da lâmpada: avalie todas as características da lâmpada - que sejam adequadas ao espaço, à atividade e ao efeito pretendido. a) Parâmetros: temperatura de trabalho, dimensões, fluxo luminoso, temperatura de cor, tempo de vida e necessidades funcionais (reator, transformador etc); b) Escolha da luminária: avalie o tipo de instalação (embutido, plafom, arandela etc); curvas fotométricas, adequação funcional e adequação estética. 2.1.2 Efeitos da Luz A luz se torna visível aos nossos olhos quando refletida em uma superfície. O efeito produzido por esta reflexão varia em função das características da lâmpada utilizada, da luminária e de sua posição em relação a essa superfície. 9 O conceito de um projeto de iluminação só nasce a partir da definição dos climas que queremos dar aos ambientes. Principais efeitos ou tipos de iluminação: a) Luz de enchimento Tem a finalidade de preencher todo o espaço de luz de forma abrangente e difusa, proporcionando um resultado bastante uniforme. É o pano de fundo para receber as luzes de destaque, que devem prevalecer sobre a luz de enchimento. b) Luz chapada É a luz jogada uniformemente em uma área, de maneira intensa e abrangente. c) Luz de marcação Define o limite de um espaço e/ou ambientação. Exemplo: uma fileira de plafons de embutir entre dois ambientes ajuda a definir a divisão entre eles. d) Luz direta É a luz direcionada para um objetivo, independente de reflexão de outra superfície. e) Luz pontual ou de destaque Produzida a partir de um equipamento de iluminação, ou de uma lâmpada refletora que, em função de suas características, produz um cone de luz bem definido e restrito à área de interesse. Seu uso é conveniente quando se quer destacar algum ponto específico. f) Luz dramática Utilizada para definir o resultado de um conjunto de luzes pontuais, que atuam juntas, produzindo zonas de claros e escuros que acentuam, de forma muito marcante, detalhes do espaço iluminado. g) Luz indireta ou rebatida É o resultado de uma luz projetada em uma superfície que a rebate para a área de interesse. É muito comum se utilizar esta solução, quando se quer uma luz 10 macia sem uma origem muito definida. As sombras ficam atenuadas e reduzem reflexos indesejáveis em telas de vídeo, por exemplo. h) Luz recortada Recortar a luz é o mesmo que delimitar, definir com exatidão onde ela deve parar. Só é possível quando se usa um equipamento dotado de conjunto ótico e facas, ou aletas reguláveis. 2.1.3 Grandezas Fundamentais da Luminotécnica Deve-se ter conhecimento das grandezas fundamentais, baseadas nas definições da ABNT (vocabulário de termos de iluminação e NBR-5413): 2.1.3.1 Luz CREDER (1986), define a luz como o aspecto da energia radiante que um observador humano constata pela sensação visual, determinada pelo estímulo da retina ocular. SOARES (1991), diz que os órgãos dos sentidos são os canais que ligam os seres vivos ao ambiente em que vivem. Particularmente para o homem, são as sensações sonoras, luminosas, olfativas, gustativas e táteis que lhe trazem as informações sobre o mundo. A falta de qualquer um dos órgãos dos sentidos causa prejuízo ao homem, pois para ele o mundo se apresenta incompleto. Entretanto, a falta da visão é a mais sentida, porque é através dos olhos que se recebe a maior quantidade de informações. As sensações visuais são produzidas quando a luz que vem dos objetos atinge nossos olhos. Portanto a luz é o agente da visão, isto é, vemos um corpo porque ele envia luz para nossos olhos. Segundo CREDER (1986), a faixa de radiações eletromagnéticas capazes de serem percebidas pelo olho humano se situa entre os comprimentos de onda 3.800 a 7.600 Angstroms. O Angstrom, cujo símbolo é Å, é o comprimento de onda unitário e igual a dez milionésimos do milímetro. 11 2.1.3.2 Cor SOARES (1991), diz que consegue-se explicar a variabilidade das cores quando se considera que a luz é constituída por ondas emitidas pelas fontes luminosas. Cada cor corresponde, então, a ondas de determinada freqüência. Para as diferentes ondas luminosas, a freqüência costuma ser medida em vibrações por segundo. Essa unidade é denominada hertz (símbolo: Hz ), em homenagem ao físico alemão Heinrich Rudolf Hertz (1857-1894). A determinação da freqüência das ondas luminosas é feita através de aparelhos eletrônicos. CREDER (1986) e SOARES (1991), referem que a freqüência da luz vermelha é a de maior comprimento de onda visível, entre 6.400 a 7.600 Angstroms e vale 375 trilhões de vibrações por segundo, ou 375 trilhões de hertz. No outro extremo, a luz violeta apresenta a mais alta freqüência 750 trilhões de vibrações por segundo, ou 750 trilhões de hertz. As outras luzes, intermediárias no espectro (alaranjada, amarela, verde, azul e anil), apresentam freqüências com valores situados entre o da luz vermelha e o da luz violeta. ANGSTROMS 3800 4000 5000 VIOLETA AZUL 5550 6000 VERDE AMARELO 7000 LARANJA 7600 VERMELHO FIGURA I – Espectro da luz visível em função do comprimento de onda. CREDER, H. (1986) GUIMARÃES (2000), relata que o fisiologista inglês Thomas Young (17831829) determinou, em 1802, com base na idéia da redução das cores, três tipos de receptores em nossa retina: vermelho, amarelo e azul. O fisiologista alemão Hermann Ludwig vol Helmholtz (1821-1894), por sua vez, em 1852, determinou três espécies de fibrilas nervosas na retina: a primeira estimulada principalmente pelas 12 ondas longas (vermelho), a segunda pelas ondas médias (verde) e a terceira pelas ondas curtas (azul-violeta). Com as experiências de James Clerk Maxwel, em 1861, usando filtros vermelho, verde e violeta, comprovou-se a síntese aditiva da percepção visual. Para GUYTON (1993), a cor é inicialmente detectada por meio dos contrastes de cores. Atuam, nessa análise, um processamento seriado das células simples às mais complexas, no qual vão sendo “decifrados progressivamente mais detalhes” e um processamento paralelo das diversas informações da imagem em diversas localizações cerebrais. “É a combinação de ambos os tipos destas análises que proporciona a interpretação completa de uma cena visual”. 2.1.4 Intensidade Luminosa CREDER (1986), define como intensidade luminosa, na direção perpendicular de uma superfície plana de área igual a 1/600.000 metros quadrados, de um corpo negro à temperatura de solidificação da platina, e sob a pressão de 101.325 newtons por metro quadrado. GUIMARÃES (2000), afirma que o olho tem alguns instrumentos para compensar a diferença de luminosidade ambiente e manter a boa recepção da informação. Esse controle é realizado pela íris. Quando a luz é insuficiente, os músculos da íris se contraem, alargando a pupila e, quando a luz é mais forte, distendem-se, restringindo o seu diâmetro, variando a entrada da luz em até 30 vezes. Assim se explica por que as imagens com maior iluminação exigem menos esforço da visão do que imagens com baixa iluminação. E menor esforço significa, naturalmente, mais prazer. 2.1.5 Iluminamento CREDER (1986), define que para a obtenção do nível de iluminamento de um local deve-se observar a utilização do mesmo. Esses valores são orientativos, pois variam bastante com as normas técnicas regionais. Também a idade média dos 13 ocupantes de um recinto influenciará a determinação de seu nível de iluminamento. MOREIRA (1983), observou pesquisa de Weston e Fortuin que verificaram que, se um homem de quarenta anos realiza uma tarefa de leitura com 200 lux, uma criança só necessita de 30% desse iluminamento, um jovem de 20 anos de 50% e um homem de 60 anos, de 500% de seu valor básico. 2.1.5.1 Escolha da Luminária Segundo CREDER (1986), a escolha da luminária depende de diversos fatores: objetivo da instalação (comercial, industrial, domiciliar, etc.), fatores econômicos, razões da decoração, facilidade de manutenção, etc. Sendo a iluminação parte de um projeto global, deve-se harmonizar com o mesmo. Ela define, em muitos casos, as características de um ambiente: se ele é alegre ou circunspecto, frio ou quente, comercial ou íntimo. Deverá também acentuar suas qualidades, valorizando-as ao máximo. Em suma, ao se projetar a iluminação de um ambiente, não se deve levar em conta unicamente os aspectos quantitativos, mas também os qualitativos, de modo a criar uma iluminação que responda a todos os quesitos que o usuário exige do espaço iluminado. 2.1.6 Avaliação Qualitativa das Lâmpadas É comum, em iluminação, de acordo com CREDER (1986), confundir qualidade com quantidade. Para avaliar a qualidade de uma lâmpada, deve-se observar quatro características básicas: índice de reprodução de cor - IRC, eficiência, temperatura de cor e curva espectral. 2.1.6.1 Índice de reprodução de cores – IRC CREDER (1986), diz que as lâmpadas apresentam características de reprodução de cor muito variadas. A expressão “qualidade de luz” muitas vezes é 14 relacionada a esta característica. O IRC é uma escala percentual que indica o nível de distinção das cores iluminadas, em uma determinada superfície padrão. OBS: A avaliação acima não tem relação com a brancura da luz. A forma correta para determinar a tonalidade de uma luz é através da temperatura de cor. A tabela III nos indica os índices de reprodução de cores mínimos recomendados dos diversos tipos de lâmpadas. Reprodução de Índice cores desejada Excelente Boa 80 80 Temperatura Exemplos de da cor (K) recintos 6 000 a 7 500 Indústrias têxtil, de tintas e gráfica. 4 000 Museu, indústria médica. gráfica, 4 000 Escritórios, lojas. 3 000 Salas de reunião, residências. terapia Razoável 80 - Corredores, escadas, trabalho mais pesado. Nenhuma - - Iluminação pública. TABELA III – Índice de reprodução de cores. Ref.: MOREIRA (1987). 2.1.6.2 Eficiência Para CREDER (1986), eficiência é a relação entre a potência ou consumo e o fluxo luminoso (ou quantidade de luz) emitido por uma lâmpada. É bom salientar que a eficiência de uma lâmpada, embora seja muito importante, não é suficiente para determinar sua superioridade sobre outra em uma determinada aplicação. 15 FIGURA II - STANDARD 150W - 2.000 LUMENS FIGURA III - POWERSTAR HQIT 150W - 12.000 LUMENS Assim temos: eficiência = fluxo luminoso/potência ou k = lm/w Fonte: CREDER (1986). 2.1.6.3 Temperatura da cor Esta forma de avaliação, segundo CREDER (1986), foi determinada a partir da comparação da cor da luz emitida por um corpo sólido negro e de sua temperatura em graus Kelvin. Ou seja, aplicou-se calor neste corpo sólido, que em determinado momento começou a emitir uma cor laranja amarelada. Medindo-se sua temperatura (t) encontrou-se 2000 graus Kelvin (k). Aplicando-se mais calor chegouse a uma variação desta cor na direção do branco azulado, atingindo temperatura (t) na faixa dos 6000 graus Kelvin (k). Após esta medição, faz-se uma comparação associativa com as diversas lâmpadas e é instituída, em caso de semelhança na cor, a temperatura correspondente. Quanto mais baixa for a temperatura de cor, mais avermelhada será 16 a luz, e quanto mais alta for a temperatura de cor, mais azulada será a luz. Atenção: É importante não confundir temperatura de cor da luz, com temperatura de trabalho da lâmpada. A lâmpada fluorescente luz do dia de 40W tem, por exemplo, apresenta temperatura de funcionamento de aproximadamente 35ºC e temperatura de cor de aproximadamente 5000ºK. 2.1.6.4 Curva espectral Neste processo de avaliação, segundo CREDER (1986), cada uma das cores que compõem uma determinada luz, é considerada através da medição específica da intensidade de cada uma das cores de uma determinada fonte luminosa, determina-se um gráfico que chamamos de curva espectral. Desta forma é possível escolher a lâmpada que melhor destaque uma determinada cor ou um determinado conjunto de cores. 2.1.7 Tipos de Luminárias Serão analisadas as lâmpadas fluorescentes, as quais são comumente usadas em praticamente todos os consultórios odontológicos. TIPO POTÊNCIA (watts) FLUXO LUMINOSO Trimline T8 Bulbo T8 32 2.950 Watt-Miser Bulbo T12 34 2.850 Staybright XL Watt-Miser Bulbo T12 34 2.975 Convencional Bulbo T8 30 1.850 Convencional – Special Bulbo T12 20 875 TABELA IV – Lâmpadas Fluorescentes (potência e fluxo luminoso). Fonte: CREDER (1986). 17 2.1.8 Formas de Iluminação para Consultório Odontológico SAQUY (1994), sugere como deve ser iluminado corretamente um consultório odontológico. Discutem a forma correta de iluminação, e que o profissional de odontologia adquira conhecimentos básicos das regras de iluminação para colaborar na concepção de um ambiente de trabalho que se coadune à terapia dos pacientes. Enfatizam os locais dentro de um consultório odontológico com funções diferentes: sala de recepção, sala de consulta e sala de tratamento, que devem ter iluminação diferenciada por serem ambientes diferentes. Chegaram à seguinte conclusão: a) Se o ambiente não dispõe de luz natural ou só é utilizado durante a noite, deve-se utilizar lâmpadas fluorescentes do tipo “quente”, com “excelente reprodução de cores”. b) Se o ambiente é servido com pouca quantidade de luz natural (uma pequena janela ou clarabóia), utilizar lâmpadas fluorescentes do tipo “fria”, com “boa reprodução de cores”. c) Se o ambiente dispõe de luz natural abundante (uma grande janela ou área aberta), utilizar, como complemento de luz, lâmpadas fluorescentes do tipo que acompanham a luz natural, com “boa” ou “excelente reprodução de cores”. 2.2 ERGONOMIA Após a leitura de SANTOS & FIALHO (1997), WISNER (1987) e IDA (1992), chegou-se a um apanhado de conhecimentos gerais de Ergonomia. Assim sendo, a ergonomia é, por definição, a adaptação do trabalho ao homem. Constitui-se num arcabouço de disciplinas voltadas à estruturação dos conhecimentos sobre o homem e a dinâmica de seu trabalho. A Ergonomia é considerada como uma ciência – por ser geradora de conhecimentos - e como tecnologia, por seu caráter aplicativo, de transformação. Apesar das divergências conceituais, alguns aspectos são comuns às várias definições existentes: 18 a) a aplicação dos estudos ergonômicos; b) a natureza multidisciplinar, o uso de conhecimentos de várias disciplinas; c) o fundamento nas ciências; d) o objeto: a concepção do trabalho. No período pós-administração científica, o trabalho tem apresentado grande tendência à prescrição, conseqüência da separação que esta forma de organizar propõe. Ao mesmo tempo em que a separação do trabalho retira dos trabalhadores o conhecimento sobre a transformação de materiais, passando estes a ser apenas realizadores de tarefas prescritas e de baixo conteúdo cognitivo, está sofrendo, este trabalho, um grande isolamento do ambiente social onde acontece. Sobre o trabalho de uma maneira geral, atuam várias condicionantes: tecnológicas, pessoais e ambientais. A ergonomia, pelo seu caráter multidisciplinar e antropocêntrico, apresenta condições de coordenar os efeitos dessas diversas condicionantes sobre um projeto de trabalho. A ergonomia está preocupada com os aspectos humanos do trabalho em qualquer situação onde este é realizado. Em qualquer situação onde existe o trabalho humano, a ergonomia encontra campo para aplicar seus conhecimentos, colhidos das diversas disciplinas que a apóiam e fornecem o embasamento que permite sua intervenção com o fim de modificar a situação de trabalho em prol do homem. A incorporação da ergonomia no projeto e gerenciamento das organizações é fundamental para que esta possa atingir seus objetivos de adequação e adaptação do trabalho ao homem e para que o trabalho nas organizações seja então realizado de forma mais satisfatória, segura e eficiente. Desta forma, é fundamental que o trabalho incorpore o conceito ergonômico, e assim seja possível obter níveis de qualidade de vida no trabalho satisfatórios a toda a sociedade. 19 A ergonomia evoluiu dos esforços do homem em adaptar ferramentas, armas e utensílios às suas necessidades e características. Porém, é a partir da Revolução Industrial - que propiciou o surgimento da fábrica e a intensificação do trabalho - que a ergonomia vai encontrar sua maior aplicação. A posição e o papel da ergonomia têm mudado ao longo dos anos, na medida em que os sistemas ganham maior complexidade. Hoje é mais comum o ergonomista estar mais envolvido em uma larga faixa de objetivos organizacionais, incluindo desde o projeto de operações até o treinamento de pessoal. A ergonomia, por seu caráter antropocêntrico, tem seus princípios voltados para os homens destacando a antropocentricidade da ergonomia, o homem no centro dos interesses de seus princípios, e fazendo base neste destaque e nas experiências práticas mencionadas, pode-se afirmar que os ambientes que tiverem alastrado o conhecimento dos princípios ergonômicos junto ao seu corpo de trabalhadores, apresentarão melhores condições para que ali se processe uma gestão com melhor qualidade de vida no trabalho e conseqüentemente maior produtividade. Esta posição de certa forma apresenta o caráter participativo que deve ter a ergonomia para que seja praticada na plenitude de seus conceitos. Por isso, a ergonomia é participativa na essência. Isto é, a eficiência da aplicação de seus conceitos só acontecerá se houver um ambiente participativo. Por outro lado, também se percebe que o desejo ou a necessidade de ser promovida a implantação de conceitos ergonômicos em um ambiente pode proporcionar características participativas a este ambiente. 2.2.1 Histórico da Ergonomia Segundo Schruber (2000), o termo “Ergonomia” foi usado pela primeira vez em 1857, pelo polonês W. Jastrezebowski, que publicou um artigo intitulado “Ensaio de Ergonomia ou Ciência do trabalho baseada nas leis objetivas da ciência da natureza”. 20 Quase 100 anos mais tarde, em 1949, um engenheiro inglês, chamado Murrel, criou, na Inglaterra, a primeira Sociedade Nacional de Ergonomia, a “Ergonomic Research Society”. Posteriormente, a ergonomia desenvolveu-se em outros países industrializados, como França, EUA, Alemanha, Japão e países escandinavos. Em 1959, foi fundada a “International Ergonomics Association”. Em 1955, é publicada a obra "Análise do Trabalho", de Obredane & Faverge, que se torna decisiva para a evolução da metodologia ergonômica. Nesta publicação é apresentada de forma clara a importância da observação das situações reais de trabalho para a melhoria dos meios, métodos e ambiente do trabalho. O surgimento da ergonomia decorreu da verificação da existência da incompatibilidade entre uma máquina e o seu operador. Os primeiros estudos sobre o homem e a atividade profissional foram realizados por engenheiros, médicos do trabalho e pesquisadores. Os engenheiros procuravam melhorar o desempenho do homem no trabalho. Os médicos do trabalho procuravam estabelecer uma proteção à saúde dos trabalhadores e os pesquisadores buscavam compreender o funcionamento do homem em atividade de trabalho. Neste pouco tempo que nos separa de seu surgimento, a ergonomia teve um grande crescimento. Em geral, sua utilização está vinculada à busca de maior conforto do trabalhador na realização de suas tarefas. A ergonomia no Brasil começou a ser evocada na USP, nos anos 60, pelo Prof. Sergio Penna Khel, que encorajou Itiro Iida a desenvolver a primeira tese brasileira em Ergonomia: a Ergonomia do Manejo. Também na USP, Ribeirão Preto, Paul Stephaneek introduzia o tema na Psicologia. Nesta época, no Rio de Janeiro, o Prof. Alberto Mibielli de Carvalho apresentava Ergonomia aos estudantes de Medicina das duas faculdades mais importantes do Rio, a Nacional (UFRJ) e a Ciências Médicas (UEG, depois UERJ); O Prof. Franco Seminério falava desta disciplina, com seu refinado estilo, aos estudantes de Psicologia da UFRJ. O maior impulso se deu na COPPE, no início dos anos 70, com a vinda do Prof. Itiro Iida para o Programa de Engenharia de Produção, com escala na ESDI/RJ. Além dos cursos de mestrado e graduação, Itiro organizou com Colin Palmer um curso que deu origem ao primeiro livro de Ergonomia editado em português. 21 2.2.2 Definições “A ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho, equipamento e ambiente e particularmente à aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução surgida nesse relacionamento” (Ergonomics Research Society). “É o estudo da adaptação do trabalho às características fisiológicas e psicológicas do ser humano” (ABERGO). "A ergonomia é o conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários para a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficácia. A ergonomia constitui uma parte importante, mas não exclusiva da melhoria das condições de trabalho em seu sentido restrito. Além disso, considera os dados sociológicos e psicossociológicos que se traduzem no conteúdo e na organização geral da atividade de trabalho." WISNER (1967). “A utilização dos conhecimentos em ergonomia está ligada aos objetivos das empresas, das populações que as compõem e da sociedade onde estão situadas. Esses conhecimentos podem servir tanto para aumentar a eficácia do sistema de produção como para diminuir a carga de trabalho do operador. Os objetivos não são, por natureza, sempre contraditórios. Entretanto, é freqüente constatar que a melhoria de um posto de trabalho feita a partir de "dados ergonômicos" não é simultaneamente acompanhada de uma atenuação da carga de trabalho para o trabalhador." LAVILLE (1973). “É a aplicação das ciências biológicas juntamente com as ciências da engenharia, para lograr um ótimo ajustamento do homem e seu trabalho e assegurar simultaneamente eficiência e bem-estar”. Organização Internacional do Trabalho – OIT (1960 ). “A ergonomia diagnostica o que pode ser melhorado no ambiente de trabalho. Os estudos possibilitam observar se o mobiliário, os equipamentos, as máquinas, as ferramentas e os instrumentos estão de acordo com as funções do trabalhador, se os tempos disponíveis para exercer suas tarefas são suficientes. Enfim, dá uma visão geral do ambiente, detecta as falhas e propõe as mudanças compatíveis” (Leda Ferreira – FUNDACENTRO) 22 “A Ergonomia é a tecnologia das comunicações homem-máquina” MONTMOLLIN (1971). “A Ergonomia é uma ciência interdisciplinar. Ela compreende a fisiologia e a psicologia do trabalho, bem como a antropometria é a sociedade no trabalho. O objetivo prático da Ergonomia é a adaptação do posto de trabalho, dos instrumentos, das máquinas, dos horários, do meio ambiente às exigências do homem. A realização de tais objetivos, ao nível industrial, propicia uma facilidade do trabalho e um rendimento do esforço humano”. GRANDJEAN (1968). “A Ergonomia é uma tecnologia e não uma ciência, cujo objeto é a organização dos sistemas homens-máquina” LEPLAT (1972). “A Ergonomia pode ser definida como o estudo científico das relações entre o homem e o seu ambiente de trabalho” MURREL (1965). “A Ergonomia reúne os conhecimentos da fisiologia, da psicologia e das ciências vizinhas aplicadas ao trabalho humano, na perspectiva de uma melhor adaptação ao homem dos métodos, meios e ambientes de trabalho” (SELF). 2.2.3 Tipos de Ergonomia Ainda Schruber (2000), discorre sobre os tipos de Ergonomia como: Ergonomia de concepção: permite agir precocemente sobre uma máquina, local de trabalho e até mesmo sobre uma fábrica inteira, na definição de como serão implantados os sistemas de modo a melhorar o ambiente de trabalho para o trabalhador; Ergonomia de correção: corresponde diretamente às anomalias que se traduzem por problemas de segurança e no conforto do trabalhador ou na insuficiência da produção, em qualidade e em quantidade. 23 2.2.4 Objetivos da Ergonomia FONSECA (1995), diz que o objetivo principal dos trabalhos nesta área é transferir tecnologia para a sociedade, através da capacitação profissional e da prestação de serviços em ergonomia. Ergonomia é o estudo anatômico, fisiológico e psicológico do homem no seu ambiente. Esta ciência procura estabelecer uma melhor relação entre o homem e o ambiente de trabalho. Ela não é apenas um estudo físico do ambiente de trabalho do homem, mas também um estudo psicológico, ou seja, aspectos como cansaço mental ou perturbações mentais também são estudados. Dentre seus principais objetivos, podemos destacar: a) Adequação do trabalho às capacidades naturais do homem, pela organização de métodos e construção de máquinas e equipamentos que se aderem às características de cada pessoa ( exigência técnica ); b) Aumentar a eficiência do trabalhador ao longo do tempo, pois trabalhador doente não gera lucro, e sim prejuízo ( exigência econômica ); c) Prevenção de acidentes e doenças profissionais, doenças músculo- esqueléticas (exigência social); d) Redução da fadiga e desconforto físico e mental do trabalhador. Todos estes objetivos têm a função de proporcionar um aumento da produtividade, procurando não ultrapassar as capacidades do ser humano. A atuação em ergonomia é basicamente multiprofissional, uma vez que os conhecimentos necessários para projetar e/ou transformar uma situação de trabalho ou um produto são oriundos de diversos campos da ciência. Nesta equipe há ergonomistas, engenheiros, médicos, psicólogos, sociólogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. Esta área tem desenvolvido trabalhos especialmente em: Trabalho com sistemas informatizados no setor de serviços; Ergonomia e projeto do trabalho; 24 Ergonomia na Informática; Saúde do trabalhador; Ergonomia de produto. Fonseca (1995), também aponta para novas áreas de atuação: Seja quanto à expansão vertical, do sistema homem-tarefa-máquina ao sistema homens-tarefas-máquinas ou homens-homens, - da estação de trabalho, à fabrica, à organização de trabalho e à organização como um todo; Seja quanto às formas de atuação, quando se busca uma participação mais efetiva do usuário / operador / trabalhador / consumidor; Seja no que se refere ao objeto de trabalho, o estudo das comunicações dos homens com computadores, sobre diálogo entre o homem e a máquina, através de hipertextos e softwares. O procedimento ergonômico é orientado pela perspectiva de transformação da realidade, cujos resultados obtidos dependerão em grande parte da necessidade da mudança. Mesmo que o objetivo possa ser diferente de acordo com a especialização de cada pesquisador, o objeto do estudo não pode ser definido a priori, pois sua construção depende do objetivo da transformação. Em ergonomia o objeto sobre o qual se pretende produzir conhecimentos, deve ser construído por um processo de decomposição/recomposição da atividade complexa do trabalho, que é analisada e que deve ser transformada. O objetivo é ocultar o mínimo possível a complexidade do trabalho real. Quanto mais a ergonomia aprofunda o seu questionamento sobre a realidade, mais ela é interpelada por ela mesma. 2.2.5 Métodos e Técnicas No site www.ergonomia.com.br encontramos o artigo sobre os métodos e técnicas utilizados pela Ergonomia. 25 A Ergonomia utiliza métodos e técnicas científicas para observar o trabalho humano. A estratégia utilizada pela Ergonomia para apreender a complexidade do trabalho é decompor a atividade em indicadores observáveis (postura, exploração visual, deslocamento). A partir dos resultados iniciais obtidos e validados com os operadores, chegase a uma síntese que permite explicar a inter-relação de vários condicionantes à situação de trabalho. Como em todo processo científico de investigação, a espinha dorsal de uma intervenção ergonômica é a formulação de hipóteses. Segundo LEPLAT (1998) "o pesquisador trabalha em geral a partir de uma hipótese, é isso que lhe permite ordenar os fatos". São as hipóteses que darão o status científico aos métodos de observação nas atividades do homem no trabalho. A organização das observações em uma situação real de trabalho é feita em função das hipóteses que guiam a análise, mas também, segundo GUERIN (1991), em função das imposições práticas ou das facilidades de cada situação de trabalho. Os comportamentos manifestos do homem são freqüentemente observáveis pelos ergonomistas. Os deslocamentos dos operadores, por exemplo, podem ser registrados a partir do acompanhamento dos percursos realizados pelo operador em sua jornada de trabalho. O registro do deslocamento pode explicar a importância de outras áreas de trabalho e zonas adjacentes. Em uma sala de tratamento de um consultório odontológico, o deslocamento do Cirurgião-Dentista até a mesa de operação está relacionado à exploração de certas informações visuais que são fundamentais para o controle de processo. Pode-se agrupar as técnicas utilizadas em Ergonomia em técnicas objetivas e subjetivas. 1- Técnicas objetivas ou diretas: Registro das atividades ao longo de um período, por exemplo, através de um registro em vídeo. Essas técnicas impõem uma etapa importante de tratamento de dados. 26 A observação é o método mais utilizado em Ergonomia, pois permite abordar de maneira global a atividade no trabalho. A partir da estruturação das grandes classes de problemas a serem observados, o Ergonomista dirige suas observações e faz uma filtragem seletiva das informações disponíveis. Observação assistida – inicialmente, considera-se uma ficha de observação, construída a partir de uma primeira fase de observação "aberta". A utilização de uma ficha de registro permite tratar estatisticamente os dados recolhidos, as freqüências de utilização, as transições entre atividades, a evolução temporal das atividades. Em um segundo nível utilizam-se os meios automáticos de registro, áudio e vídeo. O registro em vídeo é interessante à medida que libera o pesquisador da tomada incessante de dados - que são, inevitavelmente, incompletos - e permite a fusão entre os comportamentos verbais, posturais e outros. O vídeo pode ser um elemento importante na análise do trabalho, mas os registros devem poder ser sempre explicados pelos resultados da observação paralela dos pesquisadores. Os registros em vídeo permitem recuperar inúmeras informações interessantes nos processos de validação dos dados pelos operadores. Essa técnica, entretanto, está relacionada a uma etapa importante de tratamento de dados, assim como de toda preparação inicial para a coleta de dados (ambientação dos operadores) e uma filtragem dos períodos observáveis e dos operadores que participarão dos registros. Alguns indicadores podem ser observados para melhor estudo da situação de trabalho (postura, exploração visual, deslocamentos etc). Direção do olhar: A posição da cabeça e orientação dos olhos do indivíduo permitem inferir para onde este está olhando. O registro da direção do olhar é amplamente utilizado em Ergonomia para apreciação das fontes de informações usadas pelos operadores. As observações da direção do olhar podem servir como indicador da solicitação visual da tarefa. 27 Posturas: As posturas constituem um reflexo de uma série de imposições da atividade a ser realizada. A postura é um suporte à atividade gestual do trabalho e às informações obtidas visualmente. Ela é influenciada pelas características antropométricas do operador e características formais e dimensionais dos postos de trabalho. No trabalho em salas cirúrgicas de um consultório odontológico, a postura é condicionada à oscilação do volume de trabalho. A alternância postural servirá como escape à monotonia e reduzirá a fadiga do operador. Em períodos perturbados, a postura será condicionada pela exploração visual que passa a ser o pivô da atividade. Estudo de traços: A análise é centralizada no resultado da atividade e não mais na própria atividade. Ela permite confrontar os resultados técnicos esperados e os resultados reais. Os dados levantados em diferentes fases do trabalho podem dar indicação sobre os custos humanos no trabalho, entretanto, não conseguem explicar o processo cognitivo necessário à execução da atividade. O estudo de traços pode ser considerado como complemento e é usado, com freqüência, nas primeiras fases da análise do trabalho. O estudo de traços pode ser fundamental no quadro metodológico para análise dos erros. 2- Técnicas subjetivas ou indiretas: Técnicas que tratam do discurso do operador, são os questionários, os checklists e as entrevistas. Esse tipo de coleta de dados pode levar a distorções da situação real de trabalho, se considerada uma apreciação subjetiva. Entretanto, tais dados podem fornecer uma gama de dados que favoreçam uma análise preliminar. Deve-se considerar que essas técnicas são aplicadas segundo um plano preestabelecido de intervenção em campo, com um dimensionamento da amostra a ser considerado em função dos problemas abordados. Questionário 28 O questionário é pouco utilizado em Ergonomia pois requer um número importante de operadores. Contudo, em um grupo restrito de pessoas pode ser aplicado para hierarquizar um certo número de questões a serem tratadas em uma análise aprofundada. As respostas dos questionários podem contribuir para uma classificação de tarefas e de postos de trabalho. O questionário, entretanto, deve respeitar a amostra e as probabilidades de aplicação. Deve-se ressaltar que com o questionário se obtêm as opiniões, as atitudes em relação aos objetos as quais não permitem acesso ao comportamento real. Segundo PAVARD & VLADIS (1985), o questionário é um método fácil e se presta ao tratamento estatístico, e, se corretamente utilizado, permite coletar um certo número de informações pertinentes para o Ergonomista. Tabelas de avaliação Esse tipo de tabela permite que os próprios operadores avaliem o sistema que utilizam. O objetivo é apontar os pontos fracos e os fortes do caso. No caso de avaliação de programas, uma tabela de avaliação deve cobrir os aspectos funcionais e conversacionais. Entrevistas e verbalizações provocadas A consideração do discurso do operador é uma fonte de dados indispensável à Ergonomia. A linguagem, segundo MONTMOLLIN (1984), é a expressão direta dos processos cognitivos utilizados pelo operador para realizar uma tarefa. A entrevista pode ser consecutiva à realização da tarefa (pede-se ao operador para explicar o que ele faz, como ele faz e por quê). Entrevistas e verbalizações simultâneas As entrevistas podem ser realizadas simultaneamente à observação dos operadores trabalhando em situação real ou em simulação. A análise se concentra nas questões sobre a natureza dos dados levantados, sobre as razões que motivaram certas decisões e sobre as estratégias utilizadas. 29 Desta maneira, o Ergonomista revela a significação que os operadores têm do seu próprio comportamento. As verbalizações devem ser aplicadas com cuidado e de maneira a não alterar a atividade real de trabalho. 2.3 IMPORTÂNCIA DOS PROJETOS DE ILUMINAÇÃO PARA OS ESTUDOS ERGONÔMICOS 2.3.1 Ergonomia FALZON (1996), descreve no capítulo “Os Objetivos da Ergonomia” que a maioria das definições de ergonomia colocam em questão dois objetivos fundamentais. De um lado, o conforto e a saúde dos trabalhadores: eles se inquietam para evitar os riscos (acidentais e ocupacionais) e para minimizar a fadiga (ligada ao metabolismo do organismo, ao trabalho dos músculos e das articulações, ao tratamento da informação e à vigilância). Do outro lado, a eficácia, através da qual a organização mede suas diferentes dimensões (produtividade e qualidade). Esta eficácia é dependente da eficiência humana – em conseqüência, a ergonomia visa a conceber sistemas adaptados à lógica de utilização dos trabalhadores. A idéia central do texto é discutir a pertinência destes dois objetivos, ou mais precisamente, ampliar sua importância. FALZON (1996), considerou, primeiramente, as relações entre saúde e trabalho, posteriormente, a questão da eficiência no trabalho e, em último lugar, as conseqüências destes pontos sobre a atividade do próprio ergonomista, sob o ponto de vista de um trabalhador particular. 2.3.2 Projeto de Iluminação PORTO (1997), mostra um estudo sobre a importância do aproveitamento da luz natural para diminuir custos e obter melhor qualidade de iluminação ao ambiente. A escolha de sistemas de iluminação natural, de suas orientações e complementos 30 de sombreamento e redirecionamento de fluxo luminoso é um passo determinante na iluminação ambiental. Outro aspecto a ser considerado, ainda segundo PORTO (1996), é a correta distribuição da cor, como um dos fatores de qualidade do quadro visual, contribuindo para a melhoria das condições físicas do trabalho e para a adequação do homem à máquina, sendo um fator preponderante, que pode auxiliar na saúde, segurança e bem-estar das pessoas que nele trabalham. Além do benéfico efeito psicológico devido às boas condições ambientais, há uma diminuição no risco de fadiga visual e conseqüente diminuição de trabalhos falhos. 2.3.3 Caracterização do Trabalho do Cirurgião-Dentista LUSVARGHI (1999), publicou uma matéria sobre saúde profissional e, com a colaboração do oftalmologista Jaime Roisenblatt, alertou a classe dos CirurgiõesDentistas do risco de trauma ocular. O dentista, por ter uma profissão detalhista, fixa o olhar em um detalhe da boca por um tempo prolongado – problema análogo ao do ourives e ao do digitador. Conseqüentemente, ele pisca menos e fica com os olhos ressecados e ardendo podendo ocorrer espasmos. Esse espasmo de acomodação da musculatura ciliar pode se tornar um problema seriíssimo, causando lesões nos olhos; pode ser classificado como LER/DORT, embora não esteja incluído na legislação. LUSVARGHI (1999) ainda diz que outro aspecto importante é a ação dos raios ultravioleta. Existe um componente dentro de muitos focos de luz que permite radiação nessa faixa, constituindo enorme fator de risco para o desenvolvimento ou a aceleração de catarata e degeneração macular (ponto central da retina). A incidência de problemas de mácula é maior em quem se expõe sem proteção adequada. A pupila dos olhos claros filtra menos os raios solares e protege menos, portanto inspira mais cuidado. O míope também é tradicionalmente mais sensível. 31 2.3.4 Saúde Ocular dos Odontólogos SIMURRO (2000), publicou uma matéria sobre a “Saúde Ocular dos Odontólogos e Auxiliares”, em que discorre que acidente de trabalho é o acontecimento súbito, de regra imprevisível e até certo ponto inesperado, determinando uma lesão ou alteração funcional que pode ser momentânea ou definitiva. Doença profissional ainda SIMURRO (2000), é o estado patológico que se instala insidiosamente em um ou vários indivíduos que executam uma mesma tarefa, no mesmo local ou região de trabalho. No que concerne a acidente de trabalho, vários são os fatores desencadeantes: Material desgastado, submetido a forças superiores à sua resistência estrutural; Manobras inadequadas efetuadas por profissionais pouco experientes; Circulação embaraçosa ou inadequada no espaço, mau arejamento e iluminação imprópria do ambiente de trabalho. Estes acidentes de trabalho podem acarretar ao globo ocular lesões como: Corpo estranho ocular externo; Erosões e/ou úlceras corneanas infectadas ou não; Corpo estranho intra-ocular associado à perfuração do globo ocular. Prevenção indireta: ambiente de trabalho dotado de dispositivos de proteção, arejado, bem iluminado, amplo e higiênico. 2.3.5 Iluminação Geral No site http://sesc.uol.com.br/sesc/convivencia/ler, no texto sobre ergonomia, há um trabalho sobre iluminação o qual diz que a iluminação geral deve ser uniformemente distribuída e difusa. A iluminação geral ou suplementar deve ser projetada e instalada de forma a evitar ofuscamento, reflexos incômodos, sombras e 32 contrastes excessivos. Os níveis mínimos de iluminamento a serem observados nos locais de trabalho são estabelecidos pela Norma Brasileira Registrada e o Inmetro. Dentre as causas de iluminação inadequada está a iluminação excessiva, produzida por luz natural, em uma sala com grandes janelas e sol. 2.4 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO Segundo RODRIGUES (1994), a Qualidade de Vida no Trabalho (Q V T) tem sido uma preocupação do homem desde o início de sua existência, com outros títulos, em outros contextos, mas sempre voltada para facilitar ou trazer satisfação e bem-estar ao trabalhador na execução de sua tarefa. Com a sistematização dos métodos de produção, nos séculos XVIII e XIX, as preocupações com as condições de trabalho e a influência destas na produção e moral do trabalhador vieram a ser estudadas de forma científica. A QVT busca humanizar as relações de trabalho na organização, mantendo uma relação estreita com a produtividade e principalmente com a satisfação do trabalhador no seu ambiente de trabalho. Constitui-se, ainda, em condição de vida no trabalho, associada ao bem-estar, à saúde e à segurança do trabalhador. A satisfação no trabalho, segundo Vianna (1994), Rodrigues (1994) e Demo (1995), não pode estar isolada da vida da pessoa. Rodrigues (1994:95) admite que “a QVT é um ponto vital, não só para a realização do homem no trabalho, mas, também, em toda sua existência”. É no trabalho que o homem passa a maior parte de suas horas úteis do dia e, a partir daí, cria laços de amizade e expectativas de uma vida melhor com qualidade. Khon e Schooler e Sheppard e Herrick (citados por Rodrigues 1994:94) associam as experiências de trabalho e a qualidade perceptível de vida, sugerindo que “a insatisfação com o trabalho influencia a alienação e insatisfação com os outros domínios da vida”. A QVT, na função de tema de pesquisa e de estudos organizacionais, busca humanizar as relações de trabalho como alternativa para rever efeitos negativos do 33 taylorismo, como a sistematização, não só quanto às tarefas, mas também quanto ao trabalhador e ao ambiente de trabalho. Para Moraes (1990), o referencial mais remoto é encontrado na década de 30, na Escola de Relações Humanas. Já naquela época, era a que possuía uma maior identificação com a QVT, demonstrada na busca que empreendeu de algumas teorias que enfatizavam os aspectos psicossociais e motivacionais, a fim de proporcionar maior bem-estar ao trabalhador e sua adaptação à tarefa executada. A Escola Comportamental, desmembramento da Escola de Relações Humanas, através de Herzberg, destaca-se como pioneira da QVT, ao propor a teoria dos fatores higiênicos e motivacionais, e a abordagem do enriquecimento da tarefa. O termo QVT, como nova abordagem em administração, apareceu na literatura somente no início da década de 50, na Inglaterra, com Eric Trist e colaboradores, que estudavam um modelo macro para agrupar o trinômio pessoa/trabalho/organização. Nessa perspectiva foi desenvolvida uma abordagem sócio-técnica, almejando compreender a organização do trabalho a partir da análise e reestruturação da tarefa. Na década de 60 o movimento QVT tomou impulso com iniciativas de cientistas, líderes sindicais, empresários, governantes e dirigentes organizacionais, na busca de pesquisar melhores formas de realizar o trabalho. Seguindo a linha sócio-técnica impulsionada pela perspectiva de uma sociedade progressista, a QVT teve como base a saúde, a segurança e a satisfação dos trabalhadores. Até o final da década de 70 ocorreu uma estagnação no desenvolvimento da QVT e nas preocupações com ela, em virtude da alta inflação, da crise do petróleo e da competição internacional acirrada pelas novas forças industriais, como o Japão. Em 1979 a preocupação com a QVT entra numa nova fase, induzida pelo fascínio das técnicas de administrar utilizadas pelo Japão, como por exemplo, o Ciclo de Controle de Qualidade, que se disseminou nas organizações do ocidente. A partir de então, a QVT passa a ser vista como um conceito global, como uma forma de enfrentar os problemas de qualidade e produtividade. Parte-se, assim, do pressuposto que as necessidades e aspirações humanas do trabalhador também fazem parte da responsabilidade social do empregador. 34 A década de 80 foi marcada pela idéia de uma maior participação do trabalhador nas decisões das organizações. Diante deste fato, as organizações sentiram-se compelidas a repensar suas condutas e a buscar soluções participativas. Nos anos 90, a QVT tornou-se foco de programas que estudam a saúde na organização, resgatando valores ambientais e humanísticos negligenciados em favor do avanço tecnológico. Ressalta-se, porém, a preocupação dos que buscam a QVT, de que ela não seja tratada como mais um modismo administrativo, mas internacionalizada como processo necessário e conceitualmente considerado pelos gerentes e trabalhadores das organizações (Nadler e Lawler, 1983; Fernandes. 1989). Atualmente a QVT está sendo difundida e desenvolvida em muitos países da Europa, além dos Estados Unidos, Canadá e México, visando atender as necessidades psicossociais dos trabalhadores, de forma a elevar seus níveis de satisfação no trabalho (Moraes, 1990; Fernandes, 1996). No Brasil, algumas pesquisas nesta área vêm sendo desenvolvidas para ampliar o conhecimento sobre o tema e abrir novas discussões. No final da década de 80, os estudos sobre QVT se intensificaram, e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) constituíram-se em organizações pioneiras nas pesquisas que vieram contribuir com a comunidade científica. Podem ser citados alguns pesquisadores brasileiros que contribuíram construtivamente com o avanço da pesquisa sobre o tema, através do desenvolvimento de estudos sobre QVT em organizações das mais variadas áreas. Destacam-se Quirino e Xavier (1987), Fernandes e Becker (1988), Siqueira e Coleta (1989), Moraes (1990), Macedo (1992), Lima (1994), Rodrigues (1994), Fernandes (1996) e Vieira (1996). O elemento central das pesquisas na área de QVT advém da importância que o trabalho desempenha na vida das pessoas e da constatação de que a forma como o trabalho está estruturado e organizado apresenta um impacto direto sobre o 35 trabalhador, podendo levá-lo à satisfação ou frustração com outros fatores da vida que estão relacionados com a QVT. 2.4.1 Concepções Sobre o Trabalho CONCEPÇÕES CARACTERÍSTICAS EVOLUTIVAS DA QVT QVT como uma variável (1959 a 1972) (1969 do indivíduo ao trabalho. Era investigado como melhorar a qualidade de vida no trabalho para o indivíduo. QVT como uma abordagem Reação O foco era o indivíduo antes do resultado organizacional, mas, ao a mesmo tempo, tendia a trazer melhorias tanto ao empregado como à 1974) direção. QVT como um método (1972 a 1975) Um conjunto de abordagens, métodos ou técnicas para melhorar o ambiente produtivo de e trabalho mais e satisfatório. tornar QVT era o trabalho visto como mais sinônimo de grupos autônomos de trabalho, enriquecimento de cargo ou desenho de novas plantas com integração social e técnica. QVT como um movimento (1975 Declaração ideológica sobre a natureza do trabalho e as a relações 1980) dos administração trabalhadores com participativa e a organização. democracia Os termos industrial eram freqüentemente ditos como ideais do movimento de QVT. QVT como tudo (1979 a 1982) Como panacéia contra a competição estrangeira, problemas de qualidade, baixas taxas de produtividade, problemas de queixas e outros problemas organizacionais. QVT como nada (futuro) No caso de alguns projetos de QVT fracassarem no futuro, não passará apenas de um modismo passageiro. TABELA VI – Concepção Evolutiva de QVT Fonte: Nadier e Lawler (1983). A concepção de trabalho foi evoluindo com a história. Passou de uma concepção de sobrevivência, em busca de meios para satisfazer as necessidades básicas, até o dia de hoje, como vital e fundamental para todo ser humano, essencial à vida e a própria felicidade. É inegável sua importância para o homem, 36 pois através dele a pessoa se sente útil à sociedade e à vida (Bastos, 1995; Silva, 1996; Zanelli e Silva, 1996). O termo “trabalho” vem do latim tripalium, ou “três paus”, instrumento de tortura para castigar escravos. Isto reflete a noção de empenho, sacrifício, tortura para se atingir determinado objetivo através do trabalho. KRAWULSKI (1991), pelo estudo da evolução do conceito de trabalho através da história, concluiu que muito lentamente o trabalho vem perdendo esta conotação, pois permite ao trabalhador vantagens dificilmente substituíveis no tempo livre, como identidade e autoconsciência, status e reconhecimento, contato com outras pessoas, satisfação das necessidades, responsabilidade pelo conteúdo de suas atividades e do uso do seu tempo. Segundo KANAANE (1995:19), “através do trabalho, o homem pode modificar seu meio e modificar-se a si mesmo, à medida que possa exercer sua capacidade criadora e atuar como co-partícipe do processo de construção das relações de trabalho e da comunidade na qual se insere”. O trabalho exerce um forte potencial motivacional sobre a pessoa, a organização e as outras esferas da vida. Este potencial motivacional é traduzido fundamentalmente pelo trabalhador gostar do que faz e transformá-lo em fonte de satisfação e prazer. Há também o extremo do trabalho, praticado por aquelas pessoas que não trabalham para viver, mas vivem para trabalhar. São os chamados workaholics, expressão americana usada para designar aqueles para quem o trabalho é um vício. Há algumas organizações e sociedades onde este vício de trabalhar compulsivamente é aceito, como é o caso da sociedade japonesa em que o excesso de dedicação ao trabalho pode levar à morte - Karashi (Moraes, 1994; Silva, 1996). Este descompasso em relação ao trabalho e a outras esferas da vida gera sérios problemas aos trabalhadores. A excelência nas atividades de trabalho com certeza é de fundamental importância, porém a obstinação pelo trabalho como centro de tudo pode comprometer o conceito de equilíbrio. Esta obstinação pelo trabalho muitas vezes é estimulada no seio da própria organização como meio de competitividade, de assegurar cargos e posições que gerem status e poder. 37 MORAES (1992), ressalta que a relação do homem com o trabalho às vezes é conflituosa: ao mesmo tempo em que o trabalho é um fardo, dá sentido à vida; ao mesmo tempo em que ele dá status, define a identidade pessoal e o crescimento humano. Porém, acredita-se que, de posse do conhecimento desta relação conflituosa com o trabalho, o trabalhador possa achar o seu ponto de equilíbrio, buscando uma melhor QVT e, conseqüentemente, um equilíbrio deste com as outras esferas da vida. 2.4.2 Modelos e Fatores Determinantes de QVT Uma das dificuldades para investigar a qualidade de vida nas organizações reside na “diversidade das preferências humanas e diferenças individuais dos valores pessoais e o grau de importância que cada trabalhador dá às suas necessidades, implicando provavelmente em denotado custo operacional” QUIRINO E XAVIER (1986). Autores clássicos, como MASLOW (1954) e HERZBERG (1968), se ocuparam com os fatores motivacionais ligados às necessidades humanas, com reflexos no desempenho e na auto-realização do indivíduo. WALTON (1973), LIPPIT (1978), WESTLEY (1979), BELANGER (1973), WERTHER & DAVIS (1983), HACKMAN & OLDHAM (1975), entre outros, estruturaram modelos que identificam fatores determinantes da QVT nas organizações. Operacionalmente os termos do modelo de WALTON (1973) podem ser definidos da seguinte forma: 1 - Compensação Justa e Adequada: categoria que visa a mensurar a Qualidade de Vida no Trabalho em relação à remuneração recebida pelo trabalho realizado, desdobrando-se em três critérios: 38 a) Remuneração adequada: remuneração necessária para o empregado viver dignamente dentro das necessidades pessoais e dos padrões culturais, sociais e econômicos da sociedade em que vive. b) Eqüidade interna: eqüidade na remuneração entre outros membros de uma mesma organização. c) Eqüidade externa: eqüidade na remuneração em relação a outros profissionais no mercado de trabalho. 2 - Condições de Trabalho: categoria que mede a Qualidade de Vida no Trabalho em relação às condições existentes no local de trabalho, apresentando os seguintes critérios: a) Jornada de trabalho: número de horas trabalhadas, previstas ou não pela legislação, e sua relação com as tarefas desempenhadas. b) Carga de trabalho: quantidade de trabalho executado em um turno de trabalho. c) Ambiente físico: local de trabalho e suas condições de bem-estar (conforto) e organização para o desempenho do trabalho. d) Material e equipamento: quantidade e qualidade de material disponível para a execução do trabalho. e) Ambiente saudável: local de trabalho e suas condições de segurança e de saúde em relação aos riscos de injúria ou de doenças. f) Estresse: quantidade percebida de estresse a que o profissional é submetido na sua jornada de trabalho. 3 - Uso e Desenvolvimento de Capacidades: categoria que visa à mensuração da Qualidade de Vida no Trabalho em relação às oportunidades que o empregado tem de aplicar, no seu dia-a-dia, seu saber e suas aptidões profissionais. Entre os critérios, destacam-se os seguintes: a) Autonomia: medida permitida, ao indivíduo, de liberdade substancial, independência e descrição na programação e execução de seu trabalho. 39 b) Significado da tarefa: relevância da tarefa desempenhada na vida e no trabalho de outras pessoas, dentro ou fora da instituição. c) Identidade da tarefa: medida da tarefa na sua integridade e na avaliação do resultado. d) Variedade da habilidade: possibilidade de utilização de uma larga escala de capacidades e de habilidades do indivíduo. e) Retroinformação: informação ao indivíduo acerca da avaliação do seu trabalho como um todo, e de suas ações. 4 - Oportunidade de Crescimento e Segurança: categoria que tem por finalidade medir a Qualidade de Vida no Trabalho em relação às oportunidades que a instituição estabelece para o desenvolvimento e o crescimento pessoal de seus empregados e para a segurança do emprego. Os critérios que, neste trabalho, expressam a importância do desenvolvimento e as perspectivas de aplicação são os seguintes: a) Possibilidade de carreira: viabilidade de oportunizar avanços na instituição e na carreira, reconhecidos por colegas, membros da família, comunidade. b) Crescimento pessoal: processo de educação continuada para o desenvolvimento das potencialidades da pessoa e aplicação das mesmas. c) Segurança de emprego: grau de segurança dos empregados quanto à manutenção dos seus empregos. 5 - Integração Social na Organização: categoria que objetiva medir o grau de integração social existente na instituição. Fazendo uma adaptação a partir de Walton, para este trabalho foram definidos os seguintes critérios: a) Igualdade de oportunidades: grau de ausência de estratificação na organização de trabalho, em termos de símbolos de “status” e/ou estruturas hierárquicas íngremes; e de discriminação quanto à raça, sexo, credo, origens, estilos de vida ou aparência; b) Relacionamento: grau de relacionamento marcado por auxílio recíproco, apoio sócio-emocional, abertura interpessoal e respeito às individualidades. 40 c) Senso comunitário: grau do senso de comunidade existente na instituição. 6 - Constitucionalismo: categoria que tem por finalidade medir o grau em que os direitos do empregado são cumpridos na instituição. Os critérios dessa categoria são os seguintes: a) Direitos trabalhistas: observância ao cumprimento dos direitos do trabalhador, inclusive o acesso à apelação; b) Privacidade pessoal: grau de privacidade que o empregado possui dentro da instituição; c) Liberdade de expressão: forma como o empregado pode expressar seus pontos de vista aos superiores, sem medo de represálias; d) Normas e rotinas: maneira como normas e rotinas influenciam o desenvolvimento do trabalho. 7 - Trabalho e Espaço Total de Vida: categoria que objetiva mensurar o equilíbrio entre a vida pessoal do empregado e a vida no trabalho. Os critérios são os seguintes: a) Papel balanceado no trabalho: equilíbrio entre jornada de trabalho, exigências de carreira, viagens, e convívio familiar. b) Horário de entrada e saída do trabalho: equilíbrio entre horários de entrada e saída do trabalho e convívio familiar. 8 - Relevância Social da Vida no Trabalho: categoria que visa mensurar a Qualidade de Vida no Trabalho através da percepção do empregado em relação à responsabilidade social da instituição na comunidade, à qualidade de prestação dos serviços e ao atendimento a seus empregados. Entre os critérios foram destacados os seguintes: a) Imagem da instituição: visão do empregado em reação à sua instituição de trabalho: importância para a comunidade, orgulho e satisfação pessoais de fazer parte da instituição. 41 b) Responsabilidade social da instituição: percepção do empregado quanto à responsabilidade social da instituição para a comunidade, refletida na preocupação de resolver os problemas da comunidade e também de não lhe causar danos. c) Responsabilidade social pelos serviços: percepção do empregado quanto à responsabilidade da instituição com a qualidade dos serviços postos à disposição da comunidade. d) Responsabilidade social pelos empregados: percepção do empregado quanto à sua valorização e participação na instituição, a partir da política de Recursos Humanos. Sobre este modelo, pode-se sublinhar que, embora não se desconheçam a diversidade das preferências e às diferenças individuais ligadas à cultura, classe social, educação, formação e personalidade, tais fatores são intervenientes, de modo geral, na qualidade de vida do trabalho da maioria das pessoas. Ou seja, quando tais aspectos não são bem gerenciados, o nível de satisfação experimentado pelos trabalhadores em geral deixa muito a desejar, repercutindo nos níveis de desempenho. No modelo de análise de experimentos importantes sobre a qualidade de vida do trabalho, WALTON (1973) propõe oito categorias conceituais, incluindo critérios de QVT, ilustrados na Tabela VII. 42 CRITÉRIOS COMPENSAÇÃO INDICADORES DE QVT JUSTA E ADEQUADA Eqüidade interna e externa Justiça na compensação Partilha dos ganhos de produtividade Proporcionalidade entre salários CONDIÇÕES DE TRABALHO Jornada de trabalho razoável Ambiente físico seguro e saudável Ausência de insalubridade USO E DESENVOLVIMENTO DE CAPACIDADES Autonomia Autocontrole relativo Qualidades múltiplas Informações sobre o processo total do trabalho OPORTUNIDADE DE CRESCIMENTO E SEGURANÇA Possibilidade de carreira Crescimento pessoal Perspectiva de avanço salarial Segurança de emprego INTEGRAÇÃO SOCIAL NA ORGANIZAÇÃO Ausência de preconceitos Igualdade Mobilidade Relacionamento Senso comunitário CONSTITUCIONALISMO Direitos de proteção ao trabalhador Privacidade pessoal Liberdade de expressão Tratamento imparcial Direitos trabalhistas O TRABALHO E O ESPAÇO TOTAL DE VIDA Papel balanceado no trabalho Estabilidade de horários Poucas mudanças geográficas Tempo e lazer da família RELEVÂNCIA SOCIAL DO TRABALHO NA VIDA Imagem da empresa Responsabilidade social da empresa Responsabilidade pelos produtos Práticas de emprego TABELA VII – Categorias Conceituais de Qualidade de Vida no Trabalho QVT 43 Outro modelo que tem sido apontado pela literatura é o de WESTLEY (1979), segundo o qual a avaliação da qualidade de vida nas organizações pode ser examinada basicamente através de quatro indicadores fundamentais: 1. Indicador econômico, representado pela eqüidade salarial e eqüidade no tratamento recebido; 2. Indicador político, representado pelo conceito de segurança no emprego, o direito a trabalhar e não ser discriminatoriamente dispensado; 3. Indicador psicológico, representado pelo conceito de auto-realização; 4. Indicador sociológico, representado pelo conceito de participação ativa em decisões diretamente relacionadas com o processo de trabalho, com a forma de executar as tarefas, com a distribuição de responsabilidade dentro da equipe. A Tabela VIII apresenta o modelo de Westley, adaptado por RUSCHEL (1993). De acordo com este autor, os problemas políticos trariam a insegurança; o econômico, a injustiça; o psicológico, a alienação, e o sociológico, a anomia. Para Westley, “a insegurança e a injustiça são decorrentes da concentração do poder e da concentração dos lucros e conseqüente exploração dos trabalhadores. Já a alienação advém das características desumanas que o trabalho assumiu pela complexidade das organizações, levando a uma ausência do significado do trabalho, e a anomia, uma falta de envolvimento moral com as próprias tarefas”. INDICADORES DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO ECONÔMICO POLÍTICO PSICOLÓGICO Equidade salarial; Segurança no emprego; Realização potencial; Remuneração adequada; Atuação sindical; Nível de desafio; Benefícios; Retroinformação; Desenv. Pessoal; Local de trabalho; Liberdade de expressão; Desenvolvimento Carga horária; Valorização do cargo; Ambiente externo. Relacionamento com a chefia. Profissional; Criatividade; Auto-avaliação; Variedade de tarefa; Ident. com tarefa. TABELA VIII – Indicadores da QVT Fonte: Westley (1979) adaptado por Rushel (1993) SOCIOLÓGICO Participação nas decisões; Autonomia; Relacionameto interpessoal; Grau responsabilidade; Valor pessoal. de 44 Por sua vez, LIPPITT (1978) considera que são favoráveis, para melhor qualidade de vida no trabalho, situações em que se oferece oportunidade para o indivíduo satisfazer a grande variedade de necessidades pessoais, ou seja, sobreviver com alguma segurança, interagir, ter um senso pessoal de qualidade, ser reconhecido por suas realizações e ter uma oportunidade de melhorar sua habilidade e seu conhecimento. Pode-se, sem dúvida, aceitar que um modelo de melhoria de qualidade de vida no trabalho, construído com base em tais fatores-chave oferece possibilidade de atendimento tanto das necessidades do indivíduo como da organização, vindo ao encontro das expectativas dos empregados. Citem-se, ainda, WERTHER & DAVIS (1983) que estruturaram um modelo no qual especificam elementos organizacionais, ambientais e comportamentais como aspectos que influenciam o projeto de cargos em termos de qualidade de vida no trabalho, de acordo com a Tabela IX. Elementos Elementos Elementos Organizacionais Ambientais Comportamentais Abordagem mecanística; Habilidade e disponibilidades de Autonomia; empregados; Fluxo de trabalho; Práticas de trabalho. Expectativas sociais. Variedade; Identidade de tarefa; Retroinformação. TABELA IX – Modelo de Werther & Davis ( Elementos de QVT ). Fonte: Werther & Davis (1983). Especificamente, os elementos organizacionais do projeto do cargo dizem respeito ao fluxo de trabalho e às práticas de trabalho, evitando-se uma abordagem mecanicista. Os elementos ambientais, conforme estes autores, não podem ser ignorados, pela sua significação nas condições de trabalho, envolvendo habilidade e a disponibilidade de empregados, e as expectativas sociais. A qualidade de vida no trabalho é afetada, ainda, segundo WERTHER & DAVIS (1983), por elementos comportamentais que dizem respeito às necessidades humanas, aos modos de comportamentos individuais no ambiente de trabalho, que 45 são de alta importância, tais como: autonomia, variedade, identidade de tarefa e retroinformação, entre outros. O modelo de BELANGER (1973) aponta os seguintes aspectos para a análise da qualidade de vida nas organizações, como ilustra a Tabela X: trabalho em si, crescimento pessoal e profissional, tarefas com significado e funções e estruturas organizacionais abertas. 1 - O TRABALHO EM SI - Criatividade - Variabilidade - Autonomia - Envolvimento - Feedback 2 - CRESCIMENTO PESSOAL E PROFISSIONAL - Treinamento - Oportunidades de crescimento - Relacionamento no Trabalho - Papéis organizacionais 3 - TAREFAS COM SIGNIFICADO - Tarefas completas - Responsabilidade aumentada - Recompensas financeiras / não-financeiras - Enriquecimento 4 - FUNÇÕES E ESTRUTURAS ABERTAS - Clima de criatividade - Transferência de objetivos TABELA X - Modelo de Belanger (1973). HACKMAN & OLDHAM (1975) propõem um modelo que se apóia em características objetivas do trabalho, como mostra a Tabela XI. De acordo com tais autores, a qualidade de vida no trabalho pode ser avaliada quanto a: a) dimensões da tarefa, identificando seis atributos importantes para a satisfação no trabalho: variedade de habilidades, identidade da tarefa, significado da 46 tarefa, inter-relacionamento, autonomia e feedback (do próprio trabalho e extrínseco). b) estados psicológicos críticos, envolvendo a percepção da significância do trabalho, da responsabilidade pelos resultados e o conhecimento dos reais resultados do trabalho; c) resultados pessoais e de trabalho, incluindo a satisfação geral e a motivação para o trabalho de alta qualidade, bem como o absenteísmo e a rotatividade baixa. DIMENSÕES DA ESTADOS RESULTADOS TAREFA PSICOLÓGICOS PESSOAIS E CRÍTICOS DE TRABALHO Variedade de Habilidades Satisfação Geral (VH) Percepção da com o trabalho Identidade da Tarefa Significância (SG) (IT) do Trabalho Motivação Interna Significado da Tarefa (PST) Para o Trabalho (ST) (MIT) Inter-relacionamento Percepção da Produção de Trabalho (IR) Responsabilidade De alta qualidade Autonomia pelos Resultados (PTQ) (AU) (PRT) Feedback do próprio Conhecimento dos Absenteísmo e Trabalho (FT) reais Resultados Rotatividade baixas Feedback do Trabalho Extrínseco (FE) (CRT) TABELA XI – Modelo de Dimensões Básicas da Tarefa, segundo Hackman & Oldham (1975). Fonte: Walton (1973) Concorda-se, em última análise, com autores como QUIRINO E XAVIER (1987), ao afirmarem que “...a Qualidade de Vida no Trabalho veio apenas sistematizar e enfatizar pesquisas e estudos sobre a satisfação e a motivação no 47 trabalho”. Ou seja, esta nova abordagem introduziu aos estudos de satisfação e motivação uma nova visão, pelo fato de existirem argumentações teóricas mais modernas e coerentes com a realidade, entretanto já definidas pelas tradicionais teorias motivacionais. Uma pesquisa realizada por tais autores, com base em aspectos sugeridos pela literatura, em que analisaram 30 fatores que são apontados por se relacionarem com a melhoria da Qualidade de Vida no Trabalho. Os resultados de tais estudos indicaram os fatores que revelaram maior representatividade: realização do trabalho, oportunidade de aprender, informação científica para realizar o trabalho, equipamentos para o trabalho, segurança no emprego e proporções justas na compensação. É possível que outras variáveis intervenientes na QVT possam ser agregadas às citadas nos modelos selecionados, como, por exemplo, a “participação”, que é considerada por FERNANDES (1996), como um dos mais importantes elementos comportamentais intervenientes na Qualidade de Vida no Trabalho. 2.4.3 Produtividade X Qualidade de Vida no Trabalho No início da década de 50, ERIC TRIST iniciou estudos de um modelo que pudesse agrupar indivíduo / trabalho / organização. Esta técnica recebeu o nome de Qualidade de Vida no Trabalho. SMITH ( 1993 ), fazendo referência a HACKMAN e SUTTLE, disse que: Qualidade de Vida no Trabalho “é o quanto as pessoas na organização estão aptas a satisfazer suas necessidades pessoais importantes, através de suas experiências de trabalho e de vida na organização. Quando a satisfação é alta, o compromisso com os objetivos do grupo e da organização também é alto”. Referenciando BELCHER, SMITH ( 1993 ) descreveu um ambiente com alta qualidade de vida no trabalho como “aquele onde as pessoas são membros essenciais de uma organização que desafia o espírito humano, inspira o desenvolvimento e o crescimento pessoal, e faz com que as coisas sejam realizadas”. Os ambientes de alta qualidade de vida no trabalho apresentam: 48 a) Input do empregado nas decisões; b) Participação do empregado na solução de problemas; c) Compartilhamento de informações; d) Feedback construtivo; e) Trabalho em equipe e colaboração; f) Trabalho desafiador e significativo; g) Segurança no emprego. O caminho da qualidade de vida no trabalho tem sido colocado como a grande esperança das organizações para atingirem altos níveis de produtividade, pensando em atender as questões de motivação e satisfação do indivíduo. A Qualidade de Vida no Trabalho tem, ao longo do tempo, apresentado diversas abordagens, que refletem muito do interesse do trabalhador em cada momento; entende-se o grau de bem-estar material pelo que dispõe uma pessoa, classe social ou comunidade para sustentar-se e desfrutar sua existência. Portanto, o nível de vida de um cidadão está diretamente associado ao que pode adquirir com seus recursos e ao que o Estado pode lhe oferecer. Quando se trabalha na dissecação da produtividade, percebe-se que a sua constituição apresenta um conjunto de variáveis sociais. Além disso, ela mostra também que o seu crescimento proporciona um retorno à sociedade, fazendo com que muitas destas variáveis sociais também cresçam. Assim fica clara a correspondência entre produtividade e qualidade de vida. É biunívoca e diretamente proporcional; isto é, a qualidade de vida sendo alta, os valores para produtividade também são altos; baixa qualidade de vida provocará baixos índices de produtividade. A Qualidade de Vida no Trabalho é construída internamente a partir de ações sobre as condições e a organização do trabalho e, externamente, com o melhor atendimento de questões como saúde, educação, habitação, transporte, lazer, etc. As preocupações devem ser para além da qualidade produtiva; deve-se definir prioridades para conquistar a qualidade de vida. Os processos participativos 49 se caracterizam como excelentes formas para as práticas administrativas e políticas no estabelecimento de sociedades que tenham preocupações não só baseadas no crescimento material da produção, mas, prioritariamente, considerando os índices humanos. 2.4.4 O Taylorismo e a Ergonomia Taylorismo é o termo que deriva de Frederick Winslow Taylor ( 1856-1915 ), um engenheiro americano que iniciou, no final do século passado, o movimento de “administração científica” do trabalho e se notabilizou pela sua obra “Princípios de Administração Científica”, publicada originalmente em 1912. Taylor defendia que o trabalho deveria ser cientificamente observado de modo que, para cada tarefa, fosse estabelecido o método correto para executá-la, com um tempo determinado, usando as ferramentas corretas. Haveria uma divisão de responsabilidades entre os trabalhadores e a gerência da fábrica, cabendo a esta determinar os métodos e os tempos, de modo que o trabalhador pudesse se concentrar unicamente na sua tarefa produtiva. Os trabalhadores deveriam ser controlados, medindo-se a produtividade de cada um e pagando-se incentivos salariais àqueles mais produtivos. Ele explica, dizendo que até o mais simples trabalho como carregamento com uma pá deve ser cuidadosamente estudado de modo a determinar o seu tamanho adequado para cada tipo de material ( antes se utilizava a mesma pá, tanto para carregar o carvão como a cinza ) e descobrir o melhor método de realizar o trabalho, de modo que nada fosse deixado ao livre arbítrio do operário. As idéias de Taylor se difundiram rapidamente nos Estados Unidos. Em praticamente todas as fábricas foram criados departamentos de análise do trabalho para fazer cronometragens e desenvolver métodos racionais de trabalho, e isso provavelmente contribuiu para a grande hegemonia mundial da indústria norte-americana na produção massificada de bens. 2.4.4.1 A Resistência dos Trabalhadores ao Taylorismo Pelo lado dos trabalhadores, houve, desde o início, uma certa resistência à aceitação da cronometragem e dos métodos definidos pela gerência. Os 50 trabalhadores achavam que isto os oprimia e reagiram, descumprindo regras estabelecidas, desregulando máquinas e prejudicando intencionalmente a qualidade. Partindo do nível de resistência individual, chega-se aos movimentos coletivos e sindicais que questionam, em menor ou maior grau, o poder gerencial dentro das fábricas, que lhes determina o que deve ser feito, nos mínimos detalhes, sem darlhes a menor satisfação. Assim, os trabalhadores, de certa forma sentem-se moralmente desobrigados a seguir estes padrões, visto que não participaram de nenhuma etapa de sua elaboração. Evidentemente, decorrido quase um século a partir das idéias iniciais do taylorismo, muita coisa modificou-se. Os trabalhadores hoje são mais instruídos, mais bem informados e mais organizados e não aceitam passivamente as decisões da gerência. 2.4.4.2 A Transformação do Taylorismo O taylorismo surgiu dentro das fábricas através da observação empírica do trabalho. Os estudos científicos, relacionados com o trabalho, continuaram a se desenvolver em laboratórios, acumulando conhecimentos sobre a natureza do trabalho humano. Esses conhecimentos contribuíram para transformar, gradativamente, os conceitos tayloristas. O taylorismo atribuía a tendência de vadiagem dos trabalhadores, e os acidentes de trabalho à negligência dos mesmos. Hoje já se sabe que as coisas não são tão simples assim. Há uma série de fatores ligados ao projeto de máquinas e equipamentos, ao ambiente físico (iluminação, temperatura, ruídos, vibrações), ao relacionamento humano e a diversos fatores organizacionais, que podem ter uma forte influência sobre o desempenho do trabalho humano. Outro conceito taylorista cada vez mais questionado é o do homem econômico. Segundo ele, o homem seria motivado a produzir simplesmente para ganhar dinheiro e, então, cada trabalhador deveria ser pago de acordo com sua produção. Hoje se admite que isso nem sempre é verdadeiro. Há, de fato, certas pessoas que se motivam mais pelo dinheiro. Mas estas se incluem entre os 51 trabalhadores de menor renda e aqueles de temperamento individualista, que são mal vistos e isolados pelos próprios colegas. Outros serão motivados por fatores diversos como a auto-estima e o reconhecimento do trabalho que realizam. Um psicólogo norte-americano que estudou o comportamento dos trabalhadores, convivendo com eles, chegou à conclusão de que muitos preferem “manter a cabeça erguida que o estômago cheio”, referindo-se à questão do dinheiro, que nem sempre era considerado o mais importante. Portanto, estas duas vertentes - de um lado, a resistência dos próprios trabalhadores e, de outro, o enriquecimento dos conhecimentos científicos sobre a natureza do trabalho - influenciaram a gerência empresarial a rever suas posições. Hoje há um respeito maior às necessidades do trabalhador e às normas de grupo e, na medida do possível, procura-se envolver os próprios trabalhadores nas decisões sobre o seu trabalho. Uma das conseqüências desta nova postura foi a gradativa eliminação das linhas de montagem, em que cada trabalhador deveria realizar tarefas simples e altamente repetitivas, definidas pela gerência. Essas linhas, consideradas até pouco tempo atrás como supra-sumo do taylorismo, parece que estão condenadas a serem substituídas por equipes menores, mais flexíveis, chamadas de células de produção. Cada célula se encarrega de fazer um produto completo e a distribuição de tarefas de cada trabalhador é feita pelos próprios elementos da equipe. Portanto, há mais liberdade para cada um escolher as suas tarefas, podendo haver rodízios periódicos dentro da equipe para combater a monotonia e fadiga. Evidentemente, não se trata de cair no extremo oposto do laissez-faire. Os controles continuam existindo. Mas, em vez de se controlar individualmente cada trabalhador, eles foram direcionados para os aspectos mais globais da produção e da qualidade. Essa mudança trouxe mais liberdade e responsabilidade aos trabalhadores, dando maiores oportunidades às manifestações dos talentos de cada um. Assim, os resultados globais podem ser melhores do que no caso anterior, em que todos os detalhes eram rigorosamente controlados. 52 2.4.5 Eficácia e Trabalho A ergonomia defende, desde longo tempo, uma visão do trabalhador como criador de seu próprio trabalho. É isto o fundamental da distinção entre tarefa e atividade. A eficácia no trabalho depende da ação criativa do operador, do ajuste do funcionamento da tarefa. Mais recentemente, novas perspectivas foram acrescentadas a esta visão clássica. Os objetivos da eficiência, qualidade, etc., dependem, também, das contribuições dos próprios trabalhadores: esta construção espontânea de novas ferramentas ou saberes é que contribui para a transformação do sistema de produção. As atividades meta-funcionais são as atividades não diretamente orientadas para a produção imediata, que resultam na construção de conhecimentos ou de ferramentas (materiais ou cognitivas ), destinados a uma utilização posterior eventual e visando a facilitar a execução da tarefa ou a melhoria da performance. Estas atividades, individuais ou coletivas, situam-se à margem do trabalho (vêm se inserir sobre o tempo de trabalho, em paralelo à atividade funcional, ou no momento da fase de menor carga ) e são os acontecimentos que se realizam na hora do trabalho que provocam a aparição de atividades meta-funcionais. Estes dois aspectos conferem um caráter “parasitário” ( parasitismo temporal e genético ) relacionado à atividade. Estas atividades meta-funcionais são, às vezes, mais raramente, formalizadas e reconhecidas. Na maioria das vezes, são espontâneas e ignoradas. Em certos casos, são escondidas e combatidas pela organização. Elas são atividades necessárias, bem mais sob o ponto de vista do desenvolvimento individual e do interesse do trabalhador do que do ponto de vista da eficiência da qualidade do trabalho. A eficácia, a qualidade, etc., são resultantes de uma co-produção ( operador de um lado, organização do trabalho e o ambiente de trabalho do outro ). Estas atividades meta-funcionais devem, então, ser estimuladas e, eventualmente, assistidas ( não sabemos por quanto tempo ). A ergonomia parte do princípio de que a atividade de trabalho constitui a trama que estrutura, preserva e permite a evolução da produção. 53 Reconhecendo que em qualquer sistema de produção há sempre uma distância entre trabalho prescrito e trabalho real, a ergonomia explora o espaço de auto-organização existente no interior das organizações formais; mostra, por exemplo, como a concepção de produtos se prolonga até a sua utilização. Em tudo isso, questiona a divisão social do trabalho entre planejadores e executantes, buscando na compreensão da atividade de trabalho a chave para desvendar o funcionamento real dos sistemas de produção. A abordagem dos sistemas de produção via atividade de trabalho não se limita a afirmar a primazia da prática real dos homens (seria esquecer todo o peso estrutural dos processos sociais que operam de forma alienada à vontade dos indivíduos), mas procura revelar as contradições que atravessam a produção social, cujos produtos negam e obscurecem - através de uma racionalidade objetivamente inscrita nas coisas - as relações e atividades vivas dos homens reais. Procura, assim, entender a natureza contraditória do trabalho: da produção é possível originar riquezas simultaneamente à despossessão e ao desgaste dos produtores, contradição que se expressa na negação da efetividade real de suas atividades concretas, e na impossibilidade de reapropriação dos produtos criados e das riquezas geradas pelos próprios produtores. Estas contradições se manifestam em vários fenômenos do mundo do trabalho, que são objetos de pesquisas específicas no domínio da Ergonomia e da Organização do Trabalho: a) processos sociais de produção das doenças ocupacionais e dos acidentes de trabalho; formas de desgaste do corpo, patologias e sofrimento mental dos trabalhadores em relação com a organização do processo de trabalho e introdução de novas tecnologias; b) gênese e limites do desenvolvimento das potencialidades cognitivas dos trabalhadores, (aprendizagem, formação e qualificação, carreira e realização profissional, ética e dimensões afetivas no trabalho); c) natureza dos conflitos e formas de cooperação horizontal (entre trabalhadores e funções da empresa) e vertical (entre trabalhadores e a hierarquia); trabalho coletivo e novas formas de organização do trabalho; 54 d) concepção de novas tecnologias e de sistemas informatizados/automatizados, com ênfase na interface entre operadores e tecnologia; processos de transferência de tecnologia e suas condições de sucesso; desenvolvimento de softwares ergonômicos, através de metodologias participativas de concepção; e) racionalidade produtiva em sistemas informatizados complexos; organização qualificante e novos conceitos de produtividade e de eficiência. 55 3 ESTUDO DE CASO: A ANÁLISE ERGONÔMICA DO AMBIENTE LUMÍNICO NO TRABALHO DO CIRURGIÃO-DENTISTA 3.1 INTRODUÇÃO O projeto de iluminação na análise ergonômica do trabalho, para PORTO et al (1997), tem por objetivo mostrar aspectos de relevância da iluminação natural e artificial para a atividade humana, como meio de obtenção das condições de conforto no ambiente de trabalho. Ainda de acordo com os autores acima, a escolha de sistemas de iluminação, de suas orientações e complementos de sombreamento e redirecionamento de fluxo luminoso é um passo determinante na iluminação ambiental. A correta distribuição da cor, como um dos fatores de qualidade do quadro visual, contribui para a melhoria das condições físicas do trabalho e para a adequação do homem à máquina, sendo um fator preponderante, que pode auxiliar na saúde, segurança e bem-estar das pessoas que nele trabalham. Em colaboração com o Oftalmologista Jaime Roisenblatt, LUSVARGHI (1999), alertou a classe dos Cirurgiões-Dentistas do risco do trauma ocular. Por esse motivo, a indústria odontológica, preocupada em quebrar a monotonia e a austeridade dos consultórios odontológicos, usa atualmente uma combinação adequada de cores que ajuda a concentração do profissional sobre determinadas partes do equipamento, que além do benéfico efeito psicológico devido às boas condições ambientais, há uma diminuição no risco de fadiga visual e conseqüente diminuição de trabalhos falhos. De acordo com SIMURRO (2000), a intensidade de iluminação e a coloração da luz devem combinar com a coloração da luz ambiental. São aconselhadas, para a iluminação, lâmpadas fluorescentes de luz natural branca, com coloração a mais semelhante à temperatura cromática. As janelas, em horas noturnas, não devem aparecer como áreas escuras, devem ser aclaradas pela instalação de cortinas 56 claras ou envidraçamento especial, apoiado por uma irradiação de luz de cima, de modo que não cause qualquer ofuscamento pelas luminárias. A iluminação do lugar de tratamento, ainda de acordo com SIMURRO (2000), deve possibilitar ao Cirurgião-Dentista a realização de trabalhos de precisão fora do campo de operações propriamente dito. Entende-se como lugar de tratamento todos os aparelhos terapêuticos, bem como os demais acessórios de uso imediato do profissional e de sua auxiliar. As luminárias devem estar instaladas na cobertura por sobre e em frente ao paciente, para que se consiga uma direção de luz apropriada para providências terapêuticas em pacientes deitados ou sentados. Para se manter tão baixa quanto possível a ofuscação do paciente, são preferidas as luminárias de grande área. O teto sendo a principal superfície refletora da luz que provém do exterior, é responsável pelo redirecionamento da luz aos planos verticais e horizontais mais distantes das janelas, não podendo causar ofuscamento, fornecendo condições lumínicas necessárias para o bom desempenho da atividade visual. Outro aspecto a ser considerado é o formato. Grandes quantidades de reentrâncias dificultam o redirecionamento da luz natural, visto que obstruem o caminho usual da reflexão do feixe lumínico. A disposição do menor número possível de cavidades e a simples inclinação do teto de forma descendente até a janela, proverão uma distribuição de luz mais eficaz e uniforme no ambiente interno. FALZON (1996) observa que o nível de iluminação interfere diretamente no mecanismo fisiológico da visão e também na musculatura que comanda os movimentos dos olhos, levando com isso à fadiga visual. Para evitá-la, deve haver um cuidadoso planejamento da iluminação, assegurando a focalização do objeto a partir de uma postura confortável. A iluminação adequada diminui a fadiga ocular e aumenta a velocidade e eficiência da leitura. Luz fraca não causa doença ocular, mas aumenta o cansaço ocular. De acordo com VAUGHAN (1983), as lâmpadas incandescentes simulando a luz do dia, proporcionam um fluxo de luz forte e difuso. Os tubos fluorescentes comuns operam com corrente alternada e causam tremulação, mas é possível ligar 2 tubos fluorescentes de tal forma ajustada, que haja desencontro das fases, eliminando assim o tremor. 57 VAUGHAN (1983) e SAQUY (1994) afirmam que um requisito básico na iluminação é ter luz suficiente para ver. Uma vez que isto seja realizado, a intensidade de iluminação e o aumento (o uso de óculos) podem ser ajustados para aumentar a eficiência visual. Em geral, a iluminação deve ser suficiente para permitir o trabalho, de forma eficiente e confortável. Segundo ITIRO (1992), um projeto de iluminação tem por objetivo mostrar aspectos a serem considerados na análise ergonômica do trabalho, dentro do espaço que se quer trabalhar e a relevância da iluminação natural para a atividade humana, como meio de obtenção das condições de conforto no ambiente de trabalho. A escolha de sistemas de iluminação natural, de suas orientações e complementos de sombreamento e redirecionamento de fluxo luminoso, é um passo determinante na iluminação ambiental. A iluminação geral deve ser uniformemente distribuída e difusa. A iluminação geral ou suplementar deve ser projetada e instalada de forma a evitar ofuscamento, reflexos incômodos, sombras e contrastes excessivos. Os níveis mínimos de iluminamento a serem observados nos locais de trabalho são estabelecidos pela Norma Brasileira Registrada e o Inmetro. Dentre as causas de iluminação inadequada está a iluminação excessiva, produzida por luz natural, em uma sala com grandes janelas e sol. 3.2 ANÁLISE DE DADOS Este estudo de caso foi realizado em uma sala de tratamento do CirurgiãoDentista, na Clínica Odontológica do autor, situada na cidade de Curitiba. A situação de trabalho a ser analisada é sobre o que é exigido, em termos de desgaste visual do Cirurgião-Dentista, durante o desenvolvimento de seu trabalho e também à descrição das condicionantes físico-ambientais que lhe são oferecidas para a realização do mesmo, a fim de propor orientações no sentido de garantir a saúde, segurança e desempenho desse profissional. Utilizar-se-á como metodologia a Análise Ergonômica do Trabalho, com o intuito de estudar como o Cirurgião-Dentista desenvolve suas atividades com as 58 condições de trabalho que lhe são oferecidas, pretendendo-se ainda fornecer recomendações ergonômicas para o seu trabalho. 3.2.1 Procedimentos Metodológicos Partindo dos objetivos propostos, realizou-se a Análise Ergonômica do Trabalho, seguindo as etapas contidas no Referencial Teórico, para determinar os fatores que interferem no conforto e desempenho do Cirurgião-Dentista. 3.3 APLICAÇÃO DA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO 3.3.1 Análise da Demanda A sala de tratamento do paciente em um Consultório Odontológico é o ambiente em que o Cirurgião-Dentista passa a maior parte do tempo, por isso, deverá ser um ambiente com luminosidade suficiente para que este profissional desenvolva seu trabalho profissional com saúde (aspecto importante a ser considerado) e ótima produtividade (uma das exigências da profissão). Considerando este contexto, a demanda foi formulada pelo pesquisador no sentido de analisar as condições de trabalho do Cirurgião-Dentista em seu ambiente de trabalho, ou seja, na sala de atendimento do paciente, com o objetivo de levantar dados para melhorar a situação existente. Para tanto, decidiu-se pela Análise Ergonômica do Trabalho no referido local. 3.3.2 Características do local de trabalho O Cirurgião-Dentista dispõe, para o desenvolvimento de suas atividades, de ambientes convencionais de uma clínica odontológica: sala de recepção, sala de entrevistas, sala pré e pós operatória, sala de esterilização, banheiros e a sala de atendimento do paciente que é o objeto deste estudo. (FIG. IV - layout 1) 59 3.4 ANÁLISE DA TAREFA Procedeu-se a uma análise sobre o que é exigido do Cirurgião-Dentista, no desenvolvimento de seu trabalho e também à descrição das condicionantes físicoambientais que lhe são oferecidas para a realização do mesmo. 3.4.1 Descrição da tarefa De uma forma geral, a tarefa a ser realizada distribui-se em um conjunto de ações que destaca-se a seguir: Recepção do paciente pela atendente odontológica; Leitura e análise do tratamento a ser realizado ou em andamento; Procedimentos odontológicos diferenciados a cada paciente dependendo da especialidade: - Cirurgia; - Periodontia; - Implantodontia; - Endodontia; - Dentística Operatória; - Ortodontia; - Oclusão; - Prótese Dental; - Odontopediatria; - Radiologia. Tarefas do Cirurgião-Dentista no atendimento ao paciente: - após o posicionamento do paciente na cadeira odontológica pela atendente, o profissional senta-se no mocho odontológico; - ajuste da luz do refletor posicionando-a corretamente; 60 - posicionamento da mesa auxiliar; - início do procedimento. Orientação ao paciente quanto a procedimentos de manutenção; Preenchimento da ficha do atendimento realizado; Consulta de tabelas de preço para orçamento ou pagamento; Preenchimento de receituários, se for o caso; Acompanhamento do paciente até a recepcionista da Clínica para os agendamentos futuros e emissão de recibos; Desenvolvimento de atividades específicas conforme calendário anual (recadastramento de pessoal, imposto de renda, pagamento de taxas e emolumentos) sendo que tais atividades, modificam o seu ritmo de trabalho. 3.4.2 Características físico-ambientais do espaço de trabalho: O Cirurgião-Dentista dispõe, para o desenvolvimento de suas atividades, de uma sala de atendimento do paciente que é o objeto deste estudo. Ambiente físico da sala de atendimento: A estrutura física estudada é formada basicamente de um setor, denominado de sala de atendimento do paciente. Esta sala tem a dimensão de 8,64 m2, medindo 2,40 m por 3,60 m. (FIG. V - layout 2). As paredes são pintadas com tinta lavável na cor branca fosca. O piso é de lajota vitrificada na cor cinza claro. Existência de uma janela do sistema basculante medindo 2 m de largura x 1 m de altura, fornecendo luminosidade natural à sala e boa ventilação; duas portas, uma, dando acesso à sala de esterilização e outra, com acesso à sala de espera do paciente. (FIG. VI e VII). Equipamentos: 61 Os principais equipamentos utilizados pelo Cirurgião-Dentista são: - cadeira odontológica - 01 - equipo odontológico composto por mesa auxiliar, refletor e cuspideira 01 - aparelho de RX - 01 Mobiliários - armários de fórmica – 03 - lavatório para degermação das mãos – 01 - cadeira (mocho) com assento e encosto reguláveis – 01 Para melhor compreensão, a disposição da estrutura e dos equipamentos para a realização das atividades está representada na FIG. VIII (foto dos equipamentos do consultório) e FIG. IX- layout 3. Iluminação Além da janela, que fornece luminosidade natural à sala, no teto, está colocado um conjunto de luminárias com 4 (quatro) lâmpadas fluorescentes de 40 W, formando um desenho quadrado. As lâmpadas fluorescentes sendo a melhor escolha para iluminação artificial de ambientes, possuem um ótimo desempenho e conforto lumínico, garantindo aos usuários condições ideais de bem estar, evitando ofuscamentos e contrastes na iluminação. (FIG. X). 3.5 ANÁLISE DA ATIVIDADE A observação das atividades realizadas pelos Cirurgiões-Dentistas foram classificadas em períodos diversificados, acompanhando o desenvolvimento de seus trabalhos, assim distribuídos: dois dias no período da manhã, dois dias no período da tarde e dois dias no período da noite. Desta forma, pôde-se observar as atividades que os profissionais realizam. 62 Com o intuito de facilitar a compreensão dos resultados obtidos com a análise das atividades, procurar-se-á dividi-los em condicionantes físicos e gestuais, cognitivos e ambientais. 3.5.1 Análise das atividades em termos gestuais e posturais O Cirurgião-Dentista realiza sua atividade diária alternando-se entre a posição sentado e postura em pé. A postura em pé, em equilíbrio dinâmico, é adotada pelo profissional ao andar pela sala de atendimento e as dependências do consultório para realização das atividades profissionais. A posição sentada, é adotada pelo profissional durante quase toda a realização de seu trabalho. Seus movimentos são constantes, realizados com tronco, região cervical, membros inferiores e membros superiores. Observou-se que a rotação forçada, realizada pelo tronco e região cervical, são posições que irão lhe causar problemas ortopédicos futuros e que o esforço visual realizado para poder visualizar uma área muito pequena e restrita que é a boca, também irão lhe causar um desgaste visual. ANTES DO ESTUDO ATUALMENTE Iluminação natural Iluminação natural Luminosidade da janela com entrada de luz solar direta (posição leste) sem proteção de cortinas. Pela manhã – abundância de luz ocasionando ofuscamentos indesejados. Luminosidade da janela com entrada de luz solar amenizada pela instalação de cortinas do tipo persiana. Pela manhã – luz natural com harmonia, diminuindo sensivelmente o ofuscamento oferecendo um conforto lumínico tanto ao profissional como para o paciente. À tarde – iluminação mais confortável, mas À tarde – iluminação confortável oferecendo um ainda com ofuscamento. ambiente agradável. À noite – aspecto de um “quadro negro” causado À noite – aspecto do “quadro negro” melhorado pelo escuro da noite. pela instalação da persiana que apesar de não contribuir para a iluminação, oferece um ambiente mais agradável. 63 Iluminação artificial Iluminação artificial Instalação no meio do teto de uma luminária dupla com lâmpadas fluorescentes de 40 W, causando com isso, uma luz direcionada por trás do paciente, levando o profissional para uma melhor visualização do seu trabalho, a utilizar sempre o meio auxiliar de iluminação do equipo. Instalação de uma luminária com quatro lâmpadas de 40 W, com formado de um quadrado, abrangendo todo o teto. As lâmpadas fluorescentes sendo a melhor escolha para iluminação artificial de ambientes, possuem um ótimo desempenho e conforto lumínico, garantindo aos usuários condições ideais de bem estar, evitando ofuscamentos e contrastes na iluminação. 3.5.2 Análise das atividades em termos cognitivos As atividades realizadas pelos profissionais são fundamentalmente cognitiva e os aspectos exigidos são: - conhecimento do equipamento existente na sala e habilidade em manuseá-lo; - conhecimento profissional dos serviços a serem realizados em seu paciente (inerentes à profissão); - habilidade para lidar com os pacientes (aspectos psicológicos); - planejamento do tempo e organização das atividades realizadas; - conhecimento dos materiais utilizados. 3.6 DIAGNÓSTICO Tomando como ponto de partida as observações efetuadas nos profissionais nos três turnos, obtém-se uma visão geral dos problemas relacionados aos mesmos, aos quais sintetizou-se observações para embasar o diagnóstico a seguir citados: 1. Procedimentos de Trabalho - maior desgaste físico e psicológico para pacientes novos (diagnóstico diferenciado imediato); - mobiliário padrão; 64 - ergonomia do consultório satisfatória. 2. Indicadores Gerais Físicos - dor e desconforto na região cervical e membros superiores de intensidade moderada: As tarefas executadas pelos profissionais, embora guardem um alto grau de regulação, são realizadas tanto sentados como em pé. Os profissionais fazem referência a cansaço físico e dores nas costas bem como nos membros superiores e inferiores no final do período de trabalho. - problemas de visão no trabalho noturno relatados por todos os profissionais envolvidos: LUSVARGHI (1999), relatou que o Cirurgião-Dentista, por ter uma profissão detalhista, fixa o olhar em um detalhe da boca por um tempo prolongado. Conseqüentemente, ele pisca menos e fica com os olhos ressecados e ardendo. Trabalhando sem pausas, o dentista entra num quadro de espasmo de acomodação da musculatura ciliar – sente cansaço, apresenta os olhos vermelhos, não consegue enxergar e sente coceira. Isso favorece o desenvolvimento de problemas refracionais, como a presbiopia, mais conhecida como vista cansada. “É importante fazer pausas e fixar os olhos num ponto distante para relaxar”. LUSVARGHI (1999) ainda diz que o dentista trabalha com um gradiente de iluminação intenso – ele tem uma área iluminada sob foco de luz intensa e uma área ao redor com luz bem mais fraca – o que é muito cansativo, para isso, o ambiente deve estar uniformemente iluminado. 2. Indicadores Gerais Físicos De acordo com GRANDJEAN (1998), permanecer em pé por tempo prolongado, além da fadiga muscular, causa desconforto devido às condições adversas do fluxo de retorno do sangue, responsável pela 65 incidência de varizes e edema de tornozelos. Além disso, no trabalho sentado por longo tempo, o autor adverte para os sintomas dolorosos de fadiga no sistema nuca-ombros-braços, uma vez que esse sistema suporta o trabalho estático realizado. A prática freqüente de atividades mobilizando os aspectos citados, sem a adoção de medidas para alteração das situações geradoras, pode desencadear problemas de saúde aos profissionais. 3. Aspectos Gerais do Trabalho Quanto aos aspectos físico-ambientais: - O ambiente físico da sala de tratamento do paciente é, de forma geral, um local de trabalho agradável para o desenvolvimento das atividades que lhes são pertinentes; - O nível de iluminação natural que antes da análise deste caso era de uma intensidade exagerada, causando desconforto para o profissional e ao paciente, após a mudança na luminosidade pela instalação de cortinas do tipo persianas, houve uma melhora considerável no aspecto lumínico, causando um conforto aos profissionais. 3.7 CADERNO DE ENCARGOS E RECOMENDAÇÕES ERGONÔMICAS De acordo com Santos e Fialho (1997), a transformação da situação de trabalho analisada é o principal objetivo da intervenção ergonômica. O caderno de encargos foi constituído a partir da análise ergonômica do trabalho. As especificações nele contidas visam contribuir para a melhora das condições de trabalho e saúde dos profissionais do presente estudo, levando-se em conta as alterações das suas condições de trabalho advindas da modificação da luminosidade em seu ambiente. Para atender as características levantadas e analisadas no diagnóstico, sugere-se: 66 1. Implementar um programa de saúde profissional, direcionado aos Cirurgiões-Dentistas, envolvendo profissionais de saúde e tecnológicos. A partir de referências da situação concreta vivida por esses profissionais, convidar profissionais de ergonomia, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, para orientações quanto à adoção de hábitos posturais e técnicas de iluminação. 2. Proceder orientações, sobre a importância de alternar atividades durante o horário de trabalho para evitar esforços decorrentes de sobrecargas posturais, de origem estática ou dinâmica. Ainda, elucidar efeitos possíveis sobre a correta padronização do ambiente lumínico. 3. Tendo em vista os dados acima, pode-se dizer que o Cirurgião-Dentista sofre diversos desgastes, tanto físico como psicológico, mas o que mais enfocamos foi o desgaste visual durante o seu desempenho profissional, causado pela falta de conhecimento de técnicas de iluminação e a correta utilização das mesmas, bem como um melhor conhecimento da atuação ergonômica para obtenção de uma melhoria da qualidade de vida, aumento da produtividade e eficácia no trabalho. Desta maneira, através destas técnicas e do interesse da aplicação dos Cirurgiões-Dentistas nesta área para solucionar os problemas relativos ao cansaço visual e, às vezes, à perda significativa da visão é que se faz necessária a avaliação da iluminação do local de trabalho e das técnicas ergonômicas que nele devem ser aplicados. 67 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Para a apresentação da conclusão da presente dissertação, inicialmente deve-se retomar alguns tópicos importantes já descritos anteriormente no que se refere à iluminação e ergonomia, relacionados em um ambiente odontológico. O nível de iluminação interfere diretamente no mecanismo fisiológico da visão e também na musculatura que comanda os movimentos dos olhos, levando à fadiga visual. Para evitá-la deve haver um cuidadoso planejamento da iluminação, assegurando a focalização do objeto a partir de uma postura confortável. A claridade do ambiente é determinada não apenas pela intensidade de luz, mas também pelas distâncias e pelo índice de reflexo das paredes, tetos, pisos, máquinas e mobiliário. Portanto, um bom sistema de iluminação, com o uso adequado de cores e a criação dos contrastes, pode produzir um ambiente agradável, onde as pessoas trabalhem confortavelmente, com pouca fadiga, monotonia e acidentes além de produzir com maior eficiência. Existem, porém, dois grandes problemas relacionados com a luz: o primeiro deles é a iluminação inadequada, que dificulta a realização de um trabalho mais minucioso, como é o caso da odontologia; e o segundo são os reflexos, que surgem nos vidros ou espelhos mal posicionados. Dentre as causas de iluminação inadequada está a iluminação excessiva, produzida por luz natural, em uma sala com grandes janelas e sol. Uma outra desvantagem da luz natural é a criação de focos de reflexão da luz da janela, nos instrumentais utilizados. Os reflexos forçam a vista e obrigam o Cirurgião-Dentista a desviar a cabeça para poder enxergar, ocasionando sobrecarga da região cervical. Buscando a melhoria das condições de saúde e trabalho do CirurgiãoDentista, foram elaboradas possíveis recomendações: 68 1. Envolvimento das Associações de Classe Odontológicas para, em conjunto com os Conselhos de Engenharia e Arquitetura criar um intercâmbio para a realização de estágios e palestras sobre Ergonomia e Luminotécnica, permitindo a esses profissionais, a adquisição de conhecimentos básicos das regras de iluminação para colaborar na concepção de um ambiente de trabalho que se coadune à terapia dos pacientes. Assim, o Cirurgião-Dentista promoverá uma melhor iluminação do consultório odontológico, diminuindo a fadiga, prevenindo também a deficiência visual. 2. Estender a aplicação do presente estudo à Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina. 3. Conscientizar, através de campanhas direcionadas aos CirurgiõesDentistas, da necessidade de realizar pausas entre um paciente e outro ou a cada período de tempo, para que possa praticar atividade laboral e solucionar os problemas relativos ao cansaço visual bem como a perda significativa da visão. 69 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: AURÉLIO, B. H. F. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1986. BARTLEY, S. H. Central mechanisms of vision. Handbook of Physiology. Sec. I Vol. I p. 713. Baltimore: The Williams & Wilkins Co., 1959. BARROS, O. B. Ergonomia. 2. O ambiente físico de trabalho, a produtividade e a qualidade de vida em Odontologia. Pg 185. São Paulo: Pancast, 1993. BLOOM, W, e FAWCETT, Don W. A textbook of histology. 9ª ed. Pg 858. Philadelphia: W. B. Saunders, 1968. BOURRET, P. e LOUIS, R. Anatomia du système nerveux central. Paris, L”Expansion scientifique Française. Pg 119., 1971. BÚRIGO, C. C. 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Anatomy 88(1) Pg 71-93, l954. 74 ANEXOS ANEXO I - NR 17 .......................................................................................................75 ANEXO 2...................................................................................................................77 ANEXO 3...................................................................................................................78 ANEXO 4...................................................................................................................79 ANEXO 5...................................................................................................................80 ANEXO 6...................................................................................................................81 ANEXO 7...................................................................................................................82 ANEXO 8...................................................................................................................83 75 ANEXO I - NR 17 Visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às condições psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. A fundamentação legal, ordinária e específica, que dá embasamento jurídico à existência desta NR, está nos artigos 198 e 199 da CLT. Normas Regulamentadoras da Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho: NR 17 - Ergonomia (117.000-7) 17.5. Condições ambientais de trabalho. 17.5.1. As condições ambientais de trabalho devem estar adequadas às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado. 17.5.3. Em todos os locais de trabalho deve haver iluminação adequada, natural ou artificial, geral ou suplementar, apropriada à natureza da atividade. 17.5.3.1. A iluminação geral deve ser uniformemente distribuída e difusa. 17.5.3.2. A iluminação geral ou suplementar deve ser projetada e instalada de forma a evitar ofuscamento, reflexos incômodos, sombras e contrastes excessivos. 17.5.3.3. Os níveis mínimos de iluminamento a serem observados nos locais de trabalho são os valores de iluminâncias estabelecidos na NBR 5413, norma brasileira registrada no INMETRO (117.027-9 / I2). 76 17.5.3.4. A medição dos níveis de iluminamento previstos no sub-item 17.5.3.3 deve ser feita no campo de trabalho onde se realiza a tarefa visual, utilizando-se de luxímetro com fotocélula corrigida para a sensibilidade do olho humano e em função do ângulo de incidência (117.028-7 / I2). 17.5.3.5. Quando não puder ser definido o campo de trabalho previsto no subitem 17.5.3.4, este será um plano horizontal a 0,75m (setenta e cinco centímetros) do piso. 77 ANEXO 2 FIGURA IV – LAYOUT DA CLÍNICA ODONTOLÓGICA 78 ANEXO 3 FIGURA V – LAYOUT DA SALA DE ATENDIMENTO (LUMINÁRIA) 79 ANEXO 4 FIGURA VI – FOTO DA JANELA DA SALA DE ATENDIMENTO 80 ANEXO 5 FIGURA VII – FOTO DA JANELA DA SALA DE ATENDIMENTO EM OUTRO ÂNGULO 81 ANEXO 6 FIGURA VIII – FOTO DOS EQUIPAMENTOS DO CONSULTÓRIO NA SALA DE ATENDIMENTO 82 ANEXO 7 FIGURA IX – LAYOUT DA DISPOSIÇÃO DOS EQUIPAMENTOS NA SALA DE ATENDIMENTO 83 ANEXO 8 FIGURA X – FOTO DAS LUMINÁRIAS NO TETO NA SALA DE ATENDIMENTO