XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
ANÁLISE DA CADEIA PRODUTIVA DO
LEITE EM SANTA CATARINA:
ASPECTOS LOGÍSTICOS
Monica Maria Mendes Luna (UFSC)
[email protected]
Carlos Ernani Fries (UFSC)
[email protected]
Carolina Luisa dos Santos Vieira (UFSC)
[email protected]
Dmontier Pinheiro Aragao Junior (UFSC)
[email protected]
Fabiano Nogueira Cordeiro (UFSC)
[email protected]
O artigo apresenta uma análise da cadeia produtiva do leite no Estado
de Santa Catarina visando descrevê-la em função das características
das empresas que atuam em cada elo, dos processos produtivos e dos
fluxos dos produtos entre os várioss elos. A análise de algumas
grandes empresas e associações de micro e pequenas desta cadeia
também é conduzida, de forma a permitir uma melhor compreensão
dos processos no que se refere as atividades e principais entraves
logísticos no setor.
Palavras-chaves: cadeia produtiva do leite; logística; gestão da cadeia
de suprimentos
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Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
1.1
1. Introdução
As transformações econômicas têm provocado mudanças na estrutura das organizações. Em
um ambiente mais dinâmico, as empresas vêm adotando novas estratégias visando maior
eficiência nas suas operações e o aumento da competitividade. A valorização da cooperação
nas cadeias exige que as empresas compreendam as relações entre os vários elementos da
cadeia, bem como sua dinâmica.
A evolução do pensamento logístico e a adoção de uma abordagem de cadeias de suprimentos
ressalta a importância das relações entre os vários elos ou organizações que fazem parte de
uma cadeia produtiva. De acordo com Christopher (2005), "a gestão das relações nas direções
a jusante e a montante da cadeia para entregar valor superior ao cliente no menor custo
possível para todos que fazem parte da cadeia" passa a ser o objetivo principal. Na área da
logística, as relações de parceria, em especial entre micro e pequenas empresas (MPE),
permitem a obtenção de ganhos de escala nas atividades de transporte, de manutenção dos
estoques e um melhor planejamento da produção.
O acompanhamento das mudanças relativas à configuração das redes logísticas - ou seja,
quais são os fornecedores, clientes e parceiros logísticos, os volumes de trocas e localização
desses - interessa às empresas, pois permite que decisões e um planejamento adequado seja
feito à partir de uma visão correta da forma como evoluem estas interações, mas também
interessa aos governos - que devem definir políticas e programas em função da realidade do
mercado. Como afirma Abonyi e Von Slyke (2010), um dos desafio atuais dos governos
consiste em desenvolver o entendimento das mudanças no ambiente, dado que a adoção do
enfoque tradicional - no nível de empresa - para definir estratégias públicas não é mais
suficiente para melhorar a competitividade numa estrutura de cadeias globais.
É neste contexto que cresce a importância de estudos relacionados ao planejamento e
organização das cadeias produtivas. O presente artigo apresenta uma análise da cadeia
produtiva do leite no Estado de Santa Catarina visando descrevê-la em função das
características das empresas que atuam em cada elo, dos processos produtivos e dos fluxos
dos produtos entre os vários elos. A análise de algumas grandes empresas e associações de
micro e pequenas desta cadeia também é conduzida, de forma a permitir uma melhor
compreensão dos processos, em especial, no que se refere as atividades logísticas e principais
obstáculos para a competitividade da cadeia do leite no Estado.
2. Estrutura das cadeias produtivas: os conceitos de Análise de Filière e gestão da
cadeia de suprimentos
Quando se aborda o tema cadeia produtiva, conceitos da área da economia industrial, logística
e produção são contemplados. De acordo com Lauret (apud Zylbersztajn, 2000), a gênese do
conceito de cadeias é baseada nas relações intersetoriais presentes na literatura francesa desde
o clássico Tableau Economique, de Quesnais, em autores marxistas e, mais recentemente, na
teoria geral dos sistemas.
2
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A abordagem proposta por Morvan (apud Zylbersztajn, 2000) focaliza o processo produtivo
como sequência dependente de operações e tem caráter descritivo, analisando a dependência
dentro do sistema como resultado da estrutura de mercado ou forças externas, tais como:
ações governamentais ou estratégicas das corporações.
Estas abordagens tratam da estratégia, sendo uma mais voltada às ações governamentais e
outra às corporações, o que reflete a importância destas ferramentas no cenário atual, pelo
fato "de empresas cada vez mais valorizarem a cooperação vertical numa rede produtiva"
(Neves, 2008) e "governos buscarem novas formas de relacionamento com as empresas"
(Abonyi e Van Slyke, 2010).
Abordagens de canais de distribuição e a de cadeia de suprimentos são citadas por Neves
(2008) como alternativas para o planejamento e gestão estratégica das cadeias produtivas
visando a competitividade.
A logística tem como principal objeto de estudo os fluxos físicos e as informações a estes
associadas. A cadeia de suprimentos, por sua vez, é formada pelas organizações envolvidas
para que a empresa obtenha todos os insumos necessário para realizar sua produção além
daquelas que fazem parte dos canais de distribuição. Os fluxos passam a ser planejados e
gerenciados ao longo da cadeia nesta abordagem.
A visão da cadeia produtiva, ou de suprimentos, permite às organizações e ao governo a
melhor compreensão do ambiente onde estão inseridos e das mudanças que nele ocorrem.
3. A cadeia produtiva do leite em Santa Catarina
A indústria de laticínios tem grande importância para Santa Catarina: o Estado é o quinto
produtor nacional de leite, com uma produção de 2,3 bilhão de litros/ano (IBGE, 2011).
Grande parte dos produtores rurais produz leite como forma de complementar a renda mensal
de suas famílias, e um grande número de micro e pequenas empresas (MPEs) processam o
leite cru no Estado.
Santos et al. (2006) explicam que o estado de Santa Catarina é um importante produtor
nacional de alimentos sendo que a produção leiteira advém fundamentalmente da pequena
propriedade rural, explorada em regime familiar e formada, em grande parte, por sistemas de
produção oriundos da reconversão produtiva das atividades de suínos, de aves e de culturas
anuais, que migraram para a atividade leiteira. Este processo ocorreu devido a instabilidade da
renda agropecuária, decorrente da exigência de escala de produção, de aperfeiçoamento
tecnológico, das condições climáticas, da tendência de queda nos preços dos produtos
agrícolas e da perda de competitividade para outras cadeias agroindustriais (Santos et al.,
2006). Os autores ressaltam a necessidade de aprofundamento em análise da informação
quantitativa e qualitativa do comportamento desta cadeia de produção
4. Metodologia
O quadro teórico do presente trabalho foi construído com base na literatura sobre os temas
logística, cadeias produtivas, agronegócio e atividade leiteira.
3
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Com base no referencial teórico, procurou-se desenhar a cadeia a ser analisada, ou seja,
identificar as organizações que fazem parte desta. A representação de uma cadeia produtiva
não constitui tarefa simples e deve atender aos propósitos da análise. No estudo em questão, o
objetivo da definição da cadeia é, principalmente, a identificação dos principais produtos e
fluxos logísticos. Outro critério levado em consideração diz respeito a disponibilidade de
dados para analisar as origens, destinos e volumes dos fluxos logísticos. Além disso, tendo em
vista a importância da relação entre a produção de leite como resultado da migração de
atividades de produção de suínos e frangos, optou-se por incluir esta cadeia como parte de
uma cadeia mais ampla, como mostrado na Figura 1. Este desenho, utilizado em análise
temporal, pode permitir a identificação de mudanças na representatividade dos fluxos
logísticos e na economia do Estado.
De acordo com Neves (2008), o setor de insumos é o primeiro nível da cadeia do leite,
composto pelos seguintes agentes: produtos veterinários, melhoramento genético, rações e
concentrados, vacas e novilhas, volumoso, ordenha e refrigeração, sementes, adubos e
fertilizantes, além de outros. O segundo nível é formado pelo conjunto de pecuaristas, o
terceiro nível, pelo processamento de leite e os canais de distribuição formam o quarto e
quinto nível (Neves, 2008). Para Fischer et al. (2010), esta cadeia é constituída, de acordo
pelos fornecedores de insumos, produtores agrícolas, a indústria do leite (onde o leite cru
recebe algum tipo de processamento e são produzidos seus derivados), o comércio atacadista
e varejista e o consumidor final.
1
1
Criação
e Abate
de Perus
2
2
.
.
Produtos
de Perus
Ração
Perus
Milho
1
1
1
2
Farelo
de Soja
Soja
Campo
1
2
Ração
Frangos
2
.
1
1
.
Frangos
2
.
.
Ração
Suínos
2
Suínos
1
1
Ração
Ração
Reses
.
Produtos
de Reses
.
.
Reses
Abate
1
2
1
Leite cru
2
.
Criação de
animais
2
2
2
.
Produtos de
Aves e
Suínos
Leite cru
Leite fluido
1
2
Derivados
do leite
1
2
.
.
Leite
fluido
Mercado
.
Indústria de
Laticínios
Figura 1: Representação esquemática da cadeia produtiva de carne e leite de Santa Catarina
No presente artigo, serão caracterizados somente os elos identificados na Figura 2 mostrada a
seguir.
4
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1
1
2
2
Leite Cru
|
.
|
.
Produção
de Leite
Leite Cru
1
Leite Fluido
2
|
Leite Cru
.
Derivados
de Leite
Preparação
do Leite
Supermercados
Hipermercados
Minimercados
Mercearias
Armazéns
Padarias
Mercado
atacadista
e Laticínios
Campo
Mercado
1
2
|
.
Fabricação
de Laticínios
Industrialização
Figura 2. Cadeia Produtiva do leite
Partindo do desenho da cadeia e por se tratar de um trabalho com objetivo descritivo,
procurou-se organizar informações obtidas à partir de diversas fontes de dados abertos sobre o
setor (IBGE, RAIS/MTE, MDIC), com vistas a caracterizar a cadeia produtiva do leite no
estado em termos de quantidade produzida, volumes comercializados, número de empresas e
localização destas. Estes dados foram referenciados geograficamente, de forma a permitir uma
visão clara da concentração das empresas que atuam nos diferentes elos da cadeia e das
distâncias entre os vários elos das cadeias. Em seguida, procedeu-se a análise dos fluxos e
operações logísticas dos vários elos das cadeias, a qual foi feita com base em estudos sobre o
setor e coleta de dados em fontes diversas (páginas na Internet, material publicado pela
empresa, home-pages das empresas, além de entrevistas).
4.1. O Elo da Produção de leite
O primeiro elo desta cadeia corresponde às atividades econômicas desenvolvidas nas
propriedades rurais: a produção de leite. Em 2009 o Brasil produziu 29,1 bilhões de litros de
leite, com crescimento de 5,5% em relação ao ano anterior (IBGE, 2009). Segundo a Epagri, o
crescimento na produção de leite no país resulta tanto do aumento do número de vacas
ordenhadas – que cresceu 25,4% entre 2000 e 2009 – quanto do aumento da produtividade
média brasileira: 1.297 litros de leite/vaca/ano em 2009, 17,4% acima da produtividade obtida
em 2000. Com isso, a produção de leite neste período aumentou 47,2%, levando o Brasil a
ocupar a sétima posição no ranking mundial.
A produção leiteira no sul do Brasil tem apresentado crescimento constante nos últimos anos,
estando os três estados da região entre os cinco maiores produtores nacionais, como mostra a
Erro! Fonte de referência não encontrada..
Tabela 1: Produção de Leite no Brasil e principais estados produtores (2005-2009)
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Abrangência
geográfica
Brasil
2005
2006
2007
2008
2009
24.620,86
25.398,22
26.137,27
27.585,35
29.105,50
Minas Gerais
6.908,68
7.094,11
7.275,24
7.657,31
7.931,12
Rio Grande do Sul
2.467,63
2.625,13
2.943,68
3.314,57
3.400,18
Paraná
2.568,25
2.703,58
2.700,99
2.827,93
3.339,31
Goiás
2.648,60
2.613,62
2.638,57
2.873,54
3.003,18
Santa Catarina
1.555,62
1.709,81
1.865,57
2.125,86
2.237,80
São Paulo
1.744,18
1.744,01
1.627,42
1.588,94
1.583,88
890,19
905,75
965,8
952,41
1.182,02
Outros estados
5.837,71
6.002,21
6.120,00
6.244,79
Fonte: Elaborado pela Epagri com dados do IBGE
6.428,01
Bahia
Santa Catarina é responsável por 7,7% da produção nacional de leite (IBGE, 2012), que está
dispersa em um grande número de pequenas propriedades, com maior concentração na região
Oeste do estado. Entre 2005 e 2009, esta produção cresceu, em média, 9,5% ao ano – mais
que o dobro do crescimento médio da produção brasileira (Epagri, 2010). As microrregiões
mais produtivas em 2009 foram: Chapecó (26,8% da produção estadual), São Miguel do
Oeste (19%), Concórdia (10,7%), Xanxerê (9,8%), Tubarão (6,6%), Joaçaba (6,1%) e Rio do
Sul (5,4%), mostradas na Figura 3.
Figura 3: Produção de Leite em Santa Catarina.
4.1.1. Sistema Produtivo do Leite
O crescimento da produção de leite no Estado é justificado tanto pelo aumento do número de
cabeças de animais quanto pelo aumento da produtividade média por animal. Ocupando a
posição de 5º maior produtor do país, Santa Catarina obteve o maior crescimento do número
de vacas ordenhadas (61,9%) e da produção (123,1%), sendo hoje o estado com maior
produtividade por cabeça. Este aumento da produtividade se deve à especialização da
atividade na Região Sul e ao trabalho que vem sendo desenvolvido pela Epagri.
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Segundo Stock et al (2008), dois sistemas de produção de leite são observados no estado de
Santa Catarina: o tradicional e o tecnificado ou, como denomina Fischer et al. (2011), o nãoespecializado e o especializado. Ambos são típicos da agricultura familiar e facilmente
identificados na região do Oeste Catarinense.
O sistema tradicional presente nas pequenas propriedades familiares é o sistema produtivo
dominante. Neste, a ordenha é realizada duas vezes ao dia, de forma manual ou
mecanicamente. As bezerras são recriadas na própria propriedade para reposição das vacas do
plantel. O sistema faz uso de infraestrutura mínima de produção, com dependência de poucos
insumos externos à propriedade, como sal, vacinas e medicamentos básicos. A alimentação
animal é composta de capim, silagem, milho e pastagens anuais típicas de verão e inverno. Já
o sistema tecnificado tem como característica de produção uma melhor alimentação animal e
melhor potencial genético das vacas. No que se refere à nutrição, neste sistema é fornecida
uma alimentação volumosa de melhor qualidade e em maior quantidade aos animais.
De acordo com Stock et al. (2008), o sistema tradicional tem mais dificuldades em gerar renda
do que o sistema tecnificado. Acredita-se que a velocidade de tecnificação do sistema familiar
tradicional tem permitido o aumento da produtividade, possibilitando melhores preços de
venda. Iniciativas de entidades e cooperativas têm sido desenvolvidas juntamente com o poder
público visando este desenvolvimento do setor.
O crescimento da captação de leite acima do crescimento da produção evidencia a
especialização do produtor. Segundo relatório da Epagri (2011), a taxa média de crescimento
anual do volume de leite entregue à indústria inspecionada, no período de 2005 a 2010, foi
quase o triplo da taxa média nacional, de 5,2% ao ano. Em 2010, o volume entregue à
indústria foi 1,58 bilhões de litros, 13,7% maior que em 2009. Ainda, com base nas
estatísticas e no conhecimento factual, estima-se que em 2010 cerca de 325 milhões de litros
de leite produzidos em Santa Catarina foram processados em outros estados. Desconsiderando
o leite adquirido nos estados vizinhos, acredita-se que em torno de 80% do leite produzido no
Estado seja destinado à indústria inspecionada.
4.2. Elo da Indústria do Leite
A Indústria do Leite, segundo Fischer et al. (2011), é composta pelas usinas de
beneficiamento, entre as quais estão as fábricas de laticínios, as cooperativas e as mini-usinas.
O termo indústria é explicado pelo fato de que o leite cru ou in natura recebe algum tipo de
processamento inclusive com a produção de seus derivados. Em Santa Catarina, participam da
indústria do leite 333 empresas (Figura 4Erro! Fonte de referência não encontrada.), em
sua maioria MPEs, gerando 5201 postos de trabalho.
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Figura 4: Localização de empresas do setor de laticínios.
A indústria do leite inclui as empresas que realizam as atividades de preparação do leite e
fabricação de laticínios. O valor bruto produzido pelas empresas que fazem parte desta
indústria representou cerca de 1,8% do PIB estadual em 2009, de acordo com dados da
Secretaria da Fazenda de Estado (2011).
4.2.1. Preparação do leite
Após a chegada do leite à fábrica, e para conservar o valor nutritivo e evitar a degradação
microbiana, o leite é submetido a várias operações: refrigeração, termização, clarificação,
desnate e normalização do teor de gordura (leite gordo, meio-gordo, magro);
homogeneização; pasteurização e filtração. De acordo com IBGE (2012), as atividades
econômicas aqui consideradas são aquelas apresentadas no Erro! Fonte de referência não
encontrada..
Atividade
Fabricação de leite resfriado, filtrado, esterilizado, pasteurizado,
UHT, homogeneizado ou beneficiado de outro modo.
Envasamento de leite, associado ao beneficiamento.
Quadro 1: Atividades da Preparação do Leite
No Estado 42 MPEs se ocupam destas atividades, localizadas principalmente na região oeste,
conforme mostra a Erro! Fonte de referência não encontrada..
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Figura 5: Localização das empresas de preparação do leite
4.2.2. Fabricação de derivados do leite
Muitas empresas de laticínios da região produzem derivados do leite, entre os quais, queijos,
natas e manteigas, além de beneficiar o leite tipo C e B, UHT e pasteurizado. De acordo com
a pesquisa de Fischer et al. (2011) realizada no Oeste Catarinense, algumas empresas também
produzem iogurtes, fermentados e bebidas lácteas. Este mesmo levantamento revelou que, do
leite in natura produzido na região, não se processam muitos derivados de maior valor
agregado, como leite em pó, leite condensado, cremes pasteurizados, queijos de diversos
tipos, sobremesas, etc.
Os produtos fabricados nestas empresas estão listados no Quadro 2, conforme o CNAE 2.0
(IBGE, 2012).
Atividade
Creme de leite, manteiga, coalhada, iogurte, etc.
Bebidas à base de leite – leite em pó, dietético, concentrado,
maltado, aromatizado, etc.
Queijos, inclusive inacabados.
Farinhas e sobremesas lácteas.
Doce de leite.
Subprodutos do leite: caseína, lactose, soro e outros.
Quadro 2: Produtos derivados do leite
Apesar do pequeno número de empresas que realizam estas atividades como mostra Figura
Erro! Fonte de referência não encontrada. - somente 8 médias e 118 MPEs - observa-se
Erro! Fonte de referência não encontrada. uma concentração na região Oeste do Estado.
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Figura 6: Localização das empresas fabricantes de derivados do leite
Dentre estas empresas, quatro fabricantes de produtos derivados do leite são encontradas em
Santa Catarina. O Quadro 3 apresenta uma breve descrição destas empresas, incluindo
localização, capacidade de produção e principais produtos. O número de fornecedores de cada
mostra o poder das empresas à jusante dos produtores de leite e o principal problema logístico
da cadeia: o transporte do leite das pequenas propriedades até o local de beneficiamento e os
custos associados a esta atividade. Como afirma Santos et al. (2008):
as precárias condições das vias de acesso aos estabelecimentos rurais, assim como
da distância a ser percorrida entre o produtor e a indústria. De outro lado, a indústria
se exime do ônus do preço do frete cobrado pelo transporte do leite, em razão de ser
um serviço terceirizado e, portanto é de competência do “freteiro”. Este, por sua vez,
manifesta que o volume coletado é muito pequeno, justificando a necessidade de um
preço maior para compensar o deslocamento. Assim, há um mecanismo de
delegação de competência, enquanto o ônus fica por conta do produtor.
A presença de cooperativas mostra-se importante no Estado e alguns casos de sucesso
envolvem a indústria de laticínios: o Sistema Central de Cooperativas de Leite da região de
Canoinhas e a Coperoeste.
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Empresa
Localização
Fornecedores
Capacidade de
Produção
[litros leite/dia]
Laticínios Bela
Vista
Maravilha
3.000
6.000.000
Laticínios
Mondaí
Mondaí
1.800
-
Laticínios Tirol
Treze Tílias,
Chapecó e Linha
Caçador
-
1.000.000
Laticínios
Cedrense
São José do Cedro
-
550.000
Produtos
Leite longa vida, leite em pó, creme de leite, bebida
láctea UHT, leite condensado, composto lácteo,
queijos e manteigas.
Derivados do leite como queijo mussarela, queijo
prato, queijo colonial, queijo parmesão, queijo
provolone, requeijão, ricota, creme de leite e
manteiga, leite fluído a granel de uso industrial para a
fabricação de leite longa vida, leite concentrado e
leite em pó.
Iogurtes, bebidas lácteas, sobremesas, doce de leite,
leite envasado, queijos especiais, como queijo
Parmesão, Minas, Provolone, Colonial, Quark e
Ricota, leite em pó, leite longa vida, leite
pasteurizado, creme de leite e manteiga.
Leite Longa Vida (UHT), achocolatado, creme de
leite, nata em pote, manteiga, requeijão, queijos, e
linha light, composta pelos queijos Minas,
Mussarela e Prato, Ricota e Requeijão.
Quadro 3: Principais empresas de laticínios catarinenses
4.3. O Elo do Comércio
O terceiro elo da cadeia produtiva do leite é o mercado, locus da comercialização dos
produtos da indústria do leite. Neste elo são considerados o comércio atacadista e o varejista,
representado nesta cadeia pelos hipermercados, supermercados, minimercados, mercearias,
armazéns, padaria e laticínios.
A localização dos pontos de venda mostra que o principal mercado consumidor está no leste
do Estado, região que concentra a maior riqueza, conforme mostra a Figura 6. Assim, como
para as demais cadeias agroindustriais, a produção do Oeste do Estado deve ainda vencer
grandes distâncias para alcançar o principal mercado consumidor de Santa Catarina, bem
como o mercado externo, por meio dos principais portos do Estado.
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Figura 7. Localização das empresas varejistas
4.3.1. A produção estadual e o mercado externo
Apesar do crescimento da produção de leite em Santa Catarina e no Brasil, uma análise da
evolução da balança comercial estadual de produtos lácteos nos últimos 12 anos revela um
déficit crescente, fenômeno que vem acontecendo também em nível nacional.
Figura 8: Balança comercial de laticínios catarinense em US$ FOB (milhões)
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Figura 9: Balança comercial de laticínios catarinense em toneladas
As exportações brasileiras em 2010 caíram 11% em relação a 2009, ao mesmo tempo em que
cresceu o volume importado. Em 2011, as exportações se mantiveram em níveis muito baixos
e as importações, ao contrário, continuaram aumentando, conforme mostram as Figura 9.
Como resultado, a balança comercial brasileira do setor acumulou um déficit superior a 226
milhões de dólares só no primeiro semestre. Tal situação se deve à perda de competitividade
do produto brasileiro no mercado internacional, provocada em grande parte pela valorização
do real que reduziu a exportação e favoreceu a importação. Em 2012, o aumento do déficit
parece continuar. Comparando janeiro de 2012 com janeiro de 2011, verifica-se que a
importação de produtos lácteos foi 39% maior, com 5.643 toneladas importadas a mais; em
termos monetários, o aumento foi de 47%.
A Argentina, embora com um volume pouco expressivo no mercado mundial, tem o Brasil
como principal destino dos produtos lácteos. Foram importadas desse país, em janeiro de
2012, 5.182 toneladas do produto, um aumento de 135% comparando com dezembro de 2011.
Além disso, as exportações de leite do Uruguai vêm crescendo ano a ano. O país exportou, em
2011 U$ 650 milhões em produtos lácteos, sendo o Brasil o principal destino dos produtos
uruguaios, absorvendo 29% dos produtos. No Estado, as importações crescem
exponencialmente e a proximidade dos países do Mercosul torna a situação mais crítica. Os
produtos considerados nesta análise são descritos no Quadro 4.
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Atividade
Leite e creme de leite, não concentrados nem adicionados de
açúcar ou de outros edulcorantes.
Leite e creme de leite, concentrados ou adicionados de açúcar ou
de outros edulcorantes.
Leitelho, leite e creme de leite coalhados, iogurte, quefir e outros
leites e cremes de leite fermentados ou acidificados, mesmo
concentrados ou adicionados de açúcar ou de outros
edulcorantes, ou aromatizados ou adicionados de frutas ou de
cacau.
Soro de leite, mesmo concentrado ou adicionado de açúcar ou de
outros edulcorantes; produtos constituídos por componentes
naturais do leite, mesmo adicionados de açúcar ou de outros
edulcorantes, não especificados anteriormente.
Manteiga e outras matérias gordas provenientes do leite; pastas de
espalhar de produtos provenientes do leite.
Queijos e requeijão.
Quadro 4: Produtos lácteos
4.4. A Cadeia Produtiva do Leite: Aspectos Logísticos
Dificuldades referentes à atividades logísticas como armazenamento, distribuição e
comercialização de produtos derivados do leite podem ser observados no Estado. Um dos
principais desafios desta cadeia diz respeito às condições de transporte e armazenagem do
leite cru coletado nas propriedades e levado até as unidades de preparação e beneficiamento.
Em termos de volume transportado, são mais de 2,5 bilhões de litros de leite cru/ano. Este
produto pode ser destinado diretamente ao consumo na própria fazenda, ou será transportado
aos elos à jusante: produção de leite industrializado ou a fabricação de laticínios. A proporção
do leite destinada à indústria é de cerca de 68%, sendo 24% direcionado a fabricação de leite
fluído (pasteurizado, UHT, etc.) e os outros 44% à fabricação de outros derivados (queijo,
creme de leite, manteiga, coalhada, iogurte, leite em pó, etc). Dos 32% restantes, 12% não
chega a sair das propriedades produtoras e 20% é consumido sem tratamento industrial.
Sendo o leite cru um produto altamente perecível, esta primeira etapa de transporte e
armazenagem tem sido preocupação constante, uma vez que pode comprometer a qualidade
do produto final. Tendo isto em vista, foi sancionada em setembro de 2002 a Instrução
Normativa N° 51, que aprovou os Regulamentos Técnicos de Produção, Identidade e
Qualidade do Leite tipo A, do Leite tipo B, do Leite tipo C, do Leite Pasteurizado e seu
transporte a Granel. Aspectos relacionados às condições de higiene dos equipamentos e
utensílios, e higiene pessoal durante o transporte de leite também estão previstos na legislação
brasileira.
As vantagens do transporte a granel podem ser vistas em toda a cadeia. O produtor pode
acompanhar na fazenda a avaliação da qualidade do leite, na certeza que será mantida até a
recepção na unidade de preparação e beneficiamento. Para as indústrias, esse transporte tem
menores custos, diminui a perda de matéria-prima, atende as exigências técnicas e de
segurança alimentar e aumenta a qualidade do produto final. Por outro lado, a má condição
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das vias de acesso às propriedades rurais elevam os custos dos fluxos logísticos entre estes
dois elos da cadeia (Teixeira e Ribeiro, 2000).
Outro aspecto que merece destaque diz respeito ao valor das embalagens assépticas
cartonadas, utilizadas para conservar o leite UHT: diante do monopólio do fornecedor de
embalagens, os custos da caixa de leite ficam em torno de 35% a 40% do valor final do
produto, criando barreiras à comercialização e a dependência tecnológica. Há a necessidade
de desenvolvimento de novos tipos de embalagens que atendam aos requisitos da conservação
do leite e dos derivados e as preferências dos consumidores, e que ao mesmo tempo garantam
a diminuição do preço final do leite ao consumidor e do custo de embalagens para a indústria.
Ou a formação de centrais de compras e embalagem por parte das MPE que atuam neste setor.
Na etapa de comercialização de leite e seus derivados, as indústrias enfrentam dificuldades
também com a forma de conservação destes produtos no varejo. Os problemas começam na
distribuição, com estradas em más condições e caminhões com sistemas de refrigeração
deficientes. As condições da infraestrutura e as distâncias entre as instalações de
beneficiamento do leite e o principal mercado consumidor também contribui para mais altos
custos logísticos.
Na análise da balança comercial, observa-se ainda que produtos de maior valor agregado ou
que necessitam de maior tempo de processamento e/ou tecnologia diferenciada de
processamento como, por exemplo, leite em pó e certos tipos de queijo são os produtos mais
importados - de outros estados ou, principalmente, de países do Mercosul.
5. Considerações Finais
Neste estudo foi realizada uma análise descritiva da cadeia produtiva do leite no Estado de
Santa Catarina, buscando identificar aspectos logísticos relevantes por meio de uma
abordagem sistêmica - visão de cadeia de suprimentos. Numa primeira etapa, o desenho da
cadeia foi desenvolvido tanto de acordo com as propostas de autores da área quanto de forma
a permitir a posterior quantificação dos fluxos logísticos entre as várias organizações
pertencentes a esta cadeia, tendo em vista a existência de dados de fontes abertas.
Também foram identificadas e localizadas empresas que atuam nesta cadeia e alguns dados de
produção de médias empresas e associações de micro e pequenas desta cadeia de forma a
permitir uma melhor compreensão dos processos logísticos.
Embora de forma exploratória os principais obstáculos para a competitividade da cadeia do
leite no Estado são identificados, dentre os quais pode-se destacar o transporte e
armazenagem do produto in natura. A eficiência dessa etapa pode gerar resultados positivos
para toda a cadeia, sendo fundamental para a qualidade no produto final.
As condições das estradas de acesso às regiões produtoras constituem o principal entrave a
otimização e melhoria da roteirização do transporte do leite in natura, impedindo que as
empresas e cooperativas diminuam seus custos. Além disso, a distância entre as fábricas e o
principal mercado consumidor eleva os custos de distribuição do produto ao mercado. Esta
situação é agravada pela proximidade deste mercado aos portos do Estado e ao crescimento da
participação dos produtos importados no consumo nacional.
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Neste contexto, as cooperativas parecem constituir uma forma de organização que tem
permitido a obtenção de resultados positivos para os produtores, ao facilitar o acesso a
assistência técnica na propriedade, fornecimento de insumos, recebimento, classificação,
armazenagem, beneficiamento, comercialização e industrialização de produtos agropecuários.
Percebe-se que estas iniciativas agregam valor ao produto e aumentam a competitividade do
pequeno produtor, gerando maior renda para as famílias rurais.
A indústria de laticínios vem se tornando cada vez importante para o Estado e, para as
empresas que atuam neste setor e para o Governo, a caracterização da cadeia produtiva
permite a melhor compreensão do ambiente e permite a tomada de decisão de natureza
estratégica com maior clareza.
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