LIBERDADE À palavra liberdade associa-se, com indesejada frequência, um número incontável de definições, conceitos e preconceitos, acepções tortuosas e excessivamente amplas que a privam, sem que nos apercebamos, da sua verdadeira significação. Na sua essência, liberdade é tão-somente a condição que faz vibrar em nós o milagre da existência. Se pudesse tocar-se, a liberdade seria uma massa amorfa e escorregadia, imprevisível e intermitente, avessa ao cativeiro das definições dogmáticas e intemporais. No fim de contas, terá, forçosamente, de assumir-se como um ideal mutável: afinal, nunca se chega verdadeiramente a atingir um estado de plena e intocável liberdade; pode, antes, conseguir-se-lhe uma aproximação quase ideal. É confortável viver inebriado pela ardilosa ilusão da liberdade. Será legítimo, porém, assumir a sua presença, enquanto continuarmos a ser flagrantemente coagidos pelos meios de comunicação de massas, enquanto a sociedade da informação perpetuar a sua megalómana tarefa de configurar mentalidades, destituindo-as da autonomia e sentido crítico que deveria presidir-lhes? A liberdade constitui-se, inevitavelmente, no seio de um contexto – seja ele histórico, social, político, económico ou definido por um semnúmero de outras variáveis. Assim, proclamar “liberdade” é sempre uma relativização, uma referência específica a um conceito que, embora se queira universal, é inevitavelmente uma construção que se edifica em consonância com o eu, os outros e aquilo que representamos juntos. A liberdade está, ela própria, presa ao significado que nos apraz atribuir-lhe. A liberdade é, efectivamente, “a combinação entre os direitos e os deveres, sem que cada um invada o espaço que, por direito, pertence aos outros”. É dessa frágil e preciosa simbiose que resulta a maravilhosa possibilidade de poder existir e, mais do que isso, de poder expressar ordeiramente essa existência. Ser livre exige, acima de qualquer outro, um aguçado sentido de responsabilidade – na mais lata acepção da palavra. A liberdade de poder expressar opiniões não deve nunca dissociar-se do dever de não extravasar os limites do razoável; a liberdade de usufruir de bens comuns não pode apartar-se da necessidade de zelar pela sua integridade. Em suma, a consciência de ser livre não deve deixar de amedrontar-se pelo receio de não o ser. Eterno conflito entre o que é e o que deve ser, perpétua conquista de um espaço que, sendo nosso, não o é; sede de partir e desejo de ficar: ei-lo, soberbo e impetuoso – o paradoxo da liberdade. Mariana Oliveira 12ºA – nº22