Interpelação do Deputado Mendes Bota ao Deputado Miguel Laranjeiro (PS), a propósito de uma declaração política deste Assembleia da República, 27 de Fevereiro de 2014 Sr. Presidente, Sr. Deputado Miguel Laranjeiro, James Clerk Maxwell inventou a fotografia a cores em 1861, a RTP transmite as suas emissões regulares a cores desde o dia 7 de março de 1980, mas o Sr. Deputado Miguel Laranjeiro insiste em ver o País a preto e branco. Sei que já se vão vendo alguns raios de sol de esperança, sei que já se vai vendo uma luz ao fundo do túnel, mas, Sr. Deputado Miguel Laranjeiro, não vale a pena «meter os óculos escuros» dessa maneira, vamos dar tempo ao tempo. O que aconteceu aqui foi algo inédito: um Deputado de um grupo parlamentar que teve jornadas parlamentares subiu à tribuna e falou de tudo menos do que se passou nessas jornadas parlamentares, e não era isso que se esperaria. O Sr. Deputado Miguel Laranjeiro fez muitas perguntas, fez uma narrativa de um catastrofismo militante, mas não deu nenhuma resposta, não apontou soluções para o futuro! Digo-lhe mais: nós também temos a perceção do que foram aquelas jornadas e por isso compreendemos que as quisesse pôr debaixo do tapete. É que o grande «sol» que emergiu daquelas jornadas não foi o líder do partido, não foi o líder parlamentar, foi o Dr. Silva Lopes, o vosso convidado especial. E, a não ser que seja por algum masoquismo partidário, é pouco compreensível que tenha sido convidado alguém que é credível, que já foi Ministro das Finanças e Governador do Banco de Portugal e que tenha feito um arraso das políticas passadas e presentes do Partido Socialista. Gostaria que me dissesse se se identifica ou não com o que o Dr. Silva Lopes disse, nas vossas jornadas parlamentares, no sentido de que a mutualização da dívida externa de Portugal só iria piorar as coisas. Gostaria que me dissesse se se revê ou não na afirmação do Dr. Silva Lopes de que a baixa dos impostos seria um ato de irresponsabilidade, porque 1 milhão de impostos a menos é 1 milhão de despesa a menos. Gostaria que me dissesse se se revê na condenação que o Dr. Silva Lopes fez do acordo que o Partido Socialista deu para a baixa do IRC, dizendo que estava extremamente desiludido e que se tratava de uma transferência de rendimentos para os detentores das melhores ações do mercado acionista. Gostaria que me dissesse se se revê na fotografia que o Dr. Silva Lopes fez do sistema de pensões em Portugal e da necessidade de haver uma reforma desse sistema. Gostaria que me dissesse se se revê naquilo que ele, com grande suspeição, vê na atuação de grupos de interesses económicos à volta mesmo de um futuro e hipotético governo do Partido Socialista. Gostaria também que me dissesse se se revê na crítica feroz que ele fez aos investimentos dos governos do Partido Socialista, tendo terminado a dizer, e cito o Dr. Silva Lopes, que «o estádio de Leiria devia ser considerado como um monumento à estupidez nacional». E eu acrescentaria que talvez também fizesse falta haver um memorial ao aeroporto da Ota, com recordação da célebre expressão «Jamais!».