Sônia Gutierrez Poty Lazzarotto e Dalton Trevisan: entretextos Sônia Gutierrez (Mestranda) Curso de História e Pedagogia - Universidade Tuiuti do Paraná Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 23, FCHL A 03, p. 43-54, Curitiba, out. 2001 43 44 Poty L azarotto e Dalton Trevisan: entrete xtos Resumo Esse artigo contempla questões como: o livro ilustrado, a obra gráfica de Poty Lazzarotto, a parceria estabelecida a partir da revista Joaquim, em 1946 entre o artista e o escritor Dalton Trevisan, e a natureza da relação dialógica estabelecida entre os textos do autor-escritor e a produção imagética do artista-ilustrador. Também está presente o desafio de compreender melhor o olhar contemporâneo, no qual o passado, o presente e o futuro coexistem, dotando a leitura de múltiplas e enriquecedoras possibilidades Palavra-chave: livro, ilustração, literatura, intertextualidade, arte, multiplicidade, poéticas, dialógico. Abstract In this article several subjects are analyzed such as: ilustrated books, the graphical works developed by Poty Lazarotto, the partnership between the artist and the writer Dalton Trevisan in the joint work to Joaquim magazine in 1946, and also the nature of the dialogic relationship bewteen the texts and image-works, the first made by the author-writer and the last by the artist-ilustrator. Furthermore, the article presents the challenge of understanding the “contemporary view” in which past, present and future coexist, providing multiple and enriching possibilities to the reading process. Key words: book, illustration, literature, intertextuality, art, multiplicity, poetics, dialogic. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 23, FCHL A 03, p. 43-54, Curitiba, out. 2001 Sônia Gutierrez 45 que possibilitam uma experiência visual, táctil e até mesmo olfativa. O bibliógrafo José Mindlin, em entrevista recente, explica a atração multiforme exercida pelo livro “...há a atração pelo livro como objeto e também como objeto de arte, em que entra a qualidade do projeto gráfico, a ilustração, a diagramação, o papel, a tipografia, a encadernação”. É no começo do século XX que a moderna concepção de ilustração ganha reforço, apresentando criações assinadas, resultado do trabalho conjunto do artista, do escritor e do diagramador. Já com tiragem que o torna acessível não só aos bibliófilos, à elite culta, mas também aos não iniciados, o livro moderno Vinhetas para a 17ª edição de Sagarana, 1974. J. Guimarães Rosa, José Olympio Editora Acho que o processo criador de um pintor e do escritor são da mesma fonte. O texto deve se exprimir através de imagens e as imagens são feitas de luz, cores, figuras, perspectivas, volumes, sensações. Clarice Lispector Introdução Uma pesquisa realizada nos anos de 1997- 1999, inicialmente sobre a obra gráfica de Poty Lazarotto, apontava naturalmente para uma questão fascinante: a intertextualidade entre a obra de Poty e a do escritor Dalton Trevisan, uma parceria de quase meio século. A pesquisa, intitulada “Poty e Dalton Trevisan”,1 já apontava para a necessidade de investigar a relação dialógica (Bakhtin) estabelecida entre os textos do autor-escritor e a produção imagética do artista-ilustrador. Essa relação dialógica é o motivo da investigação na dissertação “Poty Lazarotto e Dalton Trevisan: Entretextos” - 2000-2001, no mestrado em Comunicação e Linguagens,2 e em fase de elaboração. O livro ilustrado* O livro ilustrado é, além de símbolo cultural com valor próprio, um objeto cultural com valores próprios 1 GUTIERREZ, Sônia (1999). Poty e Dalton Trevisan. Curitiba: 130 pag. Monografia de Especialização Escola de Música e Belas Artes do Paraná. 2 O referido mestrado é oferecido pela Universidade Tuiuti do Paraná * Todas as imagens deste trabalho são de autoria de Poty Lazzarotto pesquisadas em livros publicados por várias editoras. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 23, FCHL A 03, p. 43-54, Curitiba, out. 2001 46 Poty L azarotto e Dalton Trevisan: entrete xtos possibilita o seu consumo como objeto de arte, capaz de modificar também o gosto estético dos leitores, fruidores de duas linguagens. O vocábulo ilustrar sugere um conceito e predispõe a idéia de que a figura tem definida sua função, ou seja, a de “complementar a linguagem escrita. No entanto, o relacionamento entre ambas é de fato mais amplo e mais complexo e uma interação entre a palavra escrita e a imagem visual é, antes de mais nada, circunstancial, podendo atuar como expressão autônoma e suficiente, ou se tornarem dependentes e indispensáveis uma a outra.” (Soares, 1985, p. 75) A metáfora de Matisse - autor de uma centena de litografias para os poemas de Rossard e para o Ulisses de James Joyce, - indica o artista-ilustrador como “segundo violino” (Fabris, 1998, p. 15) isto é, aquele que toca paralelamente ao primeiro, e não o que responde simplesmente ao primeiro, diz muito quanto as possibilidades de interação entre as linguagens. As ilustrações do inglês Audrey Beardsley para Salomé de Oscar Wilde por exemplo foram de tal maneira “integradas” à obra com as sucessivas edições que hoje uma edição do livro de Wilde sem as imagens de Beardsley seria impensável. O mesmo poderia se dizer das obras de Guimarães Rosa, da Editora José Olympio,3 desde as suas primeiras edições ilustradas por Poty, e simplesmente substituídas pela editora Nova Fronteira, por imagens banais, ou como diria Calvino “... imagens que em grande parte são destituídas da necessidade interna que deveria caracterizar toda imagem, como forma e como significado, como força de impor-se à atenção, como riqueza de significados possíveis.” (1996, p. 15). O mercado editorial brasileiro da década de 1920 conta com ilustradores como Paim e Ferrignac e artistas como Di Cavalcanti, Anita Malfatti e Tarsila do Amaral, que produzem capas e ilustrações para livros e revistas independentemente de vínculos e preferências pessoais. Nas décadas de 1950 -60, sob o comando do editor Enio Silveira, que assume a direção da Editora Civilização Brasileira em 1951, acontece a retomada do diálogo criativo entre a produção literária e a plástica da década de 20, com inovações no tratamento gráfico das capas, na diagramação do texto e mesmo na divulgação publicitária, atividade inaugurada no Brasil por Monteiro Lobato. Silveira edita obras de Dostoievski; Humilhados e Ofendidos, ilustrada com xilogravuras de Goeldi, Crime e Castigo com dese- 3 As obras de Guimarães Rosa tiveram ilustrações de Poty: Sagarana. Capa da 4ª edição,1956 / 1ª edição ilustrada, 1958 / 9ª edição com ilustrações refeitas, 1967 / Grande Sertão Veredas / Corpo de Baile, 1964. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 23, FCHL A 03, p. 43-54, Curitiba, out. 2001 Sônia Gutierrez Capa do livro de Dalton Trevisan Novela Nada Exemplares. Ed. José Olympio 1ª ed., 1946. nhos de Santa Rosa(53), e Os Irmãos Karamazovi, com ilustrações de Axel de Lesboschek (54), as obras de Cervantes, ilustradas por Gustave Doré, e O Ateneu de Raul Pompéia, ilustrado por Clóvis Graciano. Em 1959, quando do lançamento de Novelas nada Exemplares, do paranaense Dalton Trevisan, pela editora José Olympio, Poty é já um dos ilustradores mais requisitados pelos próprios escritores. Nesta década, até meados de 64, favorecidas por uma tecnologia mais eficiente, e cotando o trabalho de ilustração como um enriquecimento para suas publicações, as editoras intensificam a participação dos artistas nas edições. A partir de 1958 é que se dará mundialmente uma revolução, tornando o livro “uma fascinante novidade e um dos elementos mais corriqueiros e indispensáveis de nossa existência.” (Escarpit, 1926. p 26). A afirmação de Escarpit, em que pesem as novas tecnologias e mídias para a comunicação e divulgação do conhecimento, continua procedente e válida no início do terceiro milênio. Poty: artista-ilustrador Poty não prescindirá da leitura, da pesquisa e da reflexão sobre a obra do escritor a ser ilustrado, com a intimidade do amante das letras que era, e o necessário distanciamento, para dar à luz imagens criativas e comunicativas, que possibilitem várias leituras do texto. As gravuras iniciais, em ponta seca, são de 1942, e em todas, a representação é de interiores, os personagens são homens do povo, flagrados em seu momento 4 A revista Joaquim nº 2, de junho de 1946 reproduz uma gravura de Kollowitz, provavelmente enviada por Poty. Em 1946, a exposição de Arte Degenerada do III Reich é apresentada no Rio de Janeiro. A artista participa da exposição com gravuras em várias técnicas. A força e o apelo humanista da temática de Kaeth, produzem uma confessa e decisiva influência em vários artistas brasileiros. Entre eles, Poty e Lívio Abramo. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 23, FCHL A 03, p. 43-54, Curitiba, out. 2001 47 48 1948 Poty L azarotto e Dalton Trevisan: entrete xtos dução posterior. É recorrente na obra de Poty o uso da mesma imagem em vários procedimentos em diversas dimensões e em contextos diferentes, tal como Dalton 1994 Trevisan faz em relação aos seus textos, que vão e voltam ao longo de sua obra, numa bricolage constante. A história “A Visita do Velho Senhor’, criada por Poty na década de sessenta, e que é uma narrativa de imagens autônomas e suficientes a ponto de dispensar o texto verbal,5 é um bom exemplo dessa bricolagem na sua obra. A gravura de 1948, incluída na série Mangue, gera O Casal, de 1958 e a ilustração de 1994. Obser1958 ve-se que a narrativa é tão potyniana quanto daltoniana. Poty monta traço a traço sua memória afetiva, povoa sua solidão com os livros que leu, com personas, personagens reencarnados em nankim sobre papel, na 1948 “província” contemporânea, reconstruindo quadro a quadro sua cidade com seus becos e vielas, puxando o Montagem da autora com gravuras e desenhos de Poty publicados fio da memória. nas seguintes obras: SILVA, Orlando. Poty, o artista gráfico. FundaDesenha traço a traço um mapa da cidade ficcional, ção Cultural de Curitiba, 1994; ROSA, Guimarães. Sagarana. Ed. José Olympio, 1948; XAVIER, Valêncio e LAZZAROTTO, Poty. Trilhos, e (re)-cria uma população: heróis, bandidos, mascates, trilhas e traços. Fundação Cultural de Curitiba, 1994. marginais, trabalhadores, prostitutas, bêbados, imigrantes. de trabalho, lazer ou intimidade, grotescos e belos como É a população na qual sua poética e a de Dalton estão nas gravuras de Goya, Rembrandt e Kaethe Kollowitz.4 centradas, já que há em ambos o mesmo acolhimento O desenho magistral e o traço desenvolto e preciso às criaturas originárias da periferia - representantes do desenvolvidos no metal serão a base de toda sua pro- cotidiano banal, - dando-lhes visibilidade nas suas obras, 5 Em 1976, Ozuldo Candeias realiza o curta metragem com a história A visita do Velho Senhor de Poty e em 1981, numa edição da Nova Fronteira O Mulo de Darcy Ribeiro, que a apresenta: Iluminam o Mulo, as litografias de Poty da série A visita do velho Senhor. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 23, FCHL A 03, p. 43-54, Curitiba, out. 2001 Sônia Gutierrez O traço de união mais característico entre o artista e o escritor é de ordem moral: a solidão. Além da proximidade temática, um mesmo universo de experiências culturais e afetivas, que é o ponto mais relevante, e os faz cúmplices na criação de uma cidade. As suas obras apresentam muitos procedimentos comuns, ao longo dos anos de produção, como a narrativa, a colagem e auto-referencialidade, Montagem da autora com desenhos de Poty publicados nas obras: que as inscreve num projeto mais complexo. TREVISAN, Dalton. Em Busca de Curitiba. Ed. Record, 1999. XAVIER, Valêncio. Poty, trilhos, trilhas e traços. Fundação Cultural de A busca permanente de uma “poética topográCuritiba, 1994. fica”, em Dalton é a mesma do artista que palmilha iniciadas nos anos 40 e responsáveis pela transforma- literalmente a cidade real a rastrear pistas da cidade ção do perfil cultural da “província” de Curitiba. A re- que tem na memória e na imaginação. No entanto vista Joaquim, reeditada em edição fac-simile, atesta a em Poty, a busca é mais centrada na questão exisqualidade do autor e do artista e a intencional e constan- tencial. Em Dalton, a garimpagem da cidade perdite insistência na parceria texto e imagem ao longo das da se dá junto a um discurso demolidor da fachada da cidade “modernosa”. Dalton e Poty jamais mu21 edições da revista.6 dam de métier, seu desejo é a escritura. A fruição que o leitor obtém no texto de Dalton é Parceria: Poty e Dalton potencializado pela presença do desenho de Poty. É certo que a vida não explica a obra, porém certo é tam- Senão vejamos: O livro Ah, é?, lançado em 1994, é reputado bém que se comunicam. A verdade é que esta obra a fazer pela crítica literária “como um momento exigia esta vida. Merleau-Ponty privilegiadíssimo de coroação de toda sua obra e 6 A edição fac-símile é editada pela Imprensa Oficial do Estado do Paraná. Curitiba, 2000. Tiragem de 1000 exemplares. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 23, FCHL A 03, p. 43-54, Curitiba, out. 2001 49 50 Poty L azarotto e Dalton Trevisan: entrete xtos do alto grau de síntese a que chegou a ficção brasileira deste século” (Sanches, 1998). Nesta obra, o ilustrador participa da “vingança” do escritor aos críticos de sua obra, e restabele a parceria na adesão ao lugar comum, na interpretação equivalente, na mesma mitologia, na estética kitsch. O artista - com imagens extremamente simplificadas, desenhos quase anedóticos e o traço fino, irregular e titubeante é a tradução plástica de Ah, é? Tanto o artista quanto o escritor apropriam-se de suas próprias criações, num recorte da realidade que fragmenta os textos e as imagens recompondo-os em colagens, bricoleurs numa mesma obra. Os livros, Ah, é? e Mistérios de Curitiba, trazem em si as forças catalizadoras da obra do escritor e do ilustrador. Ilustração do livro de Dalton Trevisan Ah, é? Ed. Record, 1994. Era um homem trôpego, calça branca, sem camisa, a faca enterrada no peito e sangrando. - Ai, o que voce fez? - É segredo meu. Não tem nada com isso. Ilustração do livro de Dalton Trevisan Mistérios de Curitiba. Ed. Record, 1994. Se em Mistérios de Curitiba7 há menos ludicidade no jogo, há, no entanto, a presença da ironia potyniana, revelada em muitos outros trabalhos. Uma das melhores ilustrações desse livro, no qual Poty representa os enforcados do texto daltoniano - “os ipês na Praça Tiradentes sacolejarão os enforcados como roupa secando no arame”, (Trevisan, 1996) - não nos ipês, mas no pinheiro, a “taça de luz”, da poesia simbolista paranaense, um ícone sempre presente em sua obra. A Curitiba de Poty e Dalton A sensação é de ludicidade, em que pese o escatológico, na passagem de uma página a outra, num jogo que se estabelece entre o leitor, fruidor da obra, e os textos verbal e visual. A memória é redundante: repete os símbolos para que a cidade comece a existir. Italo Calvino 7 Mistérios de Curitiba. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1.ed. 1978, 2.ed. ver. 1970, 3.ed. ver. 1974, 4.ed. ver. Editora Record. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 23, FCHL A 03, p. 43-54, Curitiba, out. 2001 Sônia Gutierrez artista e a reconstrução literária dessa cidade real/ ficcional e seus personagens irão apresentar pontos de identificação, de complementaridade e contradição e mesmo certo antagonismo na re-criação da cidade ao longo do tempo. O que parece certo é que esse constante e rico diálogo será o responsável pelos pilares de uma Curitiba que nasceu e fez-se cidade, espessa, quase real, em suas majestosas poéticas. A cidade ambígua, uma montagem onde convivem a antiga, moderna e contemporânea, remete a cidade representada por Mantegna.9 Além de Poty e Dalton fazerem a leitura e releitura, no interior da própria obra, ambos agentes paródicos, mantêm o olhar atento e constante para a produção do outro, um diálogo no tempo e espaço, alternadamente emissor e receptor, gerando, conscientemente ou não, obras impregnadas desse diálogo. Capa do livro de Dalton Trevisan Em Busca de Curitiba. Ed. Record, Aliás, quanto ao escritor, o crítico, quando se refere 1999. ao livro “234”, afirma “tudo é apresentado dentro O diálogo que tanto Poty8 como Dalton mantêm de um processo interativo que, por estar em movicom a Curitiba dos anos 30/40 se estabelece também mento e por não trabalhar com a perspectiva de finalização, permanece em estado de suspensão.” entre seus textos sobre a cidade. A equalização icônica de Curitiba realizada pelo (Sanches, 1998, p.30) 8 Entre outras obras, Curitiba de Nós, e Trilhos, Trilhas e Traços, estabelece uma ponte no tempo e no espaço, é uma autobiografia em imagens, uma reconstrução da memória afetiva e cultural de uma época, para o qual o texto de Valêncio Xavier vai abrindo caminho. Um caso à parte é o livro Paraná Vivo, de Temístocles Linhares. A primeira edição com 35 ilustrações de 1953, e a segunda de 1985, para a qual Poty, relendo suas próprias imagens, as refaz trinta e dois anos depois. 9 MANTEGNA, Andrea. Pintura. São Sebastião: Itália. 1467. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 23, FCHL A 03, p. 43-54, Curitiba, out. 2001 51 52 Poty L azarotto e Dalton Trevisan: entrete xtos O autor, considerado quase sempre pela crítica um ficcionista monológico, é apontado por Schnaiderman (1997),10 como um autor no qual a multiplicidade de vozes se faz presente mesmo em suas primeiras obras, nas quais predomina a voz do narrador. Aponta ainda a presença cada vez maior de outras obras literárias no texto daltoniano numa rica intertextualidade, que se dá igualmente no constante e intenso diálogo com o texto não verbal de Poty Lazzarotto, e que acontece independentemente da presença da ilustração de Poty em determinado livro publicado. As ilustrações de Poty para outras obras que fazem referência à cidade como o livro do cronista curitibano Nereu Teixeira e outros textos e eventos e mesmo as imagens redimensionadas nos/para os murais coloridos, contam com desenvoltura, histórias da mesma cidade, às vezes com sutileza e não pouca ironia, corroboram a posição radical e constante de Dalton quanto a Curitiba do discurso oficial, a cidade “narcisista e enjoadinha”, pela qual Poty circulará, transgredindo a posição do escritor, mas deixando inscrita na cidade seu projeto original de transformar sua obra em grandes livros abertos nas ruas. E o fato é que inevitavelmente a leitura dinâmica do espaço urbano mais complexo como percepção, que vai se dando ao longo do tempo, acaba por minar a intenção de uma leitura linear, embutida nos murais comemorativos, diluído na própria dinâmica do dia a dia, o discurso oficial. 10 SCHNAIDERMAN, Boris. BRAIT, Beth. (org.). Bakhtin 40 graus uma experiência brasileira. In: Bakhtin: Dialogismo e construção do sentido. São Paulo: Unicamp, 1997. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 23, FCHL A 03, p. 43-54, Curitiba, out. 2001 Sônia Gutierrez Referências bibliográficas BAKHTIN, M. (1993). Problemas da poética de Dostoiévski. São Paulo: Martins Fontes. BAKHTIN, M. (1997). Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes. BARROS, D. L. P. (1994). Dialogismo, polifonia, intertextualidade em Bakhtin. São Paulo: Editora. BARTHES, R. (1996). O prazer do texto. São Paulo: Perspectiva. BENJAMIN A.; OSBORNE, P. (org.) (1997). BENJAMIN, W. A filosofia de Walter Benjamin. São Paulo: Jorge Zahar. 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