2 Editorial Segundo mandato não pode se tornar o terceiro turno das eleições Em janeiro de 2015, Dilma Rousseff vai iniciar o seu segundo mandato na Presidência da República. Reeleita no segundo turno das eleições com 51,64% dos votos válidos contra 48,36% de Aécio Neves, ela terá pelos próximos quatros anos o desafio de construir uma base de sustentação política e social para manter a governabilidade e evitar retrocessos sociais, diante de um Congresso mais conservador e de uma mídia que se comporta como partido político de oposição. Seu segundo mandato não pode se tornar o terceiro turno de uma das eleições mais polarizadas dos últimos tempos. De acordo com o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), o número de parlamentares ligados a segmentos mais conservadores – como as bancadas da segurança, religiosa e ruralista – apresentou crescimento na última eleição. Também, o número de deputados ligados a causas sociais caiu drasticamente e a proporção da frente sindical sofreu forte redução – dos atuais 83 para 51 eleitos. Na prática, significa que propostas de interesse dos trabalhadores e ligadas aos direitos humanos vão enfrentar dificuldades para tramitar na Câmara Federal e no Senado. A reforma política e a regulação econômica dos meios de comunicação foram anunciadas como prioridade pela presidenta em seus primeiros discursos após a vitória. Todavia, as forças conservadoras se movimentam para impedir que as reformas se concretizem. Prosseguem as tentativas de desconstrução de Dilma e de seu governo, que tiveram um ápice com o ataque sórdido da revista Veja contra a sua campanha, às vésperas do segundo turno. A expectativa dos trabalhadores é que a presidenta consiga o retorno do crescimento econômico, a implementação de reformas estruturais e a democratização da mídia. Na reforma política, é necessário acabar com o financiamento das empresas nas campanhas eleitorais, assegurar o pluralismo partidário, o sistema proporcional, coligações partidárias em todos os níveis e elevar a participação das mulheres no Congresso Nacional. Apesar de ter crescido o número de eleitoras e de candidatas, e mesmo que o cargo mais importante do país seja ocupado por uma mulher, as mulheres ainda são minoria em termos de representação política. Nesta eleição, segundo informações do TSE, o número de deputadas estaduais e distritais diminuiu 14,89% − foram eleitas 120 mulheres, contra 141 atualmente. Ou seja, a representação popular nos estados continua predominantemente masculina, já que apenas 11,33% dos deputados estaduais e distritais são mulheres. Como todas as reformas dependem do Congresso Nacional, mudanças democráticas somente serão viáveis por meio de ampla mobilização social. Na área da educação há vários desafios a serem enfrentados. A começar pela regulamentação do Sistema Nacional de Educação (SNE), tema central da II Conferência Nacional de Educação (Conae) realizada em novembro. O SNE é uma das principais bandeiras de luta da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (Contee). A instituição do SNE é essencial para promover, de forma articulada, em todo o país, questões como: regime de colaboração; financiamento, acompanhamento e controle social da educação; gestão democrática; inclusão social; reconhecimento e respeito à diversidade; formação e valorização dos trabalhadores em educação – tanto da rede pública quanto do setor privado. E será o próximo governo da presidenta Dilma Rousseff, aquele que, enfim, implementará o SNE, garantindo também a regulamentação da educação privada no Brasil, com as mesmas exigências legais aplicadas à rede pública. Expediente Publicação do Departamento de Comunicação do Sinpro Minas ANO XXXIV - Nº 145 - NOVEMBRO DE 2014 Diretores responsáveis: Aerton Silva e Marco Eliel de Carvalho; Editora/Jornalista responsável: Débora Junqueira (MG05150JP); Redação: Cecília Alvim (MG09287JP) Denilson Cajazeiro (MG09943JP) Nanci Alves (MG03152JP), e Saulo Martins (MG15509JP); Programação visual: Mark Florest; Design Gráfico: Fernanda Lourenço e Mark Florest; Estagiária: Pollyana Bitencourt; Revisão: Aerton Silva; Impressão: O Lutador; Tiragem: 35.000 exemplares; Distribuição gratuita: Circulação dirigida [email protected] Diretoria Gestão 2012/2016 Presidente: Gilson Luiz Reis; 1º Vice-Presidente: Valéria Peres Morato Gonçalves; 2º Vice-Presidente: Marco Eliel Santos de Carvalho; Tesoureiro Geral: Décio Braga de Souza; 1º Tesoureiro: Dimas Enéas Soares Ferreira; Secretária Geral: Liliani Salum Alves Moreira; 1º Secretário: Clovis Alves Caldas Filho; Conselho Fiscal: Newton Pereira de Souza; Nalbar Alves Rocha; Fátima Amaral Ramalho; Suplente do Conselho Fiscal: Aerton de Paulo Silva; Renato César Pequeno; Maria Célia da Silva Gonçalves. Diretoria: Adelmo Rodrigues de Oliveira; Adenilson Henrique Gonçalves; Albanito Vaz Júnior; Alessandra Cristina Rosa; Altamir Fernandes de Sousa; Angelo Filomeno Palhares Leite; Aniel Pereira Braga Filho; Antonieta Shirlene Mateus; Antônio de Pádua Ubirajara e Silva; Antônio Sérgio de Oliveira Kilson; Aparecida Gregório Evangelista; Aristides Ribas Andrade Filho; Benedito do Carmo Batista; Bruno Burgarelli Albergaria Kneipp; Carla Fenícia de Oliveira; Carlos Afonso de Faria Lopes; Carlos Magno Machado; Carolina Azevedo Moreira; Cecília Maria Vieira Abrahão; Celina Alves Padilha Arêas; César Augusto Machado; Clarice Barreto Linhares; Cláudia Cibele Souza Rodrigues; Clédio Matos de Carvalho; Daniel de Azevedo Teixeira; Débora Goulart de Carvalho; Diva Teixeira Viveiros; Edson de Oliveira Lima; Edson de Paula Lima; Eliane de Andrade; Érica Adriana Costa Zanardi; Estefânia Fátima Duarte; Fábio dos Santos Pereira; Fábio Marinho dos Santos; Fernando Antônio Tomaz de Aquino Pessoa; Fernando Dias da Silva; Fernando Lúcio Correia; Geraldo Magela Ribeiro; Gislaine dos Santos Silva; Grace Marisa Miranda de Paula; Haída Viviane Palhano Arantes; Heleno Célio Soares; Henrique Moreira de Toledo Salles; Humberto Coelho Ramos; Humberto de Castro Passarelli; Iara Prestes Stoessel; Idelmino Ronivon da Silva; João Francisco dos Santos; João Marcos Netto; Jones Righi de Campos; José Carlos Padilha Arêas; José Geraldo da Cunha; José Heleno Ferreira; José Mauricio Pereira; Josiana Pacheco da Silva Martins; Josiane Soares Amaral Garcia; Juliana Augusta Rabelo Souza; Laércio de Oliveira Silva; Lavínia Rosa Rodrigues; Liliam Faleiro Barroso Lourenço; Luiz Antônio da Silva; Luiz Cláudio Martins Silva; Luiz Henrique Vieira de Magalhães; Luliana de Castro Linhares; Marcelo José Caetano; Marcos Gennari Mariano; Marcos Paulo da Silva; Marcos Vinicius Araújo; Maria Aparecida Penido de Freitas; Maria Celma Pires do Prado Furlanetto; Maria da Conceição Miranda; Maria da Gloria Moyle Dias; Maria das Graças de Oliveira; Maria Elisa Magalhães Barbosa; Maria Goretti Ramos Pereira; Maria Helena Pereira Barbosa; Maria Nice Soares Pereira; Marilda Silva; Marilia Ferreira Lopes; Marisa Magalhães de Souza; Mateus Júlio de Freitas; Meire Ruthe Branco Mello; Messias Simão Telecesqui; Miguel José de Souza; Miriam Fátima dos Santos; Moisés Arimatéia Matos; Murilo Ferreira da Silva; Nardeli da Conceição Silva; Neilon José de Oliveira; Nelson Luiz Ribeiro da Silva; Orlando Pereira Coelho Filho; Paulo Roberto Mendes da Silva; Paulo Roberto Vieira Júnior; Pitágoras Santana Fernandes; Renata de Souza Guerra; Renata Titoneli de Aguiar; Rodrigo de Paula Magalhães Barbosa; Rodrigo Rodrigues Ferreira; Rogério Helvídio Lopes Rosa; Romário Lopes da Rocha; Rossana Abbiati Spacek; Rozana Maris Silva Faro; Sandra Lúcia Magri; Sebastião Geraldo de Araújo; Simone Esterlina de Almeida Miranda; Siomara Barbosa Candian Iatarola; Sirlane Zebral Oliveira; Terezinha Lúcia de Avelar; Valdir Zeferino Ferreira Júnior; Valéria Nonata Teixeira; Vera Lúcia Alfredo; Vera Lúcia Freitas Moraes; Wagner Ribeiro; Warley Oliveira Drumond; Wellington Teixeira Gomes; Yuri de Almeida Gonçalves. Jornal Extra-classe 145 • novembro 2014 SINDICATO DOS PROFESSORES DO ESTADO DE MINAS GERAIS SEDE: Rua Jaime Gomes, 198 - Floresta - CEP: 31015.240 Fone: (31) 3115 3000 - Belo Horizonte - www.sinprominas.org.br SINPRO CERP - Centro de Referência dos Professores da Rede Privada Rua Tupinambás, 179 - Centro - Cep: 30.120-070 - BH - Tel: (31) 3274 5091 [email protected] SEDES REGIONAIS: Barbacena: Rua Francisco Sá, 60 - Centro, CEP: 36200-068 - Fone: (32) 3331-0635; Cataguases: Rua Major Vieira, 300 - sala 04 - Centro - CEP: 36770-060 - Fone: (32) 3422-1485; Coronel Fabriciano: Rua Moacir D'Ávila, nº 45 - Bairro dos Professores - CEP: 35.170-014 - Fone: (31) 38412098; Divinópolis: Av. Minas Gerais, 1.141 - Centro - CEP: 35.500-010 - Fone: (37) 3221-8488; Governador Valadares: Rua Benjamin Constant, n° 653/ Térreo, Centro - CEP: 35.010-060, Fone: (33) 3271-2458; Montes Claros: Rua Januária, 672 - Centro, CEP: 39.400-077 - Fone: (38) 32213973; Paracatu: Rua Getúlio de Melo Franco, 345 - sala 14- Centro - CEP: 38.600-000 - Fone: (38) 3672 1830; Poços de Caldas: Rua Mato Grosso, nº 275 - Centro, CEP: 37.701-006 - Fone: (35) 3721-6204; Ponte Nova: Av. Dr. Otávio Soares, 41 - salas 326 e 328, Palmeiras - CEP: 35.430-229 - Fone: (31) 3817-2721; Pouso Alegre: Rua Dom Assis, 241 - Centro, CEP 37.550-000 - Fone: (35) 3423-3289; Teófilo Otoni: Rua Pastor Hollerbarch, 187/201 - Grão Pará, CEP: 39.800-148 - Fone: (33) 3523-6913; Uberaba: Rua Alfen Paixão,105 - Mercês, CEP: 38.060-230 - Fone: (34) 3332-7494; Uberlândia: Rua Olegário Maciel, 1212 - Centro, CEP: 38.400-086 - Fone: (34) 3214-3566; Varginha: Av. Doutor Módena, 261 - Vila Adelaide, CEP: 37.010-190 Fone: (35) 3221-1831. Campanha 3 Nossas conquistas não podem depender da sorte! Professores vão se mobilizar para defender as reivindicações que constam na pauta Assim como os professores não fazem mágica ao lecionar, as conquistas trabalhistas também não podem depender da sorte. Todos os direitos da categoria são fruto de muita luta. Para ampliar as conquistas é preciso sair da inércia para a mobilização. Para chegar às salas de aula, os professores se empenham nas faculdades de origem, preparam aulas, exercícios, atividades variadas, provas e estão sempre em contínua formação para o exercício da profissão. Todo esse esforço resulta em professores qualificados. Essa qualificação somente é reconhecida quando os professores recebem o que merecem, ou seja, salários dignos e boas condições de trabalho. O problema é que esse reconhecimento não cai do céu, precisa ser conquistado, pois os donos de escolas sempre ganham mais quando não reconhecem o valor dos professores e fazem de tudo para manter as coisas como estão ou piorá-las. Portanto, na campanha reivindicatória é a mobilização que faz a diferença, para dar aval aos esforços do sindicato nas negociações com o patronal. Diante da pressão exercida dentro das escolas pode ser difícil se posicionar e tomar atitudes como conversar com colegas, participar das assembleias e até mesmo decidir por uma paralisação ou greve, mas não podemos desistir. Sabemos que todas as mudanças são resultado do esforço de pessoas corajosas e combativas. Quando todos se unem, não há obstáculos que não possam ser removidos. Afinal, a história mostra que a luta coletiva é a melhor saída. Como num jogo, os dados foram lançados, mas nossas conquistas não podem depender somente da sorte e sim das nossas ações e ousadia. Em 2015, vamos fazer valer o nosso jogo, sem contar apenas com a sorte, vamos dar as cartas e todos os passos com coragem para avançar. A campanha reivindicatória 2015 já começou! Várias assembleias acontecem em todo o estado para a discussão das pautas de reivindicações e preparação da mobilização. Vamos seguir em frente, e demonstrar que merecemos muito mais do que apenas aumento real. Idiomas A Convenção Coletiva de Trabalho dos professores de idiomas está em processo de dissídio coletivo. Durante as negociações, ficou clara a intenção dos donos de escolas de retirar direitos da categoria. Com isso, não houve acordo entre o Sinpro Minas e o Sindilivre/Idiomas. Com o objetivo de garantir as conquistas dos professores, o Sinpro entrou com dissídio no Tribunal Regional do Trabalho, em 26 de junho de 2014. A primeira reunião de conciliação aconteceu no dia 28 de agosto, porém não houve nenhum avanço. O sindicato aguarda o julgamento do processo. Sinepe/Sudeste No dia 3 de dezembro, aconteceu a audiência de conciliação entre o Sinpro Minas e o Sinepe/Sudeste no Tribunal Regional do Trabalho (TRTMG). Foi fechado acordo para a Convenção Coletiva de Trabalho que garante reajuste de 6% para a Educação Infantil e Fundamental I e de 5,8% para os outros segmentos. O reajuste é retroativo a fevereiro/março de 2014. O prazo para o pagamento dos valores devidos é até 6 de fevereiro de 2015. Também ficou garantida a manutenção das demais cláusulas da Convenção anterior. Jornal Extra-classe 145 • novembro 2014 4 Movimento Diretora do Sinpro Minas recebe homenagem do TRT/MG Celina Arêas (terceira da esqueda para direita) entre outros agraciados. A diretora Celina Alves Padilha Arêas, do Sinpro Minas e da CTB nacional, foi condecorada com a Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho Ari Rocha, em 23 de setembro. A cerimônia aconteceu no Centro Cultural Banco do Brasil, em Belo Horizonte. A medalha é uma iniciativa do Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais (TRTMG) - 3ª Região e destaca as personalidades que atuam de forma brilhante no mundo do trabalho. Celina é sindicalista desde a década de 1980 e sua história é marcada pela luta em defesa dos direitos dos professores e demais trabalhadores. A indicação da sindicalista foi feita pelo desembargador do TRT/MG, Marcelo Lamego Pertence. Para ele, Celina é um exemplo de dedicação ao mundo do trabalho e ao trabalhador. “Seriedade, competência e compromisso são as premissas dessa medalha e ela tem esse algo a mais que precisa ser Jornal Extra-classe 145 • novembro 2014 ressaltado. Pessoa mais indicada não haveria para receber essa medalha”, frisou. Nesta edição foram agraciados magistrados, políticos, profissionais liberais, intelectuais, instituições, sindicalistas, servidores do Poder Judiciário e, ineditamente, quatro varas do trabalho que se destacaram pela celeridade e produtividade no desempenho processual. À frente da cerimônia, a desembargadora Maria Laura Franco Lima de Faria, presidente do TRT-MG, destacou a importância do momento como a oportunidade de reverenciar os “cidadãos e entidades que prestam relevantes serviços ao bem comum e que contribuem ou contribuíram com ações de engrandecimento da Justiça do Trabalho e promoção das instituições livres e da democracia”. Para a diretora do Sinpro Minas, Valéria Morato, a homenagem representa o reconhecimento ao tra- A comemoração pelo dia dos professores começou mais cedo neste ano. A tradicional festa dos professores, promovida pelo Sinpro Minas, em Belo Horizonte, no Clube Labareda, aconteceu no dia 27 de setembro. Com a data mais distante do recesso, quase 2.000 professores e convidados puderam participar. Desta vez, a festa foi animada pela banda Via Láctea e pela escola de samba Tradição Independente. No interior, o Sinpro Minas também promoveu várias festas e atividades. As fotos podem ser conferidas no Facebook/Sinpro Minas. Fotos: Arquivo Ana FTG Dia dos professores balho do sindicato dos professores, na pessoa da Celina. “Ela é uma grande lutadora, foi presidente do Sinpro numa época em que as mulheres ainda encontravam muitas dificuldades para ocupar espaços de poder, e nem por isso ela deixou de lutar pela categoria e por melhores condições de vida para os trabalhadores. Por isso, é uma honra para todos nós essa homenagem do Tribunal do Trabalho”. De acordo com Celina, a medalha é de extrema importância para o sindicalismo mineiro e nacional, porque reconhece o trabalho coletivo que vem sendo feito: “essa medalha não é individual, ela sintetiza o trabalho do sindicato dos professores, da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras (CTB) e de outras entidades das quais participamos. Eu vou levar essa honraria como um prêmio à luta coletiva dos trabalhadores por uma sociedade mais justa, humana e igualitária”. Movimento 5 Sinpro Minas amplia comunicação com categoria Novo portal e web rádio serão lançados em 2015 No ar: Rádio Sinpro Minas Outra novidade do sindicato para 2015 é o lançamento da web rádio Sinpro Minas. Veiculada apenas na internet, e que, por isso, não demanda concessão do governo como as emissoras AM e FM, a rádio Sinpro Minas tem a vantagem de poder chegar a um público bem maior, atendendo ao professor que mora em qualquer parte do Estado, do país ou que está fora do Brasil. “Sintonizada com as mudanças constantes no mundo das novas tecnologias, o Sinpro lança sua emissora reforçando a importância da democratização da comunicação. Esta história está sendo escrita agora e o Sinpro Minas quer fazer parte deste processo, visando garantir a democratização da internet e também usufruir dos seus benefícios”, explica o diretor do Sinpro Marco Eliel de Carvalho. Com uma programação 24 horas no ar, a emissora cumprirá seu papel de levar entretenimento, música, formação e informação, sempre com o olhar do professor sobre a realidade. De acordo com o diretor do Sinpro Aerton Silva, “a proposta é abrir espaço para todos da categoria que queiram contribuir com a programação, por exemplo, enviando notícias sobre educação, músicas, etc. Pois a rádio Sinpro Minas quer, além de veicular notícias que interessem à categoria, dar oportunidade a bons músicos que não conseguem espaço na mídia, inclusive as produções de professores de toda Minas Gerais”. Prêmio ADEP-MG de Jornalismo valoriza Programa Extra-Classe Duas reportagens do Programa Extra-Classe, do Sinpro Minas, receberam o primeiro e o segundo lugar na Categoria TV, no Prêmio ADEP-MG de Jornalismo. A cerimônia da premiação foi realizada no dia 19 de setembro em Belo Horizonte. A reportagem “Direitos da população de rua”, assinada pelo jornalista do Sinpro, Saulo Martins, ficou com a primeira colocação. O segundo lugar foi para a reportagem “Estatuto do Idoso”, assinada pela jornalista do Sinpro, Nanci Alves. Na elaboração das reportagens premiadas, atuaram também os jornalistas Cecília Alvim, Denilson Cajazeiro, Débora Junqueira, Eduardo Gomes, Bruno Carvalho e Jocasta Luiza. O terceiro lugar ficou para o jornalismo da TV Record. Para Diego Alvarenga, jornalista da ADEP, as reportagens do Sinpro apresentaram qualidade técnica e conteúdo humano, que as diferenciaram das demais matérias inscritas. “Essa humanização das pautas que vocês fazem, ao conversar com moradores de rua, com pessoas Adep/MG Em 2015, o Sinpro Minas terá um novo portal na internet, já no ar em fase de testes. Com visual leve e atual e ênfase no design e na usabilidade, o portal foi reformulado com o objetivo de ampliar a comunicação com a categoria. Notícias sobre temas variados e de interesse dos professores, como educação, sindicalismo, cultura, política e direitos trabalhistas, além de prestação de serviços e socialização de informações relevantes estão em destaque no novo portal. As seções de bolsas e convênios também foram repaginadas para facilitar a navegação dos professores, e um dos destaques do novo portal é o espaço específico para divulgar as produções audiovisuais do Sinpro Minas, entre elas o programa de TV do sindicato (Extra-Classe) e a rádio web. “Buscamos sempre fortalecer nossos canais de diálogo com a categoria. Nosso objetivo é fazer uma comunicação contra-hegemônica, que ofereça à sociedade um contraponto à mídia tradicional, pois, como sabemos, ela não traz o ponto de vista dos trabalhadores, mas sim o do empresariado, do capital, como também não traduz a diversidade política e cultural do povo brasileiro. Esse é um dever de todo o sindicalismo no Brasil, ou seja, trabalharmos para que a pluralidade de opiniões sobre os mais variados assuntos ganhe espaço na arena pública”, ressalta o presidente do Sinpro Minas, Gilson Reis. idosas, de dar tempo para que eles falem, é muito importante, especialmente numa mídia que é voltada para professores”, avalia. O programa Extra-Classe é produzido pelo Sindicato dos Professores e veiculado na TV Band Minas, todos os sábados, das 8h às 8h20 da manhã. Assista as reportagens vencedoras em: www.youtube.com/sinprominas Confira as novidades em www.sinprominas.org.br e participe com sugestões e críticas. Jornal Extra-classe 145 • novembro 2014 6 Deasinpro Poesia na terceira idade Com trechos dos escritores Ariano Suassuna, João Ubaldo Ribeiro e Rubem Alves, o Grupo Nós de Teatro mais uma vez emocionou o público que participou do Sarau Literário promovido pelo Departamento de Professores Aposentados do Sinpro Minas (Deasinpro), no dia 26 de setembro, na sede do Sindicato, em Belo Horizonte. O Grupo Nós, criado há cinco anos, é formado por integrantes em sua maioria na terceira idade. O ator mais velho tem 91 anos. “Promovemos o sarau com esse grupo que já se tornou um parceiro do sindicato na intenção de fazer a integração dos aposentados com o sindicato. Entendemos que a cultura é um instrumento importante para isso”, afirma a diretora do Deasinpro, Antonieta Shirlene. Débora Junqueira Sarau homenageou Rubem Alves, João Ubaldo e Ariano Suassuna Alzira Reis, diretora do Sinpro e atriz do Grupo Nós, explica a importância de preservar a cultura do sarau, encontros muito populares no século 19, que vem sendo redescoberto. “O sarau surgiu como uma prática da literatura romântica, quando as famílias ofereciam confraternizações nas casas com o ob- jetivo de apresentar as moças que queriam se casar, havia música, poesia e recitais. Estamos preservando essa prática de encontros para compartilhar poesias, músicas, onde as manifestações artísticas ganham destaque”, explica. No sarau literário, o grupo Nós fez uma homenagem aos três gran- des autores brasileiros que a literatura perdeu este ano. Para a diretora do grupo, Ana Amélia Cabral, a lição que ficou do estudo sobre os autores pode ser traduzida pela citação constante do escritor Rubem Alves: “carpe diem”, que quer dizer “colha o dia”. “Precisamos viver o hoje, o amanhã a gente não sabe”. Movimento Justiça garante direitos dos professores do UPTIME Na escola UPTIME, os docentes tiveram uma vitória na justiça. Através de ação proposta pelo Sinpro Minas, a escola está obrigada a considerar todos os instrutores como professores. A diretoria do Sinpro esclarece que sempre os reconheceu como professores, no entanto, foi importante reafirmar esse conceito, através de um processo judicial. A partir de agora, a instituição de ensino deve cumprir a Convenção Coletiva de Idiomas. Acordo Coletivo - Paralelamente, os professores da escola UPTIME aprovaram, em assembleia, um acordo coletivo de trabalho. Jornal Extra-classe 145 • novembro 2014 Após várias reuniões de negociação entre o Sinpro Minas e a direção do UPTIME, foi construída uma proposta, posteriormente encaminhada para a categoria. O Acordo terá um ano de vigência, com validade desde 1º de setembro. O Acordo contemplou as seguintes questões: a contratação por jornada de trabalho; o resgate das cláusulas do adicional por tempo de serviço e de irredutibilidade (redução da carga horária). Wizzard - Mangabeiras Após receber denúncias de professores, o Sinpro entrou com um processo na Justiça do Trabalho contra o Wizzard Mangabeiras, para tentar sanar algumas irregularidades trabalhistas na instituição de ensino. A escola foi condenada a corrigir diferenças salariais, obedecer as formas de cálculo estabelecidas na Convenção Coletiva de Idiomas, pagar horas extras devidas e proceder a anotação da função de professor nas carteiras de trabalho dos profissionais que lecionam na escola. O processo não tem possibilidade de recurso e está em fase de cálculos para conclusão. Instituto Cervantes - Buscando a correção de diferenças salariais e, principalmente, do reconhecimento legal dos docentes da instituição como professores, o Sinpro entrou com ação contra o Instituto Cervantes. O processo ainda está em tramitação, mas o Tribunal do Trabalho já se posicionou favorável à causa dos professores. De acordo com a assessoria jurídica do sindicato, a Justiça do Trabalho entende que o Instituto Cervantes é uma escola e deve obedecer à Convenção Coletiva de Trabalho para a contratação de professores. A ação ainda cabe recurso e o sindicato aguarda os próximos desdobramentos judiciais. 7 Regionais Uberlândia Encontro de aposentados e debate sobre o Ensino Médio Diretora do Sinpro Minas lança livro Fotos: Arquivo Cataguases No dia 6 de setembro, aconteceu o 2º Encontro de Professores Aposentados e Aposentandos de Cataguases e Região. O evento contou com palestras sobre autoestima e desenvolvimento pessoal, saúde, nutrição e direito previdenciário, além de debates e várias apresentações culturais com alunos e professores das escolas da região. A regional Cataguases também promoveu, no dia 20 de setembro, o debate “Ensino Médio e técnicoprofissionalizante em Minas Gerais”. O professor e biólogo Pedro Luiz Teixeira de Camargo foi um dos palestrantes do evento e fez uma a avaliação crítica sobre o projeto “Reinventando o Ensino Médio”, do governo de Minas. Segundo Pedro Luiz, o projeto está mais para retrocesso do que reinvenção. O debate sobre o Ensino Técnico Profissionalizante e desenvolvimento nacional foi conduzido pelo físico Ângelo Andrade Cirino, secretário municipal de Indústria, Comércio e Segurança de Cataguases. Pouso Alegre Regional recebe visita de alunos da UNIFEI Alunos formandos dos cursos de licenciatura em Matemática e Química da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) visitaram a regional do Sinpro Minas, em Pouso Alegre, no dia 4 de novembro. O objetivo foi conhecer a história do Sinpro e sua estrutura organizacional. Recepcionados pelo professor e di- retor do Sinpro Minas Pitágoras Fernandes, os futuros professores assistiram vídeos institucionais, conheceram sobre organização política e o fazer sindical da entidade e obtiveram informações sobre a Convenção Coletiva de Trabalho, em palestra proferida pelo advogado Ricardo Lara. No dia 17 de outubro, aconteceu, em Uberlândia, o lançamento do livro de poesias Sentimentos Vários. A obra foi patrocinada pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura e escrita pela poetiza e diretora do Sinpro Minas Rossana Spacek. O evento foi realizado na Casa da Cultura de Uberlândia. Divinópolis Atividades no parque A regional do Sinpro Minas em Divinópolis promoveu, no dia 6 de setembro, atividades de esporte e lazer no Parque da Ilha. Brincadeiras, orientações sobre saúde, caminhada, corrida e sorteio de brindes fizeram parte da programação, que reuniu professores e familiares. Viçosa Solidariedade ao professor Idelmino Em agosto, o Sinpro Minas fez uma nota de solidariedade ao vereador professor Idelmino, também diretor da entidade, em repúdio às tentativas de intimidação ao trabalho desenvolvido por ele na Câmara Municipal de Viçosa. O vereador Idelmino (PCdoB) recebeu ameaças de morte após denunciar irregularidades na gestão do prefeito de Viçosa, Celito Sari (PR). O prefeito é acusado de nepotismo, superfaturamento, desvio de dinheiro público, improbidade administrativa por direcionamento de licitação e omissão na defesa dos bens públicos. Segundo o professor Idelmino, essas denúncias estão documentadas e foram entregues na Câmara Municipal de Viçosa, Procuradoria Estadual e Tribunal de Contas. Os documentos estão em análise pela Procuradoria Estadual e, no caso do direcionamento de licitação, foram encaminhados para o Tribunal de Justiça, solicitando abertura de processo contra o prefeito e mais nove pessoas, inclusive com o bloqueio de bens dos envolvidos. O Sindicato dos Professores entende que o vereador professor Idelmino tem cumprido sua função como representante do povo no legislativo, fiscalizado a atuação do executivo e denunciado, juntamente com outros vereadores e sociedade, as irregularidades na gestão pública do município de Viçosa. E nenhuma ameaça poderá intimidá-lo no exercício de suas funções como vereador e cidadão. Jornal Extra-classe 145 • novembro 2014 8 Direitos Humanos Racismo e violência A Anistia Internacional lançou no dia 9 de novembro, no Rio de Janeiro, a campanha Jovem Negro Vivo, para chamar a atenção da sociedade sobre a violência assustadora contra a juventude negra. Em 2012, 56.000 pessoas foram assassinadas no Brasil. Destas, 30.000 são jovens entre 15 a 29 anos e, desse total, 77% são negros. A maioria dos homicídios é praticado por armas de fogo, e menos de 8% dos casos chegam a ser julgados. Esses números alarmantes são baseados no Mapa da Violência 2014, que analisa dados do Sistema de Informações de Mortalidade (Sim), do Ministério da Saúde. O Mapa aponta ainda que os brancos têm morrido menos e os negros, mais. Entre 2002 e 2012, o número de homicídios de jovens brancos caiu 32,3% e o dos jovens negros aumentou 32,4%. O índice de vitimização negra total passou de 79,9% em 2002 para 168,6% em 2012. Isso significa que morrem proporcionalmente 168,6% mais jovens negros que brancos, o que representa um aumento de 111% na vitimização da juventude negra brasileira em uma década. Pesquisas mostram também que são os jovens negros, especialmente os moradores das periferias, as principais vítimas de violência policial no país: de cada 10 mortos pela polícia, sete são negros; são eles também que compõem grande parcela da população carcerária (38% tem de 18 a 29 anos e 60% são negros), segundo informações do Sistema Integrado de Informação Penitenciária, do Ministério da Justiça. De acordo com o responsável pelo Mapa da Violência, Julio Jacobo Waiselfisz, essa seletividade foi construída por diversos mecaJornal Extra-classe 145 • novembro 2014 Anistia Internacional Juventude negra é a maior vítima da violência no Brasil nismos, entre eles o acesso, por parte dos brancos, à segurança privada. “Os negros são excluídos duplamente - pelo Estado e por causa do poder aquisitivo. Isso faz com que seja mais difícil a morte de um branco do que a de um negro”, destaca. Para Bruno Vieira, jornalista e subsecretário do Fórum das Juventudes da Grande BH, a explicação para essa maior vitimização da juventude negra está em uma única palavra: racismo, que é uma questão histórica no país. “Muita gente tenta não colocar à tona, invisibilizar, mas o racismo existe sim e está entranhado na sociedade. Basta ver que a população de favelas e periferias, marginalizada, encarcerada, é, em sua maioria, composta por jovens negros. A violação desses direitos também é violência”, adverte. O envolvimento com o tráfico de drogas é uma das principais causas dessas mortes violentas. Para Marcelo Bizzotto, psicólogo do Centro de Atenção e Proteção aos Usuários de Tóxicos, o envolvimento dos jovens com as drogas se dá por conta de desigualdades sociais e também por problemas emocionais. “Há uma pobreza estrutural, material, que afeta grande parte dessa juventude, mas há também uma pobreza no sentido do afeto. São jovens que sofrem com a fragilidade dos laços sociais porque não tiveram em suas vidas uma história que favorecesse outro tipo de construção”, alerta. O papel da escola Em uma escola da rede particular de ensino de BH, estudantes do ensino médio participaram de um seminário com convidados em que puderam saber mais sobre a rela- ção entre drogas e violência. “Fomentar esse debate, trazer perspectivas distintas, é um dever do professor, para que cada aluno tenha condição de se posicionar de forma autoral e crítica diante desse assunto que é tão importante para a saúde e a segurança pública e diz respeito a todos os cidadãos”, avalia a professora de Sociologia, Paula Berbert. Os alunos aprovaram a iniciativa. “A abertura da escola para a discussão sobre drogas e violência é fundamental para termos uma visão mais ampla da realidade”, avaliou João Mafra, 18 anos. Luiza Valadares, 18 anos, disse que esses debates são importantes para o futuro da juventude. “É importante ensinar pra gente agora para passarmos uma atitude mais consciente para as gerações futuras”. Anistia Internacional: www.anistia.org.br Eleições 9 O “novo” Congresso O Congresso que saiu das urnas nesta eleição foi renovado em 46,39% na Câmara e em 81,48% em relação às vagas em disputa no Senado. O que para muitos pode parecer algo promissor, com a expectativa de que novos ares circulem por ali, na verdade esconde um grande problema. Um levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) revelou que a composição do legislativo nacional, a partir do próximo mandato, será uma das mais conservadoras desde a redemocratização, em 1985. De acordo com o Diap, o número de deputados ligados a causas sociais caiu drasticamente, e a proporção da frente sindical também sofreu forte redução – dos atuais 83 para 51 eleitos. Já o número de parlamentares ligados a segmentos mais conservadores – como as bancadas da segurança, religiosa e ruralista – apresentou crescimento. Houve também aumento das forças vinculadas ao mercado. Na prática, significa que propostas de interesse dos trabalhadores e ligadas aos direitos humanos vão enfrentar dificuldades para tramitar nas duas Casas. Entre elas, por exemplo, a que criminaliza a homofobia. Projetos de lei que colocam em risco direitos trabalhistas, como o que amplia a terceirização, também podem ser aprovados. “Se depender apenas do novo Congresso, a perspectiva de reformas reclamadas nas ruas em junho de 2013 não é das melhores”, afirma o jornalista Antônio Augusto de Queiroz, analista político e diretor de Documentação do Diap. Segundo o pesquisador, vários fatores contribuíram para a atual composição, entre eles a “campanha Werner Zotz/Embratur Composição conservadora mostra que a renovação se deu apenas no aspecto formal moralista de parte da classe média e da grande imprensa, que atribui todas as mazelas do país a um suposto aumento da corrupção”. “As cruzadas de caráter homof óbico, reativas às pautas LGBT, combinadas com a campanha das forças conservadoras pela redução da maioridade penal, igualmente, proporcionaram votações estratosféricas para os líderes desses movimentos”, explica o jornalista, para quem o poder econômico foi decisivo no resultado da eleição. “Hoje quem tem definido as eleições são os grandes grupos econômicos, os setores tradicionais da economia, das finanças, que têm interesse em manter o lobby no Congresso”, destaca Robson Sávio Reis, doutor em Ciências Sociais e professor da PUC Minas. Pouca novidade Para o diretor do Diap, a renovação, porém, se deu apenas no aspecto formal. O que houve de fato foi uma circulação no poder, com o retorno de ex-agentes públicos ou a entrada de figuras conhecidas na disputa eleitoral brasileira, como parentes de políticos tradicionais, celebridades, pastores evangélicos, policiais contrários aos direitos humanos, empresários ou apresentadores de programas de rádio e TV. “O novo Congresso, portanto, tem muito pouco de novo”, aponta Antônio Augusto de Queiroz. E um mapeamento da organização Transparência Brasil mostra mesmo que os clãs políticos seguem dominando o Congresso. Dos 513 deputados que tomarão posse em fevereiro, 49% são netos, filhos, irmãos, sobrinhos ou casados com quem exerce ou já exerceu algum cargo eletivo. No Senado, a proporção é ainda maior: 6 em cada 10 senadores fazem parte de clãs. Segundo avaliam cientistas políticos, o cenário atual vai exigir maior participação da sociedade e mobilização dos movimentos sociais e entidades sindicais para aprovar reformas estruturais, entre elas a política, vista como fundamental para acabar com o poder do capital nas eleições. “A única possibilidade de não termos retrocessos nos direitos conquistados e avançar em projetos e reformas é com pressão social, nas redes e nas ruas”, sintetiza Robson Sávio Reis. Jornal Extra-classe 145 • novembro 2014 10 Eleições Participação das mulheres nas eleições De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), neste ano, o voto feminino teve o maior peso da história: 52% dos 142 milhões de eleitores brasileiros são mulheres. Nos últimos anos, tem crescido também o número de candidatas. Nas últimas eleições, o Brasil teve três postulantes à Presidência da República, 20 a governos estaduais, 33 ao Senado, quase 1.800 à Câmara e 4.300 candidatas às Assembleias Legislativas. A proporção de candidatas aptas a disputar algum cargo, incluindo vices e suplentes, aumentou de 20,2% do total de candidatos em 2010 para 28,7% em 2014. Apesar de ter crescido o número de eleitoras e de candidatas, e ainda que o cargo mais importante do país seja ocupado por uma mulher, elas ainda são minoria em termos de representação política. Nesta eleição, segundo informações do TSE, o número de deputadas estaduais e distritais diminuiu 14,89% − foram eleitas 120 mulheres, contra 141 atualmente nas 26 assembleias estaduais e na Câmara Legislativa do Distrito Federal. Ou seja, a representação popular nos estados continua predominantemente masculina, já que apenas 11,33% dos deputados estaduais e distritais são mulheres. A bancada feminina cresceu apenas no Ceará, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Em 17 estados, houve diminuição no número de candidatas eleitas. Na Câmara dos Deputados houve um pequeno aumento do número de mulheres. Entretanto, ainda é uma sub-representação. Para o mandato que se inicia em 2015 foram eleitas 51 deputadas (atualmente são 45) − o que significa uma mulher para cada dez depuJornal Extra-classe 145 • novembro 2014 ABr Número de eleitoras e candidatas aumenta, mas elas continuam sub-representadas tados eleitos, pois são 513 cadeiras. Segundo informações do Tribunal Superior Eleitoral, dos 4.382 homens candidatos ao legislativo, cerca de 10% foram eleitos. Em contrapartida, das 1.796 mulheres que buscaram um cargo na Câmara, apenas 2,8% conquistaram um lugar na bancada. Os estados de Alagoas, Espírito Santo, Mato Grosso, Paraíba e Sergipe não tiveram nenhuma mulher eleita deputada federal. Minas Gerais foi o estado em que as mulheres tiveram menos destaque. A primeira mulher na lista de contagem de votos aparece apenas na trigésima quinta posição. No Senado, foram eleitas apenas cinco mulheres para as 27 vagas disponíveis, o que representa apenas 18,5% do total dos senadores eleitos e 13% da Casa, já que outras seis senadoras cumprem mandato até 2019 (renovação de um terço apenas). E, o pior, para governo de estado, apenas uma mulher foi eleita − Suely Campos (PP), em Roraima. Historicamente, o número de governadoras nunca passou de 11%. A representatividade feminina nos governos estaduais não é tão pequena desde 1998, quando foi eleita apenas uma mulher governadora. Em 2002, foram duas, em 2006, três governadoras e, em 2010, apenas duas novamente. Cultura machista Mas se a mulher representa mais de 50% da população e do eleitorado, responde por mais de 45% da produção deste país e pelo sustento de 1/3 das famílias, por que esse protagonismo não reflete na nossa representação política? Para Vera Soares, Subsecretária de Articulação Institucional e Ações Temáticas da Secretaria de Políticas para as Mulheres, a razão disso está na cultura brasileira que ainda 11 é machista e discriminatória. “Esta cultura patriarcal que isola as mulheres do mundo da política está refletida nos partidos políticos que, por sua vez, não têm a mínima preocupação em mudar esta realidade. Não incentivam as mulheres a participar, não compartilham estes espaços e não se incomodam com a pequena representação feminina nos poderes, pois já está naturalizada a exclusão da mulher também no mundo da política. Um contrassenso, pois ela tem papel fundamental na economia e inclusive nos movimentos sociais, dando enorme contribuição para a transformação deste país”, avalia. Por outro lado, se a mulher é maioria do eleitorado porque ela não tem ajudado a eleger mais mulheres? Para Vera Soares, não tem como votar em mulheres se elas aparecem pouco, exatamente porque os partidos não abrem oportunidades iguais às oferecidas aos homens. “Os partidos divulgam os candidatos que querem eleger e na maioria das vezes, aceitam as candidaturas femininas por exigência da lei, apenas para cumprir cotas. Assim, elas não têm visibilidade e enfrentam muito mais dificuldades como, por exemplo, obter recursos para financiar suas campanhas”. A subsecretária acredita que um dos caminhos pode ser a reforma política com enfoque de igualdade entre homens e mulheres. “Várias propostas estão surgindo dos partidos, dos movimentos sociais, etc, que visam repensar a atual forma de financiamento de campanhas e outros temas importantes”, afirma ao ressaltar também a importância do papel da escola e do professor neste processo. “A escola, nas suas práticas educativas, precisa estar atenta para não reforçar estereótipos machistas, pois isso contribui para o fortalecimento da política patriarcal. Desde a educação infantil, os professores precisam cuidar para não reforçar que meninas usam rosa, são mais sensíveis; que meninos usam azul, não choram, etc. Ou no ensino médio, ajudar as meninas a perceber que não precisam, necessariamente, escolher apenas profissões que têm a ver com cuidado Fonte: TSE e/ou educação como enfermeiras, assistente social, professoras e que podem ocupar espaços, historicamente masculinos, como engenharias, física, matemática, etc. Com certeza, a escola não é determinante, mas pode reforçar estereótipos. É preciso que crie um ambiente de cultura, de respeito às diferenças, que valorize a diversidade, uma cultura igualitária. Com certeza, isso vai contribuir diretamente para a igualdade de gênero”, finaliza. Voto feminino: um direito conquistado A primeira vez que uma mulher pode votar no Brasil foi há apenas 86 anos, em 1927, em Mossoró, no Rio Grande do Norte, quando a professora Celina Guimarães Viana conseguiu seu registro. No restante do país, esse direito só foi reconhecido em 1932 e concretizado no ano seguinte, na eleição para a Assembleia Constituinte. Porém, em função dos governos Vargas (1937 a 1945) e da ditadura militar (1964 a 1985), a mulher pouco exerceu este direito. Um caminho nada fácil, com muitas lutas travadas pelo movimento feminista, tanto para ser eleitora como candidata a algum cargo político. A primeira prefeita foi eleita em 1928. Alzira Soriano de Souza, na cidade de Lages, também no Rio Grande do Norte, tinha 32 anos. Ela perdeu o mandato por não concordar com o governo Vargas. Já a primeira deputada federal foi a médica Carlota Pereira de Queiroz, eleita pelo estado de São Paulo, em 1934. No Senado, as primeiras parlamentares foram Júnia Marise (Minas Gerais) e Marluce Pinto (Roraima), em 1990. Já governadora, a primeira foi Roseana Sarney, no Maranhão, em 1994. E só em 2011, o Brasil elegeu sua primeira presidenta, Dilma Rousseff, quando também foram eleitas as primeiras vice-presidentas da Câmara dos Deputados (Rose de Freitas, do Espírito Santo) e do Senado (Marta Suplicy, de São Paulo). Jornal Extra-classe 145 • novembro 2014 12 Educação Educação inclusiva Livros falados, computadores adaptados, materiais acessíveis, mobiliário, línguas (Libras) e sistemas de leitura (Braille). Conhecidos como tecnologias assistivas, esses recursos auxiliam a comunicação e o aprendizado de quem tem necessidades educacionais especiais. Segundo o decreto 7.611/2011, da Presidência da República, essas tecnologias são voltadas a “favorecer a participação do aluno com deficiência nas diversas atividades do cotidiano escolar”, visando garantir o direito à educação inclusiva. Para Teófilo Galvão, professor doutor da Universidade Federal da Bahia, as tecnologias assistivas são um dos elementos fundamentais para se promover a inclusão escolar, assim como a formação de professores e a acessibilidade física. “Essas tecnologias permitem a equiparação de oportunidades entre os alunos com deficiência e os demais alunos”. Para que essas tecnologias estejam presentes na escola, foram criadas as Salas de Recursos Multifuncionais, que fazem parte do programa de Atendimento Educacional Especializado (AEE), que é uma das políticas de inclusão do governo federal prevista no Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Viver sem Limite. Essas ações resultaram no crescimento de 347% do número de matrículas de pessoas com deficiência em classes comuns da educação básica, que saiu de 145.141 em 2003 para 648.921 em 2013. Na rede municipal de ensino de Belo Horizonte, são 43 salas de recursos em funcionamento e 66 professoras que atuam no AEE, política que beneficiou 1380 alunos até outubro deste ano. Nessas salas, Jornal Extra-classe 145 • novembro 2014 Divulgação Tecnologias assistivas favorecem inclusão escolar de alunos com deficiência Cartaz da 12ª Semana de Ação Mundial que focou o direito à educação inclusiva professoras especializadas desenvolvem diferentes estratégias e recursos de acessibilidade pedagógica, o que possibilita que os alunos com necessidades especiais trilhem diferentes caminhos para o aprendizado. “Todos nós temos condições de aprender. A deficiência é apenas uma característica. Mas nós não devemos focar na deficiência, e sim no potencial do ser humano”, destaca a psicopedagoga e professora do AEE, Luciana Chaves Pacheco. Gustavo Gonçalves Marques, 8 anos, está todos os dias na sala de “Todos nós temos condições de aprender. A deficiência é apenas uma característica. Mas nós não devemos focar na deficiência, e sim no potencial do ser humano” aula com seus pares de idade, convivendo e aprendendo. Ele tem paralisia cerebral e deficiência auditiva, e também é aluno do AEE no contraturno escolar. Para tornar mais acessível o conhecimento pedagógico para Gustavo, a professora Luciana desenvolve semanalmente diferentes atividades em que usa alguns recursos assistivos, como computador com mouse-acionador e softwares especiais, figuras geométricas emborrachadas, letras móveis, palitos para contagem, plano inclinado, figuras, material dourado (para ensinar o sistema de unidade decimal), entre outros. Luciana conta que enxerga em Gustavo um grande potencial de aprendizado através do olhar e do sorriso, e que fica feliz ao perceber seu interesse e seus avanços. Com seu esforço e com a dedicação por parte das professoras, ele demonstra que suas limitações físicas não são barreiras para o aprendizado. Escola da diversidade Em todo o mundo, as pessoas com deficiência estão entre os grupos de maior risco de exclusão escolar. Segundo o último Censo do IBGE, o Brasil tem mais de 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, o que representa 23,9% da população. A maioria das crianças e adolescentes com deficiência já estuda em escolas regulares. Em 2013, 648.921 mil alunos com deficiência estavam em classes comuns. Mas os desafios ainda são grandes. Durante o XI Ciclo de Debates sobre Educação Inclusiva, realizado em setembro na UFMG, professores discutiram os desafios para que a escola seja um espaço aberto à diversidade. Para Regina Célia Passos, coordenadora do Grupo de Estudos em Educação Inclusiva (Geine), da UFMG, em função de um processo histórico de exclusão, o ensino das pessoas com deficiência ficava relegado às escolas especiais. “Agora nós temos que construir conhecimento pedagógico para atender esses alunos nas escolas regulares”, avalia. Para Fabíola Fernanda do Patrocínio, professora de Psicologia, a inclusão só acontece de fato se a escola estiver disposta a superar os mitos e temores relacionados ao tema. “A inclusão é um processo co-participativo, em que a pessoa com deficiência também participa da busca de soluções, da remoção das barreiras. Na medida em que há o acolhimento desse sujeito que tem capacidade de aprender, ainda que diferente da norma padrão, a escola deu o passo mais importante, e daí virão as consequências”. Cultura 13 O cinema na sala de aula As escolas de todo o país serão obrigadas a exibir filmes de produção nacional, no mínimo, duas horas por mês. A lei 13.006, assinada em junho deste ano, pela presidenta Dilma Rousseff e pelo ministro da Educação, José Henrique Paim, modifica o texto das diretrizes básicas da educação do país, incluindo a exibição dos filmes nacionais como componente curricular complementar integrado à proposta pedagógica das escolas. De acordo com a diretora do Sinpro Minas e coordenadora do cineclube do sindicato, Terezinha Avelar, o cinema em sala de aula significa mais que ilustração de temas. “Um filme motiva alunos e, além disso, enquanto linguagem autônoma, é portador de sentidos e pode dialogar com conteúdos mais variados das disciplinas. Entretanto, para um bom resultado, o cinema precisa ser uma atividade prazerosa e bem preparada. Não pode ser algo para preencher horário vago ou ser obrigatório. Isso faz perder a proposta educativa”, avalia. Para Terezinha Avelar, tudo precisa ser pensado com cautela, desde a escolha do filme de acordo com a idade e maturidade dos alunos, as circunstâncias em que é apresentado, o tempo de exibição, o espaço físico arejado com acústica e iluminação adequadas, até uma boa conversa logo após, para ajudar os alunos a expressarem suas ideias, dúvidas e opiniões. “O filme transcende as fronteiras do inte- Banco de imagens Lei obriga a exibição de filmes nacionais nas escolas resse e da motivação e abre possibilidades de espaço para discussão, interpretação e inquietações de cada um”, diz. Trabalhar com o cinema em sala de aula, segundo a professora, é propiciar aos alunos o acesso a mais aprendizados de forma lúdica e criativa. “Assim, a seleção dos filmes pode ou não ter alguma articulação com os conteúdos a serem trabalhados na sala de aula, mas preci- sam ser bem escolhidos. Além disso, logo após a exibição e a conversa com os alunos, o professor precisa sentir, pelo envolvimento e desejo dos alunos se cabe ou não algum desdobramento, alguma ação como campanhas educativas (por exemplo, contra o bullyng) ou um festival de música. Porém, nunca uma atividade avaliativa, pois seria uma verdadeira desconstrução didatizar a sétima arte”. Em Belo Horizonte, a Oficina de Imagens (ONG que trabalha com Comunicação e Educação), desenvolve o projeto Cineclube Sabotage que é a exibição de um filme nacional por semana, seguido de um batepapo com os alunos, dentro da Escola Municipal Alcida Torres, no bairro Taquaril, desde 2009. Para a coordenadora do projeto, Nádia Rodrigues Pereira, o cinema é um grande aliado da educação e, assim, “a nova lei representa uma cadeia de mudanças importantes. Será uma mola propulsora, pois a obrigatoriedade criará um hábito, formando um novo público. Infelizmente, no Brasil, independentemente da classe social, não existe um grande público com a cultura do cinema. E este novos amantes da arte, por sua vez, provocarão a demanda por uma maior produção nacional, com qualidade, principalmente de filmes para crianças e adolescentes”, destaca. Segundo Nádia Pereira, por outro lado, a escola também terá que pensar em novas práticas e tecnologias de trabalho, desafiando inclusive os professores a se prepararem para se apropriar desta nova linguagem. “O interessante é que não só o professor de História ou Literatura, mas o de qualquer disciplina pode participar desta proposta, pois a Física, a Matemática, a Biologia, a Química estão na nossa vida em todas as situações. E o cinema fala da vida”, afirma. Jornal Extra-classe 145 • novembro 2014 14 Meio Ambiente Falta d’água ou de planejamento? Especialistas alertam que o poder público precisa garantir o acesso aos recursos hídricos A crise hídrica que afeta a região Sudeste do país já atinge quase 30 milhões de pessoas. Em São Paulo, o caso mais emblemático e grave, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) atribui a falta d’água às condições climáticas. Mas especialistas no assunto apontam que, embora a escassez de chuva seja um fator importante, o principal motivo é a falta de planejamento por parte do poder público. “Estou muito convencido de que esse não é um problema apenas climático. Evidentemente a represa de Cantareira está com volume baixo, mas por que a população de São Paulo não tem recebido água como deveria? Certamente existe por trás desse problema falta de planejamento adequado dos recursos hídricos, falta de expansão do sistema de captação de água”, afirma Léo Heller, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e atual relator especial para Água e Saneamento das Nações Unidas (ONU). Outros estudiosos do tema também avaliam que o governo de São Paulo teria privilegiado os lucros dos acionistas da Sabesp, a empresa que gerencia o setor no estado, em detrimento de mais investimentos para garantir o abastecimento da população. De acordo com a ex-relatora das Nações Unidas (ONU) para a questão da água, a portuguesa Catarina de Albuquerque, a grave crise hídrica em São Paulo é de responsabilidade do governo do estado. Ainda como titular do cargo, ela esteve em agosto no Brasil para discutir o tema da água como um direito humano e concedeu entrevista ao programa de TV do Sinpro Minas, o Extra-Classe, sobre a escassez dos recursos hídricos no mundo. Confira trechos da entrevista, cuja versão completa pode ser vista em www.youtube.com.br/sinprominas. Jornal Extra-classe 145 • novembro 2014 Para cada dólar investido em água e saneamento, economiza-se Quais são os riscos de enfrentarmos em curto prazo um problema sério, de grandes proporções, de acesso à água no mundo? Esse problema já existe atualmente. Há uma série de fatores que podem levar a uma piora da situação, como, por exemplo, as alterações climáticas. Mas nas missões que tenho feito em vários países, (realizei 15 missões nos últimos seis anos, em nome da ONU), vejo que a falta d’água não tem a ver necessariamente com escassez do recurso, mas antes com falta de planejamento, de priorização para o consumo humano e decisões políticas erradas, que vão dar prioridade para a indústria, a construção de campos de U$ 4,3 dólares em saúde 768 milhões de pessoas no mundo não têm acesso à água tratada Fonte: ONU Internet 15 golfe, o turismo, o agronegócio, ao invés de dar para as pessoas. Há também o problema de exclusão deliberada de certos grupos sociais do acesso à água. Por exemplo, eu estive na Eslovênia em uma missão e lá os ciganos não têm acesso à água. Eles têm de caminhar duas horas para ter acesso à água, num estado membro da União Europeia. Na Califórnia, nos Estados Unidos, um estado riquíssimo, encontrei imigrantes de origem mexicana sem água potável. É porque não existe água? Não, porque estamos falando de pessoas que não têm voz, que são vítimas de exclusão, estigmatização, discriminação, e não lhes é proporcionado o acesso a esse direito. Eu acho que está sendo tomada uma séria de medidas, o reconhecimento da água como um direito humano coloca uma pressão forte sobre os países, mas é verdade que estamos num cenário em que temos por um lado uma crise econômica afetando grande parte do mundo, uma crise ambiental, e tudo isso está colocando pressão sobre a água. As pessoas precisam se conscientizar que o acesso à água é um direito humano? Claro. Aliás, acho fantástica a iniciativa de vocês de fazer um programa sobre esse direito, porque eu acho que um princípio fundamental dos direitos humanos é o acesso à informação. Nós temos o direito à informação. Estive no Egito e o governo dizia que a água era de ótima qualidade, e, numa comunidade perto do Cairo, as pessoas diziam que não tinham confiança na qualidade da “ O Estado tem a obrigação de tornar esse direito uma realidade.” água. Então eu disse ao governo: ‘divulguem os dados sobre a qualidade da água’. Resposta: ‘isso é um segredo de Estado’. Portanto, não pode ser um segredo de Estado, é fundamental as pessoas tomarem conhecimento, professores, alunos, a população em geral, de que estamos falando de um direito. É óbvio que se estamos falando em direito também implica em responsabilidades da nossa parte, de não desperdiçarmos, de pagarmos a conta, se tivermos dinheiro no final do mês, etc. Mas também é importante percebermos desde pequenos que é uma obrigação do Estado. O Estado tem a obrigação de tornar esse direito uma realidade. Não é uma benesse que pode ser dada hoje e retirada amanhã. Não! Todos os governos no mundo têm a obrigação de tomar passos para realizar progressivamente esse direito para todos. Não é só para os mais ricos, não é só para quem mora nas grandes cidades, não é só para quem vive em países de maior renda, é para todos. E eu estive visitando comunidades que sofrem na pele com a má qualidade da água devido aos efeitos da agricultura. Na Califórnia, visitei uma senhora que me disse: ‘eu não sabia que a água do meu poço era de má qualidade’. Até que vieram alunos de uma universidade e estudaram a qualidade da água e, dias depois, correram e disseram: ‘não beba essa água, nem sequer escove os dentes com ela’. Aí ela me disse: ‘como eu posso não escovar os dentes e não beber se eu não tenho dinheiro para comprar água potável’. Isso foi efeito da indústria da agricultura e farmacêutica. Em vários países que visitei, há falta de regulação, de penalização, de fiscalização de todas essas indústrias. Estive na Tailândia, houve um caso muito sério em que uma megaempresa teve uma multa de 50 dólares. Quer dizer, irrisória! Qual leitura a sra. tem do acesso e da gestão das águas aqui no Brasil? Estive em dezembro do ano passado numa missão oficial para precisamente estudar e verificar a situação do direito à água e ao esgotamento sanitário no país, e redigi um relatório que vou apresentar ao Conselho de Direitos Humanos da ONU. A minha conclusão é doce e amarga. É doce porque vi em Brasília, no âmbito do governo federal, vontade política, priorização do setor. Dois dias antes de eu chegar ao Brasil foi publicado o Plano Nacional de Saneamento, e eu digo sempre que um plano nacional, uma estratégia nacional é reflexo de vontade política. Obviamente que as palavras não bastam, é preciso dinheiro, e o Plano Nacional prevê investimentos enormes nessa área. O grande desafio que o Brasil atravessa é que há um plano nacional, e agora precisa que esse plano se infiltre nos mais de cinco mil municípios. Quais são as soluções para enfrentar o problema? Quais recomendações a Senhora fez aos governos e à ONU nesse sentido? Olha, vontade política, dar prioridade ao setor, ter um orçamento que tenha uma verba específica para a água e o esgotamento, estratégias e planos nacionais e olhar para os mais excluídos e marginalizados. Fazer sempre a pergunta: quem estamos esquecendo, quem estamos ignorando? Quem está ficando de fora? E quais são as políticas que temos de adotar para chegar às pessoas mais vulneráveis, mais esquecidas. Jornal Extra-classe 145 • novembro 2014