PROJETOS ESPECIAIS ● ● AZUL MAGENTA AMARELO PRETO PÁGINA 1 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 17 h O GLOBOO • SUPLEMENTO GLOBO ESPECIAL SUPLEMENTO ESPECIAL Domingo, 9 de outubro de 2011 Rio de Janeiro Custódio Coimbra CARIOCA ABENÇOADO Idade maravilhosa, cheia de encantos. Aos 80 anos, o Cristo, redentor e fraterno, derrama generosamente sua eterna bênção sobre a Guanabara, como se o tempo não passasse. A estátua de concreto armado revestida de pedra-sabão — o mesmo material que Aleijadinho usava nos seus profetas — é hoje querida como um ser de carne e osso. Ganhou alma, alma carioca. Do alto dos seus 38 metros sobre os 710 do Corcovado, abraça e protege a cidade olímpica, tentando livrá-la de suas mazelas. Lá de cima, sob o seu olhar, o Rio se mostra grande, silencioso, e todas as diferenças desaparecem. Concebido como um símbolo da Igreja, hoje ele pertence a todos, de todos os credos. E, dia após dia, olha por nós, abençoados cariocas. ESCRITURA DE 1925 PROVA QUE A ESTÁTUA É NOSSA • Página2 AS DIFICULDADES DA CONSTRUÇÃO NO TOPO DO MORRO• Página3 O SIMBOLISMO DOS BRAÇOS ABERTOS • Página8 AS PRÓXIMAS REFORMAS NO CORCOVADO • Página9 OS DETALHES E AS CURIOSIDADES DA OBRA • Pôstercentral ● ● PÁGINA 2 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 18 h cristo 80 redentor ANOS 2 DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011 Reprodução/ Acervo Arquidiocese do Rio AZUL MAGENTA AMARELO PRETO Marc Ferrez/ Coleção Gilberto Ferrez/ Acervo Instituto Moreira Salles PROJETOS ESPECIAIS Reprodução/ Acervo Arquidiocese do Rio PÁGINAS DA Reprodução/ Acervo Arquidiocese do Rio escritura em que o autor do projeto e construtor do Cristo, Heitor da Silva Costa, cede os direitos sobre a obra para a Igreja O CORCOVADO, ainda sem o monumento ao Cristo Redentor, em foto de Marc Ferrez de 1886: no alto do morro havia um mirante chamado Chapéu do Sol ELE É CARIOCA Em sua edição vespertina das 18h, no dia 12 de outubro de 1931, a notícia da inauguração da maravilha de 1.145 toneladas, revestida por pequenos triângulos de pedra-sabão, ocupava toda a primeira página do GLOBO. A manchete do jornal reproduzia as palavras do então cardeal-arcebispo do Rio, dom Sebastião Leme, ao aspergir água-benta na base do monumento: “Christo reina, impera e livrará o Brasil de todos os males”. Com a presença de Getúlio Vargas, chefe do governo provisório, a solenidade foi o ponto alto de uma intensa programação, que começou no dia 4 e só acabou na noite de 12 de outubro, quando o Cristo foi iluminado, entrando definitivamente para a história da cidade. Uma das sete novas maravilhas do mundo, a estátua de 30 metros de altura, erguida em concreto armado sobre um pedestal de oito metros no alto do Corcovado, 710 metros acima do nível do mar, faz 80 anos nesta quarta-feira, mais brasileira e carioca do que nunca. Afinal, o Cristo foi imaginado em 1921 para festejar o centenário da Independência do Brasil (1922), mas o prazo exíguo impediu que ficasse pronto a tempo. Foram cinco anos para obter autorizações, escolher e detalhar o projeto. E mais cinco para erguer a estátua. Ele foi construído com dinheiro dos brasileiros, arrecadado através de uma campanha liderada por dom Sebastião Leme, considerado “a alma do monumento”. Documentos inéditos obtidos pelo GLOBO e fotos da época mostram que a construção seguiu a concepção do engenheiro e arquiteto carioca Heitor da Silva Costa. O projeto original, escolhido em concurso promovido pelo Círculo Católico — associação que reunia leigos católicos — apresentava o Cristo segurando o globo terrestre na mão direita e uma cruz na esquerda, mas foi modificado pelo próprio Silva Costa, a pedido da Igreja. Os cuidados da Igreja para resguardar direitos sobre o Cristo levou à elaboração de uma escritura pública. É o documento, assinado por Silva Costa em cartório, em 26 de junho de 1925, que, segundo a diretora jurídica da Arquidiocese do Rio, Claudine Milione Dutra, põe por terra o pleito de parte da família do escultor francês Paul Landowski — um dos colaboradores do monumento — que reivindica na Justiça direitos sobre a imagem do Cristo. Na cláusula segunda da escritura, o construtor cede os direitos autorais do projeto à Comissão do Monumento ao Cristo Redentor, sucedida pela Ordem Arquidiocesana do Cristo Redentor e pela Mitra Episcopal do Rio. A cláusula seguinte trata da contratação do escultor: obrigava Silva Costa a obter a transferência dos direitos autorais de Landowski para a comissão, sob pena de rescisão do contrato. — Os direitos morais daqueles que colaboraram na constru- Em escritura registrada em cartório, autor do projeto do Cristo cedeu à Igreja os direitos autorais da obra, reivindicados também por franceses da em pequenas peças, permitiu ver seu sonho concretizado. Símbolo inconteste da cidade a ampliação da estátua para o modelo final, reproduzido em 16 do Rio de Janeiro, o Cristo foi eleito, em 2007, uma das sete quilômetros de plantas. Embora o Cristo e o Corcova- novas maravilhas do mundo. E do pareçam inseparáveis, o mo- hoje figura ao lado da Grande numento poderia estar hoje no Muralha da China; da cidade healto do Pão de Açúcar, se tivesse lenística de Petra, na Jordânia; da cidade inca prosperado a de Machu Picprimeira su chu, no Peru; gestão do geda pirâmide de n e r a l P e d ro Chichen Itzá, Carolino Pinto no México; do de Almeida, Coliseu, em numa assemRoma; e do Taj bleia do CírcuMahal, na Ínlo Católico. Podia. Há cinco deria ter sido anos, ele é construído aintambém um da no Morro santuário. de Santo Antô— Hoje, o nio, no Centro. Cristo integra Com a escolha as forças tudo Corcovado, Heitor da Silva Costa, o construtor rística, ecolóo mirante cogica e religionhecido como Chapéu do Sol, que ficava no al- sa — diz o padre Omar Rapoto do morro, precisou ser rema- so, reitor do santuário. Para o arcebispo do Rio, dom nejado para uma área próxima. Na década de 40, a estrutura foi Orani Tempesta, 80 anos depois de sua inauguração, a simbolodesmontada e removida. Nos mapas do século XVI, o gia do monumento mudou: — Uma coisa era o período morro onde foi erguido o Cristo era chamado de Pináculo da pós-Primeira Guerra Mundial. Tentação, termo criado por na- Hoje, há preocupação com a vegadores em alusão ao monte violência, a inconstância. No onde o demônio teria tentado Je- dia 12, vamos recordar que, sus pela segunda vez. O nome neste mundo de tantas conatual surgiu no século XVIII. O trovérsias, de tamanha viopadre lazarista francês Pierre lência, temos alguém que é Marie Boss, que aportou no Rio colocado no alto do Corcovaem 1859, foi o primeiro a lançar a do, num sinal de acolhimento, ideia de um Cristo no Corcova- de vida, de salvação e de do. No livro “Corcovado, a mon- preocupação com o outro. ■ tanha de Deus”, Jorge Scévola de Semenovitch conta que, nos úlO GLOBO NA INTERNET timos anos do Império, Boss leConfira o especial sobre os 80 vou a sugestão à princesa Isabel. anos do Cristo oglobo.com.br/rio/cristo-80-anos O padre morreu em 1916 sem “ Se são grandes as dificuldades que enfrentamos, maior será a fama dessa obra colossal. A PRIMEIRA PÁGINA do GLOBO no dia da inauguração do Cristo ção estão preservados. Porém, os outros direitos foram cedidos à Arquidiocese — diz Claudine. O Cristo é resultado de um trabalho de equipe. Silva Costa é autor do projeto e construtor. Os desenhos levam a assinatura do pintor e gravurista Carlos Oswald. O engenheiro Heitor Levy foi o mestre geral. Pedro Fernandes Vianna da Silva, homem de confiança da igreja, ficou responsável pela fiscalização. Em 1924, com desenhos, estudos e maquete nas mãos, Silva Costa esteve na Alemanha, na Itália e na França. Optou por contratar Landowski. Ainda em Paris, escolheu Albert Caquot para os cálculos estruturais. Esculpidos em tamanho natural por Landowski na França, os moldes da cabeça e das mãos foram enviados ao Brasil em pedaços. No sítio de Levy, em São Gonçalo, foram transformados em peças de concreto. Para Landowski, foi encomendada ainda uma maquete de gesso com quatro metros de altura, que, corta- a PROJETOS ESPECIAIS ● ● AZUL MAGENTA AMARELO PRETO PÁGINA 3 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 18 h AS ESCADAS internas usadas para a manutenção do Cristo: monumento, construído em concreto armado e revestido com pedra-sabão, tem 38 metros de altura, o equivalente a um prédio de 13 andares cristo 80 redentor ANOS 3 DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011 VIA CRUCIS ATÉ VIRAR MARAVILHA Polêmicas, mudanças no projeto e dificuldades para erguer estátua no alto do Corcovado marcaram a obra Custódio Coimbra Uma obra de engenharia, arquitetura e escultura. Nessa ordem. Assim o arquiteto e engenheiro Heitor da Silva Costa, autor do projeto e construtor, destacava a importância do rigor matemático na obra do Cristo Redentor, cuja altura (38 metros, com o pedestal) corresponde a um prédio de 13 andares. Em seus escritos, Silva Costa classifica o projeto como ousado, tanto pela complexidade como pelo local, sujeito a fortes ventos e descargas elétricas. A parte mais difícil, disse ele, foi a dos braços, já que não havia no alto do morro área suficiente para apoiar os andaimes. O platô tinha 15 metros de largura, metade da distância entre as extremidades dos dedos. Apesar das condições adversas, nenhum operário morreu durante a obra. Sem falar que, na época, o acesso rodoviário ao Corcovado não ia além das Paineiras. Não fosse o trenzinho, que entrou em operação em 1885, o material, os engenheiros e os trabalhadores não teriam como subir. O corpo e os braços do Cristo foram considerados por Silva Costa como obra de engenharia e arquitetura; e as mãos e a cabeça, como escultura. A dureza do concreto armado foi quebrada pelo revestimento em pedra-sabão, material usado por Aleijadinho em suas obras. A estátua é coberta por pequenos triângulos (tesselas), que, juntos, formam um grande mosaico. O autor do projeto buscou inspiração em duas fontes que viu na galeria Arcade, na Champs-Elysées, em Paris. A pedido de dom Sebastião Leme, o monumento, que é oco, ganhou ao longo da obra um coração, que pode ser visto tanto por fora como por dentro da estátua, outro detalhe que humanizou a imagem. Tamanha importância foi dada ao coração que ele se tornou a única parte do monumento revestida internamente. — A verba limitada definiu a opção pelo concreto armado. O método, aliado à concepção arquitetônica da estrutura, com pilares, vigas e lajes, casca de argamassa armada e cabeça e mãos pré-moldadas, viabilizou a confecção do monumento. Essa união de fatores foi o determinante para a resistência e a longevidade da estátua. Somado a isso, o revestimento em pedrasabão contribui para a proteção da estrutura. O custo de manutenção também é baixo — diz o engenheiro Maurício Brayner, que cursou MBA em gerência de projetos na Fundação Getúlio Vargas (FGV), tendo o Cristo como objeto de estudo. A cada dia, Brayner observa um detalhe novo no Cristo: — Frequentemente me pergunto como eu faria essa obra se tivesse recebido hoje a encomenda. As soluções que me vêm à cabeça não fogem em quase nada às utilizadas. Usaria a grua, o elevador de carga, o plano inclinado (instalados no canteiro de obras). Talvez utilizasse uma bomba para levar o concreto até o alto do morro. Mas provavelmente ficaria mais caro. Além da difícil execução, a obra foi marcada pela polêmica. Elas começaram logo após o concurso do Círculo Católico, em que o projeto de Silva Costa — o Cristo segurando na mão direita o globo terrestre e, na esquerda, uma enorme cruz — saiu vencedor. Foram derrotadas as propostas de Adolpho Morales de Los Rios — uma capela sobre a qual ficava a imagem de Cristo de braços abertos — e de José Agostinho dos Reis — uma imensa cruz, com uma capela na base. Escolha feita, obter a cessão do terreno da União, no alto do Corcovado, era o próximo passo. Apesar das críticas de protestantes e de representantes de outras religiões, o então ministro da Fazenda, Homero Baptista, autorizou a transferência. Depois, voltou atrás, baseado em parecer do então consultor-geral da República, Rodrigo Otávio, que alegava ser inconstitucional privilegiar uma religião. Firme em seu propósito, a comissão encarregada de erguer o monumento encomendou pareceres jurídicos a especialistas. Numa outra frente, mulheres católicas lideraram um abaixo-assinado com 20 mil nomes em defesa da estátua. O documento foi entregue ao então presidente Epitácio Pessoa. Em seu livro “Corcovado, a conquista da montanha de Deus“, José Scévola Semenovitch conta que Pessoa se convenceu de que podia aprovar a obra, pois os católicos saíram na frente. “Se um representante de outra religião tivesse pedido antes a licença para a construção de um de seus símbolos no alto do Corcovado, teria sido dada, do mesmo modo, a autorização”, diz Scévola. A autorização foi concedida em fevereiro de 1922 e, em outubro do mesmo ano, lançada a pedra fundamental da obra. Um escárnio, uma injúria. Obra da ano depois, uma maquete do mais baixa vulgaridade, ela projeto exposta na Chapelaria constituiria, pelo decorrer dos séculos, uma Wa t s o n , n o verdadeira Centro, abriu imoralidade”, nova polêmiafirmou ele. ca. Para o poOs ânimos vo, ele virou “o se acalmaram Cristo da boquando dom la”, numa aluLeme pediu a são ao globo Silva Costa que terrestre. As fizesse um nocríticas vieram vo projeto, no também da qual o Cristo academia. Flefosse visto de xa Ribeiro, longe, e apreprofessor da sentasse conEscola Nacioteúdo simbólinal de Belas Artes, escre- Heitor Levy, mestre-geral das obras co mais forte. Com o novo veu artigo no projeto pronto, jornal “O Paíz”, pedindo a dom Leme que não era preciso registrá-lo na Escola permitisse a obra: “Como ex- Nacional de Belas Artes. Mais pressão, a figura do Cristo é um uma dificuldade. A comissão en- “ A inclemência do vento era de desafiar o mais destemido. Ninguém poderia se manter de pé sem se agarrar a um esteio. Reprodução/ Acervo Eloy D’Ecanio carregada de analisar o requerimento de Silva Costa não concedeu o registro, e um dos três membros, Morales de Los Rios — que também concorrera — acusou Silva Costa de plágio. Alegou que a proposta vencedora fora inspirada no Cristo dos Andes (inaugurado em 1904, na fronteira entre a Argentina e o Chile), e que a nova concepção era uma adaptação do projeto dele, apresentado no concurso. O registro acabou sendo dado por outra comissão. Mais uma polêmica surgiu, e bem no dia da inauguração. Estava tudo planejado para o Cristo ser aceso da Itália por Guglielmo Marconi, inventor do telégrafo sem fio. Uma das versões sustenta que o sinal teria chegado fraco ou nem chegado. E que o engenheiro Gustavo Corção teria sido encarregado Reprodução/ Acervo Eloy D’Ecanio OPERÁRIOS se equilibram nos andaimes durante a construção do monumento no alto do Corcovado (ao lado); acima, amostra do revestimento de pedra-sabão distribuída como suvenir na festa de inauguração, em 12 de outubro de 1931 de ampliá-lo. Mas o historiador Orlando de Barros, professor da Uerj, garante que Marconi conseguiu iluminar o Cristo a partir de uma estação de rádio em Coltano, pequena vila próxima a Pisa, na Itália. A informação consta de um capítulo do livro que Orlando lançará sobre italianos ilustres no Brasil. Marconi teria acendido 16 refletores às 19h15m. — No dia choveu, e o céu estava encoberto. O sistema funcionou. O problema foi que quase não se viu o Cristo — afirma o professor. Polêmicas à parte, não fosse a iniciativa de dom Leme de criar a Semana do Monumento, de 2 a 9 de setembro de 1923, para coletas nacionais, o Cristo não teria saído do papel. Em circular aos vigários, ele deu a orientação: “É preciso que se apele para todas as bolsas e não nos contentemos com o vintém sempre generoso do nosso grande e pobre povo”. Eles deveriam buscar contribuições daqueles que pudessem doar quantia não inferior a dez mil réis. E deveriam levar o pedido pessoalmente. Como só a metade do dinheiro foi arrecadada, foi necessária uma nova campanha. O Cristo custou 2.500 contos de réis, bem menos do que os 60.000 contos gastos com a Estátua da Liberdade (feita em estrutura metálica), que, desde 1886, está na entrada do porto de Nova York. É difícil saber hoje quanto custou o Cristo. O professor Moacyr Alvim, da FGV, estima o gasto entre R$ 4,85 milhões e R$ 11,46 milhões, valores obtidos por comparações com produtos da cesta básica, pois, na época da construção, não havia índices para medir a variação de preços. O economista André Furtado Braz, também da FGV, chegou a R$ 9,5 milhões, após a conversão de moedas e contas, levando em consideração índices de inflação e de preços. ■ O GLOBO NA INTERNET VÍDEO Assista ao vídeo com as imagens do interior da estátua oglobo.com.br/rio/cristo-80-anos PROJETOS ESPECIAIS ● ● AZUL MAGENTA AMARELO PRETO PÁGINA 4 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 19 h cristo 80 redentor ANOS 4 DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011 Acervo Eloy D’Ecanio O AUTOR do projeto e construtor Heitor da Silva Costa, com a neta Maria Helena no colo O MESTRE DE OBRAS Heitor Levy morou no Cristo Reprodução da internet Acervo família Vianna Acervo Bel Noronha OS CRIADORES O FISCAL Pedro Fernandes Vianna da Silva A grandiosidade do monumento e as dificuldades que tiveram de ser vencidas para a execução da obra mudaram a vida dos “criadores” do Cristo e de suas famílias, que até hoje guardam, como relíquias, documentos, cartas, fotos, livros e recortes de jornais. Tão intenso foi o seu envolvimento com o trabalho que o engenheiro judeu Heitor Levy, mestre-geral da obra, converteu-se ao cristianismo e concretou no coração do Cristo uma garrafa, onde pôs um pergaminho com os nomes de seus ascendentes e descendentes. Já o engenheiro e arquiteto Heitor da Silva Costa, autor do projeto e construtor, dedicou um livro de poemas ao “Christo Redemptor”. Silva Costa gostava de escrever. Em três livros e em textos da edição especial da revista “O Cruzeiro”, de 10 outubro de 1931, o engenheiro narra detalhes da construção. — Ele conseguiu fazer uma obra extremamente complexa, cujo resultado final é de uma simplicidade absurda. Isso é um mérito — orgulha-se Maria Izabel Seabra de Noronha, a cineasta Bel Noronha, bisneta de Silva Costa. O baú dos Silva Costa é volumoso. Na pesquisa sobre o bisavô, Bel encontrou até originais de movimentos de caixa e balancetes da Comissão do Monumento ao Cristo Redentor, informando sobre pagamentos efetuados, compras, donativos e saldos depositados em bancos. Os nove anos de pesquisa resultaram em dois documentários e numa exposição. Agora, ela está concluindo o livro “Redentor — de braços abertos”, que será lançado em dezembro. O que Silva Costa imaginava era levado para o papel pelo pintor e gravurista Carlos Oswald, católico fervoroso que nasceu em Florença, na Itália, e aos 32 anos mudou-se para o Brasil. Foram desenhos e mais desenhos do primeiro projeto e, depois, da concepção definitiva do Cristo. Alguns dos estudos estão no acervo de Maria Isabel Oswald Moreira, uma das três filhas do artista, que teve também quatro filhos. — Papai pensou em fazer uma bainha grega na túnica do Cristo, que não foi aprovada — revela dona Maria Isabel, de 92 anos. Quando o pai trabalhou nos desenhos do Cristo, Isabel era uma menina. Mas ela se recorda de Oswald falar sobre a importância do monumento para o Rio e de relatar a visita que fez ao interior da estátua, durante a construção: — Ele esteve na ponta de uma das mãos e ficou com medo, porque era muito alto. No dia da inauguração, Isabel estava na casa da família, em Petrópolis, e perdeu a festa. Ela resume numa só palavra as visitas que fez depois ao Corcovado: deslumbramento. — O Cristo é muito o papai. É muito o desenho dele — acrescenta, emocionada. Heitor Levy, que nasceu em Trieste, na Itália, vindo para o Rio em 1892, não arredou pé do Corcovado ao longo dos cinco anos de obras. Cinco anos, aliás, em que operários e engenheiros viveram momentos de perigo. Apesar das dificuldades enfrentadas, relatadas numa carta escrita por Levy em 1931, não houve baixas durante a construção. Mas o próprio engenheiro viu a morte de perto. Ao termi- nar o revestimento de um dos braços, um caibro sob seus pés se rompeu: “De passagem para o abismo, sou acolhido por um braço generoso e possante, que, com risco de acompanhar-me, me detém na queda fatal. Os meus pés procuraram em vão um ponto de apoio. Nesse estado precário e desatinado, grito em vão para que me larguem e, depois de grandes esforços e peripécias, conseguiram me sal- Acervo da família Oswald Reprodução do livro “O Cristo do Corcovado” “ O ESCULTOR Paul Landowski fez a cabeça e as mãos Como ninguém pode ir a Paris sem subir ao alto da Torre Eiffel, como não se pode entrar no porto de Nova York sem se avistar a Estátua da Liberdade, não se poderá falar dentro em breve da cidade do Rio sem fazer referência ao Cristo. O PINTOR e gravurista católico Carlos Oswald, num autorretrato Acervo das famílias reúne documentos, fotos, cartas e até diários que revelam histórias curiosas, como a do mestre de obras que pôs o nome dos parentes numa garrafa e a concretou no coração do Cristo Redentor var”, conta Levy na carta. Levy tinha o hábito de escrever atrás das fotos e fez anotações na edição especial de “O Cruzeiro”. Sobre uma imagem da festa de inauguração, puxou uma seta e registrou: “Este operário me salvou quando caí do andaime”. Além disso, assinalou na revista modificações que fez no projeto. Caso de uma intervenção para manter a cabeça do Cristo ligeiramente inclinada. O CALCULISTA Albert Caquot: colaboração francesa Bem guardada também está a planta do alto do Corcovado, que teve de ser desenhada pelo engenheiro, já que o local não fora mapeado pela prefeitura. O desenho original do canteiro de obras, idealizado por Levy, é outra relíquia, assim como pedras-sabão distribuídas no dia da inauguração. — Foram cinco anos de dedicação, fé, paixão, amor e coragem — resume Eloy Homero Heitor da Silva Costa, autor do projeto Pinho D’Ecanio, bisneto de Levy que planeja montar um site sobre o bisavô. Como membro da Comissão do Monumento ao Cristo Redentor, o engenheiro carioca Pedro Fernandes Vianna Filho foi designado para uma função de inteira confiança da Igreja: a de fiscalização. Era ele que se responsabilizava, junto à Arquidiocese, por resultados do trabalho, certificação de serviços prestados e liberação de pagamentos. — A participação de meu avô foi de alma, de envolvimento total na construção desse monumento colossal — diz o neto Aloysio Vianna da Silva. Filho do fiscal, o engenheiro Oscar Vianna da Silva também entrou para a história do monumento. Apaixonado por cinema, ele filmou numa Pathé Baby, máquina movida a manivela, as várias etapas da construção. — Tio Oscar esteve presente nos momentos mais importantes da obra, fazendo um trabalho amador — conta Aloysio. Em seu diário, Paul Landowski, escultor francês de origem polonesa, também deixou registrado o dia a dia em seu ateliê de Paris. A cópia do documento, obtida e registrada em cartório por Bel Noronha, revela o valor acertado para Landowski fazer os moldes em gesso da cabeça e das mãos, além da maquete de quatro metros: 130 mil francos. A firma francesa Pernald Considère et Caquot não existe mais. Porém, a exemplo das famílias brasileiras, a École Nationale des Ponts et Chaussées, onde estudou o calculista do Cristo, Albert Caquot — um dos mais respeitados profissionais da Europa — ainda guarda relíquias como um rascunho dos cálculos do monumento e uma carta dele para Silva Costa. ■ O GLOBO NA INTERNET VÍDEO Famílias falam das contribuições dos antepassados para a obra do Cristo. Assista oglobo.com.br/rio PROJETOS ESPECIAIS ● ● AZUL MAGENTA AMARELO PRETO PÁGINA 5 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 19 h cristo 80 LYGIA MARIA: “Eu escrevia redentor ANOS uma porção de 5 nomes, com caneta, atrás das pedrinhas” DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011 Ana Branco A professora de inglês e tradutora Maria Tereza Sodré tinha apenas 10 anos quando embarcou no trenzinho do Corcovado para assistir à festa de inauguração do Cristo Redentor, acompanhada da família. Ela era uma criança, mas ainda se recorda das plataformas da estação lotadas e da pomposa cerimônia no alto do morro: — Foi uma festa linda, emocionante. Filha do cunhado do construtor, desde pequena ela ouvia falar da complexidade da obra, cuja execução acompanhou a partir das ruas do Leme, onde morava: — É uma obra de engenharia maravilhosa, arrojada. Um trabalho complicadíssimo. Os braços vão além do morro. Não havia onde botar os andaimes para sustentar a obra. Não sei como conseguiram executar o serviço sem ter um suporte na terra para segurar os braços. Do ponto de vista da engenharia, é uma das coisas mais extraordinárias que já vi — ressalta Maria Tereza, aos 90 anos. Após a inauguração do Cristo, ela perdeu as contas do número de visitas ao Corcovado. A explicação: o marido era advogado de empresas multinacionais e cabia a ela acompanhar mulheres de estrangeiros em passeios pelo Rio. MOSAICO DE LEMBRANÇAS Maria Tereza esteve na festa de inauguração, e Lygia ajudou a colar os pequenos triângulos de pedra-sabão que revestem o monumento MARIA TEREZA Sodré tinha dez anos na época da inauguração: “Foi uma festa linda, emocionante” Gabriel de Paiva — Levei muitas senhoras canadenses e americanas ao Cristo. Era programa obrigatório. E a vista do Rio, lá do alto, é uma beleza — diz Maria Tereza. Ela lembra que, na época da construção, senhoras da sociedade se reuniam numa casa paroquial vizinha à igreja de Nossa Senhora da Glória, no Largo do Machado, para colar pequenos triângulos de pedra-sabão num papel especial, que era aplicado no revestimento da estátua. Mas ela era pequena para participar do trabalho. A caçula do grupo que passava as tardes colando pedrinhas era dona Lygia Maria Ávila da Veiga, na época com 16 anos. Ela ia com a mãe: — Eu escrevia uma porção de nomes, com caneta, atrás das pedrinhas. Coloquei nomes em penca, mas não o meu. Escrevia e colava uma pedrinha perto da outra. Tinha que encaixar bem direitinho, para não entrar água. Fazia isso com uma facilidade enorme, bem depressa. Apesar de ser a única adolescente, Lygia se divertia: — Era animado. Cada senhora levava alguma coisa para comer, e todo mundo conversava. No dia 12 de outubro de 1931, Lygia assistiu ao acendimento dos refletores de um lugar privilegiado: a Casa de Saúde São José, no Humaitá, onde o único irmão, Fernando, estava internado, já que tinha sido operado de apendicite na véspera. — Minha mãe saiu do quarto e, quando voltou, não nos encontrou. Ela levou um susto danado, com medo de que o Fernando tivesse saído andando. Havia um enfermeiro, um alemão fortão, que pegou meu irmão no colo e o levou para ver a iluminação. Vimos tudo de baixo. Foi uma beleza. Ficou claro logo. Para mim, foi muito importante. Eu me lembrei das coisas que tinha feito aqui embaixo, das pedrinhas que eu tinha colado — conta Lygia, orgulhosa de seus 96 anos. ■ O GLOBO NA INTERNET VÍDEO Testemunhas contam histórias sobre o Cristo. Assista oglobo.com.br/rio ● ● cristo 80 redentor ANOS 6 UM ZEPPELIN cruza o céu da Glória no início da década de 30; no sentido anti-horário, cena do clássico “Limite”; capa de “O País do Carnaval”, de Jorge Amado; Noel Rosa; o prefeito Pedro Ernesto; e a DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011 AZUL MAGENTA AMARELO PRETO PÁGINA 6 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 19 h Augusto Malta/ Acervo Museu da Imagem e do Som PROJETOS ESPECIAIS bela Carmen Miranda Arquivo Reprodução da internet Divulgação/ Annemarie Heirich Divulgação NO RIO DE 1931, Arquivo NOEL E ZEPPELINS Numa cidade cada vez mais cosmopolita, cariocas sambavam ao som de Noel Rosa, grudavam os ouvidos no rádio e se rendiam ao talento da jovem Carmen Miranda, enquanto dirigíveis cruzavam os céus da cidade O Cristo Redentor surgiu, em 1931, junto com uma nova era para o Rio de Janeiro. Desde o ano anterior, o então Distrito Federal era o centro da ebulição política causada pela Revolução de 30. Mas Getúlio Vargas não é o único responsável pelas mudanças. No campo social, o prefeito Pedro Ernesto, que assume o cargo de interventor em setembro, promove profundas transformações nos campos da educação e da saúde. O jeito afrancesado da cidade dá lugar a um estilo mais cosmopolita. No rádio, uma jovem de 22 anos chamada Carmen Miranda começa a chamar atenção. O ecletismo dominante na arquitetura da República Velha cede espaço ao art déco e ao modernismo. A aplicação do concreto armado facilita a construção de arranha-céus pela cidade. No campo industrial, o Rio já perde para São Paulo, mas conserva o prestígio político, como conta o historiador Orlando de Barros, professor da Uerj. Um filme lançado dois anos depois da inauguração do monumento resume o espírito da época: “Voando para o Rio”, um clássico de Hollywood, usa a cidade como cenário para a estreia da dupla Ginger Rogers e Fred Astaire (pela primeira vez juntos no cinema). Num dos números do musical, mulheres dançam em cima de aviões, tendo a paisagem carioca como pano de fundo. — O Rio não era mais a cidade portuguesa do período colonial, nem a francesa do Pereira Passos. Era uma cidade cosmopolita, uma cidade do mundo, como era Nova York — diz Alberto Taveira, arquiteto do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac). Na medida em que o Brasil rural ficava para trás, o Rio se urbanizava. O IBGE não tem dados da população na década de 30. Mas, em 1920, os habitantes do então Distrito Federal somavam pouco mais de um milhão: 1.157.873. Em 1940, já eram 1.764.141 — um aumento de mais de 600 mil, ou de 52% em duas décadas. NO DIA DA inauguração do monumento, aviões da Esquadrilha da Fumaça fazem exibições sobre a estátua do Cristo Redentor Acervo do colecionador Fernando França Leite Orlando de Barros afirma que em 1931 o Rio vivia o clima renovador da Revolução de 30. Na administração do Distrito Federal, Pedro Ernesto empreende a ampliação das redes públicas de saúde e educação. — Ele (Pedro Ernesto) era médico de profissão e achava que a saúde pública deveria ser tarefa do estado. Ele tinha uma sensibilidade social muito grande, construiu escolas em favelas — conta o professor da Uerj. Ao longo da década, também houve avanços na distribuição de eletricidade e nos meios de transporte, que ganharam mais linhas de bondes. Em 1937, os trens suburbanos foram eletrificados. A cidade despertava a curiosidade de estrangeiros, que aproveitavam o desenvolvimento dos transportes para viajar. Pouco antes da inauguração do Cristo Redentor, o alemão DO-X, maior hidroavião do mundo, com três andares, fez escala no Rio. Esquadrilhas italianas também cruzavam os céus. Como os aviões, os zeppelins alemães construído em Santa Cruz para os dirigíveis, que fizeram eram motivo de excitação. Velocidade é uma das pala- dezenas de viagens ao Rio envras mais usadas para definir tre 1930 e 1937, como conta o poeta Alexei Bueno, ex-diretor a época. — A aviação era heroica e do Inepac. Na arquiteespetacular, tura, um dos altamente símbolos da performática. década é o PaSignificava lácio Gustavo um prestígio Capanema, enorme para um dos maros países — explica Orlan- Por sobre o monumento cos do modernismo brasido de Barros. voltejam os aviões. leiro, consNa edição truído entre de 3 de setem- É a homenagem 1936 e 1945. bro de 1931, O das nossas águias, — O Rio de GLOBO noti- que deixaram o ninho, 1930 é uma ciava: “De capital onde F r i e d r i s - pela madrugada, para chshafen ao saudarem o Rei do Céu. desaparecem os símbolos Rio em cinco O GLOBO de 12-10-1931 da Belle Épodias!”. O Graf que, como a Zeppelin, junto com o Syndicato Condor, arquitetura eclética e a literabatera todos os recordes com tura pré-modernista, substiuma viagem entre a Alemanha tuídas pelo dominante art dée o Brasil — de dirigível até co, pela arte e literatura moRecife, e de avião de Recife ao dernas e, enfim, pela arquiteRio. Um hangar foi depois tura moderna, cujo símbolo “ maior é o magnífico edifício do Ministério da Educação e Saúde, atual Palácio Capanema — resume Bueno. Os anos 30 começam com a onda do rádio. Em 1931, Carmen Miranda, aos 22 anos, já firmava seu nome como artista nacional. No ano anterior, ela estourara com “Taí”. — Os anos 30 são diferentes também por causa de uma novidade, introduzida na década anterior, que se torna avassaladoramente importante, que é o rádio — destaca Orlando de Barros. Mesmo depois do carnaval de 1931, cariocas continuariam cantando o maior sucesso dos dias de folia: “Com que roupa”, de Noel Rosa. Já a literatura ganharia no mesmo ano a publicação do primeiro romance de Jorge Amado, “O País do carnaval”. O filme “Limite”, de Mário Peixoto, exibido pela primeira vez em 17 de maio de 1931, no Cinema Capitólio, na Cinelândia, entraria para a galeria de obras-primas do cinema nacional. ■ DE VOLTA, A ESQUADRILHA DA FUMAÇA Festa dos 80 anos terá coro de vozes cantando ‘Ave Maria’ às 18h Quem for assistir ao “Show da Paz”, em comemoração aos 80 anos do Cristo Redentor, na noite do dia 12, no Aterro do Flamengo, deve vestir branco. O pedido é dos organizadores da festa. Chegar na hora marcada também é importante. O reitor do Santuário do Cristo Redentor, padre Omar Raposo, avisa que o evento, num palco armado junto ao Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, começará às 18h em ponto, com um coral de 500 vozes cantando “Ave Maria”. Estão confirmadas 30 atrações, entre elas a cantora de jazz americana Stacey Kent. Vão ● participar ainda do evento Beth Carvalho, Elba Ramalho, Fernanda Abreu, Leila Pinheiro, Marcos Valle, Miúcha, sambistas da Mangueira e da Beija-Flor e Zeca Pagodinho, entre outros. O padre Omar também vai cantar e tocar piano. O show será gravado e distribuído pela gravadora EMI Music nos formatos CD, DVD e blu-ray. No alto do Corcovado, os festejos vão começar ainda na véspera do dia do aniversário, às 22h, com uma vigília de 80 jovens da Pastoral da Juventude. Às 8h do dia 12, haverá uma bênção aos visitantes. Como na inauguração do mo- numento, há 80 anos, aviões da Esquadrilha da Fumaça vão sobrevoar o Cristo Redentor. Ainda no alto do morro, haverá missa celebrada pelo arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, e até um bolo com oito metros de altura será repartido com os visitantes. No evento, serão inaugurados os bustos de Heitor da Silva Costa, autor do projeto e responsável pela obra do Cristo, e de dom Sebastião Leme, arcebispo do Rio que levou adiante a ideia de construção da estátua. Como parte das comemorações, hoje, a partir das 8h30m, é a vez de a Praça da Apoteose, no Sambódromo, receber o encontro “O Espírito sopra onde quer”. Uma réplica do Cristo Redentor, medindo três metros de altura, permanecerá no palco durante todo o evento. Para entrar, basta levar um quilo de alimento não perecível. O encontro terá as presenças de padres do Rio e do sacerdote da Canção Nova, padre Roger Luís. Haverá pregações, shows e a celebração de missa, às 16h30m, presidida por dom Orani. ■ a O GLOBO NA INTERNET Veja a programação completa das festividades oglobo.com.br/rio PROJETOS ESPECIAIS ● ● AZUL MAGENTA AMARELO PRETO PÁGINA 8 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 20 h cristo 80 redentor ANOS 8 O CRISTO com a Lagoa ao fundo: “É o homem com a sua mais ampla DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011 envergadura, pronto para o abraço”, diz o diretor de teatro Aderbal Freire-Filho Ivo Gonzalez/ 8-5-2007 Os olhos abertos, a face serena levemente inclinada para baixo, os braços estendidos. O Cristo foi concebido tendo como simbologia a redenção. Mas, do alto do Corcovado, o monumento em art déco — estilo que floresceu depois da Primeira Guerra Mundial com uma filosofia ligada à felicidade — parece olhar ternamente e abraçar cariocas e visitantes. A imagem do acolhimento acabou se sobrepondo à ideia de salvação, representada pela cruz, e ultrapassou as fronteiras do catolicismo. — As mãos espalmadas significam a disposição para dar, acolher, proteger. Os olhos abertos representam a permanente atenção sobre o Rio, sua gente e os que se aproximam do Rio, uma vez que seu olhar se dirige à entrada da Baía de Guanabara. Sua posição nas alturas é icônica: ele está acima de tudo e de todos, garantindo-nos a vida e a provisão infinita de paz e harmonia. Em síntese, o Cristo Redentor é o cartão-postal e o cumprimento de boas-vindas ao Rio, ao Brasil — diz a semióloga Darcilia Simões, coordenadora do Laboratório Multidisciplinar de Semiótica da Uerj. Ao substituir o projeto original pelo atual modelo, o engenheiro e arquiteto Heitor da Silva Costa manteve a ideia de redenção que constava da primeira proposta: “A cruz foi armada, em meu segundo projeto, pelo tronco ereto e pelos braços horizontais; desta forma, temos a cruz formada por tua imagem, Jesus, e o mundo tem-no a seus pés, na cidade e no oceano imenso a se perder de vista”, disse Silva Costa num de seus escritos. Para o arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, hoje, assim como na época da construção, o Cristo Redentor ainda lembra a cruz, que é um sinal de salvação. No entanto, ele concorda que os braços abertos acabaram mais caracterizados como símbolo de acolhimento. — Ser acolhedor faz parte das culturas carioca e brasileira. Acolhemos todos que vêm aqui — destaca dom Orani. Reitor do Santuário Cristo Redentor, padre Omar Raposo lembra que, embora em sua origem os braços abertos do Cristo representem a cruz, a imagem — que tem as chagas nas mãos — não sugere sofrimento: — O Cristo crucificado também é o Cristo ressuscitado. Então, já há a vitória. Cristo não está mais na cruz. Ele ressuscitou. A mensagem da ressurreição é a mensagem da esperança, da vitória, da certeza, do acolhimento e do amor. Porque Cristo viveu e morreu de braços abertos. A vida dele foi uma vida machucada pela bondade, acolhendo a todos, recebendo a todos. No alto da cruz, também estava de braços abertos, e depois na ressurreição. A redenção é o movimento após a crucificação. Aliás, toda crucificação é redenção. A teóloga Maria Clara Bingemer, professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio, afirma que os braços abertos — que representam o Cristo ressuscitado — imprimem perfeitamente a mensagem de acolhida e reconciliação entre o céu a terra. Para a teóloga, no alto do Corcovado a imagem também revela outros sinais. — O fato de poder ser visto de vários pontos da cidade faz com que ele seja como um guia. Quando está perdido, você olha na direção do Cristo e consegue se orientar. Tem uma simbologia bonita. O Cristo é a luz do mundo, e tenho a sensação de ele estar ali nos guiando — afirma Maria Clara. Já Darcilia Simões explica que a tradição cristã enriqueceu a simbologia da cruz, que sempre representou as direções. — A configuração do Cristo Redentor em forma de cruz reúne a simbologia da orientação e da proteção — completa a professora da Uerj. O diretor de teatro Aderbal Freire-Filho reforça a ideia do Cristo como síntese do espírito carioca. No seu gesto mais largo, a imagem ganha uma representação teatral, diz ele: — É bom que não seja uma cruz, que não sejam braços ESTÁTUA “ PARA QUEM O LEITOR ABRIRIA OS BRAÇOS HUMANA Especialistas afirmam que gesto e semblante foram além da ideia original de redenção, transmitindo a sensação ‘daquele abraço’ Ivo Gonzalez/ 8-05-2007 Eu abriria os braços para o amor entre as pessoas, a tolerância religiosa e sexual, a solidariedade e a igualdade que ainda insistem em fugir de nós moradores desse lugar tão espetacular que é o Rio. Anderson Lima Dos Santos, via Facebook Eu abriria os braços para abraçar a Guanabara e morrer num pôr do sol. Bruno Brasil, via Facebook Eu abriria os braços para você, meu Cristo Redentor, e juntos abraçaríamos todos à nossa volta em busca de paz! Clivia Bulhões, via Facebook Eu abriria os braços para minha cidade inteira! Não existe nenhum lugar no mundo tão lindo! Rio de Janeiro... @denisepazito, via Twitter Eu abriria os braços para um Brasil sem corrupção. @MonickCamara, via Twitter Eu abriria os braços para educação e saúde de qualidade. AS MÃOS espalmadas significam disposição para dar, acolher e proteger, segundo professora da Uerj abertos à força, mas braços abertos por querer. É o homem com a sua mais ampla envergadura, pronto para o abraço. Ele é um ator que mostra que é maior do que o palco. Por tudo isso, ele supera a visão puramente religiosa. As religiões são muito cheias de amor, mas também muito cheias de dores. Aquele camarada prefere ver como carioca. Para Márcio Roiter, presidente do Instituto Art Déco Brasil, o Cristo, considerado o maior monumento art déco do mundo, não poderia estar, no imaginário dos cariocas, ligado ao sofrimento da crucificação. — O art déco é o estilo do bem, da comemoração do ser humano, leve, iluminado. E o Cristo está dentro dessa ordem — destaca o presidente do instituto. — Tenho uma coleção de cartazes que vendem passagens aéreas e o Cristo sempre aparece nelas como a figura do “welcome to Brazil”. Ele não é só um símbolo da Igreja Católica, mas um símbolo de paz. ■ @bob_aee, via Twitter Eu abriria os braços para comemorar o aniversário do meu, do nosso cartão-postal. @xandyakko, via Twitter Eu abriria os braços para um mundo sem guerra, sem fome e sem doença. Cilene Duarte, via Facebook PROJETOS ESPECIAIS ● ● PÁGINA 13 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 22 h AZUL MAGENTA AMARELO PRETO cristo 80 redentor ANOS 9 DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011 A FUTURA estrutura Divulgação/ Maurício Prochnik envidraçada, projetada para dar mais conforto aos visitantes (ao lado), e o novo terminal do trenzinho (abaixo) SEMPRE ABERTO A REFORMAS Divulgação/ Maurício Prochnik Modernização do complexo turístico prevê ligação da torre de elevadores com os pontos de embarque e desembarque, melhoria da acessibilidade e instalação de catracas para controle do número de visitantes Aos 80 anos, o Cristo Redentor se encontra em boa forma, mas seu entorno, nem tanto. A infraestrutura turística em volta do monumento ainda é precária. Faltam banheiros, acessos para portadores de deficiência e pessoas com dificuldade de locomoção, posto médico e um sistema de controle do número de visitantes. Para preencher essas e outras lacunas, foi elaborado a pedido do Parque Nacional da Tijuca, com apoio da Fundação Roberto Marinho, um anteprojeto arquitetônico que pretende repaginar todos os espaços utilizados por cariocas e turistas que vão ao Cristo. O estudo prevê uma construção envidraçada, em três níveis, ligando os pontos de embarque e desembarque (do trenzinho e das vans) à torre dos elevadores. Nesse grande corredor, cadeirantes poderão circular sem obstáculos, e serão implantados sanitários, uma loja, um pequeno café e um centro médico. O subsolo ganhará salas administrativas, vestiário e refeitório para funcionários. Autor da proposta, o arquiteto Maurício Prochnik incluiu a instalação de catracas eletrônicas no acesso ao monumento, antes dos elevadores. Os equipamentos teriam como objetivo controlar o fluxo de visitantes, não permitindo mais de 1.200 ao mesmo tempo. Este ano, o Cristo chegou a receber, num único dia, 11 mil pessoas. Anualmente, cerca de dois milhões de pessoas visitam o Parque Nacional da Tijuca, sendo que 1,5 milhão tem como destino o Cristo. Os esboços de Prochnik — responsável também pelo projeto das escadas rolantes e elevadores, em funcionamento desde 2003 — levam em consideração a expectativa de aumento de visitantes no ponto turístico com os eventos internacionais que a cidade sediará, como a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Pelos cálculos da empresa Trem do Corcovado, apenas nos últimos dois anos o movimento no sistema aumentou 14%. Para atender à demanda crescente, a concessionária planeja comprar quatro novos trens, fabricados na Suíça, que dobrariam a capacidade de transporte de passageiros: de 300 para cerca de 600 por hora. A aquisição dos trenzi- vestimento, que, segundo ele, nhos, ao custo de R$ 64 mi- não teria impacto na tarifa (R$ lhões, está sendo negociada 43 a inteira e R$ 21 a meia): — A viagem, que demora com o Ministério do Planejamento. O governo federal pre- hoje 20 minutos, vai levar 13. cisa bater o martelo sobre a Esses novos trens serão 30% renovação do contrato atual, mais econômicos e terão espaque termina em 2013. O dire- ço para bicicleta, cachorro e tor da empresa, Sávio Neves, patinete para quem quer ir até diz que a concessão pode ser as Paineiras. E l e re v e l a ampliada em que a empreoito ou 14 s a p re t e n d e anos, depena i n d a re f o r dendo do fimar toda a esnanciamento. tação do CosEle afirma esme Velho. O perar uma re s p o s t a d o Sim, aqui está o pedestal espaço seria ampliado com ministério até único no mundo! a criação de o fim de nomais um nível, vembro, para Quando vem a estátua ligado por esque as novi- colossal, imagem de cadas rolandades postes. sam ser inau- Quem me fez? A proposta g u r a d a s a n- Padre Boss (primeiro a sugerir para o entort e s d a C o p a um Cristo no Corcovado), em 1903 no do Cristo de 2014. tem a aprovaOs novos trens terão o mesmo tamanho ção do Instituto do Patrimôdas composições atuais, mas nio Histórico e Artístico Naganharão em velocidade e, por cional (Iphan), mas depende isso, poderão levar 300 passa- de parceiros. O anteprojeto geiros por hora — mesmo nú- ainda precisa ser transformero transportado pelas sete mado em projeto executivo, composições em circulação, ad- o que pode levar um ano. A construção contará com quiridas na década de 80. O diretor da empresa Trem do Cor- um salão para os passageiros covado lista as vantagens do in- que aguardam o trenzinho. As “ Marcelo Carnaval/ 28-10-2008 Acervo de Eloy D’Ecanio A CONSTRUÇÃO do mirante do Cristo, no início da década de 40 CRISTO ROSA: iluminação para campanha contra o câncer de mama vans que fazem a ligação entre as Paineiras e o alto do morro ganharão um estacionamento novo e organizado. — O grande problema hoje é a quantidade de pessoas que visita o monumento. E a tendência é aumentar. Essa desorganização pode gerar problemas de segurança — afirma Prochnik. A nova estrutura será localizada do lado norte, ficando voltada para Santa Teresa. Prochnik garante que a obra não comprometerá a paisagem. Junto com a cafeteria, que será remodelada, todas as intervenções atingirão uma área de cerca de 2.800 metros quadrados no alto do morro. — A iluminação não ofuscará o monumento e nem será vista de baixo — completa o arquiteto, que considera esta a maior obra na área da estátua. No dia 1 o- de março deste ano, o Cristo Redentor passou por sua última reforma, quando ganhou uma sofisticada iluminação concebida pelo artista plástico Peter Gasper. Na época, foram instalados 300 projetores de LED no sistema RGB (sigla em inglês para as cores vermelho, verde e azul), que são mais econômicos e podem ser acionados até por telefone celular. As cores têm sido usadas em campanhas e eventos especiais. Embora inaugurado em 1931, somente no ano seguinte o Cristo Redentor ganhou sua primeira iluminação definitiva, por iniciativa do GLOBO. O mirante também demorou. A estátua e a pequena capela dedicada a Nossa Senhora Aparecida, encravada no pedestal do monumento, foram entregues à população sem que as escadarias e as muralhas de pedra tivessem sido concluídas. O mirante e as novas escadarias surgiram no início da década de 40. O projeto foi notícia do jornal “A Noite” quando apresentado por Heitor Levy, mestre de obras do Corcovado, a Heitor da Silva Costa, autor do projeto e construtor do Cristo. Na reportagem, Levy dizia que o objetivo era descortinar o monumento desde a sua base. A obra decretou o fim do tradicional Chapéu do Sol, ponto de observação que, durante a construção do Cristo, havia sido remanejado para o lugar onde hoje funciona um restaurante. Em 1980, o monumento foi reformado para a visita do Papa João Paulo II, no dia 2 de julho. Dez anos depois, a estátua passou por nova re- cuperação, por meio de um convênio entre a Mitra, a Rede Globo, a Shell, o Ibama, o Sphan (que precedeu o Iphan) e a prefeitura do Rio. Em 2003, foi inaugurado o sistema de escadas rolantes, passarelas e elevadores de acesso ao monumento, uma parceria entre a Fundação Roberto Marinho, a Mitra, o Banco Real, a Gerdau, o Ibama e a prefeitura. No ano passado, a estátua passou por uma restauração promovida pela Vale, em parceria com a Arquidiocese do Rio. As obras incluíram a recuperação da estrutura interna, a restauração do mosaico de pedra-sabão, com a retirada da pátina biológica (camada de fungos e outros microorganismos) e a recomposição de danos provocados por pequenas rachaduras. Também foram consertados os para-raios localizados na cabeça e nos braços do Cristo. ■ PROJETOS ESPECIAIS ● ● AZUL MAGENTA AMARELO PRETO PÁGINA 14 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 22 h cristo 80 redentor ANOS 10 DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011 Ana Branco Márcia Foletto AS EMOÇÕES DE 3 MARIA ALZIRA (de chapéu, no alto), Maria de Jesus (acima) e Maria Lúcia (ao lado, Ana Branco enxugando as lágrimas): encantamento na primeira visita ao Cristo Redentor MARIAS Moradoras do Rio que só conheciam o Cristo à distância vão ao Corcovado pela primeira vez, a convite do GLOBO, e se emocionam com o cartão-postal, além de ficarem encantadas com a vista estonteante da cidade Da laje da sua casa, de onde vê o Cristo diariamente, Maria de Jesus estava certa de que a estátua tinha nove metros: — Falei em nove metros achando que era bem menor. No mirante do Corcovado, Maria de Jesus tentou localizar sua residência no mar de prédios e casas sob seus olhos: — Quem chega para morar nos Guararapes fica encantado com o Cristo. De um metro e meio a dois era a aposta de Maria Lúcia: — Ele é muito grande! Jesus amado! Maria Lúcia perdeu até o medo de altura quando se viu cara a cara com o Redentor: — Não quero saber de medo. Quero é viver a felicidade — disse ela, que levou uma câmera fotográfica para registrar a visita. Uma emoção mais que justificada. Maria Lúcia é tão católica que escuta diariamente, na casa dos patrões, a Rádio Catedral. Ao lado do radinho, ela coloca garrafas de água: — Só tomo essa água, que é benta por padres nas suas orações na rádio. É um remédio — disse ela, que ainda está refazendo a vida, depois de perder quase tudo de sua casa, em Caxias, durante uma enchente, há menos de dois anos. No dia da visita ao Cristo, Caçula interrompeu mais cedo as atividades no centro de convivência Emilien Lacay, programa da Cruzada do Menor, em Jacarepaguá. Ela passou em casa para se arrumar e não esqueceu os brincos nem o chapéu. Caçula teve sorte. As bandas Groove e Allegro gravavam um clipe no Corcovado, e ela aproveitou para ensaiar alguns passos e acompanhar o “Samba do Avião”. No fim do passeio, quis visitar a capela de Nossa Senhora Aparecida. Beijou a imagem da santa e fez um pedido: — Nossa Senhora, permita que eu continue com pernas para poder andar por aí. Já Maria de Jesus, nascida em Uruçu, a 600 quilômetros de Teresina, está no Rio desde 1980. Até por ser quase vizi- AFP/ Saul Loeb/ 20-3-2011 ALTAR DA BARACK OBAMA, presidente dos EUA, com Michelle e as filhas Sasha e Malia: neblina e forte segurança Reprodução do Youtube O GLOBO NA INTERNET VÍDEO Três Marias falam sobre a visita ao Cristo. Assista oglobo.com.br/rio O DALAI LAMA na visita à estátua, pedida por ele. Em respeito, o líder espiritual budista tirou o boné vermelho com a palavra Rio Geise Bastos/ 1-4-1991 Anibal Philot / 2-7-1980 FAMA nha do monumento, sabe ensinar como chegar lá e até quanto custa o passeio ao Cristo: — Vontade de ir nunca faltou. Mas é um passeio caro. Normalmente é um ponto turístico muito movimentado. Quando tem promoção (o projeto Carioquinha), a gente não consegue ir. Fica cheio demais. São filas e mais filas. São os braços abertos que mais chamaram a atenção de Maria de Jesus: — É como se ele quisesse abraçar todo mundo. ■ Ricardo Mello/ 5-6-1992 Maria Alzira, de 80 anos, mora na Cidade de Deus. Outra Maria, a de Jesus, 54 anos, vive há 30 na Ladeira dos Guararapes, no Cosme Velho, caminho do Corcovado. Também há 30 anos, mais uma Maria, a Lúcia, de 48 anos, chegou de Pernambuco para tentar a vida no Rio, morando hoje em Caxias. No mês passado, as três Marias, todas com o sobrenome Silva, aceitaram convite do GLOBO e subiram pela primeira o Corcovado para conhecer de perto o Cristo Redentor, que elas só viam de baixo. — Ele é lindo. É uma emoção que nunca vou esquecer. Foi um presente de 80 anos (ela fez aniversário em julho). Quero fazer 80 anos amanhã de novo — brincou Maria Alzira, conhecida como Caçula, por ser a mais jovem de dez irmãos. Emocionada, Maria Lúcia, uma católica fervorosa, não conseguiu conter o choro ao se aproximar do monumento: — Nem acredito que estou no Cristo. Meu Deus, é um sonho! As dimensões do Cristo impressionaram as três. Nenhuma conseguiu prever o tamanho da estátua, que tem 30 metros de altura, sem contar os oito de pedestal. Até chegar às Paineiras, Caçula achou que o Cristo era do tamanho dela. Ou um pouco menor: — Vamos chegando perto e ele vai crescendo, crescendo. JIM CARREY com a estátua ao fundo, em junho. Ator fez graça ao filmar com celular o Cristo e as dezenas de fãs O PAPA João Paulo II em 1980, na primeira vinda de um pontífice ao A PRINCESA Diana posa para um batalhão país. Aos pés do Cristo, ele abençoou a cidade. Em 1997, João Paulo de fotógrafos no mirante: antes, paradinhas II repetiria o gesto e diria: “Se Deus é brasileiro, o Papa é carioca” de descanso na subida dos 215 degraus PROJETOS ESPECIAIS ● ● AZUL MAGENTA AMARELO PRETO PÁGINA 15 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 23 h cristo 80 HILLO SANTANA redentor ANOS escala a via 11 conhecida como K-2: paisagem deslumbrante DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011 TODOS OS CAMINHOS LEVAM AO CRISTO Felipe Hanower Deslizamentos são ameaça em estradas de acesso ao monumento; preço de ingresso ainda é obstáculo para quem vai a pé ou de bicicleta Gabriel de Paiva Felipe Hanower NA TRILHA O TREM do do Parque Corcovado Lage, setas de passa pela sinalização malconservada são pintadas estação do nas árvores Silvestre Para se chegar ao Cristo, o caminho pode ser longo, difícil e sinuoso. Mas a aventura e as belas vistas do Rio compensam qualquer sacrifício de quem prefere atingir o cume do Corcovado — a pé, de bicicleta ou até escalando. Além do trenzinho, cariocas e turistas têm à disposição outras rotas até o monumento. Mas, atenção, a maior aventura pode estar reservada aos caminhos tradicionais: no caso dos acessos rodoviários, para os que preferem ir de carro ou pedalando até as Paineiras, o problema são as quedas de barreiras. Apenas durante as chuvas de abril do ano passado, o Parque Nacional da Tijuca registrou 283 pontos de deslizamento. Um ano e meio depois, ainda são visíveis trechos com risco de desmoronamento nas estradas das Paineiras, do Sumaré e do Redentor. Já a trilha Parque Lage-Corcovado é a opção mais usada pelos que gostam de caminhar e de ter contato com a Mata Atlântica. Classificada de média dificuldade por guias experientes, a trilha é considerada limpa e segura, apesar da sinalização ser apontada como deficiente pela própria chefe do parque, Maria de Lourdes Figueira. Ela promete renovar todo o sistema — setas amarelas pintadas em árvores e antigas placas — no ano que vem. Até o Cristo, são quase duas horas de caminhada em ritmo normal. Na subida, por vezes, surgem belas vistas da Lagoa. O ponto alto da trilha é a paisagem vista da Curva do Ó, quando a trilha segue junto à estrada de ferro. De um platô, é possível apreciar grande parte da Zona Sul. Sem falar nas pequenas quedas d’água, que oferecem um pouco de refresco durante o passeio. O único porém é o barulho quase incessante dos helicópteros — que, aliás, oferecem uma outra forma de se apreciar o monumento. — Há uns três anos, a trilha ficou perigosa. Mas, de lá para cá, praticamente caiu a zero o número de assaltos — diz o guia Carlos Alberto Vieira, do grupo “Amigos da Zona Oeste”. Os aventureiros costumam usar a via de escalada batizada de K-2 — alusão ao segundo pico mais alto do mundo, no Himalaia — para chegar à estátua. É a única maneira de se chegar ao Cristo sem pagar. Cariocas e turistas que sobem a pé ou de bicicleta precisam, necessariamente, ir até as Paineiras e comprar o ingresso de R$ 25,75 (alta temporada) e R$ 17,75 (baixa). A obrigatoriedade é alvo de reclamações e já foi questionada pelo Ministério Público Federal (MPF). O procurador da República Márcio Barra Lima recomendou ao Instituto Chico Mendes (ICMBio) que não fosse praticada mais a “venda casada” no ingresso de acesso ao Corcovado — que inclui não só a entrada na área do monumento, como o transporte de van pela Bel Tour Turismo, das Paineiras à estátua. De acordo com o “ A construção da estrada de rodagem entre as Paineiras e o topo do Corcovado foi efetivada contra a opinião de muitos. Jorge Scévola, autor de “Corcovado, a conquista da montanha de Deus” MPF, o ICMBio alega que o plano de manejo do parque não prevê bilheteria para quem chega a pé ou de bicicleta. O procurador analisa uma solução para o problema. A diretora jurídica da Arquidiocese do Rio, Claudine Milione Dutra, diz que a Igreja não faz qualquer tipo de cobrança, seja pelo uso da imagem, seja pelo acesso ao monumento: — Nenhum centavo do que é cobrado pelo Parque Nacional da Tijuca, pelo trenzinho e pelas vans vai para a manutenção do Cristo Redentor. A solução para outro problema — os deslizamentos — parece estar mais próxima. A chefe do parque diz que espera iniciar ainda este ano, em diferentes pontos, obras de contenção e drenagem que totalizam R$ 10 milhões. O dinheiro, segundo ela, será liberado pelo Ministério da Integração Nacional. No ano passado, os acessos ao Corcovado — incluindo a estrada de ferro — ficaram fechados por mais de três meses, em decorrência dos danos causados pelas chuvas. — A gente tem um projeto pronto, que está na Geo-Rio e inclui contenção de encostas e drenagem no Sumaré, na Es- Felipe Hanower ENCOSTA PERIGOSA na estrada de acesso ao Cristo pelo Alto da Boa Vista trada do Redentor e na Estrada das Paineiras — afirma Maria de Lourdes, lembrando que algumas intervenções nos acessos foram feitas em 2010. Ela promete lançar ainda este mês um novo edital para exploração e recuperação do histórico Hotel Paineiras, uma das construções abandonadas no caminho para o Cristo. No ano passado, foi lançado um edital, mas não apareceram interessados. O plano de manejo do parque prevê ainda a transformação das ruínas do antigo Restaurante Silvestre num centro cultural para a comunidade, mas não há projeto nem prazo. Outro imóvel antigo sem con- servação é a estação Silvestre do bondinho de Santa Teresa. A reforma do casarão, que é de propriedade privada, faz parte do plano de revitalização do sistema. O Departamento de Transportes Rodoviários (Detro), no entanto, informa que falta detalhar a proposta e discutir a desapropriação do prédio. ■ PROJETOS ESPECIAIS ● ● PÁGINA 16 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 23 h AZUL MAGENTA AMARELO PRETO cristo 80 redentor ANOS 12 DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011 CORDÃO OLÍMPICO quando o Rio foi escolhido, NO DIA do padroeiro, em 2006, em 2009, como sede dos Jogos de 2016 COM MÁSCARA de mergulho, durante a enchente que castigou a cidade em abril de 2010 sofrendo com a onda de violência OLHAI POR NÓS Nas charges de Chico Caruso, um personagem do cotidiano da cidade AGRADECENDO A escolha como uma das sete novas maravilhas do mundo, em julho de 2007 — Brigado, gente! CHARGE INÉDITA, feita especialmente DE LUTO após o temporal que deixou para o mais de 900 mortos na serra, em janeiro aniversário de 80 anos do Cristo MATANDO MOSQUITO da dengue na epidemia do verão de 2002 NA TENTATIVA, em vão, de se proteger PREVISÃO DO TEMPO dos temporais de janeiro de 1998 CHUVA DE armas em 2002: guerra entre a PM e o tráfico na Mineira Instável, sujeito a rajadas PROJETOS ESPECIAIS ● ● AZUL MAGENTA AMARELO PRETO PÁGINA 17 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 23 h cristo 80 redentor ANOS 13 NA FOTO TIRADA DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011 do Cosme Velho, o Cristo e o Corcovado aparecem envoltos num manto de nuvens. “Acima de Foto do leitor Paulo Sallorenzo tudo, acima das nuvens, Foto da leitora Cristina Maranhão abençoando o povo carioca”, afirma o leitor Paulo Sallorenzo EM DESTAQUE sobre o “DO MEU APARTAMENTO da janela do bondinho (em Botafogo), debaixo do Foto do leitor Mário Ferreira relevo da cidade, visto do Pão de Açúcar. “Cristo, sempre de braços abertos e olhando por nós”, diz o leitor Mário Ferreira chuveiro, temos esta visão alucinante”, conta a leitora Zilea Reznik, cuja afilhada aproveitou o visual para eternizá-lo com um clique A CADA OLHAR, UMA emoldura o Cristo Redentor. Na visita às ruínas, leitor ficou encantado com a imagem Foto do leitor Marcio Schmidt Torres Foto do leitor André Luís de Araújo UMA DAS janelas do Forte São Luís, em Niterói, ORAÇÃO Das janelas ou das ruas, o Cristo Redentor sob diferentes ângulos e olhares de leitores do GLOBO O FLAGRANTE de uma corrida aérea, em 2009, clicado de uma varanda na Praça da Bandeira Foto do leitor Pedro Henrique de Araújo Foto do leitor Luiz Fernando Cardoso DE SUA janela, em Botafogo, o leitor Luiz O CRISTO em meio ao crepúsculo. A foto foi Fernando flagrou o Cristo coroado pela lua tirada em Botafogo, da casa do leitor, que cheia, num dia de céu azul na cidade agradece pelos 80 anos de proteção ao Rio Foto do leitor Sérvulo Harris Torres Foto do leitor Paulo Roberto de Oliveira Foto da leitora Adriana Alves Scheliga A LUA cheia parece rolar sobre a montanha: A FAVELA EM primeiro plano, na foto tirada da OPERÁRIOS TRABALHAM na fachada de um “Cristo Redentor, da minha privilegiada janela!”, Cidade Nova por Paulo Roberto: “Ele está de prédio, tendo o Cristo ao fundo. Sérvulo Harris diz Adriana Alves, que é moradora do Flamengo braços abertos para todos do Rio” tirou a foto da janela de um ônibus, em Botafogo O SÍMBOLO DO RIO EM 80 CLIQUES O GLOBO NA INTERNET GALERIA Confira a exposição virtual com fotos do Cristo oglobo.com.br/rio/cristo-80-anos/exposicao Custódio Coimbra/ 5-12-1992 Custódio Coimbra/ 25-11-2009 ● A constante busca dos fotojornalistas do GLOBO pelos melhores ângulos do Rio não poderia deixar de fora a emblemática estátua do Cristo Redentor. Dos arquivos do jornal, foram escolhidos 80 registros do monumento, em várias épocas e situações, para compor uma exposição virtual comemorativa dos 80 anos. Ela está no ar no ambiente especial criado no site do GLOBO para a comemoração do aniversário. No reflexo de prédios, junto a uma solitária asadelta, ao lado da lua ou do sol, o Cristo reina soberano pelas lentes da equipe. PROJETOS ESPECIAIS ● ● AZUL MAGENTA AMARELO PRETO PÁGINA 18 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 23 h cristo 80 redentor ANOS 14 DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011 Divulgação/ Twentieth Century Fox Divulgação/ Conspiração Filmes Reprodução do Youtube Divulgação Camilla Maia/ 6-11-2001 NA TELONA: as araras-azuis Blu e Jade em “Rio”; no sentido anti-horário, Pedro Cardoso em “Redentor”; cena de “Roberto Carlos em Ritmo de Aventura”; cartaz de “2012”, tomada de “Amanhecer” e bastidor de “O Homem que Copiava” ILUMINADO Reprodução da internet TAMBÉM NAS TELAS Cristo estrelou produções nacionais e estrangeiras; no catastrófico ‘2012’, cena de destruição da estátua causou mal-estar com Igreja Um dos lançamentos mais aguardados do ano, “Amanhecer”, que integra a série juvenil “Crepúsculo”, foi parcialmente rodado no Rio. No trailer já divulgado, o Cristo aparece numa tomada aérea. O cineasta Carlos Saldanha levou para a telona, em 2010, um Cristo versão 3D na animação “Rio”. Quem viu o filme não esquece as cenas das ararasazuis Blu e Jade sobrevoando o Réplicas mundo afora Estátua mais recente foi erguida em Lima, no Peru A construção do Redentor, no Corcovado, deflagrou uma onda de Cristos mundo afora. O mais recente foi inaugurado em junho, em Lima, no Peru. A obra foi cercada de polêmica: moradores e a prefeitura da cidade reclamaram por não terem sido consultados sobre o projeto. Em novembro de 2010, foi inaugurado em Swibodzin, na Polônia, um monumento com 33 metros de altura. O Cristo polonês foi apresentado como o maior do mundo (a estátua, de braços abertos, tem três metros a mais que a do Rio). A história da imagem de Cristo Rei, em Almada, Portugal, começou em 1934, com a visita ao Rio do cardeal patriarca de Lisboa, Dom Manuel Cerejeira. Ele levou a ideia para Portugal, mas ● ela só seria concretizada em 1959. Além do Peru, outros países latinoamericanos ganharam Cristos. Em 1995, foi erguido um monumento na província de Colón, na entrada do Canal do Panamá. Em Tuxtla Gutierrez, no México, está em construção uma estátua de 64 metros de altura, contando com o pedestal. Cuba também tem seu Cristo. Ele foi inaugurado em Havana, em 1958, antes da revolução cubana. Confeccionado em mármore de Carrara, tem 20 metros de altura. No Brasil há pelo menos 185 Cristos. A conta é da empresa Trem do Corcovado, que, em 2004, organizou uma exposição sobre o tema. A maioria fica na Região Sudeste: 130. No Estado do Rio, há ao menos mais quatro estátuas: em Areal, Friburgo, Itaperuna e Macaé. Claudio Torres, o jornalista Célio Rocha (Pedro Cardoso) acredita ter recebido um chamado de Deus, encarnado na estátua do Cristo, e inicia uma cruzada para convencer um empreiteiro corrupto a se arrepender. Numa das cenas, o Cristo conversa com o protagonista. Os produtores usaram uma maquete para simular o inusitado diálogo. Crítico de cinema e professor da PUC, Miguel Pereira tenta explicar o fascínio pelo Cristo: — Como o cinema é sagrado e transporta a gente para outro lado, há uma adequação perfeita com o Cristo. A história da construção da estátua, por si só, dá um filme. Ou vários. A cineasta Bel Noronha — bisneta de Heitor da Silva Costa, autor do projeto e construtor do Cristo — lançou os documentários “Christo Redemptor”, em 2005, e “De Braços Abertos”, em 2008, frutos de uma pesquisa de nove anos. ■ Bossa nova reverenciou estátua O CRISTO de Swibodzin (acima), na Polônia, é o maior do mundo; o de Almada (ao lado), em Portugal, ficou pronto em 1959 ● Um ano após a sua inauseus pés/ Abençoando os guração, o Cristo Redentor seus fiéis/ Deus salve essa já inspirava Vinícius de gente carioca/ Salve o Rio Moraes. Em 1932, ele pu- de Janeiro/ A cidade que é blicou na revista católica de todo brasileiro”. A inspi“A Ordem” seu primeiro ração vem da janela de sua poema, “Transfiguração casa, no Jardim Botânico: da Montanha”, em que — Exceto por dois peexaltava o monumento. ríodos em que vivi fora do O poeta e compositor já país, sempre morei perto revelava sua devoção à pai- do Cristo. Ele aqui abensagem carioca e ao Cristo, çoando é uma fonte de característica recorrente inspiração constante. na Bossa nova, gênero que Outros compositores ele imortalizaria, junto com também se inspiraram na Tom Jobim. O estátua, como maestro é auGilberto Gil e tor de duas Cazuza em obras em que “Um trem padeclara seu ra as estre amor ao símlas”: “Estrabolo carioca: nho o teu “Corcovado” Ele tinha nos olhos Cristo, Rio/ ( “ D a j a n e l a o paroxismo das Que olha tão vê-se o Corco- coisas doces longe, além/ v a d o / O R e - Sua túnica tinha Com os brad e n t o r q u e a alvura da neve ços sempre lindo”) e abertos/ Mas “ S a m b a d o E nos seus braços sem proteger Avião” (“Cris- abertos havia um ninguém”. to Redentor, grande abraço a toda Mas foi Noel Braços aber- a humanidade. Rosa quem tos sobre a protagonizou Guanabara/ “Transfiguração da montanha”, uma das hisEste samba é de Vinícius de Moraes tórias mais só porque, curiosas. CoRio, eu gosto de você”). mo conta o jornalista João — A bossa nova sempre Máximo, seu biógrafo junto se devotou à paisagem ca- com Carlos Didier, a rebelrioca. E o Cristo sempre dia de Noel fez com que ele foi o símbolo maior, uma fosse o único de sua turma referência de afeto à pai- do Colégio São Bento a não sagem carioca — afirma o contribuir para a construpesquisador Ricardo Cra- ção da estátua. vo Albin. Em 1936, no entanto, ele O compositor e cantor faria uma referência poétiFrancis Hime mostra a sua ca ao Cristo em “Cidade veneração em “Gente Cario- Mulher”: “Cidade de amoca”, uma de suas três úni- res sem pecado/ Foi junticas letras: “A graça/ Do nho ao Corcovado/ Que Cristo Redentor/ A cidade a Jesus Cristo nasceu”. “ Reprodução/ Acervo Fernando França Leite Mas o imbróglio foi resolvido com a retratação do estúdio Columbia Pictures — que informou à Igreja não ter intenção de desrespeitar o símbolo — e com a retirada da imagem do Cristo da capa do DVD. —A grande preocupação da Igreja é que não haja a deturpação do símbolo religioso — explica a diretora jurídica da Arquidiocese do Rio, Claudine Milione Dutra. monumento de asa-delta. Muitos anos antes, “Roberto Carlos em Ritmo de Aventura” (1968), de Roberto Farias, mostrava o Rei pilotando um helicóptero pela cidade. Uma das cenas mais marcantes do longa-metragem é a que mostra o cantor sobrevoando o Cristo. Em 2003, dois sucessos do cinema brasileiro terminam aos pés do monumento. "O homem que copiava", de Jorge Furtado, é rodado quase todo o tempo em Porto Alegre, com exceção do final, quando ocorre o encontro entre Sílvia (Leandra Leal) e Paulo (Paulo José) no alto do Corcovado. No mesmo lugar, foram gravadas as últimas cenas de "O caminho das nuvens", de Vicente Amorim. O filme conta a trajetória de Romão (Wagner Moura) e sua família, que chegam ao Rio em busca de emprego após pedalarem quilômetros de bicicleta desde a Paraíba. Em “Redentor” (2004), de AP/ Pawel Kalinowski Se antes de 1931 o Corcovado já era alvo constante de fotógrafos e artistas plásticos, com a inauguração do Cristo Redentor ele se transformou num cenário de cinema, dando asas à imaginação de profissionais do mundo inteiro. Em “Interlúdio” (1946), do mestre do suspense Alfred Hitchcock, a estátua é vista da janela do avião que traz os personagens de Ingrid Bergman e Cary Grant ao Rio. Curioso é que a dupla não esteve aqui — as paisagens foram inseridas através da técnica de back projection. Hollywood levaria o monumento para a telona outras vezes. No apocalíptico “2012”, de Roland Emmerich, a estátua é destruída numa catástrofe que varre do mapa outras construções famosas mundo afora. A cena gerou polêmica com a Igreja Católica, que não gostou do uso da imagem do Cristo no filme. Declarações de amor em prosa e verso PROJETOS ESPECIAIS ● ● AZUL MAGENTA AMARELO PRETO PÁGINA 19 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 24 h BELEZA EM 360 GRAUS cristo 80 redentor ANOS 15 Editoria de arte/Fotomontagem de André Mello e Alvim Monumento está de frente para a Baía de Guanabara porque, segundo o autor e construtor, é desse lado que o Corcovado se apresenta ‘em sua forma mais elegante’ DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011 Ilhas Cagarras IPANEMA LEBLON Cantagalo Do is Irm Jardim de Alah ão s Morro dos Cabritos GÁ VE A A AN CO PA CA B LE M E a nh ci Ro ei qu e Jó lub C Lagoa Rodrigo de Freitas Pedra da Gávea SUL LESTE (Frente) Dona Marta Enseada de Botafogo Praia do Flamengo LARANJEIRAS oglobo.com.br/rio/cristo-80-anos/foto360/ Se rra NORTE Centro Um giro de 360º do alto da estátua (braço esquerdo) NITERÓI a O GLOBO NA INTERNET Pico do Andaraí Icaraí Mirante Dona Marta Charitas Sumaré Parque Nacional da Floresta da Tijuca OESTE (Costas) Fortaleza de Santa Cruz Pão de Áçucar Piratininga Pedra Bonita Cemitério São João Batista (braço direito) da Ri n Po CENTRO te CIDADE NOVA N o- it ó er i TI J U CA TA N ESA A S R TE ro tr or in M aC ov N os t nt on a S um D a C a rio ca Maracanã CAJU BAIXADA EXPEDIENTE REPORTAGEM: Ludmilla de Lima e Selma Schmidt • EDIÇÃO: Adriana Oliveira e Paulo Marqueiro • INFOGRAFIA: Alvim e Renato Carvalho, com colaboração de Michelle Rodrigues e Kamilla Pavão• PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Telio Navega • PESQUISA: Elisiário de Souza Lima e Paulo Luiz Carneiro ● ● cristo 80 redentor ANOS 16 DOMINGO, 9 DE OUTUBRO DE 2011 AZUL MAGENTA AMARELO PRETO PÁGINA 20 - Edição: 9/10/2011 - Impresso: 5/10/2011 — 08: 24 h A TROCA MARIA PAULA, de Ana Branco/ 2-10-2011 PROJETOS ESPECIAIS de alianças do casal Márcia e Fábio, os primeiros a se 8 anos, filha adotiva de Elba Ramalho, com os padrinhos e o padre Omar, na casar no santuário hora do batismo do Cristo, em 2008 OREDENTOR COMO PADRINHO Capela de Nossa Senhora Aparecida, localizada aos pés do Cristo, é cada vez mais procurada para batizados e casamentos Álbum de Família/ Ricardo Gomes Simone Marinho A CAPELA em homenagem a Nossa Senhora Aparecida — Aquele é o lugar mais bonito do Rio. De lá se vê o Rio inteiro. Como cristãos, era o lugar mais perto do céu e junto do maior crucifixo do mundo — afirma Fábio, de 45 anos, explicando a escolha pelo casamento no Cristo. Márcia pediu autorização ao Parque Nacional da Tijuca e subiu de carro. Mas muitas noivas vão mesmo é de trenzinho, junto com os convidados, às vezes em vagão enfeitado. Outras acabam indo de van. Santuário há cinco anos, o Cristo passou a ser bem mais do que um ponto turístico, numa área privilegiada por belezas naturais. Lá são celebrados casamentos, batizados e missas, em geral pelo padre Omar Raposo, reitor do santuário. — Damos bênçãos em sete idiomas — conta o padre Omar, acrescentando que o Cristo também tem sido procurado por muitos peregrinos e religiosos. O casamento de Fábio e Márcia foi destaque até no “New York Times”. Um ano depois, o casal reafirmou seus votos numa missa de ação de graças na mesma capela. Juliana Glasman de Moraes e Roberto de Moraes, ambos de 32 anos, subiram de trem para a hora do “sim”, em 1 o- de outubro de 2010. O evento foi, de fato, uma cerimônia em família: Ivan e Fernanda Londres, irmã de Roberto, selaram a união no mesmo ato religioso. As noivas, de branco, foram a sensação no trajeto até o Cristo. — As pessoas no trenzinho Era uma terça-feira de verão, fim de tarde e aniversário do publicitário Fábio Marinho Leite Calderano. Depois de uma chuva rápida, um arco-íris de 180 graus iluminou o céu, enquanto convidados chegavam de trenzinho para assistir ao casamento com a relações-públicas Márcia, aos pés do Cristo Redentor. Como para reverenciar a noiva, surgiu uma névoa, que logo desapareceu. Eles foram os primeiros a se casar, em 19 de fevereiro de 2008, na pequena capela consagrada a Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, construída dentro do pedestal do monumento. A igrejinha tem capacidade para apenas 22 pessoas sentadas e dez em pé. Não por acaso, a cerimônia se estendeu para o mirante. perguntavam se era uma gra- tal. A névoa foi um diferencial: vação de novela — lembra a nas fotos, parece que estávamos dentista Juliana, que agora flutuando, acima das nuvens. O lugar foi pensa em baescolhido tamtizar o filho bém pela canCaio, de 3 metora Elba Rases, no mesmalho para o mo lugar. batismo da fiRoberto, lha Maria Pauque é adminisla, de 8 anos, e trador, e Julia- Tive muitas graças do amigo Luiz na não cogita- com Nossa Senhora. Henrique Agra vam se casar no religioso. Como filha, me coloco d e O l i v e i r a , domingo pasHoje, a dentis- muito debaixo do sado: ta agradece à — O Cristo é insistência da manto dela. maior que tosogra, Maria Elba Ramalho, cantora dos nós, não Célia Moraes. só na imagem, — Depois da cerimônia, a gente fez uma pre- mas também no amor e na paz. Devotos de São Judas Tadeu, ce do lado de fora da capela junto com os turistas. Foi alegria to- cuja igreja é no Cosme Velho, “ Marcelo de Mello Tavares e Cristina Maia de Mello Porto também optaram pelo Corcovado para batizar, em março, o filho Lucas, que fez 1 ano na quarta-feira passada. — Achamos o lugar abençoado. E, de lá, se tem uma das mais belas vistas do mundo — afirma Cristina. A capela abre diariamente das 9h às 18h. Mateus, filho caçula do governador Sérgio Cabral e de Adriana Anselmo, foi o primeiro a ser batizado no Corcovado, em agosto de 2007. — A nossa luta, em 2007, pela eleição vitoriosa do Cristo Redentor como uma das sete novas maravilhas do mundo marcou a virada do Rio. No mesmo ano, o batizado do meu filho Mateus inaugurou a capela. São dois momentos inesquecíveis da minha relação com a principal atração turística do Rio. Que o nosso Cristo continue nos abençoando — diz Cabral. O agendamento de cerimônias no Cristo deve ser feito pelo telefone 3874-1568. Não há doação mínima para celebrar batizados. Nos casamentos, a taxa é de cerca de R$ 2 mil, incluindo a ornamentação e toda a celebração. A cerimônia é gratuita para noivos carentes. Como regra, o acesso ao Corcovado é limitado ao trenzinho e a vans — estas partem das Paineiras. Algumas noivas pedem autorização ao parque para que o carro delas chegue até o alto. Uma exceção que custou R$ 1 mil a Márcia Leite Calderano. ■