CONT R A-CORRENTE
A análise da conjuntura econômica na visão e linguagem do sindicalismo classista e dos movimentos sociais
Boletim mensal de conjuntura econômica do ILAESE
Ano 04, N° 50 - 15 de Novembro de 2014
O emprego na indústria
no Brasil hoje
A perda do emprego na indústria e a criação de postos de trabalho com baixa
remuneração é o assunto do BCC deste mês
por Eric Gil Dantas
O
movimento
sindical
vem
se
encorpando em muitas
lutas contra as demissões
em diversas montadoras
do país, principalmente
no estado de São
Paulo. Mesmo com
desonerações bilionárias
por parte do Governo
estas montadoras, e
várias outras empresas
de setores distintos, não
se sentem constrangidas
para mandarem seus
empregados embora.
Mas isto não é um
fato isolado, há um
processo em curso. A
desindustrialização no
país já vem de alguns
anos, eliminando postos
de trabalho na indústria
e empurrando-os para o
setor de serviços. Com
isto, vemos a criação
de empregos com baixa
remuneração,
tendo
como teto o nível de
um salário mínimo e
meio, gerando uma
massa de trabalhadores
precarizada
(baixos
salários,
alta
rotatividade e muitos
terceirizados).
O Boletim ContraCorrente de novembro
discute, a partir de
dados
oficiais,
o
processo de queda no
número de empregados
na indústria e a nova
estrutura de empregos
no Brasil, decorrente
da desindustrialização,
ainda em curso.
Ano 04, N° 50 - 15 de Novembro de 2014
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02
A Pesquisa Industrial Mensal de
Emprego e Salário do IBGE
A cada mês que se passa mais e mais empregos na indústria desaparecem
N
ão é mais
novidade
v e r m o s
notícias das grandes
demissões, layoffs e férias
coletivas na indústria
em todo o Brasil nas
páginas dos jornais. Só
em São Paulo, de janeiro
a outubro deste ano, já
foram 51 mil demissões,
segundo a Federação da
Indústria do Estado de
São Paulo (FIESP), e não
há sinais de melhoras
pela frente.
O
Instituto
Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE)
divulga mensalmente os
resultados da pesquisa
chamada de Pesquisa
Industrial Mensal de
Emprego
e
Salário
(PIMES), a qual abrange
dez estados: Pernambuco,
Ceará, Bahia, Minas
Gerais, Espírito Santo,
Rio de Janeiro, São
Paulo, Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande
do Sul. Na pesquisa
para o mês de setembro
o resultado do número
de pessoas ocupadas
no setor industrial caiu
0,7%, se comparado
ao mês imediatamente
anterior, agosto. Esta é a
sexta diminuição seguida,
acumulando uma queda
neste ano (até setembro)
de 2,8%. A região que
mais sentiu esta perda, no
ano, foi a Sudeste, com
decréscimo de 3,37%
em número de pessoas
ocupadas, no entanto, o
Paraná foi o estado com a
maior queda, 4,19%.
Consequentemente
também houve queda
na folha de pagamento
real
(descontada
a
inflação) da indústria no
Brasil, de 3,54% para
setembro, e de 0,08%
para o acumulado do ano
(janeiro a setembro). Já
o índice de rotatividade
mantém-se relativamente
estável, o que sugere ser
não uma crise passageira,
mas sim estrutural, pois o
problema não é a saída e
entrada rápida de novos
trabalhadores, mas a
eliminação destes postos
de trabalho.
Este índice vem na
contra-mão da pesquisa
mensal de emprego do
IBGE, ou seja, a situação
geral do emprego no
país, o qual verificamos
uma queda acentuada do
desemprego. Enquanto
o desemprego no Brasil
chega aos níveis mais
baixos da série história
de
mensuração
do
desemprego, na indústria
a tendência é exatamente
oposta. Isto quer dizer
que há uma substituição
do emprego na indústria
pelos trabalhos no setor de
serviços, como veremos
no final deste boletim. Há
também outros fatores,
como a entrada da
China e de outros países
asiáticos no comércio
mundial
produzindo
a custos muito baixos
por utilizarem mãode-obra
extremamente
barata, pagando salários
miseráveis e ofertando
condições de trabalho
desumanas. No entanto,
qual é a política do
Governo para isto?
Ano 04, N° 50 - 15 de Novembro de 2014
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03
Desonerações: manutenção dos
empregos ou garantia dos lucros?
Os bilhões de reais das desonerações às empresas não garantem o emprego, já o lucro...
D
esde
o
começo
da
crise
econômica que iniciou
sua chegada no Brasil em
2008 e teve seu ápice em
2009 com uma retração
do PIB de 0,2%, a política
econômica do Governo
Federal para combatêla tem sido em grande
parte as desonerações
de diversos setores da
economia, também com
um objetivo de incentivar
a indústria. Mas qual foi
o seu efeito?
O Valor Econômico
cruzou dados da Receita
Federal (valores das
desonerações)
com
dados do Ministério do
Trabalho e Emprego
(dados de emprego do
Caged), como pode ser
visto na tabela elaborada
pelo próprio jornal,
chegando à conclusão
que diversos setores
desonerados nem sequer
mantiveram o número de
trabalhadores que antes.
Foram R$5,5 bilhões que
deixaram de ser pagos por
empresários dos setores
que terminaram o ano
demitindo mais do que
contratando desde 2010.
Em 2014, as isenções
fiscais já ultrapassam os
70 bilhões de reais.
As isenções acabam
servindo, na prática, para
garantir a lucratividade
das empresas, mas não o
emprego, e nem sequer
o repasse para o preço
final. Ainda em 2012,
o Bradesco afirmou
que,
segundo
uma
pesquisa própria, estas
desonerações
haviam
atingido apenas 40% os
preços finais dos produtos
da linha branca e 84% nos
preços dos automóveis.
Algo parecido ocorreu,
também,
com
as
empresas de transporte
público que tiveram que
baixar suas tarifas por
conta das manifestações
de junho, mas para isto
contou com isenções
fiscais e não repassaram
nem sequer todas estas
isenções para o preço
final, incorporando parte
delas como maior lucro.
No entanto, todas
estas isenções saem de
algum lugar, e ouvimos
na fala do ministro da
Fazenda e da presidente
da República, há poucos
dias, como garantiram
estas isenções, com corte
nos gastos do Governo.
Ou seja, para garantir
mais de 70 bilhões de
reais para os cofres dos
empresários, as verbas
para os serviços públicos
serão cortadas, a mesma
lógica de sempre.
Ano 04, N° 50 - 15 de Novembro de 2014
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04
Desindustrialização? (Geração de
empregos até 1,5 sm)
Os empregos que surgem, hoje, são majoritariamente no setor de serviços, com baixíssimos salários
O
Brasil passa
por
um
processo
que
os
economistas
chamam
de
“desindustrialização”,
que é quando o peso da
indústria na proporção da
geração de riqueza, o PIB,
em uma dada economia
diminui. Em 2013, o peso
da indústria brasileira no
PIB foi o menor desde
2000. Em 2013 este valor
foi de 24,9%, enquanto
que em 2012 este número
foi de 26%. Mas quais
EXPEDIENTE
são as conseqüências da
desindustrialização para
os trabalhadores?
O famoso livro
do economista Marcio
Pochmann,
então
presidente do IPEA,
“Nova Classe Média?”
– livro discutido em três
números do Boletim
Contra-Corrente do ano
de 2012 – já demonstrava
que o emprego que mais
cresceu no Brasil é o de
até 1,5 salários mínimo.
Esta tendência não só
continua, mas também se
acentua. Em 2014, 97,5%
dos novos empregos
gerados foram nesta faixa
salarial (de zero a um
salário mínimo e meio).
Mas algo que chamada
atenção é que de 2006 a
2014 a faixa que mais se
expandiu foi a de até meio
salário mínimo, a qual
cresceu 145%. Isto se
dá, em grande parte, por
o setor de serviços estar
substituindo o industrial
na geração dos empregos,
pagando salários ainda
menores
e
jornadas
apenas parciais, ou seja,
não
necessariamente
cumprindo a jornada de
40h, o que permite pagar
menos do que um salário
mínimo ao trabalhador.
Este
processo
também tem a ver por
no Brasil especular em
bolsas de valores (ações) e
de futuros (commodities)
e empresar dinheiro para
o Estado (a taxa básica
de juros no Brasil é a
maior do mundo, ou
seja, o Governo paga os
maiores juros do mundo
para os títulos da dívida
pública) ser muito mais
lucrativo do que produzir
mercadorias de verdade,
mesmo
o
Governo
garantindo empréstimos
subsidiados,
muitas
vezes tendo taxas de juros
negativas, que na prática
quer dizer que o Governo
dá dinheiro para os
empresários investirem,
onerado apenas as contas
públicas. Com isto, a
burguesia brasileira não
se dá ao trabalho de ir à
produção, e assim prefere
especular e “parasitar”.
Contra-corrente é uma publicação mensal elaborada pelo ILAESE para os sindicatos, oposições sindicais e movimentos sociais.
Coordenação Nacional do ILAESE: Antonio Fernandes Neto, Arthur Gibson, Bernardo Lima, Daniel Kraucher, Daniel Romero, Eric Gil
Dantas, Érika Andreassy, Fred Bruno Tomaz, Guilherme Fonseca, José Pereira Sobrinho, Juary Chagas, Nando Poeta e Nazareno Godeiro.
Contato: Praça Padre Manuel da Nóbrega, 16 - 4º andar. Sé - São Paulo–SP. CEP: 01015-000 - (44) 9866-4719 - (11) 7552-0659 - ilaese@
ilaese.org.br - www.ilaese.org.br. CNPJ 05.844.658/0001-01. Diagramação: Phill Natal. Editor responsável: Eric Gil Dantas.
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