UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG
Instituto de Ciências da Natureza
Curso de Geografia – Bacharelado
RENAN VIDAL MINA
Manifestações das ruralidades na periferia de Alfenas-MG: uma
análise comparativa a partir dos bairros Pinheirinho, Jardim
Alvorada e Recreio Vale do Sol
Alfenas - MG
2013
RENAN VIDAL MINA
Manifestações das ruralidades na periferia de Alfenas-MG: uma
análise comparativa a partir dos bairros Pinheirinho, Jardim
Alvorada e Recreio Vale do Sol
Trabalho de Conclusão de Curso apresentada
como parte dos requisitos para obtenção do
título de Bacharel em Geografia pelo Instituto
de Ciências da Natureza da Universidade
Federal de Alfenas- MG, sob orientação do
Prof. Dr. Flamarion Dutra Alves.
Alfenas – MG
2013
Dedido a Deus, aos meus avós Anna e Manoel, a
minha tia Hercília, aos meus pais Rosana e Fábio, a
meu irmão Guilherme e a minha querida e fiel
companheira Mariana.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus pelo dom da vida e por ter recompensado todo meu
esforço para chegar até aqui.
Aos meus avós Anna e Manoel pela colaboração e suporte que me deram ao longo de
toda minha trajetória e consolidação como ser humano.
Aos meus pais Rosana e Fábio, pela educação que me foi dada, exercendo papel
preponderante em minha formação pessoal e profissional.
Ao meu irmão Guilherme, pela amizade e companheirismo demonstrado desde o seu
nascimento.
Ao incentivo contínuo transmitido pelas minhas tias Hercília e Iolanda, contribuindo para
que eu me tornasse uma pessoa mais confiante na tomada de minhas decisões.
Ao amor, fidelidade e apoio incondicional de minha namorada Mariana, parte
fundamental de todas as minhas conquistas e objetivos alcançados.
Ao meu orientador Prof. Flamarion Dutra Alves, pela atenção, amizade e predisposição
em sempre me ajudar.
Aos meus verdadeiros amigos Renato Lopes, Leonardo Mendes, Lucas Cecarelli, Pedro
Jordão, Eduardo Bonifácio, Tiago e Rafael Maniero, e demais familiares que sempre torceram (e
torcem) pelo meu sucesso.
Agradeço, enfim, ao CNPq pelo apoio financeiro a iniciação científica que serviu como
base para o desenvolvimento deste trabalho.
RESUMO
Esta investigação tem como objetivo entender a dinâmica socioespacial na periferia de AlfenasMG, a partir da relação rural-urbana, identificando a atividade da agricultura urbana nos bairros
do Pinheirinho, Recreio Vale do Sol e Jardim Alvorada. Essas informações podem servir como
base para possíveis apontamentos das políticas públicas e melhor caracterização da população
que vive nos limites do rural no município de Alfenas. Por ser uma cidade de porte médio,
Alfenas se depara com a manifestação das ruralidades em sua periferia e são esses aspectos que a
pesquisa pretende evidenciar.
Palavras-chave: Alfenas; Periferia; Ruralidades; Agricultura urbana
ABSTRACT
This research aims to understand the socio-spatial dynamics in the vicinity of Alfenas-MG, from
the rural-urban relationship, identifying the activity of urban agriculture in the neighborhoods of
Pinheirinho, Sun Valley Playground and Garden Dawn. This information can serve as a basis for
possible appointments of public policies and better characterization of the population living in
the rural outskirts Alfenas. Being a medium-sized city, Alfenas are faced with the manifestation
of ruralities on its periphery and it is these aspects that the research aims to highlight.
Keywords: Alfenas; Periphery; Ruralities; Urban agriculture
SUMÁRIO
9. ANEXO B..................................................................................................................................36
1. INTRODUÇÃO
Ao longo da história, as relações entre o campo e as cidades, o rural e o urbano,
tornaram-se objetos de interesse para diferentes áreas do conhecimento, dentre as quais se inclui
a Geografia.
A partir de 1970, nos países mais desenvolvidos, e desde 1990, no Brasil, os estudos
acerca dos espaços rurais e urbanos foram reavaliados e revitalizados dentro da esfera
acadêmica, dos órgãos não-governamentais e das instituições estatais (BIAZZO, 2008). Devido,
principalmente, as mudanças no modelo produtivo e organizacional no campo, notam-se
transformações mais amplas na sociedade brasileira, especialmente nas duas últimas décadas. O
rural e o urbano se fundem, mas sem se tornarem o mesmo, garantindo suas particularidades
(RUA, 2006).
Constatada essa maior complexidade no espaço geográfico, evidencia-se a necessidade
em se compreender as características e dinâmicas dos meios rural e urbano de forma integrada.
Com isso, propõe-se nesta pesquisa, dentro do viés geográfico, a discussão e a realização
de análises sobre estas novas relações, baseando-se nos conceitos “urbanidades” e “ruralidades”,
e utilizando como área de estudo a periferia do município de Alfenas-MG.
Apesar do atual esforço da Prefeitura Municipal em tratar este espaço como um lugar a
ser “reurbanizado”, busca-se identificar e demonstrar que a periferia em questão possui densas
ligações com o campo.
Sendo assim, tem-se as seguintes intenções: detectar o dinamismo econômico e
socioespacial exercido pelas novas interações campo-cidade na periferia de Alfenas-MG,
caracterizar as ruralidades que aí predominam, analisar as territorialidades produzidas pela
população que habita esse local e identificar a percepção desses moradores perante tais
processos.
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Analisar a dinâmica socioespacial da periferia de Alfenas a partir da relação rural-urbana.
2.2 Objetivos Específicos
Tomando como base a particularidade da periferia do município de Alfenas-MG, onde é
possível se deparar com a manifestação das ruralidades, objetiva-se identificar as pessoas que
desenvolvam a agricultura urbana como subsídio para sua alimentação e geração de renda, bem
como analisar a realidade socioeconômica destes agentes sociais.
Visa-se, por fim, verificar se estes moradores possuem raízes rurais ou urbanas, e qual a
percepção que possuem vivendo em tal contexto, ou seja, se ainda se consideram como
residentes do campo ou se já se consideram residentes da cidade.
3. METODOLOGIA
A presente investigação, aplicada na periferia do município de Alfenas-MG, contou com
três etapas e buscou abordar a realidade socioeconômica dos bairros Pinheirinho, Recreio Vale
do Sol e Jardim Alvorada. Teve-se como intuito identificar os focos de ruralidades aí presentes,
principalmente a prática da agricultura urbana, e verificar se os moradores locais se veem como
membros rurais ou urbanos (Figura 6).
Figura 6: Parte do perímetro urbano do município de Alfenas e localização dos bairros Pinheirinho, Jardim Alvora e
Recreio Vale do Sol e unidade II da UNIFAL/MG.
Esta pesquisa tem origem em um projeto maior realizado pelo Grupo de Estudos
Regionais e Socioespaciais denominado “As relações campo-cidade no município de Alfenas
(MG): os modos de vida no espaço periurbano do bairro Pinheirinho” financiado pela
FAPEMIG.
Sendo assim, primeiramente, efetuou-se um levantamento bibliográfico a respeito da
evolução dos estudos sobre as relações campo-cidade, “urbanidades no rural”, “ruralidades do
urbano” e agricultura urbana.
Posteriormente, realizou-se uma pesquisa in situ na área de estudo citada. Aplicou-se
trinta questionários, sendo que os moradores de cada bairro respondiam às perguntas em relação
ao perfil socioeconômico, prática da agricultura urbana, se possuem raízes rurais ou urbanas e se
atualmente se consideram como residentes do campo ou da cidade.
Por fim, os dados foram compilados e analisados com o intuito de se comparar as
ruralidades e as demais características socioeconômicas dos bairros.
4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
4.1 Campo e cidade, rural e urbano: contextualização e evolução das investigações
Segundo Sathler (2006), a partir do século XVIII, alterações significativas na distribuição
espacial da população começaram a ocorrer, graças a evolução do processo de acumulação de
capitais. Enquanto as aglomerações urbanas se fortaleciam, iniciou-se um processo de êxodo
rural. Concomitante a isso, a produção agrícola foi inserida na óptica do sistema de produção
industrial, submetendo-se as demandas e necessidades do capital urbano (SATHLER, 2006).
A partir do século XX, as pesquisas sobre as relações entre o campo e a cidade tiveram
um maior enfoque dentro da Sociologia, principalmente nos EUA, sendo que as primeiras
abordagens tinham um caráter dicotômico, opondo o “rural” e o “urbano”. (BIAZZO, 2008).
Para Sorokin, Zimmerman e Galpin (1981, apud LINDNER, 2008), entre o rural e o
urbano existiriam nove diferenças principais: as diferenças ocupacionais, onde o habitante do
rural estaria ocupado com a agricultura e a criação de animais; as diferenças ambientais, nas
quais os trabalhadores rurais exerciam suas atividades ao ar livre, ou seja, em contato direto com
a natureza, enquanto as populações urbanas estariam no ambiente artificial da cidade; as
diferenças no tamanho das comunidades, onde existiria uma correlação negativa entre o tamanho
da comunidade e a porcentagem da população ocupada na agricultura; as diferenças na densidade
populacional, sendo que esta seria mais baixa nas comunidades de agricultores do que das
comunidades urbanas; as diferenças na homogeneidade e na heterogeneidade das populações, já
que as populações das comunidades rurais tenderiam a ser mais homogêneas em suas
características psico-sociais; as diferenças na diferenciação, estratificação e complexidade social,
na qual população do campo seria mais homogênea, enquanto os aglomerados urbanos seriam
marcados por uma complexidade maior manifesta em uma maior diferenciação e estratificação
social; as diferenças na mobilidade social, pois a classe urbana seria mais móbil e dinâmica que a
rural, deslocando-se mais de lugar, de ocupação, de posição social, da riqueza para a pobreza e
vice-versa; as diferenças na direção da migração, pois os fluxos de população indo do campo
para a cidade são maiores que os da cidade indo para o campo; as diferenças no sistema de
integração social, onde os moradores rurais estariam em contato com um menor número de
pessoas, porém estes “laços” seriam mais estreitos e diretos do que os dos moradores da cidade.
As
investigações
sobre
a
temática
campo-cidade
também
acompanharam
o
desenvolvimento do pensamento geográfico, sendo que este tem desempenhado um papel
importante nestas discussões, principalmente a partir da década de 1990 (ALVES, 2012).
Inicialmente, através do viés clássico, os estudos geográficos caracterizaram-se pela
descrição das paisagens rurais e urbanas, onde o enfoque dessa relação possuía um caráter
dicotômico (ALVES, 2012).
Nesse período, segundo Alves (2012), Deffontaines (1944), Pierre Monbeig (1944, 1949),
entre outros, consideravam o campo como o responsável por influenciar o processo de
crescimento das cidades. Ambos ressaltavam que os núcleos urbanos se formavam a partir da
expansão da rede ferroviária que serviu para escoar a produção de café no interior do estado de
São Paulo (Figura 1).
Figura 1: Relação campo-cidade nos estudos clásicos da geografía – 1930 a 1960
Fonte: ALVES (2012)
A partir da década de 1960 e até meados da década de 1980, desenvolveu-se a Geografia
Teorética. Com a introdução de modelos matemáticos, o campo e cidade passaram a ser estudados de forma mais integrada (ALVES, 2012).
Marafon e Ribeiro (2012) ressaltam que nessa corrente, os estudos priorizavam a classificação e hierarquização do espaço, sendo a distância e os custos mínimos variáveis importantes
(Figura 2).
Figura 2: Relação campo-cidade nos estudos teoréticos da geografia – 1960 a 1980
Fonte: ALVES (2012)
Já no fim da década de 1970, emerge a Geografia Crítica no Brasil. Através de um referencial histórico-dialético, os autores adeptos desta corrente direcionam suas críticas às relações
de produção e de trabalho capitalista no campo, a divisão territorial do trabalho e a produção do
espaço a partir dos conflitos resultantes da lógica capitalista (MARAFON; RIBEIRO, 2012).
De acordo com Alves (2012), a modernização da agricultura nas décadas de 1960 e 1970,
e intensificada após 1990, transformou as relações produtivas, integrando agricultura e indústria
(Figura 3).
Figura 3: Relação campo-cidade nos estudos contemporâneos da geografia – 1990 a 2009
Fonte: ALVES (2012)
Carneiro (1998) chama a atenção para o crescimento da prática da pluriatividade no país,
a qual é definida por Schneider (2003, apud RUA, 2006, p. 101-102):
(...) fenômeno através do qual membros das famílias de agricultores que habitam no
meio rural optam pelo exercício de diferentes atividades, ou mais rigorosamente, optam
pelo exercício de atividades não-agrícolas, mantendo a moradia no campo e uma ligação, inclusive produtiva, com a agricultura e a vida no espaço rural.
Com a maior interação entre campo e cidade, não há somente a penetração de aspectos
urbano-industriais no meio rural. A sociedade urbano-industrial também usufrui de símbolos e
fatores culturais ligados ao campo, resultando no fortalecimento das ruralidades (CARNEIRO,
1998).
Do ponto de vista de Alentejano (2003), o urbano apresenta relações mais globais, ou
seja, mais “libertas” do território, enquanto o rural reflete uma maior territorialidade, uma vinculação local mais intensa.
Já Veiga (2004) e Abramovay (2000), ao refletir sobre a definição de rural no Brasil,
baseiam-se em uma dimensão político-administrativa e sugerem a aplicação de indicadores
utilizados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Rua (2006), seguindo outra linha de pensamento, reforça que o modo de produção
capitalista recria o campo. Para o autor, há de fato uma expansão física e “ideológica” dos
padrões urbanos sobre o espaço rural, porém cada espacialidade ainda consegue manter suas
marcas. Assim, tal processo resulta na produção das “urbanidades no rural” e na formação de um
espaço híbrido, onde os habitantes das áreas rurais, ao criar suas identidades com componentes
“rurais” e “urbanos”, se organizam estrategicamente e realizam reivindicações.
Portanto, as perspectivas acerca da pluriatividade, ruralidades e urbanidades são
exemplos da multiplicidade de estudos sobre a relação campo-cidade que vem ganhando força
progresivamente no discurso geográfico brasileiro (RUA, 2006).
4.2 A "Urbanização do rural": fim do campo?
De acordo com Veiga (2004), foi Lefebvre quem lançou em 1970 a hipótese de completa
urbanização. Ao retratar a imposição do tecido urbano sobre o espaço rural, Lefebvre (1999)
considera que o processo de urbanização seria “inevitável”.
Biazzo (2008) cita que essa “corrente” ainda serve como base para os atuais estudos de
planejamento do território. Para Rua (2005), a linha de pensamento denominada de "urbanização
do rural" aproxima Octávio Ianni, José Graziano da Silva, Milton Santos e Henri Lefébvre, pelo
fato de abordarem a cidade e o urbano como organizadores do espaço contemporâneo.
Baseando-se no processo de globalização, marcado pelo poder hegemônico do capital e
das grandes corporações, Ianni (1996) decreta o fim da contradição entre a cidade e o campo,
considerando a absorção desse último pelos processos de industrialização e urbanização.
A revolução que a globalização do capitalismo está provocando no mundo agrário
transfigura o modo de vida no campo, em suas formas de organização do trabalho e
produção, em seus padrões e ideais socioculturais, em seus significados políticos. Tudo
que é agrário dissolve-se do mercado, no jogo das forças produtivas operando no âmbito
da economia, na reprodução ampliada do capital, na dinâmica do capitalismo global.
(IANNI, 1996, p. 52).
Silva (1999) também se insere nesse grupo ao trabalhar com o conceito de "rurbano".
Embora não enfatize o fim do rural, o autor possui uma perspectiva urbano-centrada, onde retrata
a tendência de urbanização física do espaço rural, devido principalmente a inserção de atividades
não-agrícolas neste último. Ele destaca "a necessidade de políticas públicas que desprivatizem os
espaços rurais agropecuários no país, criando povoados rurais urbanizados" (p. 78).
4.3 A "Urbanização no rural": maior aproximação entre o campo e a cidade
Em 1972, o geógrafo e sociólogo Bernard Kayser propôs a hipótese de um “renascimento
rural”. Alguns anos depois, em 1990, Kayser já se referia a tal proposição como uma “situação”,
que mesmo não abarcando todo o espaço rural, enfatizava as potencialidades do mesmo
(VEIGA, 2004).
Considerando alguns autores que se opõe a linha de pensamento da “urbanização do
rural”, Rua (2005) cita Maria José Carneiro, Roberto José Moreira, José Eli da Veiga, Ricardo
Abramovay e Sérgio Schneider.
Tais autores teriam ideias apoiadas no conceito de "novas ruralidades" ou na
"urbanização no rural". De maneira geral, esses enfatizam a manutenção de especificidades no
rural, mesmo sendo influenciado pela força do urbano (RUA, 2006).
Carneiro (1998) entende que não é possível compreender a ruralidade apenas pela
penetração de aspectos urbano-industriais no meio rural, pelo fato da sociedade contemporânea
também usufruir de símbolos, bens materiais e fatores culturais considerados pertencentes ao
campo. Para a autora, essa interação pode acarretar, não no fim do rural, mas sim no
fortalecimento da ruralidade.
Moreira (1999) aponta para uma resignificação dos valores culturais do espaço rural, bem
como para a existência de múltiplas identidades. Segundo Moreira e Gavíria (2002, p. 54) , "o
território refere-se aos contextos sociais, culturais e espaciais em que acontece a interconexão
entre o urbano e o rural, isto é, quando não é possível considerar o urbano sem o rural e viceversa."
Esse (novo mundo rural) passa a ser compreendido não mais como espaço exclusivo das
atividades, mas como lugar de uma sociabilidade mais complexidade que aciona novas
redes sociais regionais, estaduais, nacionais e mesmo transnacionais. Redes sociais as
mais variadas que no processo de revalorização do mundo rural, envolvem a
reconversão produtiva (diversificação da produção), a reconversão tecnológica
(tecnologias alternativas de cunho agroecológico e natural), a democratização da
organização produtiva e agrária (reforma agrária e fortalecimento da agricultura
familiar), bem como o fortalecimento dos turismos rurais (MOREIRA, 2003, p. 132).
Por sua vez, tomando como base o contexto histórico e estrutural de alguns países mais
desenvolvidos, Veiga (2004) busca aplicar os indicadores utilizados pela Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em suas análises sobre o rural brasileiro.
Para o autor, uma possibilidade seria a incorporação do critério da OCDE que determina em 150
hab./km² o limite para definir as áreas urbanas.
4.4 A emergência do conceito “Urbanidades no rural” e suas reflexões:
De maneira geral, na visão de Rua (2006), os estudos pós-Segunda Guerra Mundial
referentes à questão do desenvolvimento, ao privilegiarem o aspecto tecnológico em lugar do
social (visão que ainda prevalece), contribuiu para enfatizar a dicotomia entre o rural e o urbano.
Porém,
mesmo
facilitando
a
constituição
dos
complexos
agroindustriais
e
consequentemente fortalecendo os grandes empresários rurais, alguns camponeses elaboram
meios de sobrevivência (individual ou coletivamente) e contribuem para a estruturação de
movimentos sociais rurais (RUA, 2006).
Wanderley (2003) contribui para essa forma de análise, enfatizando o papel da
“pluriatividade”. Para o autor, esta corresponde a uma estratégia familiar que, ao fazer uso de
atividades não-agrícolas fora do próprio estabelecimento e diversificando suas fontes de renda,
reproduz e assegura o mesmo como base para todos os membros da família.
Assim, de acordo com Rua (2006), as duas linhas de pensamento discutidas
anteriormente, se tomadas de maneira isolada, não retratam de forma completa a maior
complexidade que caracteriza o rural contemporâneo, influenciado por diferentes escalas da ação
social (RUA, 2006).
Rua (2006) acredita que não se deve superestimar as “novas ruralidades”, pois em sua
opinião, há de fato uma escala de urbanização que abarca todo o território. Por outro lado, o
autor também considera que existem outras escalas mais locais, as quais representam "leituras
particulares onde as interações local/global, interno/externo, urbano/rural, terão de ser
contempladas nas análises a serem efetuadas." (p. 91).
Além disso, as múltiplas territorialidades produzidas pelos grupos sociais através das
distintas escalaridades de ação, não podem ser esquecidas nas análises referentes ao campo e a
cidade (RUA, 2006).
4.5 A situação brasileira e a presença de ruralidades no urbano:
Veiga (2004) ressalta que não existe país que possua mais cidades do que o Brasil. De
acordo com o autor, “a definição brasileira de cidade é estritamente administrativa” (p. 28).
Mesmo que só tenha 4 casas, nas quais residem 3 famílias de agricultores e uma de
madeireiro (caso de União da Serra). Se for sede de município, é cidade e estamos
conversados. Disparate que surgiu em 1938, ápice do Estado Novo, com o Decreto-Lei
311. E que continua em vigor, pois nenhum outro diploma o revogou (VEIGA, 2004, p.
28)
Segundo Veiga (2004), em outros locais o critério administrativo para definir o que é uma
cidade, não é utilizado. Geralmente, busca-se a conciliação entre critérios estruturais
(localização, número de habitantes, de eleitores, de moradias etc) e funcionais (serviços
essenciais à urbe).
Em 1991 o IBGE realizou algumas alterações e passou a diferenciar três tipos de
categorias consideradas urbanas e quatro tipos de aglomerados rurais. As urbanas seriam: áreas
urbanizadas e não-urbanizadas de acordo com a intensidade da ocupação humana e áreas urbanas
isoladas, definidas por leis municipais, estando separadas por sede municipal, distrital, área rural
ou outro limite legal. Já as rurais corresponderiam a: aglomerados rurais do tipo extensão urbana,
situado fora do perímetro urbano, mas que seja extensão de uma cidade ou vila; povoado,
aglomerado rural isolado sem caráter privado ou empresarial, que disponha do mínimo de
serviços e equipamentos e que os moradores desenvolvam atividades econômicas; núcleo
aglomerado rural isolado que pertença a um único proprietário e outros aglomerados, os quais
não representam as características de nenhum dos outros três (VEIGA, 2003, apud LINDNER,
2008).
Porém, mesmo com as mudanças, a classificação fortaleceu o pressuposto de que são
urbanas todas as sedes municipais (cidades), sedes distritais (vilas) e áreas isoladas definidas por
Câmaras Municipais sem nenhum outro critério geográfico, de caráter estrutural ou funcional
(VEIGA, 2003, apud LINDNER, 2008).
Segundo Pinto e Costa (2009), a expansão do perímetro urbano, através de normas
estabelecidas pelas câmaras municipais, favorece também a inserção de áreas com características
e dinâmicas rurais. Com isso, torna-se possível se deparar nas periferias do sítio urbano com o
desenvolvimento de atividades rurais, como os cultivos agrícolas e a criação de animais.
Conforme destacam Oliveira, Brito e Pereira (2009), mais importante do que definir o
que é campo, cidade, rural, urbano, é identificar e analisar as relações entre estes espaços.
Andrade e Alves (2012) destacam que o urbano e o rural são distinguidos pela
intensidade da territorialidade. No primeiro, depara-se com relações mais globais, não tão
“presas” ao território, enquanto no rural há uma territorialidade maior, uma aproximação mais
forte com o local.
Atualmente, os crescentes debates sobre o “novo rural”, fazem deste, de maneira geral,
um espaço que simboliza uma melhor qualidade de vida. A partir disso, se faz necessário a busca
e a reflexão acerca das ruralidades, as quais podem ser encontradas tanto nas áreas rurais quanto
nas urbanas (LINDNER, 2008).
4.6 As ruralidades na periferia do município de Alfenas-MG e o desenvolvimento nacional
e internacional da agricultura urbana
Segundo Andrade e Alves (2012), o município de Alfenas, localizado no estado de Minas
Gerais, possui 73.774 habitantes, sendo que 69.176 têm suas residências na cidade e 4.598 no
campo, de acordo com Censo do IBGE, de 2010.
Andrade e Alves (2012) ressaltam que a região sul de Minas Gerais, onde está localizada
a microrregião de Alfenas-MG, destaca-se como uma das mais importantes produtoras de café
do Brasil. Tal atividade econômica influencia na organização do espaço urbano e rural da região.
A especialização produtiva está ligada ao processo de modernização da agricultura brasileira,
iniciada na década de 1960 (Figura 4).
Figura 4: Localização da microrregião de Alfenas no estado de Minas Gerais
Fonte: ANDRADE; ALVES (2012)
Conforme apontam Oliveira e Alves (2013), o município de Alfenas influencia sua
microrregião através de suas funções comerciais desempenhadas dentro do espaço urbano como
bancos, hospitais e universidades. Tais atividades produzidas dentro do território de Alfenas
atendem tanto a população local como também regional, e a consolidam como uma cidade
média.
Oliveira e Alves (2013) acrescentam que o setor de serviços em Alfenas tem uma grande
importância na economia regional, correspondendo a 63,78% do PIB municipal. Este valor se
deve em grande parte ao número elevado de estudantes no município e por ser um polo de
serviços ligado a saúde. O setor agropecuário tem relativa importância nesse contexto
económico, representando 10,25%. Basicamente a produção cafeeira é a responsável por
movimentar o setor agrário e tem influência na agroindústria regional (Tabela 1).
Tabela 1: Dados do município de Alfenas em relação a suas características socioeconómicas
Fonte: IBGE Cidades (2010)
Andrade e Alves (2012) ressaltam que no espaço periurbano de Alfenas, as articulações
entre o campo e a cidade podem ser verificadas por meio de diversos aspectos: econômicos,
culturais, demográficos, sociais e ambientais.
Nos bairros Pinheirinho e Santa Clara, por exemplo, parte da população mantém relações
com o campo através da agricultura urbana, criação de animais e atuando como mão de obra nas
fazendas de café (ANDRADE; ALVES, 2012).
Para Aquino e Assis (2007), a agricultura urbana atrela-se tanto a produção vegetal
quanto a criação de animais. O sistema agrícola constituído nas cidades integra a horticultura e o
cultivo de cereais à produção animal, podendo utilizar os restos vegetais para a alimentação
destes, bem como técnicas de compostagem isoladas ou em conjunto com o esterco proveniente
das criações.
Mougeot (2005) afere que, mesmo com a atual popularização da prática de agricultura
urbana, ainda não se estabeleceu uma conceituação padrão referente a esta. Conforme demonstra
o autor, a agricultura urbana sustenta-se nos seguintes elementos: tipos de atividade econômica;
localização intra-urbana ou periurbana; áreas onde é praticada; escala e sistema de produção;
produtos alimentícios e não alimentícios; e destinação dos produtos (Figura 5).
Figura 5: Elementos que compõem a agricultura urbana
Fonte: MOUGEOT (2005)
Para Drescher (2001), a decadência de diferentes economias nacionais, o rápido
crescimento populacional e o êxodo rural funcionam como bases para a produção agrícola
urbana em países desenvolvidos e subdesenvolvidos.
Aquino e Assis (2007) citam os casos de Cuba, México, Chile e países africanos. Em
função de crises políticas e socioeconômicas, a expansão dos cultivos agrícolas urbanos nestes
países contribui para a geração de emprego e alimento para uma parcela considerável das
populações locais.
Em relação ao Brasil, Almeida (2004) menciona a experiência da agricultura urbana em
Belo Horizonte. Conforme destaca o autor, esta atividade permitiu que algumas famílias
criassem hábitos alimentares mais adequados, consumindo produtos sem contaminação química
ou biológica.
Em Teresina-PI, por exemplo, a criação e aplicação do “Projeto Multissetorial Integrado
Vila-Bairro”, conta com incentivos do poder público municipal e atende famílias com baixa
renda (de 1 a 2 salários mínimos) em 117 hectares de 38 hortas (SECRETARIA MUNICIPAL
DE PLANEJAMENTO E COORDENAÇÃO GERAL, 1999).
Weid (2004) aponta que a agricultura urbana valoriza espaços limitados onde convivem
grupos sociais menos favorecidos economicamente. Em geral, a produção tende ao
autoconsumo, aumentando a disponibilidade de alimentos e diversificando a dieta das famílias.
De acordo com Weid (2004), o desenvolvimento da agricultura urbana contribui para que
as famílias que praticam tal atividade, fortaleçam seus laços coletivos. Tal fato, segundo o autor,
pode auxiliar no combate aos riscos de insegurança alimentar e nutricional.
Madaleno (2002) também destaca que, através da agricultura urbana, criam-se novas
áreas verdes nas cidades, favorecendo a infiltração das águas da chuva e a reciclagem dos
resíduos.
Aquino e Assis (2007) ressaltam, entretanto, que o desenvolvimento e a continuidade dos
programas e projetos socioeconômicos voltados para a temática da agricultura urbana, dependem
da vontade do poder público, cujo interesse pode variar entre um governante e outro.
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Pinheirinho
No bairro Pinheirinho, a análise dos questionários mostrou que 15 residentes praticam a
agricultura urbana e 15 não praticam (Gráfico 1), demostrando uma influência relevante das
práticas agrícolas e do rural no espaço urbano.
Gráfico 1: Prática da agricultura urbana no bairro Pinheirinho, em Alfenas-MG
Fonte: Trabalho de campo, abril e maio 2013
Os moradores do bairro Pinheirinho que praticam a agricultura urbana cuidam do manejo
manualmente e diariamente de suas hortas. Cultivam as hortas no quintal de suas residências e
plantam em geral hortaliças, sendo que alguns ainda criam galinhas.
Entre aqueles que declararam não praticar a agricultura urbana, 13 alegaram vontade em
exerce-la (86,7%), porém não há espaço físico suficiente em suas casas, e somente 2 (13,3%) não
estão dispostos a cultivar os próprios produtos (Gráfico 2).
Gráfico 2: Moradores dispostos e não dispostos em praticar a agricultura urbana (em unidades e porcentagem) no
bairro Pinheirinho, em Alfenas-MG
Fonte: Trabalho de campo, abril e maio 2013
Entre os 15 moradores que praticam a agricultura urbana, apenas 1 (6,7%) comercializa
sua produção na feira que ocorre aos domingos no centro da cidade. Os outros 14 (93,3%)
desenvolvem a atividade para subsistência (Gráfico 3).
Gráfico 3: Finalidade da produção dos moradores que praticam a agricultura urbana no bairro Pinheirinho, em
Alfenas-MG
Fonte: Trabalho de campo, abril e maio 2013
Dos 30 entrevistados, 18 moradores possuem raízes rurais (60%), ou seja, nasceram no
campo e migraram para a periferia de Alfenas, enquanto os outros 12 (40%) declararam ter
nascido em áreas urbanas (Gráfico 4).
Gráfico 4: Moradores do bairro Pinheirinho que nasceram no campo ou na cidade
Fonte: Trabalho de campo, abril e maio 2013
Conforme demonstrado no gráfico 5, constatou-se que dos 15 moradores que praticam a
agricultura urbana, 9 deles possuem raízes rurais (60%).
Gráfico 5: Moradores do bairro Pinheirinho que praticam agricultura urbana e suas respectivas raízes
Fonte: Trabalho de campo, abril e maio 2013
Pelo fato de viverem em uma área periurbana, ou seja, no limite entre o urbano e o rural,
avaliou-se perante os residentes do bairro se eles se veem atualmente como moradores do campo
ou da cidade. Sendo assim, 16 entrevistados (53,3%) consideram que vivem no campo, enquanto
outros 14 (46,7%) acreditam viver dentro da cidade (Gráfico 6).
Gráfico 6: Percepção dos moradores do bairro Pinheirinho, em Alfenas-MG
Fonte: Trabalho de campo, abril e maio 2013
Analisou-se também o nível de escolaridade dos moradores que praticam a agricultura
urbana (Gráfico 7). Nota-se que 7 moradores (46,6%) possuem ensino fundamental incompleto, 4
entrevistados (26,7%) são analfabetos, 3 chegaram a completar o ensino fundamental (20%) e apenas
1 morador (6,7%) concluiu o ensino médio.
Pode-se dizer que estes dados de escolaridade relacionam-se com o fato de 60% dos
entrevistados ter nascido no campo e se deslocado para a cidade a procura de melhores condições de
vida. Por ajudarem seus pais em atividades na agricultura, acabaram não desenvolvendo seus estudos
de forma adequada.
Gráfico 7: Nível de escolaridade dos moradores que praticam agricultura urbana no bairro Pinheirinho, em AlfenasMG
Fonte: Trabalho de campo, abril e maio 2013
Quanto à renda mensal dos moradores que praticam a agricultura urbana (Gráfico 8),
nota-se que 4 entrevistados recebem até 1 salário mínimo (26,7%), 8 residentes recebem de 1 a 2
salários mínimo (53,3%), 2 deles ganham de 2 a 3 salários (13,3%) e apenas 1 entrevistado
ganha de 3 a 4 salários (6,7%).
Gráfico 8: Renda mensal dos moradores do bairro Pinheirinho que praticam a agricultura urbana
Fonte: Trabalho de campo, abril e maio 2013
5.2 Recreio Vale do Sol
Já no bairro Recreio Vale do Sol, a análise dos questionários mostrou que 8 residentes
(26,7%) praticam a agricultura urbana e os outros 22 não praticam (73,3%). Nota-se que neste
local, tal atividade ainda se mostra incipiente (Gráfico 9).
Gráfico 9: Prática da agricultura urbana no bairro Recreio Vale do Sol, em Alfenas-MG
Fonte: Trabalho de campo, agosto 2013
Os moradores locais que praticam a agricultura urbana desenvolvem esta atividade no
quintal da própria residencia, não utilizam agrotóxicos em suas plantações e, diferentemente, dos
residentes do bairro Pinheirinho, não cuidam diariamente de suas hortas. Em geral, plantam
hortaliças, frutas e criam galinhas.
Dos 22 entrevistados que disseram não praticar a agricultura urbana, 18 alegaram vontade
em exerce-la (81,8%), porém não há espaço físico suficiente em suas casas e falta incentivo por
parte da Prefeitura na construção de horas comunitárias. Apenas 4 entrevistados (18,2%) não
estão dispostos a cultivar os próprios produtos (Gráfico 10).
Gráfico 10: Moradores dispostos e não dispostos em praticar a agricultura urbana no bairro Recreio Vale do Sol, em
Alfenas-MG
Fonte: Trabalho de campo, agosto 2013
Dentre os 8 moradores que praticam a agricultura urbana, apenas 1 (12,5%) comercializa
sua produção na feira que ocorre aos domingos no centro da cidade. Os outros 7 (87,5%)
desenvolvem a atividade para subsistência (Gráfico 11).
Gráfico 11: Finalidade da produção dos moradores que praticam a agricultura urbana no bairro Recreio Vale do Sol,
em Alfenas-MG
Fonte: Trabalho de campo, agosto 2013
Diferentemente do bairro Pinheirinho, em que a maioria dos entrevistados declarou ter
nascido no campo, somente 6 moradores (20%) do bairro Receio Vale do Sol provém de áreas
rurais, enquanto os outros 24 (80%) disseram ter nascido na cidade (Gráfico 12).
Gráfico 12: Moradores do bairro Recreio Vale do Sol que nasceram no campo ou na cidade
Fonte: Trabalho de campo, agosto 2013
Levando-se em conta os 8 praticantes da agricultura urbana, verificou-se que 4 deles
(50%) possuem raízes rurais (Gráfico 13).
Gráfico 13: Moradores do bairro Recreio Vale do Sol que praticam agricultura urbana e suas respectivas raízes
Fonte: Trabalho de campo, abril e maio 2013
Dos 30 moradores entrevistados, 4 (13,3%) se consideram atualmente como residentes do
campo, enquanto os outros 26 (86,7%) se consideram da cidade (Gráfico 14).
Gráfico 14: Percepção dos moradores do bairro Recreio Vale do Sol, em Alfenas-MG
Fonte: Trabalho de campo, agosto 2013
Quanto ao nível de escolaridade dos moradores que praticam a agricultura urbana, como
pode ser visto no gráfico 15, 4 deles possuem ensino fundamental incompleto (50%), 2 possuem
ensino fundamental completo (25%), 1 morador concluiu o ensino médio (12,5%) e 1 possui ensino
superior completo (12,5%).
Comparando-se com o bairro Pinheirinho, nota-se que nenhum praticante de agricultura
urbana no bairro Recreio Vale do Sol se declarou analfabeto, além de haver um residente que é em
bacharel em direito.
Gráfico 15: Nível de escolaridade dos moradores que praticam agricultura urbana no bairro Pinheirinho, em
Alfenas-MG
Fonte: Trabalho de campo, agosto 2013
Entre moradores que praticam a agricultura urbana, 2 recebem até 1 salário mínimo
(25%), 3 entrevistados recebem de 1 a 2 salários mínimo (37,5%), 1 residente ganha de 2 a 3
salários (12,5%), 1 entrevistado recebe de 3 a 4 salários (12,5%) e 1 residente (12,5%) recebe de
4 a 5 salários (Gráfico 16).
Gráfico 16: Renda mensal dos moradores do bairro Recreio Vale do Sol que praticam a agricultura urbana
Fonte: Trabalho de campo, agosto 2013
5.3 Jardim Alvorada
No último bairro analisado, a aplicação dos questionários evidenciou que 5 moradores
praticam a agricultura urbana (16,7%) e 25 não praticam (83,3%). Nesta localidade, o
desenvolvimento deste tipo de agricultura se mostrou mais fraco do que no bairro Recreio Vale
do Sol (Gráfico 17).
Gráfico 17: Prática da agricultura urbana no bairro Jardim Alvorada, em Alfenas-MG
Fonte: Trabalho de campo, agosto 2013
Os moradores locais praticantes da agricultura urbana, assim como os moradores dos
bairros Pinheirinho e Recreio Vale do Sol, cuidam manualmente de suas hortas e não utilizam
agrotóxicos. Cultivam hortaliças, frutas e criam galinhas.
Dos 25 não praticantes da agricultura urbana, 20 alegaram vontade em exerce-la (80%),
porém o pouco espaço que há em suas casas juntamente com a falta de hortas comunitárias no
bairro tornam-se empecilhos. Apenas 5 entrevistados (20%) não se mostraram dispostos a
cultivar os próprios produtos (Gráfico 18).
Gráfico 18: Moradores dispostos e não dispostos em praticar a agricultura urbana no bairro Jardim Alvorada, em
Alfenas-MG
Fonte: Trabalho de campo, agosto 2013
Considerando os 5 moradores que praticam a agricultura urbana, somente 1 (20%)
comercializa sua produção na feira que ocorre aos domingos no centro da cidade. Os outros 4
(80%) desenvolvem a atividade para o próprio consumo (Gráfico 19).
Gráfico 19: Finalidade da produção dos moradores que praticam a agricultura urbana no bairro Jardim Alvorada, em
Alfenas-MG
Fonte: Trabalho de campo, agosto 2013
Seguindo uma tendência parecida com a do bairro Recreio Vale do Sol, apenas 7
moradores (23,3%) do Jardim Alvorada provém de áreas rurais, enquanto os outros 23 (76,7%)
disseram ter nascido em áreas urbanas (Gráfico 20).
Gráfico 20: Moradores do bairro Jardim Alvorada que nasceram no campo ou na cidade
Fonte: Trabalho de campo, agosto 2013
Considerando os 5 praticantes da agricultura urbana, constatou-se que 2 deles (40%)
possuem raízes rurais (Gráfico 21). Tal situação diferencia-se dos bairros citados anteriormente,
Gráfico 21: Moradores do bairro Jardim Alvorada que praticam agricultura urbana e suas respectivas raízes
Fonte: Trabalho de campo, abril e maio 2013
Assim como no bairro Recreio Vale do Sol, somente 4 entrevistados (13,3%) se
consideram atualmente como residentes do campo, enquanto os outros 26 (86,7%) consideramse residentes da cidade (Gráfico 22).
Gráfico 22: Percepção dos moradores do bairro Jardim Alvorada, em Alfenas-MG
Fonte: Trabalho de campo, agosto 2013
O nível de escolaridade dos moradores praticantes da agricultura urbana do bairro Jardim
Alvorada segue a linha dos moradores do Pinheirinho e Recreio Vale do Sol (Gráfico 23).
Verificou-se que 3 possuem ensino fundamental incompleto (60%), 1 possui ensino fundamental
completo (20%) e 1 morador concluiu o ensino médio (20%).
Gráfico 23: Nível de escolaridade dos moradores que praticam agricultura urbana no bairro Jardim Alvorada, em
Alfenas-MG
Fonte: Trabalho de campo, agosto 2013
Conforme pode ser visto no gráfico 24, dos moradores que praticam a agricultura urbana,
2 recebem até 1 salário mínimo (40%), 2 entrevistados recebem de 1 a 2 salários mínimo (40%)
e 1 residente ganha de 2 a 3 salários (20%).
Gráfico 24: Renda mensal dos moradores do bairro Jardim Alvorada que praticam a agricultura urbana
Fonte: Trabalho de campo, agosto 2013
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa teve como princípio analisar as ruralidades existentes na periferia de Alfenas,
principalmente o desenvolvimento da agricultura urbana, e realizar comparações entre os bairros
Pinheirinho, Jardim Alvorada e Recreio Vale do Sol. Além disso, buscou-se identificar a
realidade socioeconômica desta periferia e se os moradores locais consideram-se residentes do
campo ou da cidade.
Foi possível verificar que a periferia possui focos de ruralidades, sendo o bairro
Pinheirinho aquele em que a prática da agricultura urbana se manifesta com mais força. Nota-se
que em todos os bairros a agricultura urbana é exercida quase exclusivamente para subsistência
dos moradores.
Percebe-se que, com a chegada do campus da Unifal à periferia e à medida que o setor de
serviços começa a ganhar mais “corpo” no entorno, transformando a paisagem, a maioria dos
moradores se vê como residentes da cidade, especialmente aqueles concentrados nos bairros
Jardim Alvorada e Recreio Vale do Sol.
Em relação à característica socioeconômica destes moradores, pode-se aferir que em sua
maioria, estes não chegaram a concluir o ensino fundamental, e recebem no máximo até 2
salários mínimo. Deste modo, parte dos moradores decidem praticar a agricultura urbana para
obter um incremento em sua alimentação, reduzindo os gastos em compras nos supermercados,
por exemplo.
Além disso, apesar dos bairros estarem situados no limite entre o campo e a cidade, tal
fato não representa uma condição efetiva para que se tenha uma prática da agricultura urbana.
Alguns dos fatores mais importantes para a consolidação desta atividade são: uma área maior
disponível em cada residência, áreas comunitárias para o cultivo de hortas e assistência técnica
para auxiliar no desenvolvimento deste tipo de agricultura.
Por fim, fica evidente, principalmente ao se analisar os bairros Pinheirinho e Recreio
Vale do Sol, que a prática da agricultura urbana representa um aspecto que atrela-se a origem
rural dos moradores. Este processo de reterritorialização, do campo para a cidade, levou o modo
de vida e alguns costumes tipicamente rurais para a periferia de Alfenas.
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8. ANEXO A - QUESTIONÁRIO
PERFIL SOCIOECONÔMICO:
1. Nome:________________________________________ 2. Idade:______
3. Cidade de origem:_____________________________
□Campo □Cidade
4. Quantas pessoas moram na residência:______________
□Analfabeto/Nunca frequentou a escola □Fundamental Incompleto
□Fundamental Completo □Médio Incompleto □Médio Completo □ Superior Incompleto
□Superior Completo
5. Nível de escolaridade:
6. Em qual atividade você trabalha? _________________________________________
7. Renda da Família:
□Até 1 Salário Mínimo □De 1 a 2 □De 2 a 3 □De 3 a 4 □De 4 a 5
□De 5 a 6 □De 6 a 7 □De 7 a 8 □De 8 a 9 □De 9 a 10 □11 ou +
8. O(a) senhor(a) ou algum outro membro da família trabalha na colheita do café?
□Sim □Não
CAMPO-CIDADE:
9. O(a) senhor(a) se considera morador do campo ou da cidade?
10. Pratica agricultura urbana (AU):
□Campo □Cidade
□Sim □Não
11. Se não pratica, caso tivesse uma área maior em casa ou uma horta comunitária, o(a)
senhor(a) praticaria Agricultura Urbana:
□Sim □Não
12. Quais os tipos de plantas/vegetais cultivados:
13. Quantos:
14.
□Subsistência □Comercialização □Ambos
15. Onde comercializa?
16. Auxilia na renda?
□Sim □Não
.
16 Quanto por mês?______________
17. Quem cuida da agricultura?
18. Tempo (dia/semana/mês) que dedica a AU?
19. Por quais motivos pratica AU?
□Econômico □Ambiental □Cultura Rural □Saúde
□Outro (qual?)
20. Se o(a) senhor(a) tivesse melhores condições financeiras, continuaria a praticar AU?
□Não
21. Existe alguma preocupação ambiental na prática da AU?
□Sim □Não
22. Se sim, qual? (técnicas utilizadas, manejo etc)
23. Cria animais?
□Sim □Não
24. Quais tipos?
25. Quantos?
26. Em que área/local o(a) senhor(a) planta ou cria os animais?
□Sim
9. ANEXO B – FOTOGRAFIAS
Fotografia 1: Agricultura urbana dentro da residência de um morador do bairro Pinheirinho, em Alfenas-MG
Renan Vidal Mina
Fotografia 2: Galinhas em uma calçada do bairro Recreio Vale do Sol, em Alfenas-MG
Renan Vidal Mina
Fotografia 3: Contato entre o rural e o urbano no bairro Jardim Alvorada, em Alfenas-MG
Renan Vidal Mina
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