MESA REDONDA ALTERAÇÕES NO RECONHECIMENTO FACIAL NOS TRANSTORNOS MENTAIS E NEUROLÓGICOS IDENTIFICAÇÃO DE EMOÇÕES EXPRESSAS PELA FACE E PSICOPATIA Prof. Dr. Silvio José Lemos Vasconcellos UFSM – Universidade Federal de Santa Maria ENTENDENDO A PSICOPATIA A PARTIR DOS SEUS SINTOMAS MAIS CARACTERÍSTICOS • A Psicopatia pode ser considerada uma forma específica e extrema de Transtorno de Personalidade (Steverwald & Kosson, 2000), caracterizando-se por um estilo interpessoal disfuncional e típico, como elemento central. A essência do transtorno manifesta-se nas interações perturbadas que a pessoa mantém com os outros (Vaillent,1987), sendo identificada por uma série de critérios afetivos e comportamentais definidos por Cleckley (1941/ 1988) e revistos por Hare (1991). ENTENDENDO A PSICOPATIA A PARTIR DOS SEUS SINTOMAS MAIS CARACTERÍSTICOS • A psicopatia pode ser entendida como um conjunto de traços de personalidade relacionados à ausência de remorso, baixa empatia, impulsividade, busca por estimulação, além de uma maior dominância social, cuja expressão pode se dar a partir da capacidade de manipular outros indivíduos (Patrick, Fowles, & Krueger) • Dentre os diferentes significados para a palavra manipular, verifica-se que a mesma é, em sentido figurado, utilizada também como sinônimo de condicionar ou influenciar alguém em proveito próprio. ALGUNS MODELOS EXPLICATIVOS • Os modelos decorrentes dos trabalhos de Blair e Kiehl apregoam, indistintamente, que o sistema límbico exerce uma significativa influência para os sintomas da psicopatia (Anderson & Kiehl, 2012). O modelo de Blair, no entanto, possui maior ênfase nas disfunções amigdalares verificadas em psicopatas. • O Modelo da Disfunção Paralímbica proposto por Kiehl é mais abrangente e apoia-se nos pressupostos da citoarquitetura celular, mas não demonstra ser uma plena refutação do modelo anterior. Esse modelo considera fatores relativos à densidade, tipo e estrutura neuronal das regiões periféricas ao sistema límbico, bem como o papel das mesmas para o processamento de informações sociais (Kiehl, 2006). • Nesses termos, estruturas como o giro temporal superior, cingulado anterior, cingulado posterior, córtex orbitofrontal, ínsula e regiões parahipocampais são descritas como intervenientes nos sintomas afetivos, interpessoais e comportamentais da psicopatia (Erner, Cope, Nyalakanti, Calhoun, & Kiehl, 2012). • Um menor nível de ativação da amígdala tem sido verificado em psicopatas quando comparados a grupo controle diante da exposição de imagens de impacto emocional envolvendo a violação de normas morais (Harenski et al., 2010), bem como para o processamento de emoções negativas (Dollan & Fullan, 2009) e durante processo de condicionamento aversivo (Rilling et al., 2007). Alterações volumétricas, sugerindo um desenvolvimento atrofiado da amigdala também têm sido verificadas em psicopatas na literatura recente (Anderson & Kiehl, 2012). • A recente ênfase verificada nos trabalhos de Blair, quanto ao papel do córtex ventromedial, estrutura contígua ao córtex orbitofrontal situada na extremidade inferior do lobo frontal e fortemente conectado à amigdala, também encarrega-se de aproximar a compreensão neurocognitiva desses pesquisadores (Blair et al., 2001; Anderson & Kiehl, 2012). Situações Paradoxais? • Bernard Madoff - foi o presidente de uma sociedade de investimento que tem o seu nome e que fundou em 1960. Esta sociedade foi uma das mais importantes de Wall Street, causando uma das maiores fraudes da história. • Charles Sobhraj (A Serpente) – ladrão, estelionatário e assassino em série que cometeu diversos crimes em países do sudeste asiático. • Revela-se cabível perguntar como psicopatas podem ser, na maioria dos casos, manipuladores eficazes, sendo, ao mesmo tempo, processadores menos perspicazes no que diz respeito a determinadas informações sociais de conteúdo emocional . ALGUNS ACHADOS ANTERIORES • Em relação aos estudos que utilizaram amostras compostas por adultos (n=13), percebe-se que o método foi menos homogêneo. De todos os artigos revisados com participantes adultos, a maioria (n=7) utilizou tempo ilimitado de exposição dos estímulos. • Nos demais estudos (n=6), o tempo de exposição não foi convergente, variando de 33 ms (Eisenbarth et al., 2008) a 3 s (Blair et al., 2004). • Dos 12 estudos revisados que utilizaram amostras de adultos,, 5 identificaram déficits no reconhecimento da emoção de medo em psicopatas quando comparados ao grupo-controle (Blair et al., 2004; Book et al., 2007; Del Gaizo & Falkenback, 2007; Iria & Barbosa, 2009; Montagne et al., 2005). Os demais estudos encontraram apenas déficits em tristeza (Dolan & Fullam, 2006; Eisenbarth et al., 2008) e repugnância (Hansen, Johnsen, Waage, & Thayer 2008; Kosson et al., 2002), que são emoções negativas. RESULTADOS COM O FERBT (COMPARANDO ADOLESCENTES COM E SEM TRAÇOS DE PSICOPATIA) • • t-test t p • Anger 200ms .929 .359 • Anger 500ms .919 .364 • Anger 1s .998 .324 • Fear 200ms -2.083 .044 • Fear 500ms -1.512 .139 • Fear 1s -1.240 .222 • Disgust 200ms .414 .681 • Disgust 500ms .960 .343 • Disgust 1s .769 .447 • Sadness 200ms .632 .531 • Sadness 500ms 1.402 .169 • Sadness 1s 1.112 .273 • Surprise 200ms .982 .332 • Surprise 500ms 1.376 .177 • Surprise 1s .259 .797 Apenas um 1/5 de segundo para processar uma emoção expressa pela face Schyns P.G., Petro L.S. & Smith M.L. (2009) Transmission of Facial Expressions of Emotion Co-Evolved with Their Efficient Decoding in the Brain: Behavioral and Brain Evidence PLoS ONE Vol.4(5), 5625. • Pressupõe-se, com base no estado atual de conhecimento sobre o assunto, que psicopatas apresentam déficits específicos, porém, bastante sutis em termos de cognição social. Esse mesmo grau de sutileza explicaria a concordância nem sempre presente em diferentes estudos que investigam a capacidade dos psicopatas identificarem emoções expressas pela face. De outro modo, explicaria ainda a possibilidade de que os sintomas diretamente relacionados a estratégias de manipulação no contexto interpessoal coexistam com tais deficiências de processamento. UM NOVO ESTUDO RELACIONADO À CAPACIDADE DE IDENTIFICAR TRISTEZA EM PSICOPATAS Justificativa Já existem evidências de que a presença da lágrima na face facilita a identificação da emoção de tristeza em diferentes condições. Essa facilitação pode ocorrer em um processamento rápido e no limiar do processamento consciente (50 milissegundos). Blater, M. J. et al. (2013). Emotional tears facilitate the recognition of sadness and the perceived need for social support. Evolutionary Psychology ,11(1):148-158. NOVO INSTRUMENTO DE PESQUISA FOTO SEM LÁGRIMA FOTO COM LÁGRIMA REFERÊNCIAS Blair, R. J. R., Mitchell, D. G. V., Peschardt, K. S., Colledge, E., Leonard, R. A., Shine, J. H., Murray, J., & Perrett, L. K. (2004). Reduced sensitivity to others´ fearful expressions in psychopathic individuals. Personality and Individual Differences, 37, 1111-1122. Blair, R. J. R., Colledge, E. Murray, L., & Mitchell, D. G. (2001). A selective impairment in processing of sad and fearful expressions in children with psychopathic tendencies. Journal of Abnormal Child Psychology, 29(6), 491-498. Blater, M. J. et al. (2013). Emotional tears facilitate the recognition of sadness and the perceived need for social support. Evolutionary Psychology ,11(1):148-158. Del Gaizo, A. L., & Falkenbach, D. M. (2007). Primary and secondary psychopathic-traits and their relationship to perception and experience of emotion. Personality and Individual Differences, 45(3), 206-212. Kosson, D. S., Steuerwald, B. L., Forth, A. E., & Kirkhart, K. J. (1997). A new method for assessing the interpersonal behavior of psychopathic individuals: Preliminary validation studies. Psychological Assessment, 9(2), 89–101. Patrick, C. J., Fowles, D. C., & Krueger, R. F. (2009). Triarchic conceptualization of psychopathy: Developmental origins of disinhibition, boldness, and meanness. Development and Psychopathology, 21, 913938. Vasconcellos, S. J., Salvador-Silva, R., Gauer, V., & Gauer, G. (2014). Psychopathic Traits in Adolescents and Recognition of Emotion in Facial Expressions. Psicologia: Reflexão e Crítica, 27(4), 768-774. Vasconcellos, Silvio José Lemos, Salvador-Silva, Roberta, Dias, Ana Cristina, Davóglio, Tárcia Rita, & Gauer, Gabriel. (2014). Psicopatia e Reconhecimento de Expressões Faciais de Emoções: Uma Revisão Sistemática. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 30(2), 125-134. Yang Y, Raine A, Narr KL, Colletti P, Toga AW. Localization of Deformations Within the Amygdala in Individuals With Psychopathy. Arch Gen Psychiatry. 2009;66(9):986-994. Muito obrigado!!! Nosso Blog: http://facesementes.blogspot.com.br/ Nosso e-mail: [email protected] GRUPO PAACS – Psicologia – UFSM