CONSUMER MARKETS
Combate às
fraudes
Prevenção é a saída para diminuir as
perdas das empresas
38 Consumer Markets
Werner Scharrer,
sócio da KPMG no
Brasil na área de
Forensic
Nos últimos anos, o combate às
fraudes passou a receber mais
atenção das empresas ligadas ao
mercado de consumo (indústria
e varejistas). Historicamente,
as companhias desses setores
preferiam centrar esforços em
outros aspectos do negócio, como
no aumento de vendas. No entanto,
as exigências dos investidores e
dos órgãos reguladores por boas
práticas de governança corporativa,
bem como a própria necessidade de
melhorar o resultado operacional,
fizeram com que o combate às
fraudes ganhasse uma importância
extremamente significativa na gestão
das companhias. Principalmente no
departamento de Compras, por onde
passa grande parte dos recursos.
“As fraudes, em especial no
departamento de Compras, trazem
perdas efetivas e impactam o lucro.
Por isso, devem ser foco de ações
de mitigação de riscos e também de
prevenção. Já é possível perceber,
hoje, uma mudança de mentalidade.
As companhias estão cada vez
mais atentas, trabalhando de forma
proativa. Muitas delas, inclusive, já
têm pessoal especializado, que atua
junto com a auditoria interna e tem
a responsabilidade de identificar as
situações que podem expor a empresa
a fraudes e perdas financeiras”, afirma
Werner Scharrer, sócio da KPMG no
Brasil na área de Forensic.
Trata-se de uma boa notícia.
Principalmente se levarmos em
conta que o combate às fraudes
é fundamental para melhorar a
gestão financeira das organizações
e também elevar os padrões de
governança corporativa. Atualmente,
ética, comprometimento e
atuação de acordo com valores
morais aceitos pela sociedade são
imprescindíveis – quando a empresa
Paulo Ferezin,
diretor da KPMG
no Brasil na área de
Desenvolvimento de
Negócios para o Varejo
trabalha de acordo com esses
princípios, ela cria uma reputação
que dá confiança ao consumidor e
aos parceiros de negócios.
Apesar desse cenário positivo, ainda
há um longo caminho a ser percorrido.
Em especial nas empresas brasileiras.
“Estamos no caminho certo, mas
podemos evoluir. O Brasil ainda atua
de forma reativa, ou seja, age quando
as fraudes já ocorreram. O ideal é que
as companhias trabalhem de forma
preventiva, com análise de dados e
das informações internas e mesmo
as externas para identificar red flags e
inconsistências, que acarretam riscos
de fraudes”, explica o sócio da KPMG.
A investigação das causas se dá
quando o prejuízo já aconteceu. Daí a
importância da prevenção.
“As áreas de prevenção de fraudes
estabelecem regras de conduta e
segregação de funções nos diversos
Consumer Markets 39
CONSUMER MARKETS
Que área é responsável por gerenciar o combate às fraudes
no processo de compras?
Auditoria interna
31
Compras
33
Contabilidade
14
Compliance
10
9
Nenhuma delas
0%
10%
20%
30%
40%
50%
Fonte: KPMG International
elos da cadeia de fornecimento para
mitigar o risco de ocorrências. Isso é
fundamental. Quando se criam rotinas
de prevenção e controle de fraudes,
já fica evidente para todos que a
empresa tem processos e controles
sobre condutas não condizentes
com as boas práticas adotadas pela
companhia. Dessa forma, a empresa
cria um ambiente de trabalho ético,
no qual todos os funcionários e
colaboradores entendem quais são os
procedimentos adequados”, comenta
Paulo Ferezin, diretor da KPMG no
Brasil na área de Desenvolvimento de
Negócios para o Varejo.
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Pontos de atenção
Além de estruturar áreas de
prevenção, é preciso também
aprimorar o controle. Isso pôde ser
percebido na pesquisa Procurement
Fraud in Consumer Companies,
preventing, detecting and taking
action, realizada pela KPMG
International. De acordo com o
estudo, 33% das 460 companhias
pesquisadas responderam que
a própria área de Compras é o
departamento responsável por
gerenciar os riscos de fraudes.
Para 31%, essa responsabilidade
era da auditoria interna; para 14%,
da Contabilidade; para 10%, da
Compliance; e para 9%, de nenhum
desses departamentos. Aqui existe
um conflito. “É uma contradição. Uma
área tão exposta a riscos de fraudes,
como Compras, jamais poderia ter
a função de auditar a si mesma.
Esse controle deve vir de fora, de
pessoal independente. É um alerta: as
empresas devem avaliar essa questão
a fundo”, explica Werner Scharrer.
As oportunidades de fraudes
podem estar em diversas etapas
do processo de compras. A maior
parte dos problemas não está na
redação do contrato, já que ele
normalmente é submetido a outras
áreas, como o departamento Jurídico.
Os riscos estão, principalmente,
em sua execução, em especial nos
contratos de médio e longo prazos,
que estabelecem critérios, regras
e descontos. Muitas vezes não há
Sua empresa usa a análise de dados para detectar e prevenir
as fraudes?
18
Não usa
47
Usa de forma limitada
26
Faz um teste periódico retrospectivo
7
Monitora constantemente
0%
10%
20%
30%
40%
50%
Fonte: KPMG International
o acompanhamento devido. Isso
fica ainda mais complexo porque
fraude pressupõe a intenção
de obter vantagens ilícitas. Em
certos casos, fica difícil obter a
comprovação. Erros ou desculpas
técnicas costumam aparecer para
mascarar inconsistências de dados ou
o não aproveitamento de vantagens
para a empresa. O gerenciamento
de contratos e a negociação
de preferências e descontos
com fornecedores são pontos
extremamente sensíveis e
suscetíveis a fraudes. Até porque
envolvem grandes volumes de
recursos financeiros.
“Não existe uma regra geral que
funcione para todas as companhias.
Por isso, é essencial mapear toda a
cadeia de suprimentos e avaliar os
processos para identificar os pontos
de vulnerabilidade. Partindo desses
red flags, a empresa deve construir
um modelo de combate às fraudes
de acordo com a sua realidade. Essas
ações ajudarão a mitigar riscos,
indicarão a necessidade de mudar os
processos, estabelecendo, assim, um
padrão ético”, diz Ferezin.
O avanço da tecnologia também
pode ser um aliado. Neste segmento
de negócios, as empresas são
obrigadas a lidar com um volume
muito grande de dados. Uma análise
proativa das informações eletrônicas
pode contribuir para a prevenção
e a identificação de pontos de
vulnerabilidade. A tecnologia permite
ganhar velocidade tanto na avaliação
de indícios quanto na detecção.
Mesmo com todas essas vantagens,
a tecnologia ainda está sendo pouco
utilizada pelas companhias. De
acordo com a pesquisa da KPMG,
65% delas não usam (18%) ou
usam de forma limitada (47%) a
análise de dados. As empresas já
entenderam que precisam combater
as fraudes. Resta, agora, trabalhar
para efetivamente implementar planos
de mitigação de riscos. As vantagens
são consideráveis: maior eficiência
operacional e ganho nos lucros.
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