Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde Coletiva Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva Análise do controle de qualidade do diagnóstico da malária realizados por microscopistas do estado de Mato Grosso, Brasil, entre 2009 e 2011 Ligia Maria Senigalia Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Saúde Coletiva para obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva. Área de concentração: Epidemiologia Orientadora: Profª Dra. Marina Atanaka dos Santos Cuiabá – MT 2013 Análise do controle de qualidade do diagnóstico da malária realizados por microscopistas do estado de Mato Grosso, Brasil, entre 2009 e 2011 Ligia Maria Senigalia Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Saúde Coletiva para obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva. Área de concentração: Epidemiologia Orientadora: Profª Dra. Marina Atanaka dos Santos Cuiabá – MT 2013 Dados Internacionais de Catalogação na Fonte. S477a Senigalia, Ligia Maria. Análise do controle de qualidade do diagnóstico da malária realizados por microscopistas do estado de Mato Grosso, Brasil, entre 2009 e 2011 / Ligia Maria Senigalia. -- 2013 x, 137 f. : il. ; 30 cm. Orientadora: Marina Atanaka dos Santos. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Saúde Coletiva, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Cuiabá, 2013. Inclui bibliografia. 1. Malária. 2. Microscopia. 3. Controle de Qualidade. I. Título. Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a). Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA Avenida Fernando Corrêa da Costa, 2367 - Boa Esperança - Cep: 78060-900 – CUIABÁ/MT Tel: (65) 3615-8884 - Email : [email protected] FOLHA DE APROVAÇÃO TÍTULO : "Análise do Controle de Qualidade do Diagnóstico da Malária Realizados por Microscopistas do Estado de Mato Grosso, Brasil, entre 2009 e 2011" AUTORA: Mestranda LIGIA MARIA SENIGALIA Dissertação defendida e aprovada em 02 / 09 / 2013 Composição da Banca Examinadora: Presidente Banca / Orientadora: Doutora MARINA ATANAKA DOS SANTOS Instituição: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO Examinador Interno: Doutor MARIANO MARTÍNEZ ESPINOSA Instituição: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO Examinador Externo: Doutora GISELE PEDROSO MOI Instituição: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VÁRZEA GRANDE CUIABÁ, 02 / 09 / 2013 Dedico a vitória dessa dissertação aos meus pais, Maria Tereza e Claudinei, que toda a minha vida me incentivaram a continuar estudando e me apoiaram a perseverar nos meus sonhos. Obrigada ao meu irmão, Claudinei Filho, por estarmos juntos comemorando nossas conquistas. Dedico esta dissertação também ao meu esposo, Ivandro, que desde o começo esteve ao meu lado me apoiando para seguir em frente. Obrigada! Agradeço todos os dias a Deus por tê-los em minha vida! Amo-os demais!!! AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pelas bênçãos diariamente concedidas, pelas oportunidades de estudo e pela perseverança para o alcance dos objetivos de vida. Meu obrigada à Profª Drª Marina Atanaka dos Santos pela confiança, por ter aceitado me orientar no mestrado e pelas orientações que tornaram possíveis a elaboração desta dissertação. Agradeço à Elaine Cristina de Oliveira da Secretaria de Estado de Saúde (SES) de Mato Grosso pela amizade e pelas diversas vezes que me socorreu na busca pelos dados da pesquisa. Ao Diretor Geral do Lacen/MT Laboratório da Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso pela autorização na coleta de dados nos relatórios de diagnóstico laboratorial de malária elaborados e recebidos por este laboratório. Em especial meu muito obrigada às responsáveis pela supervisão e revisão laboratorial do Lacen/MT Laboratório, Benedita Monteiro Braga e Ruth Elci Bucco Guerra pela imensa paciência na busca pelos relatórios arquivados e pela disposição no fornecimento dos dados e na elucidação de minhas dúvidas. Aos diretores de cada Escritório Regional de Saúde do estado pela prestatividade na busca de informações sobre os microscopistas de base e revisores de sua regional para o presente estudo. À Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), onde tive a honra de me graduar e também pela oportunidade de, por ela, me tornar Mestre em Saúde Coletiva. À todos os professores da Pós Graduação do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso pela competência na condução das disciplinas e pelo carinho para com os discentes, minha sincera admiração. À Secretaria do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da UFMT, especialmente à Jurema Morbeck e Hailton Pinho por sempre nos atender com verdadeira atenção e paciência. À todos os colegas do mestrado em especial à Dayane e Alda pelas atividades conjuntas nas disciplinas do curso, que sempre desenvolvemos com grande amizade e esforço. Meus agradecimentos aos professores que estiveram presente na pré-banca e na defesa desta dissertação, obrigada ao Profº Drº Mariano Martínez Espinosa, Profª Drª Gisele Pedroso Moi e Profª Drª Delma Perpétua Oliveira de Souza pelas contribuições valiosas na finalização deste estudo. Àqueles que também contribuíram no meu caminho no mestrado e também para a elaboração desta dissertação, meu muito obrigada! LISTA DE SIGLAS CEP – Comitê de Ética e Pesquisa CGLAB – Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública CME – Central de Materiais Esterilizados DECs – Descritores em Ciências da Saúde EPI – Equipamentos de Proteção Individual ERS – Escritórios Regionais de Saúde f/fg – lâminas lidas como positivas para P. falciparum e que na revisão foram diagnosticadas como positivas para Gametócito f/v – lâminas lidas como positivas para P. falciparum e que na revisão foram diagnosticadas como positivas para P. vivax fg/f,+fg – lâminas lidas como positivas para Gametócito e que na revisão foram diagnosticadas como positivas para P. falciparum com Gametócito FIOCRUZ – Instituto Oswaldo Cruz FN – Falso Negativo FP – Falso Positivo GAL – Gerenciador de Ambiente Laboratorial HUJM – Hospital Universitário Júlio Müller IC – Índice de Concordância IEC – Instituto Evandro Chagas IPA – Incidência Parasitária Anual LACEN – Laboratórios Centrais de Saúde Pública LILACS – Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde LVC – Lâmina de Verificação de Cura m/f – lâminas lidas como positivas para P. malariae e que na revisão foram diagnosticadas como positivas para P. falciparum m/v – lâminas lidas como positivas para P. malariae e que na revisão foram diagnosticadas como positivas para P. vivax MEDLINE – Medical Literature Analysis and Retrieved System MeSH – Medical Subject Heading ii N/P – lâminas lidas como negativas para malária e que na revisão foram diagnosticadas como positivas, sendo então denominadas Falso Negativas OMS – Organização Mundial da Saúde OPAS – Organização Pan Americana de Saúde P. falciparum – Plasmodium falciparum P. malariae – Plasmodium malariae P. ovale – Plasmodium ovale P. vivax – Plasmodium vivax P/N – lâminas lidas como positivas para malária e que na revisão foram diagnosticadas como negativas, sendo então denominadas Falso Positivas PCMAN – Programa de Controle da Bacia Amazônica PIACM – Plano de Intensificação das Ações de Controle da Malária PNCM – Programa Nacional de Controle da Malária POP – Procedimento Operacional Padrão REDELAB/MT – Rede Estadual de Laboratórios de Saúde Pública do Estado de Mato Grosso SCIELO – Scientific Electronic Library Online SES – Secretaria de Estado de Saúde SES-MT – Secretaria do Estado de Saúde do Estado de Mato Grosso SISLAB – Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública Sivep-Malária – Sistema de Informações de Vigilância Epidemiológica – módulo malária v/f – lâminas lidas como positivas para P. vivax e que na revisão foram diagnosticadas como positivas para P. falciparum v/m – lâminas lidas como positivas para P. vivax e que na revisão foram diagnosticadas como positivas para P. malariae iii LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Mapa do Brasil destacando as áreas de risco para malária pelos diferentes níveis de incidência parasitaria anual. ................................................. 12 Figura 2 – Casos notificados e Incidência Parasitária Anual (IPA) de malária, Mato Grosso, 2003 a 2010..................................................................................... 14 Figura 3 – Organização do processo de validação ................................................. 22 Figura 4 – Representação dos procedimentos para seleção dos artigos .............. 32 Figura 5 – Mapa da localização geográfica do estado de Mato Grosso no Brasil. 46 Figura 6 - Divergências de leituras dos microscopistas de base encontradas pelos revisores dos ERS no estado de Mato Grosso de 2009-2011 ...................... 64 Figura 7 - Divergências de leituras de lâminas dos revisores dos ERS encontradas pelos revisores do Lacen/MT Laboratório no estado de Mato Grosso de 20092011 ....................................................................................................................... 72 iv LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Controle de qualidade de identificação de estágios assexuados dos parasitas no sangue, sem identificação das espécies:........................................... 23 v LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Resumo dos estudos que tratam da qualidade da microscopia da malária nos laboratórios. ....................................................................................... 34 Tabela 2 – Resumo dos estudos que tratam da comparação da microscopia da malária com os diversos testes rápidos disponíveis. ............................................. 38 Tabela 3 – Distribuição das ERS nas Regiões e Microrregiões do estado de Mato Grosso com população no ano 2010. .................................................................... 48 Tabela 4 – Total lâminas examinadas e revisadas pelos ERS no estado de Mato Grosso de 2009-2011. ............................................................................................ 57 Tabela 5 – Lâminas examinadas por microscopistas de base e revisadas pelos revisores dos ERS no estado de Mato Grosso de 2009-2011. ............................... 58 Tabela 6 – Divergências de leituras por espécie parasitária dos microscopistas de base encontradas pelos revisores dos ERS no estado de Mato Grosso de 2009-2011. ............................................................................................................. 61 Tabela 7 – Revisões do Lacen/MT Laboratório aos ERS do estado de Mato Grosso de 2009-2011. ............................................................................................ 67 Tabela 8 – Divergências de leituras de lâminas por espécie parasitária dos revisores dos ERS encontradas pelos revisores do Lacen/MT Laboratório no estado de Mato Grosso de 2009-2011. ................................................................. 69 Tabela 9 – Formação dos microscopistas de base dos ERS do estado de Mato Grosso de 2009-2011. ............................................................................................ 85 Tabela 10 - Vínculo dos microscopistas de base dos ERS do estado de Mato Grosso de 2009-2011. ............................................................................................ 86 Tabela 11 – Formação conforme vínculo dos microscopistas de base dos cinco ERS com maior erro de leitura do estado de Mato Grosso de 2009-2011............ 87 Tabela 12 - Formação conforme vínculo dos microscopistas Revisores dos ERS do estado de Mato Grosso de 2009-2011. ............................................................ 91 vi Tabela 13 – Média de “estrutura física” e de “organização interna e higiene” dos laboratórios de base dos ERS, 2009-2011. ............................................................ 94 Tabela 14 – Média de “estrutura física” e de “organização interna e higiene” dos laboratórios de revisão dos ERS, 2009-2011. ........................................................ 96 Tabela 15 – Média do “estado de conservação do microscópio” e de “necessidade de manutenção” dos laboratórios de base dos ERS. ...................... 98 Tabela 16 – Média do “estado de conservação do microscópio” e de “necessidade de manutenção” dos laboratórios de revisão dos ERS. ................ 100 Tabela 17 – Distribuição dos níveis de escolaridade dos microscopistas de base de acordo com as divergências, 2009-2011. ....................................................... 102 Tabela 18 – Distribuição dos níveis de escolaridade dos microscopistas revisores dos ERS de acordo com as divergências, 2009-2011. .......................................... 105 Tabela 19 – Distribuição dos vínculos empregatícios dos microscopistas de base de acordo com as divergências, 2009-2011. ....................................................... 107 Tabela 20 – Distribuição dos vínculos empregatícios dos microscopistas revisores dos ERS de acordo com as divergências, 2009-2011. .......................... 111 vii LISTA DE ANEXOS Anexo 1 – Fax Circular Nº 52 ............................................................................... 127 Anexo 2 – Relatório de Controle de Qualidade de Malária ................................. 131 Anexo 3 – Relatório Mensal das atividades do controle de qualidade do diagnóstico da malária ......................................................................................... 132 Anexo 4 – Relatório de supervisão laboratorial de vigilância epidemiológica e/ou ambiental ............................................................................................................. 134 viii SUMÁRIO RESUMO ........................................................................................... 1 ABSTRACT ......................................................................................... 3 1. INTRODUÇÃO ............................................................................ 5 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................... 7 2.1 Malária: Caracterização e Epidemiologia ............................................. 7 2.1.1 Malária no Mundo e no Brasil ............................................................ 10 2.1.2 Malária em Mato Grosso .................................................................... 13 3. 4. 2.2 Diagnóstico Laboratorial da Malária ................................................... 14 2.3 Qualidade da microscopia da malária ................................................ 20 2.4 Laboratório Central ............................................................................. 24 2.5 Lacen/MT Laboratório ........................................................................ 28 2.6 Microscopia da malária: revisão bibliográfica sistematizada ............. 31 OBJETIVOS .............................................................................. 44 3.1 Geral .................................................................................................... 44 3.2 Específicos ........................................................................................... 44 MATERIAL E MÉTODO ............................................................. 45 4.1 Tipo de estudo .................................................................................... 45 4.1.1 – Local de estudo ................................................................................ 46 4.1.2 – Coleta e organização dos dados ...................................................... 49 4.1.3 – Variáveis de Estudo .......................................................................... 50 4.1.4 – Análise dos dados............................................................................. 55 4.1.5 – Aspectos éticos ................................................................................ 55 ix 5. RESULTADOS ........................................................................... 56 5.1 I – Discordâncias encontradas nos exames de gota espessa para o diagnóstico da malária realizados por microscopistas do Estado de Mato Grosso, Brasil, entre 2009 e 2011 ....................................................................................... 56 5.1.1 Discussão............................................................................................. 75 5.2 II – Estrutura e organização dos laboratórios de base e de revisão dos ERS do Estado de Mato Grosso, Brasil, entre 2009 e 2011 ............................ 77 5.2.1 Discussão........................................................................................... 112 6. CONCLUSÃO .......................................................................... 114 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................. 116 8. ANEXOS ................................................................................. 127 x RESUMO A malária é endêmica em 109 países do mundo, sendo que no Brasil o estado de Mato Grosso corresponde a 0,67% do total de casos da região Amazônica. Para identificar os parasitos realiza-se o exame da gota espessa em que é realizado um controle de qualidade, sendo que as lâminas examinadas em nível primário são reexaminadas pelos supervisores em nível intermediário (Escritórios Regionais de Saúde), e novamente em nível central pela unidade de referência estadual (Lacen/MT Laboratório). Objetivo: Analisar o controle de qualidade, segundo as discordâncias, para o diagnóstico da malária realizados por microscopistas do estado de Mato Grosso, Brasil, entre 2009 e 2011. Material e método: Estudo descritivo de corte transversal que utilizou dados secundários a partir de relatórios sobre diagnóstico laboratorial da malária no Estado de Mato Grosso no período de 2009 a 2011, e sobre aspectos de recursos humanos e estrutura e organização dos laboratórios de base e de revisão dos Escritórios Regionais de Saúde (ERS) que realizam o diagnóstico laboratorial da malária no Estado de Mato Grosso no período de 2009 a 2011. Resultados: No período estudado os microscopistas revisores dos ERS avaliaram 38,72% do total de lâminas produzidas pelos laboratórios de base, encontrando um percentual de divergências de 1,92%. Os microscopistas revisores do Lacen/MT Laboratório avaliaram 82,53% das lâminas revisadas pelos microscopistas dos ERS, encontrando um percentual de divergências de 1,62%. Foram 36,82% as divergências dos laboratórios de base relacionadas à espécie parasitária ou gametócitos presentes, 32,34% falso positivas e 30,85% falso negativas. Nos laboratórios de revisão dos ERS, 55,38% das divergências foram relacionadas à espécie parasitária ou gametócitos presentes, 19,23% falso positivas e 25,38% falso negativas. Em relação à formação dos microscopistas de base, as discordâncias foram proporcionalmente recorrentes nos de nível superior. À formação dos microscopistas revisores dos ERS, as discordâncias tiveram maior proporção nos de nível médio. A estrutura física e organização interna e higiene dos laboratórios de base e de revisão, foram consideradas de regular para bom. 1 Conclusão: As discordâncias em relação à formação dos microscopistas de base foram mais recorrentes nos de nível superior, aos revisores dos ERS as discordantes tiveram maior proporção nos de nível médio. Às características de estrutura física, organização do serviço e manutenção dos equipamentos dos laboratórios de base e de revisão foram consideradas de regular para bom. Os números encontrados no presente estudo podem ser representativos da situação da qualidade da microscopia da malária no estado de Mato Grosso, oportunizando às Secretarias de Saúde do estado e dos municípios a buscar melhorias na qualidade do serviço. Palavras-chave: malária, microscopia, controle de qualidade. 2 ABSTRACT There is a malaria endemic in 109 countries around the world, and in Brazil the state of Mato Grosso corresponds to 0.67% of the total cases in the Amazon region. In order to identify the parasites, the examination of thick blood smear is done and it passes through quality control. First, they are examined at primary level laboratories, then they are reviewed by supervisors at intermediate level called Regional Health Services (RHS), and then they are reviewed again in central level at the reference state (Lacen/MT Laboratorio). Objective: To analyze the quality control, according to the disagreements, for the diagnosis of malaria microscopists performed in the state of Mato Grosso, Brazil, between 2009 and 2011. Methods: A descriptive cross-sectional study that used secondary data from reports of the laboratory diagnosis of malaria in the state of Mato Grosso between 2009-2011, and about aspects of human resources and structure and organization of review laboratories of Regional Health Services (RHS) that performs laboratory diagnosis of malaria in the state of Mato Grosso in the period 2009-2011. Results: In this period the regional microscopists of the RHS revised 38.72% of smears produced at primary level, finding a percentage of 1.92% of difference. The laboratory central supervisor from Lacen/MT Laboratory revised 82.53% of the slides reviewed by regional microscopists of RHS, finding a percentage difference of 1.62%. Differences of the laboratories base were related 36.82% to parasite species present or gametocytes, 32.34% to false positive and 30,85% to false negative. In the revision laboratories of RHS 55.38% of blood smears reviewed differences were related to the parasite species present or gametocytes, 19.23% were false positive and 25.38% were false negative. About the education, the regional microscopists of the RHS had highest proportion of disagreements in those who had high school. About the physical structure, internal organization and basic hygiene for primary level and to review laboratories, were considered from regular to good. Conclusion: Disagreements related to primary level microscopists were more often in those who had college degree, to regional microscopists of RHS the disagreements were greater in those who had lower education. The characteristics of the physical 3 structure, service organization and maintenance of laboratory equipment to the primary level laboratories were considered from regular to good. This study may be representative of the situation of malaria quality microscopy in the state of Mato Grosso, giving the opportunity to the Health Departments of the state and to the cities to look for improvements in this quality service. Keywords: malaria, microscopy, quality control. 4 Introdução 1. INTRODUÇÃO Segundo o Ministério da Saúde brasileiro, um problema de saúde pública se expressa pelos seus indicadores de morbidade, mortalidade, incapacidade e custos atribuídos. Dessa forma, o reconhecimento da função de vigilância decorre da capacidade de informar com precisão e atualização, a situação epidemiológica de determinada doença ou agravo, as tendências que são esperadas, o impacto das ações de controle efetivadas e a indicação de outras medidas reconhecidamente necessárias (BRASIL, 2009). Neste sentido, a expressão “vigilância epidemiológica” começou a ser aplicada no controle das doenças transmissíveis na década de 1950, designando atividades subsequentes à etapa de ataque da Campanha de Erradicação da Malária e tem como propósito fornecer orientação técnica e informações atualizadas para os profissionais de saúde sobre a ocorrência de doenças, agravos e fatores condicionantes em uma determinada área geográfica ou população definida. (BRASIL, 2009). Assim, para o controle da malária faz-se necessário o uso permanente de ferramentas eficazes de controle para uma variedade de contextos epidemiológicos, incluindo o fortalecimento da monitorização e da vigilância. Entretanto, para o efetivo controle da malária são necessários projetos de redução das taxas de mortalidade e morbidade, redução da prevalência e da endemicidade, e também a implantação de programas de controle (BARATA, 1998; REY, 2008; WHO, 2008). Visando fornecer as diretrizes necessárias ao controle desta doença, o governo federal propôs em 2003 o Programa Nacional de Controle da Malária (PNCM) que teve objetivo dar continuidade aos avanços do Plano de Intensificação das Ações de Controle da Malária (PIACM). Este por sua vez, foi formulado para dar sustentabilidade ao processo de descentralização das ações de epidemiologia e controle de doenças, buscando também fortalecer a vigilância da endemia na região extra-amazônica (LOIOLA et al., 2002; BRASIL, 2003b). 5 Introdução Assim, a incidência da malária pode ser reduzida por meio da ação contínua dos serviços de saúde, a exemplo do PIACM que contribuiu para a redução da transmissão da doença na região da Amazônia Legal brasileira, e que vem alcançando promissores resultados nos municípios de tamanho pequeno e médio, embora ainda persista a concentração de casos nos grandes e médios municípios (LADISLAU et al., 2006). Considerando que o estado de Mato Grosso apresenta numerosos casos de malária (BRASIL, 2011), a vigilância da endemia é imperativa na busca da redução da doença ano após ano, conforme preconizado pelos programas de controle nacionais (BRASIL, 2009) e internacionais preconizados pela Organização Mundial de Saúde – OMS (WHO, 2012). Para tanto, o presente estudo teve como objetivo analisar o controle de qualidade para o diagnóstico da malária realizados por microscopistas do estado de Mato Grosso, Brasil, entre 2009 e 2011, a fim de descrever as discordâncias realizadas pelos laboratórios de base e pelos laboratórios de revisão dos Escritórios Regionais de Saúde (ERS). 6 Revisão Bibliográfica 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Malária: Caracterização e Epidemiologia A malária é uma doença de grande importância epidemiológica que possui impacto direto não somente sobre a saúde, mas também sobre o desenvolvimento econômico regional e nacional pela sua gravidade clínica e pelo seu elevado potencial de disseminação, nas localidades com densidade vetorial que favoreça sua transmissão (FRANÇA et al., 2008). Em razão de sua ampla incidência e de seus efeitos debilitantes, possui elevado impacto econômico por reduzir a capacidade produtiva da população brasileira especialmente os residentes na região da Amazônia legal (BRASIL, 2005). É uma doença infecciosa febril aguda, causada por protozoários do gênero Plasmodium, que pode ter como espécies associadas o Plasmodium falciparum, P. vivax, P. malariae e P. ovale (BRASIL, 2004) e atualmente uma quinta espécie do parasito está sendo considerado pelos pesquisadores, o P. knowlesi (WHITE, 2008; LEE et al., 2013). Pode ser denominada também como paludismo, impaludismo, febre palustre, febre intermitente, febre terçã benigna, febre terçã maligna, e popularmente conhecida como maleita, sezão, tremedeira, batedeira ou febre (BRASIL, 2004; REY, 2008). Sua transmissão se dá pela inoculação das formas infectantes do Plasmodium, os esporozoítos (formas infectantes do parasito), pela saliva de fêmeas infectadas de mosquitos do gênero Anopheles, que são conhecidos popularmente como “carapanã”, “muriçoca”, “sovela”, “mosquito-prego” ou “bicuda”. Os criadouros destes mosquitos são preferencialmente coleções de água limpa e quente, sombreada e com baixo fluxo como muito frequentemente encontradas na Amazônia brasileira. Os vetores são mais abundantes no entardecer e amanhecer, porém podem ser encontrados também durante todo o período noturno (BRASIL, 2004, 2005, 2010). 7 Revisão Bibliográfica A pessoa doente ou o indivíduo assintomático configuram-se como fontes naturais de infecção para os mosquitos por albergarem as formas sexuadas do parasita. Mesmo que não frequentemente, a malária pode ser transmitida acidentalmente por meio da transfusão sanguínea, pelo compartilhamento de seringas contaminadas, acidentes em laboratórios, ou mesmo como infecção congênita por uma má implantação da placenta, ou também durante o trabalho de parto (FONTES, 2004). A presença do parasito da malária no hospedeiro humano desencadeia alterações fisiopatológicas que ocorrem apenas no decorrer da esquizogonia sanguínea, pois a evolução dos parasitos nos hepatócitos e a circulação sanguínea dos gametócitos não determinam alterações patogênicas de relevância (FONTES, 2004). Nos seres humanos, os esporozoítos circulantes invadem as células do fígado, os hepatócitos, e nessas células multiplicam-se dando origem a milhares de novos parasitos, agora denominados merozoítos, que rompem os hepatócitos e caem na circulação sanguínea, invadindo as hemácias e dão início à fase sanguínea do ciclo, denominada esquizogonia sanguínea, em que aparecem os sintomas da malária (NEVES, 2005; REY, 2008; BRASIL, 2010). Na fase sanguínea do ciclo desta patologia, os merozoítos formados rompem as hemácias e invadem outras, dando início a ciclos repetitivos de multiplicação eritrocitária (ataque paroxístico agudo), que se repetem a cada 48 horas nas infecções por P. vivax e P. falciparum e a cada 72 horas nas infecções por P. malariae. Depois de algumas gerações de merozoítos nas hemácias, os parasitos se diferenciam em macrogametas (feminino) e microgametas (masculino) que, no interior das hemácias (gametócitos), não se dividem e, quando ingeridos pelos mosquitos, irão fecundar-se para dar origem ao ciclo sexuado do parasito (FERREIRA, 2004; FONTES, 2004; NEVES, 2005; REY, 2008; BRASIL, 2010). O período de incubação da malária varia de acordo com a espécie de plasmódio, sendo de 8 a 12 dias para P. falciparum; de 13 a 17 para P. vivax; e de 18 a 30 dias para P. malariae. A crise aguda da malária caracteriza-se por episódios de calafrios, febre e sudorese intensa que ocorrem em padrões cíclicos, com duração de 6 8 Revisão Bibliográfica a 12 horas podendo atingir a temperatura corpórea igual ou superior a 40°C. A crise de malária pode também ser acompanhada por cefaléia, mialgia intensa, náuseas e vômitos, podendo também ocorrer taquicardia, tosse, lombalgia, dor abdominal e até mesmo delírio. Em um período de duas a seis horas ocorre a defervescência da febre, e o indivíduo sente-se melhor (BRASIL, 2004, 2005, 2009, 2010; FONTES, 2004; REY, 2008). Passada a fase inicial, a febre do indivíduo toma um caráter intermitente estando relacionado ao tempo de ruptura de uma quantidade suficiente de hemácias contendo esquizontes maduros, e a periodicidade dos sintomas é dependente do tempo de duração dos ciclos eritrocíticos de cada espécie de plasmódio, sendo 48 horas para o P. falciparum, P. vivax e P. ovale, e de 72 para o P. malariae. Entretanto, com o tratamento precoce realizado atualmente, a febre deixa de ter essa regularidade e passa a ter um padrão cotidiano e irregular (FONTES, 2004). O período de transmissibilidade pelos indivíduos não adequadamente tratados com o esquema medicamentoso de acordo com a tabela do Ministério da Saúde (BRASIL, 2010) com os gametócitos do Plasmodium na corrente sanguínea varia de até 1 ano para P. falciparum, até 3 anos para P. vivax, e mais de 3 anos para o P. malariae (BRASIL, 2005). O método para o diagnóstico da malária é realizado mediante demonstração de parasitos através do exame microscópico da gota espessa de sangue corado por Giemsa, pelo esfregaço sanguíneo, ou por testes imunocromatográficos (testes rápidos de antígenos relacionados no sangue periférico do indivíduo) em áreas de baixa endemicidade ou de difícil acesso. Dentre estes métodos diagnósticos, o mais utilizado é o da microscopia da gota espessa de sangue colhido por punção digital, que permite a diferenciação das espécies de Plasmodium e do estágio de evolução do parasito circulante. Este exame demanda cerca de 60 minutos entre a coleta do sangue e o fornecimento do resultado, sendo que a lâmina corada pode ser armazenada por tempo indeterminado. O exame cuidadoso da lâmina com o sangue colhido é considerado padrão-ouro para a detecção e identificação dos parasitos da malária (BRASIL, 2003, 2005, 2009, 2009b, 2010; FONTES, 2004). 9 Revisão Bibliográfica A identificação do tipo do Plasmodium e do ponto-chave de seu ciclo evolutivo determinam o tratamento a ser instituído para a malária, pois diversas drogas são utilizadas e cada uma age de forma específica para impedir o desenvolvimento do parasito no hospedeiro. Em suma, o tratamento visa interromper a esquizogonia sanguínea, que é responsável pela patogenia e manifestações clínicas da infecção, ou a destruição de formas latentes do parasito no ciclo tecidual (hipnozoítos) das espécies P. vivax e P. ovale, para evitar as recaídas tardias ou ainda a interrupção da transmissão do parasito, com o uso de fármacos que impedem o desenvolvimento de formas sexuadas (gametócitos) dos parasitos (BRASIL, 2010; FONTES, 2004). 2.1.1 Malária no Mundo e no Brasil A malária é endêmica em 109 países e territórios nas áreas tropicais e subtropicais do mundo, destacando-se como um dos maiores problemas de saúde pública. Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, apontam que o número estimado de casos de malária no mundo aumentou de 233 milhões em 2000 para 244 milhões em 2005, mas decresceu para 225 milhões em 2009. Sugerindo ainda que o número de óbitos devido à doença decresceu de 985.000 em 2000 para 781.000 em 2009 (WHO, 2010). A OMS (WHO, 2010) estima ainda que o número de casos confirmados de malária reduziu em mais de 50% em 57,14% dos países onde esta doença é endêmica entre os anos de 2000 e 2009, quando os países africanos não foram considerados para análise. Porém, esta redução apresentou uma variação em torno de 25 a 50% para o mesmo período quando os dados destes países foram analisados em conjunto. Por outro lado, na Região Européia em 2009 não foram relatados casos de malária por P. falciparum adquiridos no local (WHO, 2010). Entretanto, nos 23 países e territórios das Américas analisados pela OMS (WHO, 2010), 20% do total da população está sob algum grau de risco de malária. Mas, os casos da doença decresceram de 1,18 milhões em 2000 para 526.000 em 2009, sendo que o Brasil, Colômbia, Haiti e Peru contam com 90% dos casos de 2009. 10 Revisão Bibliográfica Especificamente no Brasil, os casos da doença apresentaram uma redução entre 25 e 50%, nos anos de 2000 e 2009. Considerando que a malária representa em um sério problema de saúde pública, os programas de prevenção desta doença a nível mundial atuam basicamente no “controle” da malária, visando a redução da doença a um nível em que não é mais considerado um problema de saúde pública, na “eliminação” da malária, para a interrupção local do nascimento dos mosquitos transmissores da doença podendo existir em casos importados e na “erradicação” da malária para a eliminação completa da incidência da malária (WHO, 2008, 2010). A malária se constitui em uma enfermidade que demanda atenção especial no Brasil, principalmente na região da Amazônia Legal: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e Maranhão (FONTES, 2004). Nesta região ocorrem aproximadamente 99% dos casos da doença registrados, e sua transmissão é instável e geralmente focal, com os picos ocorrendo principalmente após os períodos chuvosos do ano (BRASIL, 2003, 2009, 2010). Atualmente, Mato Grosso é responsável por 0,67% dos casos de malária da região Amazônica (BRASIL, 2011). O risco de transmissão da doença é mensurado pelo Índice Parasitário Anual (IPA), que corresponde aos número de exames positivos de malária, por mil habitantes, em determinado espaço geográfico, no ano considerado. Dessa forma, as áreas endêmicas são estratificadas de acordo com o IPA como: alto risco – IPA>50/1.000 habitantes, médio risco – IPA entre 10-49/1.000 habitantes e baixo risco – IPA<10/1.000 habitantes (BRASIL, 2003, 2009, 2009b; REY, 2008). No Brasil são identificados 98 municípios como sendo de alto risco para a malária, ou seja, com um IPA igual ou maior a 50 casos por 1.000 habitantes. Na região amazônica a incidência da doença ainda é muito elevada (IPA 18,8/1.000) comparativamente com os números observados na década de 1970 (IPA 3,9/1.000), necessitando de medidas intensivas de controle da doença (BRASIL, 2003, 2009). 11 Revisão Bibliográfica A distribuição das áreas de risco para a transmissão da malária no Brasil, com suas respectivas Incidências Parasitárias Anuais estão descritas conforme a Figura 1.1 a seguir: Figura 1 – Mapa do Brasil destacando as áreas de risco para malária pelos diferentes níveis de incidência parasitaria anual. Fonte: Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Ministério da Saúde, 2010. A doença apresenta uma distribuição heterogênea e depende das atividades ocupacionais desenvolvidas pelas populações expostas na Amazônia tais como os garimpeiros e os trabalhadores de projetos agropecuários e de colonização. Entretanto, o perfil da endemicidade em determinada região é determinado por fatores que interferem diretamente na dinâmica da transmissão da doença, produzindo diferentes níveis de risco de contrair a infecção, como os fatores biológicos, ecológicos, socioculturais e político-econômicos (FONTES, 2004). No Brasil, 90% dos casos a espécie causadora foi o Plasmodium vivax (BRASIL, 2010). 12 Revisão Bibliográfica 2.1.2 Malária em Mato Grosso Dados divulgados pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2011b) sobre a Situação Epidemiológica da Malária no Brasil mostram uma redução dos índices da doença na Amazônia Legal como um todo, e especificamente em Mato Grosso, as notificações por malária tiveram uma redução percentual de 27% com índices de 1201 casos de malária de janeiro a junho de 2010, passando a uma redução para 876 casos de janeiro a junho de 2011. Quanto à variação de internações por malária, Mato Grosso apresentou uma queda de 48% no comparativo do primeiro semestre de 2010 ao mesmo período de 2011. No ano de 2010, foram registrados no estado 2.165 casos de malária, contabilizando uma redução de 33,5% em relação ao ano de 2009 em que foram registrados 3.257 casos da doença. Observou-se a proporção de 77,4% das infecções de malária causadas pelo P. vivax e aproximadamente 20% pelo P. falciparum, 2,2% por malária mista (P. vivax mais P. falciparum) e 0,4% por P. malariae. Apenas no ano de 2010 o município de Colniza correspondeu a 58% do número de casos do estado (BRASIL, 2011). Existem estudos que evidenciam a alta incidência de malária no município de Colniza, abordando que a situação de ser o primeiro em número de notificações é resultado, principalmente, do processo de garimpo e de colonização da área. Entretanto se afirma que outros municípios que apresentam alta IPA também sofreram forte influência destas atividades na área (DUARTE e FONTES, 2002; MACIEL et al., 2004; ATANAKA-SANTOS et al., 2006). A Coordenadoria de Vigilância Epidemiológica da Secretaria do Estado de Saúde do estado de Mato Grosso (SES-MT) fez um relatório sobre a Situação Epidemiológica da malária no Estado que evidenciou os esforços conjuntos com os Escritórios Regionais de Saúde (ERS) e Municípios, com a redução do número de casos de malária de 19,9% no comparativo de 2009 com 2008, seguido por uma queda de 28,75% comparando-se 2010 a 2009 (MATO GROSSO, 2011c). 13 Revisão Bibliográfica O número de casos notificados, em comparação com a IPA evidencia que houve uma redução considerável dos casos nos anos de 2008 a 2010, conforme observado na Figura 2. Figura 2 – Casos notificados e Incidência Parasitária Anual (IPA) de malária, Mato 9000 5 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 Número de casos 8000 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 2003 2004 2005 2006 Casos 2007 2008 2009 IPA Grosso, 2003 a 2010. 2010 IPA Fonte: SES-MT – Secretaria de Saúde do Estado de Mato Grosso. Assim, a distribuição da malária no estado de Mato Grosso é predominantemente focal, pois existem microrregiões de alta incidência como a de Colíder e de baixa incidência como a de Primavera do Oeste, sugerindo variação no padrão da distribuição da mortalidade e morbidade da doença, influenciada por contextos específicos de cada localidade (ATANAKA-SANTOS et al., 2006). 2.2 Diagnóstico Laboratorial da Malária A hemoscopia é atualmente o método mais seguro utilizado para o diagnóstico da malária e para a identificação do tipo de Plasmodium presente, entretanto o exame deve ser feito o mais cedo possível a fim de evitar as complicações das formas graves da doença, sendo a amostra de sangue colhida por punção digital que é posteriormente analisada em lâmina por gota espessa ou pelo esfregaço (REY, 2008). 14 Revisão Bibliográfica Considera-se que a microscopia do plasmódio no sangue periférico é o padrão-ouro para confirmação diagnóstica da malária, entretanto essa técnica exige pessoal treinado e experiente para a realização dos exames (BRASIL, 2009b). O exame microscópico do sangue pode ser feito em esfregaço delgado (distendido) ou espesso (gota espessa) que, além do baixo custo, permitem identificar com facilidade e precisão, a espécie do plasmódio e a mensurar a intensidade do parasitismo, pela determinação da parasitemia por volume (μl ou mm3) de sangue. A gota espessa é corada pela técnica de Walker (azul de metileno e Giemsa) e o esfregaço delgado é corado pelo Giemsa, após fixação com álcool metílico (FONTES, 2004; REY, 2008; BRASIL, 2009b). Em geral, o método diagnóstico mais utilizado é o da gota espessa, visto que a concentração de sangue por campo microscópico favorece o reconhecimento do parasito, entretanto a pesquisa do plasmódio exige alto grau de claridade e nitidez para o reconhecimento dos parasitos (BRASIL, 2009b). Pode-se detectar baixas densidades de parasitos (de 5-10 parasitos por μl de sangue), quando o exame é realizado por profissional experiente. Porém, em condições de campo, a capacidade de detecção é de 100 parasitos/μl de sangue. Entretanto, a lâmina corada e acondicionada em lâminas de papel adequadas com o seu arquivo em local próprio por tempo indeterminado, possibilita futuras revisões para controle de qualidade do exame (BRASIL, 2009b). Porém, para não deixar de detectar baixas parasitemias, ou em casos de áreas em que exista infecção assintomática prevalente, bem como para garantir o diagnóstico das infecções mistas, é reconhecida a necessidade de se examinar mais de 100 campos microscópicos na microscopia da gota espessa (500 campos seria o ideal, durante 10 minutos) examinados com aumento de 600-700 vezes, possibilitando o registro de um resultado negativo com maior segurança (NEVES, 2005; REY, 2008; BRASIL, 2009b). A parasitemia é avaliada semiquantitativamente pela densidade parasitária de Plasmodium pela microscopia da gota espessa de sangue, por um sistema de “cruzes” 15 Revisão Bibliográfica em que +/2 = 40-60 parasitos contados por 100 campos de gota espessa; + = 1 parasito por campo; ++ = 2-20 parasitos por campo; +++ = 21-200 parasitos por campo; ++++ = 200 ou mais parasitos contados por campo de gota espessa (BRASIL, 2010). Salienta-se que para uma lâmina ser considerada negativa (sem parasitos) a sua leitura deve ser realizada no mínimo em 100 campos (WHO, 2009). Entretanto, a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2009) recomenda a substituição progressiva do sistema de “cruzes” pelo sistema de número de parasitos para cada 200 ou 500 células brancas sanguíneas, com a contagem para 200 células brancas caso o número de parasitos logo chegue a 100, ou caso a contagem de parasitos seja menor que 100 deve-se contar 500 células brancas para a certeza da quantificação parasitológica. A descrição do resultado das espécies de plasmódios encontrados no exame parasitológico da gota espessa são registrados nas fichas de notificação do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica – Sivep/Malária, pelas respectivas iniciais, em que: V – P. vivax; F – P. falciparum; M – P. malariae; Ov – P. ovale; F+Fg - formas assexuadas + sexuadas (gametócitos) de P. falciparum; Fg – somente gametócitos; V+Fg – formas de P. vivax + gametócitos de P. falciparum; F+V, F+M, V+M – para diferentes combinações de infecções mistas (BRASIL, 2010). Para fins de diagnóstico e tratamento e para avaliação da qualidade do exame, o PNCM estabelece a necessidade da revisão de 100% das lâminas positivas e 10% das lâminas negativas para malária, devendo os resultados serem retornados em prazo máximo de 30 dias ao laboratório de diagnóstico; bem como a necessidade da realização de um inquérito hemoscópico mediante um protocolo, para a eliminação ou redução das fontes de infecção principalmente com relação aos portadores assintomáticos, nos municípios em que a malária estiver em vias de eliminação (IPA menor que um caso por 1.000 habitantes nos últimos cinco anos) (BRASIL, 2003). Embora a gota espessa seja considerada padrão-ouro para o diagnóstico da malária, existem estudos que comparam o exame da gota espessa com outras formas de diagnóstico (SUÁREZ-MUTIS e COURA, 2006; VAN DEN BROEK et al., 2006; FADUL, 16 Revisão Bibliográfica 2007; WONGSRICHANALAI et al., 2007; COSTA et al., 2008; STAUFFER et al., 2009; ANDRADE et al., 2010; CARMONA-FONSECA et al., 2010). Entretanto, ainda são poucos os estudos que descrevem a confiabilidade e a qualidade do diagnóstico da malária pelo método da gota espessa (DINI e FREAN, 2003; KILIAN et al., 2005; PEREIRA et al., 2006; SUÁREZ-MUTIS e COURA, 2006; FADUL, 2007; OHRT et al, 2007; COSTA et al., 2008; ENDESHAW et al., 2008; SARKINFADA et al, 2009; KHAN et al, 2011). Foram encontrados também artigos que discorriam sobre a qualidade da microscopia da malária – cinco laboratórios foram avaliados/reavaliados quanto à leitura das lâminas, realizando a releitura das lâminas (KILIAN et al, 2000; DI SANTI et al, 2004; KAHAMA-MARO et al, 2011; KHAN et al, 2011; MANYAZEWAL et al, 2013). Quatro artigos focalizaram a avaliação de profissionais quanto à leitura das lâminas (GAVITO et al, 2004; MAGUIRE et al, 2006; ROSAS-AGUIRRE, 2010; MUKADI et al, 2011). Três abordaram o treinamento dos profissionais com a conseguinte leitura das lâminas (OHRT et al, 2007; KIGGUNDU et al, 2011; NAMAGEMBE et al, 2012). Dois artigos avaliaram a qualidade das lâminas dos laboratórios (SARKINFADA et al, 2009; MBAKILWA et al, 2012), e um confrontou as leituras das lâminas em campo e as em laboratório (COLEMAN et al, 2002). KHAN et al. (2011) realizaram um estudo prospectivo no Paquistão sobre um sistema de garantia da qualidade da microscopia de malária por distritos. Foram selecionados quatro laboratórios de distritos e um microscopista experiente (sênior) como supervisor para cada distrito, com a responsabilidade de garantir a qualidade da microscopia da malária e da tuberculose (em dois dos quatro laboratórios), ou apenas para a microscopia da malária (nos outros dois laboratórios). Os supervisores fizeram uma avaliação do esfregaço e um reexame das lâminas para garantia de qualidade, sendo eles próprios supervisionados administrativa e tecnicamente pelo laboratório de referência nacional. Durante os sete meses da pesquisa, revisaram 22% do total de lâminas examinadas no período, e encontraram uma proporção de discordâncias de 0,5 a 1,0%, e a qualidade das lâminas preparadas foi aceitável em 73% das lâminas. 17 Revisão Bibliográfica No ano de 2000, KILIAN et al. publicaram um estudo de base populacional realizado no distrito de Kabarole, Uganda, em que analisam a confiabilidade da microscopia da gota espessa da malária, a fim do controle de qualidade do exame realizado. Entre os anos de 1993 e 1998, 711 lâminas foram selecionadas aleatoriamente (representando 7,5% dos exames realizados durante o período da pesquisa) e revisadas por 4 microscopistas experientes. Como resultado, encontraram que as diferenças ocorreram principalmente nas estimativas em relação aos gametócitos, à proporção de infecção mista e ao índice de densidade média. Para a presença do P. falciparum o índice Kappa foi de 0,79, que aumentou para 0,94 quando excluídos as densidades parasitárias entre 4 e 100/ml, sendo então considerado excelente. Em relação à densidade parasitária, quanto mais aumentada, menores foram as discordâncias encontradas. Os autores concluem que há a tendência de subestimar a relação de gametócitos e a proporção de infecções mistas. Em uma pesquisa avaliativa sobre a confiabilidade da gota espessa em um estudo de campo no estado do Amazonas, SUÁREZ-MUTIS e COURA (2006) discorrem que a concordância entre diferentes examinadores (microscopistas) nas infecções sintomáticas nas quais a parasitemia foi elevada, com um índice de Kappa=0,91. Consideraram que um índice de Kappa entre 0,8 e 1,0 foi considerado quase perfeito; entre 0,4 e 0,79 foi moderado, e um índice menor de 0,39 foi considerado pobre e o microscopista deveria passar por uma reciclagem. Desta forma, em casos de infecção assintomática por Plasmodium, encontraram uma moderada concordância, com índice de concordância Kappa=0,42, mesmo com a realização da leitura de 200 campos microscópicos. Os autores concluem afirmando a importância da melhoria da confiabilidade do exame de gota espessa com o aumento do número de campos lidos, o que levaria, em consequência, a um também aumento da sensibilidade do exame (SUÁREZ-MUTIS e COURA, 2006). No estudo de PEREIRA et al. (2006), uma avaliação das discordâncias nos exames de gota espessa dos estados do Amapá e Maranhão entre 2001 e 2003, os autores encontram discordância de leituras nos exames detectadas entre os microscopistas dos laboratórios de base do Amapá de 1,72%, contra 0,43% no estado do Maranhão, com diferença significativa entre os Estados (p<0,05). 18 Revisão Bibliográfica Comparativamente também, no Amapá os resultados falsos negativos foram de 0,60%; e no Maranhão, os falsos positivos foram maiores, com 0,12%. Ao comparar os resultados por tipo de erros, foi observado que as discordâncias entre microscopistas dos laboratórios de base e revisores recaíram sobre a identificação das espécies em ambos os Estados. Os autores concluem discorrendo sobre a necessidade da elaboração de um manual de procedimentos de diagnóstico para a malária, além do estabelecimento de um sistema de qualificação permanente de recursos humanos que deveriam ser realizadas pelo Laboratório Central de cada unidade da federação. SARKINFADA et al. (2009) realizaram um estudo integrado de avaliação da qualidade da microscopia de tuberculose e de malária em Kano, Nigéria. Selecionaram cinco centros de microscopia e implementaram um sistema de qualidade da microscopia integrada de tuberculose e malária, e após acompanhamentos, supervisões e avaliações conduzidos a intervalos de 3 meses até os 24 meses resultaram num aumento da especificidade para ambas microscopias, com um final de 100% de especificidade em quatro dos cinco laboratórios. Comparativamente com os dados de abril de 2005, anteriores à implantação do sistema que ocorreu de 2005 a 2007, a taxa de concordância aumentou de 81,0% (K=0.353) para 91,0% (K=0.792). Correlação positiva de concordância na microscopia da malária para filmes bem feitos com r=0,908 e de boa coloração com r=0,963. Em um estudo de revisão dos sete artigos de relevância sobre o diagnóstico da malária realizados na África do Sul entre janeiro de 2000 e agosto de 2002, DINI e FREAN (2003) encontraram uma discordância percentual média de 13,8% (95%, IC 11,3 – 16,9%) com 1 de cada 7 lâminas sendo incorretamente interpretadas. Afirmam ainda que os laboratórios das províncias em que a malária é endêmica não necessariamente foram melhores do que os que estavam localizadas em áreas não endêmicas. No sentido do treinamento de microscopistas, OHRT et al. (2007) realizaram um curso de treinamento para estabelecer um centro de excelência no diagnóstico de malária em Kisimu, Quênia, entre julho de 2005 e janeiro de 2006 com participantes de 11 países. Foi oferecido um curso de longa duração (doze dias) e um de curta duração (quatro dias), conseguindo, para os participantes do curso de longa duração, um 19 Revisão Bibliográfica aumento da sensibilidade de 14% (IC 9-19%) para 77% (IC 73-81%), e um aumento da especificidade de 17% (IC 11-23%) para 76% (IC 70-82%), enquanto para os participantes do curso de curta duração a sensibilidade final foi de 95% (IC 91-98%) e a especificidade para 97% (IC 95-100%). O estudo provou que o treinamento aumenta drasticamente o desempenho, ilustrando claramente que os falsos positivos e negativos para a malária são um sério problema a ser resolvido. 2.3 Qualidade da microscopia da malária A garantia da qualidade da microscopia da malária é uma das temáticas primordiais da Organização Mundial de Saúde que, por meio do Manual de Controle de Qualidade da Microscopia da Malária – Malaria Microscopy Quality Assurance Manual (WHO, 2009) traz a designação de um sistema de qualidade que visa o contínuo e sistemático aumento da eficiência, custo-efetividade e precisão dos resultados das microscopias da malária. O manual, em suas particularidades, será suscintamente descrito a seguir. As microscopias da malária devem passar por um rigoroso controle de qualidade que, hierarquicamente, são colhidas e examinadas a nível primário nos centros de saúde, devendo ser posteriormente revisados pelos supervisores a nível intermediário, e por fim novamente revisadas a nível central pelo nível de referência nacional. O nível primário é responsável pela coleta e primeira leitura das lâminas, fornecendo o resultado da microscopia sobre a qual será instituído ou não o tratamento da malária, bem como sua dosagem dependendo da parasitemia encontrada. O nível intermediário ou regional é responsável pela supervisão e monitoramento das atividades dos laboratórios de nível primário, buscando manter a sua qualidade. É responsável por fornecer o feedback dos resultados das reavaliação das lâminas produzidas e analisadas pelos laboratórios primários; por planejar e implementar treinamentos e atividades de retreinamentos aos microscopistas; e por 20 Revisão Bibliográfica manter a qualidade do funcionamento dos equipamentos utilizados nos laboratórios primários. O nível central, ou laboratório de referência central, deve ser o responsável por estabelecer parâmetros nacionais de qualidade, com a oferta de cursos de treinamento, a preparação e adaptação dos materiais de acordo com as situações locais, a avaliação da competência e desempenho dos microscopistas de acordo com os padrões nacionais e internacionais de qualidade, a acreditação dos microscopistas e os procedimentos de laboratório e seus equipamentos. Os principais conceitos de qualidade da microscopia da malária são a sensibilidade – que é a detecção dos parasitas, a especificidade – que é a identificação da espécie dos parasitas, e a acurácia – que é a quantificação dos parasitas. Contudo, para garantir a tríade sensibilidade-especificidade-acurácia, as lâminas devem ser bem preparadas e coradas, e então analisadas cuidadosamente por no mínimo 30 segundos em casos de alta parasitemia, e de em média 6 minutos para a leitura tanto às lâminas de média parasitemia ou as lâminas negativas. Salienta-se que uma avaliação rápida nos casos de alta parasitemia pode não fornecer a informação de infecções mistas caso o microscopista não se detenha na leitura. Manter a tríade de qualidade das microscopias requer também manter a competência dos microscopistas mediante a sua constante avaliação e a sua atualização a cada dois a três anos caso não tenham discordâncias nas supervisão de suas lâminas. Os supervisores devem visitar os laboratórios primários com a regularidade de no mínimo a cada seis meses e, neste período, caso sejam detectados discordâncias na reavaliação das lâminas dos microscopistas, estes devem passar por um treinamento de curta ou de longa duração de acordo com a frequência e gravidade das discordâncias encontradas. A reavaliação das lâminas de microscopia da malária é essencial para o programa de controle da malária e visa assegurar a qualidade e credibilidade das leituras das lâminas, sendo complementar ao processo de garantia da competência 21 Revisão Bibliográfica dos profissionais e seu treinamento, devendo ser validada por profissional competente – microscopista revisor acreditado ou de competência reconhecida. A seleção das lâminas lidas pelos microscopistas do nível primário a serem relidas/reavaliadas pelos microscopistas revisores deve ser realizada por profissional que não seja o responsável pela primeira leitura da lâmina e que não conheça o resultado das lâminas, sendo selecionadas aleatoriamente no montante do mês, preferencialmente. As lâminas devem ser reavaliadas pelo revisor em microscópio de boas condições, avaliando-as por espécie de parasito, apropriada espessura e tamanho, e qualidade da coloração. Quaisquer problemas tanto com a preparação das mesmas quanto com a discordância final pelo revisor sobre espécie e quantificação de parasitos (ou não) – denominadas lâminas falso positivas ou falso negativas, devem ser registradas em formulários específicos de revisão de qualidade e posteriormente deve ser fornecido o feedback ao laboratório primário, bem como ao microscopista responsável pela primeira leitura, sendo também tomadas medidas corretivas para tal. Figura 3 – Organização do processo de validação Fonte: World Health Organization, 2009. 22 Revisão Bibliográfica Um mínimo de 10 lâminas deve ser selecionadas aleatoriamente dentre todas as realizadas no mês, sendo preferencialmente cinco positivas com baixa parasitemia e outras cinco negativas, a fim da reavaliação da presença ou ausência de parasitos e da acurácia da diferenciação dos P. falciparum e dos não-P. falciparum. Os laboratórios, entretanto, são encorajados a reavaliarem mais do que o mínimo sugerido caso possuam disponibilidade para tanto. Os laboratórios que possuam menos que 10 lâminas analisadas no mês devem fornecer todas as que foram realizadas. Porém, salienta-se que as lâminas de alta parasitemia não devem ser selecionadas pelo motivo de, justamente por ter alta parasitemia, serem de fácil reconhecimento pelos microscopistas dos laboratórios primários e sua facilidade de detecção pode não fornecer a segurança no monitoramento da sensibilidade do microscopista, além de a probabilidade de que tais lâminas sejam reportadas como negativas é extremamente baixo. A reavaliação das lâminas deve ocorrer o mais rápido possível a cada final de mês, e o resultado deve ser relatado, se possível, dentro de 2 semanas. Para fins de controle de qualidade, os resultados das discordâncias devem ser registrados baseados em uma tabela 2x2, como: Quadro 1 – Controle de qualidade de identificação de estágios assexuados dos parasitas no sangue, sem identificação das espécies: Fonte: World Health Organization, 2009. Nesta análise especificamente, “A” corresponde ao número de lâminas descritas como positivas tanto pelo microscopista primário quanto pelo revisor; “B” corresponde ao número de lâminas descritas como positivas pelo nível primário e como negativas pela revisão (falso positivos); “C” corresponde ao número de lâminas 23 Revisão Bibliográfica descritas como negativas pelo nível primário e como positivas pela revisão (falso negativos; e “D” corresponde ao número de lâminas descritas como negativas tanto pelo microscopista primário quanto pelo revisor. Ressalta-se que o mesmo esquema de avaliação pode ser realizado para reavaliações de lâminas quanto à presença ou não de P. falciparum. Portanto, o cálculo de porcentagem de concordância nos casos de reavaliações sem especificação de espécie parasitária se dá pela seguinte expressão: % de Concordância = (A+D)x 100 ª+B+C+D Fonte: World Health Organization, 2009. O sistema descrito possibilita uma amostra representativa de validação do esquema de reavaliação de lâminas, embora uma coorte analítica a cada 4 meses dos percentuais de concordância, percentuais de falsos positivos e percentuais de falsos negativos seja o mais indicado para detectar mudanças recentes no desempenho dos laboratórios. Por todas as minuciosas orientações que visam à qualidade das microscopias da malária, tanto para as análises primárias quanto para a necessidade de sua constante reavaliação, o referido Manual da OMS é referência central para os programas nacionais de controle da doença no mundo todo e para os respectivos laboratórios que são responsáveis por seu diagnóstico. 2.4 Laboratório Central O Ministério da Saúde, com a Portaria Nº 2.031/GM de 23 de setembro de 2004 dispõe sobre a organização do Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública – SISLAB, que é um conjunto de redes nacionais de laboratórios, organizadas em subredes, por agravos ou programas, de forma hierarquizada por grau de complexidade das atividades relacionadas à vigilância epidemiológica, vigilância em saúde ambiental, vigilância sanitária e assistência médica. Compreendem os Centros Colaboradores, os 24 Revisão Bibliográfica Laboratórios de Referência Nacional, Laboratórios de Referência Regional, Laboratórios de Referência Estadual, Laboratórios de Referência Municipal, Laboratórios Locais e Laboratórios de Fronteira (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Os Laboratórios de Referência Estadual são os Laboratórios Centrais de Saúde Pública – LACEN, vinculados às secretarias estaduais de saúde, com área geográfica de abrangência estadual e que tem sete competências, sendo: “I - coordenar a rede de laboratórios públicos e privados que realizam análises de interesse em saúde pública; II - encaminhar ao Laboratório de Referência Regional amostras inconclusivas para a complementação de diagnóstico e aquelas destinadas ao controle de qualidade analítica; III - realizar o controle de qualidade analítica da rede estadual; IV - realizar procedimentos laboratoriais de maior complexidade para complementação de diagnóstico; V - habilitar, observada a legislação específica a ser definida pelos gestores nacionais das redes, os laboratórios que serão integrados à rede estadual, informando ao gestor nacional respectivo; VI - promover a capacitação de recursos humanos da rede de laboratórios; e VII - disponibilizar aos gestores nacionais as informações relativas às atividades laboratoriais realizadas por intermédio do encaminhamento de relatórios periódicos, obedecendo cronograma definido” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Como Laboratórios de Referência Regional o país tem duas referências: o Instituto Evandro Chagas (IEC) localizado no estado do Pará abrange os estados da Amazônia Legal, e o Instituto Oswaldo Crus (FIOCRUZ) localizado no estado do Rio de Janeiro abrange os estados da região Extra Amazônica (CGLAB, 2010). Estudos científicos abordam o funcionamento dos laboratórios regionais como o de Santos et al. (2008), que num estudo sobre Gestão da Qualidade nos Laboratórios Centrais de Saúde Pública com modelo de controle de qualidade analítica da malária, afirmam que cabe aos Lacen a identificação etiológica de doenças e agravos mediante o acompanhamento de seus perfis quantitativos e qualitativos, participando de 25 Revisão Bibliográfica maneira ativa da identificação de casos nas unidades federativas correspondentes. Por conseguinte, a introdução de normas técnicas da qualidade na sua gestão leva à maior confiabilidade e reprodutibilidade, ampliando também sua relação de confiança com as vigilâncias epidemiológica, em saúde ambiental e sanitária. Para tanto, necessita do treinamento dos servidores para a interpretação das normas relacionadas a gestão da qualidade, resgatando o fortalecimento de sua capacidade de partícipes das vigilâncias. Em todas as políticas de controle da malária na região da Amazônia Legal como o Programa de Controle da Bacia Amazônica (PCMAN), em 1989; o Plano de Intensificação das Ações de Controle da Malária na Amazônia Legal (PIACM), de 2001 a 2002; e o Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária (PNCM), a partir de 2002, determinam a revisão externa das lâminas de gota espessa como uma ferramenta para garantir a exatidão e a confiabilidade dos laudos e do desempenho dos microscopistas dos laboratórios locais (LOIOLA et al., 2002; BRASIL, 2003). Os microscopistas dos laboratórios locais, durante o processo de revisão das lâminas, registram os resultados e preenchem diariamente os formulários e, no final de uma semana, encaminham os formulários datados e assinados, aos laboratórios de revisão. O PNCM orienta o envio de 100% das lâminas positivas e negativas para os laboratórios revisores do Estado, em que é realizada uma verificação criteriosa e avaliado o percentual de concordância encontrado. Do montante revisado no mês, os revisores selecionarão ao acaso, oito lâminas positivas e negativas, que serão encaminhas ao Lacen para a consecução do controle externo de qualidade (SANTOS et al., 2008). Ressalta-se que os Lacen da Amazônia Legal realizam apenas a revisão das lâminas procedentes dos laboratórios de base e os de revisão; e os da região Extra Amazônica além da revisão realizam a leitura das lâminas para diagnóstico (CGLAB, 2010). De acordo com o desempenho dos microscopistas, os supervisores do Lacen devem se manter atentos aos tipos de erros cometidos e a promover a capacitação periódica dos laboratoristas (PEREIRA et al., 2006; SANTOS et al., 2008). 26 Revisão Bibliográfica No sentido do controle de qualidade de lâminas, e em uma analogia às orientações para o diagnóstico da malária, o Guia de Procedimentos Técnicos para a Baciloscopia em Hanseníase (BRASIL, 2010b) diz caber aos Lacen em consonância com os laboratórios municipais, a avaliação periódica das laminas dos laboratórios que são de sua competência. Para tanto, o controle consiste na releitura dos esfregaços sem que o avaliador conheça o resultado da baciloscopia fornecida pelo laboratório, e a qualificação do grau de concordância e discordância entre ambas as leituras, a fim da avaliação também do desempenho das unidades. O Lacen deve receber dos laboratórios municipais 100% das lâminas positivas e 10% das lâminas negativas, juntamente com os registros dos resultados das lâminas. Após o recebimento, o técnico avaliador primeiro realiza a leitura das lâminas e depois compara com o resultado do laboratório, classificando as lâminas discordantes como Falso Negativo (FN) como os esfregaços com resultado negativo no laboratório analisado e positivo na releitura pelo avaliador, e em Falso Positivo (FP) como os esfregaços com resultado positivo no laboratório avaliado e negativo na releitura do avaliador. Após a reavaliação das lâminas e com o total de FN e FP é calculado o Índice de Concordância (IC), que é expresso pelo nº de esfregaços concordantes dividido pelo total de esfregaços relidos, multiplicado por 100, e em que o total esperado é de 100% (BRASIL, 2010b). O guia afirma ainda que a detecção de um FN ou um FP é considerado um erro grave, que exige uma imediata investigação das causas e a tomada de providências junto à unidade solicitante, visto que os resultados interferem no tratamento a ser instituído ao paciente. Assim, em caso de discordâncias, medidas corretivas devem ser tomadas como a capacitação, visitas técnicas ou uma segunda avaliação. Todos os Lacen devem, ao final das avaliações e revisões realizadas durante o ano nos laboratórios municipais, realizar um relatório final da avaliação da rede estadual (BRASIL, 2010b). As orientações e medidas de avaliação e controle de qualidade descritas pelo Guia de Procedimentos Técnicos para a Baciloscopia em Hanseníase (BRASIL, 2010b) 27 Revisão Bibliográfica também são tomadas para o controle de qualidade dos Lacen para o diagnóstico da Malária, especialmente em relação ao Lacen/MT Laboratório. 2.5 Lacen/MT Laboratório No estado de Mato Grosso o Lacen/MT Laboratório é o laboratório de Referência Estadual e sob sua coordenação e supervisão está organizada a Rede Estadual de Laboratórios de Saúde Publica do Estado de Mato Grosso – REDELAB/MT (MATO GROSSO, 2010; MATO GROSSO, 2011a). A REDELAB é o conjunto de redes estaduais hierarquizadas e regionalizadas, em que sua estruturação tem por fundamento o nível de complexidade dos laboratórios assim como os critérios epidemiológicos, demográficos e geográficos relacionados à vigilância em saúde. As referidas redes serão estruturadas em sub-redes específicas por agravos ou programas, com a identificação dos respectivos laboratórios de referência, área geográfica de abrangência e suas competências (MATO GROSSO, 2011a). O MT Laboratório foi criado no âmbito da Secretaria de Estado de Saúde – SES, pela lei complementar nº179 de 13 de julho de 2004, em que seu artigo 2º descreve as competências do MT Laboratório: “I - realizar análises de interesse em saúde pública, apoiando os Sistemas Estaduais de Vigilância Epidemiológica, Sanitária e Ambiental; II - realizar procedimentos laboratoriais de média e alta complexidade para complementação de diagnóstico; III - realizar exames de citopatologia e anátomo patológico; IV - coordenar os laboratórios de fronteira para viabilização do diagnóstico de agentes etiológicos, vetores de doenças transmissíveis e outros agravos à saúde pública, bem como promover suporte analítico nos casos de toxiinfecções alimentares; V - coordenar, normatizar e monitorar a rede de laboratórios no Estado de Mato Grosso; VI - celebrar convênio de cooperação técnica com a rede de laboratórios públicos e privados; 28 Revisão Bibliográfica VII - supervisionar a descentralização de atividades específicas e de interesse de saúde pública; VIII - realizar controle de qualidade e biossegurança; IX - emitir parecer técnico para credenciamento de laboratórios públicos e privados.” (CUIABÁ, 2004). O MT Laboratório foi criado com uma estrutura que conta com servidores enfermeiros, biomédicos, biólogos, farmacêuticos, médicos, auxiliares de laboratório e outros profissionais da saúde, que atuam nas três frentes do laboratório: a Coordenadoria de Laboratório de Saúde Pública – Lacen, a Coordenadoria de Análises Clínicas, e a Coordenadoria de Citopatologia. O Lacen/MT Laboratório atende às necessidades de Vigilância Epidemiológica, Vigilância Sanitária e Vigilância Ambiental quanto ao diagnóstico de diversos agravos (MATO GROSSO, 2004). Após sua instituição em 2004, o Lacen/MT Laboratório progrediu para atividades diversas tais como a instituição de Laboratórios de Fronteira como o de Cáceres (sob a abrangência do Escritório Regional de Saúde – ERS de Cáceres e Pontes e Lacerda); a descentralização das análises clínicas de baixa complexidade que passaram a ser executados pelos municípios mato-grossenses através dos laboratórios cadastrados de Saúde Pública do Estado; a referência em Vigilância em Saúde para análises laboratoriais de média e alta complexidade bem como as doenças de notificação compulsória; a coordenação e supervisão dos laboratórios públicos e privados da Rede de Laboratórios de Saúde Pública do Estado de Mato Grosso – REDELAB/MT; a criação do Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL) que permite a padronização de laudos e a integração dos Lacen com o Sistema de Vigilância Nacional, entre outras atividades (MATO GROSSO, 2010). O Lacen/MT Laboratório busca manter a qualidade de suas análises clínicas, e, especificamente em relação ao diagnóstico da malária no estado de Mato Grosso por meio das lâminas de gota espessa, segue as orientações do Fax Circular nº52 (Anexo 1) enviada pela Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública – CGLAB, enviada dia 10 de julho de 2006, referente à nova proposta para os critérios de controle de diagnóstico da malária que fora implantada nos estados da Amazônia Legal, e em cuja 29 Revisão Bibliográfica finalidade é intensificar as ações e aprimorar o diagnóstico da malária, em consonância com o Programa Nacional de Controle da Malária – PNCM. O protocolo, denominado “Avaliação do controle de qualidade no diagnóstico da malária nos estados da Amazônia Legal” traz orientações acerca da “Seleção das Lâminas”, da “Revisão das Lâminas” e do “Controle de Qualidade do Lacen” (CGLAB, 2006). Para a “Seleção das Lâminas”, os microscopistas dos laboratórios de base devem enviar todas as lâminas positivas e negativas para o laboratório de revisão, semanalmente ou mensalmente. Os Lacen, de acordo com a periodicidade do envio das lâminas pelos laboratórios de base escolhem, aleatoriamente, as lâminas a serem revisadas de cada microscopista. Caso o envio seja semanal devem ser escolhidas 04 lâminas, sendo 02 positivas e 02 negativas; caso o envio seja mensal, serão escolhidas aleatoriamente 16 lâminas para cada microscopista, sendo 08 lâminas positivas e 08 negativas (CGLAB, 2006). Quanto à “Revisão das Lâminas”, o revisor avaliará tanto o resultado quanto a qualidade das lâminas analisadas. Caso aconteça discordância na revisão das lâminas, uma terceira leitura, de confirmação, deve ser realizada. Se verificados problemas na habilidade do técnico responsável pela leitura serão realizadas capacitações in loco durante o tempo necessário para total aprendizado. Durante a supervisão, o revisor deverá observar as condições de trabalho do microscopista tais como o equipamento utilizado no diagnóstico, o local da leitura das lâminas, o corante utilizado e a capacidade do técnico para a leitura de lâminas. Mensalmente o responsável pelo laboratório de revisão deve enviar ao Lacen um relatório com o número de lâminas analisadas, o percentual de divergências, e se ocorreram supervisões dos laboratórios de base e/ou capacitação in loco para os microscopistas que apresentaram lâminas divergentes (CGLAB, 2006). O “Controle de Qualidade do Lacen” traz como diretivas que os laboratórios de revisão devem enviar semanalmente ou mensalmente ao Controle de Qualidade do Lacen todas as lâminas analisadas por revisor. No Lacen o procedimento seguirá o mesmo padrão de seleção de lâminas do laboratório de revisão, ou seja, o supervisor 30 Revisão Bibliográfica escolherá aleatoriamente 04 lâminas (02 positivas e 02 negativas) caso o envio seja semanal, e 16 lâminas (08 positivas e 08 negativas) caso o envio seja mensal. Caso sejam identificadas divergências, o técnico do Lacen deve realizar supervisão no laboratório de revisão; ressalta-se que o Lacen também será avaliado pelo Laboratório de Referência Nacional – o Instituto Evandro Chagas (IEC), por meio de avaliação externa. O Lacen deve também, a cada dia 10 do mês subsequente, enviar à Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública – CGLAB, um relatório das atividades realizadas para o controle de qualidade (CGLAB, 2006). De acordo com o desempenho dos microscopistas, os supervisores do Lacen devem se manter atentos aos tipos de erros cometidos e a promover a capacitação periódica dos laboratoristas (PEREIRA et al., 2006; SANTOS et al., 2008). 2.6 Microscopia da malária: revisão bibliográfica sistematizada Com o objetivo de verificar a produção científica sobre a microscopia da malária pelo método da gota espessa e até mesmo para aprofundar no tema da dissertação foi construída uma revisão bibliográfica sistematizada nas bases de dados bibliográficas utilizando como estratégia de busca a pesquisa por palavras “malaria and microscopy and quality” sem restrições de idiomas. Como resultado foram encontrados 109 resumos de artigos com os descritores selecionados, sobre os quais foi feita uma primeira leitura dos títulos e resumos. Desses, inicialmente 8 foram excluídos pois foram publicados anteriormente ao ano 2000 (n = 101) e 3 excluídos por não possuírem resumo (n = 98). Após esta primeira etapa foi realizada a leitura de todos os títulos e resumos, sendo considerados adequados aqueles realizados com seres humanos e também os que tratavam do exame da gota espessa da malária. Foram considerados primeiramente os artigos que analisavam a qualidade das lâminas de malária, e em 31 Revisão Bibliográfica seguida os estudos comparativos da microscopia com demais testes rápidos para diagnóstico, resultando assim em 30 artigos pré-selecionados para a revisão. Posteriormente, os artigos foram avaliados na íntegra a fim da identificação de demais eventuais estudos que não tivessem sido identificados anteriormente pelo método descrito. Finalmente, 26 artigos compuseram o corpus da presente revisão conforme representado pela Figura 4. Figura 4 – Representação dos procedimentos para seleção dos artigos Fase 1 – Definição das bases de dados Bases de dados – LILACS, SciElo e Medline Fase 2 – Definição dos descritores _ _ _ _ _ _____________________________________________________ Fase 3 – Análises dos resumos 109 artigos inicialmente encontrados Excluídos 8 – anteriores ao ano 2000 Excluídos 3 – sem resumo _ _ _ _ _ ____________________________________________________ Fase 4 – Análises dos textos completos 30 artigos analisados na íntegra Excluídos 1 – microscopia fluorescente Excluídos 3 – não descreve método comparativo _ _ _ _ _ ______________________________________________________ 26 artigos incluídos revisão sistematizada na 32 Revisão Bibliográfica Os 26 artigos selecionados foram então subdivididos em duas categorias a fim de melhor análise didática: 1 – artigos que tratam da qualidade da microscopia da malária nos laboratórios e 2 – artigos que fazem comparativo da microscopia da malária com testes rápidos disponíveis, a fim da verificação da confiabilidade destes. Como descritos na Tabela 1, foram 15 os artigos que discorriam sobre a qualidade da microscopia da malária. Pode-se observar que a grande maioria dos artigos foram produzidos no continente africano, onde 44 países têm a malária em curso (WHO, 2012). Outros artigos foram conduzidos em países das Américas (Peru, Cuba e Brasil), que mantém o segundo lugar de continente com maior número de países endêmicos para a malária (WHO, 2012), e os outros dois produzidos em Camboja e Indonésia, e na Tailândia. Em cinco dos quinze artigos, os laboratórios foram avaliados/reavaliados quanto à leitura das lâminas, realizando a releitura das lâminas (KILIAN et al, 2000; DI SANTI et al, 2004; KAHAMA-MARO et al, 2011; KHAN et al, 2011; MANYAZEWAL et al, 2013). Quatro artigos focalizaram a avaliação de profissionais quanto à leitura das lâminas (GAVITO et al, 2004; MAGUIRE et al, 2006; ROSAS-AGUIRRE, 2010; MUKADI et al, 2011). Três abordaram o treinamento dos profissionais com a conseguinte leitura das lâminas (OHRT et al, 2007; KIGGUNDU et al, 2011; NAMAGEMBE et al, 2012). Dois artigos avaliaram a qualidade das lâminas dos laboratórios (SARKINFADA et al, 2009; MBAKILWA et al, 2012), e um confrontou as leituras das lâminas em campo e as em laboratório (COLEMAN et al, 2002). 33 Revisão Bibliográfica Tabela 1 – Resumo dos estudos que tratam da qualidade da microscopia da malária nos laboratórios. Continua Autores / Ano País do estudo População estudada Metodologia utilizada MANYAZEWAL et al, 2013 Etiópia Laboratórios de nível primário foram reavaliados quanto à qualidade. Lâminas de tuberculose, malária e HIV (coradas e não coradas). MBAKILWA et al, 2012 Tanzânia 12 Laboratórios de hospitais de três distritos. Microscopistas leram 10 lâminas para avaliação. Uganda 194 profissionais de saúde realizaram um curso de seis dias e foram acompanhados por até um ano. 17 dos 30 profissionais de laboratório foram avaliados quanto à preparação das lâminas de malária e à habilidade em interpretar resultados. Tanzânia Lâminas escolhidas aleatoriamente de 12 serviços de saúde pública. Lâminas foram reavaliadas por microscopistas experientes. República Democrática do Congo Laboratórios de quatro províncias. Questionário com lâminas-amostra enviado para avaliação e retornado com uma lâmina produzida pelo laboratório para avaliação da qualidade. Uganda Treinamento de três dias com 184 microscopistas conduzido em quatro distritos. Avaliação escrita, da qualidade da preparação da lâmina e da leitura das lâminas. NAMAGEMBE et al, 2012 KAHAMA-MARO et al, 2011 MUKADI et al, 2011 KIGGUNDU et al, 2011 Resultados A análise demonstrou concordância entre laboratórios primários e secundários (teste e reteste). As maiores causas de resultados imprecisos nas leituras foi devido à qualidade das lâminas. O treinamento multidisciplinar resultou em melhorias significativas em habilidades clínicas e de laboratório. A microscopia de rotina era muito ruim em todos os serviços de saúde, com massivo over diagnóstico (falsos positivos). Expressiva má qualidade da leitura da microscopia. Erros graves em leituras e menos de 20% das lâminas produzidas com boa qualidade de coloração. Um terço dos participantes teve treinamento formal. Treinamento aumentou conhecimento, acurácia e qualidade da preparação das lâminas. 34 Revisão Bibliográfica Continuação da Tabela 1 – Resumo dos estudos que tratam da qualidade da microscopia da malária nos laboratórios Continuação KHAN et al, 2011 Paquistão ROSAS-AGUIRRE, 2010 Peru SARKINFADA et al, 2009 Nigéria OHRT et al, 2007 Quênia Supervisores de laboratórios de quatro distritos reexaminaram 22% do total de lâminas produzido em sete meses. 68 microscopistas sem experiência (<1 ano) e 76 microscopistas experientes (>1 ano) foram avaliados quanto ao desempenho ao diagnóstico da malária. Cinco centros de microscopia foram selecionados para implementar a integração da microscopia da tuberculose (TB) e da malária. Doze dias de treinamento longo e quatro dias de treinamento curto (práticas supervisionadas, palestras, discussões, demonstrações e atividades para casa) para 209 microscopistas de 11 países. Três inovações operacionais foram introduzidas pelos supervisores nos laboratórios, avaliando os dados quantitativos e qualitativos. Abordagem da supervisão mostra qualidade aceitável nos laboratórios analisados. Avaliação de 20 lâminas, qualificando os microscopistas como especialistas, referentes, competentes, ou em treinamento. Avaliação da competência foi aceitável em 11,8% nos microscopistas sem experiência e de 52,6% nos microscopistas experientes. Supervisões e avaliações foram conduzidas a intervalos de 3 meses por 24 meses. É viável a integração do sistema e treinamento para ambas microscopias para melhorar a sua qualidade. 30 lâminas de malária para analisar, avaliação escrita com 65 questões, exame de 30 imagens fotográficas (artefatos e espécies parasitárias), e exame de contagem de parasitas. Lâminas falso positivo e falso negativas são um problema sério mesmo com microscopistas de pesquisa. Treinamento aumentou imensamente o desempenho. 35 Revisão Bibliográfica Conclusão da Tabela 1 – Resumo dos estudos que tratam da qualidade da microscopia da malária nos laboratórios MAGUIRE et al, 2006 Camboja e Indonésia Sangue de 35 indivíduos Plasmodium-positivos e de indivíduos sem historia de risco para malária. GAVITO et al, 2004 Cuba 18 laboratórios de uma província. Avalia qualidade da lâmina e leitura de um set de lâminas positivas e negativas. Brasil 190 lâminas diagnosticadas como positivas confirmadas por reação de cadeia de polimerase (PCR). Avalia qualidade do diagnóstico da malária em laboratório de referência. COLEMAN et al, 2002 Tailândia 3004 lâminas coletadas foram avaliadas. Compara microscopia de campo com microscópio à luz natural, com microscopia de laboratório com microscópio à luz artificial. KILIAN et al, 2000 Uganda 711 lâminas selecionadas aleatoriamente e lidas por 4 microscopistas experientes. Revisa e avalia aleatoriamente lâminas produzidas por outros estudos para controle de qualidade. DI SANTI et al, 2004 Avalia 28 microscopistas experientes no diagnóstico da malária. Conclusão Microscopia confirmada por reação de cadeia de polimerase (PCR). Microscopistas identificaram corretamente 85% de lâminas com baixa densidade e100% com alta densidade parasitária. Mostrou melhor resultado em microscopistas com menos de 5 anos de experiência, que relataram ter participado de um treinamento 6 meses antes da pesquisa. Resultados positivos foram encontrados em 131 lâminas em ambas técnicas, com maior diferença de diagnóstico nas técnicas em relação às infecções mistas e às P. malariae. Microscopia de campo é específica porém não sensível, não sendo um método efetivo para a pesquisa de malária onde a prevalência e os índices de parasitemia são baixos. Diferenças ocorreram principalmente nas estimativas de gametócitos, proporção de infecção mista e índice de densidade média. 36 Revisão Bibliográfica Os outros onze artigos tratam de comparar a microscopia com as lâminas de gota espessa de malária com os diversos testes rápidos disponíveis para diagnóstico, conforme descritos na Tabela 2. Nestes artigos predominaram produções em países africanos, seguidos por artigos conduzidos na Venezuela, Afeganistão e Mianmar. Os testes rápidos foram realizados em áreas rurais/distritos, centros e postos de saúde e hospitais, em populações suspeitas de ter a doença e em indivíduos confirmados da doença, sendo adultos ou crianças. A microscopia da malária pela gota espessa, nestes artigos, foi utilizada como padrão-ouro sendo conduzida por profissionais experientes a fim do comparativo do desempenho da sensibilidade, especificidade e acurácia entre a microscopia e os testes rápidos. Foram analisados o índice de concordância entre ambos métodos diagnósticos tanto para alta parasitemia quanto para baixa parasitemia, além da identificação correta do tipo de Plasmodium. 37 Revisão Bibliográfica Tabela 2 – Resumo dos estudos que tratam da comparação da microscopia da malária com os diversos testes rápidos disponíveis. Continua Autores / Ano País do estudo População estudada Tipo de teste rápido utilizado Resultados Compara microscopia com teste rápido OptiMAL-IT. Teste rápido mostrou maior capacidade de diagnosticar malária nos períodos de alta e baixa transmissão da malária em comparação à microscopia. DIARRA et al, 2012 Burkina Faso Crianças menores de cinco anos com malária sintomática e assintomática em região hiperendêmica. MOGES et al, 2012 Etiópia 254 pacientes suspeitos de ter malária. Compara microscopia com teste rápido CareStartTM®. A concordância entre os dois testes foi de um kappa de 0,918. Etiópia Pessoas com suspeita de malária de dez centros de saúde. Compara microscopia com teste rápido ParaScreen®. Microscopistas tiveram bom desempenho em nove dos dez centros de saúde; teste rápido com bom desempenho em apenas seis. Gana Diagnóstico em 263 crianças em laboratório de um hospital em área endêmica. Compara microscopia com teste rápido Partec® e Binax Now®. A concordância entre a microscopia e o Partec® foi de um kappa de 0,97 e entre a microscopia e o Binax Now® foi de um kappa de 0,90. ENDESHAW et al, 2012 NKRUMAH et al, 2011 38 Revisão Bibliográfica Continuação da Tabela 2 – Resumo dos estudos que tratam da comparação da microscopia da malária com os diversos testes rápidos disponíveis. METZGER et al, 2011 Venezuela Microscopistas experientes comparam lâminas com teste rápido de postos de saúde. LAURENT et al, 2010 Tanzânia 598 indivíduos que viviam em área de intensa transmissão de malária. Compara microscopia com teste rápido Paracheck Pf (HRP-2). Tanzânia Introduziram teste rápido em 12 serviços sem microscopia disponível em um distrito. Compara microscopia com teste rápido ParaHIT-f (HRP-2). Tanzânia Introduziram teste rápido para casos suspeitos de malária em indivíduos maiores de cinco anos em 9 serviços de saúde rural. Compara microscopia com teste rápido Paracheck Pf (HRP-2). McMORROW et al, 2010 McMORROW et al, 2008 Compara microscopia com teste rápido OptiMAL-IT. Continuação Ambos métodos perderam acurácia com baixas parasitemias e microscopistas de diferentes municípios mostraram diferenças significantes na qualidade do diagnóstico. Teste rápido em área de intensa transmissão varia pela idade e pela prevalência de infecção por P.falciparum. Baixa especificidade entre crianças pode levar à uma over-estimação de prevalência de infecção neste grupo. Laboratórios de referência analisaram microscopias. Teste rápido teve boa sensibilidade e especificidade, tendo implantação bem sucedida nestes serviços de saúde mediante treinamento adequado e supervisão. Todos os nove serviços de saúde apresentaram problemas significantes na qualidade das lâminas para microscopia, impedindo mensuração confiável da sensibilidade e especificidade do teste rápido. 39 Revisão Bibliográfica Conclusão da Tabela 2 – Resumo dos estudos que tratam da comparação da microscopia da malária com os diversos testes rápidos disponíveis. Venezuela 136 pacientes Yanomami estudados para a presença da malária. Compara microscopia com teste rápido OptiMAL-IT e FalciVax. KOLACZINSKI et al, 2004 Afeganistão 499 indivíduos Afegãos refugiados em campos do Paquistão foram examinados. Compara microscopia com teste rápido OptiMAL 48. CHO-MIN-NAING e GATTON, 2002 Mianmar 100 indivíduos sintomáticos em duas vilas. Compara microscopia com teste rápido imunocromatográfico (ICT Malaria Pf/Pv). METZGER et al, 2008 Conclusão Testes rápidos apresentaram baixa sensibilidade mas boa especificidade, concluindo que a microscopia não pode ser substituída por nenhum dos testes rápidos. O desempenho da microscopia foi melhor (sensibilidade e especificidade). Teste rápido se mostra adequado para situações de emergência quando a alternativa disponível é apenas o diagnóstico clínico. Kit de ICT pareceu ter melhor desempenho com profissionais experientes. Questiona se resultado é devido à qualidade da lâmina produzida pelo profissional ou se devido ao próprio teste ICT. 40 Revisão Bibliográfica Nos onze artigos lidos nesta segunda categoria, foram feitas comparações de 10 testes rápidos com a microscopia da malária pela gota espessa: OptiMAL-IT®, CareStartTM®, ParaScreen®, Partec®, Binax Now®, Paracheck Pf (HRP-2), ParaHIT-f (HRP-2), FalciVax, OptiMAL 48 e ICT Malaria Pf/Pv. Na comparação da microscopia da malária pela gota espessa a testes rápidos, em apenas um artigo o teste rápido teve melhor desempenho (DIARRA et al, 2012). Em cinco artigos, os testes rápidos tiveram o mesmo desempenho que a gota espessa demonstrados por estatística; ou tiveram melhor sensibilidade e especificidade comparativamente à microscopia da lâmina (CHO-MIN-NAING e GATTON, 2002, KOLACZINSKI et al, 2004, McMORROW et al, 2010, NKRUMAH et al, 2011, MOGES et al, 2012). E nos últimos cinco artigos os testes rápidos não foram considerados confiáveis ou não puderam ser comparados adequadamente à microscopia da gota espessa, demonstrando que a acurácia do teste rápido foi considerada ruim ou mesmo apresentou menor sensibilidade, especificidade, ou variação de desempenho diagnóstico de acordo com a parasitemia (McMORROW et al, 2008, METZGER et al, 2008, LAURENT et al, 2010, METZGER et al, 2011, ENDESHAW et al, 2012). Observou-se, contudo, a preocupação dos autores e das pesquisas na correta identificação da espécie do Plasmodium, principalmente o P. falciparum que é o mais letal dentre os Plasmodium e o que está mais predominante no continente africano – que responde com grande parte dos casos confirmados da doença (WHO, 2012). Nos artigos relacionados à qualidade da microscopia da malária foram encontradas concordâncias de leituras entre laboratórios de base e de revisão (MANYAZEWAL et al, 2013), boa qualidade dos laboratórios (DI SANTI et al, 2004), boa qualidade dos microscopistas (MAGUIRE et al, 2006) e qualidade aceitável de laboratórios e de microscopistas (KHAN et al, 2011; ROSAS-AGUIRRE, 2010). Alguns estudos destacaram resultados imprecisos devido à qualidade das lâminas ou de diferenças nas estimativas de Plasmodium e índice de parasitismo (KILIAN et al, 2000; MBAKILWA et al, 2012), até mesmo microscopias muito ruins 41 Revisão Bibliográfica devido qualidade das lâminas ou microscopistas que apresentaram erros graves de leitura (KAHAMA-MARO et al, 2011; MUKADI et al, 2011). Entretanto, os estudos evidenciam que o treinamento dos microscopistas acarreta em melhoria na preparação e leitura das lâminas aumentando seu conhecimento e desempenho (GAVITO et al, 2004; OHRT et al, 2007; SARKINFADA et al, 2009; KIGGUNDU et al, 2011). Em um estudo foi reconhecida que a microscopia de campo à luz natural não é boa alternativa para análise de lâmina para diagnóstico, em comparação à microscopia em laboratório e à luz artificial (COLEMAN et al, 2002). Dentre os artigos que comparam a microscopia da gota espessa da malária com diversos testes rápidos, alguns concluem que o teste rápido apresentou melhor desempenho no diagnóstico preciso (CHO-MIN-NAING e GATTON, 2002; McMORROW et al, 2010; DIARRA et al, 2012;), outros afirmam que o teste rápido teve o mesmo desempenho que a microscopia (NKRUMAH et al, 2011; MOGES et al, 2012). Em um artigo ocorreu baixa acurácia de acordo com a baixa parasitemia tanto na microscopia quanto no teste rápido (METZGER et al, 2011). Um artigo mostra que o teste varia conforme idade (crianças) e pela prevalência de infecção por P. falciparum (LAURENT et al, 2010). Problemas na qualidade das lâminas também impede comparação entre os métodos diagnósticos (McMORROW et al, 2008). Apenas um conclui que o teste rápido foi ruim em comparação à microscopia apresentando baixa sensibilidade e boa especificidade, não sendo confiável para substituir a microscopia (METZGER et al, 2008). Contudo, em dois artigos a microscopia apresentou melhor desempenho em relação ao teste rápido, sugerindo adotar testes rápidos apenas em situações de emergência (KOLACZINSKI et al, 2004; ENDESHAW et al, 2012). Embora os testes rápidos tenham sua adoção e constante avaliação conceituados e recomendados pela Organização Mundial da Saúde (WHO, 2011), os artigos lidos salientam que a confiança nos diagnóstico da malária pelos testes rápidos deve vir acompanhada de regulares avaliações de sua confiabilidade pela comparação 42 Revisão Bibliográfica com a microscopia da gota espessa e avaliada por profissional experiente, não devendo configurar como única ferramenta de diagnóstico. 43 Objetivos 3. OBJETIVOS 3.1 Geral Analisar o controle de qualidade, segundo as discordâncias, para o diagnóstico da malária realizados por microscopistas do estado de Mato Grosso, Brasil, entre 2009 e 2011. 3.2 Específicos Determinar a proporção de discordâncias de lâminas de gota espessa dos laboratórios de base revisadas pelos Escritórios Regionais de Saúde – ERS, e destes revisadas pelo Lacen/MT Laboratório. Caracterizar as discordâncias das lâminas de base revisadas pelos laboratórios de revisão dos Escritórios Regionais de Saúde – ERS, e destas revisadas pelo Lacen/MT Laboratório; Relacionar as discordâncias das lâminas de gota espessa para malária nos ERS do estado de Mato Grosso com a estrutura física, a organização do serviço, a manutenção dos equipamentos e os recursos humanos. 44 Material e Método 4. MATERIAL E MÉTODO 4.1 Tipo de estudo Estudo descritivo de corte transversal que utilizou dados secundários sobre diagnóstico laboratorial da malária no Estado de Mato Grosso no período de 2009 a 2011, e sobre aspectos de recursos humanos e sobre a estrutura e organização dos laboratórios de base e de revisão dos Escritórios Regionais de Saúde (ERS) que realizam o diagnóstico laboratorial da malária no Estado de Mato Grosso no período de 2009 a 2011. Os dados secundários sobre diagnóstico laboratorial da malária no Estado de Mato Grosso no período de 2009 a 2011 foram obtidos através de dois Relatórios, elaborados mensalmente e fornecidos pelo Lacen/MT Laboratório. As fontes de dados sobre o diagnóstico laboratorial dos laboratórios de base e de revisão dos ERS foram obtidas a partir dos seguintes relatórios: 1 – Relatórios de Escritórios Regionais de Saúde (ERS) das revisões de lâminas examinadas pelos laboratórios de base denominados “Relatório de Controle de Qualidade de Malária” (Anexo 2); 2 – Relatórios do Lacen/MT Laboratório das lâminas revisadas pelos ERS denominados “Relatório mensal das atividades do controle de qualidade do diagnóstico da malária” (Anexo 3). Os dados secundários sobre aspectos de recursos humanos e sobre a estrutura e organização dos laboratórios de base e de revisão dos Escritórios Regionais de Saúde (ERS) que realizam o diagnóstico laboratorial da malária no Estado de Mato Grosso no período de 2009 a 2011 foram obtidos através dos “Relatórios de Supervisão Laboratorial de Vigilância Epidemiológica e Ambiental” (Anexo 4), elaborados mensalmente e fornecidos pelo Lacen/MT Laboratório. As fontes de dados foram obtidas a partir dos seguintes relatórios: 45 Material e Método 1 – Relatórios das supervisões e treinamentos realizados pelo Lacen/MT Laboratório em cada Escritório Regional de Saúde (ERS), e 2 – Relatórios de visita aos laboratórios de cada Escritório Regional de Saúde (ERS) pela supervisão do Lacen/MT Laboratório. 4.1.1 – Local de estudo Este estudo foi realizado no estado de Mato Grosso, localizado a oeste da região Centro-Oeste do país, com a maior parte de seu território ocupado pela Amazônia Legal e cuja capital é a cidade de Cuiabá. O estado ocupa uma área de 903.329,700 km², dividido em 5 mesorregiões, 22 microrregiões e 141 municípios, contando com uma população de 3.035.122 habitantes numa densidade demográfica (hab/km²) de 3,36 (IBGE, 2011; MATO GROSSO, 2011b). Figura 5 – Mapa da localização geográfica do estado de Mato Grosso no Brasil. 46 Material e Método Os principais rios são o Juruena, Teles Pires, Xingu, Araguaia, Paraguai, Piqueri, São Lourenço, das Mortes e Cuiabá. Durante o período colonial os principais sistemas produtivos eram a mineração, cana-de-açúcar, erva-mate, poaia, borracha e pecuária. Durante as expedições Bandeirantes no século XVIII a mineração foi o principal motivo do sustento dos habitantes na região. A mão-de-obra era de escravos negros e índios, e a fiscalização era muito rígida, ordenada pela coroa em Portugal. Pode-se afirmar que a pirâmide social baseava-se somente em mineradores e escravos. No Século XX e Século XXI a pecuária e a agricultura foram os principais sistemas comerciais de Mato Grosso. (MATO GROSSO, 2011b). A ocupação demográfica e econômica recentes de Mato Grosso iniciaram principalmente com a dinâmica socioeconômica, pelo intenso processo de ocupação das terras nos anos 80 e 90 que teve a característica de esse fluxo migratório ocorrer em grande parte pela atividade garimpeira e pela exploração das terras através da indústria madeireira, que hoje tiveram redução de sua atividade principalmente no que concerne ao garimpo. Atualmente reconhece-se como principais atividades econômicas a pecuária de corte e a agroindústria de grãos tais como a soja, o algodão e o milho (CUNHA et al., 2002; CUNHA, 2006). Devido ao crescimento econômico com as exportações, o estado é hoje um dos principais produtores e exportadores de algodão e de soja do Brasil. Mato Grosso detém também o maior rebanho bovino brasileiro sendo um dos maiores estados em relação à exploração de minérios (MATO GROSSO, 2011b). Em relação à saúde, no ano de 2012 o estado de Mato Grosso está dividido administrativamente em 16 Escritórios Regionais de Saúde (ERS), que abrangem os 141 municípios de Mato Grosso, como representados na Tabela 3. 47 Material e Método Tabela 3 – Distribuição das ERS nas Regiões e Microrregiões do estado de Mato Grosso com população no ano 2010. REGIÃO MICRORREGIÃO Microrregião Baixo Araguaia Região Leste Região Centro (CentroNorte, Centro-Sul) Região Norte (CentroNorte) Região Oeste Região Sul Total Mato Grosso Microrregião Garças Araguaia Microrregião Médio Araguaia Microrregião Baixada Cuiabana Microrregião Centro Norte Microrregião Nordeste Matogrossense Microrregião Vale do Arinos Microrregião Alto Tapajós Microrregião Teles Pires Microrregião Vale do Peixoto Microrregião Norte Matogrossense Microrregião Oeste Matogrossense Microrregião Sul Matogrossense 22 Microrregiões ESCRITÓRIO REGIONAL DE SAÚDE - ERS Nº de municípios de abrangência da ERS População do ERS em 2010 Examinadas 2009-2011 SivepMalária Positivas 2009-2011 SivepMalária 7 Municípios 76.577 68 5 ERS Porto Alegre do Norte ERS São Félix do Araguaia ERS Barra do Garças ERS Água Boa ERS Baixada Cuiabana ERS Diamantino 5 Municípios 21.466 51 1 10 Municípios 8 Municípios 11 Municípios 7 Municípios 117.847 81.650 905.966 93.238 48 87 548 16 17 82 283 8 ERS Juína 7 Municípios 134.064 22818 4720 ERS Juara ERS Alta Floresta ERS Sinop ERS Peixoto de Azevedo ERS Tangará da Serra ERS Colíder ERS Cáceres ERS Pontes e Lacerda ERS Rondonópolis 16 Escritórios Regionais de Saúde 4 Municípios 6 Municípios 14 Municípios 5 Municípios 10 Municípios 6 Municípios 12 Municípios 10 Municípios 19 Municípios 51.921 49.164 329.366 95.825 206.840 67.874 185.991 108.961 452.519 3.035.022 habitantes 29 2371 4401 1233 81 2453 119 3409 1290 20 311 431 496 151 318 44 301 83 39022 7271 141 Municípios Fonte: MATO GROSSO, 2011c-r / IBGE 2010 / MS/SIVEP (Malária) 48 Material e Método 4.1.2 – Coleta e organização dos dados Os dados referentes às leituras dos microscopistas dos laboratórios de base foram coletados através dos “Relatório de Controle de Qualidade de Malária” (Anexo 2), que foram elaborados mensalmente pelo microscopista revisor de cada Escritórios Regionais de Saúde (ERS) e encaminhados ao Lacen/MT Laboratório. Estes relatórios resumem as lâminas dos laboratórios de base que foram revisadas nos ERS, com o total lido e positivo, bem como as divergências encontradas. Em relação às revisões do Lacen/MT Laboratório sobre as revisões dos ERS foram coletados dados através dos “Relatório mensal das atividades do controle de qualidade do diagnóstico da malária” (Anexo 3) no campo “Resumo mensal das lâminas revisadas pelo laboratório de controle de qualidade do Lacen” observado no mesmo instrumento. Estes relatórios são elaborados mensalmente pelos microscopistas revisores dos ERS e encaminhados ao Lacen/MT Laboratório conjuntamente a um percentual de lâminas para revisão ao nível central pelo Lacen/MT Laboratório. Foram também analisadas as leituras dos microscopistas dos laboratórios de base e das revisões do Lacen/MT Laboratório sobre as revisões dos ERS foram organizados em um banco de dados utilizando o software Excel, em que foram digitados os resultados obtidos sendo posteriormente analisado. Na segunda parte, os dados referentes às unidades supervisionadas quanto aos aspectos de recursos humanos e sobre a estrutura e organização dos laboratórios de base e de revisão dos Escritórios Regionais de Saúde (ERS) foram coletados no Lacen/MT Laboratório, por meio dos “Relatórios de Supervisão Laboratorial de Vigilância Epidemiológica e Ambiental” (Anexo 4) elaborados mensalmente e fornecidos pelo Lacen/MT Laboratório. Foi construído um banco de dados para organização dos dados utilizando o software Excel, sendo digitados os dados constantes dos relatórios obtidos e que posteriormente este banco foi analisado. 49 Material e Método 4.1.3 – Variáveis de Estudo Como variáveis para a primeira parte do estudo foram consideradas as divergências de leituras dos microscopistas de base as lâminas de gota espessa de malária em que, ao serem reavaliadas pelos revisores dos Escritórios Regionais de Saúde (ERS), tiveram diagnóstico discordante de leitura. Os revisores dos ERS são responsáveis pela manutenção da qualidade diagnóstica da microscopia da gota espessa da malária dos municípios abrangentes de sua regional de saúde, sendo estes considerados referência na regional pelo controle de qualidade das leituras dos microscopistas de base ao reavaliá-las, bem como são responsáveis por treinamentos e capacitações a estes microscopistas. Portanto, as divergências dos microscopistas de base foram assim descritas: v/f – lâminas lidas como positivas para P. vivax pelos microscopistas de base e que na revisão dos revisores dos ERS foram diagnosticadas como positivas para P. falciparum; f/v – lâminas lidas como positivas para P. falciparum pelos microscopistas de base e que na revisão dos revisores dos ERS foram diagnosticadas como positivas para P. vivax; m/f – lâminas lidas como positivas para P. malariae pelos microscopistas de base e que na revisão dos revisores dos ERS foram diagnosticadas como positivas para P. falciparum; fg/f,+fg – lâminas lidas como positivas para Gametócito pelos microscopistas de base e que na revisão dos revisores dos ERS foram diagnosticadas como positivas para P. falciparum com Gametócito; f/fg – lâminas lidas como positivas para P. falciparum pelos microscopistas de base e que na revisão dos revisores dos ERS foram diagnosticadas como positivas para Gametócito; 50 Material e Método v/m – lâminas lidas como positivas para P. vivax pelos microscopistas de base e que na revisão dos revisores dos ERS foram diagnosticadas como positivas para P. malariae; m/v – lâminas lidas como positivas para P. malariae pelos microscopistas de base e que na revisão dos revisores dos ERS foram diagnosticadas como positivas para P. vivax; P/N – lâminas lidas como positivas para malária pelos microscopistas de base e que na revisão dos revisores dos ERS foram diagnosticadas como negativas, sendo então denominadas Falso Positivas; N/P – lâminas lidas como negativas para malária pelos microscopistas de base e que na revisão dos revisores dos ERS foram diagnosticadas como positivas, sendo então denominadas Falso Negativas. Do mesmo modo, foram consideradas divergências de leituras dos microscopistas revisores dos ERS aquelas lâminas que, ao serem reavaliadas pelas revisoras do Lacen/MT Laboratório, tiveram diagnóstico diferente. Assim como os revisores dos ERS são considerados referência para os municípios de sua regional, as revisoras do Lacen/MT Laboratório são referência para todo o estado de Mato Grosso na busca da manutenção da qualidade da microscopia da gota espessa para malária, sendo as mesmas responsáveis pela reavaliação das lâminas previamente relidas pelos microscopistas dos ERS e também com a responsabilidade de realizar treinamentos e capacitações aos microscopistas do estado. Desta forma, as divergências dos microscopistas revisores dos ERS foram assim descritas: v/f – lâminas lidas como positivas para P. vivax pelos microscopistas revisores dos ERS e que na revisão dos revisores dos Lacen/MT Laboratório foram diagnosticadas como positivas para P. falciparum; f/v – lâminas lidas como positivas para P. falciparum pelos microscopistas revisores dos ERS e que na revisão dos revisores dos 51 Material e Método Lacen/MT Laboratório foram diagnosticadas como positivas para P. vivax; m/f – lâminas lidas como positivas para P. malariae pelos microscopistas revisores dos ERS e que na revisão dos revisores dos Lacen/MT Laboratório foram diagnosticadas como positivas para P. falciparum; fg/f,+fg – lâminas lidas como positivas para Gametócito pelos microscopistas revisores dos ERS e que na revisão dos revisores dos Lacen/MT Laboratório foram diagnosticadas como positivas para P. falciparum com Gametócito; f/fg – lâminas lidas como positivas para P. falciparum pelos microscopistas revisores dos ERS e que na revisão dos revisores dos Lacen/MT Laboratório foram diagnosticadas como positivas para Gametócito; v/m – lâminas lidas como positivas para P. vivax pelos microscopistas revisores dos ERS e que na revisão dos revisores dos Lacen/MT Laboratório foram diagnosticadas como positivas para P. malariae; m/v – lâminas lidas como positivas para P. malariae pelos microscopistas revisores dos ERS e que na revisão dos revisores dos Lacen/MT Laboratório foram diagnosticadas como positivas para P. vivax; P/N – lâminas lidas como positivas para malária pelos microscopistas revisores dos ERS e que na revisão dos revisores dos Lacen/MT Laboratório foram diagnosticadas como negativas, sendo então denominadas Falso Positivas; N/P – lâminas lidas como negativas para malária pelos microscopistas revisores dos ERS e que na revisão dos revisores dos Lacen/MT Laboratório foram diagnosticadas como positivas, sendo então denominadas Falso Negativas. 52 Material e Método Em ambas variáveis, as lâminas divergentes quanto ao diagnóstico foram discriminadas em tabela com o tipo de divergência descrito entre parênteses, sendo a primeira descrição o diagnóstico feito pelo microscopista de base ou pelo revisor do ERS, e em segundo o diagnóstico correto da lâmina realizado pelo microscopista revisor do ERS ou pela revisora do Lacen/MT Laboratório, consecutivamente. Assim, nesta primeira parte do estudo foram analisados: 1 – Os Relatórios de Controle de Qualidade das lâminas de gota espessa para diagnóstico da malária no Estado de Mato Grosso examinadas pelos Escritórios Regionais de Saúde (ERS) que revisam as lâminas dos laboratórios de base, quanto ao total de lâminas positivas e negativas enviadas, o total revisado e o total de divergência/discordância; 2 – Os Relatórios de Controle de Qualidade das lâminas de gota espessa revisadas pelo Lacen/MT-Laboratório que revisam as lâminas dos ERS, também quanto ao total de lâminas positivas e negativas enviadas, o total revisado e o total de divergência/discordância; Entretanto, salienta-se que ambos os resultados dos Relatórios de Controle de Qualidade das lâminas de gota espessa para a malária – dos laboratórios de base que são revisados pelos Escritórios Regionais de Saúde (ERS), e os da segunda revisão realizada pelo Lacen/MT-Laboratório, que revisa novamente as lâminas já previamente revisadas pelos ERS, são descritas divergências por espécie de Plasmodium, por Falso Positivos e Falso Negativos. E, como variáveis para a segunda parte do estudo, sobre aspectos de recursos humanos e sobre a estrutura e organização dos laboratórios de base e de revisão dos Escritórios Regionais de Saúde (ERS), foram considerados: Estrutura física: dos laboratórios de base e dos laboratórios de revisão dos Escritórios Regionais de Saúde – ERS; o Foi considerado o conceito atribuído pelas revisoras do Lacen/MT Laboratórios nas visitas aos laboratórios de base e aos 53 Material e Método de revisão dos ERS no qual se buscava responder se a “estrutura física foi considerada satisfatória para a realização do exame em questão”. Os conceitos foram: Bom, Regular, Ruim. Organização interna e higiene: dos laboratórios de base e dos laboratórios de revisão dos Escritórios Regionais de Saúde – ERS; o Foi considerado o conceito atribuído pelas revisoras do Lacen/MT Laboratórios nas visitas aos laboratórios de base e aos de revisão dos ERS no qual se buscava observar a adequação da “organização interna e higiene”. Os conceitos foram: Bom, Regular, Ruim. Equipamentos: dos laboratórios de base e dos laboratórios de revisão dos Escritórios Regionais de Saúde – ERS; o Foi considerado o conceito atribuído pelas revisoras do Lacen/MT Laboratórios nas visitas aos laboratórios de base e aos de revisão dos ERS no qual se buscava observar o “estado de conservação do microscópio”. Os conceitos foram: microscópio novo/ótimo, regular, deficiente/ruim. o Foi considerado o conceito atribuído pelas revisoras do Lacen/MT Laboratórios nas visitas aos laboratórios de base e aos de revisão dos ERS no qual se buscava observar a “necessidade de manutenção” do microscópio. Os conceitos foram: sim, não. Recursos Humanos: dos laboratórios de base e dos laboratórios de revisão dos Escritórios Regionais de Saúde – ERS; o Formação: foram considerados como níveis de escolaridade – Nível Fundamental, Nível Médio, Nível Superior. 54 Material e Método o Vínculo: foram considerados como vínculo empregatício – Contrato, Concurso Municipal, Concurso Estadual, Concurso Federal. 4.1.4 – Análise dos dados As variáveis obtidas no estudo foram sistematizadas em planilhas de dados e analisadas por meio de estatística descritiva, com apresentação de tabelas e gráficos de frequências absolutas e relativas dos dados. 4.1.5 – Aspectos éticos O presente estudo foi Aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Muller da Universidade Federal de Mato Grosso sob o Nº 146.393 de 14 de novembro de 2012, cumprindo com todos os preceitos éticos definidos pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde/MS sobre Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa envolvendo seres humanos. 55 Resultados 5. RESULTADOS A seguir os resultados serão apresentados em duas partes a fim de sua melhor visualização. A primeira parte discorre sobre as “discordâncias encontradas nos exames de gota espessa para o diagnóstico da malária realizados por microscopistas do estado de Mato Grosso, Brasil, entre 2009 e 2011”. A segunda parte discorre sobre a “estrutura e a organização dos laboratórios de base e de revisão dos ERS do estado de Mato Grosso, Brasil, entre 2009 e 2011” 5.1 I – Discordâncias encontradas nos exames de gota espessa para o diagnóstico da malária realizados por microscopistas do Estado de Mato Grosso, Brasil, entre 2009 e 2011 Os dados de leituras e divergências diagnósticas a seguir foram elaborados com base em todos os “Relatórios de Controle de Qualidade de Malária” (Anexo 2) de 20092011 que estavam arquivados e que foram disponibilizados pelo Lacen/MT Laboratório para uma análise das leituras de lâminas de gota espessa de malária nos municípios do estado de Mato Grosso. Tais relatórios são elaborados periodicamente pelos microscopistas revisores dos Escritórios Regionais de Saúde (ERS) a partir do registro das lâminas produzidas (coluna “Lâminas Examinadas”) nos laboratórios de base para leitura de pesquisa de malária, e a sua conferência (coluna “Lâminas Revisadas”) que no presente estudo também foram denominadas lâminas revisadas. Foram lidas 27.019 lâminas de gota espessa suspeitas de malária pelos microscopistas de base nos 16 Escritórios Regionais de Saúde (ERS) do estado de Mato Grosso, resultando em 5.528 lâminas positivas para malária (todos os tipos) e 21.491 lâminas negativas para a doença. O ERS Diamantino não teve produção de lâminas de gota espessa para malária em nenhum dos três anos analisados, entretanto foi contabilizado como um dos 16 ERS do estado. 56 Resultados Tabela 4 – Total lâminas examinadas e revisadas pelos ERS no estado de Mato Grosso de 2009-2011. Ano Lâminas Examinadas Pos Neg 2009 3001 9332 2010 1362 2011 Total Total Lâminas Revisadas Total % Pos Neg Revisão 12333 1169 2740 3909 31,70% 5594 6956 838 2025 2863 41,16% 1165 6565 7730 848 2843 3691 47,75% 5528 21491 27019 2855 7608 10463 38,72% Fonte: Lacen/MT Laboratório A produção proporcional de lâminas de gota espessa de 2009 a 2011 foi predominante no ERS Juína, que é a regional que mais apresentou produção com um total de 14.778 lâminas de 2009-2011, o que corresponde a 54,69% do que foi produzido pelo estado no período. O ERS de Sinop ocupa o segundo lugar em número de produção no período com 4.756 lâminas (17,60%), seguido em terceiro lugar pelo ERS de Alta Floresta com 2.708 lâminas (10,02%). Em uma outra análise, o ERS de Sinop apresentou aumento importante de 777 lâminas em 2009 para 1737 em 2010, seguindo para 2242 lâminas em 2011. Outro ERS que apresentou grande aumento na produção foi o de Rondonópolis, que de 71 lâminas produzidas em 2009 teve uma ligeira diminuição para 52 em 2010, seguido de um grande aumento para 925 em 2011. 57 Resultados Tabela 5 – Lâminas examinadas por microscopistas de base e revisadas pelos revisores dos ERS no estado de Mato Grosso de 2009-2011. ERS TOTAL EXAMINADO BASE 2009 2010 2011 ERS Água Boa 9 0 33 ERS Alta Floresta ERS Barra do Garças 736 939 44 ERS Cáceres 64 2009- TOTAL REVISADO ERS 2009 2010 2011 42 9 0 39 1033 2708 634 934 3 37 84 50 32 37 133 64 2011 PERCENTUAL REVISÃO ERS 2009- 2009 2010 2011 48 100,00% - 118,18% 1031 2599 86,14% 99,47% 3 37 90 113,64% 32 37 133 2011 2009- TOTAL DIVERGÊNCIA REVISÃO PERCENTUAL DISCORDÂNCIA BASE ERS PELO ERS 2009 2010 2011 114,29% 0 0 9 99,81% 95,97% 2 19 100,00% 100,00% 107,14% 9 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 2011 2009- 2009- 2009 2010 2011 9 - - 23,08% 18,75% 12 33 0,32% 2,03% 1,16% 1,27% 0 0 9 18,00% - - 10,00% 1 2 0 3 1,56% 6,25% - 2,26% 2011 2011 ERS Colíder 53 13 34 100 56 13 34 103 105,66% 100,00% 100,00% 103,00% 2 0 3 5 3,57% - 8,82% 4,85% ERS Cuiabá 146 120 203 469 128 111 203 442 87,67% 92,50% 100,00% 94,24% 2 0 1 3 1,56 - 0,49% 0,68% ERS Juara 33 3 18 54 33 3 18 54 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 0 0 0 0 - - - - ERS Juína 9140 3081 2557 14778 1295 500 620 2415 14,17% 16,23% 24,25% 16,34% 21 2 4 27 1,62% 0,40% 0,65% 1,12% ERS Peixoto de Azevedo ERS Pontes e Lacerda ERS Porto Alegre do Norte ERS Rondonópolis ERS São Félix do Araguaia 288 462 411 1161 287 451 405 1143 99,65% 97,62% 98,54% 98,45% 4 22 17 43 1,39% 4,88% 4,20% 3,76% 894 420 170 1484 875 420 170 1465 97,87% 100,00% 100,00% 98,72% 18 11 4 33 2,06% 2,62% 2,35% 2,25% 39 31 5 75 51 27 3 87 130,77% 87,10% 60,00% 116,00% 0 0 1 1 - - 33,33% 1,15% 71 52 925 1048 71 51 925 1047 100,00% 98,08% 100,00% 99,90% 3 16 4 23 4,23% 31,37% 0,43% 2,20% 29 32 23 84 29 32 23 84 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 0 0 0 0 - - - - ERS Sinop 777 1737 2242 4756 311 255 144 710 40,03% 14,68% 6,42% 14,93% 1 3 4 8 0,32% 1,18% 2,78% 1,13% ERS Tangará da Serra 10 31 2 43 10 31 2 43 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 0 4 0 4 - 12,90% - 9,30% TOTAL GERAL 12333 6956 7730 27019 3909 2863 3691 10463 31,70% 41,16% 47,75% 38,72% 63 79 59 201 1,61% 2,76% 1,60% 1,92% Fonte: Lacen/MT Laboratório 58 Resultados Os dados relacionados na tabela 5 acima foram registrados no banco de dados tais como estavam descritos nos “Relatórios de Controle de Qualidade de Malária”, e eventuais divergências no número de lâminas examinadas e revisadas são justificadas pelo motivo de os microscopistas revisores registrarem, esporadicamente, as divergências com os dados de revisão já corrigidos, a exemplo do ERS Alta Floresta que apresentou leitura de 77 lâminas positivas em 2011 sendo revisadas 78 lâminas positivas no mesmo ano, o que é justificado pela 01 lâmina divergente de falso negativo (N/P). Ressalva deve ser feita de que a orientação das revisoras do Lacen/MT Laboratório é que os números de divergência sejam computados exclusivamente no campo de “Discordantes” pelos microscopistas revisores dos ERS, não alterando portanto os dados da coluna “Lâminas Revisadas”, a fim de evitar desentendimentos. Dando sequência à análise, em todo o estado de Mato Grosso pôde-se observar uma queda aproximada de 50% na produção das lâminas de gota espessa para diagnóstico de malária de 2009 para 2010, visto que em 2009 foram produzidas 12.333 lâminas seguindo para 6.956 lâminas em 2010, passando a um pequeno aumento em 2011 para 7.730 lâminas. Acompanhar a evolução do total de lâminas produzidas para pesquisa da malária traduz, de certa forma, tanto a busca constante no controle da incidência da endemia no país e no mundo, quanto à confirmação dos casos positivos e à espécie de Plasmodium encontrada no território nacional. Pode-se acompanhar que, embora o total de lâminas examinadas tenha apresentado uma grande queda de 2009 para 2010 e seguida a um aumento em 2011, o número total de lâminas examinadas que foram positivas manteve queda nos três anos. Ressalta-se que o total positivo de lâminas examinadas é correspondente à soma dos casos de P. vivax, P. falciparum, infecções mistas (P. vivax mais P. falciparum) e demais tipos de Plasmodium que possam ser diagnosticadas tais como o P. malarie e P. ovale. Das 27.019 lâminas de gota espessa examinadas de 2009 a 2011 pelos laboratórios de base, um total de 10.463 lâminas foram revisadas pelos 20 59 Resultados microscopistas revisores distribuídos nos 16 ERS do estado, correspondendo a um percentual de 38,72% de revisão das lâminas de base. De acordo com o Fax Circular Nº 52 (Anexo 1) da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde que ressalta as orientações do Programa Nacional de Controle da Malária – PNCM e Organização Pan Americana de Saúde – OPAS, o envio de lâminas semanal dos microscopistas dos laboratórios de base aos Escritórios Regionais de Saúde – ERS deve ser feito semanalmente ou mensalmente. Caso seja efetuado o envio semanal, estes devem encaminhar um total de 04 lâminas por semana (sem conhecimento de diagnóstico preliminar) de cada microscopista e, caso o envio seja efetuado mensalmente, devem ser enviadas 16 lâminas por microscopista ao ERS, seguindo o mesmo princípio de serem sem diagnóstico preliminar. Contudo, foi observado nos relatórios mensais dos ERS enviados ao LACEN/MT Laboratório que os microscopistas dos laboratórios de base enviam um percentual maior do que o preconizado pelo Ministério da Saúde, chegando em muitos casos a enviarem a totalidade de lâminas examinadas no período. Destaque do total de lâminas de gota espessa para diagnóstico da malária produzidas pelo estado no período foi o ERS de Juína – que abrange 07 municípios, que apresentou o maior número de lâminas positivas e negativas examinadas nos três anos. A sua participação no percentual total de lâminas produzidas pelo estado no ano de 2009 foi de 74,11%, reduzindo para 44,29% em 2010, diminuindo ainda mais a sua participação em 2011 com 33,08%. Do total de lâminas examinadas (positivas e negativas) pelos laboratórios de base, 16,34% do total lido foi revisado no ERS Juína no somatório dos três anos. Em relação às lâminas que foram revisadas pelos revisores dos 16 ERS, foram encontradas 201 divergências de 2009-2011 sendo 74 (36,82%) relacionadas à espécie parasitária ou gametócitos presentes (v/f; f/v; m/f; fg/f,fg; v/m; m/v), 65 lâminas (32,34%) diagnosticadas como Positivas sendo Negativas – falsos positivos (P/N), e 62 lâminas (30,85%) lidas como Negativas sendo entretanto Positivas – falsos negativos (N/P). 60 Resultados Tabela 6 – Divergências de leituras por espécie parasitária dos microscopistas de base encontradas pelos revisores dos ERS no estado de Mato Grosso de 2009-2011. Continua DIVERGÊNCIAS BASE 2009-2011 Ano ERS Água Boa 2009 2010 2011 Total ERS Alta Floresta ERS Barra do Garças 2009 2010 2011 Total v/f f/v m/f fg/f,fg ERS Cáceres ERS Colíder 2009 2010 2011 Total v/m m/v P/N N/P 9 9 1 3 2 2 1 1 2 Total 9 1 3 7 11 2 19 12 33 9 1 10 4 1 5 1 8 9 1 8 9 1 1 1 1 2 2 1 3 1 1 1 3 2009 2010 2011 Total 2009 2010 2011 Total f/fg 1 1 2 1 1 1 1 3 5 61 Resultados Continuação da Tabela 6 – Divergências de leituras por espécie parasitária dos microscopistas de base encontradas pelos revisores dos ERS no estado de Mato Grosso de 2009-2011. Continuação DIVERGÊNCIAS BASE 2009-2011 Ano ERS Cuiabá 2009 2010 2011 Total ERS Juína v/f fg/f,fg f/fg v/m m/v N/P Total 1 2 1 1 1 1 3 1 6 9 1 2 2 8 1 10 21 2 4 27 2 5 6 13 1 5 8 14 4 22 17 43 1 5 5 1 10 9 4 3 16 18 11 4 33 1 5 2 7 ERS Peixoto de Azevedo 2009 2010 2011 Total 1 3 ERS Pontes e Lacerda 2009 2010 2011 Total 2 1 ERS Porto Alegre do Norte m/f P/N 1 2009 2010 2011 Total 2009 2010 2011 Total f/v 4 3 3 1 4 1 1 1 2 1 3 1 4 1 5 1 1 1 1 1 1 62 Resultados Conclusão da Tabela 6 – Divergências de leituras por espécie parasitária dos microscopistas de base encontradas pelos revisores dos ERS no estado de Mato Grosso de 2009-2011. Conclusão DIVERGÊNCIAS BASE 2009-2011 Ano ERS Rondonópolis 2009 2010 2011 Total ERS Sinop ERS Tangará da Serra TOTAL GERAL 2009 2010 2011 Total v/f 1 1 1 1 2009 2010 2011 Total f/v m/f fg/f,fg m/v P/N 4 1 5 4 6 2 1 3 6 1 1 2 f/fg v/m 2 2 2009 4 10 2010 4 13 6 1 1 1 1 1 3 1 3 4 8 1 1 4 2011 5 3 1 2 Total 13 26 1 3 2 3 6 1 1 4 3 23 22 63 7 15 17 20 79 1 2 25 20 59 8 20 65 62 201 1 1 Total 3 16 4 23 1 1 N/P Fonte: Lacen/MT Laboratório. Obs.: Os ERS Juara e ERS São Félix do Araguaia não apresentaram divergências no período. 63 Resultados Graficamente podemos representar as divergências de leituras dos microscopistas de base encontradas pelos revisores dos ERS no estado de Mato Grosso de 2009-2011 pela figura abaixo, que evidencia claramente o aumento/redução das divergências: Figura 6 - Divergências de leituras dos microscopistas de base encontradas pelos revisores dos ERS no estado de Mato Grosso de 2009-2011 30 25 20 15 10 5 0 v/f f/v m/f fg/f,fg f/fg 2009 2010 v/m m/v P/N N/P 2011 Assim, o percentual de divergências diagnosticadas pelos microscopistas revisores dos ERS relacionadas àquelas lâminas dos microscopistas de base que foram revisadas foi de 1,61% em 2009, aumentando para 2,76% em 2010 passando para 1,60% em 2011. Considerando-se os somatório dos três anos como base, o percentual de todas 201 divergências sobre o total revisado pelos ERS foi de 1,92%. Ressalta-se que no ano de 2010 o ERS de Água Boa não teve produtividade de lâminas. Há de se relembrar que o erro diagnóstico (divergências) é importante do ponto de vista epidemiológico pois, quando ocorre o erro em relação à espécie parasitária leva ao tratamento errôneo para a doença visto que as medicações a serem instituídas são diferentes, direcionadas aos diferentes tipos de Plasmodium – erros na dosagem e no tipo da medicação a ser adotada ao indivíduo com malária, de acordo com a tabela do Ministério da Saúde. Já os falso positivos (consideradas Positiva sendo entretanto Negativas) levam ao tratamento desnecessário ao indivíduo e, por conseguinte, o fato de não diagnosticar a doença em indivíduos que estão com o 64 Resultados Plasmodium presente – falsos negativos (consideradas Negativas sendo entretanto Positivas) não oferece a oportunidade do tratamento da doença para quem precisa. Entretanto, embora o ERS de Juína tenha sido o que apresentou o maior número de produção de lâminas, foi apenas o quarto em número de divergências totais no total dos três anos (13,43%), ficando atrás da ERS Peixoto de Azevedo que ocupou o primeiro lugar (21,39%), seguida da ERS Pontes e Lacerda em segundo (16,42%) e ERS Alta Floresta em terceiro lugar (16,42%). Contudo, estes três ERS demonstram a necessidade de uma análise muito mais cuidadosa visto que ocuparam os três primeiros lugares em relação às divergências porém quantitativamente representaram, respectivamente, ERS Peixoto de Azevedo apenas 4,30% do total de lâminas examinadas nos três anos, o ERS Pontes e Lacerda com 5,49% e o ERS Alta Floresta com 10,02%, levantando assim a preocupação quanto às razões para tamanha quantia de divergências ao se comparar à quantia de lâminas produzidas – se isso seria devido à preparação das lâminas, se ao material de laboratório/microscópios ou mesmo se quanto à formação e capacitação dos profissionais microscopistas que realizam essas leituras de lâminas nos laboratórios de base. Embora o ERS Juína tenha produzido 54,69% das lâminas do estado no período 2009-2011, o ERS Peixoto de Azevedo foi o que mais apresentou divergências com 43 das 201 divergências encontradas (21,39%), mesmo tendo produzido apenas 4,30% do total – dos 43 erros, 13 foram falso positivos e 14 falso negativos. Tal observação poderia ser relacionada a uma falta de conhecimento do microscopista ou mesmo por microscópios defeituosos, que dificultariam muito uma correta leitura das lâminas. Dando sequência ao controle de qualidade do Lacen/MT Laboratório, as lâminas produzidas pelos laboratórios de base que foram revisadas pelos microscopistas revisores dos ERS são encaminhadas ao Lacen/MT Laboratório para nova revisão, agora a nível central. Os dados e análises apresentados a seguir foram realizados conforme dispostos no “Relatório mensal das atividades do controle de qualidade do diagnóstico da 65 Resultados malária” (Anexo 3) que foram disponibilizados pelo Lacen/MT Laboratório para uma análise, a partir do “Resumo mensal das lâminas revisadas pelo laboratório de controle de qualidade do Lacen” observado no mesmo instrumento em que os microscopistas revisores dos ERS relacionam na coluna “Total de lâminas enviadas para revisão” as suas leituras, enviando conjuntamente um percentual de lâminas que foi revisto para revisão pelas revisoras do Lacen/MT Laboratório, que por sua vez registram na parte do “laboratório de controle de qualidade (Lacen)” o total de lâminas revisadas na coluna “lâminas examinadas” e as respectivas divergências no campo “lâminas divergentes” dos microscopistas revisores dos ERS. Ao analisar a proporção de revisão do Lacen/MT Laboratório, das 9.720 lâminas de gota espessa de malária revisadas pelos 16 ERS do estado, 8.022 lâminas foram revisadas pelas Revisoras do Lacen o que significa que 82,53% das lâminas dos ERS foram avaliadas pelo Controle de Qualidade do Lacen/MT Laboratório. 66 Resultados Tabela 7 – Revisões do Lacen/MT Laboratório aos ERS do estado de Mato Grosso de 2009-2011. ERS TOTAL EXAMINADO ERS 2009 2010 2011 ERS Água Boa 5 13 407 ERS Alta Floresta ERS Barra do Garças ERS Cáceres 484 819 28 49 2009- TOTAL REVISADO LACEN 2009 2010 2011 425 5 13 340 505 1808 367 522 2 24 54 25 48 38 135 46 2011 2009- PERCENTUAL REVISÃO LACEN 2009 2010 2011 358 100,00% 100,00% 83,54% 485 1374 75,83% 63,74% 2 24 51 89,29% 47 38 131 2011 2009- TOTAL DIVERGÊNCIA REVISÃO PERCENTUAL DISCORDÂNCIA ERS LACEN PELO LACEN 2009 2010 2011 84,24% - 3 9 96,04% 76,00% 1 2 100,00% 100,00% 94,44% 10 93,88% 97,92% 100,00% 97,04% 2011 2009- 2009- 2009 2010 2011 12 - 23,08% 2,65% 3,35% 2 5 0,27% 0,38% 0,41% 0,36% - 4 14 40,00% - 16,67% 27,45% - - - - - - - - 2011 2011 ERS Colíder 66 41 33 140 66 41 33 140 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% - 1 4 5 - 2,44% 12,12% 3,57% ERS Cuiabá 143 145 202 490 122 136 203 461 85,31% 93,79% 100,00% 94,08% - - - - - - - - ERS Juara 22 3 16 41 20 3 16 39 90,91% 100,00% 100,00% 95,12% - - - - - - - - ERS Juína 1286 606 559 2451 1089 494 552 2135 84,68% 81,52% 98,75% 87,11% 19 6 14 39 1,74% 1,21% 2,54% 1,83% ERS Peixoto de Azevedo ERS Pontes e Lacerda ERS Porto Alegre do Norte ERS Rondonópolis ERS São Félix do Araguaia ERS Sinop 303 450 407 1160 283 432 340 1055 93,40% 96,00% 83,54% 90,95% 14 21 9 44 4,95% 4,86% 2,65% 4,17% 882 425 175 1482 580 387 175 1142 65,76% 91.06% 100,00% 77,06% 2 - 3 5 0,34% - 1,71% 0,44% 67 45 4 116 67 43 4 114 100,00% 95,56% 100,00% 98,28% - - - - - - - - 71 47 498 616 71 47 150 268 100,00% 100,00% 30,12% 43,51% - - - - - - - - 15 16 16 47 15 16 16 47 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% - - 1 1 - - 6,25% 2,13% 310 265 145 720 274 260 138 672 88,39% 98,11% 95.17% 93,33% 3 - 1 4 1,09% - 0,72% 0,60% ERS Tangará da Serra TOTAL GERAL 9 17 9 35 9 17 9 35 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 1 - - 1 11,11% - - 2,86% 3740 2942 3038 9720 3039 2460 2523 8022 81,26% 83,62% 83,05% 82,53% 50 33 47 130 1,65% 1,34% 1,86% 1,62% Fonte: Lacen/MT Laboratório 67 Resultados Em 10 dos 16 ERS foram mais de 90% de lâminas enviadas pelos revisores dos ERS que foram revisadas pelo Lacen/MT Laboratório – ERSs Barra do Garças, Cáceres, Colíder, Cuiabá, Juara, Peixoto de Azevedo, Porto Alegre do Norte, São Félix do Araguaia, Sinop e Tangará da Serra. Em outros 04 ERS o percentual de revisão do Lacen/MT Laboratório foi maior de 70% - ERSs Água Boa, Alta Floresta, Juína e Pontes e Lacerda. Apenas o ERS Rondonópolis teve percentual de revisão do Lacen/MT Laboratório menor de 50%. Contudo, a média anual de lâminas revisadas pelo Lacen/MT Laboratório manteve-se em 82% nos três anos analisados. O ERS Juína – que teve o maior número de leituras de lâminas pelos laboratórios de base – foi também o que teve maior número bruto de revisões das lâminas dos laboratórios de base com 2.451 lâminas revisadas. Dessas, 2.135 foram revisadas pelo Lacen/MT Laboratório, representando que 87,11% das lâminas enviadas pelo revisor do ERS foram novamente revisadas, agora a nível central. O percentual anual de divergências de leituras de lâminas dos laboratórios de revisão dos ERS pela revisão do Lacen/MT Laboratório manteve-se a 1,62% no somatório dos três anos. Na relação anual, em 2009 a proporção foi de 1,65%, em 2010 teve ligeira queda para 1,34% e em 2011 aumentou para 1,86%. De todas as lâminas dos ERS revisadas pelo Lacen/MT Laboratório foram encontradas 130 divergências de 2009-2011, sendo 72 (55,38%) relacionadas à espécie parasitária ou gametócitos presentes (v/f; f/v; m/f; fg/f,fg; v/m; m/v), 25 lâminas (19,23%) diagnosticadas como Positivas sendo Negativas – falsos positivos (P/N), e 33 lâminas (25,38%) lidas como Negativas sendo Positivas – falsos negativos (N/P). 68 Resultados Tabela 8 – Divergências de leituras de lâminas por espécie parasitária dos revisores dos ERS encontradas pelos revisores do Lacen/MT Laboratório no estado de Mato Grosso de 2009-2011. Continua DIVERGÊNCIAS ERS 2009-2011 Ano ERS Água Boa 2009 2010 2011 Total ERS Alta Floresta ERS Barra do Garças v/f f/v m/f fg/f,fg f/fg v/m 1 1 2009 2010 2011 Total 1 2009 5 m/v P/N N/P Total 3 2 3 3 3 5 3 8 3 1 12 1 1 2 1 2 2 5 3 10 1 1 1 1 1 2 2010 2011 Total 4 5 4 6 3 14 1 1 1 4 1 1 1 5 3 5 19 2009 ERS Colíder ERS Juína 2010 1 2011 1 Total 1 1 2009 6 2 2010 1 5 2011 5 5 Total 12 12 1 1 1 1 6 1 1 1 2 2 14 5 7 39 69 Resultados Continuação da Tabela 8 – Divergências de leituras de lâminas por espécie parasitária dos revisores dos ERS encontradas pelos revisores do Lacen/MT Laboratório no estado de Mato Grosso de 2009-2011. Continuação DIVERGÊNCIAS ERS 2009-2011 Ano v/f f/v m/f fg/f,fg 2 3 2 3 1 6 1 1 2 ERS Peixoto de Azevedo 2009 2010 2011 Total 2 2 ERS Pontes e Lacerda 2009 2010 2011 Total ERS São Félix do Araguaia 2009 2010 2011 Total ERS Sinop 2009 2010 2011 Total ERS Tangará da Serra 2009 2010 2011 Total 5 f/fg v/m 1 1 m/v P/N N/P Total 1 9 3 13 1 2 2 5 5 2 3 10 14 21 9 44 2 2 1 3 3 5 2 2 1 1 1 1 1 1 3 3 3 1 4 1 1 1 1 70 Resultados Conclusão da Tabela 8 – Divergências de leituras de lâminas por espécie parasitária dos revisores dos ERS encontradas pelos revisores do Lacen/MT Laboratório no estado de Mato Grosso de 2009-2011. Conclusão DIVERGÊNCIAS ERS 2009-2011 Ano v/f f/v m/f fg/f,fg 14 4 6 24 4 9 8 21 2 1 3 TOTAL GERAL 2009 2010 2011 Total 3 1 4 f/fg v/m m/v P/N N/P Total 1 1 1 3 1 10 6 17 6 5 14 25 19 3 11 33 50 33 47 130 Fonte: Lacen/MT Laboratório. Obs.: Os revisores dos ERS Cáceres, ERS Cuiabá, ERS Juara, ERS Porto Alegre do Norte e ERS Rondonópolis não apresentaram divergências no período. 71 Resultados Pode-se evidenciar o aumento/redução das divergências de leituras dos microscopistas revisores dos ERS nos anos estudados através da figura abaixo, ficando claros os grandes índices de divergências encontrados pelas revisoras do Lacen/MT Laboratório principalmente em relação aos v/f e de falsos negativos (N/P) no ano de 2009, ao se comparar aos anos conseguintes. Figura 7 - Divergências de leituras de lâminas dos revisores dos ERS encontradas pelos revisores do Lacen/MT Laboratório no estado de Mato Grosso de 2009-2011 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 v/f f/v m/f fg/f,fg f/fg 2009 2010 v/m m/v P/N N/P 2011 O ERS Peixoto de Azevedo foi o que mais apresentou divergências em número de lâminas na revisão do Lacen/MT Laboratório entre todos os ERS. Foram 44 lâminas divergentes das 1.055 revisadas no período, sendo 29 quanto à espécie parasitária ou gametócitos presentes, 05 falso positivos e 10 falso negativos. Embora tenha apresentado o maior número de divergências, seu percentual de discordâncias foi de 3,85% do total revisado. Em segundo lugar em número bruto de divergências dos revisores pelo Lacen/MT Laboratório está o ERS Juína com 39 lâminas, foram 27 lâminas divergentes quanto à espécie parasitária ou gametócitos presentes, 05 falso positivos e 07 falso negativos. 72 Resultados Caso seja analisado o maior percentual de divergências, o ERS Barra do Garças foi o que ficou em primeiro lugar, com alto percentual de 27,45% – foram 14 divergências dentre as 51 lâminas reavaliadas pelo Lacen/MT Laboratório, sendo 05 de P. vivax para P. falciparum, 06 falso positivos e 03 falso negativos. Revisor deste ERS era biólogo(a) concursado estadual. O total de divergências na revisão do Lacen/MT Laboratório nos ERS foi menor de 3% em 10 dos 15 ERS que tiveram produtividade de lâminas de gota espessa para malária, à exceção do ERS Diamantino que não teve produtividade em nenhum dos três anos estudados. Cabe ressaltar que embora os dados apresentados neste estudo possam demonstrar a situação do estado em relação aos números de casos positivos de malária e à qualidade da leitura das lâminas de gota espessa pelos microscopistas de base e de revisão no estado sejam expressivos, as limitações dos dados disponíveis para análise no Lacen/MT Laboratório não pôde permitir a elaboração de demais análises numéricas/estatísticas da doença no estado. Apesar destas limitações os resultados nos indicam que o percentual de discordâncias nos laboratórios de base durante o período estudado foi de 1,92% com especial destaque aos ERS Água Boa e ao ERS Barra do Garças que tiveram média geral de discordâncias acima de 10% no somatório dos três anos. Pontualmente observa-se uma média anual maior de 30% no ERS Porto Alegre do Norte no ano de 2011 e no ERS Rondonópolis em 2010. O percentual de discordâncias nos laboratórios de revisão dos ERS durante o período estudado foi de 1,62%. Observação ao ERS Barra do Garças que teve média geral de discordâncias de 27,45% com pico de 40,00% em 2009. O ERS Água Boa também apresentou média anual de 23,08% em 2010. Observar os índices de discordâncias das leituras das lâminas de gota espessa para malária traduz principalmente a preocupação no controle da qualidade do diagnóstico não só no Brasil como também é uma preocupação recorrente dos países que tem a malária como doença endêmica. 73 Resultados Os índices de discordâncias dos laboratórios primários e secundários encontrados no presente estudo são comparados aos do estudo de MANYAZEWAL et al. (2013), em que os diagnósticos dos laboratórios primários foram revisados pelos laboratórios secundários, encontrando-se um índice de concordância de 92,2% entre a lâmina e sua revisão (teste e reteste). Em outro estudo do gênero, KHAN et al. (2011) revisaram nos distritos 22% da produção de lâminas dos laboratórios de base produzidos em sete meses de estudo, chegando a um índice de discordância de 0,5 a 1%, ressaltando que a qualidade da preparação das lâminas foi aceitável em 73% do total. A qualidade das lâminas também foi observado por MBAKILWA et al. (2012), em que afirmou-se que a causa mais comum de resultados incorretos foi a qualidade da lâmina em si. A solução mais efetiva para a redução dos números de divergências e que demanda frequência em sua realização consiste nos treinamentos e capacitações periódicas aos microscopistas de base e também aos microscopistas revisores. O reconhecimento da imperativa necessidade de redução das frequentes divergências nas leituras de lâminas de gota espessa pode ser observado pela existência de estudos de controle de qualidade da microscopia da malária, em que são realizadas comparações de erros de leitura antes e depois de treinamentos e capacitações em diversos países, como no estudo de NAMAGEMBE et al. (2012), em que um curso de seis dias foi realizado na Uganda tendo como resultado avaliativo o aumento na qualidade da preparação das lâminas de 21,6% para 67,3%, o aumento da sensibilidade de 48,6% para 70,6% e da especificidade de 72,1% para 77,2%. Também na Uganda, KIGGUNDU et al. (2011) realizaram uma capacitação de três dias em quatro distritos em que observaram um aumento da sensibilidade de 84% para 95% e da especificidade de 87% para 97%, ressaltando que os treinamentos suplementares podem ter um impacto significante no conhecimento, acurácia da microscopia e também na qualidade da preparação das lâminas de gota espessa. Treinamentos podem ser realizados em períodos mais longos ou mais rápidos, como OHRT et al. (2007) no Quênia, que observou aumentos dramáticos de desempenho de leituras após treinamentos longos de doze dias ou curtos de quatro 74 Resultados dias. Aumento de sensibilidade foi observado em 14% dos microscopistas, e aumento de especificidade foi de 17%. Contudo, os autores ressaltam que leituras de falso positivo e negativo são problemas sérios, mesmo em microscopistas experientes. No estado de Mato Grosso, a preocupação com a qualidade da microscopia da malária é constante. Treinamentos são oferecidos no Lacen/MT Laboratório de acordo com a demanda dos microscopistas, entretanto capacitações são frequentemente realizadas pelas revisoras do Lacen/MT Laboratório aos microscopistas revisores dos ERS e também aos microscopistas de base durante a visita de revisão aos ERS, assim como os próprios microscopistas revisores dos ERS realizam capacitações aos microscopistas de base assim que os mesmos observam a necessidade, ao observar divergências durante a revisão de suas lâminas. 5.1.1 Discussão O percentual de discordâncias encontrados no presente estudo de 1,92% de lâminas divergentes para os microscopistas de base sobre 38,72% de lâminas revisadas, e de 1,62% discordantes para os microscopistas revisores sobre 82,53% de lâminas revisadas, ambas entre 2009-2011, são então comparados aos dados encontrados em outros estudos que avaliam a proporção de discordâncias das microscopias nas leituras e releituras das lâminas. As reavaliações analíticas dos laboratórios de nível primário e secundários são importantes ao conhecimento das concordâncias laboratoriais e à qualidade da microscopia (MANYAZEWAL et al., 2013). A reavaliação de lâminas por microscopistas experientes (KAHAMA-MARO et al., 2011) e por supervisores de laboratórios (KHAN et al., 2011) traduzem a qualidade dos laboratórios e dos microscopistas analisados. A avaliação da qualidade do diagnóstico da malária em laboratório de referência (DI SANTI et al., 2004), que revisa e avalia aleatoriamente as lâminas produzidas na busca do controle de qualidade (KILIAN et al., 2000) apresentam-se como estratégias muito importantes a serem tomadas na busca da constante redução dos índices de discordâncias encontrados. 75 Resultados Assim, além das atividades de supervisão laboratorial, os treinamentos oferecidos aos microscopistas de base e de revisão configura-se como uma das ferramentas determinantes ao melhorar o desempenho dos profissionais com o conhecimento, acurácia e qualidade na preparação das lâminas, na busca da manutenção da qualidade da microscopia da malária (OHRT et al., 2007; KIGGUNDU et al., 2011; NAMAGEMBE et al., 2012; MUKADI et al., 2011). Neste sentido, microscopias ruins podem levar a grande número de falsos positivos como encontrado no estudo de Kahama-Maro et al., (2011) em que as lâminas foram reavaliadas por microscopistas experientes. Contudo, no presente estudo a maior proporção de discordâncias encontradas foi de falso positivas (P/N) e falso negativas (N/P), diferentemente do resultado do estudo de Kilian et al. (2000) na Uganda em que as diferenças ocorreram principalmente nas estimativas de gametócitos, proporção de infecção mista e índice de densidade média. Em relação aos erros falso positivos/negativos, a maior proporção de falsos positivos no presente estudo é comparado ao estudo de Pereira et al. (2006) em que no estado do Amapá os resultados falso negativos foram maiores e no Maranhão os falso positivos foram maiores. Como salientam Ohrt et al. (2007), os resultados falso positivos e negativos da malária são um sério problema a ser resolvido, entretanto os autores provaram que o treinamento aumenta drasticamente o desempenho dos microscopistas. Deste modo pelo motivo de o presente estudo utilizar dados secundários, o mesmo pode estar sujeito às limitações deste tipo de pesquisa, ou seja, depende dos registros disponibilizados. Outra limitação a ser considerada é a da possibilidade da subnotificação dos casos ou imprecisão das informações registradas, que poderiam influenciar na oportunidade do conhecimento da situação real da malária no estado. 76 Resultados 5.2 II – Estrutura e organização dos laboratórios de base e de revisão dos ERS do Estado de Mato Grosso, Brasil, entre 2009 e 2011 Os dados e análises a seguir foram elaborados a partir dos “Relatórios de Supervisão Laboratorial de Vigilância Epidemiológica e/ou Ambiental” (Anexo 4) que, assim como os relatórios anteriores, foram disponibilizados pelo Lacen/MT Laboratório para o estudo. O Lacen/MT Laboratório de Mato Grosso tem duas responsáveis pelo andamento das revisões às lâminas enviadas pelos ERS do estado, pelo treinamento dos microscopistas de base e dos microscopistas revisores in loco ou no próprio Lacen/MT Laboratório, pela elaboração dos relatórios do estado e também pelas supervisões laboratoriais em todo estado. Desse modo, a periodicidade de visitas e supervisões in loco só não é mais frequente devido ao reduzido contingente de recursos humanos. São realizadas visitas periódicas pelas supervisoras/revisoras do Lacen/MT Laboratório aos ERS e aos laboratórios de base, com o objetivo de aprimorar o diagnóstico da malária através do controle de qualidade das lâminas e treinamentos in loco. As supervisões de rotina são realizadas de acordo com verbas disponibilizadas, demanda de capacitações/treinamentos, ou mesmo para averiguar/capacitar quaisquer microscopistas que tenham apresentado divergências na leitura das lâminas de gota espessa para a malária. No período de 2009-2011 foram consultados todos os “Relatórios de Supervisão Laboratorial de Vigilância Epidemiológica” existentes e que estavam arquivados. Entretanto observou-se que em determinados ERS que foram visitados, o respectivo relatório de supervisão não estava presente, embora o laboratório de revisão dos ERS seja o primeiro laboratório a ser visitado pelas supervisoras/revisoras do Lacen/MT Laboratório. No total de 2009-2011 foram contabilizados 85 “Relatórios de Supervisão Laboratorial de Vigilância Epidemiológica e/ou Ambiental – Diagnóstico de Malária” 77 Resultados elaborado pelas revisoras do Lacen/MT Laboratório de acordo com as visitas realizadas nos laboratórios de base e de revisão dos ERS. Dos 85 relatórios de visitas de supervisão, 15 laboratórios foram revisitados de 2009-2010 ou de 2009-2011. No período estudado foram encontrados relatórios de visita de 15 dos 16 ERS do estado, sendo em laboratórios municipais, estaduais, de análises clínicas/hospitalares, pronto atendimentos, de entomologia e ainda nos laboratórios de revisão. Os ERS visitados foram o de Água Boa, Alta Floresta, Barra do Garças, Cáceres, Colíder, Diamantino, Juara, Juína, Peixoto de Azevedo, Pontes e Lacerda, Porto Alegre do Norte, Rondonópolis, São Félix do Araguaia, Sinop e Tangará da Serra. O laboratório de revisão do ERS de Cuiabá está localizado no Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM) na capital, entretanto não foram encontrados relatórios de supervisão laboratorial no período estudado. Ressalta-se ainda que o ERS de Diamantino não teve produtividade de lâminas de gota espessa de malária no período em questão, contudo foi visitado para supervisão laboratorial do Lacen/MT Laboratório. Visitas por ERS/ANO – LACEN/MT Laboratório 2009 2010 2011 ERS Água Boa ERS Alta Floresta ERS Água Boa ERS Alta Floresta ERS Diamantino ERS Alta Floresta ERS Barra do Garças ERS Juína ERS Barra do Garças ERS Colíder ERS Peixoto de Azevedo ERS Cáceres ERS Juara ERS São Félix do Araguaia ERS Colíder ERS Peixoto de Azevedo ERS Sinop ERS Juara ERS Pontes e Lacerda ERS Tangará da Serra ERS Pontes e Lacerda ERS Porto Alegre do Norte ERS Porto Alegre do Norte ERS Rondonópolis ERS Rondonópolis ERS São Félix do Araguaia ERS Sinop ERS Sinop ERS Tangará da Serra Os relatórios elaborados pelas supervisoras/revisoras são organizados estruturalmente em “Informações Cadastrais”, “Aspectos de Infra Estrutura”, “Aspectos Operacionais”, “Aspectos Técnicos”, “Supervisão de Lâminas” e “Conclusão”. Os laboratórios que foram revisitados no período estudado (15 laboratórios) foram contados nas análises a seguir como visitas independentes, a fim da verificação do estado de cada laboratório no momento da visita de supervisão. 78 Resultados Aos aspectos de Infra Estrutura, a estrutura física foi considerada boa para a realização do exame da gota espessa para malária em 37 dos 85 laboratórios visitados (43,53%), regular em 42 laboratórios (49,41%) e ruim em outros 06. A organização interna e higiene foi considerada boa em 37 dos 85 laboratórios visitados, regular em 47 e ruim em apenas 01 laboratório. Aos registros, existiam registros de exames em Vigilância Epidemiológica e Ambiental em 79 laboratórios (92,94%), relatórios de resultados foram encontrados em 82 laboratórios (96,47%) e registros de manutenção de aparelhos ausentes em 65 deles (76,47%). O horário de recebimento das amostras em 74 laboratórios foi das 07-11 e 1317 hs (87,06%), em dois laboratórios somente no período da manhã das 07-13 hs, e em horário integral (24 hs) em 09 laboratórios principalmente em hospitais municipais, regionais e pronto atendimento municipal. O tempo médio entre a recepção da amostra e a entrega do resultado foi entre 40 minutos e 1 hora em 63 laboratórios (74,12%); coletados em um período e entregue no período seguinte em 06 laboratórios; e nos últimos 16 laboratórios (18,82%) – que eram de ERS, entre 10 a 30 dias. Aos aspectos técnicos, o descarte do material contaminado é, em 66 laboratórios (77,65%) realizado através de caixas coletoras de perfurocortantes rígidas para descarte (Descarpack®), e nos demais foi autoclavado, colocado em solução desinfetante, incinerado e recuperados na Central de Materiais Esterilizados (CME) do Lacen/MT Laboratório (apenas lâminas dos ERS). O emprego do método padronizado pelo Procedimento Operacional Padrão (POP) não é utilizado em 71 dos 85 laboratórios. A identificação da amostra foi considerada adequada em quantidade e qualidade em 81 dos 85 laboratórios (95,29%), entretanto 100% das amostras foram consideradas adequadas quanto à sua identificação. A demonstração prática da técnica padronizada do agravo pelas supervisoras/revisoras foi realizada em 83 laboratórios, exceto em um laboratório em 79 Resultados que não foi realizada devido falta de tempo do(a) microscopista e em outro laboratório em que o(a) microscopista não participou por motivos particulares. Os Equipamentos de Proteção Individual – EPI’s não foram totalmente utilizados durante as atividades realizadas em 10 dos 85 laboratórios, correspondendo a 11,76% dos laboratórios visitados. Esses não utilizaram principalmente o jaleco durante a atividade. Aos aspectos operacionais da microscopia da malária, os microscópios utilizados foram em grande parte da marca Olympus em 40,00% (34 laboratórios), marca Nikon em 24,71% (21 laboratórios), marca Bioval em 06 laboratórios e outros 24 microscópios de marcas diversas (Coleman, DMI, Evlab, Inahl, Labomed, Motic, Oeman, Zeiss e Taimin) nos demais laboratórios. O estado de conservação dos microscópios foi considerado ótimo em 32 laboratórios, regular em 33, ruim/deficiente em 20. Os microscópios considerados “ótimos” eram novos em sua grande maioria. Observações que foram realizadas àqueles que necessitavam manutenção eram, por exemplo, que o condensador não travava; oculares com folga; fonte queimada; revolver sem trava de foco; pouca visibilidade/sem nitidez; mau contato na parte elétrica; luz insuficiente ou que esquenta muito; objetiva de imersão (100x) com problema; necessidade de limpeza geral, entre outros. Os problemas dos microscópios em geral não foram maiores pois todos os microscopistas revisores do estado possuem treinamento para manutenção básica de microscópios como por exemplo para realização de limpeza geral e troca de lâmpadas, e realizam a manutenção tanto dos microscópios dos laboratórios de base quanto dos laboratórios de revisão. Caso ocorram problemas maiores, são solicitadas novas peças para a troca ao município ou mesmo sendo requisitados novos aparelhos microscópios. Analisando a Supervisão de lâminas específicas para malária as supervisoras/revisoras do Lacen/MT Laboratório realizaram uma verificação da capacidade do microscopista por meio de um teste prático com 05 ou 10 lâminas sem diagnóstico para cada um, recordando que nos laboratórios visitados os treinamentos foram realizados à totalidade de microscopistas disponíveis, independentemente da 80 Resultados quantidade. Em relação à proporção de concordâncias de leituras, os resultados aos testes de verificação da capacidade técnica foram considerados “excelentes” em 41 laboratórios, “ótimos” em 18, “bom” em 12 e “satisfatórios” em 07 laboratórios. Foram excetuados sete laboratórios em que os microscopistas não realizaram o teste prático por falta de tempo, pela recusa por motivos particulares, ou pela ausência do microscópio que estava em manutenção. No adendo das colorações das lâminas de gota espessa de malária, 100% dos laboratórios utilizam o método de Walker para a coloração das lâminas, sendo consideradas boas em 70 laboratórios (82,35%) e ruim em apenas um. Outros 14 laboratórios não foram registrados a qualidade da coloração. Os corantes Giemsa e Azul de Metileno utilizados foram das marcas Doles em 26 laboratórios, os demais utilizando outras marcas (Imbralab, Newprov, Qeel/Loefler). O uso de água tamponada ocorre em 61 laboratórios, não o sendo em 09, estando em falta em 09 laboratórios, e sem informação em 06 laboratórios. Os materiais necessários em falta na grande maioria dos laboratórios foi o azul de metileno e o giemsa, também sendo encontrados como materiais faltantes as placas para coloração das lâminas, óleo de imersão, sal fosfatado, papel macio, almotolia, proveta graduada e jaleco. Durante as orientações das supervisoras/revisoras do Lacen/MT Laboratório foi ressaltado que as lâminas de gota espessa quando bem coradas se traduzem em precisão no diagnóstico da malária com consequente menor chance de erros. Para o tratamento dos casos de malária os laboratórios utilizam o Artemeter com Lumefantrine (Coartem), Cloroquina e Primaquina, ou Artesunato com Mefloquina sendo administrados de acordo com a tabela do Ministério da Saúde para o tratamento da malária, de acordo com o tipo do Plasmodium. A realização da Lâmina de Verificação de Cura (LVC) não é adotado na grande maioria dos laboratórios, entretanto durante as visitas foram esclarecidos pelas supervisoras/revisoras do Lacen/MT Laboratório sobre a importância do retorno do paciente para a realização da LVC em 07, 14 e 21 dias. As supervisoras/revisoras do Lacen/MT Laboratório finalizam as Supervisões Laboratoriais que os principais problemas encontrados foram, na grande maioria, 81 Resultados sobre a falta de materiais nos laboratórios tais como azul de metileno, giemsa, sal fosfatado, placas recurvadas para corar lâminas, óleo de imersão, almotolias, papel macio e proveta graduada. Outros problemas encontrados foram também a falta do uso de EPI’s durante as atividades analisadas como luva e jaleco; problemas com microscópios como por exemplo com objetiva de imersão (100x) necessitando manutenção ou mesmo a necessidade da aquisição de microscópios novos; lâminas queimadas pelo azul de metileno concentrado, que deixa a lâmina esverdeada e sem condições de examinar; e também condições estruturais dos laboratórios como a falta de bancada apropriada para o microscópio ou mesmo a estrutura física para funcionamento do laboratório. Em outros laboratórios visitados foram encontradas situações em que as atividades eram realizados em meio à estrutura deficiente ou até mesmo insalubre, a exemplo de um laboratório localizado no ERS Pontes e Lacerda visitado em 2009 que, conforme os relatórios elaborados pelas supervisoras/revisoras não tinha ventilação, estava com infiltrações nas paredes, odor de mofo e ar condicionado necessitando de manutenção, sem as condições necessárias para seu funcionamento. Foi então solicitada à secretaria de saúde do município uma reforma geral no prédio com as devidas adequações à estrutura física do local. Em outro relatório, um laboratório localizado no ERS Pontes e Lacerda visitado em 2011 estava completamente inadequado, improvisado, inexistindo até mesmo pia para a coloração das lâminas de malária – devido ao laboratório estar funcionando no complexo da secretaria municipal de saúde foi solicitado ao Secretário Municipal de Saúde providências quanto a um local definido ao laboratório, para que possam ser executados todos os procedimentos com as exigências de biossegurança, partindo do atendimento ao paciente à realização da leitura e retorno do diagnóstico de forma adequada. Ainda em outro laboratório de base no ERS Pontes e Lacerda visitado em 2011 foi relatado pela supervisoras/revisoras que a estrutura física tinha passado por mudanças e que hoje está melhor instalado para suas atividades. No adendo dos laboratórios irregulares desta vez no ERS Cáceres visitado em 2011 foi verificada a ausência de local definido para a realização dos procedimentos 82 Resultados laboratoriais com o profissional trabalhando de forma inadequada nos procedimentos de coleta de material da gota espessa e na coloração e leitura das lâminas. Foi então sugerido ao coordenador de vigilância em saúde do município a providencia da instalação de local adequado para o funcionamento do laboratório. Durante as visitas foram então feitas ações corretivas pelas supervisoras/revisoras do Lacen/MT Laboratório nos laboratórios, principalmente por meio da realização de demonstração em microscópio da malária e do Trypanosoma cruzi, treinamentos na coleta do exame da gota espessa, as técnicas de coloração, o diagnóstico da malária pela lâmina da gota espessa, o preenchimento dos formulários epidemiológicos e também, orientações sobre a importância do uso dos EPI’s obrigatórios no laboratório e esclarecimentos sobre normas do MS que preconizam o diagnóstico da lâmina por espécie e lâminas mistas. As recomendações que foram feitas junto às instâncias superiores foram principalmente quanto à compra dos insumos em falta nos laboratórios que são essenciais para a realização dos trabalhos de diagnóstico de malária; orientadas as substituições de aparelhos microscópios muito deficientes, a aquisição de objetiva de imersão para troca de um microscópio que estava muito defeituoso; orientações sobre a coleta da gota espessa e notificação dos casos tanto em laboratórios municipais quanto particulares; orientações sobre a importância do retorno do paciente para a realização da Lâmina de Verificação de Cura – LVC; não deixando ainda de solicitar aos superiores e às Secretarias Municipais de Saúde as adequações às estruturas físicas dos laboratórios e a necessidade da aquisição de novos microscópios para os laboratórios que mais necessitam. Ao observar os laboratórios que foram revisitados não foram notadas diferenças nas revisitas em relação ao registro anterior principalmente à estrutura física, permanecendo as dificuldades quanto a falta de materiais nos laboratórios e notada a tomada de providências quanto a manutenção de microscópios deficientes a exemplo do ERS Rondonópolis que em 2009 o microscópio apresentava-se “deficiente” e com “mau contato na parte elétrica”, estando em 2011 “regular” necessitando apenas de “limpeza geral”. 83 Resultados Ainda às novas visitas de supervisão realizadas, os laboratórios de revisão dos ERS também mantiveram suas características de funcionamento mesmo após a visita recente das supervisoras/revisoras do Lacen/MT Laboratório, a exemplo do laboratório de revisão do ERS Sinop que foi o único a ser visitado nos três anos analisados e que, mesmo assim, se manteve funcionando em local inadequado para as atividades de revisão de lâminas e manutenção dos aparelhos microscópios, estando em uma sala improvisada mesmo após ser solicitado à secretaria municipal de saúde a providência de local adequado para a atividade. Situação semelhante foi relatada no laboratório de revisão do ERS Juína, que se manteve funcionando em uma sala improvisada. Em todos os laboratórios de revisão dos ERS que tiveram mais de uma visita entre 2009-2011, a falta de azul de metileno e de giemsa foi observada na primeira visita sendo novamente verificada na revisita, mesmo após solicitação de aquisição de insumos às secretarias municipais de saúde. O laboratório de revisão de lâminas do ERS São Félix do Araguaia não dispunha de espaço para a realização dos serviços de revisão, e em 2011 foi relatada a ausência do kit de ferramentas para a manutenção de microscópios que desde a visita de 2009 já apresentava a necessidade de manutenção. O laboratório de revisão do ERS Alta Floresta relata em 2011 que não dispunha de recursos para a realização de revisão aos laboratórios de base, prejudicando assim as atividades de controle de qualidade e treinamento de microscopistas de base – fato este que infelizmente não é exclusivo deste ERS, sendo recorrente em grande parte dos ERS do estado nos anos analisados. Recursos Humanos: características Buscou-se conhecer a formação e do vínculo de cada um dos 146 microscopistas de base que tiveram produção/leituras de lâminas de gota espessa de malária de 2009-2011. Dos 146 microscopistas de base que tiveram produtividade, 02 tinham como formação o Ensino Fundamental (1,37%), 73 tinham Nível Médio (50,00%) e 71 tinham Nível Superior (48,63%) sendo: 1 Biólogo, 07 Biomédicos(as) e 63 Bioquímicos(as). 84 Resultados Tabela 9 – Formação dos microscopistas de base dos ERS do estado de Mato Grosso de 2009-2011. ERS ENS. ENS. FUND. MÉDIO ERS Água Boa NÍVEL SUPERIOR BIOQUÍMICO BIOMÉDICO 3 1 ERS Alta Floresta 9 1 ERS Barra do Garças 2 2 ERS Cáceres 5 1 ERS Colíder 4 2 ERS Cuiabá 3 1 2 ERS Juara ERS Juína 32 2 ERS Peixoto de Azevedo 3 14 1 8 2 1 ERS Pontes e Lacerda 2 6 ERS Porto Alegre do Norte ERS Rondonópolis 1 ERS São Félix do Araguaia 1 ERS Sinop ERS Tangará da Serra TOTAL GERAL BIÓLOGO 2 19 3 4 8 1 1 1 73 63 7 1 Fonte: Lacen/MT Laboratório Analisando então a formação dos microscopistas de base que tiveram leitura de lâminas de gota espessa para malária por cada ERS, o ERS Juína foi o que mais teve número de microscopistas de base com produção – foram 34 microscopistas de base: 32 possuíam o Ensino Médio e 02 eram Bioquímicos(as). Em segundo lugar está o ERS Rondonópolis com 23 microscopistas de base porém, em contrapartida, foram 19 Bioquímicos(as), 03 Biomédicos(as) e apenas 01 com Ensino Médio. Outro ERS com grande número de Bioquímicos(as) foi o ERS Peixoto de Azevedo com 14 microscopistas, somados ao 01 Biomédico(a) e 03 com Nível Médio. Ademais, outra característica importante a ser analisada para os microscopistas de base dos ERS entre 2009-2011 é o vínculo empregatício com o laboratório de base – caso concursados/tipo ou se contratados. Tal característica poderia ilustrar a 85 Resultados estabilidade e permanência do microscopista no município, que seria diferenciado principalmente por concurso ou contrato. Tabela 10 - Vínculo dos microscopistas de base dos ERS do estado de Mato Grosso de 2009-2011. CONTRATO ERS CONCURSO CONCURSO CONCURSO MUNICIPAL ESTADUAL FEDERAL ERS Água Boa 1 2 1 - ERS Alta Floresta 2 4 - 4 ERS Barra do Garças 2 2 1 1 ERS Cáceres 2 3 - 1 ERS Colíder 1 3 1 1 ERS Cuiabá - 1 - 2 ERS Juara - 1 1 - ERS Juína 21 11 - 2 ERS Peixoto de Azevedo 7 9 - 2 ERS Pontes e Lacerda 6 7 - - ERS Porto Alegre do Norte 5 1 - - ERS Rondonópolis 21 - 1 - ERS São Félix do Araguaia - - - 1 ERS Sinop 2 7 1 3 ERS Tangará da Serra 1 1 - - TOTAL GERAL 71 52 6 17 Fonte: Lacen/MT Laboratório O vínculo predominante nos microscopistas de base do estado de 2009-2011 foi de contratados municipais com 71 indivíduos (48,63%), seguidos de concursados municipais com 52 indivíduos (35,62%), concursados federais com 17 (11,64%) e por último concursados estaduais com apenas 06 (4,11%). Considerando-se o sexo, foram 75 do sexo feminino e 71 do sexo masculino. Como dito anteriormente, o ERS Peixoto de Azevedo foi o que ficou em primeiro lugar em número de divergências entre 2009-2011 – foram 43 lâminas. Em segundo lugar empatados ficaram os ERS Alta Floresta e o ERS Pontes e Lacerda com 86 Resultados 33 lâminas divergentes cada, seguidos pelo ERS Juína com 27 lâminas e em quinto dos 16 ERS está o ERS Rondonópolis com 23 lâminas divergentes. Mas, ao se observar a formação e o vínculo dos microscopistas de base dessas cinco regionais que mais apresentaram divergências, observa-se que a maior parte das divergências foram encontradas nas leituras de microscopistas de nível médio e contratados municipais (32 lâminas divergentes), em seguida pelos de nível médio concursados municipais (28 lâminas) e, com 25 lâminas divergentes os bioquímicos concursados municipais. Tabela 11 – Formação conforme vínculo dos microscopistas de base dos cinco ERS com maior erro de leitura do estado de Mato Grosso de 2009-2011. Biomédico ERS Contrato Bioquímico Conc. Mun. Nível Médio Contrato Conc. Conc. Fed. Mun. Ensino Fundamental Contrato Conc. Mun. Contrato ERS Peixoto de Azevedo - 24 6 12 1 - - - ERS Alta Floresta - - - 10 - 23 - - ERS Pontes e Lacerda - 1 - - 12 - 17 3 ERS Juína - - 2 1 15 9 - - ERS Rondonópolis 7 - 16 - - - - - TOTAL GERAL 7 25 24 23 28 32 17 3 Fonte: Lacen/MT Laboratório Observando novamente o ERS Peixoto de Azevedo, 24 das 43 lâminas divergentes (55,81%) foram de bioquímicos concursados municipais e 12 de microscopistas de nível médio concursados federais, 06 de bioquímicos contratados e 01 de nível médio concursado municipal. Em segundo lugar empatados com 33 divergências de 2009-2011 está o ERS Alta Floresta, em que os microscopistas que apresentaram erro concentraram-se em apenas dois: foram 23 lâminas para nível médio contratado municipal e 10 lâminas para nível médio concursado federal; e o ERS Pontes e Lacerda que, das 33 divergências, 17 foram de ensino fundamental concursado municipal, outras 12 de 87 Resultados nível médio concursado municipal, 03 de ensino fundamental contratado municipal e finalizando com 01 de bioquímico concursado municipal. No ERS Juína das 27 divergências, 15 foram de nível médio concursados municipais, e o ERS Rondonópolis como o quinto que mais apresentou divergências, 16 das 23 divergências foram de bioquímicos contratados municipais – observa-se que deste ERS 21 dos 22 microscopistas eram bioquímicos. Em relação à permanência desses microscopistas de base no serviço de leitura de lâminas de gota espessa de malária durante 2009, 2010 e 2011 – período analisado, dos 146 microscopistas 67 permaneceram apenas 1 ano no ERS (2009, 2010 ou 2011), 38 microscopistas permaneceram 2 anos (2009/2010, 2009/2011 ou 2010/2011), e 41 permaneceram durante os 3 anos (2009-2011). Dentre os 41 microscopistas de base que permaneceram os três anos no ERS, 27 eram concursados (municipais, estaduais e federais) e 14 contratados municipais. Pode-se perceber que, como esperado, o concurso tende a manter os microscopistas por mais tempo nos laboratórios de base, os mesmos saindo dos laboratórios apenas caso mudança de cargo ou caso peça exoneramento do cargo de concursado. O contrato municipal, em muitos municípios, não se encerra em dois anos como de costume, estando os microscopistas contratados há vários anos no município – sendo contratos de nível médio ou de ensino superior (principalmente bioquímicos e biomédicos). Contudo, independentemente do vínculo empregatício do microscopista de base (contrato ou concurso) e a fim da qualidade do diagnóstico no estado, todos passam por treinamentos e capacitações para a leitura correta das lâminas de gota espessa para a malária nos 16 ERS do estado. Os microscopistas recebem o treinamento in loco pelo revisor do Lacen ou pelo revisor do ERS a qual pertence, podendo também receber o treinamento diretamente no Lacen/MT Laboratório na capital do estado, mediante disponibilidade e agendamento das responsáveis pelo serviço. 88 Resultados As capacitações aos microscopistas de base e também aos revisores dos ERS são realizadas pelas 2 revisoras responsáveis pelo Lacen/MT Laboratório. No momento em que elas fazem as Visitas de Supervisão Laboratorial de Vigilância Epidemiológica nos ERS do estado, realizam as capacitações aos microscopistas em geral ou fazem capacitações direcionadas àquele microscopista que apresenta erros de leitura ou mesmo àqueles que solicitam a capacitação a fim de melhorar seus conhecimentos de leitura de lâminas de malária. Por conseguinte, as visitas aos ERS e laboratórios de base e a periodicidade dos treinamentos foi restrita primeiramente devido ao mínimo contingente de recursos humanos, em que são apenas duas as responsáveis pela revisão do Lacen/MT Laboratório às lâminas enviadas pelos microscopistas revisores dos ERS para serem revisadas a nível central, responsáveis também pela revisão central aos microscopistas revisores dos ERS e também responsáveis pela supervisão dos laboratórios de base e aos laboratórios de revisão de todos os ERS do estado. Em segundo lugar, existem as restrições quanto às verbas disponíveis para as viagens, que são longas e muitas vezes repletas de dificuldades de acesso devido à extensão territorial do estado. Ponto importante a ser esclarecido é que, respeitando-se as características meteorológicas do estado, as viagens de supervisão são planejadas de acordo com os períodos de chuva e seca que são bem delimitadas no ano, sendo as localidades remotas e com acesso por estradas de terra sendo visitadas durante o período de seca e as localidades com acesso por estradas de asfalto sendo visitadas mesmo durante o período de chuvas. Ao serem observadas as características de leitura, divergências e formação dos microscopistas de base, ocorreu então a mesma necessidade de conhecer as características referentes aos microscopistas revisores dos ERS do estado. Os microscopistas revisores, assim como os microscopistas de base e ainda de acordo com o Fax Circular Nº 52 (Anexo 1) da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, devem enviar semanal ou mensalmente um percentual de lâminas que já revisaram para serem novamente revisadas, desta vez ao nível central, 89 Resultados ao revisor do Lacen/MT Laboratório a fim de controle de qualidade da malária, que avalia as divergências que agora foram apresentadas pelos revisores. Os revisores dos ERS têm, ainda de acordo com o Ministério da Saúde (Anexo 1), a responsabilidade de avaliar corretamente as leituras dos microscopistas de base. Na sequência, as lâminas que já foram por si revisadas são avaliadas pelo Lacen, agora como revisão a nível de referência estadual. Encontrar erros nos revisores dos ERS poderia sugerir que mais lâminas de base possam apresentar erros, visto que apenas um percentual do total das lâminas de gota espessa de malária produzidas pelos laboratórios de base é revisada pelos ERS. Assim, de 2009-2011 foram 19 os microscopistas revisores nos 16 ERS do estado – 12 do sexo masculino e 07 do sexo feminino. Neste período ressalta-se que em alguns meses nos ERS que estavam temporariamente sem revisores as lâminas de base foram revisadas diretamente pelos revisores do Lacen, não deixando assim as lâminas de serem avaliadas quanto sua qualidade pela ausência de revisor no ERS. Observa-se também que o revisor do ERS Diamantino foi contabilizado como revisor disponível entretanto a regional não teve produção de lâminas de gota espessa nestes anos estudados. Em outros ERS que estavam temporariamente sem revisor ocorreu a situação de revisores de outro ERS terem revisado as lâminas daquele ERS que estava sem revisor, como aconteceu com o ERS Pontes e Lacerda que em 2009 estava sem revisor sendo as lâminas então revisadas pelo revisor do ERS Cáceres; e do ERS de Porto Alegre do Norte que não teve revisor nos três anos estudados, sendo as lâminas dos microscopistas de base revisadas diretamente pelas revisoras do Lacen/MT Laboratório. Ainda, dos 19 microscopistas revisores, 10 (52, 63%) tinham nível médio e eram concursados federais, 04 (21,05%) eram bioquímicos concursados estaduais, 03 (15,79%) biólogos concursados estaduais, 01 (5,26%) biólogo concursado federal e, por último, 01 (5,26%) nível médio concursado estadual. 90 Resultados Tabela 12 - Formação conforme vínculo dos microscopistas Revisores dos ERS do estado de Mato Grosso de 2009-2011. Biólogo Bioquímico Concurso Concurso Concurso Concurso Concurso Estadual Federal Estadual Estadual Federal 1 ERS Água Boa ERS Alta Floresta ERS Barra do Garças Nível Médio 1 1 ERS Cáceres 1 ERS Colíder 1 ERS Cuiabá 2 1 ERS Juara 1 ERS Juína ERS Peixoto de Azevedo ERS Pontes e Lacerda ERS Rondonópolis ERS São Félix do Araguaia 1 1 1 1 1 1 1 1 ERS Sinop ERS Tangará da Serra 1 TOTAL GERAL 3 1 1 4 1 10 Fonte: Lacen/MT Laboratório À permanência dos microscopistas revisores nos laboratórios dos ERS para a revisão das lâminas de gota espessa de malária no estado durante 2009, 2010 e 2011 – período analisado, dos 19 revisores, 05 permaneceram apenas 1 ano no ERS (2009, 2010 ou 2011), 04 revisores permaneceram 2 anos (2009/2010, 2009/2011 ou 2010/2011), e 10 permaneceram durante os 3 anos no serviço (2009-2011). A permanência do microscopista revisor no serviço traz também a confiança nas suas leituras visto que as revisoras do Lacen/MT Laboratório realizam treinamentos periódicos tanto com os microscopistas de base quanto aos revisores, o que acarreta em maior domínio da prática da leitura diminuindo assim a chance de erros de diagnóstico. 91 Resultados Após conhecer a estrutura e organização dos laboratórios de base e de revisão e os aspectos de recursos humanos das regionais de saúde, torna-se possível averiguar se as ocorrências dos casos de divergências são favorecidos em decorrência de tais características. De acordo com os relatórios de visita técnica das supervisoras/revisoras do Lacen/MT Laboratório aos laboratórios de leitura de lâminas de gota espessa de malária e às suas atribuições de avaliação em relação à estrutura física, organização do serviço, estado de conservação de microscópios e sua necessidade de manutenção dadas pelas supervisoras/revisoras foram atribuídos novos pesos a fim de adequação do estudo, para que pudessem ser então comparados aos demais dados. Após terem sido dados novos pesos, foram feitas as médias de cada ERS para os relatórios das visitas aos laboratórios de base e também aos laboratórios de revisão. As tabelas seguintes foram elaboradas conforme os dados sobre as leituras dos microscopistas de base extraídos dos “Relatórios de Controle de Qualidade de Malária” (Anexo 2). Na sequência, os dados referentes à leitura dos microscopistas revisores dos ERS foram extraídos dos “Relatório mensal das atividades do controle de qualidade do diagnóstico da malária” (Anexo 3). Ambos relatórios foram então confrontados aos resultados dos “Relatórios de Supervisão Laboratorial de Vigilância Epidemiológica e/ou Ambiental” (Anexo 4) sobre as visitas de supervisão aos laboratórios de base e aos de revisão dos ERS. Às atribuições de “estrutura física” e de “organização interna e higiene” aos laboratórios de base e de revisão considerados “bom” foram atribuídas nota 2, às “regular” nota 1 e às “ruim” nota 0. Os números de visitas aos laboratórios foram contabilizados no total dos anos 2009-2011 mesmo se o laboratório tenha sido visitado mais de uma vez nos três anos visto que o mesmo pode ter recebido pesos diferentes nas diferentes visitas pela avaliação das supervisoras/revisoras do Lacen/MT Laboratório. Dessa forma, a média de estrutura física dos laboratórios de base dos ERS do estado (tabela 13) foi entre a classificação “regular” e “bom” (regular/bom), assim como a média de organização interna e higiene que também ficou entre a classificação 92 Resultados “regular” e “bom” (regular/bom). Lembrando novamente que o ERS de Diamantino não teve produção de lâminas no período estudado, mesmo assim alguns laboratórios de base deste ERS foram visitados pela supervisão do Lacen/MT Laboratório. Ao observar as médias de estrutura física e de organização interna e higiene com os respectivos percentuais de divergências sobre o total revisado pelos ERS, nem sempre o ERS que teve melhor média teve menor percentual de divergências, a exemplo do ERS Água Boa com 18,75% de divergências porém média regular/bom de estrutura física assim como sobre a organização interna. Sob a mesma ótica, o ERS Pontes e Lacerda teve média ruim/regular de estrutura física e média regular/bom de organização interna e higiene, entretanto teve percentual de divergências de 2,25%. Os únicos ERS que tiveram laboratórios de base com média “bom” de estrutura física e de organização interna e higiene foram os ERS Colíder e o ERS São Félix do Araguaia, com percentual de divergências sobre o revisado de 4,85% e de 0,00% respectivamente. Aos resultados das médias de estrutura física e organização interna e higiene dos laboratórios de base do estado no período estudado, a média de estrutura física foi de regular/bom e de organização interna e higiene também acompanhou a média regular/bom, o que ilustra a urgência da melhoria das condições gerais dos laboratórios para o diagnóstico laboratorial da gota espessa da malária. 93 Resultados Tabela 13 – Média de “estrutura física” e de “organização interna e higiene” dos laboratórios de base dos ERS, 2009-2011. Nº visitas Média estrutura Média organização Lidos laboratórios Nº microscopistas Revisados Divergência % Divergências/ 2009-2011 física de serviço base leitura ERS base Revisados ERS ERS Água Boa 2 regular/bom regular/bom 42 4 48 9 18,75% ERS Alta Floresta 5 regular/bom regular/bom 2708 10 2599 33 1,27% ERS Barra do Garças 3 ruim/regular regular/bom 84 6 90 9 10,00% ERS Cáceres 3 regular/bom regular/bom 133 6 133 3 2,26% ERS Colíder 2 bom bom 100 6 103 5 4,85% ERS Cuiabá - - - 469 3 451 3 0,67% ERS Diamantino 2 regular/bom regular/bom - - - - - ERS Juara 4 regular/bom regular/bom 54 2 54 0 0,00% ERS Juína 7 regular/bom regular/bom 14778 34 2415 27 1,12% ERS Peixoto de Azevedo ERS Pontes e Lacerda ERS Porto Alegre do Norte 5 regular/bom regular/bom 1161 18 1143 43 3,76% 4 ruim/regular regular/bom 1484 13 1465 33 2,25% 4 regular/bom regular/bom 75 6 87 1 1,15% ERS Rondonópolis 9 regular/bom regular/bom 1048 22 1047 23 2,20% ERS São Félix do Araguaia 3 bom bom 84 1 84 0 0,00% ERS Sinop 8 regular/bom regular/bom 4756 13 710 8 1,13% ERS Tangará da Serra 4 regular regular 43 2 43 4 9,30% TOTAL GERAL 65 regular/bom regular/bom 27019 146 10463 201 1,92% Fonte: Lacen/MT Laboratório. Obs: médias consideradas foram 0 – ruim; 1 – regular; 2 – bom. 94 Resultados Buscando conhecer também as condições de estrutura física e de organização interna e higiene dos laboratórios de revisão dos ERS (tabela 14), os mesmos foram observados à parte dos laboratórios de base visto que se presume que este deveria ter melhores condições de serviço devido sua responsabilidade na revisão das lâminas lidas nos laboratórios de base de sua abrangência. Pode-se portanto comparar que o percentual de divergências de 2009-2011 no estado foi de 1,62%, confrontando desse modo à média entre regular/bom dos ERS do estado em relação tanto à estrutura física quanto à organização interna e higiene. Diferentemente do observado nos laboratórios de base, foram mais numerosos os ERS que tiveram laboratórios de revisão com média “bom” de estrutura física – foram os ERS Água Boa, ERS Alta Floresta, ERS Barra do Garças e ERS Pontes e Lacerda, com percentual de divergências sobre o revisado de 3,35%, 0,36%, 27,45% e 0,44% respectivamente. Como visto no comparativo das disparidades dos laboratórios de base, nos laboratórios de revisão dos ERS cabe observar que o ERS Barra do Garças teve média “bom” de estrutura física, entretanto teve percentual de 27,45% de divergências sobre o total revisado pelo Lacen/MT Laboratório. Em contrapartida, a menor média de estrutura física foi a do ERS Sinop de ruim/regular, contudo o seu percentual de divergências foi de 0,66%. 95 Resultados Tabela 14 – Média de “estrutura física” e de “organização interna e higiene” dos laboratórios de revisão dos ERS, 2009-2011. Nº visitas 2009-2011 Média de estrutura física ERS Média de organização Lidos laboratórios de serviço ERS Nº microscopistas leitura Revisados Divergência % Divergências/ Lacen ERS Revisados Lacen ERS Água Boa 1 bom regular 425 1 358 12 3,35% ERS Alta Floresta 2 bom bom 1808 1 1374 5 0,36% ERS Barra do Garças 1 bom bom 54 1 51 14 27,45% ERS Cáceres 1 regular regular 135 1 131 0 0,00% ERS Colíder 2 regular regular 140 1 140 5 3,57% ERS Cuiabá - - - 490 2 461 0 0,00% ERS Juara 1 regular regular 41 2 39 0 0,00% ERS Juína 1 ruim regular 2451 1 2135 39 1,83% ERS Peixoto de Azevedo - - - 1160 2 1055 44 4,17% ERS Pontes e Lacerda 1 bom bom 1482 2 1142 5 0,44% ERS Porto Alegre do Norte - - - 116 1 114 0 0,00% ERS Rondonópolis 2 regular/bom regular/bom 616 2 268 0 0,00% ERS São Félix do Araguaia 2 regular/bom regular/bom 47 1 47 1 2,13% ERS Sinop 3 ruim/regular regular 720 1 672 4 0,60% ERS Tangará da Serra 1 regular regular 35 2 35 1 2,86% TOTAL GERAL 18 regular/bom regular/bom 9720 19 8022 130 1,62% Fonte: Lacen/MT Laboratório. Obs: médias consideradas foram 0 – ruim; 1 – regular; 2 – bom. 96 Resultados Grandes disparidades no percentual de divergências em relação à estrutura física e organização interna e higiene levaram também ao questionamento do estado de conservação do microscópio na ocorrência de divergências de leituras. Ao estado de conservação do microscópio foram feitas novas atribuições a partir da avaliação das supervisoras/revisoras do Lacen/MT Laboratório, sendo considerados nota 2 aos “microscópios novos” e aos denominados “ótimo”, nota 1 aos “regular”, e nota 0 aos “deficiente”. À consideração de necessidade de manutenção dos microscópios, aqueles que tinham sido considerados “sim” pela avaliação das supervisoras/revisoras do Lacen/MT Laboratório foram atribuídos nota 2, e aos considerados “não” foram atribuídos nota 1. O número de microscópios avaliados foram contabilizados no total dos anos 2009-2011 mesmo se o mesmo laboratório tenha sido visitado mais de uma vez nos três anos, pois o mesmo pode ter recebido pesos diferentes nas diferentes visitas pela avaliação das supervisoras/revisoras do Lacen/MT Laboratório. No momento da visita a média do estado de conservação dos microscópios dos laboratórios de base dos ERS (tabela 15), o ERS Água Boa foi classificada como “deficiente” podendo ser justificativa aos 18,75% de divergências encontradas pelos revisores dos ERS sobre o total revisado. Do mesmo modo, a melhor média do estado de conservação do microscópio dos laboratórios de base em relação ao menor percentual de divergências foi o ERS Juína com regular/ótimo e correlativo percentual de 1,12% de divergências de leituras sobre a revisão dos microscopistas revisores do ERS. No geral do estado no período 2009-2011, a média do estado de conservação dos microscópios dos laboratórios de base foi de deficiente/ruim, com percentual de 1,92% de divergências de leituras sobre a revisão dos microscopistas revisores do ERS. 97 Resultados Tabela 15 – Média do “estado de conservação do microscópio” e de “necessidade de manutenção” dos laboratórios de base dos ERS. Nº Média de estado de Média de necessidade microscópios conservação do de manutenção do avaliados microscópio laboratórios microscópio 2009-2011 de base laboratórios de base ERS Água Boa 2 deficiente ERS Alta Floresta 5 ERS Barra do Garças Lidos Nº laboratórios microscopistas base leitura sim 42 deficiente/regular sim 3 regular ERS Cáceres 3 ERS Colíder % Revisados Divergência ERS base 4 48 9 18,75% 2708 10 2599 33 1,27% sim 84 6 90 9 10,00% regular/ótimo sim 133 6 133 3 2,26% 2 regular/ótimo sim 100 6 103 5 4,85% ERS Cuiabá - - - 469 3 451 3 0,67% ERS Diamantino 2 deficiente sim - - - - - ERS Juara 4 deficiente/regular sim 54 2 54 0 0,00% ERS Juína 7 regular/ótimo sim 14778 34 2415 27 1,12% ERS Peixoto de Azevedo 5 deficiente/regular sim 1161 18 1143 43 3,76% ERS Pontes e Lacerda 4 deficiente/regular sim 1484 13 1465 33 2,25% ERS Porto Alegre do Norte 4 regular/ótimo sim 75 6 87 1 1,15% ERS Rondonópolis 9 regular/ótimo sim 1048 22 1047 23 2,20% ERS São Félix do Araguaia 3 deficiente/regular sim 84 1 84 0 0,00% ERS Sinop 8 regular/ótimo não 4756 13 710 8 1,13% ERS Tangará da Serra 4 regular sim 43 2 43 4 9,30% TOTAL GERAL 65 deficiente/regular sim 27019 146 10463 201 1,92% Divergências/ Revisados ERS Fonte: Lacen/MT Laboratório. Obs: médias consideradas para estado de conservação do microscópio foram 0 – deficiente; 1 – regular; 2 – microscópio novo/ótimo. As médias de necessidade de manutenção do microscópio foi de 1 – não e 2 – sim. 98 Resultados Quanto à média de necessidade de manutenção dos microscópios dos laboratórios de base apenas o ERS Sinop teve média “não” necessidade e correlativo percentual de divergências de 1,13%. Todos os outros ERS apresentaram média “sim”, evidenciando que esforços à melhoria de condições de uso dos microscópios dos laboratórios de base devem ser envidados. Ao observar os microscópios dos laboratórios de revisão dos ERS (tabela 32), o ERS Barra do Garças que teve o maior percentual de divergências à revisão das supervisoras/revisoras do Lacen/MT Laboratório com 27,45%, teve média do estado de conservação do microscópio classificado como “regular”, e à necessidade de manutenção do microscópio com resposta “sim”. Por conseguinte, dos laboratórios de revisão dos ERS com menor média de estado de conservação do microscópio foi do ERS Água Boa, classificando-o como “deficiente”, porém o ERS teve 3,35% de divergências encontradas pelos supervisoras/revisoras do Lacen/MT Laboratório na visita de revisão. O ERS Rondonópolis foi o segundo laboratório de revisão dos ERS a apresentar as piores médias do estado referentes à conservação do microscópio, com classificação deficiente/regular. Entretanto, surpreendentemente, não foram computadas divergências nas revisões dos microscopistas revisores deste ERS no período observado. Deste modo, ao percentual de divergências de 1,62% sobre o revisado pelas revisoras do Lacen/MT Laboratório pelos microscopistas revisores dos ERS, a média observada referente à necessidade de manutenção do microscópio dos laboratórios de revisão dos ERS foi “não”. 99 Resultados Tabela 16 – Média do “estado de conservação do microscópio” e de “necessidade de manutenção” dos laboratórios de revisão dos ERS. Nº Média de estado Média de microscópios de conservação necessidade de avaliados do microscópio manutenção do 2009-2011 ERS microscópio ERS ERS Água Boa 1 deficiente ERS Alta Floresta 2 ERS Barra do Garças Lidos Nº Revisados microscopistas laboratórios ERS leitura sim 425 ótimo não 1 regular ERS Cáceres 1 ERS Colíder Revisados Divergência % Divergências/ Lacen ERS Revisados Lacen 1 358 12 3,35% 1808 1 1374 5 0,36% sim 54 1 51 14 27,45% regular sim 135 1 131 0 0,00% 2 regular/ótimo não 140 1 140 5 3,57% ERS Cuiabá - - - 490 2 461 0 0,00% ERS Juara 1 ótimo não 41 2 39 0 0,00% ERS Juína 1 ótimo não 2451 1 2135 39 1,83% ERS Peixoto de Azevedo - - - 1160 2 1055 44 4,17% ERS Pontes e Lacerda 1 ótimo não 1482 2 1142 5 0,44% ERS Porto Alegre do Norte - - - 116 1 114 0 0,00% ERS Rondonópolis 2 deficiente/regular sim 616 2 268 0 0,00% ERS São Félix do Araguaia 2 ótimo não 47 1 47 1 2,13% ERS Sinop 3 regular não 720 1 672 4 0,60% ERS Tangará da Serra 1 ótimo não 35 2 35 1 2,86% TOTAL GERAL 18 regular/ótimo não 9720 19 8022 130 1,62% Fonte: Lacen/MT Laboratório. Obs: médias consideradas foram 0 – deficiente; 1 – regular; 2 – microscópio novo/ótimo. As médias de necessidade de manutenção do microscópio foi de 1 – não e 2 – sim. 100 Resultados Após as comparações quanto à estrutura física, organização interna e higiene, estado de conservação do microscópio e necessidade de manutenção do microscópio, foram observados os aspectos de recursos humanos das regionais de saúde através dos níveis de escolaridade dos microscopistas de base e de revisão dos ERS e do vínculo empregatício dos mesmos, sendo ambos relacionados às divergências encontradas. A tabela 17 distribui os níveis de escolaridade dos microscopistas de base de acordo com as divergências pelo percentual revisado pelos microscopistas revisores dos ERS. Com o maior percentual de discordância de todos os ERS está um microscopista com nível superior do ERS de Cáceres com percentual de 40,00% de divergências no total lido de 2009-2011, sendo uma preocupação importante para o ERS. Na sequência, com 2º maior percentual de divergências pelo nível de escolaridade está o ERS Juína com 20,00% de divergências das leituras de dois microscopistas de base com nível superior de escolaridade. Outros ERS também apresentaram percentuais acima de 10% de divergência de leituras realizadas por profissionais de nível superior. Com nível fundamental de escolaridade foram contabilizados apenas 02 microscopistas de base, estando ambos no ERS Pontes e Lacerda, e com percentual de divergências de 1,97%. Ao observar aqueles com nível médio de escolaridade, o percentual de divergências foi inferior a 4% na maioria dos ERS, à exceção dos ERS Tangará da Serra e ERS Rondonópolis com percentual de divergências de 17,39% e 12,50% respectivamente. 101 Resultados Tabela 17 – Distribuição dos níveis de escolaridade dos microscopistas de base de acordo com as divergências, 2009-2011. Continua ERS Água Boa ERS Alta Floresta ERS Barra do Garças ERS Cáceres ERS Colíder ERS Cuiabá ERS Juara ERS Juína ERS Peixoto de Azevedo ERS Pontes e Lacerda ERS Porto Alegre do Norte Nível escolaridade Número microscopistas Lâminas examinadas Lâminas revisadas microscopistas base base 2009-2011 base ERS Superior 4 42 48 9 18,75% Médio 9 2705 2596 33 1,27% Superior 1 3 3 0 0,00% Médio 2 3 3 0 0,00% Superior 3 81 87 9 10,34% Médio 5 128 128 1 0,78% Superior 1 5 5 2 40,00% Médio 4 83 85 3 3,53% Superior 2 17 18 2 11,11% Médio 3 469 442 3 0,68% Superior 2 54 54 0 0,00% Médio 32 14768 2405 25 1,04% Superior 2 10 10 2 20,00% Médio 3 368 356 13 3,65% Superior 15 793 787 30 3,81% Fundamental 2 1015 1015 20 1,97% Médio 8 426 407 12 2,95% Superior 3 43 43 1 2,33% Superior 6 75 87 1 1,15% Divergências base % Divergências/ Revisados ERS 102 Resultados Continuação da Tabela 17 – Distribuição dos níveis de escolaridade dos microscopistas de base de acordo com as divergências, 2009-2011 Conclusão ERS Rondonópolis ERS São Félix do Araguaia ERS Sinop ERS Tangará da Serra TOTAL GERAL Nível escolaridade Número microscopistas Lâminas examinadas Lâminas revisadas microscopistas base base 2009-2011 base ERS Médio 1 8 8 1 12,50% Superior 22 1040 1039 22 2,12% Médio 1 84 84 0 0,00% Médio 4 4375 433 6 1,39% Superior 9 381 267 2 0,75% Médio 1 23 23 4 17,39% Superior 1 20 20 0 0,00% 146 27019 10463 201 1,92% Divergências base % Divergências/ Revisados ERS Fonte: Lacen/MT Laboratório. Obs: Os ERS que não tiveram o microscopista com o relativo nível de escolaridade foram excluídos da tabela a fim de melhor visualização dos resultados. 103 Resultados Voltando-se aos microscopistas revisores dos ERS, não foram contabilizados microscopistas revisores com nível fundamental de escolaridade. Contudo, o maior percentual de divergências foi de um revisor do ERS Barra do Garças com nível superior e percentual de 27,45% de divergências de 2009-2011. Nos microscopistas de base com ensino médio, as proporções de divergências estiveram abaixo de 5,5%, e aos microscopistas de base com ensino superior de nível de escolaridade, a proporção de divergências (à excetuar o do ERS Barra do Garças) esteve abaixo de 6,5%. Pode-se notar ainda a maior proporção de microscopistas com nível médio de escolaridade em relação àqueles com nível superior. Tanto aos microscopistas de base quanto aos revisores dos ERS os profissionais de nível superior foram bioquímicos, biomédicos e biólogos. Eventualmente as revisoras do Lacen/MT laboratório revisaram diretamente as lâminas dos microscopistas de base, na ausência de um microscopista revisor responsável pelo ERS. 104 Resultados Tabela 18 – Distribuição dos níveis de escolaridade dos microscopistas revisores dos ERS de acordo com as divergências, 2009-2011. Nível escolaridade Nº microscopistas Lâminas examinadas Lâminas revisadas microscopistas revisores ERS revisores 2009-2011 ERS Lacen Médio Revisado Lacen 420 353 12 3,40% Superior 1 5 5 - - Médio 1 1808 1374 5 0,36% Superior 1 54 51 14 27,45% ERS Cáceres Médio 1 135 131 - - ERS Colíder Médio 1 140 140 5 3,57% ERS Cuiabá Médio 2 490 461 - - ERS Diamantino Médio 1 0 0 - - ERS Juara Superior 1 41 39 - - ERS Juína Médio 2 2451 2135 39 1,83% Médio 1 156 146 8 5,48% Superior 1 1004 909 36 3,96% ERS Pontes e Lacerda Médio 2 1482 1142 5 0,44% ERS Porto Alegre do Norte Médio Revisado Lacen 116 114 - - Superior 2 616 268 - - Médio 1 31 31 - - Superior Revisor de outro ERS 16 16 1 6,25% Médio 1 720 672 4 0,60% Superior 2 35 35 1 2,86% 9720 8022 130 1,62% ERS Água Boa ERS Alta Floresta ERS Barra do Garças ERS Peixoto de Azevedo ERS Rondonópolis ERS São Félix do Araguaia ERS Sinop ERS Tangará da Serra TOTAL GERAL Divergências ERS % Divergências/ Revisados Lacen Fonte: Lacen/MT Laboratório. Obs: Os ERS que não tiveram o microscopista com o relativo nível de escolaridade foram excluídos da tabela a fim de melhor visualização dos resultados. / O ERS Diamantino não teve produtividade de lâminas entretanto a escolaridade do revisor foi relacionada. 105 Resultados A distribuição dos vínculos empregatícios dos microscopistas de base de acordo com as divergências apresentou características diferentes, de acordo com o tipo de vínculo são observadas na tabela 19. O maior percentual de divergências foi notado por microscopista de base concursado estadual do ERS Água Boa com 27,27%. Em segundo lugar foi um contratado municipal do ERS Tangará da Serra com 17,39% de divergências. Os contratados municipais do ERS Barra do Garças tiveram 12,50% de divergências sobre o total revisado pelos revisores do ERS. As observações quanto ao vínculo empregatício são consideradas importantes à medida em que os profissionais podem ter rotatividade maior naqueles ERS em que a proporção de contratados municipais é maior do que a de concursados, o que pode levar a uma dificuldade em manter um padrão de profissionais devidamente capacitados. 106 Resultados Tabela 19 – Distribuição dos vínculos empregatícios dos microscopistas de base de acordo com as divergências, 2009-2011. Continua ERS Água Boa ERS Alta Floresta ERS Barra do Garças ERS Cáceres ERS Colíder ERS Cuiabá Vínculo empregatício Número microscopistas Lâminas examinadas microscopista base base 2009-2011 base Contrato 1 Conc. Mun. % Divergências/ Lâminas revisadas ERS Divergências base 2 2 - - 2 13 13 - - Conc. Est. 1 27 33 9 27,27% Contrato 2 1241 1241 23 1,85% Conc. Mun. 4 719 617 - - Conc. Fed. 4 748 741 10 1,35% Contrato 2 29 32 4 12,50% Conc. Mun. 2 16 16 - - Conc. Est. 1 1 1 - - Conc. Fed. 1 38 41 5 12,20% Contrato 2 10 10 1 10,00% Conc. Mun. 3 113 113 2 1,77% Conc. Fed. 1 10 10 - - Contrato 1 2 3 - - Conc. Mun. 3 54 55 5 9,09% Conc. Est. 1 14 15 - - Conc. Fed. 1 30 30 - - Conc. Mun. 1 9 9 1 11,11% Conc. Fed. 2 460 433 2 0,46% Revisados base 107 Resultados Continuação da Tabela 19 – Distribuição dos vínculos empregatícios dos microscopistas de base de acordo com as divergências, 2009-2011 Continuação ERS Juara ERS Juína ERS Peixoto de Azevedo ERS Pontes e Lacerda ERS Porto Alegre do Norte ERS Rondonópolis ERS São Félix do Araguaia Vínculo empregatício Número microscopistas Lâminas examinadas microscopista base base 2009-2011 base Conc. Mun. 1 Conc. Est. % Divergências/ Lâminas revisadas ERS Divergências base 5 5 - - 1 49 49 - - Contrato 21 6857 1314 11 0,84% Conc. Mun. 11 7059 1053 15 1,42% Conc. Fed. 2 862 48 1 2,08% Contrato 7 162 151 6 3,97% Conc. Mun. 9 681 675 25 3,70% Conc. Fed. 2 318 317 12 3,79% Contrato 6 108 108 3 2,78% Conc. Mun. 7 1376 1357 30 2,21% Contrato 5 73 85 1 1,18% Conc. Mun. 1 2 2 - - Contrato 21 1033 1032 23 2,23% Conc. Est. 1 15 15 - - Conc. Fed. 1 84 84 - - Revisados base 108 Resultados Conclusão da Tabela 19 – Distribuição dos vínculos empregatícios dos microscopistas de base de acordo com as divergências, 2009-2011 Conclusão ERS Sinop ERS Tangará da Serra TOTAL GERAL Contrato 2 675 77 4 5,19% Conc. Mun. 7 317 239 2 0,84% Conc. Est. 1 3702 368 2 0,54% Conc. Fed. 3 62 26 - - Contrato 1 23 23 4 17,39% Conc. Mun. 1 20 20 - - 146 27019 10463 201 1,92% Fonte: Lacen/MT Laboratório. Obs: Os ERS que não tiveram o microscopista com o relativo vínculo empregatício foram excluídos da tabela a fim de melhor visualização dos resultados. 109 Resultados Com os microscopistas revisores dos ERS a situação se mostra diferente, como traz a tabela 20. São todos concursados federais ou estaduais, estando há muitos anos no serviço de revisão de lâminas de malária. Foram feitas observações pelas supervisoras/revisoras do Lacen/MT Laboratório de que alguns desses microscopistas revisores dos ERS são advindos da extinta SUCAM – Superintendência de Campanhas de Saúde Pública, em especial de combate à malária. Do total de microscopistas revisores, o do ERS Barra do Garças foi o que teve a maior proporção de discordâncias no período observado, com 27,45% sendo concursado estadual. Os demais microscopistas concursados federais tiveram percentual de divergências abaixo de 4,00% excetuando-se um do ERS Peixoto de Azevedo, que teve percentual de 5,48% de divergências. Aqui também é feita a ressalva de que, nos ERS em que as lâminas foram revisadas pelo Lacen/MT Laboratório na ausência de microscopistas revisores do próprio ERS, as divergências apresentadas são referentes diretamente àquelas lâminas lidas pelos microscopistas de base, sem ter passado pela revisão a nível intermediário. 110 Resultados Tabela 20 – Distribuição dos vínculos empregatícios dos microscopistas revisores dos ERS de acordo com as divergências, 2009-2011. Vínculo empregatício Número microscopistas Lâminas examinadas Divergências revisores % Divergências/ microscopista revisor ERS ERS 2009-2011 ERS ERS Revisados Lacen Conc. Est. 1 5 5 - - Conc. Fed. Revisado Lacen 420 353 12 3,40% ERS Alta Floresta Conc. Fed. 1 1808 1374 5 0,36% ERS Barra do Garças Conc. Est. 1 54 51 14 27,45% ERS Cáceres Conc. Fed. 1 135 131 - - ERS Colíder Conc. Fed. 1 140 140 5 3,57% ERS Cuiabá Conc. Fed. 2 490 461 - - ERS Juara Conc. Est. 1 41 39 - - Conc. Est. 1 406 307 4 1,30% Conc. Fed. 1 2045 1828 35 1,91% Conc. Est. 1 1004 909 36 3,96% Conc. Fed. 1 156 146 8 5,48% ERS Pontes e Lacerda Conc. Fed. 2 1482 1142 5 0,44% ERS Porto Alegre do Norte Conc. Fed. Revisado Lacen 116 114 - - Conc. Est. 1 212 49 - - Conc. Fed. 1 404 219 - - Conc. Est. Revisado Lacen 16 16 1 6,25% Conc. Fed. 1 31 31 - - ERS Sinop Conc. Fed. 1 720 672 4 0,60% ERS Tangará da Serra Conc. Est. 1 35 35 1 2,86% 9720 8022 130 1,62% ERS Água Boa ERS Juína ERS Peixoto de Azevedo ERS Rondonópolis ERS São Félix do Araguaia TOTAL GERAL Lâminas revisadas Lacen Fonte: Lacen/MT Laboratório. Obs: Os ERS que não tiveram o microscopista com o relativo vínculo empregatício foram excluídos da tabela a fim de melhor visualização dos resultados. 111 Resultados Nos três anos deste estudo, 2009-2011, os microscopistas revisores dos ERS revisaram 38,72% do total de lâminas produzidas pelos laboratórios de base, com um percentual de divergências de 1,92%. Realizar a observação das divergências encontradas no presente estudo de acordo com as características de formação com o grau de escolaridade e vínculo empregatício dos microscopistas de base e também dos revisores buscou elucidar as probabilidades de que suas denominações (ou a ausência delas) possam ser contributivas para a ocorrência de lâminas divergentes quanto ao diagnóstico da malária, independentemente do tipo de erro diagnóstico cometido. 5.2.1 Discussão Os resultados do presente estudo podem ser contrastados aos do estudo de PEREIRA et al. (2006), em que 25,8% das lâminas examinas no Amapá de 2001-2003 foram revisadas, com percentual de 1,7% de lâminas discordantes. No Maranhão, os autores chegaram ao percentual de 23,8% de revisão de lâminas com consecutivo percentual de divergências de 0,4%. Contudo, o percentual de divergências pode ser relacionado a diversos fatores que contribuiriam para sua ocorrência. A qualidade das lâminas, com aspectos de sua preparação e coloração, é um dos fatores que podem levar tanto a resultados imprecisos nas leituras (MBAKILWA et al, 2012), quanto à erros graves de leituras (MUKADI et al., 2011). Ainda, há correlação positiva de concordância na microscopia da malária para lâminas bem feitas e de boa coloração (SARKINFADA et al., 2009). Outro fator a ser considerado como propenso à ocorrência de divergências seria a constante avaliação do desempenho dos profissionais ao diagnóstico da malária, tanto dos profissionais experientes ou com pouca/nenhuma experiência (ROSAS-AGUIRE et al., 2010), ou somente ao avaliar os experientes (NAMAGEMBE et al., 2012; MAGUIRE et al., 2006), embora os microscopistas com pouca experiência possam ter bons resultados por terem participado de treinamentos recentes (GAVITO et al., 2004). 112 Resultados Atividades constantes de supervisão laboratorial conjuntas às atividades de avaliações aos microscopistas apresentam-se como abordagens importantes na busca de melhoria da qualidade das microscopias (KHAN et al., 2011; SARKINFADA et al., 2009). Assim, os números encontrados a partir dos relatórios disponibilizados no presente estudo podem ser representativos da situação da qualidade da microscopia da malária no estado de Mato Grosso, oportunizando às Secretarias de Saúde do estado e dos municípios o conhecimento da situação da qualidade da microscopia em Mato Grosso, incentivando continuar sempre buscando a melhoria da qualidade do serviço prestado através de mais frequentes visitas técnicas aos laboratórios bem como por continuar realizando capacitações e treinamentos periódicos aos profissionais de base e revisores do estado. Desta forma, o conhecimento da magnitude da malária nos estados brasileiros bem como à qualidade da sua microscopia nos laboratórios poderia ser temática de novos estudos, visto que o erro diagnóstico acarreta diretamente na instituição do tratamento medicamentoso ao indivíduo, bem como tratamentos desnecessários ou não tratamento dos indivíduos nos casos de falso positivo e negativos. Entretanto pode-se estar sujeito a erros visto que, como já relacionado, que pelo motivo de o presente estudo utilizar dados secundários o mesmo pode se sujeitar às limitações deste tipo de pesquisa, ou seja, depende dos registros disponibilizados. Poderíamos considerar também como outra limitação a possibilidade da subnotificação das visitas de supervisão ou mesmo a imprecisão das informações registradas, que poderiam ter influência na oportunidade do conhecimento da situação real dos laboratórios de microscopia da malária bem como dos profissionais microscopistas de base e dos revisores dos ERS do estado. 113 Conclusão 6. CONCLUSÃO A proporção de discordância do total de lâminas dos laboratórios de base revisadas pelos Escritórios Regionais de Saúde (ERS) foi de 1,92% e dos laboratórios de revisão dos ERS revisadas pelo Lacen/MT Laboratório foi de 1,62%. Às características das divergências das lâminas dos laboratórios de base revisadas pelos Escritórios Regionais de Saúde (ERS), 32,34% foram falso positivas e 30,85% foram falso negativas. Já à identificação da espécie parasitária houve discordância de 36,82% no qual houve predomínio de lâminas lidas como P. falciparum sendo P. vivax (12,94%), lidas como P. malariae sendo P. vivax (9,95%) e lidas como P. vivax sendo P. falciparum (6,47%). Observando-se as características das divergências das lâminas dos laboratórios de revisão dos ERS pelo Lacen/MT Laboratório, 19,23% foram falso positivas e 25,38% foram falso negativas. Quanto à identificação da espécie parasitária houve discordância de 55,38% no qual houve predomínio de lâminas lidas como P. vivax sendo P. falciparum (18,46%), P. falciparum sendo P. vivax (16,15%), lidas como P. malariae sendo P. vivax (13,08%). Em relação à formação dos microscopistas de base as discordâncias foram proporcionalmente recorrentes nos de nível superior. À formação dos microscopistas revisores dos ERS as discordâncias tiveram maior proporção nos de nível médio. Em relação à estrutura física e organização interna e higiene dos laboratórios de base e de revisão, foram consideradas de regular para bom. Destaca-se os laboratórios de base dos ERS de Água Boa e Barra do Garças, que tiveram acima de 10% de percentual de divergências no total de lâminas revisadas. Dos laboratórios de revisão dos ERS o de Barra do Garças teve mais de 27% de divergências e os demais ERS tiveram menos de 5% de divergências. 114 Conclusão Os dados do presente estudo obtidos através dos relatórios disponibilizados podem ser representativos para melhor análise da situação da qualidade da microscopia da malária no estado de Mato Grosso pelas Secretarias de Saúde do estado e dos municípios, na busca da melhoria da qualidade do serviço prestado por meio das visitas técnicas e dos treinamentos e capacitações aos microscopistas de base e revisores. 115 Referências Bibliográficas 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Andrade BB, Reis-Filho A, Barros AB, et al. Towards a precise test for malaria diagnosis in the Brazilian Amazon: comparison among field microscopy, a rapid diagnostic test, nested PCR, and a computational expert system based on artificial neural networks. Malaria Journal, 2010, 9:117. Atanaka-Santos M, Czeresnia D, Souza-Santos R, Oliveira RM. 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