COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO À CONTRATUALIZAÇÃO, RENEGOCIAÇÃO E GESTÃO DE TODAS AS PARCERIAS PÚBLICOPRIVADAS DO SECTOR RODOVIÁRIO E FERROVIÁRIO AUDIÇÃO DE MARIA ISABEL SILVA MARQUES, VOGAL DO CONSELHO DIRECTIVO DO IMTT, E COORDENADORA DA COMISSÃO RENEGOCIAÇÃO DE QUE RESULTOU, EM 2010, O PROLONGAMENTO DA CONCESSÃO DA EXPLORAÇÃO DO “EIXO FERROVIÁRIO NORTESUL” À FERTAGUS S.A. INTERPELAÇÃO DO DEPUTADO MENDES BOTA, E RESPECTIVAS RESPOSTAS Assembleia da República, 28 de Setembro de 2012 MENDES BOTA: “Dra. Isabel Marques, queria dizer-lhe o quanto a bancada do PSD tem apreciado a sua disponibilidade e a sua vivacidade nas respostas àquilo que lhe tem sido perguntado, e também gostaria de lhe dizer que, no nosso entender, numa concessão que tem esta vida e tem vários momentos importantes, desde o contrato inicial, à primeira e segunda renegociações, nem sempre a nossa apreciação tem que ser igual, porque há momentos em que pensamos que o Estado não foi protegido, há outros em que pensamos que o Estado eventualmente não saiu tão prejudicado, ou até saiu beneficiado. Quero dizer que aquilo que entendemos do seu papel nesta concessão está isento das culpas maiores. Não competiu à Sra. Dra. a decisão de não abrir um concurso público e de não fazer a comparação com aquilo que poderia ser a concorrência com propostas. Repare no exemplo do Metro do Porto, onde a abertura de um concurso levou a que as despesas e encargos reduzissem 40% e em que até o próprio concessionário que estava em vigor perdesse o concurso. A Sra. Dra. poderá dizer que ao ir comprar um computador que custa 200 euros, que é muito barato e fez um óptimo negócio. Mas se não foi à loja do lado, onde esse computador custava 180 euros, se calhar poderia ter feito um negócio melhor. Mas a culpa não é sua. A decisão foi da tutela política. Foi a tutela política quem decidiu deixar andar em vez de cumprir os prazos legais para se fazer ou não uma renegociação do contrato. Foi a tutela política – e é a essa que nos interessa de facto apontar aqui o dedo, em termos incriminatórios, no sentido político do termo – que levou a que não houvesse a abertura de um concurso. E, portanto, a Sra. Dra. foi a uma missão. A sua missão foi a renegociação. A decisão dessa renegociação não foi sua. [A sua missão] foi cumpri-la e fez o melhor possível para cumpri-la a bem do Estado. Mas é preciso termos aqui algum rigor. Não foram 4 milhões de euros que foram consignados como compensação. Foram 3.626.000 de euros. Há aqui 400 milhões…” MARIA ISABEL SILVA MARQUES: “Sr. Deputado, eu tinha-lhe dito inicialmente 3.6 [milhões]… Eu até lhe digo quanto é que é…” MENDES BOTA: “Era para arredondar…” MARIA ISABEL SILVA MARQUES: “Não. Não é para arredondar. É porque esse valor de 3.6 [milhões] é a preços de 2010, e vão ser actualizados aos preços […] Creio que já fizeram umas estimativas que andam à volta dos 4 milhões de euros. Eu até sei quanto é que são em concreto. Esse valor é de 966 000 euros em 2017, 1,233 milhões em 2018, 1,429 milhões em 2019. Isto são os 50% do resultado previsto pelo modelo financeiro. É uma estimativa. Mas este valor é fixo.” MENDES BOTA: “Eu fiz a conta. Eu não sou como o outro que manda os outros fazerem as contas. E de facto eram 3626 milhões de euros. Seja como for, a Dra. disse que nunca prorrogaria para além de 2019 este contrato, porque era isso que estava no contrato anterior. Mas a Sra. Dra. também já aqui disse que, estando todas as partes satisfeitas, não há nada que não se possa alterar. Portanto, poderia eventualmente ter ido mais longe. Mas ainda bem que não foi… Já citou aqui o relatório do Tribunal de Contas e, de facto, o Tribunal de Contas detecta em relação ao IMTT dificuldades – é o próprio IMTT que realça essas dificuldades – no desempenho das suas funções por falta de recursos humanos em áreas técnicas, valências jurídicas, exploração ferroviária… E, portanto, provavelmente o IMTT precisaria de mais meios para fazer como deve ser a tal fiscalização da exploração, das condições de segurança, da operacionalidade, da eficiência, da rapidez, da comodidade e do conforto. Sobre o resto não lhe quero fazer mais perguntas, porque elas já foram no essencial ditas. E, como lhe digo, a sua responsabilidade era a renegociação, mas aqui neste caso e neste momento político a grande responsabilidade era da Tutela, que não quis abrir o concurso e que adiou, sabe-se lá em nome de quê, a renegociação.” MARIA ISABEL SILVA MARQUES: “Sobre a questão do IMTT posso aqui ajudar a fazer-lhe o entendimento. Por acaso discordo desse ponto do Tribunal de Contas. Porque acho que esta concessão da Fertagus é uma das que tem sido bem acompanhada. Agora, concordo com o Sr. Deputado em que temos falta de meios, sem dúvida. Sabe perfeitamente que a administração pública está cada vez mais necessitada, não há refrescamento de gente jovem, gente qualificada. É uma dificuldade imensa. Agora, o IMTT é o representante do Estado concedente e é o responsável pelo acompanhamento da missão – portanto, transitam-lhe essas competências quando faz a fusão (quando é criado em Novembro de 2007) do Instituto Nacional de Transporte Ferroviário. E o IMTT faz o acompanhamento da fiscalização da concessão no âmbito técnico e operacional. A IGF faz esse acompanhamento e essa fiscalização no âmbito das questões económico-financeiras. Nós – IMTT – fazemos no âmbito técnico e operacional. Ou seja, cabe ao IMTT fiscalizar a actividade concessionária, tudo o que respeita à exploração, tendo em vista a segurança, a qualidade de serviço, a fiabilidade, a pontualidade, a comodidade, a rapidez e todos esses critérios. Nós temos técnicos alocados a esta vertente de acompanhamento da concessão. O Instituto foi criado a 1 de Novembro de 2007 e desde então temos técnicos com várias valências – economistas, engenheiros – para fazer este acompanhamento. Não temos de facto uma unidade orgânica. Mas temos técnicos que até estão integrados num Departamento de Infraestruturas e Equipamentos Ferroviários, onde se fazem relatórios anuais de segurança, etc. E temos outros técnicos que estão na parte mais económica, na Direcção de Serviços de Regulação Jurídica e Económica. Portanto, temos técnicos alocados a esta concessão permanentemente. Agora, que há muito trabalho e poucos técnicos é verdade. Mas eu acho que esta concessão tem sido muito bem acompanhada e por isso – com todos esses alertas, etc – foi tudo muito bem acompanhado. Na prorrogação do contrato – esta renegociação que fiz entre 2011 e 2019 – não mexemos nada na questão do acompanhamento e fiscalização. Partes operacionais e exploração: IMTT. Partes económico-financeiras: IGF. Claro que com articulação, porque até a IGF precisa saber se foram cumpridos os artigos, etc. Mas com o acordo modificativo resultante desta renegociação até introduzimos alguns pormenores no clausulado do contrato que proporcionaram medidas facilitadoras por parte do controle. Tinha a ver com o ensinamento que se for recolhendo. Eu não sou especialista nestas matérias. Mas sei que tinha a ver com relatórios de pontualidade e viabilidade, relatórios de níveis essenciais de serviço: foram colocados pequenos pormenores, medidas facilitadoras, com a colaboração da concessionária para um melhor controle dessa matéria e um menor esforço por parte do Estado. De um modo global acho que esta foi uma das concessões que foi sempre bem acompanhada e monitorizada. Para outras se calhar não. Mas esta é uma concessão que foi bem acompanhada.” MENDES BOTA: “Embora seja uma citação do relatório do Tribunal de Contas…” MARIA ISABEL SILVA MARQUES: “Sim, eu percebo.”