Evolvere Scientia, V. 1, N. 1,p. 33-45, 2013
Evolvere Scientia
ARTIGO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO
ROTAÇÃO DE IMAGENS MENTAIS A PARTIR DE UMA FONTE SENSORIAL TÁTIL
Rodrigo Oliveira Damasceno, Anne da Silva Barreto, Leonardo Rodrigues Sampaio, Luiza dos
Santos Sá, Tiago Oliveira de Lima
Universidade Federal do Vale do São Francisco, 56304-917, Petrolina, PE.
INTRODUÇÃO
atuando
como
inputs
informacionais
imediatos (MARMOR & ZABACH, 1976).
A representação mental é um
conceito
há
muito
pesquisado
por
psicólogos cognitivistas com o objetivo de
REVISÃO
entender como ocorrem os processos
mentais e de que forma o ser humano
consegue
manipulá-los
(STERNBERG,
2008).
Uma das hipóteses mais aceitas
atualmente é a de que as representações
mentais são funcionalmente equivalentes às
percepções
visuais,
ou
seja,
imagens
Em termos gerais, representação
mentais são funcionalmente análogas aos
mental pode ser definida como a forma em
objetos reais por elas representados (Farah,
que conceitos, episódios, objetos, entre
1988; Shepard e Metzler, 1971). Sendo
outros
assim, as imagens mentais possuem função
conhecimentos
externamente,
são
adquiridos
representados
e
manipulados mentalmente (Carpenter &
Eisenberg, 1978). Desta forma, entende-se
representação mental como uma projeção
“interna” de coisas sentidas e percebidas
externamente, pois ao perceber um objeto, a
imagem deste é construída mentalmente.
Tal
imagem pode
ser
posteriormente
evocada sem que haja fontes sensoriais
33
e
características
semelhantes
as
da
percepção.
Sobre
essa
questão,
Atkinson
(2002, p. 354) argumenta que “muitas vezes
recuperamos percepções passadas, ou partes
delas, e atuamos sobre elas da mesma
maneira que atuaríamos sobre um percepto
real”. Um exemplo seria tentar responder à
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pergunta “quantos cômodos existem na sua
localização de pontos (SHEPARD 1982,
casa?”. Para responder a essa questão, é
apud FARAH 1988).
preciso
recobrar
previamente
uma
representação
armazenada
na
memória,
examinando mentalmente toda a extensão
da casa.
Um
considerável
número
de
descobertas da Neuropsicologia expande,
tanto qualitativa quanto quantitativamente,
as teses sobre a comunalidade entre
Apesar de esse exemplo ser bem
mecanismos de percepção e imaginação
subjetivo, existem evidências que propõem
visual.
a existência de processos em comum entre a
divididas em dois grandes grupos: as que
imaginação mental e a percepção visual
defendem a existência de mecanismos
(FINKE, 1985, apud ATKINSON, 2002).
cognitivos independentes de imaginação
Uma
vezes
visual e percepção visual, mas com
negligenciada fonte de dados é aquela
processamento neurológico comum; e as
gerada a partir dos estudos na área da
que
Neuropsicologia. Neste campo, diversos
processamento visual na imaginação visual
programas
(FARAH, 1988).
importante
de
e
muitas
pesquisa
produziram
evidências empíricas de que imaginação e
percepção são mediadas pelos mesmos
substratos neurais, tendo, portanto, sistemas
funcionais comuns (FARAH, 1988).
Tais
descobertas
defendem
Ainda
o
uso
segundo
podem
de
Farah
áreas
ser
de
(1988),
evidências fortes de que parte do córtex
visual participa da imaginação visual vem
do uso de técnicas eletrofisiológicas de
medida de fluxo sanguíneo e localização da
A descoberta de Shepard (1982) de
que formas geométricas simples podem ser
mentalmente reorientadas apenas com uma
rotação mental contínua, forneceu uma
breve
demonstração
das
aparentes
propriedades visuoespaciais das imagens
mentais. Em outro trabalho, o mesmo autor
explicou a rotação e as transformações de
imagens
mentais
pelos
mesmos
mecanismos que influenciam a percepção
visual
do
equivalência
movimento,
funcional
e
também
entre
a
imagens
mentais e perceptos visuais numa tarefa de
34
atividade neuronal no cérebro. Como
exemplo disto citam-se os experimentos de
Roland e Friberg (1985), que analisaram o
fluxo sanguíneo de áreas do cérebro,
enquanto sujeitos submetiam-se a três
diferentes tarefas cognitivas: resolução de
problemas aritméticos, escaneamento de
memória e uso da imaginação visual. Em
cada um dos sujeitos testados, o padrão de
fluxo sanguíneo na tarefa de imaginação
visual mostrou forte ativação das regiões
posteriores do cérebro, incluindo o lobo
occipital, lobo parietal posterior superior e
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lobo temporal posterior inferior. Essas são
SACKS
as mesmas áreas que normalmente mostram
STENGEL, 1948 apud FARAH, 1988).
aumento de fluxo sanguíneo durante tarefas
de percepção visual. Além disso, essas
áreas não mostraram aumento de fluxo
sanguíneo em comparação com o estado de
descanso nas outras duas tarefas cognitivas
(MAZZIOTTA, PHELPS, & HALGREN,
1983; ROLAND, 1982; ROLAND &
SKINHOJ,
1981;
ROLAND
&
FRIBERG'S, 1985 apud, FARAH, 1988).
Estudos feitos em sujeitos com
déficits
cerebrais
específicos
&
WASSERMAN,
1987;
Sobre esta questão, Sacks (1995)
descreve o caso de um pintor de 65 anos,
que após um acidente de carro perdeu
totalmente a capacidade de perceber as
cores. Com o passar do tempo, aquele
homem
que
dominava
o
uso
e
a
combinação de cores vai se dando conta de
que também perdera toda a capacidade de
imaginar objetos coloridos, bem como de
lembrar como as cores lhe pareciam. À
nas
medida que examinava o paciente, Sacks
habilidades visuais sugerem que se a
percebeu que tudo o que restou ao pintor
imaginação
visual
mesmos
em relação às cores estava em nível de
mecanismos
cognitivos
percepção
memória verbal, ou seja, ele conseguia
visual, então se pode esperar que pacientes
relatar como a experiência de cores lhe
com déficits específicos nas habilidades de
parecia, mas não conseguia, efetivamente,
imaginação, também os demonstrem na
lembrar disto.
usa
os
da
habilidade perceptiva. De fato, para todos
esses tipos de déficits visuais devidos a
lesões corticais, onde a imaginação tem
Outros dados clínicos1 demonstram
sido examinada, déficits paralelos de
que pacientes com danos no lobo parietal
imaginação têm sido notados (FARAH,
direito frequentemente falham na detecção
1988).
de estímulos apresentados no lado esquerdo
Numa série de estudos de caso com
pacientes que perderam a capacidade de
enxergar cores, notou-se uma associação
entre perda das cores na percepção e na
imaginação (BEAUVOIS & SAILLANT,
1985; HEIDENHAIN, 1927; JOSSMAN,
1929; LEWANDOWSKY, 1908; PICK,
1908; RIDDOCH & HUMPHREYS, 1987;
35
do campo visual, ainda que seus processos
sensoriais elementares para tal estímulo no
lado afetado do espaço estejam intactos.
(Heilman, Watson, & Valenstein, 1985;
Posner, Walker, Friedrich, & Rafal, 1984,
1
Uma revisão mais completa de trabalhos empíricos
nos quais se busca estabelecer um paralelo entre
imaginação visual e percepção visual pode ser
encontrada em Finke (1985).
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apud Farah, 1988). Esse déficit é conhecido
dados que mostram haver relações entre as
como negligência visual e também parece
propriedades da percepção e da imaginação
se manifestar na imaginação visual. Bisiach
visuais teria sido construído com este viés.
constatou que pacientes com negligência
Por fim, pesquisas sobre imaginação em
visual no lobo parietal direito também
cegos congênitos chamam a atenção para a
falharam em acessar os lados esquerdos dos
existência de representações de ordem
objetos e cenas imaginados (BISIACH &
espacial não visual, similares às visuais.
LUZZATTI, 1978; BISIACH, LUZZATTI,
Segundo Farah (1988), se cegos congênitos
& PERANI, 1979, apud FARAH, 1988)
apresentam desempenhos semelhantes a
sujeitos com visão normal neste tipo de
pesquisa, isso torna possível que as
Apesar de haver um robusto corpo
de
dados
empíricos
(COOPER
&
PODGORNY, 1976) que apóia a tese
levantada
anteriormente,
descobertas em sujeitos videntes também
sejam devidas ao uso de representações
espaciais não visuais.
alguns
pesquisadores não concordam com os
pressupostos supramencionados e propõe
Dentre as formas de manipulação
hipóteses alternativas sobre a construção e
de
manipulação de imagens mentais. Pylyshyn
transformação rotacional, que permite
(1981, apud FARAH, 1988), por exemplo,
movimentar imagens mentais em diferentes
acredita que os sujeitos em experimentos de
sentidos e direções e é também chamada de
imaginação podem usar, em vez de
Rotação Mental. Através de uma série de
mecanismos
estudos,
especificamente
visuais,
imagens
mentais
Shepard
e
destaca-se
Metzler
a
(1971)
processos mais gerais somados a algum tipo
constataram que o tempo necessário para
de
o
rotacionar imagens mentais é diretamente
funcionamento de seus sistemas visuais.
proporcional ao ângulo de rotação da
Isso substituiria o uso do sistema visual
imagem, quando comparada à sua posição
propriamente dito. Intons-Peterson (1983,
originalmente apresentada. Outros dados
apud FARAH, 1988), por sua vez, propôs
indicam que não há diferença significativa
que
do experimentador
entre o tempo de rotação de figuras planas e
durante pesquisas deve ser levada em conta,
em profundidade, e nem quando se compara
pois os paradigmas experimentais usados
o sentido de rotação (horário ou anti-
no estudo das propriedades visuais da
horário) da imagem. Ademais, os tempos de
imaginação são, segundo ele, vulneráveis a
reação são mais longos para figuras
esta variável. Desta forma, grande parte dos
desconhecidas do que para as conhecidas
36
conhecimento
a expectativa
implícito
sobre
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(Jolicoeur, Snow e Murray, apud Sternberg,
vertical, sempre tomando alguma parte da
2008). Em outras palavras, a disparidade
imagem ou estímulo como ponto de
angular, assim como o conhecimento ou o
referência. Outros resultados indicaram que
não conhecimento prévio de um objeto,
era mais fácil realizar a rotação mental
influenciam diretamente no tempo que o
quando o estímulo era visto girando na
sujeito leva para rotacionar uma figura-
mesma direção da que lhe foi previamente
estímulo. Entretanto, quando se considera o
apresentado o estímulo, e que isto fazia com
sentido de rotação e o plano de fundo das
que os participantes trouxessem-no para a
figuras,
posição vertical ao longo do caminho mais
observa-se
que
estes
não
influenciam no tempo de resposta do
curto
de
rotação
sujeito.
CAVANAGH, 1992).
(JOLICOEUR
&
A pesquisa de Jolicoeur e Cavanagh
(1992) investigou se há relação entre a
percepção do “movimento” real e de
rotação mental, através de um conjunto de
quatro experimentos nos quais foram
utilizados caracteres alfanuméricos como
estímulos-alvo (as letras maiúsculas F, G, J,
P e R, e dígitos 2, 5 e 7). Os participantes
eram estudantes universitários com visão
normal ou corrigida. Os estímulos eram
apresentados visualmente em um monitor
colorido
com tempo
de
apresentação
controlado, alternando entre os ângulos 0º,
60º, 120º, 180º, 240º ou 300º, nos três
primeiros experimentos, e 0°, 90°, 180° e
270° no último. Por fim solicitava-se que os
colaboradores
acusassem
se
a
figura
mostrada estava na posição normal ou
invertida.
Corroborando os postulados de
Shepard e Metzler (1971), a transformação
mental realizada no estudo de Jolicoeur e
Cavanagh
(1992)
quantidade
de
tempo
demandou
uma
proporcional
à
diferença angular entre a orientação do
estímulo e a orientação do quadro de
referência. As conclusões e hipóteses dessa
pesquisa, juntamente com estudos de
Corballis e McLaren (1982, 1986 apud
Jolicoeur e Cavanagh, 1992) sugerem
resultados semelhantes aos de Sherpard e
outros (1981, 1982, apud Jolicoeur e
Cavanagh, 1992), demonstrando que a
rotação mental pode estar associada à
percepção de movimento físico ou real, e
que “a rotação mental pode ter evoluído
como uma habilidade em seres humanos.
Uma das observações feitas pelos
Isto possibilitou uma vantagem adaptativa
autores foi a de que a imagem era
no sentido que nós passamos a ser capazes
mentalmente
a
de prever a posição e orientação de objetos
alinhar-se à posição inicial, neste caso, na
que se deslocam, principalmente daqueles
37
rotacionada
de
forma
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três
congênitos, cegos tardios e videntes com os
dimensões” (p.13). Conclui-se, portanto,
olhos vendados, na qual utilizaram como
que o movimento percebido e o movimento
estímulos duas letras (P e F) colocadas a
imaginado podem estar relacionados em
direita
tarefas de rotação mental; essa interação
respectivamente. Na tarefa, era solicitado
parece ocorrer em um nível mais abstrato
que os participantes tateassem as letras a
do
fim de construir uma representação mental
que
possuem
deslocamento
processamento
e
em
independente
de
elementos mais simples do córtex estriado.
Segundo Jolicoeur e Cavanagh
(1992) os sujeitos foram capazes de girar
mentalmente a imagem nos sentidos horário
ou anti-horário com a mesma eficiência,
sendo que a decisão de como fazê-lo era
tomada de forma arbitrária. Assim como
quando o estímulo era apresentado em
qualquer
superfície,
cada
visual, e a percepção de um não anulava a
do outro. Portanto, conclui-se que nos casos
em que se demanda o processamento de
dois estímulos desta natureza, eles são
analisados de forma independente, podendo
representados
esquerda
do
sujeito,
mental.
Foram
realizados
quatro
experimentos, sendo os três primeiros com
os mesmos materiais e variando os sujeitos,
e no quarto utilizou-se um novo estímulo,
para
que
não
houvesse
efeitos
de
aprendizagem, decorrentes das primeiras
sessões experimentais.
percepto
separadamente no mesmo nível do córtex
ser
a
das mesmas para uma posterior rotação
(estímulo e superfície) era processado
ainda
e
de
forma
bidimensional, ou tridimensional, quando
houver a percepção das três dimensões.
De maneira geral, os resultados
sugerem que informações visuais prévias
não são pré-requisitos necessários para
rotação mental, posto que sujeitos cegos
não apresentaram dificuldades em realizá-la
durante as tarefas experimentais. Neste
sentido, os pesquisadores concluiram ser
possível que as representações mentais
demandem
mais
das
representações
espaciais (construídas a partir do tato,
cinestesia e sentido vestibular) do que das
Uma
questão
levantada
pelos
pesquisadores a respeito da rotação mental
representações visuais (CARPENTER &
EISENBERG,1978).
é a de que se este tipo de transformação
Ainda sobre a relação entre as
mental requer sempre algum tipo de
informações visuais e espaciais, Marmor e
informação
Zaback (1976) realizaram uma pesquisa
visual
prévia.
Sobre
esta
questão, Carpenter e Eisenberg (1978)
com
realizaram uma pesquisa com sujeitos cegos
cegueira adquirida e videntes vendados,
38
cegos
congênitos,
pessoas
com
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cujo objetivo era compreender se cegos
se que a partir do estímulo visual é possível
congênitos manipulam imagens mentais e
rotacionar
como estas são formadas. Foi utilizada uma
imagéticas. Entretanto a visão não é o único
base com um estímulo fixo a ela, e foi
sentido capaz de estimular a imaginação
pedido aos participantes que apertassem um
mental. É sabido que o olfato, o tato, a
botão à direita quando o estímulo estivesse
visão, a audição e o paladar são importantes
na posição normal e um botão à esquerda
para o reconhecimento perceptivo e como
quando na posição invertida. Observou-se
fonte de informação para a construção de
uma diferença significativa no tempo de
imagens mentais dos objetos da realidade
resposta dos sujeitos cegos congênitos e
(Atkinson,
cegos adquiridos. Entretanto, constatou-se
Sternberg, 2008).
que à medida que a disparidade angular
aumentava, aumentava também os tempos
de resposta nos três grupos de sujeitos e
vice-versa.
representações
2002;
mentais
Schiffman,
2005;
O presente estudo foi desenvolvido
para avaliar se o princípio da equivalência
funcional aplicado a rotação de imagens
mentais poderia ser observado quando a
Em linhas gerais, a pesquisa de
fonte sensorial para formação da imagem
Marmor e Zaback (1976) ratificou que as
era
informações
critério
especificamente, objetivou-se investigar se
fundamental para rotação mental, pelo fato
através do tato as pessoas conseguem
de cegos congênitos conseguirem realizá-la
reconhecer, criar e manipular a imagem
e terem tempos de respostas proporcionais
mental de um objeto-estímulo.
visuais
não
são
àqueles de pessoas com cegueira adquirida
e com visão normal. Os autores apontam
para a necessidade de novas pesquisas na
área das representações mentais, para que
se
possa
melhor
compreender
esses
processos, tanto em videntes quanto em
cegos.
A
partir
dos
experimentos
discutidos até então, em experimentos
realizados por Shepard e Metzler (1971)
feitos com objetos tridimensionais, e por
Jordan e Huntsman (1990, apud Sternberg,
2008) com objetos bidimensionais, percebe39
o
tato
e
não
a
visão.
Mais
Participaram desta pesquisa 50
sujeitos com visão normal, sendo 30 do
sexo feminino e 20 do sexo masculino, com
faixa etária variando entre 17 e 30 anos de
idade, estudantes da Universidade Federal
do Vale do São Francisco.
Para aplicação do experimento
utilizou-se dois objetos-estímulo, uma base
onde estes seriam fixados os objetos e
materiais
auxiliares
como
folhas
de
registros para respostas e tempos de
latência, canetas esferográficas, cronômetro
CRONOBIO e fita adesiva.
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Na
confecção
da
base
foram
0° de rotação em relação ao sujeito, ou seja,
utilizadas uma folha de isopor e uma de
os estímulos eram colocados exatamente de
emborrachado, medindo 50 x 50 cm, na
frente para o sujeito. Com isso visava-se o
qual estavam demarcados os ângulos 0º,
reconhecimento dos estímulos por parte dos
30°, 60º, 90°, 120º, 150°, 180º, 210°, 240º,
participantes,
270°, 300° e 330º. Os objetos-estímulo
construíssem uma imagem mental dos
utilizados foram duas letras “R” na posição
mesmos.
normal (R) e invertida (Я), desenhadas na
fonte Arial Black e construídas com
emborrachado
medindo
14
mm
de
espessura. Foram feitas demarcações nos
objetos-estímulo
para
facilitar
o
alinhamento com a base e utilizou-se velcro
para fixá-los à mesma.
Na
para
segunda
que
eles
fase
os
assim
mesmos
objetos-estímulo foram apresentados aos
sujeitos na posição normal e invertida, com
ângulos de rotação de 0º, 30°, 60º, 90°,
120º, 150°, 180º, 210°, 240º, 270°, 300° e
330º. Deste modo, os objetos-estímulo
foram apresentados em ambas as posições,
e em cada um dos ângulos, totalizando 24
A
aplicação
do
experimento
ocorreu na Sala 1 do Laboratório de
Desenvolvimento
Processos
Aprendizagem
Psicossociais
(LDAPP)
e
da
apresentações. A ordem de apresentação
dos ângulos e as posições dos objetos foram
randomizadas
ao
longo
das
sessões
experimentais para evitar efeitos de ordem.
UNIVASF, campus Petrolina - PE. Uma
Cada vez que a posição e ângulo de
mesa foi preparada com a demarcação em
rotação do objeto eram modificados o
fita adesiva do espaço exato onde a base
participante deveria tateá-lo e dizer qual sua
seria colocada. O piso da sala também foi
posição:
marcado, no local exato onde a cadeira do
cronômetro
sujeito deveria ficar. Antes da realização do
participante dava o primeiro toque no
experimento foram dadas ao sujeito as
estímulo e parado quando ele emitia sua
informações necessárias para a realização
resposta.
do mesmo e solicitada à assinatura do
Termo
de
Consentimento
Livre
e
Esclarecido.
O experimento foi dividido em duas
“normal”
logo
que
O
o
os participantes eram indagados acerca de
suas estratégias cognitivas para a realização
da tarefa e depois de ter suas dúvidas e
curiosidades
sujeitos que colocassem as vendas nos
experimento.
40
ativado
“invertida”.
Ao fim de todas as apresentações,
fases: na primeira fase foi pedido aos
olhos e tateassem os estímulos, sempre com
era
ou
sanadas,
findava-se
o
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De maneira geral, observou-se que
os resultados encontrados corroboram, em
parte, os achados de Shepard e Metzler
(1971). Quando comparados os tempo de
respostas entre os ângulos 30º e 60° (t = 2,73; p = .008), 30° e 90º (t = -2,30; p =
.025), 30° e 120° (t = -3,21; p = .002), 30°e
150° (t = -3,77; p < .001), 30° e 240°, (t =
3,45; p = .001) e 30° e 270°(t = 2,49; p =
.001), na posição invertida, observou-se que
as diferenças nesses tempos de latência
foram significativas, indicando, portanto,
Gráfico 1: Tempos médios de resposta para
cada ângulo, nas posições Normal e Invertida.
que a dificuldade de rotação de imagens
mentais variou em função da disparidade
angular (ver Gráfico 1). Por outro lado,
Quando analisadas as diferenças
quando o objeto era apresentado na posição
nos tempos de resposta entre ângulos
normal este padrão de resultados não se
replementares (com disparidade angular
repetiu, pois as diferenças entre o tempo
equivalente, em relação ao eixo Y), notou-
médio de resposta para o ângulo de 30° e
se que não houve diferenças significativas,
para os demais não foram significativas.
o que confirma a hipótese de que o sentido
A única exceção a tais resultados
foi encontrada na comparação entre o
tempo de resposta para o ângulo 30º e para
o de 180°, na qual a diferença foi
significativa tanto para a posição normal (t
= -2,28; p = .002) quanto para a invertida (t
= -4,10; p < .001). Em outras palavras,
constatou-se que a disparidade angular teve
um efeito mais significativo nos tempos de
reação quando a figura era apresentada na
posição invertida do que na posição normal.
da rotação (horário ou anti-horário), não
influencia significativamente o tempo da
tarefa (SHEPARD & METZLER, 1971;
JOLICOEUR & CAVANAGH, 1992). Em
termos práticos, nota-se que a comparação
entre ângulos replementares, como por
exemplo,
30° e
330°; 60° e
300°,
geralmente mostra valores semelhantes,
corroborando o pressuposto que o sentido
de
rotação
desempenho,
não
posto
interfere
que
a
sobre
distância
percorrida ao deslocar o estímulo de 30°
para 0°, e de 330° para 360° é a mesma.
41
o
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aumento da taxa de erros, à medida que a
disparidade angular se aproximava de 180º,
e que esta taxa diminuía para os ângulos
maiores que 180°, tanto na posição normal
quanto na invertida (Gráfico 3). No que se
refere aos acertos, por outro lado, o padrão
observado foi inverso, ou seja, a taxa de
acertos tendeu a ser mais alta com uma
menor disparidade angular e a decair à
medida que esta disparidade se aproximava
de 180°. Estes resultados confirmam a
existência de uma relação entre disparidade
Gráfico 2: Tempo de resposta acumulado para
cada posição.
angular e dificuldade na rotação mental,
pois o aumento na taxa de erros seguiu o
mesmo padrão observado para o tempo de
Conforme ilustra o gráfico 2,
resposta, em função da disparidade angular.
constatou-se que o tempo de resposta total
gasto para rotacionar os objetos na posição
normal (M = 67,03; d.p. = 32,66) foi menor
Erros e Acertos
do que o tempo gasto na posição invertida
entre estas médias foi significativa (t = 2,03; p = .048). Esses dados sugerem que a
familiaridade com o estímulo na posição
normal influenciou significativamente o
N ú m e ro A b s o lu to d e E r ro s e
A c e rto s
(M = 73,15; d.p. = 36,14) e que a diferença
60
50
40
30
20
10
0
0°
30°
60°
90°
120°
150°
180°
210°
240°
270°
300°
330°
Ângulos
Erro Invertido
Erro Normal
Acerto Invertido
Acerto Normal
desempenho dos sujeitos posto que nesta
situação eles deveriam fazer apenas um tipo
de
rotação
(anti-horário
ou
horário),
Gráfico 03: Número absoluto de erros e acertos
para cada posição.
enquanto que com a figura invertida
As análises demonstraram ainda
deveriam fazê-la, associada a uma rotação
que não houve diferença significativa nos
da imagem sobre o sue próprio eixo.
tempos de resposta e nem nas taxas de
Com relação à quantidade de erros
na tarefa (informar que o objeto estava na
posição “normal” quando estava “invertido”
e vice-versa) notou-se que houve um
42
acertos e erros, relacionadas ao sexo dos
participantes. Estes resultados e os de
estudos anteriores, como os de Shepard e
Metzler (1971) e Jolicoeur e Cavanagh
Evolvere Science, V. 1, N. 1, p. 33-45, 2013
(1992), sugerem que a rotação mental
mais estudos com este tipo de desenho
imagética
mecanismos
experimental. Outro fato a ser destacado é o
cognitivos e neurofisiológicos universais,
de que todos os participantes tinham visão
os
normal e que isto pode ter estar por trás da
depende
quais
podem
de
ser
completamente
relação entre tato e visão durante as
independentes do sexo.
rotações mentais.
Sobre esta questão, cita-se que
CONCLUSÃO
todos os participantes mencionavam, quase
que imediatamente após o primeiro toque
De maneira geral, o presente estudo
no objeto estímulo, que se tratava de uma
corrobora
da
letra “R”. Julga-se que as informações
a
fornecidas pelo tato eram usadas para
imagens
acessar a representação imagética da letra
mentais e percepção visual. Por outro lado,
“R” na memória dos participantes, a qual,
confirma evidências anteriores de que a
provavelmente, havia sido construída a
percepção visual pode não ser a única fonte
partir de uma interação entre inputs
informacional usada para formar imagens
informacionais
mentais e que, na verdade, a construção e
principalmente, visuais. Todavia, pode-se
manipulação de representações mentais
questionar se, nos casos em que o indivíduo
envolve tanto representações de ordem
não
visual quanto espacial (WRAGA, SWABY
visuais por nunca ter usado o sentido da
&
&
visão (ex: pessoa com cegueira congênita),
SATHIAN, 2002). Mais especificamente,
a falta de inputs informacionais visuais
os resultados aqui observados apontam para
estaria associada a algum tipo de diferença
a importância das informações sensoriais do
na maneira como ele manipula imagens
tato nos processos de transformação de
mentais? Neste sentido, considera-se que
representações mentais.
pesquisas futuras podem contribuir para
com
equivalência
existência
de
FLYNN,
Apesar
o
pressuposto
funcional,
relações
2008;
dos
indicando
entre
PRATHER
resultados
terem
corroborado em parte pesquisas anteriores,
alguns dados são discrepantes em relação a
achado empíricos anteriores (por exemplo,
a não progressão linear dos tempos de
possui
cinestésicos,
representações
táteis
e,
imagéticas
esclarecer como pessoas que não possuem a
visão constroem e manipulam imagens
mentais produzidas através de outras fontes
sensoriais não visuais.
Como desdobramentos futuros do
resposta em função da disparidade angular),
presente
indicando a necessidade de realização de
resultados aqui encontrados sirvam como
43
estudo,
objetiva-se
que
os
Evolvere Science, V. 1, N. 1, p. 33-45, 2013
subsídios para o desenvolvimento de uma
Psychology:
metodologia
de
performance, Washington, v.2, n.4, p.503-
investigação
sobre
imagens
pesquisa
mentais
adequada
a
manipulação
em
pessoas
à
de
com
deficiência visual. A partir disto, pretendese
avaliar
se
existem
diferenças
significativas
na
maneira
como
transformações
mentais
ocorrem
as
em
Human
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514, 1976.
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pessoas com cegueira congênita e cegueira
JOLICOEUR, P.; CAVANAGH, P. Mental
adquirida,
rotation, physical rotation, and surface
buscando
compreender
a
existência de algum tipo de especificidade
media.
da imaginação mental nestes grupos de
Psychology:
sujeito. Considera-se que este tipo de dado
performance, Washington, v.18, n.2, p.371-
informação possa colaborar muito no
384, 1992.
desenvolvimento de estratégias didáticopedagógicas
e
sócio-políticas
cientificamente orientadas e que objetivam
a inclusão destas pessoas na sociedade.
Journal
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of
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perception
and
MARMOR, G.S.; ZABACK, L.A. Mental
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Passive tactile feedback facilitates mental
45
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