Anais Eletrônicos do VI ENPOLE VI Encontro de Pós-Graduação em Letras | ISSN: 2176-4956 Universidade Federal de Sergipe, Campus São Cristóvão, 19 e 20 de Janeiro de 2015 PRODUÇÃO TEXTUAL ACADÊMICA: PERSPECTIVAS E PROBLEMÁTICAS Talita Santos Menezes (UFS) 1 INTRODUÇÃO Produzir textos é uma prática recorrente em todos os setores da sociedade, e na esfera educacional não é diferente. Sob variadas formas e com diversas funcionalidades, os textos fazem parte da prática pedagógica nos diferentes níveis de ensino. Especificamente na universidade, a atividade de produção textual traz especificidades que a diferenciam daquela realizada em outros setores da educação. Para o graduando, isso implica no conhecimento e na prática de “novos” modos e regras de produção, o que pode gerar certas dificuldades para os alunos durante o processo de adaptação à escrita acadêmico-científica, já que “atender às exigências de escrita em uma dada esfera da atividade humana não garante a transferência automática para outra” (SILVA, 2012, p. 100). Pode-se dizer que a produção de texto na universidade não se resume a funções didático-avaliativas, mas acrescenta novos conceitos à ideia de produção que o aluno traz de experiências anteriores, além influenciar diretamente em sua formação acadêmica. Firmado nesse pressuposto, o objetivo deste trabalho é analisar a atividade de produção textual acadêmica, de modo que seja possível reconhecer as características dessa produção, verificar as contribuições dessa atividade para a formação do graduando, bem como identificar as problemáticas inerentes a esse processo. Para isso, os dados foram coletados por meio da pesquisa de campo de caráter exploratório e analisados por uma abordagem qualitativa. As concepções teóricas deste estudo amparam-se nos pressupostos defendidos por teóricos que discorrem acerca da temática em questão, entre os quais se destaca Koch e Elias (2007), Koch (2012), Rodrigues (2009), Silva (2012), dentre outros. Levando-se em consideração que os textos formam a base da prática pedagógica na universidade, a análise e compreensão dos modos de produção desses textos tornam-se relevantes pelo fato de evidenciar como a atividade de produção textual pode influenciar no processo de formação dos graduandos. Apoio FAPITEC/CAPES | POSGRAP | PPGL | CECH 1 Anais Eletrônicos do VI ENPOLE VI Encontro de Pós-Graduação em Letras | ISSN: 2176-4956 Universidade Federal de Sergipe, Campus São Cristóvão, 19 e 20 de Janeiro de 2015 2 PRODUÇÃO TEXTUAL ACADÊMICA: PERSPECTIVA TEÓRICA Nas discussões acerca da atividade de produção textual há, subjacente, concepções de texto adotadas. Diante da variedade de correntes teóricas que emergiram ao longo dos anos, tratando o texto como principal objeto de estudo, a Linguística Textual ganhou destaque pelo fato de levar em consideração – em suas análises – os aspectos e as ações envolvidas na concepção, compreensão, produção e circulação dos textos em meio à sociedade. Entre os enfoques que a LT confere ao texto, uma concepção que vem ganhando destaque há tempos é a de base sociocognitivo-interacional. De acordo com essa perspectiva teórica, o texto é visto como Lugar de interação de sujeitos sociais [...] que, por meio de ações linguísticas e sociocognitivas, constroem objetos-de-discurso e propostas de sentido, ao operarem escolhas significativas entre as múltiplas formas de organização textual e as diversas possibilidades de seleção lexical que a língua lhes põe à disposição (KOCH; ELIAS, 2007, p.7). Nesse contexto, percebe-se que o texto não possui um sentido completo e explícito, mas vários sentidos que são construídos no momento da interação. Essa interação se dá a partir do momento em que o autor do texto leva em consideração a participação ativa do leitor na construção dos sentidos e produz esse texto de tal maneira que o leitor é capaz de preencher as “lacunas” deixadas com informações extratextuais. Sendo assim, a atividade de produção textual não se resume à reprodução de informações, mas resulta de um processo que envolve ações e estratégias de ordem linguística, cognitiva, interacional e social. Levando em consideração que os sujeitos envolvidos na construção dos sentidos do texto são seres sociais, pode-se dizer que a produção de texto surge (também) a serviço de fins sociais, uma vez que os textos “são resultados da atividade verbal de indivíduos socialmente atuantes, na qual estes coordenam suas ações no intuito de alcançar um fim social, de conformidade com as condições sob as quais a atividade verbal se realiza”. (KOCH, 2012, p.26). Apoio FAPITEC/CAPES | POSGRAP | PPGL | CECH 2 Anais Eletrônicos do VI ENPOLE VI Encontro de Pós-Graduação em Letras | ISSN: 2176-4956 Universidade Federal de Sergipe, Campus São Cristóvão, 19 e 20 de Janeiro de 2015 Nessa perspectiva, para obter êxito no alcance de determinada finalidade, os sujeitos precisam levar em consideração as especificidades e convenções de escrita impostas e consolidadas como características de cada contexto social em que tais sujeitos estejam inseridos. No caso da universidade, os textos ali produzidos adquirem um caráter científico devido a determinados aspectos, e o domínio desse tipo de produção requer – por parte dos estudantes – o conhecimento de certas regras e técnicas específicas da escrita acadêmica. O primeiro aspecto a ganhar destaque na produção acadêmica é o uso dos gêneros científicos. A produção desse tipo de gênero, além de treinar o graduando nos padrões da escrita acadêmica, confere certa legitimidade ao discurso do graduando à medida que o insere no universo de uma produção reconhecida como científica. Em boa medida, os gêneros por nós produzidos dão, pelo menos em uma primeira instância, legitimidade ao nosso discurso. Nesse particular, certos gêneros tais como os ensaios, as teses, os artigos científicos, os resumos, as conferências etc. assumem um grande prestígio, a ponto de legitimarem e até imporem determinada forma de fazer ciência e decidir o que é científico. E com isso chega-se inclusive à ideia de que não são ciência os discursos produzidos fora de um certo cânon de gêneros da área acadêmica. (MARCUSCHI, 2008, p.162, grifos do autor). Cada gênero possui características estruturais específicas, mas a cientificidade – comum a todos – é revelada também pelo tipo de linguagem empregada na construção desses gêneros. A linguagem científica tem como principal característica a objetividade, a qual se manifesta pelo uso de uma linguagem denotativa, em que cada palavra apresente um significado próprio, evitando, assim, qualquer possibilidade de ambiguidade de sentido. Além da objetividade, outros aspectos fazem parte do conjunto de características que definem uma linguagem como científica. Os assuntos deverão ser tratados de maneira direta e simples, com lógica e continuidade, sendo, portanto, essencialmente linguagem informativa. Seu caráter técnico a distingue das outras formas de expressão, por ter em vista a transmissão de conhecimentos e informações com precisão e clareza. A linguagem científica é informativa e técnica, apoiada em dados concretos, a partir dos quais analisa e sintetiza, questiona e conclui. (SIRIMARCO; CHEHUEN NETO; MOUTINHO, 2012, p. 77). Apoio FAPITEC/CAPES | POSGRAP | PPGL | CECH 3 Anais Eletrônicos do VI ENPOLE VI Encontro de Pós-Graduação em Letras | ISSN: 2176-4956 Universidade Federal de Sergipe, Campus São Cristóvão, 19 e 20 de Janeiro de 2015 A essa lista de aspectos, somam-se ainda impessoalidade, clareza, concisão, estilo simples, modéstia e cortesia (ANDRADE, 2010). É esse tipo de linguagem que se espera encontrar nas produções dos estudantes universitários. No entanto, essa linguagem ainda não é suficiente para tornar uma produção científica. É necessário também que o assunto a ser tratado tenha como base o conhecimento científico. O conhecimento científico é um tipo de conhecimento real, que leva em consideração os fatos. Conforme Rodrigues (2009), esse tipo de conhecimento é geral, objetivo, crítico, metódico, sistemático etc. São esses aspectos que o diferenciam do senso comum. Matallo Jr (2009, p. 16) define senso comum como “um conjunto de informações não sistematizadas que aprendemos por processos formais, informais e, às vezes, inconscientes, e que inclui um conjunto de valorações”. Ao levar em consideração que as opiniões advêm do senso comum, percebese que o desafio imposto ao graduando é incorporar, em suas produções, aspectos científicos para que, gradativamente, substitua o senso comum pelo saber científico. Tal atitude torna-se necessária porque uma produção considerada científica não pode estar firmada exclusivamente em opiniões, mas apresentar fatos e informações que garantam a credibilidade do assunto tratado – sendo visto como verídico e confiável – e do próprio discente, enquanto produtor de textos científicos. Diante disso, percebe-se que a atividade de produção de texto não é um recurso a mais no processo didático-pedagógico de um curso, mas influencia, de certa forma, nos modos de escrita dos estudantes, bem como em sua visão de mundo – no sentido de mudança do conhecimento utilizado em seus discursos escritos e orais – e na maneira como se posiciona diante da realidade; aspectos estes que são demonstrados não apenas no universo acadêmico, mas em outros contextos em que esses sujeitos estejam inseridos. 3 RETRATOS DA PRODUÇÃO TEXTUAL ACADÊMICA Em nossas pesquisas, utilizamos alguns instrumentos de coleta de dados, dentre os quais – neste estudo – faremos menção apenas à entrevista semi-estruturada. Essa parte da pesquisa foi realizada através da investigação por amostragem, ou seja, apenas uma porção do universo acadêmico foi investigada. Desta feita, a coleta Apoio FAPITEC/CAPES | POSGRAP | PPGL | CECH 4 Anais Eletrônicos do VI ENPOLE VI Encontro de Pós-Graduação em Letras | ISSN: 2176-4956 Universidade Federal de Sergipe, Campus São Cristóvão, 19 e 20 de Janeiro de 2015 de dados foi realizada com a participação de 10 estudantes e 10 professores atuantes nos cursos de Letras Vernáculas e Estrangeiras da Universidade Federal de Sergipe. Vale ressaltar que a escolha pelos professores seguiu o critério de maior relação entre as disciplinas ministradas por eles e a atividade de produção de texto em sala de aula. Já com relação aos estudantes, a técnica de amostragem utilizada foi a probabilística, ou seja, a escolha dos pesquisados foi feita aleatoriamente, de modo que “cada membro da população tinha a mesma probabilidade de ser escolhido” (LAKATOS; MARCONI, 2009, p. 112). Os resultados obtidos com essas entrevistas nos permitiram compreender como se dá o processo de produção de texto no ambiente acadêmico, de modo que foi possível verificar as contribuições que a atividade de produção textual oferece à formação dos graduandos e identificar as dificuldades que os estudantes enfrentam durante o processo de adaptação à escrita acadêmica. 3.1 CONTRIBUIÇÕES DA PRODUÇÃO DE TEXTO PARA A FORMAÇÃO DISCENTE A primeira das contribuições que a atividade de produção textual oferece à formação do graduando é a valorização e o refinamento do seu ponto de vista. A valorização surge a partir do momento em que o graduando é instigado a expressar sua opinião acerca do assunto debatido em sala de aula. Segundo os professores entrevistados, esse tipo de metodologia é necessária para que o aluno “liberte-se” do hábito de reproduzir informações e torne-se apto a expressar suas próprias opiniões. Uma das docentes entrevistadas declara: (1) O aluno vem modelado de uma tradição escolar em que ele não é levado a expressar as suas próprias ideias; então ele tem que dizer o que o texto dizia e não o que ele achava a respeito [...]. (Docente A. Letras Vernáculas) 1 . Após o estudante convencer-se de que tem liberdade para expor suas ideias, o próximo processo pelo qual ele passa é o de “refinamento” dos modos como defende seu ponto de vista. Se não é desejável que o graduando se prenda somente ao que o autor de um texto diz – apenas reproduzindo as informações – da mesma forma ele não 1 Mantemos o anonimato dos sujeitos envolvidos na pesquisa de modo que fosse possível preservar a identidade dos professores e dos formandos e acentuar o que pareceu-nos essencial, os pensamentos e concepções acerca da temática proposta. Destacamos, ainda, que as declarações expostas no trabalho resgatam, fidedignamente, as expressões lexicais utilizadas pelos informantes. Apoio FAPITEC/CAPES | POSGRAP | PPGL | CECH 5 Anais Eletrônicos do VI ENPOLE VI Encontro de Pós-Graduação em Letras | ISSN: 2176-4956 Universidade Federal de Sergipe, Campus São Cristóvão, 19 e 20 de Janeiro de 2015 pode basear suas produções unicamente em seus próprios pensamentos. É preciso que o aluno saiba fazer uso dessas informações como embasamento teórico de suas próprias ideias, ou seja, amoldar seu ponto de vista ao de uma autoridade no assunto tratado. Os estudantes reconhecem a importância e necessidade desse processo, como afirma uma discente: (2) Você não pode expor sua opinião de qualquer maneira. Você tem que saber como fazer isso [...]. Tem até as regras de como fazer isso. (Graduanda A. Letras-Inglês, 8º período). A partir desse processo de “refinamento” do ponto de vista, o graduando aprende a distinguir o conhecimento que deve ser utilizado em suas produções. Ao dominar as regras e técnicas da escrita acadêmica, ele sai do universo do senso comum – pautado exclusivamente em sua opinião – e passa a embasar suas produções no conhecimento científico. É o que declara uma graduanda entrevistada, quando questionada a respeito das características de suas produções: (3) Embasadas teoricamente. Não mais a minha opinião simplesmente. Logicamente que tem a crítica que nós fazemos com relação ao texto, mas não é mais ‘eu acho que é assim’, ‘é porque é assim, então, eu penso que é assim’, não ‘é assim porque, de acordo com tal autor, é de tal maneira’ e eu concordo ou discordo. (Graduanda A. Letras-Inglês, 8º período). Esse reconhecimento dos modos de escrita acadêmica demonstra que, ao longo do curso, o estudante passa a ter uma percepção clara a respeito das regras que devem ser seguidas para uma produção aceita no ensino superior. No entanto, segundo os docentes entrevistados, mais importante que seguir regras, é produzir com autonomia. (4) Faz um diferencial muito grande quando o aluno se coloca com autonomia. Não é só a receita pronta do artigo ou do relatório, mas quando ele se coloca [...]. (Docente B. Letras Vernáculas). Essa autonomia que os graduandos adquirem é o que permite que suas produções não se resumam a atividades avaliativas requeridas em sala de aula, dependentes da aceitação por parte do professor, mas extrapolem os limites da universidade, revelem a “independência produtiva” do graduando – através do domínio das técnicas de produção científica – e passem a circular em outros contextos, como eventos de outras instituições, publicações virtuais, entre outros. Apoio FAPITEC/CAPES | POSGRAP | PPGL | CECH 6 Anais Eletrônicos do VI ENPOLE VI Encontro de Pós-Graduação em Letras | ISSN: 2176-4956 Universidade Federal de Sergipe, Campus São Cristóvão, 19 e 20 de Janeiro de 2015 Diante dessas e de tantas outras contribuições que a produção de texto tem oferecido para a formação dos estudantes, fica perceptível quão significativa tem sido tal atividade durante a graduação. No entanto, como em qualquer outro processo educativo, problemáticas têm surgido e (felizmente), junto com elas, tentativas de solução. 3.2 PROBLEMÁTICAS PRESENTES NO PROCESSO DE ADAPTAÇÃO À PRODUÇÃO TEXTUAL ACADÊMICA Um dos problemas enfrentados pelos discentes durante os períodos iniciais do curso é a dificuldade de adaptação aos novos gêneros. Os gêneros que circulam no ambiente acadêmico possuem especificidades que os diferenciam daqueles solicitados durante o ensino médio. O caráter científico, o tipo de linguagem empregada, as fontes de informação utilizadas etc., tudo isso se torna novidade para o aluno que vem do ensino médio acostumado com outro tipo de produção. Tal realidade é ratificada pelos professores que ministram disciplinas em turmas – principalmente – de primeiro e segundo períodos. (5) Um aspecto que vem me chamando atenção é a não menção ao autor. Então, você lê o resumo e não consegue caracterizá-lo como resumo, não há indícios de que se trate de um resumo. Parece que o texto foi escrito pela primeira vez e foi escrito pelo aluno. (Docente C. Letras Vernáculas). Nesse caso específico – de citação de autores – não se pode descartar a possibilidade de ser um aspecto trabalhado durante o ensino médio. No entanto, por ser um dos aspectos característicos da escrita acadêmica – e embora pareça tão simplório aos olhos dos que já estão familiarizados com esse tipo de escrita – tal aspecto torna-se mais um dos desafios a serem superados pelo calouro durante esse processo de adaptação a um “novo” modo de escrita. Os próprios estudantes reconhecem isso: (6) Como eu tô no segundo período, então ainda tô me acostumando nessa parte de fazer citação do autor em relação à ideia dele; que foi baseado na ideia de tal autor, essas coisas assim. (Graduanda B. Letras-Espanhol. 2º Período). O conhecimento e domínio das regras e técnicas da escrita acadêmica provêm de um processo gradativo e contínuo. Geralmente, nos períodos iniciais da graduação, são ofertadas disciplinas específicas de produção textual acadêmica, às Apoio FAPITEC/CAPES | POSGRAP | PPGL | CECH 7 Anais Eletrônicos do VI ENPOLE VI Encontro de Pós-Graduação em Letras | ISSN: 2176-4956 Universidade Federal de Sergipe, Campus São Cristóvão, 19 e 20 de Janeiro de 2015 vezes, sob a denominação de “metodologia científica”. Durante essas disciplinas, os estudantes têm contato com os gêneros científicos, analisam-nos e, posteriormente, os produzem. Todavia, conforme os docentes entrevistados, um ou dois períodos – média de duração dessas disciplinas – não é tempo suficiente para que os discentes dominem a escrita de determinados gêneros. Os professores afirmam que é necessário um tempo maior para que os estudantes estejam capacitados para a produção de certos gêneros. (7) Ninguém escreve um artigo científico com facilidade no segundo período [...]. É preciso muito mais, é preciso uma carga de leitura, é preciso tempo, maturação. (Docente C. Letras Vernáculas). Devido a esse “impasse” – de exigir ao aluno a produção de um gênero que ele (ainda) não está apto a produzir – o processo de conhecimento e produção de alguns gêneros extrapola as limites da disciplina específica e passa a fazer parte do conteúdo de outras disciplinas, o que, de certa forma, atrapalha na ministração de outros conteúdos. Alguns professores atribuem essa problemática à ausência de tratamento com especificidades da escrita durante o ensino médio. (8) O problema de escrita é, mais especificamente, um problema de autoria, de domínio da própria escrita [...]. Como o Ensino Básico, o Ensino Fundamental, não trabalha com especificidades da escrita, a academia acaba sofrendo muito com isso porque aqui precisamos disso. (Docente D. Letras Vernáculas). Diante disso, surge o questionamento: seria necessário incorporar ao currículo do ensino médio atividades de produção textual científica ou ampliar a carga horária e/ou quantidade de disciplinas voltadas ao trabalho com os gêneros científicos durante a graduação? Enquanto não há consenso sobre a solução dessa questão, os docentes fazem adaptações em suas práticas pedagógicas a fim de minimizar as dificuldades dos estudantes. Entre essas práticas, destaca-se: O exercício com a metaleitura, através do qual os alunos aprendem a “como ler” os gêneros, identificando as características e funcionalidades de cada elemento; A solicitação de produção de acordo com o nível/período da turma, indo de gêneros considerados mais “básicos” como o resumo, por exemplo, até os que exigem uma maior elaboração, como artigo, relatório e projeto de pesquisa; Apoio FAPITEC/CAPES | POSGRAP | PPGL | CECH 8 Anais Eletrônicos do VI ENPOLE VI Encontro de Pós-Graduação em Letras | ISSN: 2176-4956 Universidade Federal de Sergipe, Campus São Cristóvão, 19 e 20 de Janeiro de 2015 O trabalho com a reescrita, feito por etapas e acompanhado pelos docentes em cada fase da produção. Outras atitudes também têm sido adotadas pelos docentes com o objetivo de instrumentalizar os graduandos com as técnicas da escrita acadêmica. Esse trabalho revela que a produção de texto não tem sido vista apenas como um recurso pedagógico, mas como uma atividade que, juntamente com tantas outras, possui influência na formação de sujeitos cada vez mais capacitados a produzir gêneros em variedade e com qualidade. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Não se pode negar que a atividade de produção textual exigida e realizada durante um curso de graduação faz parte do conjunto de ações que contribuem para a formação dos graduandos. Se ela faz parte do processo educacional, ela tem sua importância e, tanto docentes, quanto discentes reconhecem a relevância da produção de texto na academia. Afinal, ela é uma das principais ferramentas de difusão dos saberes que circulam no ambiente universitário. Entre as contribuições que a atividade de produção textual tem oferecido à formação dos graduandos, destaca-se a valorização e aperfeiçoamento da autonomia produtiva, a ampliação do leque de gêneros produzidos e o aprendizado e uso da linguagem e do conhecimento científico. Há de se considerar que, enquanto parte de um contexto educacional específico, as especificidades da escrita acadêmica impõem desafios aos estudantes e traz à tona problemáticas advindas de contextos anteriores. No entanto, medidas já estão sendo tomadas e outras tantas ainda deverão surgir, a fim de que o conjunto das ações realizadas durante o curso – incluindo a produção de texto – logre êxito no objetivo de contribuir para a formação de sujeitos ao nível de seu tempo, pois produzir textos não é reproduzir palavras, mas (inter) agir no e com o mundo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Apoio FAPITEC/CAPES | POSGRAP | PPGL | CECH 9 Anais Eletrônicos do VI ENPOLE VI Encontro de Pós-Graduação em Letras | ISSN: 2176-4956 Universidade Federal de Sergipe, Campus São Cristóvão, 19 e 20 de Janeiro de 2015 ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico: elaboração de trabalhos na graduação. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010. KOCH, Ingedore G.Villaça. O texto e a construção dos sentidos. 10. ed. São Paulo: Contexto, 2012. ______. ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2007. LAKATOS, Eva Maria.; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2009. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. 2. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. MATALLO JUNIOR, Heitor. A problemática do conhecimento. In: CARVALHO, Maria Cecília M. (Org). Metodologia científica: Fundamentos e técnicas. 20. ed. Campinas, SP: Papirus, 2009, p. 13-28. RODRIGUES, Auro de Jesus. Metodologia científica. Aracaju: UNIT, 2009. SILVA, Marcelo Clemente. Gêneros da escrita acadêmica: questões sobre ensino e aprendizagem. In: REINALDO, Maria Augusta.; MARCUSCHI, Beth.; DIONISIO, Ângela. Gêneros textuais: práticas de pesquisa e práticas de ensino. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2012, p. 97-115. SIRIMARCO, Mauro Toledo.; CHEHUEN NETO, José Antônio.; MOUTINHO, Bruna Damásio. As partes do trabalho científico: a estrutura de artigos científicos em publicações periódicas. In: CHEHUEN NETO, José Antônio. Metodologia da pesquisa científica: da graduação à pós-graduação. 1. ed. Curitiba, PR: CRV, 2012, p. 77-95. Apoio FAPITEC/CAPES | POSGRAP | PPGL | CECH 10