Ano I # 11 Editorial Duas campanhas, um mesmo MP Grupo de Estudos Pela segurança pública Hédio Silva Júnior Um defensor dos excluídos Palavra do Presidente APMP DEFENDE VOCÊ E O MP. SEMPRE! A trajetória que imprimimos neste último ano foi a de defesa incondicional do Ministério Público e dos associados. Trabalhamos muito nas causas que julgávamos importantes para o destino da Instituição, dos promotores e dos procuradores de justiça, sem descuidarmos dos problemas administrativos. I. Internamente, estes foram os assuntos principais: Conselhos Nacionais do Ministério Público e da Justiça: a APMP travou luta genuína pela democracia e pleiteou eleições diretas pela Classe. Infelizmente, não foi a postura da PGJ e do CSMP. Nesse assunto, talvez tenha ocorrido a maior derrota do MPSP nos últimos dez anos. Não custa lembrar que a escolha em São Paulo foi indireta e que ficamos sem representantes nesses importantes órgãos (confira APMP Já 02, 06 e 07). Caso Riviera de São Lourenço: cuidamos de defender, primeiro, o MP no cenário externo e, depois, lutamos pelo respeito às garantias de um promotor de justiça. No episódio, caso da maior gravidade foi a veiculação de informações sigilosas em horário nobre da TV. Até este momento não se chegou a um único culpado. Não custa lembrar que as informações confidenciais de todos os membros do MP estão nos mesmos arquivos de onde partiu o vazamento (confira APMP Já 03 e APMP em Reflexão 04 e 06). Ouvidoria: A APMP entende que, em face da relevância do órgão, ele deve possuir o máximo de independência. Nada mais natural seja escolhido pelo maior número de eleitores. A proposta da APMP, não acolhida pela Procuradoria-Geral nem pelo Órgão Especial do Colégio de Procuradores, trazia mais democracia. A luta da APMP prossegue na Assembléia Legislativa (confira APMP Já 06 e 11 e APMP em Reflexão 06). Procuradoria de Interesses Difusos: a APMP sabe da importância dos interesses difusos para o MP. A Lei da Ação Civil Pública, tal como a conhecemos, nasceu nos Grupos de Estudos. Por isso, defendemos a discussão pela Classe e que se desse o status necessário a tema tão complexo. O assunto, porém, foi mal conduzido pela PGJ e pelo Órgão Especial e culminou em fragorosa derrota para a Instituição (confira APMP em Reflexão 09 e 10). Orçamento: dedicamo-nos a buscar soluções para os cortes unilaterais da nossa proposta de orçamento. Vários estudos foram dedicados ao tema, como o livro “O MP e a crise orçamentária”. Oxalá nossa Instituição não aceite, uma vez mais e passivamente, novos cortes (confira APMP em Reflexão 08). Revista APMP EM REFLEXÃO Veículo mensal de comunicação da Associação Paulista do Ministério Público. Ano I, Número 11 (2005). Tiragem: 4.000 exemplares. Conselho Editorial João Antonio Garreta Prats Cláudia Jeck Garcia de Souza Paulo Roberto Dias Júnior Sérgio de Araújo Prado Júnior Isonomia entre os membros do MP: democracia pressupõe o tratamento igualitário entre todos os membros. Pensando assim, a APMP lutou o quanto pôde contra injustiças em face dos inativos. Propusemos que a PGJ não aceitasse os cortes orçamentários e, assim, tratasse os associados como merecem: com respeito e sem diferenciação (confira APMP Já 04 e 10). II. No âmbito externo, trabalhamos para reforçar a imagem positiva do trabalho individual e coletivo de promotores e procuradores de justiça de São Paulo. Defesa dos promotores do Júri: no jornal Folha de São Paulo, o ex-vice-prefeito Hélio Bicudo chamou os promotores do júri de “preguiçosos”. A APMP respondeu e mostrou a importância do trabalho desenvolvido pelo MP (confira APMP Já 03 e APMP em Reflexão 02). Federalização dos crimes contra os direitos humanos: a APMP defendeu que a federalização dos crimes contra os direitos humanos é claro desprestígio para os Ministérios Públicos e Justiças Estaduais (confira APMP em Reflexão 05). Ameaças contra o PJ de Viradouro: defendemos a integridade física do promotor de justiça de Viradouro, ameaçado por sua dedicada e intrépida atuação funcional. Acionamos a Secretaria de Segurança Pública que, na pessoa do Secretário Saulo de Castro Abreu Filho, disponibilizou meios aptos a garantir o exercício funcional do colega (confira APMP Já 04 e APMP em Reflexão 04). Movimento contra Arbítrio e Corrupção: invasão do Fórum de Catanduva para devolução de processos e outras ações espalhafatosas da Polícia Federal uniram diversos setores da sociedade civil (confira APMP Já 10 e APMP em Reflexão 08). Audiências Públicas: Aplaudimos a realização de audiências públicas para prestar contas à sociedade do trabalho do MP. Alertamos, porém, sobre os riscos da ausência de dados concretos para subsidiar o debate. Tanto que a audiência pública da Capital, na qual se esperavam milhares de participantes, contou com a presença de pouco mais de 70 pessoas da comunidade (confira APMP Já 05). Como se vê, neste primeiro ano de gestão optamos por trilhar o melhor caminho para o MP, ainda que isso pudesse trazer atritos com órgãos da Administração Superior, em especial PGJ, CSMP e Órgão Especial do Colégio de Procuradores. Nesta edição da APMP em Reflexão, trazemos entrevista com o Secretário da Justiça, Hédio Silva Júnior, artigo da associada Cláudia Berê e diversas outras matérias. Boa leitura a todos! João Antonio Garreta Prats Presidente Coordenação Geral Luciano Ayres Jornalista Responsável Adriana Brunelli – MTB 33.183 Redação Ayres.PP – Comunicação e MKT Estratégico (19) 3242-1180 Assessoria de Imprensa ReDe Comunicação (11) 3061-3353 Fotos Vision Press (19) 3241-7498 Leandro Irmão 04 Contraponto | Hédio Silva Jr. 06 Em defesa do MP | Duas campanhas, um MP Maxima Venia | A circulação como interesse difuso passível de tutela pelo Ministério Público MP em foco | Futuro do MP X MP do Futuro Grupos de Estudos | Seminário Jurídico aprova tese sobre a participação do MP na política de segurança pública 16 26 34 Flórida 38 (também) para adultos APMP Destinos| Cultura e Lazer | Buddy Guy Budd 44 Gastronomia | 48 no Brasil Petróleo Vermelho D Em defesa do MP uas campanhas, um mesmo MP Quando a APMP lançou a campanha “O Ministério Público precisa de você!”, tinha em mente dois destinatários: 1º) o promotor e o procurador de justiça; 2º) a sociedade. Aos membros da Instituição, quisemos lembrar que o notável desenvolvimento do Ministério Público decorreu do bom exercício das atribuições que a Constituição de 1988 nos concedeu, bem como do envolvimento da Classe na discussão dos destinos institucionais. Noutras palavras, a campanha tencionava resgatar a auto-estima das promotoras, promotores, procuradoras e procuradores, que tantos buscam diminuir. À sociedade, quisemos lembrar da importância do Ministério Público para a redução das desigualdades e da exclusão. De que somos seus “advogados” e de que, 4 www.apmp.com.br sem um Ministério Público forte e atuante, o caminhar rumo a um Brasil mais justo e digno para todos será cada vez mais lento. Quisemos, enfim, alertar os membros do Ministério Público e a sociedade para o perigo que ronda o regime democrático, a ordem jurídica e os interesses sociais e individuais indisponíveis sempre que se tenta, de qualquer forma, sufocar a atuação firme e socialmente comprometida dos promotores e procuradores de justiça. A campanha publicitária que lançamos há poucos meses é parte de estratégia mais ampla da APMP de defesa incondicional e intransigente do Ministério Público e de seus membros, cuja atuação tem desagradado aos que lucram com a manutenção da realidade social injusta. Nessa defesa não temos alternativas: precisamos cada vez mais da população ao nosso lado e ciente de que um Ministério Público independente é crucial para o fortalecimento dela própria. Mas para falar com a população é preciso diversificar a linguagem, pois a sociedade brasileira é muito heterogênea e complexa. Nesse particular, com muita alegria saudamos a campanha deflagrada pela Procuradoria-Geral de Justiça, em solenidade no dia 18 de outubro último, com o título “Histórias Extraordinárias” (NR: veja a cobertura completa na seção “MP em Foco”). Para divulgar alguns resultados práticos da atuação de promotores de justiça em todo o Estado, escolher artistas consagrados e a linguagem das ilustrações e das charges, como reforço a textos simples e diretos, foram iniciativas bastante felizes. Aliás, para que essa campanha atinja o maior número de pessoas, fica a sugestão de confeccionar panfletos com papel de menor qualidade e custo, para que centenas de milhares sejam produzidos e distribuídos à população mais carente, por intermédio das ONGs, associações de bairros, centros comunitários, centrais sindicais etc. Agora, é chegada a hora de direcionar nossos esforços para um aliado tão ou mais importante: a sociedade civil organizada, que congrega a maior parte dos Quisemos, enfim, alertar os membros do Ministério Público e a sociedade para o perigo que ronda o regime democrático, a ordem jurídica e os interesses sociais e individuais indisponíveis sempre que se tenta, de qualquer forma, sufocar a atuação firme e socialmente comprometida dos promotores e procuradores de justiça. chamados “formadores de opinião”. Esses efetivamente influenciam os Poderes Executivo e Legislativo nas questões republicanas mais relevantes, a ponto de, por vezes, neutralizar as ações de setores a quem interessa o status quo. Para atingir esse outro público-alvo, porém, a estratégia deve ser distinta. Campanhas publicitárias são eficazes, claro, mas devem estar embasadas em dados estatísticos reveladores da eficiência de nossa atuação nas mais diversas áreas. Isso só conseguiremos mostrando nossos impressionantes índices de produtividade, de forma compreensível aos diversos tecidos sociais, o que proporcionaria, sem dúvida, dezenas de campanhas como as deflagradas pela APMP e pela PGJ. O trabalho está no começo e é árduo. Sendo assim, unamo-nos todos para que os frutos sejam colhidos o mais rapidamente possível. www.apmp.com.br 5 H Contraponto Como os formadores de opinião enxergam o MP Hédio Silva Júnior Correndo o risco de algumas injustiças, a onda do “politicamente correto” foi feita sob medida para os ingênuos e para os hipócritas. Noutras palavras, para os que acreditam que eufemismos e expressões edulcoradas afastariam qualquer traço de discriminação de que porventura pudessem ser acusados. A mera retórica não basta na luta contra a discriminação. É preciso atitude. Ou, nas palavras do nosso entrevistado, o “papel ativo de promover a igualdade e não só o papel passivo de não discriminar”. Hédio Silva Júnior era um garoto negro e pobre da periferia. Seu futuro, como o de crianças e adolescentes nascidos nas mesmas condições, não era nada promissor. Mas com perseverança, disciplina e apoio familiar, galgou um dos postos mais altos do Governo Estadual, a Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania, que ocupa desde 16 de maio deste ano. 6 www.apmp.com.br De servente de pedreiro a doutor em Direito Constitucional, mas sempre militando em favor dos excluídos, Hédio Silva Júnior jamais se envergonhou da sua condição de negro. Na entrevista que concedeu, em nenhum momento usou o termo “afro-descendente”, tão ao gosto do “politicamente correto”, preferindo as expressões de que tanto parece se orgulhar (“negro”, “comunidade negra”, “movimento negro”). Assuntos espinhosos não faltaram na conversa. Febem, discriminação racial no Poder Judiciário e no Ministério Público, ações afirmativas, intolerância e o assassinato do dentista Flávio Santana. Nada que nosso entrevistado não tenha “tirado de letra”, sem meias-palavras. Com muita satisfação, a APMP em Reflexão traz entrevista exclusiva com o Secretário Estadual da Justiça e Defesa da Cidadania, Hédio Silva Júnior. APMP em Reflexão: Conte-nos um pouco sobre sua trajetória. Hédio Silva Júnior: Minha história é muito comum. Família de origem pobre, criado na periferia... mas acredito que as palavras-chave são perseverança e disciplina. Lutei contra todo tipo de adversidade e espero que o Brasil possa, um dia, não exigir tanto dos seus filhos que nascem em situação não-privilegiada. Eu acabo sendo uma referência para a população negra brasileira e tenho dito às pessoas que, embora nosso país tenha toda a sorte de discriminação, ainda assim é possível superar essas barreiras. APMP: Para uma história de vida como a sua ser a regra, o segredo então está na perseverança e na disciplina? HSJ: Talvez o aprendizado familiar, direcionado para que eu acreditasse em mim mesmo, tenha ajudado. Isso trouxe para mim uma alta auto-estima. A pessoa precisa acreditar nela própria, ter perseverança e disciplina. Eu não diria que esses três ingredientes constituem uma receita, mas são bons pontos de partida para ser reconhecido em uma sociedade complexa, como é a brasileira. APMP: Falando em auto-estima, como anda o orgulho do negro pela sua condição? HSJ: Vem melhorando muito. O Brasil tem hoje, em todos os seus rincões, entidades fundadas e organizadas por negros que apresentam diferentes formas de linguagem e expressão. Todas elas lutam contra a discriminação. Nos últimos anos o Brasil mudou a referência estética, o padrão de beleza, e muitos elementos da cultura negra passam a ser paulatinamente reconhecidos. APMP: Poderia nos dar alguns exemplos? HSJ: Temos 18 universidades públicas que adotam o programa de inclusão de jovens negros e eles estão tendo o mesmo desempenho que os colegas. Surgiram revistas e outros veículos de comunicação criados pela comunidade negra. Neste mês de novembro, por exemplo, o Netinho de Paula está lançando uma emissora de televisão, que, se não é destinada exclusivamente ao negro, tem nele o seu foco principal. Então, eu diria que a sociedade brasileira e as instituições públicas e privadas passaram a compreender uma parte do problema racial. Sou muito otimista em relação ao futuro do Brasil, em que a cor ou a raça deixe de ser associada à inferioridade. www.apmp.com.br 7 Contraponto APMP: Qual sistema de classificação de raça é melhor: o feito por terceiros ou a autodeclaração? HSJ: Em todos os países, classificação racial é um ato arbitrário, ainda que baseado em critérios razoavelmente objetivos. Vou citar dois exemplos: na África do Sul, no período do apartheid, uma mulher branca que se casasse com um homem negro passava a ser considerada negra para fins de direito. Já nos Estados Unidos, a pessoa é considerada negra de acordo com o percentual de sangue negro na cadeia genética. APMP: E no Brasil? HSJ: O Brasil tem a maior população negra do mundo, só perde em números absolutos para a Nigéria. Somos, de certa forma, um amálgama entre os grupos étnicos que fundaram a nacionalidade: o branco europeu, o indígena e os africanos trazidos para cá. Aqui, historicamente é o fenótipo, a aparência que determina a classificação racial. Lamartine Babo tem uma marcha carnavalesca que diz: “o teu cabelo não nega mulata, porque és mulata na cor. Mas como a cor não pega, mulata, mulata eu quero o seu amor”. Deve ter sido em uma tarde agradável no Rio de Janeiro que Lamartine Babo, ao olhar para uma mulher, ficou em dúvida e a classificou por sua aparência. APMP: E do ponto de vista legal? HSJ: A lei das estatísticas criminais, que é de 1941, estabelece a heteroclassificação como método. É o escrivão de polícia quem atribui a cor do indiciado. Em alguns Estados, como São Paulo, você compra um formulário para tirar o RG e nele consta uma pergunta sobre a cor. É um caso, portanto, de autoclassificação. Mas, do ponto de vista ético e metodológico, a própria ONU recomenda a autoclassificação e não a heteroclassificação. Claro que, na dúvida, o fenótipo da pessoa sempre pesa mais do que qualquer critério genético. APMP: Como está a tolerância da sociedade brasileira com as minorias em geral? HSJ: O Brasil configura uma rica geografia de identidades culturais. Nós temos uma pluralidade religiosa, um Estado laico - pelo menos formalmente - e uma Constituição que atribui ao Estado o dever de proteger a opção religiosa, tanto que, por exemplo, a Lei de Execuções Penais prevê o direito do preso de acesso à assistência religiosa. Temos judeus, budistas, muçulmanos, candomblecistas, as diferentes linhagens das religiões afro-brasileiras e, segundo o último censo, 12 milhões de ateus. Além dos grupos que historicamente enfrentam discriminação com base cultural, racional ou étnica, como os índios e os negros. Eu diria que, nos últimos anos, o Brasil se dispôs a reconhecer a gravidade desse problema. www.apmp.com.br APMP: Mas nem sempre foi assim, certo? HSJ: Não. Durante muito tempo nosso país negou a existência do problema racial e isso foi péssimo. As pessoas entendiam que não falar sobre o assunto ajudaria a resolver a questão, mas isso não acontece. Essa “política do avestruz” varre o problema para debaixo do tapete, mas não o tira de lá. APMP: E a tolerância no âmbito mundial? HSJ: O importante pensador francês, Alan Tourraine, escreveu um texto intitulado “Poderemos Viver Juntos?”, em que aponta a alteridade como principal questão para as democracias contemporâneas ocidentais neste século. A própria globalização econômica impõe uma convivência muito mais estreita e próxima entre as várias culturas e os vários grupos. Portanto, quanto mais a sociedade e a democracia valorizam a diversidade, tanto melhor para os indivíduos e para o funcionamento das instituições. E o Brasil certamente tem tudo para dar exemplo ao mundo de um país multirreligioso, pluricultural e democraticamente estruturado, onde todos possam usufruir das mesmas oportunidades. Na África do Sul, no período do apartheid, uma mulher branca que se casasse com um homem negro passava a ser considerada negra para fins de direito. APMP: Mas o mundo não está cada vez menos tolerante? HSJ: Esse é o paradoxo da sociedade contemporânea. Por um lado, os povos são cada vez mais chamados à convivência cotidianamente estreita. De outro, segundo a ONU, 75% dos conflitos armados em curso no mundo têm alguma motivação de natureza racial, cultural ou religiosa. Muitas vezes você tem conflitos meramente econômicos, nos quais são inseridos componentes de natureza cultural ou religiosa como justificativa. APMP: E qual a saída? HSJ: A colocação de Tourraine, que acredito seja a mais importante da atualidade, é: conviver com a diferença não é somente uma questão econômica ou ética, mas, sobretudo, moral. Precisamos educar nossas próximas gerações de que a fé, a aparência, a estética do indivíduo ou grupo nada tem a ver com atributo moral ou intelectual. Quem é Hédio Silva Júnior Nascido em 1961, na cidade mineira de Três Corações, formou-se em Direito pela Universidade São Judas Tadeu. Atuou como consultor na Secretaria Especial de Políticas e Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República, na UNESCO e no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Doutor em Direito Constitucional e Mestre em Direito Processual Penal pela PUC-SP e diretor-executivo da ONG Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade. Como coordenador da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP, trabalhou para apurar a chacina de moradores de rua em São Paulo e realizou inspeções em hospitais psiquiátricos para verificar as condições de atendimento aos pacientes. Publicou livros sobre a questão racial no Brasil, como “AntiRacismo - Coletânea de Leis Brasileiras (1998) e “Discriminação Racial nas Escolas - Entre a Lei e as Práticas Sociais” (2002). www.apmp.com.br Contraponto APMP: O terrorismo tem dificultado muito essa convivência, não é mesmo? HSJ: Se parte de um grupo religioso utiliza o terrorismo como forma de explicitar seus dilemas, isso não significa que os demais integrantes sejam assim. E, às vezes, um Estado, para se defender, acaba difundindo a idéia de que toda uma religião é terrorista. A luta pela igualdade implica a recusa de qualquer generalização. As pessoas estão despertando cada vez mais para a importância de uma solução pacífica e duradoura, que garanta o respeito recíproco, a valorização de uma cultura de paz e de aceitação das diversidades. APMP: Quando o governador Geraldo Alckmin o escolheu para ocupar a Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania os movimentos ligados à proteção dos direitos humanos se entusiasmaram. Qual a importância das entidades da sociedade civil? HSJ: Eu diria que as organizações da sociedade civil são uma espécie de sal da terra. No momento em que, em várias partes do mundo, as estruturas partidárias são questionadas, principalmente no Brasil, com os fatos recentes envolvendo a utilização de meios escusos para manutenção de filiados ou conquista de apoio dentro do Congresso Nacional, cada vez mais os partidos políticos vão se tornando estruturas institucionais que atuam nos momentos eleitorais. Mas quem atua no cotidiano das pessoas reivindicando direitos, diagnosticando e dando visibilidade a problemas até então no plano oculto são as organizações da sociedade civil. APMP: Que tipo de parceria é possível entre essas entidades e o Estado? HSJ: Tenho conversado com organizações de caráter acadêmico, com as vinculadas a entidades de classe e com as que lidam com temáticas nacionais, como movimento de mulheres, dos homossexuais etc. Com cada uma delas é possível desenhar formas de ação conjunta. Se eu pudesse deixar uma marca do meu curto período de gestão, seria a da parceira com a sociedade civil, cuja criatividade e capital político podem contribuir para a resolução de vários problemas sociais e para a promoção da cidadania. APMP: Uma das áreas sensíveis da sua Secretaria é a Febem e desde sua posse cessaram as rebeliões quase diárias. Qual o segredo? HSJ: Não há segredo. Aproveito para ressaltar o trabalho da Doutora Berenice Gianella, presidente da Febem, bem como a contribuição que integrantes do Ministério Público de São Paulo deram para a Febem nos últimos anos. Esse trabalho acumulado nos leva, hoje, não a uma solução para a Febem, mas a um equacionamento do problema. e o de disciplina. Porque os pais acumulam o trabalho de educador e disciplinador, mas nas nossas unidades houve o entendimento correto de que o educador não deve ocupar o papel da disciplina, até para ampliar a possibilidade de aproximação, de criação de laços de afetividade. APMP: E o que falta para a solução? HSJ: O governador Alckmin tem feito um esforço extraordinariamente grande para que possamos descentralizar as unidades. Isso não é simples. Em algumas cidades do nosso Estado, lamentavelmente, vereadores propuseram leis proibindo a construção de unidades da Febem. Mas o Judiciário tem sido enfático ao reconhecer a inconstitucionalidade dessas normas. APMP: E a prevenção? Qual a fórmula para que os índices de criminalidade infanto-juvenil não continuem crescendo? HSJ: É preciso que a compreensão do problema da violência urbana não fique com foco restrito no crime e no criminoso, no fenômeno da violência, que tem vários fatores, inclusive de natureza econômico-social. Não é pouca coisa o fato de que, nos anos 70, a idade média de um criminoso no Brasil era de 27 anos. Hoje, está perto dos 20 anos. O valor médio do objeto de crime era de cerca de 100 dólares, sendo que hoje está por volta de 10 dólares. São elementos úteis para a compreensão de uma das raízes da criminalidade. Durante muito tempo nosso país negou a existência do problema racial e isso foi péssimo. As pessoas entendiam que não falar sobre o assunto ajudaria a resolver a questão, mas isso não acontece. APMP: A propósito, como avalia a divisão nas unidades da Febem entre as funções de educar e disciplinar? HSJ: Quase todos os educadores em nossas unidades hoje são vinculados à Secretaria de Educação. É importante que o projeto tenha demarcado a figura do agente de educação Uma secretaria de peso APMP: Mas a solução do problema sócio-econômico não passa primordialmente pela esfera federal? HSJ: Sim. Aliás, é lamentável que o presidente da República tenha sido eleito prometendo o primeiro emprego, uma política consistente de inserção do jovem no mercado de trabalho e não tenha feito absolutamente nada nessa área. É preciso uma ação conjugada da União, dos Estados e Municípios para garantir escola e lazer. Em São Paulo temos uma política belíssima comandada pelo Secretário Lars Grael, com a construção de equipamentos públicos de lazer e esporte. É preciso que os meios de comunicação desempenhem, também, um papel importante para que a juventude possa acreditar nela e volte a ter sonhos. A Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania tem como sua principal missão reduzir a distância entre o Estado e a cidadania. Por meio do contato permanente com os diversos órgãos governamentais, organizações e movimentos sociais, busca desenvolver projetos conjuntos para a promoção da cidadania e dos direitos humanos. Exemplo disso são os CICs (Centros de Integração da Cidadania), implantados em áreas periféricas para resolver conflitos e prestar serviços públicos de forma ágil e com a participação da comunidade. Além disso, a Secretaria incentiva a participação da população nas políticas públicas por intermédio do Conselho Estadual de Entorpecentes e do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana. A ela são vinculados o PROCON, o IPEM (Instituto de Pesos e Medidas), o IMESC (Instituto de Medicina Social), a ITESP (Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo), a JUCESP (Junta Comercial do Estado de São Paulo) e a FEBEM (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor). 10 www.apmp.com.br APMP: Temos uma declaração sua à revista “Isto É” (NR: edição de 28/9/05) de que imperava no Poder Judiciário e no Ministério Público uma “cultura da internação”, que atingia inclusive adolescentes acusados de crimes mais leves. Mas os promotores da infância e juventude afirmam que só estão pedindo internação apenas em crimes como roubo, homicídio, extorsão mediante seqüestro, estupro etc. A Secretaria ou a Febem já desenvolveu algum estudo para verificar o percentual de jovens que não praticaram infrações graves e estão internados? HSJ: Nós estamos realizando agora esse mapeamento, para que saibamos o impacto dos atos infracionais leves nas internações. Às vezes o jornalista edita uma frase do entrevistado que permite uma interpretação equivoca- www.apmp.com.br 11 Contraponto da. O que eu disse foi que parte do Ministério Público e do Judiciário tinha essa cultura de internação. Mas a questão não se resume a esses protagonistas. APMP: Como assim? HSJ: A advocacia também tem um papel a desempenhar, assim como nós, do Poder Executivo. Sem falar do Município, cujo a função de viabilizar a execução de medidas sócio–educativas alternativas à internação é importantíssima. Não é matéria que admita uma visão simplista e nem que se resolva com julgamentos e acusações de um ou outro setor. A questão é complexa e demanda um esforço de todos. Quanto mais pudermos apostar e investir em formas alternativas de medidas sócio-educativas e reservar a internação para aqueles casos mais graves, maior a probabilidade de recuperação e reintegração dos nossos jovens em conflito com a lei. APMP: Voltando à questão da discriminação racial, a que pode ser atribuído o reduzido número de juízes e promotores negros no Estado de São Paulo? HSJ: A um conjunto de fatores. Até os anos 50, a cidade de São Paulo ainda tinha instituições de ensino fundamental com normas explícitas de impedimento de ingresso de crianças negras. Então, há um ponto de partida desigual. Ainda hoje o número de estudantes negros nos cursos de Direito nas universidades públicas é absolutamente desproporcional e inferior ao número de negros na população do nosso país. Depois, vencido o problema do ingresso, tem a questão da permanência no ensino superior, que envolve custos com livros, alimentação, deslocamento. Quanto maior o número de negros nos cursos de excelência, maior será o número dos que estarão em condições de enfrentar os processos seletivos do Poder Judiciário e do Ministério Público. APMP: Mas há algum tipo de discriminação no seio dessas Instituições? HSJ: Sem me referir especificamente ao Ministério Público ou ao Judiciário, é preciso que as instituições jurídicas também façam um esforço para eliminar qualquer tipo de barreiras informais que possam prejudicar esse acesso. Mais do que isso, quem sabe essas instituições possam pensar numa forma de impulsionar o ingresso de negros tanto no MP, quanto no Judiciário. O Brasil e a sociedade só ganhariam com isso. APMP: E chegamos à questão das ações afirmativas... HSJ: Algumas pessoas se perguntam sobre o porquê dessas medidas de ação afirmativa, como se fosse uma invenção norte-americana. O Brasil tem política de cotas desde a década de 30, quando o governo 12 www.apmp.com.br Getúlio introduziu na CLT a chamada lei da nacionalização do trabalho, por meio da qual se estabeleceu que dois terços dos trabalhadores de qualquer empresa em atividade no Brasil deveriam ser nacionais. Essa norma vigora até hoje. APMP: Poderia nos dar outros exemplos? HSJ: Em 1968 o Brasil adotou a “Lei do Boi”, que não está mais em vigor. Ela previa que, em qualquer curso ligado à agronomia e agricultura, deveria ser reservada uma cota para filhos de agricultores e produtores rurais. Então, dizer que a ação afirmativa é uma invenção norte-americana é um desconhecimento da realidade brasileira, inclusive da história do sistema jurídico brasileiro. Hoje há medidas desse tipo em relação às mulheres candidatas a cargos eletivos e aos portadores de deficiências. Segundo a ONU, 75% dos conflitos armados em curso no mundo têm alguma motivação de natureza racial, cultural ou religiosa. Muitas vezes você tem conflitos meramente econômicos, nos quais são inseridos componentes de natureza cultural ou religiosa como justificativa. brasileiros continua insistindo em negar o óbvio. Por isso, quanto mais falarmos sobre esse assunto, maior será a conscientização. Feliz o país em que os jovens querem estudar. Que bom que nossos jovens negros querem estudar e não traficar. Ou isso não é bom para o Brasil? É paradoxal que haja ainda tanta resistência. Qualquer pessoa que ingressa na universidade e não “dá conta”, o próprio sistema vai se encarregar de excluir. Mas vamos parar com essa história de que vestibular mede competência. Competência é disponibilidade para aprender e retornar para a sociedade o que foi aprendido na Academia. APMP: Com relação às políticas afirmativas, poderia falar sobre as mais comuns, ou seja, o sistema de cotas e o da pontuação acrescida? HSJ: No sistema de cotas há a reserva de um percentual de vagas para negros ou outro tipo de minoria, como faz a Universidade Federal de São Paulo. O sistema de pontuação acrescida será adotado no próximo vestibular das FATECs paulistas. Neste caso, o aluno procedente de escola pública terá um acréscimo de 8% na nota final obtida no exame vestibular. Se ele vier da escola pública e for negro, o adicional será de 10%. Com a pontuação acrescida, não existe a reserva de números de vagas, mas impulsiona o ingresso de alunos negros. APMP: Em que outras áreas são importantes as ações afirmativas? HSJ: É possível uma ação afirmativa no campo processual, com a inversão do ônus da prova em favor do discriminado no caso das ações de natureza civil. Também a concessão de incentivos públicos a empresas que adotem a política de ação afirmativa. Por exemplo, reivindicamos que a Lei das Abdias do Nascimento Ativista do movimento negro, professor, artista plástico, escritor, poeta, dramaturgo, foi senador e Secretário de Estado no Rio de Janeiro. Professor emérito da Universidade do Estado de Nova Iorque, professor visitante na Universidade de Yale e no Departamento de Línguas e Literatura da Universidade de Ifé, na Nigéria. Fundou em 1944 o Teatro Experimental do Negro no Rio de Janeiro. É autor de mais de uma dezena de publicações sobre racismo, peças teatrais e religiosidade de matriz africana. Ao discursar na posse do Secretário Hédio Silva Júnior, o senador Abdias do Nascimento, aos seus 91 anos, pediu licença e inspiração dos Orixás para orientar a sua fala. Ressaltou a importância do momento histórico possibilitado pelo governador Geraldo Alckmin e os merecimentos do novo Secretário. APMP: Por que é tão difícil implementar ações afirmativas no Brasil? HSJ: Eu não consigo identificar um único argumento de natureza ética ou jurídica contra essas políticas. Um freqüente é o seguinte: recrutamento para universidade, somente com base no mérito. Mas não há correspondência entre vestibular e sala de aula. Aliás, nunca houve. Muitas instituições de ensino adotam a lista de chamadas. Ora, quem entrou na quarta chamada não poderia ter, dentro desse raciocínio, o mesmo desempenho de quem entrou na primeira chamada. Portanto, não existe argumento consistente contra as políticas de ação afirmativa. APMP: Não haveria relação com a relutância da sociedade de admitir claramente que existe racismo no Brasil? HSJ: Com certeza. Uma parcela cada vez menor dos www.apmp.com.br 13 Contraponto Licitações preveja que o empate entre mais de um concorrente não se resolva por meio de sorteio, mas em favor da empresa que tenha o maior número de negros. Os instrumentos são muitos. APMP: Mas a maioria das pessoas liga a ação afirmativa apenas ao sistema de cotas ... HSJ: Por isso a pergunta é oportuna. Para lembrar que cota é um dos instrumentos para a política de promoção de igualdade. Significa que o poder público deve ter o papel ativo de promover a igualdade e não só o papel passivo de não discriminar. Antes acreditávamos que se o poder público não discriminasse, todas as pessoas iriam usufruir a igualdade. Hoje não. Hoje dizemos que o Estado tem que promover. Daí a ação ser afirmativa, positiva. APMP: Que lições a sociedade brasileira tira da recente condenação dos policiais militares que assassinaram o dentista Flávio Santana em 3 de fevereiro do ano passado? HSJ: Na época eu era o presidente da comissão de direitos humanos e fui acompanhar a família na entrevista com o governador Geraldo Alckmin. E como interlocutor da OAB eu registrei o trabalho exemplar da Corregedoria da Polícia Militar, que investigou e prendeu os homicidas em poucas horas. APMP: Como está a visão das polícias no que tange à discriminação? HSJ: Tão ou mais importante que o trabalho repressivo é o preventivo. Treinar os policiais para que não reproduzam nas ruas os preconceitos e estereótipos aprendidos socialmente. Tenho orgulho de dizer que neste mês de novembro São Paulo terá um programa de vanguarda na área policial, com a inserção da disciplina “Tutela Penal da Igualdade”. Ela dará ênfase à discriminação racial, mas contemplará também outras modalidades de discriminação, como a intolerância religiosa. APMP: Isso ocorrerá tanto na Polícia Civil quanto na Militar? HSJ: Sim. Os policiais de todas as carreiras e patentes terão 45 horas de reflexão sobre esse tema, que exige que as instituições façam mais do que reconhecer a existência do problema. O desafio é responder: o que fazer para evitar que o profissional reproduza, na instituição, aquilo de ruim que ainda se aprende no Brasil? APMP: Voltando ao dentista Flávio... se ele, além de negro, fosse pobre, o episódio teria tomado o mesmo rumo? 14 www.apmp.com.br HSJ: Muitas vezes, mortes envolvendo jovens pobres da periferia, negros ou não, acabam não ganhando da mídia a mesma repercussão. É um paradoxo, como se a vida tivesse gradação de valor. Acho que no caso do Flávio houve a combinação de alguns fatores para a indignação social. Um garoto de classe média baixa, cujo pai é policial militar aposentado e que não aceitou a história apresentada. Nada vai compensar a família da perda de uma vida, mas o caso do Flávio foi realmente emblemático. nossos são questionados. Gostaríamos do seu comentário a respeito. HSJ: Esse diálogo com a sociedade apenas enriquece a instituição. É o chamado do novo século, o chamado do diálogo, da parceria, da interação. Tanto a sociedade tem criatividade e conhecimento que enriquecem a formação do profissional, quanto o MP, em sua forma de atuar e defender a lei, tem também uma contribuição a dar para o aprendizado das organizações da sociedade civil. Acho uma iniciativa da maior importância e reflete bem a sin- promotor na colheita de provas na fase pré-judicial? HSJ: Entendo conveniente, para o bem da sociedade brasileira e do próprio MP, que a polícia continue, como previsto na Constituição, sendo a condutora, a coordenadora do procedimento investigatório. Dentro dessas limitações estabelecidas pela Constituição, tudo aquilo que o MP puder fazer para enriquecer o trabalho da polícia e agregar valor ao processo, é bom para a sociedade. São muitos os casos emblemáticos do MP estadual e federal na luta contra a criminalidade. tonia que a atual diretoria da APMP tem com o que há de mais moderno no pensamento político dos nossos dias. APMP: Por fim, qual personalidade negra lhe serviu de exemplo? HJS: Algumas pessoas tiveram importância. Posso citar o presidente Nelson Mandela, o Dr. Martin Luther King Jr., Agostinho Neto, importante liderança angolana na luta pela independência dos países angolanos e africanos, e Samora Machel. No Brasil, certamente destacaria Abdias do Nascimento. Ele foi e é para minha geração uma figura ímpar, exemplo de determinação, entrega, integridade pessoal e política. Mestre de todos nós. É minha leitura de cabeceira, tenho quase toda a sua obra e estou sempre bebendo da fonte. Nos anos 70, a idade média de um criminoso no Brasil era de 27 anos. Hoje, está perto dos 20 anos. O valor médio do objeto de crime era de cerca de 100 dólares, sendo que hoje está por volta de 10 dólares. São elementos úteis para a compreensão de uma das raízes da criminalidade. APMP: O MP de São Paulo tem sido um bom defensor dos direitos das minorias? HSJ: Não tenho dúvidas. Tenho visto o esforço do MP de diálogo com a sociedade, com entidades de direitos humanos e com o movimento negro, bem como o uso da ação civil pública pelo MP para garantir programas sociais previstos em lei e que certas esferas de governo não levam a sério na prática. Muitas vezes o leigo confunde a figura do promotor de justiça com o promotor de acusação. Promotor de Justiça, como o próprio nome diz, tem o papel de garantir a aplicação da lei. Por tudo isso, tenho muito orgulho da relação que mantenho com o Procurador-Geral, Dr. Rodrigo, com o Dr. Garreta e demais membros da instituição. APMP: A APMP lançou recentemente a campanha “O Ministério Público precisa de você!”, lembrando a sociedade de que somos os defensores de seus direitos e pedindo apoio quando alguns instrumentos APMP: Um dos questionamentos à nossa atuação diz respeito à investigação na esfera penal. Poderia também comentar o assunto? HSJ: Não tenho dúvida da necessidade da participação ativa do MP na investigação, inclusive na fase do inquérito policial, até pelo fato de caber ao MP o controle externo da atividade policial. APMP: De que forma deve se dar a participação do www.apmp.com.br 15 Maxima Venia 1. Introdução Contribuição de nossos associados para a Sociedade A Revista APMP em Reflexão abre espaço para os seus associados divulgarem artigos de interesse da comunidade e com isso aproximar nossa Instituição do destinatário final de nossas ações: o cidadão. As condições para a publicação estão disponíveis na página: www.apmp.com.br/apmpemreflexao/maximavenia. Colabore e escreva para: [email protected], com sugestões de matérias ou artigos. A Os artigos da seção Maxima Venia são assinados, não refletindo necessariamente a opinião do Conselho Editorial da Revista APMP em Reflexão 16 www.apmp.com.br circulação como interesse difuso passível de tutela pelo Ministério Público Cláudia Maria Beré Promotora de Justiça de Habitação e Urbanismo Mestranda pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP A circulação de pedestres e veículos é uma das funções urbanas que vem, a cada ano, ganhando maior relevo, seja pela magnitude da frota de veículos (4.900.000, somente na cidade de São Paulo), seja pelo número de acidentes de trânsito (17.218 acidentes com vítimas em São Paulo, em 2002), seja pela importância dos deslocamentos na rotina das pessoas. Por tal motivo, o Ministério Público tem sido instado a atuar em questões relacionadas à circulação. Essa atuação se justifica em função de ser a circulação componente da ordem urbanística e deve visar a garantia da livre circulação de pedestres e veículos e da segurança do trânsito. Propõe-se, em razão da natureza metaindividual do interesse ou direito à circulação, a atuação do Ministério Público, pela Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo, mediante a abertura de inquérito civil e a propositura de ação civil pública. O trânsito e o transporte têm se revelado como grandes mazelas urbanas. Não importa se o deslocamento das pessoas é feito a pé, de bicicleta, motocicleta, automóvel, ônibus ou metrô: todos enfrentam dificuldades, que vão de calçadas mal conservadas, com buracos e obstáculos, vias esburacadas, congestionamentos e falta de segurança a transporte coletivo de má-qualidade, lotado, caro. O Anuário Estatístico de Acidentes de Trânsito, divulgado pelo DENATRAN, revela que, no ano de 2002, somente na cidade de São Paulo - que, à épo- ca, tinha uma população de 10.600.060 habitantes, - ocorreram 17.218 acidentes de trânsito com vítimas, das quais 1.137 foram vítimas fatais e 24.599 não fatais. A pesquisa denominada Impactos Sociais e Econômicos dos Acidentes de Trânsito nas Aglomerações Urbanas, realizada em maio de 2003, pelo IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, menciona que os acidentes de trânsito trazem custos econômicos, além de dor, sofrimento e perda da qualidade de vida para vítimas, familiares e sociedade. E, dentre os custos econômicos, podem ser mencionados perda de produção, danos aos veículos, despesas médico-hospitalares, processos judiciais, congestionamento, custo previdenciário, resgate de vítimas, remoção de veículos, danos ao mobiliário urbano e propriedade de terceiros, danos à sinalização de trânsito, atendimento policial e de agentes de trânsito. Logo, é evidente a abrangência do interesse pela circulação urbana, questão que, de um modo ou de outro, afeta indistintamente todos os moradores da cidade. E o reflexo das questões relativas à circulação sobre a qualidade de vida das pessoas tem feito com que, muitas vezes, cheguem ao Ministério Público representações ligadas a esse assunto. Importa, pois, justificar a atuação ministerial quanto às questões referentes à circulação. A Constituição Federal de 1988, de modo inovador, consagrou um capítulo à política urbana. Esse capítulo, composto pelos artigos 182 e 183, estabelece que a política de desenvolvimento urbano tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. Prevê, ainda, a edição de leis municipais contendo o plano diretor e a edição de lei federal que disponha sobre parcelamento ou edificação compulsórios, IPTU progressivo e desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública. O capítulo se encerra com a previsão de usucapião especial urbano e concessão de uso. A lei federal prevista nas disposições constitucionais sobre política urbana somente foi aprovada em 2001. Trata-se da Lei Federal nº 10.257, de 10/07/2001, conhecida como Estatuto da Cidade, que regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Ao arrolar as diretrizes gerais da política urbana, o Estatuto da Cidade, em seu artigo 2º, inciso I, menciona a “garantia do direito a cidades susten- www.apmp.com.br 17 Maxima Venia táveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações.” Verifica-se, pois, que a circulação não é mencionada expressamente como integrante da cidade sustentável. É certo que o dispositivo legal transcrito acima menciona o transporte, porém circulação e transporte não são sinônimos. De acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, circulação é a movimentação contínua de pessoas ou coisas, fluxo, curso, marcha, deslocamento. Para o mesmo dicionário, transporte é o ato ou efeito de transportar; transportação, veículo que serve para transpor. Ora, tendo em vista que o Estatuto da Cidade não faz expressa menção à circulação, embora esta seja uma das funções primordiais da cidade, o presente trabalho se propõe a fundamentar a atuação do Ministério Público nas questões relacionadas à circulação e exemplificar casos em que essa atuação é cabível. 2. Ordem urbanística A Lei Federal nº 10.257/01, em seu art. 53, alterou o art. 1º, da Lei Federal nº 7.347/85, para expressamente incluir, entre os interesses protegidos pela Lei da Ação Civil Pública, a ordem urbanística. Importa, pois, discutir o conteúdo da expressão “ordem urbanística”. Antes mesmo da edição do Estatuto da Cidade, a doutrina já se preocupava em definir o âmbito do urbanismo e do Direito Urbanístico. José Afonso da Silva entendia que “o urbanismo Tão importante tornou-se o trânsito para a vida nacional que passou a ser instituído um novo direito, ou seja, a garantia a um trânsito seguro. 18 www.apmp.com.br é uma ciência, uma técnica e uma arte ao mesmo tempo, cujo objetivo é a organização do espaço urbano, visando o bem-estar coletivo – através de uma legislação, de um planejamento e da execução de obras públicas que permitam o desempenho harmônico e progressivo das funções urbanas elementares: habitação, trabalho, recreação do corpo e do espírito, circulação no espaço urbano”. Com a entrada em vigor da Lei nº 10.257/01, a doutrina passa a se preocupar com a explicitação das expressões nela utilizadas, tais como “funções sociais da cidade”, “cidades sustentáveis” e “ordem urbanística”. Ao comentar o artigo 2º do Estatuto da Cidade, Odete Medauar sustenta que tal dispositivo “fixa como objetivo da política urbana o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana. Nas funções sociais da cidade se entrevê a cidade como locus não somente geográfico e de mera reunião de pessoas, mas como o espaço destinado à habitação, ao trabalho, à circulação, ao lazer, à integração entre os seres humanos, ao crescimento educacional e cultural”. Lembrando a lição de José Afonso da Silva transcrita acima, José Carlos de Freitas observa que, desde a edição da Carta de Atenas, em 1933, o urbanismo caracteriza-se por quatro funções vitais: habitação, trabalho, circulação no espaço urbano e recreação do corpo e do espírito e em seguida acrescenta que “ainda que se conteste a atualidade dessa premissa, cumpre anotar que a Lei 10.257 incorporou expressamente as funções moradia, trabalho e lazer ao definir o direito a cidades sustentáveis (art. 2º, I). A circulação, função que se exerce nas vias públicas, praças, parques, áreas verdes e de lazer (no meio circulante), aparece nos dispositivos que tratam das diretrizes da política urbana, quando essa lei faz alusão a infra-estrutura, transporte, equipamentos urbanos e comunitários (art. 2º, I, V, VI, “c” e “d”) e aos elementos condicionantes do estudo de impacto de vizinhança (art. 37, II e V).” Para Carlos Ari Sundfeld, “ordem urbanística é um conceito caro ao Estatuto da Cidade. Seu primeiro sentido é o de ordenamento: a ordem urbanística é o conjunto orgânico de imposições vinculantes (são as ‘normas de ordem pública’ a que alude o art. 1º, parágrafo único) que condicionam positiva e negativamente a ação individual na cidade. O segundo sentido é o de estado: a ordem urbanística é um estado de equilíbrio, que o conjunto de agentes envolvidos é obrigado a buscar e preservar. Ao assentar suas diretrizes gerais, o Estatuto expressa a convicção de que, nas cidades, o equilíbrio é possível – e por isso necessário. Deve-se buscar o equilíbrio das várias funções entre si (moradia, trabalho, lazer, circulação etc)”. Verifica-se, pois, que para todos os autores mencionados a circulação, bem como habitação, trabalho e recreação, integram a ordem urbanística. 3. Circulação e trânsito Ao tratar da liberdade da pessoa física e da liberdade de locomoção, José Afonso da Silva destaca que a Constituição Federal de 1988 reservou a ela um dispositivo, o art. 5º, XV, que declara livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens. Em seguida, o festejado autor acrescenta que “direito à circulação é manifestação característica da liberdade de locomoção: direito de ir, vir, ficar, parar, estacionar. O direito de circular (ou liberdade de circulação) consiste na faculdade de deslocar-se de um ponto a outro através de uma via pública ou afetada ao uso público”. Segundo Toshio Mukai, “uma das funções básicas do urbanismo é permitir a circulação de pessoas e semoventes em condições harmoniosas e adequadas, devendo a ordenação do território atender a tal desiderato. Por essa razão, num estudo geral sobre urbanismo, no Brasil, não podemos deixar de examinar a questão do tráfego, trânsito e sistema viário, bem como a dos transportes urbanos, posto que as legislações correspondentes, em aspectos pontuais, influem no urbanismo”. A circulação é um dos componentes do conceito de trânsito estabelecido pelo art. 1º, § 1º, do Código de Trânsito Brasileiro: “considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga”. Cumpre destacar que o § 2º, do mesmo dispositivo legal, estabelece que “o trânsito, em condições seguras, é um direito de todos e dever dos órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito, a estes cabendo, no âmbito das respectivas competências, adotar as medidas destinadas a assegurar esse direito”. Ademais, os órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito respondem, no âmbito das respectivas competências, objetivamente, por danos causados aos cidadãos em virtude de ação, omissão ou erro na execução e manutenção de programas, projetos e serviços que garantam o exercício do direito do trânsito seguro, nos temos do § 3º, do dispositivo legal já citado. Para Arnaldo Rizzardo, “tão importante tornouse o trânsito para a vida nacional que passou a ser instituído um novo direito, ou seja, a garantia a um trânsito seguro. Dentre os direitos fundamentais, como a própria vida, a cidadania, a soberania, a saúde, a liberdade, a moradia e tantos outros, proclamados no art. 5º da Constituição Federal, está o direito ao trânsito seguro, regular, organizado, planejado, não apenas no pertinente à defesa da vida e www.apmp.com.br 19 Maxima Venia da incolumidade física, mas também relativamente à regularidade do próprio trafegar, de modo a facilitar a condução dos veículos e a locomoção das pessoas”. Ora, tendo em vista que a circulação integra o conceito de trânsito, e que o trânsito seguro é um direito de todos, constitui a circulação um direito difuso. 20 www.apmp.com.br 4. A ordem urbanística e a circulação como direitos difusos tutelados pela ação civil pública Como visto acima, o bom desempenho das funções urbanas constitui um direito difuso. Vale aqui citar as definições dadas pela Lei Federal nº 8.078/90, o Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 81, parágrafo único: “A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I – interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; II – interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; III – interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.”. E no artigo 82, o mesmo diploma legal reza que: “Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente: I – o Ministério Público (...);”. Por fim, o art. 117 do já citado diploma alterou o art. 21 da Lei da Ação Civil Pública, dando-lhe a seguinte redação: “Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que for cabível, os dispositivos do Título III da lei que institui o Código de Defesa do Consumidor”. Ora, a ordem urbanística trata-se de direito de natureza indivisível, de que são titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato – todas as pessoas que habitem, trabalhem, circulem ou tenham sua recreação na cidade. Logo, constitui a ordem urbanística um direito difuso. Este o entendimento de Celso Antonio Pacheco Fiorillo: “Os artigos 53 e 54 do Estatuto da Cidade são os mais importantes dispositivos da lei que organiza o Meio Ambiente Artificial em nosso país na medida em que demonstram a natureza jurídica dos bens tutelados pela Lei 10.257/2001 como prepon- derantemente de direito material constitucional coletivo e, no plano dos subsistemas jurídicos que se harmonizam com o comando constitucional, de direitos materiais metaindividuais. Destarte, a tutela material e processual dos direitos apontados no Estatuto da Cidade não se esgota em face dos direitos materiais individuais; ao contrário, é na verificação dos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos que se estabelece a importante contribuição de um Estatuto Normativo do século XXI. A inclusão do meio ambiente 1. A artificial como novo inciso vinculado habit ordem u r ação ao caput do art. 1º da Lei 7.347/85, , no t banística 2 r pod a . b T através de nova estrutura jurídica nístic endo em alho, na r e ser ent ecrea e a, v denominada “ordem urbanística”, ção e ndida com urban poderá a ista que a n oao í a cir s circ circ tica revela a clara opção do legislador 3. Se , através ulação re ulação in culação. rdem na de situar o Estatuto da Cidade ce ndo a t da aç legiti ão ci ber a me egra a or o r m d e i d sma enquanto diploma vinculado aos em s dade do M m urban vil públic tutel em urbaua de ística a. i a n i da or denominados “direitos difusos s tério dem 4. Na fesa. Públi interesse co pa defes e coletivos”, expressão criada difus derá a r o a , do in ajuiz pela Constituição Federal de ar aç inequívoc asseg staurar in direito de ã o quéri urar a civil p a a to civ circulaçã 1988 no art. 129, III”. do tr l i úblic v r e o i l ânsit ,oM circu ou aj a o. i l n u a O E. Tribunal de Justiistéri ção d izar a 5. É a o e ç ã P pede trib ça do Estado de São Paunism stres o civil pú úblico po o a tu uição da b e l i v ca vis e Pr ículo tela d lo, em ação civil pública ando sea as qu omotoria segur d estõe versando sobre questão ança s rela e Justiça d c e Hab ionad atinente ao direito de i as à circu tação e U circulação, reconhelação rba. ceu que houve violação a interesses transindividuais, de natureza indivisível, afetos à coletividade: pelo “AÇÃO CIVIL PÚBLICA – Decreto de procedên- E. Superior cia parcial – Irresignação fundada na fragilidade do Tribunal de Justiça. contexto probatório – Inocorrência – ManifestaSe tomarmos como exemplo a cição de protesto de entidade sindical, cujo irregular dade de São Paulo, podemos verificar que, segunexercício consubstanciou ato lesivo aos interesses do informação veiculada no site da Companhia de difusos – “...não se presta a atividade social a que Engenharia de Tráfego - CET: “atualmente a cidade se destina uma entidade de classe, em sobrepujar a de São Paulo, uma das quatro maiores metrópoles norma fundamental de toda a sociedade civilizada do mundo, conta com aproximadamente 14.600 quanto ao dever de não prejudicar a outrem, mor- km de vias, uma frota de veículos cadastrados de mente quando ao exercitar-se um direito subjetivo, 4.900.000 e uma população de 10 milhões de hasua exorbitância atinge danosamente os interesses bitantes”. Ora, tais dados demonstram nitidamente transindividuais, de natureza indivisível, afetos à que a circulação é uma questão urbana de grande coletividade” – Pedido alternativo de minoração da relevância para pessoas indeterminadas: habitancondenação – Admissibilidade – Valor abstrato que, tes da cidade, usuários de automóveis, usuários das sem embargo da preservação dos bens jurídicos le- vias públicas, aí compreendidos pedestres, ciclistas sados, traduz importância exacerbada que compor- e usuários de transportes coletivos como ônibus, lota minoração – Recurso parcialmente provido para tações e táxis. esse fim. (Apelação Cível nº 89.785-4/7, relator E sendo a ordem urbanística interesse difuso, Des. Leite Cintra)” inequívoca a legitimidade do Ministério Público É de se ressaltar que a decisão supra foi confirmada para ajuizar ação civil pública em sua defesa. Propo s (apro vadas ições Cong da em p r l esso do tese enári MP d o no III e São Paulo ) www.apmp.com.br 21 Maxima Venia 5. Atuação do Ministério Público na defesa do direito de circulação Assim, na defesa da ordem urbanística e para tutelar o direito de circulação, o Ministério Público poderá atuar em inúmeros assuntos. Na Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo da Capital, já foram instauradas investigações versando sobre os seguintes temas relativos à circulação: 22 www.apmp.com.br • comércio ambulante: a instalação indiscriminada de ambulantes, os denominados “camelôs”, sobre calçadas, calçadões e mesmo sobre o leito carroçável das ruas prejudica a circulação de pedestres e de veículos, função primordial daqueles espaços públicos, razão pela qual é necessária a ordenação daquela atividade. Na cidade de São Paulo, existe lei municipal regulamentando a matéria e, para o exercício da atividade pelo ambulante, ele deve possuir um Termo de Permissão de Uso. Já houve ação civil pública sobre o tema; • autorização de utilização de via pública: a realização de obras e eventos que possam perturbar ou interromper o trânsito de veículos e pedestres depende de autorização do órgão de trânsito, nos termos do art. 95 do Código de Trânsito Brasileiro. Como tais eventos muitas vezes não são precedidos de autorização ou, por vezes, ainda que autorizados causam prejuízo à circulação, o Ministério Público tem recebido representações contra “shows”, “trios-elétricos” e outros eventos, como a “Marcha Para Jesus”, sendo necessário conciliar o interesse dos participantes dos eventos com a necessidade de circulação da população; • bolsão residencial, fechamento de rua, fechamento de calçada – o grave problema de segurança pública que assola o país tem levado a população a reivindicar o fechamento de vias para controle da circulação de pessoas. Tais fechamentos, contudo, prejudicam o direito de circulação dos não moradores e, não raro, vigias e porteiros de espaços públicos cujo fechamento tenha sido autorizado acabam por exigir identificação de cidadãos para circular por um espaço que é público. Isso quando não impedem totalmente essa circulação. O fechamento deve ser autorizado com base em lei municipal, a qual não pode, contudo, violar dispositivos constitucionais. É necessário também conter prejuízos à circulação. Já foram ajuizadas ações civis públicas sobre o tema; • manifestação / passeata / paralisação do trânsito em razão de greve: o direito constitucional de reunião e manifestação está previsto no art. 5º, XVI, da Constituição Federal, que, no entanto, exige o prévio aviso à autoridade competente. Várias manifestações têm ocorrido sem tal aviso, em dias úteis, causando graves transtornos à circulação de veículos, razão pela qual foram ajuizadas ações civis públicas visando à reparação de danos, bem como as entidades que promovem tais manifestações vêm sendo instadas a proceder à comunicação prévia para que haja divulgação da data e horário do evento, possibilitando o estabelecimento de medidas que possam mitigar o impacto ao trânsito; • pedágios: a Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo já instaurou investigações versando sobre a possível implantação de pedágio urbano em São Paulo, que acabou não ocorrendo, bem como sobre pedágios existentes em rodovias, mas dentro de área urbana; • lombadas: o art. 94, parágrafo único, do Código de Trânsito Brasileiro, proíbe a utilização de ondulações transversais e de sonorizadores como redutores de velocidade, salvo em casos especiais definidos pelo órgão ou entidade competente, nos padrões e critérios estabelecidos em Resolução do CONTRAN. É notória a existência, em diversos locais, de lombadas fora de padrão antigas ou, mesmo, clandestinas, razão pela qual o Ministério Público tem procurado exigir dos municípios a adequação das lombadas aos padrões oficiais. Já houve ação civil pública sobre o tema; • sinalização de trânsito: a Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo já apurou a colocação de sinalização horizontal de trânsito, como prismas, picolés, vasos e floreiras, visando verificar sua adequação às disposições do Código de Trânsito Brasileiro; • mudança do sentido de fluxo: reclamações contra a mudança do sentido de fluxo têm sido dirigidas ao Ministério Público, por vezes acompanhadas de alegações de favorecimento a determinados moradores do local atingido. As autoridades responsáveis pela alteração têm sido instadas a apresentar as justificativas técnicas para a modificação; • atropelamentos: a Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo da Capital instaurou inquérito civil para apurar os locais com maior número de atropelamentos e as medidas adotadas para evitá-los. Há também reclamações acerca de atropelamentos ligados a obras em calçadas, obrigando pedestres a andar pela rua, bem como atropelamentos nos recém-implantados corredores de ônibus; • passarelas: sobre este assunto, há casos relacionados à má-conservação de passarelas ou a sua implantação para evitar atropelamentos em locais perigosos. Embora o Ministério Público não possa exigir a realização de obras que estejam no poder discricionário do Administrador, poderá exigir a adoção de medidas que favoreçam a segurança dos pedestres; • tráfego de caminhões: são freqüentes as reclamações contra o tráfego de veículos pesados em vias inadequadas a tal fim, devendo a au- toridade de trânsito se manifestar sobre a viabilidade ou não de tal tráfego, bem como sinalizar a via e fiscalizar o cumprimento de suas determinações; • tráfego de ciclistas: chegou à Promotoria reclamação contra o tráfego de grupos de ciclistas pelo campus da USP, intimidando motoristas e provocando danos em veículos; • painéis televisivos: foi instaurada investigação para apurar riscos de acidentes com veículos em função da distração que os painéis televisivos podem provocar no motorista, tendo sido ajuizada ação civil pública; • fiscalização de trânsito: há inquérito civil em andamento acerca da fiscalização de trânsito no campus da USP; • calçadas, pavimentação e buracos nas vias públicas: várias são as representações versando sobre má conservação de calçadas e vias ou inexistência de pavimentação, incumbindo ao Ministério Público zelar pela segurança de pedestres e motoristas, sem esquecer a discricionariedade na realização de determinadas obras; • ponto irregular de táxi: moradores denunciam a existência de pontos de táxi irregulares, prejudicando a possibilidade de estacionamento na via. A autoridade competente deve ser instada a regularizar ou coibir o uso. A análise dos casos mencionados acima demonstra a amplitude de assuntos que podem ser objeto de investigação quanto ao tema circulação, sendo possível verificar que a atuação do Ministério Público visa a assegurar: a) a livre circulação de pedestres e veículos; b) a segurança do trânsito. A ordem urbanística tratase de direito de natureza indivisível, de que são titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato – todas as pessoas que habitem, trabalhem, circulem ou tenham sua recreação na cidade. www.apmp.com.br 23 MP em Foco X Futuro do MP Arrumando a casa Uma queixa recorrente de promotores e procuradores de justiça é a de que, em sua Promotoria ou Procuradoria, alguns integrantes trabalham mais do que outros. Isso não quer dizer que aqueles trabalhem melhor do que estes. Não se trata de análise da qualidade do serviço. Os reclamos dizem respeito à quantidade, ou seja, alguns têm mais processos ou atribuições do que outros. De fato, em diversas Promotorias há desequilíbrio na distribuição de serviço, que com o passar do tempo vem se aprofundando, em decorrência de diversos fatores, alguns de longa data. Depois da Lei da Ação Civil Pública (1985) e da promulgação da Constituição de 1988, a defesa dos interesses difusos e coletivos ganhou grande MP do Futuro Discussão sobre fatos que repercutirão nos rumos de nossa Instituição. Depois da Lei da Ação Civil Pública (1985) e da promulgação da Constituição de 1988, a defesa dos interesses difusos e coletivos ganhou grande destaque dentro da Instituição. Isso, porém, não repercutiu imediatamente e vários anos decorreram até que viesse o natural aumento do número de inquéritos civis e ações civis públicas. destaque dentro da Instituição. Isso, porém, não repercutiu imediatamente e vários anos decorreram até que viesse o natural aumento do número de inquéritos civis e ações civis públicas. Como conseqüência, promotores com atribuição na área da cidadania, meio ambiente, consumidor, habitação e urbanismo etc. viram paulatinamente a multiplicação de seus afazeres chegar, em determinados casos, a níveis insuportáveis. Por outro lado, com a chegada, embora tar- 26 www.apmp.com.br dia, da racionalização do exercício funcional no chamado “cível tradicional”, os que oficiam nessa área experimentaram um sensível desafogo no volume de feitos. Também contribuíram para o mencionado desequilíbrio alguns fatores eventuais, como medidas administrativas dos Poderes Executivo e Judiciário, além de alterações legislativas como a Lei nº. 9.099/95 e o Estatuto do Desarmamento. O resultado dessas distorções é a natural perda de eficiência da Instituição. Há alternativas para solucionar o problema. Uma delas está na equação criação/desnomenclaturação de cargos. Mas esse é o tema de nossa próxima conversa. A opção que vem sendo utilizada mais amiúde é a de dividir aritmeticamente o número de feitos, mediante a distribuição por “finais” de processos. Já falamos sobre esse caminho na edição nº. 7 (págs. 18/19), mas não custa repetir a advertência ali lançada: “A simplicidade da solução esconde um fato preocupante: esse modelo impede que o promotor seja, na prática, um agente político”. Pesados os prós e contras, não há outra conclusão possível: a questão somente será equacionada com a redistribuição equânime do serviço. Entretanto, essa solução, inegavelmente a melhor, acarreta dois outros problemas, ainda mais difíceis de resolver: como mensurar o desequilíbrio e o desejado equilíbrio? Como viabilizar politicamente a redistribuição? Onde encontrar as respostas? No novo modelo de gestão. Veja como nas próximas páginas. www.apmp.com.br 27 MP em Foco Equilíbrio e justiça. Para todos Quando constatamos que, às vezes, as tentativas de redistribuição de atribuições enfrentam resistências no seio de cada Promotoria, somos logo levados a crer que isso decorre de puro individualismo dos que supostamente são beneficiados pela divisão desigual de serviço. Claro que, por estarmos em uma Instituição composta de seres humanos, posturas como essas sempre existirão. Mas nem de longe constituem a regra. Na maior parte das vezes, a resistência em discutir a questão revela, ao mesmo tempo, instinto de autodefesa e receio de aceitar uma medida tópica sem conhecer qual o projeto mais amplo na qual ela deveria se incluir. Quando um promotor ou procurador tem dificuldade em entender uma mudança que o afetará diretamente, assim age porque, antes, quer saber a que levará essa dose de sacrifício e se todos serão chamados a contribuir com o mesmo quinhão em prol do Ministério Público. Enquanto a Administração Superior não detalhar claramente qual o rumo dado à Instituição, 28 www.apmp.com.br qual conformação terá o MP ao final dessa trajetória e quais critérios objetivos serão empregados para que não haja favorecimentos indevidos, a resistência prosseguirá. O novo modelo de gestão mostrando o caminho Apesar de reiteradamente repetirmos que o novo modelo de gestão não se confunde com o banco de dados institucional que lhe dá suporte, alguns ainda fazem essa confusão simplificadora. Nessa discussão sobre a redivisão de atribuições é possível reforçar a idéia da amplitude da proposta. Com efeito, no tra- balho desenvolvido pelo Departamento de Estudos Institucionais da APMP ficou consignado que os objetivos buscados com a implantação de um novo modelo de gestão seriam: a) No plano funcional: a.1) obter expressivo resultado social; a.2) assegurar a condição de agente político do promotor. b) No plano administrativo: b.1) controle sobre a estrutura orgânica; b.2) controle orçamentário; b.3) racionalidade e eficiência. (in “Um novo modelo de gestão para o Ministério Público”, Edições APMP 2003, págs. 35/36) Para a consecução desses objetivos, um amplo projeto tem que ser desenvolvido (com o amparo do banco de dados e de órgãos de planejamento e análise), indicando as medidas de curto, médio e longo prazo a serem adotadas e, sobretudo, qual a conformação final do Ministério Público ao término do projeto (estrutura organizacional, número de membros e correspondentes atribuições, número de servidores e respectivas funções, número de Um amplo projeto tem que ser desenvolvido, indicando as medidas de curto, médio e longo prazo a serem adotadas e, sobretudo, qual a conformação final do Ministério Público ao término do projeto estagiários e tempo de duração do estágio, orçamento necessário para a manutenção dessa estrutura, plano contínuo de investimentos, orçamento necessário para que o plano de investimentos não seja interrompido etc.). Atualmente os promotores e procuradores de justiça não sabem para onde se dirige e como será o MP de São Paulo nas próximas décadas. Por isso, não se sentem confortáveis para aceitar alterações pontuais. Compreensíveis duas perguntas que a Classe se faz: “Devo aceitar o sacrifício a troco de quê?” e “De todos será cobrada a mesma dose?”. As mudanças têm ocorrido ao sabor de acontecimentos fortuitos. A criação de mais uma Vara Judicial na Comarca (até quando continuaremos a reboque da falta de planejamento do Poder Judiciário?), a promoção ou remoção de algum integrante da Promotoria (a permitir a desnomenclaturação do cargo vago), a chegada à Promotoria de um novo integrante disposto a aceitar, por gosto Medidas tópicas e sem amarração a um projeto amplo trazem uma sensação de insegurança que convida ao comportamento conservador. Noutras palavras, estimulam a resistência às mudanças. pessoal, as atribuições mais “problemáticas”, dentre outros eventos. Medidas tópicas e sem amarração a um projeto amplo, porém, trazem uma sensação de insegurança que convida ao comportamento conservador. Noutras palavras, estimulam a resistência às mudanças. Ao contrário, um programa de longo prazo democraticamente debatido e implantado permite ao atingido por uma proposta de redistribuição de atribuições compreender a razão da medida. E lhe dá a tranqüilizadora convicção de que todos serão chamados a pagar a conta para desfrutar de um Ministério Público melhor. Mensurando o equilíbrio Além de provar que mudanças são necessárias para melhorar a atuação do Ministério Público, à Administração Superior cabe demonstrar que as propostas de redistribuição de atribuições trarão efetivo equilíbrio entre os integrantes de uma mesma Promotoria. Chama a atenção o fato de que o empirismo domina as comparações que um promotor ou procurador faz entre o seu volume de serviço e o de outros colegas. Hoje, sem o banco de dados institucional, tão reclamado nesta seção, impossível medir objetivamente o trabalho de cada um. Até porque não se pode dissociar essa medição do resultado do trabalho. Um promotor ou procurador pode trabalhar à exaustão, sem que isso necessariamente leve ao cumprimento das metas estabelecidas pela Instituição (metas que, aliás, atualmente não existem). www.apmp.com.br 29 MP em Foco Por outro lado, um membro do MP que trabalhe menos horas diárias pode conseguir resultados muito mais expressivos, dentro da mesma ótica. Mas, enquanto persistir semelhante ausência de informações no MP de São Paulo, jamais chegaremos a uma ou outra conclusão. E todos continuarão acreditando piamente que trabalham mais do que os outros, da mesma forma que a Instituição continuará derrapando na sua missão de alavancar a evolução social. À Administração Superior cabe demonstrar que as propostas de redistribuição de atribuições trarão efetivo equilíbrio entre os integrantes de uma mesma Promotoria. Sementes da APMP frutificam pelo Brasil Programa do XVI Congresso Nacional traz temas do novo modelo de gestão Cenas do próximo capítulo CRITÉRIOS OBJETIVOS PARA A CRIAÇÃO E DESNOMENCLATURAÇÃO DE CARGOS - MELHORIA NO ORÇAMENTO DO MP - INTER-RELACIONAMENTO COM A SOCIEDADE - INCLUSÃO DO MP NO CENTRO DO DEBATE DAS GRANDES QUESTÕES INSTITUCIONAIS - ESTABELECIMENTO DE PRIORIDADES E METAS - TRANSFORMAÇÃO DO PROMOTOR EM AGENTE POLÍTICO - AFERIÇÃO OBJETIVA DO MERECIMENTO - DESPOLITIZAÇÃO DAS DECISÕES ADMINISTRATIVAS E GERENCIAIS - AVALIAÇÕES CORRECIONAIS MAIS JUSTAS - REDISTRIBUIÇÃO EQUÂNIME DO SERVIÇO - MODERNIZAÇÃO DA ESTRUTURA DE APOIO SAIBA POR QUE... ... criar e extinguir cargos gera tanta polêmica! SAIBA COMO... ... encontrar um sistema que evite injustiças! Em meados de 2003, o Departamento de Estudos Institucionais da APMP finalizou o trabalho “Um novo modelo de gestão para o Ministério Público (bases de uma necessária reengenharia institucional)”. Em outubro do mesmo ano, a convite da CONAMP, o trabalho foi apresentado pelos procuradores Antonio Augusto Mello de Camargo Ferraz e Renato Nascimento Fabbrini e pelos promotores Eduardo Roberto Alcântara Del Campo e Paulo Roberto Dias Júnior em painel do XV Congresso Nacional do Ministério Público, realizado em Gramado, Rio Grande do Sul. O temário daquele Congresso, no item “Política Institucional e Administrativa”, previa apenas duas sub-classificações relacionadas ao tema, a saber: * Os Órgãos da Administração Superior e de gestão administrativa do Ministério Público. Propostas para os órgãos de planejamento, levantamento, análise e banco de dados. ... e saiba muito mais nesta seção da APMP em Reflexão. A APMP agradece a colaboração de todos os associados com críticas e sugestões. Aproveite, também, para sanar eventuais dúvidas sobre o novo modelo de gestão: [email protected] 30 www.apmp.com.br ATENÇÃO! * O controle de qualidade dos trabalhos dos agentes ministeriais. Eficiência do Ministério Público. Dois anos depois, é alentador constatar que um dos três sub-temas do XVI Congresso Nacional (Belo Horizonte-MG, de 6 a 9 de novembro de 2005) foi o “Ministério Público rumo à excelência institucional-administrativa”, com ênfase a diversos conceitos cujas linhas gerais foram traçadas no trabalho pioneiro da APMP. * a eficiência, o controle e os indicadores de qualidade dos agentes ministeriais e do Ministério Público * a gestão do conhecimento, os sistemas de informação e a tecnologia de informação no Ministério Público * Administração Superior: modelos de escolha, exclusividade no exercício das funções e eficiência * novos modelos de gestão do Ministério Público como meios de eficiência, crescimento e aperfeiçoamento da Instituição – possibilidades da ISO9001, do planejamento e administração estratégicos, da gestão pela qualidade total, de métodos de elaboração de projetos (PMBOK, RUP) etc. São os promotores e procuradores de justiça de São Paulo, por meio de sua APMP, retomando a vanguarda no cenário nacional. Até o fechamento desta edição, ainda não havia sido instalada a comissão de estudos para implantar o banco de dados institucional do MP. Isso depois de mais de 100 dias da edição do Ato Normativo nº. 402-PGJ/ CPJ/CSMP/CGMP, de 27 de julho de 2005. Importante ressaltar que, poucos dias após a edição desse ato, a APMP indicou seus dois representantes na comissão. Ao que parece que não era mesmo para valer. E mais uma oportunidade será perdida. www.apmp.com.br 31 MP em Foco MP comemora 20 anos da Lei da Ação Civil Pública “Há 20 anos foi criada a Lei da Ação Civil Pública, que deu ao Ministério Público o suporte necessário para passar de autor em processos individuais a autor de ações públicas em defesa do direito coletivo, investigando através de inquéritos civis, mediando acordos ou defendendo interesses coletivos nas ações civis públicas. Desde então o Ministério Público de São Paulo atua como guardião desses direitos, promovendo a cidadania e defendendo a coletividade sempre que um ato individual, privado ou público, atente contra estes direitos. Aqui você encontra algumas histórias dessa atuação. Mas elas são incontáveis. E, com a sua participação, irão se multiplicar muito mais. Porque, onde tem Ministério Público, não tem mistério.”. 32 www.apmp.com.br Com o feliz título “Histórias Extraordinárias”, abre-se a campanha publicitária deflagrada pela Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo para, além da comemoração do vigésimo aniversário da Lei nº. 7.347/85, divulgar para a população alguns resultados práticos da atuação de promotores de justiça em todo o Estado com base no diploma legal que, não é exagero dizer, transformou o Ministério Público em advogado do interesse social. Em cerimônia realizada no dia 18 de outubro, no auditório Queiroz Filho do edifício sede do Ministério Público de São Paulo, a campanha foi lançada com a exibição do material de comunicação escrito e as peças radiofônicas, televisivas e de mídia eletrônica. Chamou a atenção o caráter lúdico das peças, bem apropriado para atingir a população e baseado em ilustrações e charges dos consagrados artistas Attílio, Angeli, Baptistão, Daniel Caballero, Caco Galhardo, Clarissa Tossin, Elisa Sassi, Guto Lacaz, Jean Claude, Jean Galvão, Laura Beatriz, Líbero, Orlando, Paulo Caruso e Spacca. Os trabalhos foram preparados especialmente para a campanha e cedidos graciosamente ao Ministério Público de São Paulo, assim como o trabalho da agência Futura, DCR Comunicação. O evento foi prestigiado por diversas autoridades, destacando-se o Vice-Governador Cláudio Lembo e o Presidente da APAMAGIS Celso Limongi. No âmbito interno, nossa equipe registrou a presença do Corregedor-Geral do Ministério Público Paulo Hideo Shimizu, do Presidente da APMP João Antonio Garreta Prats e, claro, do nosso Procurador-Geral Rodrigo César Rebello Pinho, que presidiu a solenidade. Na platéia estavam Attílio, Daniel Caballero, Elisa Sassi, Líbero e Spacca. Ao lado dos demais artistas nomeados, eles ilustraram textos que contaram o desenrolar de treze casos de atuação do Ministério Público na área de interesses difusos e coletivos que, ao longo desses vinte anos, beneficiaram o povo paulista. A campanha repercutiu favoravelmente na imprensa, sendo objeto de editorial na edição de 23/10/05 do jornal “O Estado de São Paulo” e de menção na “Veja São Paulo”, edição de 30/10/05. A Revista APMP em Reflexão cumprimenta a Procuradoria-Geral de Justiça e os idealizadores da tese de Grupo de Estudos que originou a Lei da Ação Civil Pública. “Preparado por um grupo de magistrados, promotores e procuradores estaduais paulistas (...), o primeiro projeto da ação civil pública foi apresentado em 1984 pelo então deputado - e hoje ministro - Flávio Bierrenbach. Logo após, o Ministério Público de São Paulo elaborou um projeto complementar, incorporando ao primeiro a tutela dos consumidores, a figura jurídica do inquérito civil e a autorização para entidades da sociedade civil impetrarem essa ação. E, com uma rapidez surpreendente, o Congresso aprovou os projetos após um ano de tramitação.” (trecho do editorial de “O Estado de São Paulo” a respeito da Lei da Ação Civil Pública e da campanha da PGJ) www.apmp.com.br 33 G MP em Foco rupos de Estudos Aprovada a tese sobre a participação do MP na política de segurança pública A chuva veio forte, mas não esfriou os ânimos dos participantes da primeira etapa do XXXIII Seminário Jurídico dos Grupos de Estudos de São Paulo, realizada entre os dias 28 e 30 de outubro no Hotel de Lazer & Spa Thermas de Ibirá. Nos trabalhos de abertura, procedeu-se à escolha do Coordenador Geral dos Grupos de Estudos para o ano de 2006. Eleito por aclamação, o procurador de justiça aposentado Darcy Paulillo Os debates A confraternização Na sessão plenária do sábado, a mesa foi composta pelo Coordenador Geral Albino Ferragini, por seu Adjunto Antônio Domingues Farto Neto, pelo Presidente da APMP João Antonio Garreta Prats, pelo Corregedor-Geral Paulo Hideo Shimizu e pelo Procurador-Geral Rodrigo César Rebello Pinho, nomeado Presidente de Honra do evento. Foram debatidas as conclusões extraídas das dezenove reuniões regionais de Grupos de Estudos sobre o tema central “A participação do Ministério Público na elaboração de uma política de segurança pública”. Das 50 conclusões sistematizadas por comissão designada para esse fim, 12 foram objeto de pedidos de destaque para votação separada. Como é marca registrada dos eventos promovidos pela APMP, o clima amigável foi a tônica no encontro. Nos intervalos das sessões de trabalho e no tempo livre, os associados e seus familiares aproveitaram as opções de lazer oferecidas pelo hotel, bem como sentiram o espírito de uma típica cidade do interior, como é Termas de Ibirá. O fato de o hotel ter sido “fechado” pela APMP e não comportar um número exagerado de hóspedes contribuiu para a união e o congraçamento de todos. Quer nos bate-papos informais no balneário exclusivo do estabelecimento, quer durante o happy hour diário, quer, finalmente, após os jantares, quando alguns colegas “semi-profissionais” na arte do canto iam madrugada adentro dando um show de sustenidos e bemóis. dos Passos sucederá o promotor de justiça Albino Ferragini, que passa para a função de Coordenador Adjunto, ao lado do promotor de justiça Carlos Melluso Júnior. Todos tomarão posse na segunda etapa do seminário, em dezembro. Aproveitou-se a presença de vários Coordenadores regionais para um balanço do novo formato dos Grupos de Estudos adotado em 2005. Ao final das manifestações, a certeza de que o saldo foi positivo. Após produtivas discussões e a votação dos destaques supressivos e modificativos, 44 conclusões vieram a compor a redação final da tese, que será divulgada não somente no âmbito externo, mas também para as autoridades e organismos responsáveis, direta ou indiretamente, pela segurança pública. Convém ressaltar a legitimidade da tese aprovada, discutida ao longo de seis meses por 619 (seiscentos e dezenove) membros do MP de São Paulo, da ativa e aposentados, que estiveram nas reuniões regionais e na plenária. 34 www.apmp.com.br E Comandatuba vem aí... Encerrado o encontro, aos participantes e àqueles que não puderam vir resta aguardar a segunda etapa do XXXIII Seminário Jurídico, de 7 a 11 de dezembro no Hotel Transamérica – Ilha de Comandatuba. www.apmp.com.br 35 MP em Foco Grupos de Estudos: nos passos de um democrata Um exemplo de dedicação ao Ministério Público Imagine-se já com tempo suficiente para a aposentadoria. O que você faria? Passaria para a inatividade e curtiria a fam ília e o justo descanso depois de uma vida de dicada à Instituição? Ou, além de continuar tra balhando, assumiria o encargo extra de viajar mi lhares de quilômetros por ano para fomentar o debate institucional? Não sabemos quanto a você, leitor, mas o promotor de justiça Albino Ferrag ini, da longínqua Araçatuba, fez a segunda opçã o. E por quatro vezes! Ao deixar a função de Coord enador Geral dos Grupos de Estudos, Albino passa para a história como aquele que conduziu com tanta competência o processo de introdução de um novo formato para os trabalhos desenvolvidos ao longo deste ano. Apesar de envolvido em grave problema de saúde em sua família, Albino fez qu estão de comparecer ao XXXIII Seminário Jurídico, mo strando o quanto ama a Instituição que o acolhe há mais de 25 anos. 36 www.apmp.com.br vitalidade de um proAos 75 anos, mas com a o, Darcy Paulillo dos Pasmotor de justiça substitut ão Geral dos Grupos de sos assumirá a Coordenaç primeiramente, consoliEstudos com três desafios: to adotado neste ano (se dar em 2006 o novo forma Executiva); em segundo assim decidir a Comissão ior de jovens promotolugar, atrair um número ma es regionais e; por fim, res e promotoras às reuniõ s para a sociedade. abrir os Grupos de Estudo sto pelo próprio CoO terceiro desafio foi impo a passagem pelo MP de ordenador Geral, já que su regime militar) foi caracSão Paulo (abreviada pelo com os setores sociais terizada pela aproximação classe trabalhadora. organizados, sobretudo da de justiça aposenDesejamos ao procurador l e professor de História tado, ex-deputado federa Paulillo dos Passos uma Econômica do Brasil Darcy ral dos Grupos de Estugestão na Coordenação Ge pria história de vida. dos tão rica quanto sua pró Emocionou a todos o dis curso de despedida do Coordenador Geral. Nada mais justos, portanto, os elogios dirigidos ao coleg a Albino pelo Procurador-Geral, pelo Corregedo r-Geral e pelo Presidente da APMP, que fizeram uso da palavra no encerramento dos trabalhos. Elogios, porém, que serão sempre insuficientes, se comparados à dedic ação demonstrada pelo querido Albino durante to da a sua carreira. Por isso, Albino Ferragini, ac eite as sinceras homenagens da Revista APMP em Reflexão e, acreditamos, de todos os seus colegas de Ministério Público. Continuamos a contar com sua valorosa contribuição. Algumas das conclusões aprovadas 1. A violência se instaura pela incapacidade do Estado Brasileiro de: a) administrar Justiça; cial; b) estruturar devidamente o aparelho poli esa c) promover o desenvolvimento e a def o de dos fundamentos do Estado Democrátic ição ribu dist à s Direito, em especial os relativo e a uma de renda, ao acesso universal à cultura ial. educação de qualidade e à inclusão soc 4. O Promotor d incumbido da dee Justiça, agente fundamentais, tefesa dos direitos interferir, cobrar m o papel de na implementaç e sugerir medidas públicas sobre dirão de políticas visando ao comb eitos sociais, primárias da crimate das causas negativas para a inalidade e segurança públic a. 6. A participação do MP na elaboração de política de segurança pública depende: a) da efetiva adoção do modelo constitucional do Promotor como agente político, modificador da realidade social; b) da definição de metas prioritárias, objetivas e globais de atuação, inclusive de médio e longo prazo; c) de sua interação com os organismos sociais e de governo; d) do gerenciamento de seus recursos humanos. 12. É imprescindível a adoção de um novo modelo de gestão para o Ministério Público, baseado em banco de dados, visando à convergência lógica e racional na alocação dos recursos humanos, orçamentários e logísticos da Instituição, para o efetivo exercício da função de agente político. plano 17. Na área criminal, o ve de atuação funcional de ncretas indicar as prioridades co o e exeqüíveis do Ministério Público para determinad has período, bem como as lin comuns de atuação das ção dos Promotorias, com avalia resultados alcançados. 39. Os órgãos da Administração Superior devem valorizar as Promotorias e os Promotores de Justiça com atuação direcionada à comunidade. Veja a íntegra da tese aprovada em www.apmp.com.br/institucional/grpestudos.htm www.apmp.com.br 37 APMP Destinos Flórida (também) para adultos Imagine-se num lugar cercado por um mar azul, com muito sol, onde você pode mergulhar e ver carcaças de navios piratas, correr de kart e visitar o interior de naves espaciais. Ao contrário dos reinos muito distantes dos contos de fada, esse lugar existe e ironicamente abriga a capital mundial da fantasia. Estamos falando da Flórida! Conheça a história dessa península e descubra que ela é um lugar de diversão para crianças ...E adultos. por Cristiane Sommer 38 www.apmp.com.br www.apmp.com.br 39 APMP Destinos do especialmente para esse fim. Não perca o sensacional Castillo de San Marcos, um forte todo feito com areia e ... conchas trituradas.Conheça também a Oldest House - a primeira casa da cidade - e o Oldest Store Saint Augustine, a primeira cidade norteamericana. Em 1513, o primeiro explorador europeu, Ponce de Leon, chegou à Flórida. Alguns historiadores afirmam que ele buscava a fonte da juventude, supostamente localizada em uma ilha ao norte de Cuba. As terras descobertas foram reivindicadas ao rei da Espanha e batizadas como La Florida, pois o desembarque do navegador ocorreu na época da Páscoa, que em espanhol se chama Pascua Florida. Passaram-se cerca de 50 anos até que a região fosse colonizada. O receio de que os franceses tomassem posse da península fez com que soldados espanhóis fundassem Saint Augustine em 1566. Foi dessa forma que surgiu o primeiro assentamento do atual território dos Estados Unidos. Assim, se você gosta do turismo histórico, vale a pena conhecer o local. Faça um tour numa carruagem ou num trem turístico reserva- 40 www.apmp.com.br Museum. Passe também pelos três parques estaduais que cercam o município: o Anastacia State Recreation Area, local de abrigo para inúmeras espécies de pássaros; o Faver Dykes Park e o Guana River State. Key West Saint Augustine foi por muito tempo um dos poucos núcleos urbanos da Flórida. A ausência de metais preciosos fez com que os espanhóis dessem preferência à exploração dos territórios pertencentes aos maias, astecas e incas. Entre a segunda metade do século XVII e o começo do XVIII, a importância da península esteve vinculada a sua posição estratégica. A proximidade com o Caribe - local de partida das frotas anuais espanholas repletas de ouro e prata - fez da região um dos principais focos da pirataria. São dessa época os piratas mais conhecidos, ou seja, os das histórias, romances e filmes: Morgan, o capitão Kidd, “Barba Negra”, “Black Bart” Roberts e Thomas Tew. Em Key West, existem vários museus que guardam relíquias desse período. Um deles, o “Port Royal”, possui em seu acervo mapas e documentos originais, além de cartaz que oferecia recompensa pela cabeça de Henry Evory, o pirata que assolou o Oceano Índico. Também está exposta ao público a “Jolly Roger”: a famosa bandeira pirata com o emblema da caveira e os dois ossos cruzados. Outro ponto forte da cidade são os mergulhos submarinos. Visite o Parque Nacional Marinho de Jonh Pennekamp, que é um grande santuário de corais. As belezas naturais são apenas uma parte das riquezas que o fundo do mar abriga. A grande incidência de furacões transformou a localidade em uma das regiões do mundo com maior índice de naufrágios. Assim, você poderá ver centenas de destroços que contemplam mais de 500 anos da história marítima do continente. Belas paisagens, no entanto, não são encontradas apenas dentro da água. O Key West Lighthouse, um farol que data de 1848, proporciona a melhor vista sobre a cidade e o mar. Segundo alguns, Key West possui o pôr-do-sol mais bonito do mundo (esses provavelmente nunca estiveram em Itacaré...). A Flórida é realmente excêntrica (ao menos para os norte-americanos). No ano de 1819, a Flórida foi cedida pelos espanhóis aos norte-americanos. Foi a partir desse momento que começou a se desenvolver. Por volta de 1880, a descoberta de fosfato e o advento das plantações de laranja fizeram a economia prosperar. O capital excedente gerado por essas atividades, o clima e as praias foram os fatores fundamentais para tornar a Flórida um dos principais pólos turísticos dos Estados Unidos. Fort Lauderdale foi uma cidade que cresceu muito com o turismo. Hoje, próximo a ela está o Sawgrass Mills Mall, o maior shopping center de lojas de fábrica e pontas de estoque da Flórida. Prepare-se para andar, porque esse templo do consumo possui o melhor que o “american way of life” tem a oferecer. Lá, você encontra desde as marcas mais famosas (Saks Fifth Avenue, Macy’s, Sean e Marshall) até as desconhecidas. A variedade de produtos vendidos é grande: roupas, sapatos, acessórios, maquiagens, brinquedos, aparelhos eletrônicos, ferramentas, vitaminas, entre outros itens. É programa para dia inteiro. Se fazer compras não é o seu passatempo favorito, experimente visitar o Museum of Discovery A Flórida e os furacões Todos os anos a Flórida é atingida por furacões que se formam no Atlântico e no Golfo do México. O período de vigilância começa em maio e vai até dezembro. Apesar disso, você pode fazer sua viagem nesses meses, pois o National Hurricane Center está sempre a postos monitorando o que acontece com as tormentas. Em caso de perigo, a mobilização é total e há tempo suficiente para deixar os locais que serão atingidos pelo furacão. Discute-se na comunidade científica as razões dos fenômenos terem aumentado, tanto na freqüência quanto na intensidade. Alguns atribuem isso ao “efeito estufa”. Por ironia do destino, culpa-se em grande parte o clã dos Bush. Primeiro pela forte relação com a indústria petrolífera, depois pelas duas guerras no Iraque e, finalmente, pela quebra do Protocolo de Kyoto. Não custa lembrar que a Flórida é governada por Jeb Bush e foi palco de suspeitas de fraude na primeira eleição de George W. Bush. www.apmp.com.br 41 APMP Destinos and Science, cuja principal atração é um cinema 3D com sala gigante de projeção. Outra opção é o Billie Swamp Safari, onde você encontrará índios nativos e poderá apreciar o artesanato local, além de fazer passeios de airboat e um tour para conhecer um ecossistema com animais vistos de perto. A capital mundial do charuto. Durante o século XIX, os Estados Unidos se tornaram uma potência econômica e militar mundial. Sua hegemonia sobre o mundo foi consolidada no século XX. A influência norte-americana pôde ser vista em 1929 com a quebra da Bolsa de Nova Iorque, que não somente abateu a economia do país como também da América Latina e da Europa. Foi nesse contexto que Tampa perdeu seu título de “capital mundial do charuto”. Atualmente, a cidade arrecada grande parte de sua renda através do turismo. Se você for visitá-la, não deixe de conhecer Ybor City, um bairro tipicamente latino. Sua origem está ligada à figura de dom Vicente Martinez Ybor, proprietário de uma fábrica de charutos. O prédio que abrigava a indústria foi preservado e hoje é ocupado por escritórios. Perto dessa imponente construção existe o Ybor City State Museum Park, um museu instalado em uma padaria desativada. Lá, com a ajuda de monitores, muitos deles voluntários, você conhecerá a história do bairro. Visite o Ybor City State e assista à fabricação manual de charutos. A maior parte da produção é mecanizada, sendo a técnica artesanal de confecção restrita às apresentações turísticas. Visite também La Sétima, uma via que alinha bares, restaurantes, tabacarias e que costuma ser bastante requisitada pelo público jovem. Mesmo sendo um bairro histórico, Ybor City possui um senso “cenográfico” que nos faz sentir dentro de um filme. Em 2001, foi instalada uma réplica do bonde que circulou pela ruas entre 1890 e 1945. O padrão estético é levado muito a sério. Para garantir que o local não se descaracterize, existe uma comissão que controla o estilo arquitetônico das novas construções. Yes, a Flórida tem tecnologia! O contexto da Guerra Fria transformou a Flórida em um pólo tecnológico. Sua proximidade com a linha do Equador fez com que um centro de lançamento de foguetes fosse instalado em Cabo Canaveral. No Kennedy Space Center, aconteceram alguns dos eventos mais surpreendentes do século XX, como a famosa missão Apolo XI. O centro espacial foi aberto ao público em 1992 e conta com um centro de visitantes de 17 mil metros quadrados, que é uma mistura de parque temático científico com museu. Encante-se com as naves espaciais que ficam expostas. Além de olhar, você poderá en- 42 www.apmp.com.br trar em uma Apolo e ver um módulo idêntico ao que desceu na Lua. Não deixe de comprar e experimentar a comida que é levada nas viagens espaciais! É um prato cheio para quem já sonhou algum dia em ser astronauta. Agora, se seu sonho de criança era ser piloto de carros, visite Daytona e conheça seu famoso autódromo. Surpreenda-se com o tamanho e a extensão de suas arquibancadas: elas abrigam mais de 150 mil pessoas, uma capacidade similar à do Maracanã. Nesse circuito são disputados sete eventos da NASCAR, entre eles as 500 milhas de Daytona. Para quem gosta de fortes emoções, existe a possibilidade de se alugar um kart e dar algumas voltas na mesma pista que o fusquinha falante, o simpático Herbie, competiu. Soy loco por ti América! O pós-guerra não trouxe apenas foguetes para a Flórida. Milhares de cubanos migraram para os Estados Unidos por causa da Revolução de 1959. A maior comunidade cubana nos Estados Unidos localiza-se em Miami. A influência latina é muito grande, por isso não estranhe se você ouvir música caribenha no rádio ou pessoas falando espanhol nas ruas. A cidade é formada por 22 distritos, entre eles Miami Beach, Miami Springs e Key Biscayne. Para quem gosta de praia, esse é o lugar certo. As mais freqüentadas são as de Miami Beach. Outras opções badaladas são: Sunny Isles, Haulover, Bal Harbour, Surfside, Virginia Key e South Beach. As mais calmas localizam-se nas ilhas ao sul da cidade. Guarde energia para a noite e prepare-se para uma infinidade de opções de bares e boates à beira mar. Há desde os sofisticados nightclubs em South Beach e Coconut Grove, a shows e espetáculos de música latina, rock e hip hop. Escolha um deles e dance até se acabar. Reserve tempo e dinheiro para as compras. Miami possui lojas das melhores grifes do mundo. Confira o que é vendido na Washington ou Collins Street ou vá ao Lincoln Road Pedestrian Mall, uma rua para pedestres com restaurantes, cafés e muitas lojas com bons preços. Palm Beach é boa opção para quem gosta de badalação e não quer saber de Miami. Esse condado possui 75 quilômetros de costa margeada pelo Atlântico e é formado por 38 municípios. A região é ótima para se mergulhar, já que a água do mar é quente e cristalina. Se você prefere praticar esportes fora da água, Palm Beach possui cerca de 150 campos de golfe, fato que lhe garantiu o título de capital do golfe na Flórida. Esse número só é superado pela quantidade de lojas. Tiffany, Tourneau, Ralph Lauren, Armani e Louis Vuitton são apenas algumas das grifes famosas, distribuídas entre as 200 lojas da Worth Avenue. Se você não resiste a um souvenir, mas não quer gastar tanto, vá conhecer o Palm Beach Outlet. Lá, as roupas de grife vem direto da fábrica e chegam a custar 70% menos do que nas outras lojas. A vida noturna é outro ponto forte de Palm Beach. No centro de Delray Beach, o agito é constante. Na rua principal, um show chamado Art & Jazz on the Avenue proporciona aos turistas uma noite agradável, com música ao vivo, comida e arte. Se você gosta de teatro, confira os espetáculos em cartaz no teatro Raymond F. Kravis Center for the Performing Arts, em West Palm Beach. “O Fantasma da Ópera”, “Cats”, “Evita” e “Jesus Christ Superstar” são alguns exemplos de peças que já foram encenadas no local. Enfim, a Flórida proporciona atrações que vão muito além dos parques temáticos. Com tantas opções, nem as crianças sentirão falta deles. www.apmp.com.br 43 Cultura & Lazer B uddy Guy no Brasil Eric Clapton garante: ele é o rei das guitarras. Buddy Guy, uma das lendas vivas do blues, se apresenta no Credicard Hall, São Paulo, no próximo dia 25 de novembro. Todo seu talento lhe rendeu cinco Grammy Awards faturados em 44 anos de carreira. Além de Clapton, o guitarrista também dobrou o coração de gente como Jimi Hendrix e Stevie Ray Vaughan. 44 www.apmp.com.br www.apmp.com.br 45 Cultura & Lazer Quem comparecer terá o gostinho de ouvir – e ver - sucessos como “Damn Right, I Got The Blues”, “Look On Yonder Wall” e “Wacht Yourself”, além das mais recentes composições, como “Do Your Thing”, de Keith Richards, “Cut you Loose”, “Ain’t no Sunshine”, “Price you Gotta Pay” e “I Put a Spell on You”, faixas inéditas do novo álbum “Bring ‘em In”. O rei do blues de Chicago foi aceito como um dos modernizadores da utilização da guitarra no blues. Muitos consideram seu estilo bastante semelhante de B.B. King. Bom, para se ter idéia do reconhecimento de seu trabalho, a Fender produziu um modelo especial de guitarra em sua homenagem, a “Buddy Guy Polka Dot Strat”. Com ele vêm músicos de altíssimo nível, como Timothy Austin (bateria), Martin Sammon (teclado), Cornelius Hall “Ric” (guitarra), Orlando Wright (baixo) e Jason Moynihan (saxofone). Buddy nasceu e cresceu na Louisiana, Estados Unidos, e começou a tocar profissionalmente na região de Baton Rouge no início dos anos 50. Mas sua carreira começou a se firmar, mesmo, por volta de 1957, quando se mudou para Chicago. Num dos desafios promovidos por um clube da cidade, Buddy Guy venceu Magic Sam e Otis Rush, dois grandes nomes locais. Daí por diante, a trajetória é só de “gols de placa”. Gravou dois singles para a Artistic, “Sit And Cry” e “This Is The End” e se tornou requisitado músico de estúdio, tocando com grandes nomes do blues, como Muddy Waters, Willie Dixon, Little Walter, Sonny Boy Williamson e Koko Taylor. Em 1962, seu disco “Stone Crazy” alcançou a 12ª colocação nas paradas de Rhythmn And Blues. Em 1989, abriu seu próprio clube, o famoso “Legends”, em Chicago, atraindo velhos e novos fãs de blues e roqueiros influenciados pelo blues . E eis que, em 1991, uma deliciosa surpresa, tanto para Buddy, como para seus fãs: Eric Clapton o convida para tocar com ele no Royal Albert Hall, em Londres. As performances com Clapton foram tão significativas que o levaram a assinar um contrato com a Silvertone. No novo selo, ele gravou “Damn Right, I’ve Got The Blues”, um aclamado disco de retorno, que contou com participações de Clapton, Jeff Beck e Mark Knopfler, guitarristas para ninguém botar defeito. De lá para cá, Buddy Guy não parou de gravar álbuns de alta qualidade, tanto que recebeu cinco Grammy Awards,, além de ser indicado, em 95, ao Rock and Roll of Fame,, por Eric Clapton e B.B King. Blues, uma saudável tristeza... A melancolia envolvente do blues vem de uma história marcada pelos desabafos de uma minoria social – a população negra americana - que procurava expressar suas tristezas decorrentes do estado de espírito pós Guerra de Secessão. Dotado de simplicidade, sensualidade, poesia, humor e ironia, o blues foi criado por pessoas sem conhecimentos formais em música. Por isso, baseava-se na improvisação verbal e instrumental, características que marcaram profundamente o gênero. A simplicidade das letras permitiu que os bluesmen pudessem expressar suas emoções enquanto improvisavam. Esta estrutura era composta por uma progressão harmônica fixa, bem conhecida por todos, de forma que a tocavam de maneira quase que automática. Auto-proclamado “Pai do Blues”, W.C. Handy conta que ouviu este tipo de música pela primeira vez no Delta do Mississippi, em 1903. No final da década de 20, o blues proliferava por todo o Delta e podia ser ouvido em Fish Fries e Juke Joints, sendo interpretado por nomes como Charley Patton, Son House, Willie Brown, Bo Carter, Mississippi Sheiks e Tommy Johnson. O grande nome do Delta era John Lee Hooker, famoso por Boogie Chillun, primeiramente gravado para o selo Vee Jay Records em 1948. Nos anos quarenta, o coração do blues mudou-se para a região sul de Chicago. Lá surgiram grandes nomes, como Elmore James, Willie Mabon, Jimmy Rogers, Sonny Boy Williamson, Otis Spann, Willie Dixon, Muddy Waters e Howlin’ Wolf. Entre as canções mais representativas deste período podem ser destacadas Hoochie Coochie Man, Mannish Boy, Sloppy Drunk e Don’t Start Me Talkin. BUDDY GUYnida Nações Unidas, (ave Onde: Credicard Hall o). 17.955 - Santo Amar mbro, às 22h Quando: 25 de nove s pelo 200. Mais informaçõe R$ a 80 R$ : to an Qu 000 ou pelo site telefone (11) 6846-6 .br. www.credicardhall.com 46 www.apmp.com.br www.apmp.com.br 47 P Gastronomia etróleo Vermelho Há trinta anos ele profetizou: a carne será o petróleo vermelho do Brasil. Sorte de quem ouviu. Mais ainda: de quem deu ouvidos. Marcos Guardabassi, um dos maiores entendedores do mundo, provou para todo o país, ao longo de sua trajetória, que a carne brasileira é um dos seus trunfos econômicos. Com sangue cooperativista e muito esforço realizado pela abertura deste mercado, ele garante que a carne é um produto acessível a toda a população brasileira. Imaginem, vocês, que os brasileiros tratam o músculo como carne de segunda e, na Itália, ela tem valor diferenciado e é aproveitada em pratos especialíssimos. Como diz o mestre, é tudo uma questão de cultura alimentar. Apesar de conhecer bem a cor de um coração, ele garante que o seu é verde-amarelo, mesmo tendo a plena consciência de que sua vocação seria muito melhor remunerada nos Estados Unidos ou na Europa. Ele cresceu vendendo carne nas ruas: bucho, rabo, fígado... E toda essa simplicidade ainda transparece, tanto em seu rosto, como na emoção de suas palavras quando conversa sobre seus ideais, seus sonhos e, melhor que isso, suas realizações. É um ser humano que acredita no seu país e, como um pai que vai observando o crescimento do filho, orgulha-se de ver onde o Brasil chegou e o quanto ainda vai evoluir. Criou 150 cortes de carne, batizou a nossa conhecida fraldinha e também o steak de açougueiro. Nesta entrevista, ele dá uma injeção de auto-estima ao país, salientando sua incomparável extensão territorial para a criação de bois e as vantagens de ser o único local no mundo capaz de produzir qualquer tipo de boi. APMP – Para começar, dê-nos um panorama geral sobre a carne no Brasil. Marcos Guardabassi - Há trinta anos, quando eu disse que a carne, no Brasil, seria o petróleo vermelho, muita MG - Analisando os americanos, percebemos que eles fizeram o seguinte: num dado momento, precisavam agregar valor a um produto altamente de “commodity”, que era o milho. Eles compreenderam que se dessem o milho para o boi estariam, portanto, agregando alto valor. Mas para que isso acontecesse, precisavam melhorar a genética de sua produção e criar um bom sistema de alimentação. E foi o que fizeram. Mas onde eles pecaram e ainda pecam? Na cultura alimentar. Porque, num dado momento, levaram uma parte do boi para a industrialização - parte do dianteiro e grande parte da costela. E do traseiro limitaram-se a fazer meia dúzia de cortes, ou seja, não informaram o consumidor sobre novas possibilidades. Resultado: não conseguem aumentar o preço e nem agregar mais valor. APMP – As pessoas dizem que a carne nos Estados Unidos é muito macia... MG - De fato ela é, pois nela são acrescidos extratos de carne. O animal tem uma boa genética, uma super alimentação e anabolizantes. gente não acreditou. Costumava dizer que produtor brasileiro sabia fazer boi, mas não carne. E está aí. Hoje o Brasil tem o maior rebanho do mundo, não é o maior em volume de carnes, mas sim no número de cabeças. APMP – Com relação aos tipos de corte, como a carne é vista mundialmente? 48 www.apmp.com.br APMP – E os europeus? Também tiveram o mesmo processo que os americanos? MG - A Europa tem limitações territoriais e, por isso, não pode produzir carne em grande escala como os EUA. Por outro lado, os europeus têm uma boa genética e grande cultura alimentar da carne, tanto que os melhores açougueiros do mundo estão na Itália e na França. Eles souberam inserir o produto dentro de um contexto alimentar, apesar de terem deixado uma lacuna: a do hábito do churrasco. O que costumam fazer é um pedaço de carne cercado de molho. Isso porque lá a carne é muito cara, justamente por não conseguirem produzi- www.apmp.com.br 49 Gastronomia O Brasil é o único país que pode se dar ao luxo de perguntar ao resto do mundo que tipo de carne eles querem que seja produzida. Todas as regiões podem tratar de boi e com qualquer tipo de genética. Temos o maior rebanho de zebuínos do mundo. la em grande escala. Quando entramos na América do Sul, e aqui me refiro a Brasil, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Argentina, a grande diferença é que, no século passado, os ingleses entraram na Argentina para produzir carne e levaram a melhor genética que tinham. Por isso, durante muitos anos, a Argentina produziu carne melhor do que nós. E eles foram os primeiros exportadores. APMP – Onde estava o Brasil nessa época? MG - O Brasil nem era conhecido. Quando entraram bois aqui, não foi para o abastecimento de carne, mas para mão-de-obra. Nós não tínhamos cultura alimentar, diferente da Argentina, que a adquiriu por conta dos ingleses. Mas, hoje, temos o maior rebanho bovino comercial do mundo. O que o brasileiro ainda não aprendeu - e precisa fazê-lo rapidamente - é que o boi emprega trinta e seis empregos diretos. APMP – Então como vê o Brasil neste exato momento? MG - O Brasil é o único país que pode se dar ao luxo de perguntar ao resto do mundo que tipo de carne eles querem que seja produzida. Todas as nossas regiões podem tratar de boi e com qualquer tipo de genética. Temos o maior rebanho de zebuínos do mundo. Geneticamente, a carne do zebu não é feita para ser macia. Este animal produz carne de alto sabor, alta nutrição e muita qualidade. O zebu só deixa a desejar um pouco na maciez. O grande erro que cometemos é vender carne de zebu apenas como commodity, quando deveríamos vendê-la como produto de altíssima qualidade, porque é um animal que se alimenta em pastagens, ou seja, vegetal, e só aqui ele tem condição de comer desta maneira. Outra coisa: é um animal extremamente saudável pelo baixo teor de gordura que tem na parte interna da carne. 50 www.apmp.com.br APMP – Aponte mais um equívoco do Brasil? MG - Aqui fala-se muito em carne de primeira e de segunda. Isso não existe! O que existe é boi de boa qualidade e de qualidade inferior. Ou seja, não é porque você come um ossobuco, prato originário da Itália, feito com músculo, que você é rico. E se você comer músculo numa sopa, isso não significa que você seja pobre. APMP – Quer dizer que o brasileiro não come tanta carne porque não valoriza as mais baratas? MG - Claro! Veja só: quem disse que língua não é proteína animal? E que fígado não é altamente nutritivo? Aqui fala-se muito em carne de primeira e de segunda. Isso não existe! O que existe é boi de boa qualidade e de qualidade inferior. Ou seja, não é porque você come um ossobuco, um prato originário da Itália, feito com músculo, que você é rico. E se você comer músculo numa sopa que você é pobre. E por que a comida de pobre do brasileiro é a comida de rico na Europa? Lá, comer fígado, dobradinha, língua, é coisa de gente rica! O boi só tem um rabo! Uma língua! Por que a língua e o rabo, por exemplo, custam tão barato aqui e tão caro na Europa? É tudo uma questão de cultura alimentar... APMP – Como o governo lida com esse assunto? MG - Olha, o Pratini de Moraes e o nosso atual ministro Roberto Rodrigues sabem disso. Mas acho que os ministros anteriores não tiveram a mesma atitude. (...) no século passado, os ingleses entraram na Argentina para produzir carne, levaram a melhor genética. Por isso, durante muitos anos, a Argentina produziu carne melhor do que nós. E eles foram os primeiros exportadores. APMP – E o que acha do momento atual? MG - Penso que o Brasil tem que se voltar firmemente para o mercado interno, promovendo uma maior divulgação da proteína animal, principalmente a carne. O frango ganhou espaço - e não estou dizendo no sentido competitivo. Veja, o frango precisa de uma boa estrutura cultural para ser consumido e foi exatamente o que a Sadia, a Perdigão e empresas do ramo fizeram. Devemos fazer isso com a carne. Outra coisa: o produtor tem que saber o que o consumidor quer comer, conhecer todo o processo da carne para, então, produzir com qualidade, mesmo que ele ache que o frigorífico não paga o que merece. Tem que se unir para dizer: nós queremos produzir o melhor do melhor. APMP – De onde vem esse hiato na questão da cultura alimentar brasileira? MG - Não sei se é bem uma falha ou um processo... Acho que é algo mais ou menos assim: o americano, para ter alguma história, tem que comprar dos outros. Já a nossa é de colonização, grande parte pelos europeus. Eles deixaram muitas coisas boas e ruins. Acho que devemos encontrar nosso nicho para tudo isso. Encontrar nosso caminho e ele depende de cultura. E não estou me referindo a alfabetização. A Europa, cinqüenta anos atrás, tinha 40% de analfabetos, mas tinha cultura. APMP – Sua análise é otimista, então, com relação ao Brasil? MG - Sim, inclusive os produtores estão se movimentando para isso. Agora não tem mais volta. Daqui para a frente nós daremos um salto de qualidade que o mundo não deu em cem anos com a proteína animal. Isso porque nós temos competência e capacidade para dar esse salto com mais rapidez do que qualquer país. APMP – Por que você ainda aposta no Brasil e não se mudou para a Europa ou outro lugar onde a cultura da carne seja mais difundida? MG - Ah... esse meu coração é, antes de vermelho, verde, amarelo, azul e branco... Tenho uma brasilidade tão grande... Gosto muito da Europa, mas eu amo o Brasil. Diria que por ter começado a vender bucho, rabo e coração na rua e ser tão reconhecido como sou, poxa, só posso dizer que fico muito gratificado. Mesmo sabendo que se eu estivesse nos Estados Unidos eu estaria muito mais rico. A verdade é que eu amo este nosso país. E acredito muito nele. Estou satisfeito em ver nossos avanços e ansioso por presenciar as grandes mudanças que estão por vir. Febre Aftosa Alguns dias depois da concessão desta entrevista, eclodiu o problema da febre aftosa no Brasil, mais precisamente no Mato Grosso do Sul, fato que levou 49 países a interromper a importação do produto brasileiro. Trata-se, na verdade, de grave trauma para o setor agropecuário brasileiro num momento político conturbado. Grande parte do setor pecuário culpa o governo federal pela escassez de recursos para a prevenção e pela falta de agilidade. Importante frisar que a doença não se transmite para o ser humano. Os grandes problemas decorrem da necessidade de se sacrificar animais em larga escala para evitar a propagação do vírus e a perda da boa imagem que o produto brasileiro ostentava no exterior. Estima-se que as perdas atinjam quase dois bilhões de dólares. O Brasil, maior exportador mundial de carne, ostenta ainda excelência na qualidade do produto em diversos Estados, como o de São Paulo, que estão livres não apenas da febre aftosa como também de outras doenças típicas do Primeiro Mundo, como o “Mal da Vaca Louca”. Noutras palavras, churrasquear aqui continua sendo um dos melhores programas. www.apmp.com.br 51