CAMBIASSU – EDIÇÃO ELETRÔNICA
Revista Científica do Departamento de Comunicação Social da
Universidade Federal do Maranhão - UFMA - ISSN 2176 - 5111
São Luís - MA, Janeiro/Dezembro de 2010 - Ano XIX - Nº 7
A POTENCIALIDADE DA PRODUÇÃO DE VÍDEOS
DE BAIXA RESOLUÇÃO COMO PRÁTICA
EDUCACIONAL E SEU VALOR
DEMOCRATIZANTE
CARLOS BENEDITO ALVES – Graduado em Rádio e TV pela
Universidade Federal do Maranhão, Secretário do Departamento de
Comunicação Social. E-mail: [email protected]
ROSINETE DE JESUS SILVA FERREIRA – Mestre em
Comunicação e Cultura pela UFRJ, professor do Departamento de
Comunicação Social da UFMA, é radialista. E-mail:
[email protected]
RESUMO - Propomos discutir a interseção entre os campos da Comunicação e Educação,
com uma reflexão sobre os projetos educativos, que utilizam os vídeos de baixa resolução
como ferramenta didático-pedagógica nas salas de aula. Os usos de instrumentos
multifuncionais (celulares, câmara digitais etc) como suporte de convergência e meios de
circulação e produção da informação. È devido à influência desses equipamentos nas relações
sociais da atualidade, que não podemos ignorá-los nas relações de ensino-aprendizagem. Esses
equipamentos passam a fazer parte do cotidiano das salas de aula e necessitam de estratégias
que agreguem o lúdico a aspectos pedagógicos.
PALAVRAS CHAVE: Comunicação; Educação; Tecnologia;
ABSTRACT: We propose to discuss the intersection between the fields of Communication
and Education, with a reflection on the educational projects that use low-resolution videos as
didactic-pedagogical tool in classrooms.The use of multifunction instruments (phones, digital
cameras etc) in support of convergence, ways of production and circulation of information. It
is due to the influence of such equipment in the present social relations, that we can not ignore
them in the teaching-learning process. These facilities will become part of daily classroom
and need strategies that add the playful to pedagogical aspects.
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1. INTRODUÇÃO
No âmbito das pesquisas científicas e acadêmicas é cada vez mais comum a
transversalidade de temas e campos do conhecimento. A chamada interdisciplinaridade tem
fomentado discussões e permitido a construção de novos olhares e saberes, ampliando assim os
campos de pesquisa.
Neste sentido, a ciência moderna se permite alcançar conceitos mais complexos, ao
considerar diferentes contextos para analisar um mesmo objeto de conhecimento.
Dessa forma, a ciência que se desenvolve na contemporaneidade não separa o
sujeito e o objeto do conhecimento, mas investe-se de transdisciplinaridade para
fundar nova percepção do real, integradora de todos os seus aspectos: histórico,
social, cultural e científico (COSTA; PAIM, 2004, p.18).
Esta parece ser mesmo uma necessidade gerada a partir do desejo de produzir
novas respostas, de descobrir novas perspectivas de estudos. É assim, por exemplo, que muitas
ciências recorrem à filosofia para compreender aspectos de sua construção e gerar novas
perguntas. E é nesta linha da transdisciplinaridade que nos equilibraremos durante este trabalho
apontando para uma discussão entre os campos da Comunicação e da Educação, doravante
denominado de Educomunicação23.
Estes dois campos, aparentemente próximos, não são facilmente definidos e a
resultante dessa junção não é tão simples. Os comunicadores se apóiam em elementos da
educação, tais como a apropriação da linguagem pedagógica, a sistematização de conteúdo e a
didática, para construir novos produtos comunicativos. Por seu turno, os educadores se
apropriam de recursos e conceitos da comunicação na aplicação de novas práticas
pedagógicas.
23
Educomunicação é um campo que tem como característica não só a união e a convergência da comunicação e educação,
mas também das demais áreas das ciências humanas e sociais, tendo como objetivo facilitar o acesso democrático das
pessoas a informação; proporcionar uma leitura critica dos meios; mediar a relação ensino - aprendizagem de forma que
rompa com o modelo autoritário; perceber e utilizar as potencialidades das novas tecnologias no processo de
aprendizagem.
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A revolução das tecnologias da informação no século passado é responsável pelo
repensar de muitos seguimentos da sociedade, bem como de seus mecanismos de interação.
Nesse viés de readequação, os atores sociais passam a dispor de novos mecanismos de
mediação oriundos dessas novas tecnologias. Concomitantemente a esses avanços técnicos, as
relações de economia cada vez mais globais desenham uma nova forma de estruturação das
sociedades mundialmente interdependentes.
É nesse cenário que equipamentos multifuncionais ganham forma como suporte de
convergência de diferentes meios de circulação e produção da informação. Por isso, tais
equipamentos não podem ser deixados de lado nas relações de ensino aprendizagem, devido à
sua influência nas relações sociais da atualidade.
Por meio deles, muitos campos mais tradicionais têm se reformulado, como por
exemplo, a produção audiovisual, cada vez mais popularizada – particularmente entre os
jovens – com a proliferação de câmeras digitais e celulares capazes de capturar vídeos. Uma
vez que esses equipamentos passam a fazer parte do cotidiano inclusive das salas de aula, há
que se definir estratégias para sua utilização, agregando ao lúdico aspectos pedagógicos.
Nesse sentido, o desenvolvimento desta pesquisa vem fomentar o conhecimento das
pessoas, da sociedade e da comunidade acadêmica, sobre as particularidades da produção
audiovisual em um processo educomunicativo por meio de vídeos com baixa resolução.
Apresentamos algumas inquietações e observações, aliadas a teorias da Educomunicação,
referentes à produção de vídeos de baixa resolução como prática educacional e suas
implicações sócio-pedagógico-comunicativas.
2. PRODUÇÃO DE VÍDEOS DE BAIXA RESOLUÇÃO COMO PRÁTICA
EDUCACIONAL
Convergência. Esta parece ser a palavra exata para definir o atual cenário das
tecnologias da comunicação, face aos avanços da chamada Era Digital. E a convergência
também parece combinar bem com o espírito de um trabalho de pesquisa. Afinal, ele é um
processo para onde convergem todas as experiências adquiridas durante os anos na academia.
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No caso deste trabalho, tais situações têm fundamental relevância, pois estão
embebidas das relações entre os campos da Comunicação e da Educação, e as novas
tecnologias.
A convergência empresta um caráter adjetivo ao nosso século, no qual os avanços
técnicos têm transformado pequenos aparelhos em máquinas poderosas de mediação
comunicacional. Estas, por sua vez, permitem a convergência de culturas e identidades num
fluxo global de interação. Percebemos então a presença de um conceito tanto técnico quanto
social em nossa compreensão sobre a convergência.
Aliás, buscaremos constantemente traçar um paralelo entre os aspectos técnicos e
sociais durante a abordagem do nosso objeto, pois, entendemos que os dois são frutos da
produção humana, especialmente quando ligados à comunicação e à educação.
O nosso cuidado se deve à tendência de olhar a comunicação e a educação
principalmente a partir de seus aparelhos, como a mídia e as escolas, devido às suas
características mais tangíveis. Mas, não podemos conduzir nossos estudos somente num
sentido tecnicista e mercadológico, sem darmos conta da conjuntura social onde se dá o
processo comunicativo.
Os teóricos da comunicação necessitam, portanto, lidar com essa fluidez do objeto
comunicacional e com o fato de que “os processos comunicativos atravessam praticamente
toda a extensão das Ciências Humanas” (MARTINO, 2001, p.28). Essa característica tanto
provoca um deslocamento do centro de atenção de outras disciplinas para a questão da
comunicação, como acarreta em uma limitação da comunicação para se constituir enquanto
uma disciplina autônoma. Isso significa que os estudos do campo da comunicação necessitam
de uma interconexão com outros campos, mesmo que esta interdisciplinaridade não seja o
foco do estudo.
Ao tratarmos de convergência tecnológica, buscaremos ampliar essa visão de modo a
não ficarmos apenas em aspectos técnicos, pois, os fatores econômicos e sociais têm igual
relevância neste cenário.
O referencial teórico utilizado para a composição deste artigo esta pautado em
estudiosos e profissionais no assunto, tais como os professores e pesquisadores Humberto
Abdalla Jr e Murilo César Ramos, da Faculdade de Tecnologia e Faculdade de Comunicação
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da Universidade de Brasília, respectivamente, que ao tratarem da alteração tecnológica
proposta pela implantação de uma plataforma digital, relembram que esse tipo de alteração
suscita profundas mudanças sociais, nem sempre concretizadas.
Os avanços da tecnologia trazem consigo interesses econômicos, mas também
reacendem uma perspectiva de melhoria da qualidade de vida e, sobretudo, quando se trata
dos avanços das tecnologias da informação e comunicação, se vislumbra a democratização
dos meios.
“...toda transição tecnológica na comunicação traz com ela a esperança de
uma revolução civilizatória; na educação, na informação, na cultura. Mas
toda ela, até hoje, resultou no infortúnio da comunicação largamente
mercantilizada, alienadora, ainda que aqui e acolá lampejos de suas
potencialidades emancipatórias não nos deixem esquecer de que outros
caminhos, funções e usos seriam possíveis para ela” (ABDALLA e RAMOS,
2005, p.123).
A necessidade de comunicar melhor sempre foi a grande força motriz dos avanços das
tecnologias da informação. E claro que esta corrida tecnológica precisa de sustentação
financeira, precisa gerar receitas, o que numa economia subdesenvolvida gera situações de
desigualdade no acesso a esses recursos devido seus altos custos.
A esses fatores soma-se a falta de políticas públicas eficientes de democratização das
novas tecnologias da informação e comunicação, vistas como fator de cultura na escola.
Com efeito, existem entraves a essa disseminação que escapam às condições do meio.
O principal é o acesso a essa tecnologia, e quando falamos em acesso, não nos referimos
apenas às condições econômicas e sociais de aquisição, mas, especialmente, ao domínio da
codificação da linguagem necessária para usufruir desses recursos técnicos.
Para compreender melhor o processo de apropriação desses novos recursos
tecnológicos pelo usuário, podemos importar o conceito de “autodidaxia” proposto pela
pesquisadora Maria Luiza Belloni, que diz ser esta autodidaxia a ação de instruir-se sem
professor – autodidatismo.
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Ao trabalhar com mídia e educação, Belloni (2001) propõe uma atualização das
tecnologias educacionais em face à crescente influência da mídia na formação das novas
gerações.
Outrossim, quando abordamos a utilização de equipamentos digitais de baixa
resolução para produção de produtos audiovisuais em detrimento de recursos mais complexos
e de uma qualidade técnica mais avançada, isso implica também na alteração do modo de
produção da mensagem, de acordo com a linha de pesquisa do canadense McLuhan: “ao
transmitir a mensagem, afirma ele, o meio transmite também algo mais que lhe é inerente e
que agem sobre o conteúdo, transformando-o. Este algo mais é o que chamamos ‘linguagens’
das mídias eletrônicas”. (McLUHAN apud BELLONI, 2001, p.6).
Desta forma não podemos descartar que o processo educomunicativo de produção de
vídeos em baixa resolução começa bem antes da sua execução, pois, há que se levar em conta
as peculiaridades que esse novo suporte exige no momento da confecção dos produtos
audiovisuais.
No âmbito da linguagem é importante levar em consideração que a sua construção
deve estar fundamentada nas características do público que se quer atingir. E aqui lançamos
mão mais uma vez das pesquisas de Belloni que nos auxiliam a compreender a importância de
se estar em sintonia com as aspirações do nosso público.
É preciso valorizar o mundo real dos sujeitos, considerá-los como
protagonistas de sua história e não como “receptores” de mensagens e
consumidores de produtos culturais. É preciso retomar a velha fórmula:
abandonar o conceito “do que a televisão faz às crianças” e substituí-lo pelo
conceito “do que as crianças fazem com a televisão”. (SCHRAMM, 1965;
PINTO, 1998, apud BELLONI, 2001, p.21).
No caso da nossa pesquisa, não exatamente o que as crianças fazem com a televisão,
mas o que essas crianças, os adolescentes e os jovens podem produzir a partir dos seus
equipamentos portáteis de produção audiovisual. Como objeto tangível, podemos apontar os
alunos da escola de nível médio “O Bom Pastor”, de São Luís – MA24, que participaram do
Projeto Institucional desenvolvido e executado pela referida escola nos anos de 2008 e 2009.
24
O Bom Pastor é uma escola privada que atende alunos para nível fundamental e médio e situa-se no bairro do Cohatrac
em São Luís-MA. Endereço eletrônico: http://www.obompastor.com.br/cbp/
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Trata-se de uma série de atividades extracurriculares, distribuída em diversos
segmentos como Artes Plásticas, Artes Cênicas, Dança, Música, Fotografia e – o que mais
interessa ao nosso trabalho – vídeos de baixa resolução, a partir dos quais um tema central foi
trabalhado.
A realização deste projeto visou levar os alunos à compreensão das manifestações
artístico-culturais como forma de preservar e transmitir valores fundamentais para a vida de
um povo. Mais do que isso, o trabalho estimulou uma educação cidadã ao trabalhar temas
como justiça, ética, união e preservação ambiental. Utilizando o protagonismo da produção
audiovisual os alunos ingressaram em um processo dialógico entre o tema proposto e a
linguagem do cinema.
Na área de educação acredita-se, hoje, que investigar as relações que crianças
e adolescentes estabelecem com artefatos audiovisuais pode ajudar a
compreender o papel que as mídias desempenham no cotidiano delas, em sua
formação moral e ética e em seus processos de construção de conhecimentos
(DUARTE; et.al. in SETTON, 2004, p.38).
Esse, aliás, é um encontro marcado por muitas décadas. Há muito que o cinema foi
convocado para as salas de aula e prestar serviços à educação, especialmente pautado na
necessidade de uma reforma na educação e no valor cultural da chamada sétima arte,
objetivando a construção de um país moderno e progressista na década de 20.
A partir de então diversas ações são desenvolvidas com o intuito de promover o
casamento perfeito entre o cinema e a educação, geralmente por meio da prática da análise
crítica dos filmes e posteriormente da própria produção cinematográfica com temáticas
educacionais. Foi criado, inclusive, já nos anos 30, o Instituto Nacional de Cinema Educativo
– INCE, por iniciativa do professor Edgar Roquette Pinto, “destinado a promover e orientar a
utilização da cinematografia especialmente como processo auxiliar do ensino e ainda como
meio de educação em geral” (ARAÚJO apud FRANCO, In: SETTON, 2004, p.25).
Embora o INCE tenha se consolidado e apresentado resultados positivos durante o
período de sua existência – foi extinto em 1966 – suas ações não foram suficientes para
materializar as relações entre a educação e o cinema brasileiro como prática constante. A
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educação não tomou o cinema como parte integrante do seu processo, tampouco o cinema fez
da educação uma alternativa para a auto-sustentabilidade.
Um dos empecilhos da aproximação do cinema com a educação está ligado à falta de
habilidade para a aplicação do processo de produção do produto audiovisual como ferramenta
pedagógica, em detrimento de sua utilização ilustrativa, conforme explica Magno:
Apesar das novas propostas pedagógicas e mesmo frente à necessidade de o atual
sistema incorporar os meios de comunicação em seus currículos, o Cinema,
diferentemente do ensino da Literatura, das Artes Plásticas e da Música, continua
transitando entre o fascínio que desperta e o temor de não se saber como abordá-lo
além de sua utilização ilustrativa de visões e interpretações histórico-culturais.
Poucos são os que se aventuram a encará-lo como linguagem que exige estratégias
de abordagens e metodologias específicas, não se dando conta de sua ampla
interdisciplinaridade (MAGNO apud SILVA, 2007, p.50).
Claro que há um valor considerável na exibição de filmes enquanto prática
pedagógica, entretanto,
é preciso ressignificar esta prática, otimizar seu uso dentro da escola, aproveitar a
linguagem cinematográfica – que funciona, também como reconstrução da realidade
– para dar sentido e vivificar os assuntos relativos a esses conteúdos, promovendo
debates, reflexão e, consequentemente, “desestabilizando” dogmas (SILVA, 2007,
p.54).
É aqui que acreditamos no potencial dos vídeos de baixa resolução como prática
pedagógica, pois eles possibilitam, a partir de um custo reduzido em relação à produção de
melhor qualidade técnica, a experimentação da produção de sentidos e reconstrução da
realidade por meio das imagens e do som, lançando mão de um processo dinâmico,
interdisciplinar e coletivo.
Nessa linha, cabe à educação superar a visão ainda hegemônica de que as TICs –
Tecnologias da Informação e da Comunicação sejam exclusivamente instrumentos
voltados para ampliar o repertório dos docentes, em suas atividades didáticas. [...]
reconhece-se, dessa forma, o relacionamento virtual como espaço legítimo de
produção colaborativa de novas referências para o convívio humano (SOARES,
2007, p.38).
Tal reformulação também é instigada pelas próprias problemáticas surgidas no
cerne do espaço educativo, como provocações oriundas de pesquisas e estabelecimento de
metas. A própria função do professor é alterada neste sentido. Ele deixa de ser o detentor do
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conhecimento para assumir uma função muito mais preocupada em facilitar a construção do
conhecimento por parte dos alunos, que têm valorizadas suas bases culturais.
Então, ao codificar as mensagens pedagógicas em produção audiovisual é preciso
levar em conta o meio técnico, respeitando suas características, as peculiaridades do discurso
desse meio e a “cor” do público a quem se destinam estas mensagens, a fim de facilitar a
produção de materiais educomunicativos, potencializando ao máximo as características do
meio técnico escolhido.
Sempre levando em conta a influência que a produção de imagens tem numa
sociedade onde são cada vez mais presentes e acessíveis, os equipamentos necessários a essa
produção. Tornando-se presentes, eles influenciam no modo como são construídos e
formatados os saberes individuais oriundos da observação crítica ou acrítica das relações
sociais.
Em sociedades audiovisuais, narrativas em imagem-som comportam o que se
convencionou chamar de currículo cultural, ou seja, um conjunto mais ou menos
organizado de informações, valores e saberes que, via produtos culturais (nesse caso,
audiovisuais), atravessa o cotidiano de milhões de pessoas e interferem em suas
opiniões e em sua forma de aprender, de ver e de pensar. As relações dos indivíduos
com esse tipo de produção constroem imaginários e ajudam a produzir identidades
étnicas, sexuais, sociais etc. (DUARTE, et. al. In SETTON, 2004, p.37).
Seguindo pelo caminho da relação entre Comunicação e Educação, que permeia todo
esse trabalho, os pesquisadores José Luiz Braga e Regina Calazans contribuem para a
compreensão da interface desses campos.
Para compreender o campo da Educação é preciso compreender primeiro que ele se dá
em pelo menos duas esferas. Uma é a educação formal, sistematizada em organogramas com
conteúdos estratificados em séries e estágios de formação, submetida às instituições
educacionais. Através dela
a sociedade busca dar conta de uma, tradicionalmente, dupla atribuição dos
processos educativos: fornecimento de um “saber comum”, compartilhado
por todos e constituindo justamente com processos culturais difusos, uma
base geral de integração social; e o fornecimento de “saberes especializados”,
voltados para o atendimento de necessidades sociais diferenciadas, para a
divisão do trabalho... (BRAGA; CALAZANS, 2001, p. 40).
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Por outro lado, existe a chamada educação não-formal que compreende os espaços de
formatação do conhecimento nas experiências do dia-a-dia na família, associações de bairro,
sindicatos, igrejas e outras instituições sociais. “As aprendizagens ‘da vida’ podem ser espaço
de observação e reflexão, fontes de compreensão de processos, potencialidades para eventual
inclusão no processo de ensino” (BRAGA; CALAZANS, 2001, p. 45).
É importante ressaltar que embora seja possível identificar esta subdivisão na
Educação, seus extratos não existem isoladamente, há uma constante penetração de ambas as
partes.
A pluralidade do campo da educação deve ser vista como base para ampliação dos
discursos em torno das matérias mais tradicionais, a fim de alargar o debate, fugindo de sua
aplicação meramente acadêmica para se aproximar de uma aplicação voltada primordialmente
à construção da cidadania, abordando temas plurais, por meio da transversalidade com outros
campos, como por exemplo, o audiovisual.
É esse fortalecimento da cadeia pedagógica que dinamizará a relação de ensinoaprendizagem, tornando-a mais profícua quanto à educação humana, conforme afirma
Colello:
Em face da amplitude, natureza e complexidade das metas educativas, a
escolaridade deixa de ser concebida como mera sucessão de ensinamentos
predeterminados e válidos por si só, cuja somatória garantisse necessária e
definitivamente a educação humana. Seja no plano teórico, seja na dimensão prática,
a educação do futuro clama pela aproximação entre o ser e o saber, pelo rompimento
dos muros que separam a escola e o mundo (COLELLO apud SILVA, 2007, p.30).
Portanto, a implantação de projetos educativos, com temas transversais é um dos
catalisadores dessa educação mais ampla, capaz de atender o clamor não só da educação do
futuro, mas, sobretudo da educação que conhecemos e aplicamos hoje.
A concepção dos Temas Transversais pretende conferir uma nova dimensão ao
currículo, que em nenhum momento pode ser compartimentado em áreas isoladas,
sem conexão entre si, mas que é estruturado em diferentes eixos claros de objetivos,
conteúdos e princípios de ação das aprendizagens que lhe dão coerência e solidez.
Deste modo, os eixos transversais podem contribuir para definir mais claramente o
horizonte educacional para o qual se está voltado (SILVA, 2007, p.44).
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O exemplo citado, do Colégio O Bom Pastor, aponta nessa direção ao apresentar como
base a vinculação de disciplinas curriculares com um tema específico, numa relação pontual,
integrados interdisciplinarmente por meio das oficinas, dentre as quais destacamos a de
produção de vídeos em baixa resolução para lançarmos um olhar investigativo e aplicarmos
nossa pesquisa.
Por seu turno, o Campo da Comunicação tende a ser visto como o campo das mídias,
mas Braga e Calazans propõem que se trata “dos modos como a sociedade conversa com a
sociedade” (BRAGA; CALAZANS 2001, p. 16). Assim podemos dizer que no Campo da
Comunicação as amarras da sistematização são mais fluidas, e seus recursos se mostram mais
atrativos através da dinâmica do audiovisual que disponibiliza os saberes de forma ágil e
assistemática.
Para a centralidade da mídia no tocante ao campo da Comunicação Braga e Calazans
apontam três razões básicas:
- A existência de uma perspectiva própria na percepção e problematização dos
processos comunicacionais pautada nos meios de comunicação audiovisuais;
- A produção de sentidos devido à importante presença da mídia como processo de
comunicação, e;
- O questionamento dos habituais modos de conversação social através da mídia.
O valor desta análise está na percepção de que o sistema de comunicação serve
para que a sociedade, em seus setores e indivíduos, possa interagir, alargando a idéia de
comunicação enquanto mídia.
Agindo assim passamos a nos distanciar de uma relação de poder mercadológica,
na qual a comunicação é vista como produto e nos aproximamos mais da disputa pela
liberdade de expressão e da circulação da idéias.
Afinal o que se propaga acerca da sociedade da informação é justamente a sua
larga capacidade de difundir conceitos através de novos suportes oriundos dos avanços da
tecnologia, em especial da informática aliada à telecomunicação. Isso implica, certamente, em
um repensar da comunicação tal qual nós a conhecemos.
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O estilo de mediação ao qual estamos habituados ainda é o das grandes redes de
comunicação alicerçadas em seus mecanismos de comunicação massiva. Entretanto, para que
haja uma livre circulação das informações é preciso alcançar um patamar menos
hierarquizado, no qual as relações se dêem mais horizontalmente.
A ampliação da diversidade cultural e da inserção de mais grupos sociais na
produção de conteúdos digitais pode ser elevada a partir da desconcentração do
poder comunicacional. A sociedade atual pode superar o seu entorpecimento diante
das opções tecnológicas, deixando de tratá-las a partir da ideologia da neutralidade
técnica, para assumir que existem opções que trazem maior ou menor grau de
democratização, interatividade e liberdade (SILVEIRA, 2007, p.52).
Mas, para além das questões referentes à preponderância da mídia, é preciso
perceber que a comunicação é algo inerente ao ser humano. Que antes da construção de todo
este aparato midiático, os homens já se comunicavam através de sistemas de linguagem
criados e convencionados socialmente.
Etimologicamente, comunicar, do latim communicare, significa fazer saber, tornar
comum, participar. É ação que conta com a participação de agentes enunciadores
buscando tornar signos comuns, no sentido de “pertencente a muitos”, por
intermédio de um infindável processo de troca, ou seja, de construção de sentidos
(SIQUEIRA, 2006, p.22).
Recorrendo à origem da palavra podemos compreender que a comunicação se
sobrepõe aos recursos tecnológicos, por que a condição básica para o desencadeamento do
processo é que os agentes dominem o mesmo código. Tudo o mais que medeie o processo são
apenas elementos potencializadores e/ou facilitadores da comunicação.
Ao tomarmos por base este domínio do código podemos inferir que os diferentes
modos como as sociedades se organizam culturalmente, estão diretamente ligados aos modos
como elas interpretam os diferentes signos.
Por isso os aspectos culturais aparecem com grande força no cenário
comunicativo, pois, eles podem inclusive ser empecilhos para a comunicação.
A convergência entre os campos da Comunicação e da Educação se dá, justamente,
através da cultura. É neste estágio que a Educação lança mão dos processos do suporte
comunicacional para difundir seu conteúdo e formatar estratégias agregadoras e atrativas, bem
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como a Comunicação passa cada vez mais a desenvolver produtos educativos e a fortalecer as
características culturais de cada sociedade.
Neste sentido a Educomunicação está presente em diferentes setores que não só
nas escolas, pois é resultante de um processo educativo amplo, como prevê a Lei de Diretrizes
Orçamentárias – LDO:
[...] a educação não se limita à escola e aos meios formais/intencionais com os quais
trabalha, mas é um campo amplo e encontra-se em processo na família, nas relações
sociais, no trabalho, na sociedade, na cultura e nos meios de comunicação inseridos
nesses ambientes (LIMA, 2007, loc.cit.).
Como podemos observar o que é mais gritante nesta relação é a intencionalidade
educativa. Com isso não estamos afirmando que há uma sobreposição da Educação sobre a
Comunicação, mas sim revelamos sob que lente abordamos esta interface. Pensar a
intencionalidade educativa da comunicação é pensar como o campo da comunicação
desenvolve propostas de caráter educativo.
Conforme exposição anterior, tanto o campo da comunicação quanto o da
educação são responsáveis pela participação dos indivíduos na sociedade. O primeiro cumpre
o seu papel integrador a partir da mediação social, promovendo uma interatividade entre os
indivíduos e a sociedade na infinidade de seus setores e aparelhos. Já o segundo fornece
competências requeridas para a participação do indivíduo na sociedade, pois, o capacita para
assumir postos e conseqüentes lugares de fala que são “reservados” para aqueles que
alcançam níveis mais altos de formação. “Este ângulo de interface corresponde portanto ao
encontro entre o sistema escolar e a própria ‘sociedade de comunicação’ – e é relacionado à
necessidade educacional de formar e socializar os estudantes para esta” (BRAGA;
CALAZANS, 2001, p.59, grifo do autor).
Neste encontro se dão ainda outras relações como a presença da mídia na sala de
aula e os modos como esta última interage com a presença massiva dos meios de
comunicação na sociedade.
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6. REFERÊNCIAS
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ver com o rádio digital. In: Mídias digitais: convergência tecnológica e inclusão social.
FILHO, André Barbosa, CASTRO, Cossete e, TOME, Takashi (orgs). São Paulo,2005. –
(Coleção comunicação-estudos).
BELLONI, Maria Luiza. O que é mídia-educação. Campinas, SP: Autores Associados, 2001
– (Coleção polêmicas do nosso tempo;78).
BRAGA, José Luiz, CALAZANS, Maria Regina Zamith. Comunicação e educação:
questões delicadas na interface. São Paulo: Hacker, 2001.
COSTA, José Wilson da; PAIM, Isis. Informação e conhecimento no processo educativo. In:
COSTA, José Wilson da; OLIVEIRA, Maria Auxiliadora Monteiro. (Org.). Novas
Linguagens e novas tecnologias: educação e sociabilidade. Petrópolis – RJ : Vozes, 2004,
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