UIVERSIDADE FEDERAL FLUMIESE CURSO DE BACHARELADO EM BIOLOGIA MARIHA Macrofauna associada à colônias saudáveis e não-saudáveis de Palythoa caribaeorum (Duchassaing & Michelotti, 1980) (Cnidaria, Anthozoa), na região de Arraial do Cabo, RJ, Brasil Amanda Ferreira da Silva Niterói Novembro de 2008 Macrofauna associada à colônias saudáveis e não-saudáveis de Palythoa caribaeorum (Duchassaing & Michelotti, 1980) (Cnidaria, Anthozoa), na região de Arraial do Cabo, RJ, Brasil AMANDA FERREIRA DA SILVA Monografia apresentada ao corpo docente do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal Fluminense como parte dos requisitos para obtenção do grau de bacharel em Biologia Marinha. Orientador: Renato Crespo Pereira Co-orientador: José Policarpo Mendonça-Neto Niterói Novembro de 2008 ii Macrofauna associada à colônias saudáveis e não-saudáveis de Palythoa caribaeorum (Duchassaing & Michelotti, 1980) (Cnidaria, Anthozoa), na região de Arraial do Cabo, RJ, Brasil Amanda Ferreira da Silva Matrícula: 105.44.002-1 Foi analisado e aprovado com grau: __________________ ____________________________________ Dr. Renato Crespo Pereira Departamento de Biologia Marinha – Universidade Federal Fluminense ____________________________________ Dra. Bárbara Segal Museu Nacional/SAMN – Universidade Federal do Rio de Janeiro ____________________________________ Dra. Cinthya S. G. Santos Departamento de Biologia Marinha – Universidade Federal Fluminense Niterói Novembro de 2008 iii FICHA CATALOGRÁFICA Da Silva, Amanda Ferreira Macrofauna associada à colônias saudáveis e não-saudáveis de Palythoa caribaeorum (Duchassaing & Michelotti, 1980) (Cnidaria, Anthozoa), na região de Arraial do Cabo, RJ, Brasil. Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2008. xiii + 22 pp. Monografia: Bacharel em Biologia Marinha 1. Palythoa caribaeorum. 2. Zoantharia 3. Doenças Recifais 4. Macrofauna subionte 5. Arraial do Cabo 6. Brasil. I. Universidade Federal Fluminense, Curso de Bacharel em Biologia Marinha. II. Título. Niterói Novembro 2008 iv Dedico essa monografia a minha família e aos meus orientadores. v “O que sabemos é uma gota, o que ignoramos é um oceano”. Isaac ewton “Eu vejo a vida melhor no futuro, eu vejo isso por cima de um muro de hipocrisia que insiste em nos rodear. Eu vejo a vida mais clara e farta, repleta de toda satisfação que se tem direito do firmamento ao chão. Eu quero crer no amor numa boa, que isso valha pra qualquer pessoa, que realizar a força que tem uma paixão. Eu vejo um novo começo de era, de gente fina, elegante e sincera com habilidade pra dizer mais sim do que não (não, não). Hoje o tempo voa, amor, escorre pelas mãos. Mesmo sem se sentir, que não há tempo que volte, amor, vamos viver tudo o que há pra viver. Vamos nos permitir!” Lulu Santos, Tempos Modernos vi Sumário Agradecimentos ................................... viii Resumo .................................... x Abstract .................................... xi Lista de Tabelas .................................... xii Lista de Figuras .................................... xiii 1. Introdução .................................... 14 .................................... 14 1.2 Sobre o Branqueamento e infecções por patógenos em organismos recifais ................................... 16 2. Objetivos .................................... 17 3. Hipóteses .................................... 17 4. Materiais e Métodos .................................... 17 4.1. Local de Estudo .................................... 18 4.2. Coleta da macrofauna associada .................................... 19 4.3. No laboratório .................................... 19 4.4. Tratamento dos Dados .................................... 20 .................................... 20 5.1. Macrofauna associada da zona rasa .................................... 20 5.2. Macrofauna associada da zona da interface .................................... 24 6. Discussão .................................... 27 7. Conclusões .................................... 29 8. Recomendações .............................. 29 9. Referências Bibliográficas .................................... 30 1.1 Sobre Palythoa caribaeorum 5. Resultados vii AGRADECIMETOS É com imenso carinho e felicidade que gostaria de agradecer mais essa vitória em minha vida às seguintes pessoas que tanto me ajudaram na confecção dessa monografia. Ao meu orientador Dr. Renato Crespo Pereira pela oportunidade de trabalhar no seu Laboratório me concedendo além do espaço a liberdade para minhas idéias. Muito Obrigada! Ao meu co-orientador Dr. José Policarpo (“Faala, Zé!”) pela oportunidade também de me permitir acompanhar o seu estudo de Pós-Doutorado, e por todo a sua orientação em direção ao foco do meu trabalho. Valeu pelas constantes dicas!! A minha Família linda! Que tanto amo e prezo: Ao meu “paizão” Cardoso, a minha verdadeira paixão! O meu mestre, a minha referência de vida que com toda a sua honestidade e perseverança “caratacaense” chegou ao Rio de Janeiro vindo daquele sertão nosso, na nossa Bahia. Toda a sua vida é base para a minha fortaleza. Te amo, Pai! Esse meu diploma vai para você, pela sua luta, para que você acrescente nas suas vastas vitórias. A minha “mainha” Adelice! Mãe, o que eu tenho a lhe dizer é que eu agradeço por todos os estímulos que só você sabe me dar: desde acordar cedo para ir para a faculdade a acordar cedo para ir malhar (risos). Você é TUDO pra mim, mãe! Esse diploma é uma vitória nossa! A minhas irmãs Angélica e Aline, por quem eu tanto me espelho: Aline linda, pelas tantas lições de vida, por você sempre acompanhar o meu caminho, mesmo estando morando longe agora. Te amo tanto, irmã! Você é a minha mestra! Angélica (Deda), pela sua garra, inteligência de tantos concursos aprovados o que me estimulava a sempre estudar mais para um dia ser igual a você. Te amo, Deda! Aos meus sobrinhos, Gabriela e João Victor, pela luz que trouxeram para a nossa casa com o nascimento de vocês. Dinda ama vocês! Um agradecimento em especial ao pessoal da Biologia UFF: À minha grande amiga Nathália Pinho (Nathalicious), Daniele Fonseca, Vanessa Martins, Bruno Grilo, Eduardo Xavier, Mariana (Mari), Carol Matarazzo, Shrek (Guilherme), Amanda Vidal, Alan Mota, Luiz Felipe, Rafael Sain`t Clair e Papu. Obrigada, galera! Ao pessoal do Laboratório de Ecologia Química Marinha UFF: Suzi Ribeiro, Éverson Bianco, Ecidine (Parceiro de campo!), Camila Ferreira, Léo, Aline baiana, Fred colombiano, Brito, Meire-Enne, Wilton Ferreira. A Dra. Cinthya S. G. Santos pela oportunidade de triar minhas amostras em seu laboratório, e pela sua orientação na identificação dos organismos. viii A Dra. Bárbara Segal e todo o pessoal do Projeto Coral Vivo/ Museu Nacional, pelas oportunidades de entrar no estágio, de me fazerem eu me interessar ainda mais por corais e ser uma defensora (“ferreeenha”) deles! Obrigada pelas excelentes bibliografias que li de vocês! A M.Sc. Suélen Felix (IEAPM, Arraial do Cabo), pela sua disponibilidade em me receber no Instituto, auxiliando-me na confecção dessa monografia, com correções e figuras concedidas. Obrigada, Suélen! Ao pessoal da Casa da Descoberta UFF, pelos ótimos momentos de trabalho e também de confraternização. Adorei conhecer vocês! Obrigada! Ao povo do meu condomínio e do Colégio Pentágono, pelos momentos ma-ra-vi-lhosos que sempre passamos e pelos estímulos para eu continuar na minha jornada. Nossa amizade é eterna, gatos! (Milhõoes! Risos). Por fim, mas não menos importante a toda equipe de professores e funcionários da UFF. Em especial, aos professores: Carlos Eduardo Leite Ferreira (“Grande Cadu! Vamos logo mergulhar no Caribe! Risos), Carlos Augusto Rangel, Carlos Alberto, Aguinaldo (Cacá), Cassiano Monteiro, Fábio Pitombo, Mirian Crapez, Renato Crespo e Valéria L. Teixeira. A todos vocês, pelas maravilhosas aulas e discussões de biologia marinha que fizeram firmar ainda mais essa paixão minha pelo mar e seus componentes; à secretária Milene da coordenação de Biologia. E a todas as pessoas que, de alguma forma, ajudaram-me na conclusão desse curso de Bacharel em Biologia Marinha, tornando-me mais humana e apaixonada pelo que eu faço. Obrigada, pessoal! ix Resumo ___ Palythoa caribaeorum ocupa vastamente o litoral de Arraial do Cabo, com uma distribuição vertical nos costões rochosos até cerca de 10 metros de profundidade. Por debaixo dos “tapetes” deste zoantídeo, encontra-se uma grande comunidade animal e vegetal associada. O branqueamento de cnidários é um fenômeno relativamente recente que vem ocorrendo em diferentes regiões costeiras do mundo. A coloração branca resulta da perda de zooxantelas, responsáveis pela pigmentação do animal. As doenças provocadas por patógenos em ambientes recifais têm expandido bastante desde a década de 80, e hoje representam a principal causa da perda da biodiversidade em recifes. Este estudo analisou a macrofauna existente por debaixo (subionte) de colônias saudáveis e não-saudáveis de P. caribaeorum, em coletas realizadas em setembro e outubro de 2008. As amostragens foram feitas em duas zonas de profundidade: rasa (0 a 3 metros) e interface (6 a 9 metros). Foi feita uma listagem dos táxons encontrados nas amostras saudáveis e não-saudáveis, de ambas as zonas de profundidade. Posteriormente, foi realizada uma comparação da macrofauna associada em termos de abundância, riqueza e densidade média. Os resultados mostraram que tanto para a zona rasa quanto para a interface, houve uma maior abundância de indivíduos e riqueza para as colônias saudáveis. Com relação à densidade média de organismos por metro quadrado, para ambas as zonas esta foi maior também para as colônias saudáveis. A exceção foi a Classe Cirripedia na interface que apresentou maior densidade média para as colônias não-saudáveis. A existência de cracas no local reflete mais uma competição por espaço existente do que preferência por tipo de colônia. O táxon Dendobranchiata foi registrado apenas nas colônias saudáveis do raso. Brachyura, apenas nas colônias saudáveis da interface e Holoturoidea, apenas nas colônias não-saudáveis da interface. Palavras-chave: Palythoa caribaeorum, Zoantharia, Doenças Recifais, Macrofauna subionte, Arraial do Cabo, Brasil. x Abstract Palythoa caribaeorum widely occupies the coast of Arraial do Cabo, with a vertical distribution until about 10 meters of depth. Under the “carpets” of the zoanthid, a great associated animal and vegetal community is found. The bleaching of Cnidaria is a relatively recent phenomenon that has been occurring in different coastal regions worldwide. The white coloration results from the loss of zooxanthellae, the responsible for the pigmentation of the animal. Reef diseases have flourished since the 1980s, and now represent a major cause of the loss of reef biodiversity. This study analyzed the existing macrofauna under the health and non-healthy colonies of P. caribaeorum, during sampling carried out through September and October of 2008. The sampling has been made in two different zones of depth of the rocky reefs from Forno inlet: flat (0 to 3 meters) and interface (6 to 9 meters). It was made a list with the taxa found on the healthy samples and on the non-healthy ones, from both zones of depth. After, a comparison in relation to abundance, richness, and mean density of the associated macrofauna was made. The results have shown that either for the flat zone or for the interface there were a bigger abundance of individuals and richness of taxa for the healthy colonies. Regarding to the mean density of organisms per square meter, for both zones it was bigger for healthy colonies also. The exception was Cirripedia that in the interface presented a greater mean density to the non-healthy colonies. Yet, this presence of barnacles reflects more a space competition than a preference for colony on the local. The taxa Dendobranchiata were shown only in the healthy colonies from the flat zone. Brachyura, only in the interface’s healthy and Holoturoidea only occurs in the non-healthy colonies from the interface. Keywords: Palythoa caribaeorum, Zoantharia, Reef diseases, Subiont macrofauna, Arraial do Cabo, Brazil. xi Lista de Tabelas Legenda Tabela 1 Página Listagem dos táxons da macrofauna subionte associada à amostras saudáveis e não-saudáveis, da zona rasa (RS e RNS) e à amostras saudáveis e não-saudáveis da interface (IS e INS), para as colônias de P. caribaeorum coletadas na Enseada do Forno..........................21 xii Lista de Figuras Legenda Página Figura 1 Palythoa caribaeorum.......................................................16 Figura 2 Mapa vetorizado da área de coleta, Enseada do Forno, Arraial do Cabo/RJ..............................................................................18 Figura 3 Abundância relativa dos táxons nas colônias saudáveis do raso.................................................................................................22 Figura 4 Abundância relativa dos táxons nas colônias não-saudáveis do raso.........................................................................22 Figura 5 Valores da densidade média dos táxons associados à colônias saudáveis da zona rasa. A barra de erro é igual ao desviopadrão em torno da média..................................................................23 Figura 6 Valores da densidade média dos táxons associados à colônias não-saudáveis da zona rasa. A barra de erro é igual ao desvio-padrão em torno da média......................................................23 Figura 7 Abundância relativa dos táxons nas colônias saudáveis da interface........................................................................................25 Figura 8 Abundância relativa dos táxons nas colônias não-saudáveis da interface................................................................25 Figura 9 Valores da densidade média dos táxons associados à colônias saudáveis da zona da interface. A barra de erro é igual ao desvio-padrão em torno da média.....................................................26 Figura 10 Valores da densidade média dos táxons associados à colônias não-saudáveis da zona da interface. A barra de erro é igual ao desvio-padrão em torno da média......................................26 xiii 1. Introdução 1.1. Sobre Palythoa caribaeorum: O zoantídeo Palythoa caribaeorum é pertencente à família Zoanthidae, ordem Zoanthidea, subclasse Hexacorallia (ou Zoantharia) e classe Anthozoa do filo Cnidaria. Vulgarmente chamado de “Baba-de-boi”, essa espécie é muito comum no Brasil (Figura 1) e recebem esse nome em função da produção abundante de muco, que hidrata seu tecido e evita que ressequem durante a maré baixa. Apresenta ampla distribuição em toda costa oeste do Oceano Atlântico (Hetzel & Castro, 1994; Castro & Pires, 2001), habitando ambientes normalmente rasos (Kemp et al., 2006) e revestindo rochas ou formando grandes massas incrustantes. Como resultado de sua natureza bêntica, com hábito sedentário, Palythoa Caribaeorum sofre o assentamento de variados organismos classificados como epibiontes, subiontes e endobiontes (Pérez, 2005). A epibiose é um mecanismo comum utilizado por muitos organismos bênticos sésseis em função da relativa ausência de substratos consolidados no assoalho marinho (Io.usp, 2008). Os organismos subiontes correspondem àqueles que vivem relacionados ao substrato ou livres por debaixo da colônia de P. caribaeorum. Os endobiontes representam os que vivem diretamente relacionados com o cenênquima colonial do zoantídeo. A presença dos organismos associados ao zoantídeo parece indicar a procura por um local protegido para o seu desenvolvimento (Pérez, 2005). O microambiente debaixo da massa de zoantídeo fornece então um perfeito habitat para uma variedade de organismos. Existem vários tipos de relações ecológicas entre os cnidários e demais táxons, como: autoepibiose (Millard, 1973); endosimbiose (Kubota & Yamada, 1988); comensalismo (Robins, 1972); predação (Staples & Watson, 1987) e simbiose (Yamamoto, 1973). Dentre esses organismos associados encontram-se representantes da macrofauna como poliquetas, moluscos, crustáceos, entre outros. Demais relações como de predação também ocorrem, sendo o P. caribaeorum predado por estrelas do mar, peixes (em especial o gênero Chaetodon) e o poliqueta Hermodice carunculata (Pallas 1766). Os membros da ordem Zoanthidea são em grande parte tropicais, e alguns habitantes são comuns em recifes, como é o caso do organismo em estudo. As colônias dessa espécie podem medir de centímetros a metros de comprimento. Em sua base, apresenta um estolão 14 conectante ou uma esteira comum. A coluna e a esteira de Palythoa caribaeorum são recobertos por uma cutícula espessa e possui areia ou outros detritos incrustados na camada superficial (Barnes, 1996). Palythoa caribaeorum é uma espécie pouco predada (Sebens, 1982), possivelmente devido à presença da palytoxina (Suchanek & Green 1981), e da inclusão de sedimentos em seus tecidos (Haywick & Mueller 1997). A Palytoxina pode ser encontrada (ou produzida) em zoantídeos (Moore & Scheuer, 1971) e em dinoflagelados (Usami et al., 1995). É uma das mais poderosas toxinas do ambiente marinho, sendo superada apenas por toxinas de bactérias (Gleibs et al., 1995). Já foi registrado o seqüestro deste composto por animais como crustáceos e poliquetas, que vivem em íntima associação com colônias de P. caribaeorum (Gleibs et al., 1995). Poucos trabalhos foram publicados sobre a associação de organismos com Palythoa caribaeorum. Com relação à alimentação, este zoantídeo apresenta hábito carnívoro e captura com seus tentáculos organismos em suspensão – principalmente zooplâncton. Apesar de ser heterótrofo, associa-se simbioticamente a microalgas fotossintetizantes e utiliza os recursos produzidos por elas quando as fontes alimentares são escassas (Johannes, 1974). As zooxantelas nessa relação beneficiam-se do suprimento constante de CO2 e nutrientes (Cook et al., 1988), da proteção contra herbívoros e contra danos causados por radiação UV (e.g. Lesser e Shick, 1989). As zooxantelas parecem ter também participação na produção do muco de Palythoa caribaeorum (Banin et al., 2001; Wild et al., 2004), o que ainda não foi confirmado. 15 1.2. Sobre o Branqueamento e infecção por patógenos em organismos recifais: Um fenômeno que vem aumentando dramaticamente durante as últimas décadas é o branqueamento e as doenças em organismos recifais. Há fortes evidências de que o aquecimento prolongado dos oceanos seja o causador primário desse fenômeno (Glynn & D´Croz, 1990; Goreau & Hayes, 1994). O fenômeno do branqueamento consiste na perda das zooxantelas (dinoflagelados fotosimbiontes) e/ou perda de seus pigmentos afetando extensas áreas recifais. As algas são expelidas em resposta ao estresse causado por aumento da temperatura, poluição ou sedimentação. Como conseqüência da perda da pigmentação sofrida pelo cnidário (e demais invertebrados, como ascídias, esponjas e moluscos) pode ocorrer a morte do mesmo (Brown, 1997). Os impactos do branqueamento estendem-se também aos organismos associados aos corais (Antonius, 1981; Bruckner & Bruckner, 1997). No Brasil, o branqueamento recifal parece ser recente e não extensivo (Migotto, 1997). É imprescindível, portanto, devido à preocupação mundial sobre a condição global dos recifes, que se revisem os conhecimentos dos fatores físicos e biológicos envolvidos no branqueamento, o mecanismo de perda de zooxantelas e pigmentos, e as conseqüências ecológicas para as comunidades recifais (Brown, 1997). O trabalho de Brown (1997), um dos mais relevantes sobre branqueamento, avaliou os dados adquiridos até a época sobre o fenômeno, considerando a indução por aumento da temperatura, radiação solar e combinação de ambas. Dados de longa data em conjunto sugerem que eventos de branqueamento repetitivos podem ser conseqüência da elevação da temperatura dos oceanos, que no futuro irá expor todos os corais e demais organismos recifais zooxantelados a um ambiente hostil. Figura 1: Palythoa caribaeorum/ Foto retirada do site: www.flickr.com 16 As doenças provocadas por patógenos em ambientes recifais têm expandido bastante desde a década de 80, e hoje representam a principal causa da perda da biodiversidade em recifes (Harvell et al., 1999, 2002; Rosenberg & Loya, 2004). As doenças infecciosas têm sido vistas como o principal fator da degradação de corais no Oceano IndoPacífico, local de alta biodiversidade recifal (Raymundo et al., 2005; Kaczmarsky, 2006) Os organismos recifais são os mais suscetíveis às doenças causadas por patógenos (Oliveira, 2005). Existem diversos tipos de doenças que afetam organismos recifais, principalmente corais; dentre elas: Doença da mancha-preta (BBD), doença da mancha-vermelha (RBD), doença da mancha-branca (WBD), etc. O branqueamento pode ser causado pela perda das zooxantelas simbióticas ou pela presença do patógeno Vibrio spp. (Rosenberg et al., 2007). 2. Objetivos Realizar comparações entre a macrofauna associada à colônias saudáveis e nãosaudáveis de Palythoa caribaeorum, amostradas em um recife rochoso na Enseada do Forno, em Arraial do Cabo, RJ. 3. Hipótese Hipótese nula (H0): A abundância e a riqueza das colônias saudáveis não diferem das colônias não-saudáveis de Palythoa caribaeorum. Hipótese alternativa 1 (H1): Colônias saudáveis possuem maior abundância e riqueza do que colônias não-saudáveis de Palythoa caribaeorum. 17 4. Materiais e Métodos 4.1 Local de Estudo: Arraial do Cabo está situado no litoral sudeste brasileiro, distante aproximadamente 165 km da cidade do Rio de Janeiro. Este estudo foi realizado em um recife rochoso na Enseada do Forno (22° 58’ 06’’S e 042° 00’ 92’’W) (Figura 2). A influência das águas frias e ricas em nutrientes do fenômeno sazonal da ressurgência da ACAS sustenta uma rica fauna bêntica nesta localidade (Valentin, 1984). O ambiente recifal da Enseada do Forno é bastante dominado pela presença do zoantídeo Palythoa caribaeorum (Mendonça-Neto et al., 2008). A abundância e a diversidade das espécies existentes nos recifes de costões rochosos são diretamente afetadas pela zonação nas suas diferentes zonas de profundidade (Alevizon et al., 1985), pois em cada zona a composição do substrato e o crescimento da fauna e da flora bêntica ocorrem de forma diferenciada, resultando em uma disponibilidade diferente de abrigo e alimento para os organismos recifais. Figura 2: Mapa vetorizado da área de coleta, enseada do Forno, Arraial do Cabo/RJ. 18 4.2. Coleta da macrofauna associada: Durante os meses de setembro e outubro de 2008, foram realizadas 2 coletas de colônias de Palythoa caribaeorum em um recife rochoso na Enseada do Forno. A amostragem foi feita em duas zonas de profundidade diferentes: rasa (0-3m) e interface (69m). As amostras de colônias de Palythoa caribaeorum foram retiradas do substrato através de raspagens com auxílio de espátulas e com o uso de mergulho autônomo (SCUBA), com o maior cuidado a fim de não perder a macrofauna subionte de interesse. Antes das raspagens, o zoantídeo era coberto com um saco plástico para evitar o escape de organismos associados de rápida locomoção (principalmente crustáceos) que estivessem localizados por debaixo da colônia. Um total de vinte amostras foram coletadas. Elas mediam, aproximadamente, 10 x 10 cm, sendo 10 para as colônias da zona rasa (5 amostras de saudáveis e 5 amostras de branqueadas) e 10 para as colônias da interface (5 amostras de saudáveis e 5 amostras de branqueadas). Após as coletas, as amostras foram acondicionadas em sacos do tipo “ziploc” e posteriormente transportadas para laboratório em recipientes com gelo, termicamente isolados para manutenção da integridade dos organismos coletados. Pode-se considerar que os exemplares da macrofauna encontrados nas amostras representam principalmente a fauna subionte associada a P. caribaeorum, já que foram analisados apenas os organismos localizados abaixo do cenênquima (Pérez, 2005). As colônias consideradas não-saudáveis apresentavam uma coloração menos alaranjada do que as consideradas saudáveis. O assunto sobre o branqueamento e infecção por patógenos foram introduzidos, pois não se sabe a natureza desse aspecto não-sadio do zoantídeo amostrado considerado não-saudável. 4.3. o laboratório: No laboratório, as amostras de colônias saudáveis e branqueadas foram colocadas em bandejas contendo água do mar, sendo os organismos associados às colônias triados, separados e etiquetados em potes plásticos. Os organismos foram fixados em solução de formalina 4%. A macrofauna subionte encontrada solta nos sacos plásticos (“ziploc”) utilizados na coleta foi filtrada em malha 0,5 mm e foi triada, etiquetada, fixada e acondicionada em potes plásticos. Após estes procedimentos, foram realizadas outras triagens com o auxílio da lupa a fim de identificar os organismos ao menor nível taxonômico possível. Os organismos foram separados e conservados em plásticos (“eppendorf”) em álcool 70%, e triados de acordo com 19 seus táxons. As identificações foram realizadas com o auxílio de literatura pertinente e da especialista Dra. Cinthya S. G. Santos. 4.4 Tratamento dos Dados: A comparação da macrofauna subionte associada foi feita em termos de abundância, riqueza e densidade média. Todos os dados de contagem foram determinados de maneira quantitativa através do Programa Excel (2003), sendo considerados: Abundância total = Número de indivíduos por táxon Abundância relativa (%) = Porcentagem de indivíduos por táxon Densidade média = Média dos táxons por área Riqueza = número de táxons por amostras. 5. Resultados 5.1. Macrofauna associada da zona rasa: Nesta zona foi observado um total de 199 indivíduos pertencentes à Classe Polychaeta; Flo Mollusca (Classe Pelecypoda); Sub-filo Crustacea (Ordem Amphipoda, Subclasse Cirripedia e Sub-ordem Dendobranchiata) e ao Filo Echinodermata (Classe Ophiuroidea). O grupo mais representativo nas colônias saudáveis da zona rasa foi a classe Polychaeta com 44% de abundância (Figura 3). Em segundo lugar de abundância, a Classe Pelecypoda com 38%. Cirripedia apresentou 10% e os táxons menos registrados foram Ofiuroidea (4%), Amphipoda (3%) e Dendobranchiata (1%). Dentre os crustáceos, a subordem Dendobranchiata foi unicamente registrada nas amostras saudáveis do raso (Tabela 1). Anfípodas e cirripédios também foram contados e as cracas foram o grupo mais representativo dentro de Crustacea. Os ofiuróides foram exclusivos das colônias saudáveis do raso, representando 4% das amostras (Figura 3). As colônias não-saudáveis do raso também registraram como mais abundante a classe Polychaeta, com 68%; Cirripedia representou 19% e Pelecypoda, 13% (Figura 4). Uma diferença entre as colônias saudáveis e as colônias não-saudáveis foi a ausência de crustáceos vágeis nas amostras não-saudáveis (Figura 4). Todos os valores de densidade média dos táxons nessas colônias foram menores do que os valores das colônias saudáveis (Figuras 5 e 20 6). No entanto, a Classe Polychaeta apresentou densidade média de 4,2 indivíduos por metro quadrado (amostras de 10x10cm, totalizando 0,01 m² de área) em comparação com as baixas médias para a Classe Pelecypoda e Cirripedia (Figura 6). Tabela 1: Listagem dos táxons da macrofauna subionte associada à amostras saudáveis e não-saudáveis, da zona rasa (RS e RNS) e à amostras saudáveis e não-saudáveis da interface (IS e INS), para as colônias de P. caribaeorum coletadas na Enseada do Forno. Taxons da Zona Rasa RS1 RS2 Classe Polychaeta 12 22 Classe Pelecypoda 3 28 Ordem 0 0 Decapoda/Dendobranchiata Ordem Amphipoda 0 3 Subclasse Cirripedia 0 7 Classe Ophiuroidea 0 2 Contagem Raso Total .... .... Taxons da Zona da Interface Classe Polychaeta Classe Pelecypoda Classe Gastropoda Ordem Decapoda/ Brachyura Ordem Amphipoda Subclasse Cirripedia Classe Holoturoidea Contagem Interface Total Contagem Total Geral RS3 RS4 12 19 26 3 1 0 2 1 .... 1 2 7 2 .... RS5 10 4 Total Nãosaudável 21 4 Total Geral 96 68 0 0 0 0 .... 0 0 6 0 31 2 5 22 6 199 Total Geral 112 27 5 Total Saudável RNS1 RNS2 RNS3 RNS4 RNS5 75 6 2 3 2 8 64 1 1 0 0 2 0 0 0 1 .... 2 5 16 6 168 INS1 3 1 0 INS2 4 2 0 INS3 5 3 1 INS4 11 7 0 INS5 19 0 1 Total NãoSaudável 42 13 2 0 0 9 0 .... 0 0 4 0 .... 0 0 7 0 .... 0 0 3 0 .... 0 0 5 1 .... 0 0 28 1 86 IS1 4 0 0 IS2 17 3 0 IS3 20 1 2 IS4 19 4 1 IS5 10 6 0 Total Saudável 70 14 3 0 0 4 0 .... 1 1 4 0 .... 0 0 4 0 .... 0 0 3 0 .... 0 0 12 0 .... 1 1 27 0 116 21 0 0 0 0 .... 0 0 1 0 .... 0 0 0 0 .... 0 0 5 0 .... 1 1 55 1 202 401 Abundância relativa (% ) para as colônias saudáveis do Raso Cirripedia 10% Amphipoda 3% Dendobranc hiata 1% Ofiuroidea 4% Polychaeta Polychaeta 44% Pelecypoda 38% Pelecypoda Dendobranchiata Amphipoda Cirripedia Ofiuroidea Figura 3: Abundância relativa dos táxons nas colônias saudáveis do raso. Abundância relativa (% ) para as colônias nãosaudáveis do Raso Cirripedia 19% Polychaeta Pelecypoda Pelecypoda 13% Cirripedia Polychaeta 68% Figura 4: Abundância relativa dos táxons nas colônias não-saudáveis do raso. 22 Densidade Média para as colônias saudáveis do Raso 25 20 15 10 5 ra nc hi at a De nd ob po da Am ph i ea O fiu ro id Ci r ri pe di a Pe le cy po da 0 Po lyc ha et a Densidade Média (0,01 m²) 30 Figura 5: Valores da densidade média dos táxons associados às colônias saudáveis da zona rasa. A barra de erro é igual ao desvio-padrão em torno da média. Densidade Média para as colônias não-saudáveis do Raso Densidade Média (0,01 m²) 30 25 20 15 10 5 0 Polychaeta Cirripedia Pelecypoda Figura 6: Valores da densidade média dos táxons associados às colônias nãosaudáveis da zona rasa. A barra de erro é igual ao desvio-padrão em torno da média. 23 5.2. Macrofauna associada da zona da interface: Nesta zona foi observado um total de 202 indivíduos pertencentes à Classe Polychaeta; Filo Mollusca (Classes Pelecypoda e Gastropoda); Sub-filo Crustacea (Ordem Amphipoda, Ordem Decapoda – Infra-ordem Brachyura- e Sub-classe Cirripedia) e ao Filo Echinodermata (Classe Holoturoidea). O Filo Porifera também foi observado, no entanto como este é um organismo colonial foi apenas qualitativamente determinado (ausente ou presente), não estando representado nos gráficos de contagem. Nas colônias saudáveis amostradas na interface, a Classe Polychaeta foi o grupo mais representativo, com abundância relativa de 60% (Figura 7). A Sub-classe Cirripedia foi o segundo grupo mais encontrado, com 24% de abundância. Pelecypoda apresentou 11%, representando o terceiro táxon mais abundante nas amostras. Os táxons menos registrados nas colônias saudáveis da interface foram Gastropoda (3%), Brachyura (1%) e Amphipoda (1%). Nas colônias não-saudáveis da interface, a Classe Polychaeta também foi o grupo mais representativo (Figura 8), no entanto com uma menor densidade média (DM= 8,4) do que nas colônias saudáveis da interface (DM= 14) (Figuras 9 e 10). Cirripedia obteve porcentagem de 32% de ocorrência nessas colônias, e maior densidade média do que nas saudáveis. Pelecypoda com 16% de abundância relativa apresentou menor densidade média do que nas saudáveis. As Classes Gastropoda e Holoturoidea foram os grupos menos encontrados, com 2% e 1%, respectivamente (Figura 8). Gastropoda apresentou menor densidade média nas colônias não-saudáveis do que nas saudáveis e a Classe Holoturoidea foi apenas registrada nas colônias não-saudáveis da interface. Apesar de não ter sido feita um tratamento estatístico dos dados, comparando-se colônias saudáveis e não-saudáveis da interface, nota-se que a diferença de abundância e riqueza para esta zona não foi grande, o que pode indicar que não seja significativa. 24 Abundância relativa (%) para as colônias saudáveis da Interface Brachyura Gastropoda 1% 3% Polychaeta Amphipoda 1% Cirripedia Pelecypoda 11% Pelecypoda Gastropoda Polychaeta 60% Cirripedia 24% Decapoda/Brachyura Amphipoda Figura 7: Abundância relativa dos táxons nas colônias saudáveis da interface. Abundância relativa (%) para as colônias não-saudáveis da Interface Gastropoda 2% Holoturoidea 1% Pelecypoda 16% Polychaeta Polychaeta 49% Cirripedia Pelecypoda Gastropoda Cirripedia 32% Holoturoidea Figura 8: Abundância relativa dos táxons nas colônias não-saudáveis da interface. 25 Densidade Média para as colônias saudáveis da Interface Densidade Média (0,01 m ²) 25 20 15 10 5 0 Polychaeta Cirripedia Pelecypoda Gastropoda Amphipoda Brachyura Figura 9: Valores da densidade média dos táxons associados às colônias saudáveis da zona da interface. A barra de erro é igual ao desvio-padrão em torno da média. Densidade Média para as colônias não-saudáveis da Interface Densidade Média (0,01 m²) 25 20 15 10 5 0 Polychaeta Cirripedia Pelecypoda Gastropoda Holoturoidea Figura 10: Valores da densidade média dos táxons associados às colônias nãosaudáveis da zona da interface. A barra de erro é igual ao desvio-padrão em torno da média. 26 6. Discussão O costão rochoso é um ambiente consolidado que apresenta diferentes padrões de zonação das comunidades bentônicas marinhas. Diversos fatores ambientais influenciam na composição e distribuição dessas comunidades (Coutinho, 2002). A competição interespecífica entre invertebrados coloniais sedentários é um importante fator na construção de comunidades recifais e tem sido estudada em detalhes em muitos ecossistemas marinhos (Coutinho, 2002). Pérez (2005), em um estudo da comunidade associada ao zoantídeo P. caribaeorum no litoral de Pernambuco, observou maior abundância de poliquetas, crustáceos e moluscos. No entanto, o referido autor desconsiderou classificar as colônias quanto a saudáveis e nãosaudáveis. No presente estudo, comparando-se colônias de Palythoa caribaeorum saudáveis e não-saudáveis de duas zonas de profundidade, observou-se Polychaeta, Pelecypoda e Cirripedia como os táxons mais representativos quantitativamente em ambas. Este padrão de abundância da macrofauna associada observado corrobora com o observado por Pérez (2005). A ocorrência desses organismos parece indicar a presença de um ambiente protegido favorecendo o desenvolvimento desses animais. Poliquetas são sempre numerosos em comunidades bênticas, e muitas espécies são adaptadas a habitats de simbiose (Martin & Britayev, 1998). De acordo com Fauchald & Jurnars (1979), diferentes famílias de poliquetas são bastante importantes nessas comunidades, controlando populações de microcrustáceos, alimentando-se de materiais em suspensão e de detritos e bactérias presas pelo muco de cnidários. Pelecypoda e Cirripedia foram também numerosos. Os bivalves não puderam ser classificados em menores níveis taxonômicos, a fim de se existiam espécies perfuradoras associadas. Sabe-se que um papel importante de bivalves perfuradores é aumentar o espaço disponível para o assentamento larval de outros perfuradores (McCloskey, 1970). A presença de cracas no substrato amostrado pode estar ilustrando uma competição por espaço existente no local (Pérez, 2005). A predação e a competição por espaço são alguns dos principais fatores de controle da densidade e distribuição em substratos consolidados marinhos (Tanner, 1997; Pruves, 2002). Da mesma maneira, esponjas também seriam vítimas dessa competição por espaço, como pôde ser observado apenas na zona da interface com a presença destes organismos. Esponjas são no geral organismos dominantes em muitos habitats marinhos bentônicos. Muitas espécies são totalmente expostas aos predadores, devido ao seu modo de vida séssil (Poriferabrasil, 2008). 27 Organismos sésseis tendem a competir por espaço onde geralmente uma espécie ganha a competição em detrimento de outra. Muitas estratégias são usadas por animais marinhos na competição por espaço, algumas vezes causando danos ao oponente (Rabelo, 2007). Segundo as hipóteses alternativas do estudo, colônias saudáveis de Palythoa caribaeorum suportariam maior abundância e riqueza de macrofauna associada, pois estas, por não apresentarem uma aparente infecção por patógenos, ou um possível branqueamento, estariam aptas a abrigarem mais organismos, representado, portanto, um substrato com melhores condições de sobrevivência. O branqueamento ou a infecção por patógenos atuaria então como fatores inibitórios do assentamento de larvas, e assim das diversas relações ecológicas existentes entre Palythoa caribaeorum e os demais táxons (e.g. epibiose, endosimbiose, comensalismo, predação e simbiose). No entanto, para a zona da interface a diferença de abundância e riqueza entre as colônias não foi grande o suficiente para afirmar se as colônias saudáveis desta zona de profundidade suportam mais organismos associados. O exemplar de holotúria encontrado por debaixo de Palythoa caribaeorum tratava-se de um indivíduo jovem, de poucos centímetros, podendo indicar a presença de um ambiente adequado para reprodução nas colônias amostradas. Da mesma maneira, em Pérez (2005) foi encontrado indivíduos na fase larval, indicando que as colônias de Palythoa caribaeorum do local de estudo representavam um ambiente adequado para reprodução. A escolha de duas zonas de profundidade diferentes foi para se obter um diagnóstico preliminar da comparação da macrofauna subionte ao longo do recife rochoso, não sendo objetivo do estudo correlacionar as duas zonas de profundidades. 28 7. Conclusões Com relação às hipóteses analisadas, aparentemente observou-se que: Para a zona rasa, as colônias saudáveis apresentam maior abundância e riqueza do que as colônias não-saudáveis, aceitando assim a hipótese alternativa 1; Para a zona da interface, a abundância e a riqueza das colônias saudáveis não diferem das colônias não-saudáveis, aceitando assim a hipótese nula. 8. Recomendações Um estudo mais detalhado, envolvendo comunidade associada, em maior escala temporal e espacial, faz-se necessário a fim de responder se Palythoa caribaeorum pode ser considerado importante para a manutenção de parte da comunidade bêntica da Enseada do Forno; Um estudo mais abrangente, inclusive em menores níveis taxonômicos, faz-se também necessário a fim de descrever padrões ecológicos entre os organismos associados à colônias de Palythoa caribaeorum da Enseada do Forno; o que pode ser usado como subsídio para futuros estudos de conservação de ambientes recifais brasileiros. 29 8. 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