DEFICIÊNCIA DE C1s E C1r HUMANA ASSOCIADA AO DESENVOLVIMENTO DE LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO MARIANE TAMI AMANO Dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Ciências Biomédicas IV da Universidade de São Paulo, para obtenção do Título de Mestre em Ciências (Imunologia). São Paulo 2006 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. DEFICIÊNCIA DE C1s E C1r HUMANA ASSOCIADA AO DESENVOLVIMENTO DE LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO MARIANE TAMI AMANO Dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Ciências Biomédicas IV da Universidade de São Paulo, para obtenção do Título de Mestre em Ciências (Imunologia). Área de Concentração: Imunologia Orientadora: Prof. Dra. Lourdes Isaac Orientadora São Paulo 2006 1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS Candidata: Mariane Tami Amano Dissertação: DEFICIÊNCIA DE C1s E C1r HUMANA ASSOCIADA AO DESENVOLVIMENTO DE LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO Orientadora: Lourdes Isaac A Comissão Julgadora dos Trabalhos de Defesa da Dissertação de Mestrado, em sessão pública realizada a ______/_______/__________, considerou ( ) Aprovada ( ) Reprovada Examinador (a): Assinatura _________________________________________ Nome______________________________________________ Instituição___________________________________________ Examinador (a): Assinatura _________________________________________ Nome______________________________________________ Instituição___________________________________________ Presidente (a): Assinatura __________________________________________ Nome_____________________________________________ Instituição__________________________________________ 2 Aos meus pais, pelo apoio em todos os sentidos e por todo amor Às minhas irmãs, pela compreensão e carinho Ao meu tio Norio, pelo incentivo e por ser um exemplo de luta 3 Aos pacientes IV-1, 2, 3 e 4 e aos seus pais, pelo esforço e colaboração 4 Agradecimentos À Dra. Lourdes Isaac por ter me dado a oportunidade de aprender desde a iniciação científica e pela companhia, confiança e presença que foram imprescindíveis para todas as conquistas que tive nesses cinco anos. Ao Dr. Shaker Chuck Farah do Departamento de Bioquímica da USP, pela disposição a sempre nos ajudar. À Dra. Virgínia Paes Leme Ferriani da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, por ter sido o contato com os pacientes e pela colaboração. Às Dras. Ana Elisa Azzolini e Ana Isabel Assi-Pandochi da Faculdade Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto, pela colaboração. Ao Dr. Jens Jensenius da Universidade de Aarhus, Dinamarca e ao Dr. Anders Sjölholm da Universidade de Lund, Suécia, pelas dosagens de proteínas. À Edimara da Silva Reis por ter sido minha irmã mais velha do laboratório: sempre me ensinando e fazendo companhia nos momentos difíceis. E por ser uma grande amiga. À Marlene Pereira de Carvalho Florido, por todas as técnicas que me ensinou, desde a iniciação científica, pelo carinho e pelos abraços que sempre me deram força quando eu precisei. Ao Dr. José Alexandre Barbuto, Dra. Maristela Martins de Camargo e Dra. Ises Abrahamson por manterem as portas de seus laboratórios abertas para utilizarmos equipamentos e materiais. E aos membros dos respectivos laboratórios por serem sempre muito solícitos. Ao Dr. Antônio Condino Neto por estar sempre adisposto nos ajudar e pelas oportunidades de discussão sobre este trabalho. 5 Às amigas pós–graduandas: Cíntia Raquel Bombardieri e Juliana Sayuri Kuribayashi por toda ajuda que me deram, pela grande paciência e acima de tudo pelos bons momentos de desconcentração. Às outras irmãs de laboratório Gisele Baracho, Dayseanne Araújo Falcão, Maria Isabel Vendramini e Lorena Bávia por todo incentivo e carinho. Aos companheiros de laboratório que, independente do tempo de convivência, me ajudaram em diversos momentos: Priscilia Aguilar, Alda Silva, Arthur Neves, Fábio Lin, José Antônio Albuquerque E aos que passaram pelo laboratório durante esses cinco anos, e certamente me ensinaram muito: Axel Ulbrich, Patrícia Ferreira de Paula, Vitor Rodrigues, Caroline Fernandes, Raphael Pigozzo, Maria Amélia Leal e Benício Pereira. Às secretárias Valéria, Jotelma e Eny, pela eficiência e pela grande paciência para esclarecer dúvidas. Aos amigos do Departamento de Imunologia do ICB da USP pelas discussões científicas, pela solidariedade em diversos momentos e por tornarem o local de trabalho um ambiente mais prazeroso. Aos funcionários da portaria, segurança, da limpeza, do áudio-visual, da biblioteca, da secretaria de pós-graduação, tesouraria, importação entre outros do ICB, que permitiram a realização deste trabalho em diversos aspectos. Aos amigos da graduação pelas discussões científicas, filosóficas e pela amizade, que me ajudaram durante o mestrado: Márcio Tomiyoshi, Viviane Jono, Luciana Osaki, Mayumi Sasaki, Marcella Sobral, Nathália Azevedo e Luiz Zangrande. À agência financiadora de pesquisa CNPq pela bolsa durante o mestrado. 6 "Se as coisas são inatingíveis... ora! Não é motivo para não querê-las... Que triste os caminhos, se não fora A presença distante das estrelas" Mário Quintana 7 RESUMO AMANO, M.T. Deficiência de C1s e C1r associada ao desenvolvimento de lúpus eritematoso sistêmico. Dissertação (Mestrado em Imunologia) – Instituto de Ciência Biomédicas, Universidade de São Paulo, 2006. A deficiência de proteínas do complemento pode resultar da síntese diminuída, parcial ou total, das mesmas, ou de um produto não funcional, causando maior suscetibilidade a infecções bacterianas. No caso das proteínas da via clássica (C1q, C1r, C1s, C2 e C4) a deficiência está freqüentemente relacionada ao desenvolvimento de lúpus eritematoso sistêmico (LES), doença auto-imune que apresenta como sintomas erupções na pele, artrite e glomerulonefrite, acompanhadas por deposição de imunocomplexos em diversos tecidos. A deficiência de C1s é, em geral, combinada com a deficiência de C1r e dos 15 casos da deficiência de C1r/C1s, 9 estão associados ao desenvolvimento de LES. No presente trabalho, descrevemos a deficiência de C1r/C1s de uma paciente de 25 anos que apresenta LES e teve repetidas infecções bacterianas, e de seu irmão de 24 anos que também desenvolveu LES. Além disso, os outros dois irmãos, assintomáticos até o momento, também apresentaram a deficiência de C1r/C1s, enquanto os pais consangüíneos são normais para tal característica. A deficiência de C1s foi inicialmente observada por imunodifusão do soro dos pacientes e anti-C1s humano, e confirmada por eletroimunoensaio (“rocket”), quando se observou valores muito baixos de C1s (<2,1 µg/mL). Já a presença de C1r foi observada pela imunodifusão e Western blotting, no entanto, a concentração de C1r no soro dos pacientes (~15 µg/mL), detectada por eletroimunoesaio, estava abaixo dos valores normais (48 µg/mL). Os soros dos pacientes não apresentaram qualquer atividade hemolítica mediada pela via clássica do complemento (CH50), enquanto os pais apresentaram níveis normais desta atividade. As atividades da via alternativa e das lectinas estavam presentes no soro de todos os familiares, assim como outras proteínas do sistema complemento (C3, C4, C2, fator H, fator I, fator B, MBL e MASP-2), embora a concentração de alguma delas estivesse acima do normal (C3 >1500 µg/ml; C4 >600 µg/ml; MBL >0,5 µg/ml). A deficiência de C1s foi confirmada por 8 Western blotting, quando C1s estava ausente no soro e no sobrenadante de culturas de fibroblastos dos pacientes. E pela microscopia confocal observamos uma falha na síntese da mesma. A análise do RNAm por RT-PCR revelou a presença de dois transcritos (~3,2 kb, ~3,1 kb) em diferentes tipos celulares de indivíduos C1s suficientes (fibroblastos, macrófagos e células de hepatoma). Através do seqüenciamento demonstramos pela primeira vez onde esses transcritos diferenciam-se: região 166-242 do cDNA ausente no transcrito menor. Além disso, observamos um terceiro transcrito (~2,9 kb) nos pacientes, que não apresenta o éxon 3. Este transcrito, provavelmente também está presente em indivíduos normais, porém, em uma proporção menor comparando com a concentração dos outros transcritos. A ausência do éxon 3 gera um códon de parada prematuro na posição 330 do cDNA, logo após o códon que sinaliza para o início da tradução (ATG), o que impossibilita a tradução completa de C1s por este transcrito. Através do C1s dos pacientes, encontramos uma substituição C 938 Gque gerou um códon de parada prematura, impedindo a tradução completa da proteína e explicando a deficiência da proteína C1s. Também seqüenciamos o cDNA de C1r, mas não encontramos nenhuma mutação que pudesse ser a causa da deficiência da mesma, o que indica que a diminuição de C1r pode ter uma regulação dependente de C1s. Esses resultados representam o primeiro caso brasileiro (e o quarto estudo molecular) da deficiência de C1s/C1r, associada ao desenvolvimento da doença auto-imune LES. PALAVRAS-CHAVES: Complemento. C1r. C1s. Lúpus eritematoso sistêmico. Doença auto-imune. Imunodeficiência. 9 ABSTRACT AMANO, M.T. IMPAIRMENT IN C1S SYNTHESIS IS ASSOCIATED WITH SYSTEMIC LUPUS ERYTHEMATOSUS DEVELOPMENT. MASTER THESIS (IMMUNOLOGY) – INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2006. Introduction and Objectives: Classical pathway complement deficiency (D) is commonly associated with autoimmune diseases development. The C1sD is often combined with C1rD and 9 of the 15 reported cases present systemic lupus erythemathosus (SLE). In the present work, we describe a girl with severe SLE and recurrent infections (pneumonias, sinusitis and septic arthritis), one brother with mild SLE and two other healthy brothers. The molecular basis responsible for the lack of C1s in the deficient patients was investigated. Methods and Results: Complement-dependent hemolytic activity was normal when stimulated by the alternative and lectin pathways, but it was absent when mediated by the classical pathway in the 4 patients. When we analyzed C1s and C1r concentrations in the family sera by ELISA we observed that C1s was undetectable in the sera of the four children, while C1s levels detected in the parents’ sera (<26 _g/ml) were lower than that observed in the normal control (34 _g/ml). Moreover, levels of C1r observed in patients (<18 _g/ml) and parents (<35 _g/ml) sera were lower than that observed in the normal control (48 _g/ml). The concentrations of other complement proteins (C3, C4, C2, MBL and MASP-2) were normal in the patients and family members. The lack of C1s synthesis, but not of C1r, was confirmed in patients’ fibroblasts when analyzed by confocal microscopy. To analyze the C1s and C1r mRNA expression we used RT-PCR. When we amplified nucleotides 273-658 of the C1s mRNA of the 4 patients we found two products: one with the expected size (385 bp) and the other with 208 bp deletion, which corresponded exactly to exon 3. This deletion generates a stop codon immediately after the initiation codon (ATG) and it was not observed in patients’ C1s gene and suggests a splicing error in C1s gene. This product was observed in normal individual only when we used a more sensible staining. We also found a substitution of CG at position 938 of C1s cDNA in the patients C1s, which generates 10 a stop codon at this position. Moreover. the parents presented a heterozygous pattern, which explains the absence of the protein c1s in the children. Conclusion: We confirmed the existence of 3 transcripts of C1s mRNA in normal individual. And we described a new case SLE associated with of C1sD combined with C1rD, caused by a substitution of CG at position 938 of cDNA. Financial support: CNPq Key words: Complement. C1s. C1r. Immunodeficiency. Systemic Lupus Erythematosus. Autoimmune disease. 11 LISTA DE ABREVIATURAS ANA - Anticorpo antinuclear AP50 - ensaio hemolítico da via alternativa que compara valores obtidos para 50 % de lise no soro. BCIP – 5-bromo-4-cloro-3-indoil fosfato BRAGID – Grupo Brasileiro de Imunodeficiências C4BP - do inglês “C4b binding protein” Ca++ - íon calcio CaCl2 – cloreto de cálcio CCP - do inglês “complement control protein” CD – do inglês “cluster of differentiation” cDNA – DNA complementar CFD - do inglês “complement fixation test dilution” CH2 – cadeia pesada 2 CH50 – ensaio hemolítico da via clássica que compara valores obtidos para 50 % de lise no soro. CR -1/2/3/4 - receptor de complemento CTLA-4 – do inglês “cytotoxic T lymphocyte antigen-4” CUB – 1/2 – repetição homóloga reconhecida em: C1r/C1s, Uegf e na proteína morfogenética de osso humano (Bone marrow) DAF – do inglês “decay-accelerating factor” DMEM – do inglês “Dulbbeco´s Modified Eagle´s Medium” DNA - Ácido desoxirribonucléico dNTP - desorribonuleotídeo trifosfatado EGF – domínio descrito em “epidermal growth factor” EGTA – ácido etileno glycol tetracético EtOH – etanol fB - fator B FcγR IIA/IIB/IIIB – receptores Fcγ fD – fator D fH – fator H fI – fator I GAPDH – gliceraldeído-3-fosfato dehidrogenase GVB – do inglês “gelatin veronal buffer” HEL – do inglês “hen-egg lysozyme” HepG2 – célula de hepatoma HLA – Antígeno leucocitário humano IDP - imunodeficiência primária IFN-γ – interferon γ Ig - Imunoglobulina IGF-1 - do inglês “insulin like growth factor-1” IGFBP-5 – do inglês “insulin like growth factor binding protein-5” IL – 1/6 - interleucina K2HPO4 – fosfato de potássio dibásico KH2PO4 – fosfato de potássio monobásico LE - Lúpus eritematoso LES - Lúpus eritematoso sistêmico LPS - lipopolissacarídeo MAC – complexo de ataque à membrana Map19 - do inglês “mannose associated plasma protein of 19 kDa” MASP – 1/2/3 – do inglês “MBL-associated serino protease” MBL – lectina ligadora de manose MCP - do inglês “membrane cofactor protein” Mg++ - íon magnésio MgCl2 – cloreto de magnésio NaCl - cloreto de sódio NaOAc - ácido acético NBT – tetrazólio nitroazul PBS - do inglês “phosphate buffer saline” 12 PCR – do inglês “polymerase chain reaction” PD-1 - do inglês “ programmed cell death-1” RCA – do inglês “regulators of complement activation” RNA – ácido ribonucléico RPMI - “Roswell Park Memorial Institute” RT-PCR do inglês “reverse transcriptase - polymerase chain reaction” SBF – soro bovino fetal SCR - do inglês “short consensus repeat” SDS – dodecil sulfato de sódio sHEL - do inglês “hen-egg lysozyme soluble form” SP – serino-proteolítico TBE – do inglês “Tris –Buffer EDTA” TBST – do inglês “Tris-Buffered SalineTween 20” TE - do inglês “Tris- EDTA” TNF-α – fator de necrose tumoral - α U – unidades Uegf - do inglês “urchin epidermal growth factor” 13 LISTA DE SÍMBOLOS AMINOÁCIDOS Cisteína Cys Arginina Arg Lisina Lys Alanina Ala BASES NITROGENADAS DOS NUCLEOTÍDEOS Adenina A Timina T Guanina G Citosina C 14 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1. Via alternativa do sistema complemento. 6 Figura 2. O complexo C1 é composto por uma molécula de C1q, C1r e C1s. 7 Figura 3. Via clássica do sistema complemento. 8 Figura 4. Via das lectinas do sistema complemento. 10 Figura 5. Reguladores das vias clássica, das lectinas e alternativa 16 Figura 6. Estrutura modular de C1r e C1s. 22 Figura 7. Disposição de éxons e íntrons nos genes C1s e C1r. 23 Figura 8. Hipótese da remoção de células apoptóticas. 35 Figura 9. Hipótese da indução da tolerância. 37 Figura 10. Heredograma da família portadora de deficiência de C1s. 41 Figura 11. Deficiência da proteína C1s. 51 Figura 12. Investigação da presença de C1s e C1r por Western Blotting. 56 Figura 13. Fibroblastos observados por microscopia confocal. 58 Figura 14. Análise de fibroblastos por microscopia confocal. 59 Figura 15. Expressão de dois transcritos de RNAm do C1s. 60 Figura 16. Diferença de nucleotídeos dos dois transcritos de C1s humano. 61 Figura 17. Expressão do RNAm de C1r e C1s analisado por RT-PCR. 63 Figura 18. Seqüenciamento do cDNA do C1s da paciente IV-1. 64 Figura 19. Seqüência do cDNA do C1s que não apresenta o éxon 3. 65 Figura 20. Presença do éxon 3 de C1s no DNA genômico dos pacientes. 65 Figura 21. Seqüenciamento do cDNA do C1s da paciente IV-1. 66 Figura 22. Substituição de CG na posição 938 do cDNA nos pacientes. 67 Figura 23. Expressão de um transcrito menor de C1s em indivíduos normais. 68 Figura 24. Expressão de diversos transcritos de RNAm nos pacientes 69 15 LISTA DE QUADROS Quadro 1 Critérios diagnósticos do LES de acordo com o Colégio Americano de Reumatologia. 2 Quadro 2. Auto-anticorpos presentes no desenvolvimento de LES. 3 Quadro 3. Aspectos Clínicos do Grupos de Imunodeficiências Primárias. 25 Quadro 4. Os 10 sinais de alerta para imunodeficiência primária. 26 Quadro 5. Deficiências de algumas proteínas do sistema complemento. 27 Quadro 6. Deficiência de C1r e C1s Quadro 7. Seqüência dos primers utilizados na RT-PCR, PCR e no seqüenciamento. 29-32 49 16 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Avaliação da atividade funcional da via clássica, alternativa e das lectinas no soro. 53 Tabela 2. Determinação por eletroimunoensaio da concentração das proteínas C1r e C1s no soro dos pacientes. 54 Tabela 3. Determinação da concentração de proteínas do complemento por imunodifusão radial e ELISA. 55 17 SUMÁRIO I. INTRODUÇÃO ............................. I.1. Lúpus Eritematoso Sistêmico ............................. I.2. Sistema Complemento ............................. I.2.1. Via Alternativa....................................................................................................................................................5 I.2.2. Via Clássica ........................................................................................................................................................7 I.2.3. Via das Lectinas..................................................................................................................................................9 I.2.4. Funções Biológicas das Proteínas do Sistema Complemento.........................................................................10 I.2.5. Outras Funções de C1r e C1s ...........................................................................................................................13 I.2.6. Proteínas Reguladoras do Sistema Complemento...........................................................................................14 I.2.6.1. Reguladores Plasmáticos …………………………………………………………………………17 I.2.6.2. Reguladores Associados à Membrana Celular …………………………………………………...19 I.2.7. Componentes C1r e C1s ...................................................................................................................................20 I.2.8. Regulação da Expressão de C1s e C1r.............................................................................................................24 I.3. Imunodeficiências Primárias ............................... I.4. Deficiência de Componentes da Via Clássica ............................... I.4.1. Deficiência de C1r e C1s..................................................................................................................................28 I.5. Complemento e LES ............................... II.OBJETIVOS………………………………………………………………………………………………………39 III. RESULTADOS………………………………………………………………………………………………….40 III.1 Pacientes ............................... III.2. Análise da Atividade do Sistema Complemento ............................... III.3. Detecção de Proteínas ............................... III.4. Análise por Western Blotting ............................... III.5. Cultura de Células ............................... III.6. Microscopia Confocal ............................... III.7. Extração de RNA total ............................... III.8. Reverse Transcriptase – Polymerase Chain Reaction (RT-PCR) ............................... III.9. PCR ............................... III.10. Seqüenciamento ............................... IV. RESULTADOS ............................... IV.1. Deficiência de C1s ............................... IV.2. Deficiência de C1s Combinada com a Deficiência de C1r ............................... IV.3 Western Blotting…………………………………………………………………………………………….55 IV.4. Microscopia Confocal……………………………………………………………………………………….57 IV.5. Expressão de RNAm de C1s em Células de Indivíduos Normais..................................................................60 IV.7. Seqüenciamento ............................... IV.8. Produção de Diversos Trancritos de C1s........................................................................................................68 V. DISCUSSÃO..........................................................................................................................................................70 VI. CONCLUSÕES.....................................................................................................................................................80 VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................................................81 18 I. INTRODUÇÃO I.1. Lúpus Eritematoso Sistêmico O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença auto-imune de etiologia desconhecida que afeta mais de um milhão de indivíduos a cada ano, mais freqüente em mulheres que homens. Na infância, a taxa de ocorrência no sexo feminino para o masculino é 3:1. Durante a puberdade, a taxa passa para 10:1 e depois da menopausa cai para 8:1 (LAHITA, 1999). Esta variação pode estar relacionada a diferenças na produção de certos hormônios como estrógenos, andrógenos, prolactina e hormônio liberador da gonadotrofina (YACOUB WASEF, 2004). A palavra lúpus que vem do latim e significa lobo foi utilizada pela primeira vez em 1817 para definir o que é conhecido hoje como lúpus vulgaris, um tipo de tuberculose. Só em 1947, que HARGRAVES et al. descobriram a “célula de lúpus eritematoso” (LE) e em seguida descobriu-se que o fenômeno da célula de LE era a reação de anticorpos do soro de pacientes que apresentavam LES com o núcleo (FRIOU, 1958) e nucleoproteínas (HOLMAN E K UNKEL, 1957). Com o desenvolvimento de métodos diagnósticos mais avançados que possibilitassem a realização de estudos genético-moleculares, a busca pela causa e tratamento de LES gerou mais de 40.000 publicações relacionadas com lúpus até o momento, em uma prevalência estimada entre 17 a 48/100.000 pessoas no mundo (KURIEN E SCOFIELD, 2006). Atualmente acredita-se que o desenvolvimento da doença depende de fatores genéticos e ambientais, e a concordância de LES em gêmeos monozigóticos (24 % a 69 %) confirma a importância da herança genética na prevalência da doença (A RNETT E REVEILLE, 1992). As manifestações clínicas variam muito em cada caso, para tanto o Colégio Americano de Reumatologia estabeleceu critérios para o diagnóstico de lúpus listados no Quadro 1 (baseado em TAN et al., 1982 e HOCHBERG et al., 1997). O paciente deve ter pelo menos 4 dos 11 critérios para ser caracterizado como portador de lúpus completo. 1 Quadro 1 Critérios diagnósticos do LES de acordo com o Colégio Americano de Reumatologia. Critérios Definições Eritema malar Eritema fixo, plano ou elevado sobre as eminências malares, poupando dobras nasolabiais Eritema discóide Placas eritematosas elevadas com descamação ceratótica aderente, obstrução folicular ou retração cicatricial atrófica Fotossensibilidade Eritema cutâneo após exposição solar (história ou exame físico) Úlceras orais/nasais Ulceração oral ou nasofaríngea indolor, observada pelo médico Artrite Artrite não-erosiva envolvendo 2 ou mais articulações periféricas Serosite Pleurite: história de dor pleural, atrito pleural, derrame pleural ou pericardite Glomerulonefrite Proteinúria persistente > 0,5 g/dia ou 3+ no exame de urina I; ou cilindrúria Distúrbios neurológicos Convulsões ou psicose, na ausência de intoxicação exógena ou distúrbio metabólico (uremia, cetoacidose, desequilíbrio eletrolítico) Distúrbios hematológicos Anemia hemolítica com reticulocitose ou leucopenia (< 4.000 leucócitos/mm3) ou linfopenia (< 1.500 linfócitos/mm3), em 2 ou mais ocasiões ou plaquetopenia (< 100.000/mm3) na ausência de outra causa Distúrbios imunológicos - Anticorpo anti-DNA nativo ou anti-Sm ou - presença de anticorpos anti-fosfolipídios baseado em: a) níveis anormais de anticorpos anti-cardiolipina: IgG ou IgM b) teste positivo para o anticoagulante lúpico ou teste falsopositivo para sífilis, por no mínimo 6 meses. Anticorpos antinucleares (ANA) Um título elevado de anticorpos ANA por imunofluorescência indireta ou ensaio equivalente, em qualquer período de tempo e na ausência de drogas conhecidas como causadoras da síndrome do lúpus induzida por drogas Fonte: TAN et al., 1982 e HOCHBERG et al., 1997. 2 A presença de elevados títulos de certos auto-anticorpos é característica de LES e isto pode ser considerado em exames diagnósticos para confirmação da doença. Os auto-anticorpos mais freqüentes estão listados no Quadro 2. Quadro 2. Auto-anticorpos presentes no desenvolvimento de LES. Auto-anticorpo Descrição Anti-dsDNA Anti-DNA nativo, fita dupla Anti-ssDNA Anti-DNA de fita simples Anti-Sm Anti-ribonucleoproteínas (B/B´, D1, D2, D3, E, F, G) Anti-RNP Anti-ribonucleoproteínas (A e C) Anti-Ro/SS-A Anti-Ro (Ro é uma proteína ligada ao RNA) Anti-La/SS-B anti-partícula protéica do RNA que atua como co-fator para RNA polimerase. Anti-P Anti-fosfoproteínas ribossomais (P0, P1 e P2) Anti-C1q Anti-proteína C1q do complemento Importância clínica Alta especificidade para LES, mas é transiente, podendo não estar presente em todo o curso da doença. Altos títulos de anti-dsDNA podem sugerir a presença de nefrites lúpica. Baixa especificidade para LES. Pouca utilidade clínica. Alta especificidade para LES. Altos títulos de anti-SmD1 podem indicar nefrites associadas ao LES. Normalmente presente em concomitância com anti-RNP Baixa especificidade para LES. Pouco associado ao desenvolvimento de nefrite, mas tende a desenvolver miosites e fenômeno de Raynaud. Baixa especificidade para LES. Associado a neutropenia, leucopenia, linfoadenopatia, nefrites e vasculites . Serve como indicativo de LES na ausência de anti-dsDNA. Baixa especificidade para LES. Normalmente presente em concomitância com anti-Ro. Associado á diminuição de doenças renais. Associada artrite reumatóide e poliomiosite. Serve como indicativo de LES na ausência de anti-dsDNA. Alta especificidade para LES. Associada a distúrbios neuropsiquiátricos de LES e doenças hepáticas. Os títulos aumentam na fase ativa de LES. Baixa especificidade para LES, embora presente em grande parte dos pacientes. Incidê ncia (%) 80-90 80-90 5-30 30-40 50 15-20 10-15 90 Fonte: KURIEN E SCOFIELD, 2006; e Dra. ELOÍSA S. D. BONFÁ (http://www.fm.usp.br/departamento/clinmed/reumatologia/lupus.php). Alguns fatores genéticos aumentam os riscos de desenvolvimento de LES. Por meio de mapeamento de microsatélites de HLA em pacientes europeus e americanos com lúpus foram encontrados três haplótipos de risco (DRB1*1501/DQB1*0602, DRB1*0301/DQB1*0201 e 3 DRB1*0801/DB1*0402), sendo todos DR2, que ocorriam com maior freqüência em indivíduos com LES do que em indivíduos normais. Embora o mesmo não tenha sido observado para HLADR3, ainda é necessário investigar outros loci nas proximidades de DR3 (GRAHAM et al., 2002). Outro fator a ser considerado é a participação dos receptores Fcγ (FcγR), que por apresentaram afinidade reduzida por IgG, podem influenciar a fagocitose, aumentando a predisposição do indivíduo ao LES. Estudos demonstraram que as classes de receptores FcγRIIA, FcγRIIIA (M AGNUSSON et al., 2004) FcγRIIB e FcγRIIIB (KYOGOKU et al., 2002) estão associadas ao LES. A molécula Cytotoxic T lymphocyte antigen-4 (CTLA-4) é um importante regulador negativo de doenças auto-imunes. Trabalhos mostram que o polimorfismo do gene CTLA-4 está associado a maior suscetibilidade ao desenvolvimento de LES (HUDSON et al., 2002 e FERNANDEZ-BLANCO et al., 2004). Outra molécula de membrana associada ao desenvolvimento de LES é a programmed cell death-1 (PD-1). Indivíduos portadores de polimorfismos desta molécula apresentaram maior tendência para desenvolver nefrite lúpica (PROKUNINA et al, 2004). Além desses fatores, o sistema complemento está relacionado ao desenvolvimento de LES, pois há vários casos descritos de deficiências de proteínas da via clássica (C1q, C4 e C1r/C1s) e da via das lectinas (MBL) que apresentaram desenvolvimento de LES (PICKERING et al., 2000 e GARRED et al., 2003). Essa relação é observada em modelos animais, nos quais camundongos deficientes de C1q e C4 apresentaram menor taxa de remoção de restos apoptóticos (T AYLOR et al, 2000) e maior predisposição a desenvolver doenças auto-imunes (BOTTO et al., 1998 e PRODEUS et al., 1998). 4 I.2. Sistema Complemento O sistema complemento é composto por diversas proteínas que participam da sua ativação, regulação ou ainda como receptores de membrana, atuando em diversas funções da imunidade humoral e do processo inflamatório. Esse sistema pode ser ativado por três vias - alternativa, das lectinas e clássica - de forma seqüencial, em cascata, quando conseqüentemente ocorre fragmentação proteolítica ou mudança conformacional de seus componentes. Essas 3 vias culminam em uma via terminal comum, onde há formação do complexo de ataque à membrana ou MAC (do inglês membrane attack complex), o qual promove a lise celular (YOUNG et al., 1986). I.2.1. Via Alternativa PILLEMER et al. (1954) propuseram a existência de uma via cujo início da ativação seria independente da presença de anticorpos. Sabe-se hoje que esta via é regulada positivamente pela properdina, a qual acelera e estabiliza a associação de C3b com fator B (fB). A via alternativa inicia-se com a hidrólise da ligação tiol-éster intra-cadeia de C3α, gerando C3(H2O) que pode nesta forma ligar-se ao fB. Uma vez complexado a C3(H2O), o fB é clivado pela enzima denominada fator D (fD), liberando o fragmento Ba, enquanto o fragmento maior, Bb, permanece ligado a C3(H2O). O complexo formado, C3(H2O)Bb, tem atividade de serinoprotease e constitui a primeira C3-convertase da via alternativa, sendo capaz de clivar o componente C3 na presença de Mg++, em fragmentos C3a e C3b (Figura 1). Este se liga covalentemente a grupos hidroxila encontrados, por exemplo, em superfícies celulares ou a grupos amina presentes em proteínas aceptoras (por exemplo, imunocomplexos). A cascata de ativação prossegue com a ligação do fB ao C3b, que novamente é clivado pelo fD, formando o complexo C3bBb, que na presença de Mg++, atua como a segunda C3-convertase da via alternativa responsável pela geração de mais fragmentos C3b e novas moléculas de. C3 5 convertase. Assim, esta etapa funciona como uma alça de amplificação, que precisa de reguladores para que não haja um consumo excessivo de componentes do complemento, especialmente C3. Algumas moléculas de C3b se associam ao complexo C3bBb para formar um novo complexo, C3bBb3b, chamado de C5-convertase da via alternativa o qual cliva C5 em C5a e C5b. A este último fragmento liga-se ao componente C6, formando um complexo C5b6 estável. Os componentes C7, C8 e várias moléculas de C9 são igualmente anexados a C5b6, compondo assim o complexo de ataque à membrana (C5b-9n), capaz de promover a lise celular (MÜLLEREBERHARD, 1986). C3 + H2O C3(H2O)Bb (C3-convertase) fB fD Ba Alça de amplificação C3 C3a fD fB Ba C3bBb (C3-convertase) C3b C3bBb3b (C5-convertase) C5 C5a C5b C5b6789n MAC Figura 1. Via alternativa do sistema complemento. Ativação seqüencial em cascata culmina com a formação do complexo de ataque à membrana (MAC). 6 I.2.2. Via Clássica Diferente da via alternativa, a via clássica geralmente depende da presença de anticorpos, pois sua ativação inicia-se quando C1, em presença de Mg++ e Ca++, liga-se aos domínios CH2 da IgG ou CH3 da IgM, uma vez complexadas a antígenos. O complexo C1 é um complexo Ca2+ dependente composto pelas subunidades C1q, C1r2, C1s2 (LEPOW et al., 1963 ; GIGLI et al., 1976), como mostra a Figura 2. O inibidor de C1 interage reversivelmente com o complexo C1 não ativo, prevenindo a ativação espontânea de C1r e C1s. a) b) C1q C1r C1s Figura 2. O complexo C1 é composto por uma molécula de (a) C1q, (b) 2 de C1r e 2 de C1s (adaptado de GABORIAUD et al., 2004) A subunidade C1q liga-se à porção Fc da Ig, provocando então uma mudança conformacional que ativa C1r e, por sua vez, cliva e ativa C1s que passa a exibir sítios catalíticos que podem clivar C4 e C2 (P ATRICK et al., 1970). Ao ser clivado, o primeiro 7 componente gera dois fragmentos: C4a, uma anafilotoxina e C4b. Assim como C3b, C4b é capaz de ligar-se covalentemente à superfície celular de microorganismos ou a imunocomplexos próximos à região de ativação. Desta forma, C4b passa a servir como aceptor para ligação de C2, o qual por sua vez é também clivado por C1s originando os fragmentos C2a e C2b. O primeiro permanece ligado ao C4b formando o complexo C4b2a, que é a C3-convertase da via clássica. Esta enzima cliva moléculas de C3 em fragmentos C3a e C3b. Este fragmento, além de atuar como opsonina e participar da solubilização de imunocomplexos, dá continuidade à ativação seqüencial desta e demais vias, ligando-se à superfície da célula na qual se encontra o complexo C3-convertase, gerando assim a C5-convertase (C4b2a3b) da via clássica (HARMAT et al., 2004). Ao clivar C5, inicia-se a formação do MAC (C5b-9n), como pode ser observado na figura abaixo: C1 mudança conformacional de C1q + IgM ou IgG + Ag C1r ativado C1s C1s C2 C4a C4 C5a C5 C5b C2b C4b C4b2a (C3-convertase) C4b2a3b (C5-convertase) C5b6789n MAC C3 C3a Figura 3. Via clássica do sistema complemento. O início da ativação é dependente de anticorpos complexados a antígenos. A molécula de C1q fixa-se aos anticorpos e ativa C1r e C1s. Estes possuem atividade enzimática, dando seqüência à ativação do sistema até a formação do complexo de ataque à membrana (MAC). 8 I.2.3. Via das Lectinas A via das lectinas foi descoberta por IHARA et al. (1982), que observaram que resíduos de carboidratos e certos microorganismos ativavam o complemento na ausência de anticorpos, dependência de Ca2+ e Mg2+, e participação de C4. Participam desta via ficolinas [L-ficolina e H-ficolina (antígeno de Hakata)] e lectina ligadora de manose (MBL, do inglês mannose binding lectin), que possuem um domínio do tipo colágeno e outra porção capaz de ligar-se a carboidratos como manose, manana e N-acetil-glicosamina (M ATSUSHITA e FUJITA, 2002). Acreditava-se que MBL estivesse associada a C1s e C1r por sua estrutura semelhante a C1q (LU et al., 1990), mas em 1992, MATSUSHITA e FUJITA demonstraram a presença da enzima MBLassociated serino protease (MASP) e sua associação com MBL. Hoje, sabe-se que se encontram associadas à MBL 3 diferentes MASPs (MASPs-1, 2 e 3) e uma forma truncada da MASP-2 sem função enzimática, denominada MAp19 (SCHWAEBLE et al., 2002). Ao ligar-se a carboidratos, a MBL ou as ficolinas sofrem mudanças conformacionais que resultam na ativação das MASPs. A MASP-2 não necessita de outra protease para ser ativada e é capaz de clivar C2 e C4 (M ATSUSHITA et al., 2000) gerando C2a e C2b, e C4a e C4b respectivamente. C3-convertase C5-convertases, culminando com a formação do MAC (Figura 4). A MASP-1 cliva C2, mas não C4, e sua capacidade de clivar C3 é baixa (MATSUSHITA et al., 2000). Já a MASP-3 não apresenta a mesma atividade que as outras MASPs sobre os componentes C2, C4 e nem C3, clivando somente a ligação tiobenzil éster de Ncarboxibenziloxiglicina-L-arginina (ZUNDEL et al., 2004), sendo a proteína ligante de fator de crescimento tipo insulina-5 (IGFBP-5) o primeiro substrato descrito para MASP-3 (CORTESIO E JIANG, 2006). As funções de Map19 ainda são desconhecidas, mas provavelmente desempenha um papel regulador. 9 MBL/MASP-1/2 MBL/MASP-2 C2 C2b C4a C4 C5a C5 C5b C4b2a (C3-convertase) C4b C4b2a3b (C5-convertase) C3b C3 C3a C5b6789n MAC Figura 4. Via das lectinas do sistema complemento. Inicia-se com a ligação de lectinas ligantes de manose (MBL) a açúcares da parede celular do patógeno e ativação das serinoproteases associadas a MBL (MASP) gerando a cascata de reações das proteínas do complemento até a formação do complexo de ataque à membrana (MAC). I.2.4. Funções Biológicas das Proteínas do Sistema Complemento Lise celular A ativação das 3 vias do complemento culminam em uma via terminal comum que gera o complexo C5b-9, conhecido como MAC. A formação deste complexo sobre superfícies celulares gera poros transmembrânicos que lisam as células por desequilíbrio osmótico (YOUNG et al., 1986). Foi observado que o complexo C5b-8, mesmo antes da ligação da proteína C9, é capaz de gerar pequenos poros na membrana celular (TAMURA et al.,1972). Além disso, M ORGAN E C AMPBELL (1985) observou que concentrações sublíticas de MAC na membrana eram capazes de ativar a célula, fenômeno evidenciado pelo rápido influxo de Ca2+ extracelular para compartimentos intracelulares. 10 Opsonização O fragmento C3b gerado pela ativação das 3 vias e o C4b gerado pela ativação da via clássica e das lectinas, liga-se covalentemente a superfícies celulares de patógenos as quais são posteriormente reconhecidos pelo receptor de complemento (CR)-1. Da mesma forma, o fragmento iC3b pode ligar-se a CR3 e CR4. Essas ligações associadas à ligação de IgG ao receptor Fc, aumentam a eficiência da fagocitose (LAMBRIS, 1988). Além desses componentes, C1q (MALHOTRA et al., 1994) e MBL (K UHLMAN et al., 1989) também atuam como opsoninas, ligando-se a receptores de C1q. Recentemente, foi descrito um novo receptor para iC3b e C3b, denominado CRIg, expressado em macrófagos humanos e células de Kupffer de camundongos (HELMY et al., 2006). Observaram macrófagos de camundongos CRIg-/- infectados com Listeria monocytogenes (patógeno intracelular do trato intestinal) eram incapazes de fagocitar com eficiência os patógenos opsonizados por fragmentos de C3 na circulação, nos pulmões e no fígado. Além disso, animais CRIg-/- apresentavam maior taxa de mortalidade após infecção por L . monocytogenes, mostrando que o receptor CRIg presente na membrana de células de Kupffer participam da remoção de patógenos da circulação. Fatores Quimiotáticos e Anafilotoxinas Os fragmentos C3a e C5a ligam-se aos seus respectivos receptores (C3aR e C5aR), associados à proteína G (GERHARD E GERHARD, 1994) e assim participam de diversas funções como regular a vasodilatação, aumentar a permeabilidade de pequenos vasos sangüíneos e induzir a contração de músculo liso (EMBER et al., 1991). Além disso, podem desencadear a explosão oxidativa de células como macrófagos (MURAKAMI et al., 1993), neutrófilos (ELSNER et al., 1994a) e eosinófilos (ELSNER et al., 1994b). Esses fragmentos também participam da atração quimiotática de eosinófilos (DISCIPIO et al., 1999) e C5a é um potente fator quimiotático 11 para macrófagos (AKSAMIT et al., 1981), neutrófilos (EHRENGRUBER et al., 1994), linfócitos B ativados (OTTONELLO et al., 1999), linfócitos T (NATAF et al., 1999) e basófilos (LETT-BROWN E LEONARD, 1977). C3a, C4a e C5a são considerados anafilotoxinas, pois estimulam a desgranulação de basófilos (K RETZSCHMAR et al., 1993) e mastócitos (EL-L ATI et al., 1994), ocasionando a liberação de histamina e outros mediadores inflamatórios. Solubilização e Remoção de Imunocomplexos A deposição de imunocomplexos em diversos tecidos pode ocasionar lesões, desta forma é importante que haja remoção ou solubilização dos mesmos. FUJITA et al. (1977) demonstraram que C3b ligava-se a imunocomplexos, solubilizando-os e inibindo a precipitação dos mesmos. A remoção de imunocomplexos pode ser feita pela ligação de CR1 presente em eritrócitos a imunocomplexos cobertos por C3b e C4b. Desta forma, os imunocomplexos são levados ao fígado e baço, onde são removidos da superfície dos eritrócitos por fagócitos como, por exemplo, células de Küpffer (MEDOF et al., 1983). Ativação de Linfócitos B Em 1974, PEPYS demonstrou que C3 era importante para a produção de anticorpos a antígenos T-dependentes e T-independentes, assim como para geração de linfócitos B de memória nos centros germinativos (PAPAMICHAIL et al., 1975). C3b pode ser clivado em iC3b e este em C3dg por fator I (fI) na presença de co-fatores como fator H (fH). O fragmento C3dg pode se ligar ao complexo CD21, CD19, CD81 aumentando ou inibindo a eficiência e resposta da célula B contra o antígeno complexado ao C3dg. Esse aumento ou inibição vai depender da concentração e natureza do antígeno complexado ao C3dg (LEE et al., 2005). 12 Remoção de Células Apoptóticas C1q é capaz de ligar-se a superfícies de vesículas de queratinócitos apoptóticos (KORB E AHEARN, 1997), que participa da remoção de células apoptóticas, e, portanto, de auto-antígenos. M EVORACH et al. (1998), mostraram in vitro que o bloqueio de CR3 e CR4 diminuía a fagocitose de células apoptóticas por macrófagos. Além disso, a presença de iC3b na superfície de células apoptóticas sugeria que a remoção das mesmas era mediada por interações entre iC3b e CR3 e/ou CR4. Uma das possíveis explicações para a associação de deficiências do complemento e desenvolvimento de LES é a diminuição da remoção de restos apoptóticos. Foi observado in vitro que macrófagos de pacientes com LES apresentavam menor fagocitose de células apoptóticas (HERRMANN et al., 1998). BOTTO et al. (1998), demonstraram in vivo que a deficiência de C1q diminuía a remoção de restos apoptóticos. TAYLOR et al. (2000) propuseram uma hierarquia de importância entre os componentes da via clássica na remoção de células apoptóticas, na qual C1q vem à frente de C4 e C3. I.2.5. Outras Funções de C1r e C1s Além de atuarem na ativação da via clássica, as proteínas C1r e C1s também participam da clivagem de moléculas classe I do complexo principal de histocompatibilidade (ERIKSSON E N ISSEN , 1990). Em 1992, ER I K S S O N e N ISSEN demonstraram que essa atividade gerava fragmentos solúveis dos domínios α 1 e α2 associados com β 2-microglobulina e que estes poderiam se ligar a receptores de linfócitos T e prevenir a ativação das mesmas. Já o domínio α3 permanecia associado à membrana da célula apresentadora após clivagem e, desta forma, poderia talvez interagir com outras moléculas. Uma vez que o domínio α 3 está associado à indução de apoptose de células imunocompetentes, os autores sugeriram que essa clivagem poderia prevenir a ativação de células autorreativas, levando-as à morte celular programada. 13 C1s também é capaz de clivar moléculas de colágenos tipo I, tipo II e gelatina (YAMAGUCHI et al., 1990). Essa clivagem é independente da ativação do complemento, pois ocorre mesmo na presença de EDTA, e diferentemente de outras colagenases, a clivagem por C1s é completamente bloqueada pela presença de inibidor de serino-proteases. NAKAGAWA et al. (1997) observaram que C1s era produzido por condrócitos e que essa produção aumentava conforme a diferenciação dos mesmos. Em 1999, o mesmo grupo sugeriu a participação de C1s na degeneração da cartilagem de pacientes com artrite reumatóide. Também foi demonstrado que C1r, C1s (BUSBY et al., 2000) e MASP-3 (CORTESIO E JIANG, 2006) são capazes de clivar a IGFBP-5, a qual por sua vez regula o fator de crescimento tipo insulina-I (IGF-I), ligando-se ao mesmo. Desta forma, impedindo que o IGF-I fique disponível para se ligar ao receptor de superfície celular, associado à proliferação celular. C L E M M O N S et al. (2002) mostraram que a inibição de C1s resultava em aumento da concentração de IGFBP-5 e de IGF-1 ligado ao IGFBP-5, associando a uma melhora na osteoartrite em cachorros. I.2.6. Proteínas Reguladoras do Sistema Complemento A ativação do sistema complemento é importante para a defesa do organismo contra patógenos. No entanto, se não houver controle, este sistema poderá atuar de maneira destrutiva contra tecidos próprios, por isso, a importância de proteínas inibitórias que regulem a ativação do mesmo. Além disso, a deficiência de proteínas reguladoras do complemento pode levar ao aumento de consumo de outras proteínas do sistema, podendo gerar deficiências secundárias. Muitas proteínas reguladoras do complemento possuem genes que se encontram próximos uns aos outros na região 1q32 (WEIS et al., 1987) chamada de cluster de reguladores de ativação do complemento ou RCA (do inglês regulators of complement activation). As proteínas reguladoras de complemento codificadas nesta região são: CR -1 , fH, decayaccelerating factor (DAF), membrane cofactor protein (MCP) e C4b-binding protein (C4BP). 14 Estes reguladores são compostos quase exclusivamente por domínios descritos inicialmente em proteínas de controle de complemento (CCP - do inglês complement control protein), também conhecidos como short consensus repeat (SCR), que são domínios globulares formados por 60 a 70 aminoácidos, dos quais quatro cisteínas não variantes são fundamentais para determinar a sua estrutura. As proteínas reguladoras de complemento (Figura 5) encontram-se na forma solúvel (fI, fH, C4BP, inibidor de C1, properdina, clusterina e vitronectina) ou associadas à membrana celular (CR1, MCP, DAF e CD59). 15 DAF Via Clássica fI MCP fI CR1 fI CR1 fI C4BP fI C4BP DAF clusterina C1qrs inibidor C1 C4b2a (C3-convertase) MBL-MASPs Via das Lectinas C4b2a3b (C5-convertase) vitronectina CD59 C3 C3bBb (C3-convertase) Via Alternativa C3a C5 C3bBb3b (C5-convertase) C5b C5b678 C5b6789 (MAC) DAF DAF fI MCP fI MCP fI CR1 fI CR1 fI fH fI fH Figura 5. Reguladores das vias clássica, das lectinas e alternativa do sistema complemento. DAF- fator de aceleração de decaimento; C4BP – proteína ligante de C4b; MCP- proteína cofatora de membrana; CR1- receptor 1 do complemento. 16 I.2.6.1. Reguladores plasmáticos: Fator I O fI é uma serino-protease e atua na clivagem de C4b gerando C4c e C4d. Além disso, também cliva C3 em C3a e C3b e posteriormente gera iC3b que será depois fragmentado em C3c e C3dg. Para gerar os fragmentos de C4 e C3, o fI necessita da presença de co-fatores como fH, C4BP, MCP e CR1 (M ORGAN E H ARRIS , 1999). O fI é formado por duas cadeias polipeptídicas (50kDa e 38kDa) unidas por pontes dissulfeto, e seu gene localiza-se no cromossomo 4 (CATTERALL et al., 1987; GOLDBERGER et al., 1987) na região q25 (SHIANG et al, 1989). Fator H Este regulador atua na via alternativa ao se ligar a C3b, impedindo a formação da C3convertase (C3bBb) e acelerando a dissociação do fB ou do fragmento Bb das C3 e C5convertases. Além disso, atua como co-fator de fI na clivagem de C3b em iC3b (HARRISON e LACHMANN, 1980). C4BP Esta proteína participa da via clássica atuando como co-fator de fI, na clivagem de C4b, impedindo a formação e reconstituição da C3-convertase (C4bC2a) de via clássica (SCHARFSTEIN et al, 1978). C4BP também previne a formação de C4b2a, ligando-se a C4b e acelera o decaimento natural da C3-convertase (GIGLI et al, 1979). Além disso, C4BP tem uma pequena participação na via alternativa, atuando como co-fator de fI na clivagem de C3b, mas não atuando na inibição de C3-convertase desta via (BLOM et al, 2003; SEYA et al., 1985). 17 Inibidor de C1 O inibidor de C1 pertence à família dos inibidores de serino-proteases e é formado por uma cadeia única de 500 aa. É uma molécula de 2 domínios, sendo o domínio N-terminal muito glicosilado, do tipo mucínico e o outro uma serpina globular. O inibidor de C1 controla a ativação da via clássica, inativando C1r e C1s, após a ativação de C1 por imunocompelxos (COOPER, 1985). Isto limita o consumo de C2 e C4, substratos de C1. O inibidor de C1 regula o consumo de C4 e C2 pela via das lectinas através de interações com as MASP 1 e 2 (MATSUSHITA et al., 2000), mas não com a MASP-3 (ZUNDEL et al., 2004). Além disso, também participa da regulação da via alternativa, ligando-se a C3b, impedindo a ligação de fB e conseqüentemente a formação da C3-convertase da via alternativa (JIANG et al., 2001). O inibidor de C1 também inibe a ativação do sistema da coagulação, através da inativação de calicreína e plasmina e dos fatores de coagulação XIa e XIIa (ROSEN E DAVIS III, 2005). Esta proteína está presente no soro humano normal na concentração de 150 µg/ml e é sintetizada por hepatócitos, monócitos, fibroblastos, células endoteliais, megacariócitos células da microglia, neurônios e placenta. Sua produção é regulada positivamente por interferon (IFN)γ, interleucina (IL)-6 e fator de necrose tumoral (TNF)-α (PRADA et al., 1998). Properdina Esta proteína é um regulador positivo da via alternativa. É capaz de ligar-se ao complexo C3bBb e C3bBbC3n e aumentar a meia-vida destas 2 convertases (WEILER et al., 1976). Além disso, a properdina também é capaz de inibir a ligação de fI ao fragmento C3b (MEDICUS et al., 1976) 18 I.2.6.2. Reguladores associados à membrana celular CR1 ou CD35 CR1 atua como co-fator de fI na clivagem de C3b em iC3b (FEARON, 1979) e também de iC3b em C3c e C3dg (MEDOF et al.,1983; MEDICUS et al., 1983). Além disso, CR1 se liga a C4b facilitando a degradação em C4c e C4d, e acelera o decaimento da C3 e C5 convertase (IIDA E N USSENZWEIG , 1983). CR1 é encontrado principalmente em eritrócitos e leucócitos (LAY E N USSENZWEIG , 1968; F E A R O N , 1980; WILSON et al., 1983) e atua como receptor para imunocomplexos ou microorganismos opsonizados por C3b e C4b. É uma proteína transmembrânica com domínio citoplasmático. A forma solúvel de CR1 é provavelmente proveniente da superfície de leucócitos e é encontrada na circulação sangüínea (HAMER et al., 1998). MCP ou CD46 Assim como CR1, MCP também atua como co-fator de fI atuando na clivagem de C3b e C4b, mas não no decaimento das convertases (KOJIMA et al., 1993). Na ausência de fI, MCP atua de forma inversa, estabilizando a C3-convertase (SEYA E ATKINSON , 1989). Sua forma solúvel foi detectada no sangue e na lágrima (HA R A et al., 1992; SE Y A et al., 1995; MCLAUGHLIN et al., 1996). É possível encontrar diferentes isoformas de MCP na mesma célula, que são provavelmente geradas por splicing alternativo (POST et al., 1991). Assim como CR1, é uma proteína de membrana que apresenta domínio citoplasmático. DAF ou CD55 Este regulador atua como acelerador do decaimento da C3-convertase e impede a formação ou manutenção da C5-convertase (NICHOLSON-WELLER E WANG, 1994). Inativa preferencialmente as convertases da via clássica e, ao contrário da MCP, sua afinidade para C3b 19 e C4b é baixa, mas aumenta quando estas se ligam às convertases (PANGBURN, 1986). DAF é encontrado em quase todas as células sangüíneas e também na maioria de outras células (KUTTNER-KONDO et al., 2000), mas não em células NK (do inglês natural killer) e em alguns linfócitos T (N ICHOLSON-W ELLER et al., 1986; TOMITA et al., 1991). A forma solúvel desta proteína encontra-se em diferentes fluidos biológicos (ME D O F et al, 1987) e na matriz extracelular no tecido subendotelial (HINDMARSH e MARKS , 1998). DAF é uma proteína integrada na membrana por uma âncora de glicosilfosfatidilinoistol (GPI). CD59 Este regulador pode se ligar a C8 do complexo C5b-8 e ao C9, impedindo a formação do MAC (MERI et al., 1990). É encontrado em todas as células da circulação e em quase todos os tecidos (D AVIES et al., 1989; NOSE et al., 1990; MERI et al., 1991). Assim como DAF, CD59 também é encontrado integrado à membrana celular através de uma âncora de GPI. Sua forma solúvel, encontrada no leite e no plasma seminal, retém a âncora de GPI que permite a ligação à superfície de células externas (ROONEY et al., 1993; HAKULINEN E M ERI, 1995), enquanto na urina, encontra-se sem a âncora de GPI (LEHTO et al., 1995). O gene C D 5 9 encontra-se localizado fora da região RCA e foi mapeado no cromossomo 11p13 (BICKMORE et al., 1993). I.2.7. Componentes C1r e C1s Os componentes C1r e C1s humanos são glicoproteínas homólogas de 85kDa (NGUYEN et al., 1988) que fazem parte do complexo C1. Estão presentes no soro humano normal na concentração de 35 a 50 µg/ml (MORLEY E WALPORT, 2000). Após ativação proteolítica, C1r e C1s são clivados em duas cadeias cada um deles, uma pesada, chamada de cadeia A (58kDa) e uma leve, cadeia B (27kDa), segundo KUSUMOTO (1988), as quais permanecem unidas por pontes dissulfeto. A cadeia A é a cadeia pesada (tanto de C1r como de C1s) e possui 5 domínios (Figura 6). Os domínios I e III são formados por repetições homólogas primeiramente 20 reconhecidas em C1r/C1s, em proteína de fator de crescimento de epiderme de-ouriço-do mar (Uegf - do inglês Urchin epidermal growth factor) e na proteína I morfogenética de osso humano (CUB - C1, Uegf, Bone); o domínio II primeiramente descrito no precursor do fator de crescimento de epiderme (EGF); por fim, os domínios IV e V são formados por repetições homólogas de CCP também encontradas em diversas proteínas do complemento, como por exemplo, fB, H e C4BP, segundo ARLAUD et al. (2002). Os módulos CUB de C1r e C1s contêm entre 110 a 120 resíduos hidrofóbicos e aromáticos; e o módulo CUB1 de cada um deles apresenta apenas uma ponte dissulfídica (Cys3Cys4). Embora o módulo CUB1 de C1s não seja glicosilado, o módulo CUB2 de C1s e os dois módulos CUB de C1r apresentam oligossacarídeos localizados conforme ilustrado na Figura 6 (ARLAUD et al., 2002). O segundo domínio (EGF) está presente em várias proteínas solúveis que se ligam a membranas celulares e estão envolvidas em diversas funções biológicas como coagulação sangüínea, adesão celular, desenvolvimento neuronal (CAMPBELL E BORK, 1993). Os domínios EGF de C1r e C1s possuem 53 e 44 aa respectivamente e interagem com Ca2+. Foram observados os 4 sítios de ligação de Ca2+ no dímero de C1s e a localizações dos mesmos concentra-se nos sítios I e II. O sítio I, do conjunto CUB1-EGF, está na interface intra- e intermonômeros, enquanto o sítio II estabiliza a parte distal do CUB1, garantindo a associação dos monômeros de C1r com C1s (GREGORY et al., 2003). Conforme mencionado anteriormente, os módulos CCP variam de 60 a 70 aa e, assim como o módulo CUB, apresentam resíduos hidrofóbicos e aromáticos, além de quatro Cys que formam duas pontes dissulfídicas, fundamentais para formar a sua estrutura globular. Como mostra a Figura 6, embora os módulos CCPs de C1r não sejam glicosilados, observa-se a presença de oligossacarídeo no módulo CCP2 de C1s. 21 A cadeia B de C1r e C1s contém 242 e 251 aa respectivamente, sendo que a primeira possui dois oligossacarídeos e a segunda não é glicosilada. A cadeia B contém o domínio serinoproteolítico (SP), o qual participa da auto-ativação de C1r, da clivagem da C1s mediada pela C1r e da clivagem de C4 e C2 nas ligações Arg-Ala e Arg-Lys, respectivamente, mediada por C1s (ARLAUD et al., 2002). Observou-se também que, embora a clivagem de C2 dependa somente dos domínios CCP2-SP de C1s, no caso de C4, além de CCP2-SP, é necessária uma ligação da proteína C4 ao domínio CCP1, que melhora a disposição da mesma facilitando sua clivagem (BALLY et al., 2005). cadeia A I CUB1 CUB1 II EGF EGF cadeia B III IV V CUB2 CCP1 CCP2 SP C1r CUB2 CCP1 CCP2 SP C1s Figura 6. Estrutura modular de C1r e C1s. As flechas representam a ligação Arg-Ile que é clivada para ativar a proteína. Os losangos representam oligossacarídeos. Domínios I e III foram primeiramente reconhecidos em C1r/C1s, proteína Uegf e proteína I morfogenética do osso humano - CUB, domínio II é formado por uma seqüência precursora do fator de crescimento de epiderme - EGF, domínios IV e V são repetições homólogas conhecidas como complement control protein – CCP, (ARLAUD et al., 2002). As cadeias A e B estão representadas por vermelho e azul, respectivamente. Além da estrutura semelhante das proteínas C1r e C1s, seus respectivos genes estão localizados no braço curto do cromossomo 12, na região p13 (NAUYEN et al., 1988), com apenas 9,5 kb de distância entre as extremidades 3' de cada um. (KUSUMOTO et al., 1988). O gene C1s 22 (13 kb) contém 12 éxons (TOSI et al., 1989) (Figura 7), sendo o último responsável por codificar os resíduos necessários para a atividade proteolítica deste subcomponente. O gene C1r possui 11 kb de tamanho e a disposição de éxons e íntrons é muito semelhante àquela encontrada em C1s (NAKAGAWA et al., 2003). 1 2 3 4 5 6 7 8 9 208 178 126 200 154 116 79 10 11 12 C1s pb (147) (74)+5 2 C1r pb (51)+2 29 3 4 193 147 197 5 6 148 7 122 129 8 75 9 10 79 156 75 197+(379) 11 12 770+ (217) Figura 7. Disposição de éxons e íntrons nos genes C1s (verde) e C1r (azul). Os números abaixo dos desenhos indicam os tamanhos dos éxons (Adaptado de N AKAGAWA et al., 2003). TOSI et al. (1987) observaram a presença de 3 transcritos de RNAm de C1s com tamanhos estimados em: 3,2; 3,1 e 2,9 kb cada. O tamanho do cDNA de C1r também é heterogêneo, estimado em aproximadamente 2,5 kb (LEYTUS et al., 1986). Os RNAs menssageiros de C1r e C1s são expressados em diversos tecidos e órgãos como fígado, rim e cérebro (KUSUMOTO et al., 1988) e sabe-se que estas proteínas podem ser sintetizadas in vitro por células de hepatoma (MORRIS et al., 1982), fibroblastos (R EID E SOLOMON, 1977), macrófagos (M ULLER et al., 1978), condrócitos (NAKAGAWA et al., 1999) e monócitos (CHEVAILLER et al., 1994). 23 I.2.8. Regulação da Expressão de C1s e C1r A expressão de muitas proteínas do sistema complemento é regulada por citocinas próinflamatórias como IFN-γ, fator de necrose tumoral TNF-α, IL-1 e IL-6 e substâncias como lipopolissacarídeo (LPS) e anti-inflamatórios como dexametasona. A expressão de C1r e C1s é regulada positivamente por IL-1 α, IL-1 β, TNF- α e IL-6 em astrócitos e células da microglia (VEERHUIS et al.,1999); e por IFN- γ em células epiteliais glomerulares (LAUFER et al., 1997), células esqueléticas musculares (L EGOEDEC et al., 1997), gliomas (GASQUE et al., 1993) e células HepG2 (hepatócitos tumorais) (K ATZ et al., 1993). Além disso, o promotor de C1s é regulado positivamente por estímulos de IL-6, IL-1 e IFN- γ (ENDO et al., 2002). Em monócitos, a expressão de C1s é regulada positivamente por IFN- γ, o que não ocorre com C1r, que pode indicar uma regulação independente dos dois genes (CHEVAILLER et al., 1994). Segundo M ORALEZ et al. (2003), C1s e C1r são regulados positivamente por IL-1 β e TNF- α em fibroblastos e músculo liso de aorta suína. Porém, dexametasona regula positivamente C1r, mas não tem efeito algum sobre a produção de C1s. I.3. Imunodeficiências Primárias As imunodeficiências congênitas ou primárias (IDP) são raras e causadas por defeitos genéticos que causam maior suscetibilidade a infecções, manifestadas no lactente, na infância ou mesmo na fase adulta do indivíduo. IDPs podem ser causadas por defeitos na produção ou funcionalidade de componentes da imunidade adaptativa, por exemplo: anticorpos, linfóctiso B e T, assim como da imunidade inata, por exemplo: neutrófilos, fagócitos, complemento e células natural killer. Em 1970, a Organização Mundial da Saúde reuniu um comitê para definir e classificar as IDPs (FUDENBERG et al., 1970) e a cada dois anos esta classificação é atualizada. A última reunião foi realizada em junho de 2005 em Budapeste, Hungria. Nesta, mais de 120 IDPs foram organizadas em 8 grupos (NOTORANGELO et al., 2006), resumidos no Quadro 3. 24 Quadro 3. Aspectos Clínicos do Grupos de Imunodeficiências Primárias Grupo Padrão de Infecção Imunodeficiências combinadas de linfócitos T e B Deficiência de anticorpos (linfócitos B e produção de anticorpos) Síndromes de imunodeficiência (Wiskott-Aldrich; Defeitos no reparo de DNA; Di George; displasia imuno-óssea; Hermansky-Pudlak tipo 2; HíperIgE e Candidíase mucocutânea crônica) Infecções oportunistas: micobactérias, citomegalovírus, vírus Epstein-Barr, varicela, enterovírus, cândida e Pneumocystis carinii (pneumonia) Bactérias encapsuladas: Haemophilus influenzae, pneumococos, estreptococos. Fungos e parasitas: Giárdia lamblia, criptosporídio Vírus: enterovírus Infecções bacterianas Candidíase mucocutânea crônica Doenças de imuno desregulação (Hipopigmentação; Linfohistiocitose hemofagocítica; síndrome linfoproliferativa ligada ao X; síndromes com autoimunidade) Infecções por bactérias e vírus Candidíase Defeitos na fagocitose Bactéria: Staphylococcus aureus, pseudomonas, salmonela Micobactérias vírus Defeitos na imunidade inata (Afeta linfócitos, monócitos, granulócitos e queratinócitos) Infecções bacterianas, micobactérias, papiloma vírus humano Doenças autoinflamatórias (Afeta neutrófilos, monócitos e grnulócitos) Infecções por bactérias Deficiência de Complemento Infecções por neisseria: meningococo e gonococo Outros Características Infecção oral Doença do enxerto contra hospedeiro dos linfócitos maternos Excesso de diarréia Infecções pós vacinação Repetidas infecções: sinusites, otites media e bronquites Problemas crônicos gastro-intestinais Autoimunidade Paralisia por Pólio após vacinação Imunodeficiência comum variável Doenças auto-imunes Trombocitopenia Ataxia Microcefalia Hipoparatiroidismo Nanismo Neutopenia Albinismo oculocutâneo Osteoporose Albinismo parcial Encefalopatia Inflamação grave Megalosplenia Doenças auto-imunes Infecções graves por patógenos comuns Formação de granulomas: enterite granulomatosa Abscesso, infecções na pele, cavidade oral e anorretal Displasia ectodérmica anidrótica Hipogglobulinemia Diminuição de células T, ou B, ou neutrófilos Vários epsódios de febre, urticária, rash em neonatos, artrite, uveite doença de Crohn Doenças reumatóides Lúpus Angioedema hereditário Síndrome hemolítico urêmica Fonte: Cooper et al., 2003; Notorangelo et al., 2006. Em 1996, a Fundação Jeffrey Modell criou uma lista de sinais de alerta para a IDP, e o Grupo Brasileiro de Imunodeficiência (BRAGID) adaptou para o nosso meio (www.imunopediatria.org.br) como mostra o Quadro 4: 25 Quadro 4. Os 10 sinais de alerta para imunodeficiência primária. 1- Duas ou mais pneumonias no último ano. 2- Quatro ou mais novas otites no último ano. 3- Estomatite de repetição ou monilíase por mais de dois meses. 4- Abscessos de repetição ou ectima. 5- Um epsódio de infecção sistêmica grave (meningite, osteoartrite, septicemia). 6- Infecções intestinais de repetição/ diarréia crônica. 7- Asma grave, doença do colágeno ou doença auto-imune. 8- Efeitos adversos ao BCG e/ou infecção por Micobactéria. 9- Fenótipo clínico sugestivo de síndrome associada à imunodeficiência. 10- História familiar de imunodeficiência. Fonte: BRAGID (www.imunopediatria.org.br); adaptado da FUNDAÇÃO J EFFREY MODELL (www.jmfworld.org). O reconhecimento e diagnóstico de IDP no começo de seu desenvolvimento pode alterar o curso da doença e gerar efeitos positivos no seu tratamento. Embora pacientes deficientes de proteínas do complemento representem apenas 2 % de pacientes com IDP (COOPER et al., 2003, REIS et al., 2006), muitos deles sofrem de repetidas infecções que podem ser letais, e em alguns casos desenvolvem doenças auto-imunes como lúpus. O estudo dos casos destes pacientes pode direcionar para um tratamento mais adequado, além de contribuir para o entendimento do papel fisiológico do complemento e sua associação com desenvolvimento de doenças auto-imunes. 26 I.4. Deficiência de Componentes da Via Clássica Deficiências de componentes do sistema complemento (Quadro 5) podem levar a um aumento da suscetibilidade a infecções por bactérias piogênicas, enquanto defeitos na imunidade celular tornam o indivíduo mais propício a infecções por vírus e por outros microorganismos de vida intracelular. Quadro 5. Deficiências de algumas proteínas do sistema complemento. COMPONENTE O N DE CASOS Via Clássica C1q 42 C1r e/ou C1s 15 C4 24 C2 >100 C3 27 Inibidor de C1 >100 Via das Lectinas MBL >30 Via Alternativa Fator D 1 Properdina >50 Fator I 31 Fator H 22 Componentes Terminais C5 19 C6 >50 C7 26 C8 32 C9 >50 CARACTERÍSTICA DOENÇA ASSOCIADA Ativação defeituosa da via clássica Ativação defeituosa da via clássica Ativação defeituosa da via clássica Ativação defeituosa da via clássica Ativação defeituosa da via clássica e alternativa Ativação continua da via clássica e das lectinas LES; Infecções piogênicas Ativação normal das vias clássicas e alternativa Defeito de opsonização, LES Ativação defeituosa da via alternativa Ativação defeituosa da via alternativa Ativação defeituosa da via alternativa Redução das outras proteínas da via alternativa Infecção por Neisseria; Outras infecções piogênicas Infecção por Neisseria; Raras outras infecções piogênicas Infecções piogênicas; Glomerulonefrite; LES Infecções piogênicas; Glomerulonefrite; LES; Síndrome hemolítica urêmica Formação defeituosa do MAC Formação defeituosa do MAC Formação defeituosa do MAC Formação defeituosa do MAC Formação defeituosa do MAC Infecção por Neisseria Infecção por Neisseria Infecção por Neisseria Infecção por Neisseria Infecção por Neisseria LES; Infecções piogênicas LES; infecções piogênicas; Glomerulonefrite LES; Infecções piogênicas; Glomerulonefrite. Infecções piogênicas; Glomerulonefrite. Angioedema, LES Fonte: Adaptado de MORGAN E WALPORT, 1991 e REIS et al., 2006 LES - lúpus eritematoso sistêmico; MAC – complexo de ataque à membrana. 27 I.4.1. Deficiência de C1r e C1s As deficiências de C1r são geralmente combinadas com deficiência de C1s e os indivíduos deficientes podem ser assintomáticos ou apresentarem diversos sintomas como pneumonias, vasculites, infecções por estafilococos, glomerulonefrites, rash, hematúria, LES, tuberculose pulmonar entre outros (PICKERING et al., 2000). Foram descritos 15 casos da deficiência de C1r e C1s resumidos na Quadro 6, sendo que as bases moleculares da deficiência foram analisadas em apenas 3 deles (INOUE et al., 1998; ENDO et al., 1999; DRAGON-DUREY et al., 2001) . Em geral, há predominância da deficiência de C1r ou C1s. No entanto, quase todos os casos apresentam menores concentrações da outra, isto é, casos de deficiência de C1s apresentam baixos níveis de C1r e vice-versa. Isto provavelmente ocorre devido ao fato dos genes das duas proteínas estarem localizados muito próximos no cromossomo 12 região p13 (NGUYEN et al., 1988). 28 Quadro 6. Deficiência de C1r e C1s Caso Referência Idade Testes laboratoriais 1 PONDMAN et al, 1968 6 anos F ? 2 PICKERING et al, 1970 13 anos F ? 3, 4 DAY et al, 1972; DE BRACCO et al, 1974; MONCADA et al, 1972. 18 anos M, Porto Rico 24 anos F, Porto Rico - CH50 = zero - Ausência de C1 - Inibidor de C1 elevado (150-300%) - Adição de C1s purificado reconstituiu hemólise EA - Adição de C1q e C1r não reconstituiu. - Traços de atividade de C1r. - CH50 < 1 - C1q e C3 normais - C1s ~ 30% - 40% (atividade menor que normal) - C4 e inibidor de C1 elevados - Adição de C1r purificado reconstituiu hemólise EA - ANA-, LE-. - CH50 < 12 U/ml, C4 elevado - C1r não detectável no soro por Ouchterlony, atividade hemolítica restaurada com adição de C1r purificado, C3 elevado e C5 elevado. - C1s 11,7µg/ml (normal 30 µg/ml.) - Atividade bactericida do soro e imuno aderência reduzidas. - CH50 < 12 U/ml, C4 elevado - C1r não detectável no soro por Ouchterlony, atividade hemolítica restaurada com adição de C1r purificado, atividade hemolítica de C3 e C5 elevada, de C6, C7 e C8 um pouco elevada. - C1s 12,8 µg/ml (normal 30 µg/ml.). - Atividade bactericida do soro e imuno aderência reduzidas. Quadro clínico Notas - 5 meses- Igs fixadas na membrana da pele - 10 meses- ANA+; teste celular para LE negativo - gradualmente desenvolveu LES. - tratamento com corticosteróide - glomerulonefrite crônica - talvez C1r e C1s regulem síntese de catabolismo do C4 - C1r importante para a manutenção da macromolécula C1. -5 anos, manifestações semelhantes ao lúpus. - lesões na pele -13 anos, eritematoses. - Hospitalizado 3 vezes aos 16 anos com febre, náuseas e poliartrite. - 17 anos, glomerulite membranosa. - 3 irmãos morreram: 1) 12 anos, sintomas similares a lúpus; 2) gastroenterite; 3) infância, causa desconhecida. - otite média recorrente e infecções no trato respiratório (na infância). - poliartralgia e rinobronquites recorrentes. 29 Quadro 6. Deficiência de C1r e C1s (continuação). Caso Referência Idade Testes laboratoriais Quadro clínico Notas 5, 6, 7,8 14 anos F, Porto Rico - CH50 < 10 U/ml - ANA-, LE-, anti-La positivo (1/320) - biópsia da pele:"lúpus eritematoso" - C1r < 0,01 O.D. U/ml - C1s < 10 mg/ml - C4, C2, C5, C6 e C8 elevados - inibidor de C1 presente. - heterozigoto para HLAA9, B5/ HLA-A19, B12. - rash facial - meningite três vezes - alopecia - poliartropatia deformadora - febre com espasmos - hipertensão. 16 anos F, Porto Rico - CH50 < 10 U/ml - ANA+ 1/20, anti-La positivo 1/160. - C1r < 0,01 O.D. U/ml - C1s < 10 mg/ml - C4, C6 e C8 elevados - inibidor de C1 presente. - heterozigoto para HLAA9, B5/ HLA-A19, B12. - assintomática - pais consangüíneos (mãe saudável e pai com osteoartrite). - 3 irmãos morreram: 1) 10 anos M, artrite, rash eritematosa na face e nas mãos desde os 18 meses. 2) 6 anos F, meningite. 3) 7 meses F, diarréia. - 4 irmãos saudáveis e não afetados pela deficiência de C1r: 26 anos M, 25 anos M, 24 anos M, 9 anos M. 20 anos M, Porto Rico - CH50 < 10 U/ml - ANA+ 1/30, DNA-, LE-, anti-La positivo 1/640. - Biópsia renal imunofluorescente para IgA, IgG, IgM, C3, C4 e C1q (mesângio). - C1r < 0,01 O.D. U/ml - C1s < 10 mg/ml - C4, C5, C6, C7 e C8 elevados - inibidor de C1 presente. - heterozigoto para HLAA9, B5/ HLA-A19, B12. - lúpus eritematoso discóide severo. - fotosensibilidade -poliartralgia - fenômeno de Raynaud - alopecia - celulite - pneumonias -proteinúria e hematúria 31 anos M, Porto Rico - CH50 < 10 U/ml - ANA pouco positivo, antiLa positivo 1/640. - C1r < 0,01 O.D. U/ml - C1s 12 mg/ml - C4, C6 elevados - inibidor de C1 presente. - heterozigoto para HLAA9, B5/ HLA-A19, B12. - saudável - histórico de tuberculose e linfadenite LEE et al, 1978; CHASE et al, 1976. 30 Quadro 6. Deficiência de C1r e C1s (continuação). Caso Referência Idade Testes laboratoriais Quadro clínico Notas 10 GARTY et al, 1987 2 anos M, Porto Rico - CH50 = zero - C1s 50% do normal - C1r ausente - C4 elevado - C1q presente - IgE normais - suscetibilidade a estafilococos. - pais e irmãos saudáveis e com níveis normais de C1s e C1r. - um irmão morreu aos 3 meses após febre. 11 ELLISON et al, 1987 35 anos F, Afroamericana 12 SUZUKI et al, 1992; INOUE et al, 1998. 26 anos M, Japonês - CH50 = zero - C1r ausente - C1s normal (50 µg/ml) - C1q normal (101 µg/ml) - C4 elevado - inibidor de C1 elevado (analisados por imunodifusão radial) - CH50 < 1 U/ml - ANA+ 1/160, DNA+, antiLa positivo, LE-, anti-RNP-. - biópsia renal positiva para IgG e C3. - C1s ausente -C1r 45% do normal - C1q normal. - atividade hemolítica de C4 elevada. - atividade hemolítica de inibidor de C1 elevada. - abcesso hepático por estafilococos - 2 pneumonias (pneumatocele e empiema) - linfadenite por estafilococos - otites média recorrentes - bacteremia por pneumococos. Infecção gonocócica disseminada; abuso de álcool e drogas. - rash, - glomerulonefrite, proteinúria, hematúria (desde os 11 anos). - tuberculose pulmonar. - nefrectomia por hidronefrose. - cardiomiopatia. - terapia de reimplante renal (aos 26 anos). - Homozigose para deleção de 4 pb no éxon 10 do gene C1s (TTTG) resultando em um códon de parada prematuro. Heterozigose presente na mãe. 13 CHEVAILLER et al, 1994 60 anos F, ? - CH50 < 5%, - ANA+ 1/1000, DNA+, anti-Ro+. Biópsia da pele positiva para anti-µ+ - C1r < 12% - C1s 37% - C1q normal - C4, C3, C5 e inibidor de C1 elevados - LES - hipertensão - rash - vasculite arterial - morte por hemorragia intracerebral - A expressão de C1s é regulada positivamente por IFN-γ, o que não ocorre com C1r 14 ENDO et al, 1999 6 anos M, Japonês - síndrome hemofagocítica associada a vírus. - febre, convulsão e perda da consciência aos 6 anos. - morte aos 7 anos. - pais e um irmão apresentavam 50% de C1s. - Deficiência de C1s heterozigota: deleção de 4pb no gene de C1s paternal (TTTG gerando códon de parada prematuro no éxon 10), e no maternal uma substituição de G por T, gerando códon de parada no éxon 12. - CH50= zero - C1s ausente - C1r e C1q presentes - produtos truncados de C1s não detectados no soro dos pacientes por Western blot - soro da irmã e da filha apresentaram CH50 normal e concentração normal das proteínas do complemento. 31 Quadro 6. Deficiência de C1r e C1s (continuação). códon de parada no éxon 12. 15 DRAGON-DUREY et al, 2001 2 anos F, caucasiana - CH50 = zero - ANA+ 1/500, - C4 e inibidor de C1 elevados - C1s ausente - C1q e C1r presentes - Adição de C1s purificado reconstituiu hemólise EA - HLA A1-28, B8-14, C7-8, DR 3-13 - síndrome similar a LES. - Tireoidite de Hashimoto - hepatite autoimune - Homozigose para a substituição de C por T no códon 534 gerando códon de parada no éxon 12. Fonte: Adaptado de PICKERING et al., 2000. ANA – anticorpo anti-núcleo; anti-Ro, anti-Sm e anti-RNP, anti-La - anticorpos específicos para identificação de lúpus (ver Quadro 1); CH50 – atividade hemolítica mediada pela via clássica; LES – lúpus eritematoso sistêmico. I.5. Complemento e LES Deficiências homozigóticas das proteínas da via clássica são geralmente associadas a maior suscetibilidade a doenças auto-imunes como lúpus eritematoso sistêmico (LES) e há uma hierarquia de gravidade dependente de qual proteína é deficiente. Dos 42 casos descritos de deficientes homozigotos de C1q, 39 (93%) apresentam LES, geralmente casos graves. Seguindo a hierarquia, os casos de deficiência C1r e C1s, em geral combinados, apresentam um grau elevado de gravidade e 60% de freqüência (9 dos 15 casos de deficientes apresentam a doença). Um total de 18 dos 24 (75%) casos de deficientes de C4 apresentou LES em menor grau de gravidade. Apesar de muito freqüente, a deficiência hereditária de C2 é associada ao LES em apenas 13% dos casos, além de ser menos grave (PICKERING et al., 2000). E, embora associada ao desenvolvimento de glomerulonefrite e infecções piogênicas, a deficiência de C3 não está tão associada ao desenvolvimento de lúpus. Apenas 6 dos 28 (21%) casos apresentavam desenvolvimento de lúpus ou doença similar a lúpus (REIS et al., 2006). Pacientes que desenvolvem LES associado à deficiência de proteínas do complemento apresentam uma forma peculiar da doença, no observa-se um padrão de características que incluem: fotosensibilidade grave com rash na pele, normalmente acompanhada de altos títulos 32 anticorpos anti-Ro (MEYER et al., 1985). Esses pacientes desenvolvem a doença quando jovens e não há predominância feminina, o que sugere que outros fatores genéticos tenham pouca influência nesses casos. Algumas hipóteses tentam explicar o papel do complemento no desenvolvimento de LES, sendo três delas as mais relevantes: 1- Deposição de imunocomplexos Inicialmente acreditava-se que defeitos na remoção de imunocomplexos dependente de complemento fossem o principal motivo para o desenvolvimento de doenças auto-imunes. Esta hipótese baseava-se no fato da deficiência de C1 atrasar a precipitação de imunocomplexos, soros deficientes em C3, C4 ou C2 não prevenirem a precipitação de imunocomplexos (SCHIFFERLI et al., 1983) e a deposição de fragmentos de C3 no antígeno bloquear o sítio de interação antígeno-anticorpo (WALPORT et al., 1987). Assim, na deficiência de complemento, imunocomplexos podem escapar da remoção, depositar-se nos tecidos e causar dano, uma vez ligados a receptores de Fc encontrados em neutrófilos e leucócitos. Há grupos que demonstram evidências de que a remoção de imunocomplexos está diminuída em LES e encontra-se associada a baixos níveis de complemento (WALPORT et al., 1998). Além disso, animais deficientes de complemento desenvolvem glomerulonefrite espontânea (MITCHELL et al., 1999 e SEKINE et al., 2001) e a glomerulonefrite induzida é exacerbada em animais C1q deficientes (ROBSON et al., 2001). No entanto, existem outros grupos que acreditam que esta hipótese não explica por si só a importância de complemento para o desenvolvimento de LES. Acreditam que uma falha geral na remoção de imunocomplexos não levaria a um fenótipo característico de LES como acontece com pacientes deficientes de complemento. Além disso, pacientes que desenvolvem LES e são deficientes de complemento, não apresentam necessariamente maior deposição de imunocomplexos que outros pacientes de LES que apresentam níveis normais de complemento. 33 A maioria dos complexos antígeno-anticorpo pode ser removida pela via alternativa que é funcional nestes pacientes. Alguns pacientes deficientes de C2 apresentam LES, sendo que estes são capazes de ativar a via clássica e formar fragmentos C4b, que participa da remoção de imunocomplexos (NAVRATIL et al., 1999). 2- Remoção de células apoptóticas Há fortes evidências de que a resposta de auto-anticorpos observada em pacientes com LES é específica para auto-antígenos (e não por anticorpos policlonais de reação cruzada com auto-antígenos). A possível relação entre células apoptóticas e produção de auto-anticorpos de LES foi estabelecida por CASCIOLA-ROSE et al. (1994), que mostraram que muitos autoantígenos encontrados em pacientes com lúpus estavam localizados na superfície de restos apoptóticos e vesículas apoptóticas. Outros estudos sobre o mecanismo de remoção de restos apoptóticos foram realizados, quando se notou que macrófagos derivados de monócitos do sangue periférico de pacientes com LES apresentavam defeito na fagocitose de células apoptóticas (HERRMAN et al., 1998). A idéia de que o complemento estaria implicado na patogenia do lúpus foi endossada por KORB E AHEARN (1997), quando viram que C1q ligava-se a queratinócitos apoptóticos. Excesso de células apoptóticas foi observado em rins de camundongos C1q deficientes (B OTTO et al., 1998). T AYLOR et al. (2000) mostraram que macrófagos peritoneais de animais C1q-/- ou C4-/- apresentavam falha na remoção de timócitos apoptóticos e células Jurkat humanas. Da mesma forma, macrófagos humanos de indivíduos deficientes de C1q apresentaram pior remoção de células apoptóticas, este quadro foi revertido pela adição de C1q purificado, quando também mostraram que essa remoção poderia igualmente ser mediada pela ligação de fragmentos de C3 (MEVORACH et al., 1998). Essas observações apoiam a hipótese de que o complemento participa da prevenção da autoimunidade através de seu papel na remoção de restos apoptóticos, onde a ausência de certas proteínas do complemento como C1q e C4 levaria a uma pior remoção de restos apoptóticos e, 34 portanto, aumentaria a possibilidade de restos apoptóticos serem reconhecidos por linfócitos autorreativos, desencadeando o desenvolvimento de doenças auto-imunes como LES (Figura 8). Esta hipótese também é discutível, uma vez que C3 também participa da remoção de restos apoptóticos e da apresentação de antígenos para linfócitos B, porém os casos de deficiência de C3 não estão tão relacionados ao desenvolvimento de LES como os deficientes de C1q e C4. CARROLL, 2004 Figura 8. Hipótese da remoção de células apoptóticas. C1q e C4 participam da remoção de restos apoptóticos levando à ativação de células maduras, B e T. A ausência dessas proteínas permite uma maior disponibilidade de antígenos para linfócitos autorreativos (retirado de CARROLL, 2004). 3- Indução da tolerância Uma terceira hipótese foi proposta por CARROLL (2000), de certa forma ligada à hipótese da remoção de imunocomplexos, mas envolve o complemento na participação da tolerância de auto-antígenos. Nesta hipótese, considera-se que a imunidade inata participa da apresentação de auto-antígenos para linfócitos B em desenvolvimento, aumentando a seleção negativa. As deficiências na imunidade inata poderiam alterar mecanismos de tolerância de linfócitos B, permitindo que linfócitos B autorreativos escapassem para a circulação. Sabe-se que animais 35 deficientes de C4 (FISCHER et al., 1996), C3 (DACOSTA et al., 1999) e CR1/CR2 (AHEARN et al., 1996) apresentam falha na resposta de linfócitos B a auto-antígenos dependentes e independentes de linfócitos T. Além disso, os experimentos de PRODEUS et al. (1998) deram base à essa hipótese, pois utilizando camundongos transgênicos que expressavam imunoglobulina específica para lisozima de ovo de galinha (do inglês hen-egg lysozyme –HEL) e um segundo grupo de camundongos transgênicos para a mesma imunoglobulina e para o antígeno na forma solúvel (sHEL), observaram que os animais do primeiro grupo apresentaram desenvolvimento normal de linfócitos B na ausência do antígeno. Porém, animais do segundo grupo, que expressavam o antígeno na forma solúvel além da imunoglobulina específica para HEL, apresentaram linfócitos B anérgicos, com falha na maturação e com tempo de vida mais curto. Ao cruzarem esse segundo grupo com animais C4-/-, C3-/-, ou CR1/CR2-/-, observaram que linfócitos B de animais C4-/- e CR1/CR2-/- não haviam entrado em anergia, enquanto animais C3-/- apresentavam equivalentes resultados encontrados nos animais transgênicos somente para imunoglobulina anti- HEL e sHEL complemento suficientes. Uma possível explicação para estes resultados é que C4 e seu receptor (CR1) aumentam o sinal de reconhecimento do antígeno pelo linfócito B, eliminando assim as células autorreativas, uma vez que o desenvolvimento da anergia depende da força do sinal do receptor do linfócito B (GOODNOW et al., 1995). Portanto, na ausência de C4 e/ou CR1/CR2, o sinal que o linfócito B imaturo recebe é mais fraco e, assim, linfócitos B autorreativos não são eliminados na medula óssea, sendo, portanto, capazes de reconhecer auto-antígenos na periferia (Figura 9). No entanto, o mesmo modelo foi utilizado com animais C1q-/- e o resultado obtido foi similar aos animais C1q+/+ , isto é, na presença do antígeno, os linfócitos B dos animais C1q-/- e C1q+/+ entraram em anergia (CUTLER et al., 2001). Esses resultados não invalidam a hipótese, pois o emprego do tipo de antígeno utilizado (HEL) é um fator limitante para o modelo, já que não corresponde a um auto-antígeno de LES. Dessa 36 maneira, mais de um mecanismo dependente de complemento podem ser relevantes para etiopatogenia de doenças auto-imunes, como LES. Células da medula óssea Células do baço C1q C4b Figura 9. Hipótese da indução da tolerância. C1q e C4 participam da apresentação de antígenos na seleção negativa de linfócitos B autorreativos na medula óssea. Nas células do baço, C4b ligados a auto-antígenos podem atuar como estímulo de coreceptores em linfócitos B que apresentam CR1 (retirado de CARROLL, 2004). Apesar desta 3 hipóteses, restam ainda muitas dúvidas a respeito da associação do complemento no desenvolvimento de LES. Embora apenas 26 % dos deficientes de C3 apresentem LES, e entre estes um outro fator genético contribua para isto, uma vez que 6 dos 7 pacientes de origem japonesa tenham desenvolvido a doença (REIS et al., 2006), suas funções biológicas parecem atuar nas 3 hipóteses citadas. Por outro lado, deficientes de C1q apresentam uma forte correlação com o desenvolvimento de LES, embora experimentos que fundamentam a hipótese da tolerância não apresentam diferença na tolerância de linfócitos B autorreativos, 37 quando os animais são C1q-/- (CUTLER et al., 2001). Como modelos experimentais apresentam muitas limitações para o estudo de doenças humanas, e as imunodeficiências, principalmente de complemento, são raras, torna-se importante o estudo de cada caso que envolva doenças como LES, para buscar um melhor entendimento da etiopatogenia desta doença. Por haver poucos casos descritos da deficiência de C1s/C1r e considerando-se que estes trabalhos colaboram para o maior conhecimento da causa desta deficiência e doenças a ela associadas foi nosso interesse estudar e analisar geneticamente a deficiência de C1s detectada inicialmente pelo grupo da Profa. Dra Virgínia Paes Leme Ferriani (Departamento de Pediatria do Hospital Universitário da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP) em dois irmãos que apresentam LES. 38 II. OBJETIVOS Os objetivos deste trabalho são: 1) caracterizar a deficiência do componente C1s do sistema complemento humano em quatro irmãos, sendo que dois apresentam lúpus eritematoso sistêmico; 2) determinar as bases moleculares responsáveis pela deficiência desta proteína por meio da análise genética do gene C1s dos pacientes e de seus familiares. 39 III. MATERIAIS E MÉTODOS III.1 Pacientes A paciente (IV-1) de 25 anos portadora da deficiência de C1s manifestou infecções de repetição tais como: pneumonia, artrites sépticas e sinusites e lúpus eritematoso sistêmico, diagnosticado aos 7 anos de idade. Esta paciente apresentou artrite, proteinúria maior que 0,5 g por dia, ANA positivo e anticorpos anti-Sm positivos, correspondendo a 4 dos critérios mencionados no Quadro 1, o que caracteriza como um caso de lúpus completo. Além disso, foram observados pelo grupo da Dra Virgínia Paes Leme Ferriani (FMRP-USP) depósitos de imunoglobulinas e anti-C1q em biópsias de pele e de rim, sugerindo mais uma vez a manifestação da doença. O irmão (IV-2) de 24 anos apresentou artrites e lesões na pele que indicaram o desenvolvimento da mesma doença. O diagnóstico foi feito aos 13 anos de idade e igualmente classificado como lúpus eritematoso sistêmico completo, pois o paciente também apresentou 4 (artrite, fotossensibilidade, ANA positivo e anti-Sm positivo) dos critérios para a classificação de lúpus, embora seus sintomas tenham sido menos grave que os da irmã IV-1. Os pais dos pacientes acima são primos de primeiro grau como mostra o heredrograma da Figura 10 e não apresentam sintomas relacionados ao desenvolvimento de lúpus. Possuem ainda outros dois filhos do sexo masculino, de 22 anos (IV-3) e de 12 anos (IV-4), assintomáticos até o presente momento. A deficiência da proteína C1s foi inicialmente detectada pelo soro dos pacientes IV-1 e IV2 pelo grupo da Dra. Virgínia Paes Leme Ferriani (FMRP – USP) e posteriormente observamos a mesma deficiência no soro dos outros irmãos (IV-3 e IV-4). 40 Para este estudo foram coletados 20 mL de sangue para extração de DNA e análise do soro e biópsias de pele para cultivo de cultura de fibroblastos dos membros da família (III-6, III-7, IV1, IV-2, IV-3 e IV-4) após autorização prévia dos mesmos e aprovação da Comissão de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do ICB (parecer 589). I 1 2 II 1 2 3 4 III 1 2 3 4 IV 5 6 1 2 7 8 3 4 9 10 Figura 10. Heredograma da família portadora de deficiência de C1s. Figuras preenchidas representam indivíduos afetados com LES. Figuras abertas representam indivíduos assintomáticos. Números romanos representam as gerações. Indivíduo do sexo masculino Indivíduo do sexo feminino Parentesco entre primos III.2. Análise da Atividade do Sistema Complemento Para verificar a atividade hemolítica mediada pela via alternativa do sistema complemento, empregamos o método de SERVAIS et al. (1991), quando comparamos os valores de AP50 que se referem ao volume de soro necessário para atingir 50 % de lise de hemácias de coelho. A avaliação foi realizada em placas de 96 poços com fundo em U, nos quais foram aplicados 100 µL de soro e 50 µL de suspensão de hemácias de coelho a 3 % em GVB-EGTA-Mg2+ [1 g de gelatina em 100 mL dissolvida tampão pH 7,2 contendo NaCl 144 mM; barbital sódico 1 mM, ácido 41 barbitúrico 2,5 mM; EGTA 10 mM (pH 7,4) e MgCl2 5 mM] e incubamos a placa por 1 h a 37 ºC. Em cada poço testou-se uma diluição (1:10; 1:15; 1:20; 1:30; 1:40; 1:60) do soro, a fim de construirmos uma curva com os valores de hemólise obtidos após leitura da absorbância (405 nm) e calculados pela seguinte equação (SERVAIS et al., 1991): Y= DO405nm amostra – DO405nm controle negativo DO405nm 100% lise – DO405nm 0% lise DO405nm é a densidade óptica medida a 405 nm. Após terem sido calculados todos os valores, a equação de Von Krogh (GÖTZE apud SERVAIS, 1991) foi aplicada para cada amostra de soro: Log x = 1 / n. log (y/1-y) + log K Onde x é a diluição do soro e y a porcentagem de lise. Para obter o valor de comparação entre as amostras, consideramos y=0,5, comparando-se desta forma o volume que cada amostra necessitou para atingir 50 % de lise dos eritrócitos (AP50). Como controle, utilizamos 100 µL de água destilada (100 % de lise), 100 µL de tampão para descontar a lise espontânea das hemácias (branco), e para todas as diluições de soro, fizemos um controle negativo, acrescentando 15 µL de EDTA pH 7,2 (0,2 M), para bloquear a ativação do complemento, permitindo descontarmos a absorbância do soro antes da ativação do complemento. Para todos os controles foram igualmente acrescentados 50 µL de hemácia a 3 %. Uma adaptação deste método foi utilizada para medir a atividade do complemento mediada pela via clássica (CH50). Neste caso, utilizamos o tampão complement fixation test dilution (CFD) pH 7,2, contendo barbital sódico 4mM, NaCl 145 mM, MgCl2 0,83 mM e CaCl2 0,25 mM. O ensaio também foi realizado em placas de 96 poços, nos quais adicionamos 100 µL de soro em diversas diluições (1:20; 1:40; 1:80; 1:160; 1:320; 1:640) e 50 µL de suspensão das hemácias de carneiro a 3 % complexadas com anti-eritrócitos de carneiro (1:100), previamente 43 incubados por 30 min a 4 ºC. A placa foi incubada a 37 ºC por 1 h e cálculos semelhantes aos da via alternativa foram utilizados. A atividade hemolítica mediada pela via das lectinas foi gentilmente avaliada pelo grupo do Dr. Jens Christian Jensenius do Departamento de Microbiologia e Imunologia Médica da Universidade de Aarhus, Dinamarca. Para tanto, utilizaram placas de 96-poços, cobertas com MBL e incubaram com soro dos pacientes, solução NaCl 1 M e 5 µg de C4 purificado. A alta concentração de NaCl inibiu a ligação de C1, permitindo a avaliação apenas da via das lectinas. Assim, a atividade da via das lectinas pôde ser avaliada pela deposição de fragmentos C4b (PETERSEN et al., 2001). Para verificar a presença de C2 no soro dos pacientes, misturamos volumes iguais de soro C2 deficiente (Merckbiosciences, San Diego, EUA) e com soro de cada indivíduo da família. O ensaio hemolítico foi feito e ao se constatar a presença de hemólise, consideramos os soros C2 suficientes. As hemácias utilizadas nos experimentos acima foram obtidas do Biotério Boa Vista (Patrocínio Paulista, SP, Brasil) e conservadas em Alsever a 4 ºC até o momento do ensaio. Os anti-eritrócitos de carneiro foram previamente produzidos em coelhos pelo nosso laboratório e armazenados (-20 ºC). III.3. Detecção de Proteínas Para detectar outras proteínas do sistema complemento no soro dos pacientes, utilizou-se o método de imunodifusão radial proposto por MANCINI et al. (1965). Lâminas de vidro (8 cm x 8 cm) foram revestidas com 6 mL de agarose a 1 % em solução salina tamponada com fosfato (PBS) contendo KH2PO4 5 mM, K2HPO4 1,2 mM e NaCl 150 mM: pH 7, adicionando 0,5 % de soro de cabra contendo anticorpos específicos contra a proteína a ser investigada (ou seja, anti-C3, -C4, fI, -fH, ou fator B; Merckbiosciences). As placas foram incubadas por 24-48 h em câmara úmida a 4 ºC e posteriormente lavadas com NaCl 150 mM por 24 h. Foram então secas e coradas com 43 Coomassie blue [ácido acético 10 %, EtOH 45 % e Brilliant Blue R (Sigma-Aldrich Co., St. Louis, MO, EUA) 1,2 mM]. Este ensaio foi realizado com a colaboração da técnica do laboratório Marlene Pereira de Carvalho Florido. Também foi utilizado o método de imunodifusão dupla para a detecção da deficiência de C1s nos soros da família. Lâminas de vidro foram revestidas por agarose 1 % em PBS e foram aplicados 7 µL de soro de cada paciente em poços adjacentes a poços com 7 µL de anticorpos anti-C1s (EMD Biosciences Inc., San Diego, CA, EUA), anti-C1r e anti-C1q (Serotec, Oxford, Reino Unido). As lâminas foram incubadas por 24 h a 4 ºC, lavadas em PBS por 24h e secadas a 37 ºC. Assim como na imunodifusão radial, foram coradas com Coomassie blue. Este ensaio foi realizado pelo grupo da Dra. Virgínia Paes Leme Ferriani (FMRP – USP) e por nós estendido aos outros membros da família. Para verificar a concentração de C1s e C1r no soro dos pacientes foi realizado o eletroimunoensaio (“rocket”) pelo grupo do Dr. Anders G. Sjölholm do Instituto de Laboratório de Medicina, Seção de Microbiologia, da Universidade de Lund, Sölvegatan, Suécia. As concentrações de MASP-2 e MBL foram feitas por enzyme-linked immunoassay (ELISA), realizados pelo grupo do Dr. Jens Christian Jensenius do Departamento de Microbiologia e Imunologia Médica da Universidade de Aarhus, Dinamarca. III.4. Análise por Western Blotting Para verificar a possibilidade de produtos truncados de C1s estarem presentes nos soros dos deficientes e nas culturas de fibroblastos empregamos Western Blotting. Amostras de soro (14 µl) foram aplicadas em gel contendo dodecil sulfato de sódio (SDS)-poliacrilamida (10%) submetido à eletroforese em condições não-redutoras. As proteínas foram transferidas para uma membrana de nitrocelulose em tampão Tris-HCl 15,6 mM e glicina 120 mM (pH 8,3), utilizando “Semi-Dry blotter” (Sigma-Aldrich), sob uma corrente de 0,8 mA/cm2 por 2 h. A membrana foi 44 então lavada com TBST [Tris 5 mM (pH 8,0), NaCl 75 mM e Tween 20 0,028%] e bloqueada com albumina de soro bovino (BSA) 1 % em TBST por 18 h. Após esta etapa, a membrana foi lavada 3 vezes com 25 mL de TBST, seguindo-se incubação com o anticorpo primário: anti-C1s ou anti-C1q humano (EMD Biosciences) feitos em cabra, anti-C1r humano (Serotec) feito em coelho, ou anti-β-actina humana (Sigma-Aldrich) feito em camundongo como controle (1:2000 em TBST) por 24h a 4 oC. Uma nova lavagem seguida por bloqueio foram feitos e foi empregado o segundo anticorpo anti-IgG (de cabra, coelho ou camundongo) conjugado com fosfatase alcalina diluído 1:10000 (EMD Biosciences). A última lavagem foi feita com TBST e tampão de revelação [NaCl 100 mM, Tris 100 mM (pH 9,5), MgCl2 5 mM]. Para a revelação, incubou-se a membrana com 10 mL de tampão de revelação, 10 µL de tetrazólio nitroazul (NBT) a 1 mg/mL em dimetilformamida 70% em EtOH e 10 µL de 5-bromo-4-cloro-3-indolil fosfato (BCIP) 0,25 mg/mL em dimetilformamida 100% (EMD Biosciences). A revelação foi interrompida após lavagem da membrana em água destilada. III.5. Cultura de Células Para se obter fibroblastos para extração de RNA, procedeu-se com a biópsia de pele (~3 mm2) dos indivíduos deficientes e indivíduos normais (controles), após consentimento informado e realizada por especialista. Em seguida, os fragmentos foram colocados em meio de cultura com 500 U/mL de penicilina G, 500 µg/mL de sulfato de estreptomicina e 25 µg/mL de anfotericina B por 30 min para descontaminação do material. Cortes de cada fragmento foram depositados em garrafas de cultura de 75 cm2 e cultivados em 15 mL de “Dulbbeco’s Modified Eagle’s Medium” (DMEM – Invitrogen Co., Carlsbad, CA, EUA) com glucose 4,5 mg/L L-glutamina 2 mM, piruvato de sódio 110 mg/L, sem bicarbonato de sódio e suplementado com penicilina 50 U/mL, estreptomicina 50 µg/mL, e 10% de soro bovino fetal (SBF) inativado a 56 oC por 30 min. As culturas foram mantidas a 37 oC sob 5 % de tensão de CO2. Após 3 a 5 semanas, os fibroblastos 45 começaram a se multiplicar e, ao atingirem mais de 80% de confluência, as células foram removidas com tripsina 0,1 % para repique, quando as células foram utilizadas no máximo até a ~10a passagem. Na terceira passagem, os fibroblastos foram congelados em solução de SBF contendo 10 % de dimetilsulfóxido. Células de hepatoma (HepG2), macrófagos e linfócitos T humanos foram cultivados em “Roswell Park Memorial Institute” (RPMI – Invitrogen) com Lglutamina 2 mM, sem bicarbonato de sódio suplementado com 10 % de SBF. III.6. Microscopia Confocal Para observar a presença de proteínas do complemento dentro das células, utilizou-se microscopia confocal (adaptado de FISHELSON et al., 1999). Para isto, empregamos placas de 6poços, adicionando-se 1 x 105 fibroblastos sobre lamínulas em cada um dos poços. Essas culturas foram mantidas em DMEM conforme mencionado anteriormente. Após atingirem 80 % de confluência, as células foram lavadas com PBS, e fixadas com 3,7 % formaldeído em PBS por 15 min. Em seguida, as células foram lavadas com glicina (0,1 M) em PBS e depois com somente PBS, para então serem permeabilizadas com 0,2 % Triton X-100 em PBS por 2 min e novamente lavadas com 2 X com PBS contendo 10 % SBF (PBS-SBF). Após esta etapa, as células foram incubadas por 10 min com PBS-SBF e após retirar o sobrenadante, foram incubadas com anticorpos anti-C1s, anti-C1q (EMD Biosciences) ou anti-C1r (Serotec) diluídos a 1:200 em glicina (0,1 M) em PBS por 16h a 4 oC. As células então foram lavadas 3 X com PBS-SBF e bloqueadas com soro normal de coelho, diluído a 1:200 em PBS-SBF por 30 min à temperatura ambiente. Em seguida, incubamos as células com anticorpos anti-IgG (anticorpos secundários) conjugados com isotiocianato de fluorosceína (Sigma-Aldrich) por 1 h à temperatura ambiente no escuro. Lavamos a preparação 5 X com PBS-SBF e incubamos com RNAse (10 mg/ml) em PBS por 30 min à temperatura ambiente no escuro. Após 2 lavagens com PBS-SBF e 3 com PBS, as lamínulas foram incubadas com iodeto de propídio (10 mg/ml) por 30 min à temperatura ambiente no escuro para evidenciar a presença do núcleo. Por fim, as lâminas foram montadas com Gel 46 Mount Vectashield (Vectors Laboratories, Burlingame, CA, EUA) em lâminas de microscopia e armazenadas a –20 ºC por 24 h no escuro. Os resultados foram interpretados após análise realizada empregando-se microscópio confocal de varredura a laser (LSM 50 - Zeiss) com a colaboração da pós-graduanda Maria Isabel Mesquita Vendramini do nosso laboratório, o gentil auxílio do técnico Roberto Cabado Modia Junior, da Profa. Dra. Gláucia Maria Machado-Santelli do Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. III.7. Extração de RNA total A extração de RNA total foi feita com o kit RNAgents Total RNA Isolation System Scalable (Promega Co., Madison, WI, EUA) a partir de uma garrafa contendo aproximadamente 2 x 107 células. Neste procedimento as células foram lavadas com PBS e lisadas em 300 µL de solução de desnaturação [citrato de sódio pH 6,8 (26 mM), N-lauril sarcosina 0,5%; βmercaptoetanol (0,125 M) e tiocianato de guanidina (4 M)]. O lisado celular foi transferido para tubos de 1,5 mL nos quais foram adicionados 30 µL de NaOAc 2 M e 300 µl solução de fenol:clorofórmio:álcool isoamílico em iguais proporções. Os tubos foram mantidos a 4 oC por 15 min e centrifugados a 12.000 g por 20 min a 4 oC. Adicionou-se isopropanol em igual volume à fase aquosa e os tubos foram mantidos a -20 oC por 24 h para precipitação do RNA. O conteúdo foi novamente centrifugado (12.000 g por 10 min a 4 ºC) e o precipitado lavado em EtOH 75% gelado ou conservado a –20 oC até o uso. O sobrenadante contendo EtOH 75% foi retirado e o precipitado foi solubilizado com 10 µL de H2O. A concentração de RNA foi determinada por densidade óptica a 260/280 nm, considerando-se 1 D.O.= 40 µg/mL de RNA no GeneQuant pro (GE Healthcare UK Ltd., Little Chalfont, Reino Unido). 48 III.8. Reverse Transcriptase – Polymerase Chain Reaction (RT-PCR) A RT-PCR foi realizada para avaliarmos a expressão de RNAm de C1s do indivíduo deficiente e de seus familiares em comparação com indivíduos normais. Foram sintetizados cDNAs a partir do RNA total dos fibroblastos dos pacientes e de indivíduos normais controle. Utilizou-se para isso, a transcriptase reversa M-MLV (Invitrogen) depois de incubar 1 µl de 200 ng de RNA com 1 µl de 500 mM de oligo dT a 72 °C por 5 min e transferência imediata para o gelo. Após adicionarmos tampão M-MLV, 0.4 mM de dNTP; 34 U de inibidor de RNAse e 1.4 U de M-MLV no volume final de 25 µl, incubou-se a reação a 42 °C por 60 min. Para a PCR, utilizou-se 1 µl da reação contendo cDNA; Tampão Taq DNA polymerase; 200 µM de dNTPs; 20 pmoles/µl de cada primer (Quadro 3) e 2,5 U Taq DNA polymerase (GE) no volume final de 25 µl. Para amplificar os produtos de cDNAs, as reações foram incubadas a 94 °C por 2 min, 40 ciclos de 95 °C por 1 min, 55 °C por 1 min, 72 °C por 1 min e 5 min a 72 °C. A análise dos produtos foi feita após eletroforese em gel de agarose a 1 % em TBE (Tris-HCl 100 mM, ácido bórico 100 mM e EDTA 2 mM pH 8,0) seguida por coloração de brometo de etídio 1 µg/mL. Como controle técnico, a expressão de gliceraldeído-3-fosfato dehidrogenase (GAPDH), constitutivamente expressada por todas as células foi avaliada em todas as amostras. Para verificar a integridade o RNA total dos pacientes, realizamos a eletroforese do mesmo em agarose 1% com coloração de brometo de etídio nas mesmas condições anteriormente. Para análise de produtos de baixa expressão marcamos o DNA com prata utilizando o kit PlusOne DNA Silver Staining (GE). Para este procedimento fizemos uma eletroforese em gel de acrilamida 4,5 % em TBE, incubamos com a solução fixadora em EtOH 24 % por 30 min, marcamos com a solução de prata por 30 min, lavamos o gel com água por 1 min, incubamos com a solução reveladora por 6 min e paramos a reação com a solução de preservação por 30min. 49 III.9. PCR Para analisar o DNA genômico dos pacientes, foi extraído DNA de leucócitos do sangue dos pacientes pelo grupo da Dra. Virgínia Paes Leme Ferriani (FMRP – USP). Utilizamos a PCR, na qual eram adicionados 100 ng de DNA, tampão Taq DNA polymerase (fornecido pelo fabricante); 1,5 mM de MgCl2; 200 µM de dNTPs; 50 ng dos primers (Quadro 7) e 1,25 U Taq DNA polymerase (Invitrogen) no volume final de 50 µl. As reações foram incubadas em 40 ciclos de 95 oC por 1 min, 50 oC por 1 min e 75 oC por 30s, e 5 min a 72 °C. Os produtos foram novamente analisados após migração eletroforética em gel de agarose a 1 %, seguida por coloração com brometo de etídio. Quadro 7. Seqüência dos primers utilizados na RT-PCR, PCR e no seqüenciamento. Primer Posição no cDNA Seqüência (5’ 3’) Temperatura de anelamento (ºC) Sentido C1s C1s C1s C1s C1s C1s C1s C1s C1s C1s C1s C1s C1s GEN* C1s GEN* C1s GEN* C1s GEN* C1r C1r C1r C1r GAPDH GAPDH 121 273 538 562 751 882 1043 1347 1491 2082 2340 2702 7023641 7023869 7023951 7026581 21 1107 1170 2380 29 347 CAG GAG AGA GGG AAC TGA C AGA AAG CCA GGA CCA AGA AG TGC ACT GAG TCA TAC GCA CA TCT TCA GTG TCT CCT GAG ATT CTT GTA GCC ACT TCT GCA AC CCC CAA TCA GTG CAG TGA AT AAC TAA ACT GTC AAG GCA GT TGT CAA AGC AAT GGA AAG TG GCT CCT CAC AAG TGT AGC G AGG TTA CCT GTA GCT CCT T CAT AGT TCT TTA CCC GTG TG CAG GTA AAG AGG AAA CAA AG CCT GGG CAA CAT AAG GAG GGC TTC AGA CAA GAG CCC T GAA GAA GAG AGG CAG TCA A CTG AGA GAA GGA ATC ATA GA AGA GCC CAG GAT TCA ACA C TTC CTT CAC AGC TGT CTG C GAT CTT GCA TCT GGG CAT G CCT CTG CAA TCC TCA GAA G ACC ACA TGC CAT GCC ATC AC TCC ACC ACC CTG TTG CTG TA 56 60 60 60 55 55 56 52 56 54 54 52 52 60 52 56 54 54 54 54 55 55 F F R R F R R F R F R R F R R F F F R R F R Fonte: As seqüências dos primers estão numeradas de acordo com a posição dos nucleotídeos no cDNA de C1s (Gene bank: NM_201442), C1r (Gene bank: NM_001733; JOURNET E T OSI, 1986) e do gene de C1s (Gene bank: NT_009759). F – direto; R – reverso * primer desenhado em íntron; seqüência e numeração genômica do C1s. 50 III.10. Seqüenciamento Os produtos de RT-PCR e PCR dos pacientes foram seqüenciados para identificação da presença de possíveis mutações, potencialmente responsáveis pela deficiência da proteína no paciente. Inicialmente purificamos o produto de RT-PCR ou PCR do gel de agarose 1 % utilizando o kit GFX PCR DNA and Gel Band Purification (GE). Inicialmente dissolvemos o gel a 60 ºC no tampão de captura por 15 min. Em seguida passamos a amostra por uma coluna contendo uma matriz de fibra de vidro para a captura do DNA. A mesma foi lavada com tampão contendo TrisHCl 10 mM, pH 8,0 e EDTA 1 mM em EtOH 80 % para a remoção de sais e para a secagem da matriz. Por fim, o DNA foi eluído da matriz com tampão TE (Tris-HCl 10 mM, pH 8,0 e EDTA 1 mM). As reações de seqüenciamento foram realizadas no volume final de 20 µL contendo 300 ng de DNA purificado; 3,2 pmoles dos oligonucleotídeos específicos; 6 µL de tampão (Tris-HCL 200mM, pH 9,0 e MgCl2 5mM) e 2 µL de enzima para seqüenciamento ("ABI PRISM BygDye Terminator Cycle Sequencing Ready Reaction with AmpliTaq DNA – Applied Biosystems, Foster City, CA, EUA). Foi utilizado o termociclador GeneAmp 9600 (Perkin-Elmer Applied Biosystems) em 40 ciclos de 10 s a 96 oC, 5 s a 50 oC e 4 min a 60 oC. Os produtos foram precipitados com isopropanol 75% e centrifugados por 5 min. O precipitado solubilizado em 10 µl da solução de formamida Hi-Di (Applied Biosystems) e a leitura da absorbância dos cloróforos e o cromatograma foram feitas pelo seqüenciador automático (ABI Prism 3100 – Genetic Analyzer) sob responsabilidade da técnica Luci Deise Navarro nas dependências do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, com a colaboração do Prof. Dr. Shaker Chuck Farah. As seqüências foram analisadas em nosso laboratório pelo programa Chromas 1.62/2.21 e comparadas com as seqüências depositadas no banco de dados GeneBank (www.ncbi.nlm.nih.gov/blast). 51 IV. RESULTADOS IV.1. Deficiência de C1s A paciente (IV-1) de 25 anos apresentou repetidas infecções como pneumonia, artrites sépticas e sinusites, e manifestou sintomas que caracterizam um quadro de LES completo. Devido à alta freqüência de infecções e o desenvolvimento da doença auto-imune o grupo da Dra. Virgínia Paes Leme Ferriani (FMRP – USP) analisou a presença de algumas proteínas do complemento e observaram a deficiência de C1s por imunodifusão dupla feita com o soro dos pacientes e anticorpos anti-C1s. Mas, utilizando anticorpos anti-C1r e anti-C1q observou-se a presença tanto de C1r quanto de C1q no soro dos pacientes (Figura 11). O irmão (IV-2), de 24 anos, também desenvolveu LES e a mesma deficiência de C1s observada neste paciente. Igual determinação foi por nós realizada com o soro dos outros 2 irmãos (IV-3 e IV-4) e dos pais. Neste caso, observou-se a ausência de C1s no soro de todos os filhos, mas presença no soro dos pais (dado não mostrado). IV-2 aC1s IV-2 aC1r SHN aC1q SHN IV-1 IV-1 aC1s aC1r aC1q SHN SHN Figura 11. Deficiência da proteína C1s. Ausência da proteína C1s no soro dos pacientes IV-1 e IV-2 analisada por imunodifusão dupla. SHN – soro humano normal utilizado como controle positivo. 51 A atividade do complemento mediada pelas vias clássica e alternativa foi determinada por ensaios hemolíticos, onde calculamos o número de unidades CH50 e AP50 no soro destes indivíduos. A via das lectinas foi avaliada através da deposição de C4b, ao se bloquear a ativação da via clássica. Os ensaios foram realizados em duplicatas e foram consideradas as médias dos valores obtidos de cada indivíduo. Como esperado, todos os soros apresentaram atividade mediada pela via alternativa e pela via das lectinas, enquanto apenas os soros dos pais e do controle apresentaram atividade mediada pela via clássica (Tabela 1). Os pacientes IV-1 a IV-5 não apresentaram atividade pela via clássica, confirmando a deficiência de proteínas exclusivas desta via, como é o caso de C1s. No entanto, os mesmos apresentam valores de atividade das outras vias que tendem a ser acima do normal, principalmente a paciente IV-1 e o irmão IV-4 que apresentam atividade da via alternativa 47 e 39 U/ml respectivamente, enquanto o intervalo de normalidade é de 8 a 34 U/ml. O pai e os outros irmãos (IV-2 e -3) encontram-se no limiar máximo do intervalo (34 U/ml) desta via e a mãe apresenta uma atividade dentro do intervalo de normalidade (29 U/ml). A referência de normalidade considerada na via das lectinas baseou-se na dosagem prévia de soro humano normal usado como padrão comercial (cat no. 4912 e A100, Quidel Co., San Diego, CA, EUA). Podemos observar que os valores obtidos no soro da família tendem novamente atividade maior que o normal. No que diz respeito ao soro da mãe, tanto a via alternativa quanto a via das lectinas, estavam presentes em valores menores que os encontrados nos soros dos outros membros da família. 53 Tabela 1. Avaliação da atividade funcional da via clássica, alternativa e das lectinas no soro. PACIENTES IV-1 IV-2 IV-3 IV-4 Pai Mãe Controle ATIVIDADE HEMOLÍTICA Via Clássica Via Alternativa Via das Lectinas* CH50 U/ml AP50 U/ml Unidades de mU/ml ND ND ND ND 146 126 115-267a 47 34 34 39 34 29 8-34a 1336 1455 1596 1954 1236 725 497-1087b ND : não detectável a Intervalos de normalidade obtidos a partir da dosagem no soro de 57 indivíduos. b O controle da via das lectinas refere-se à dosagem de dois soros padrão (Quidel). * Realizado pelo grupo do Dr. Jens C. Jensenius do Departamento de Microbiologia e Imunologia Médica da Universidade de Aarhus, Dinamarca IV.2. Deficiência de C1s Combinada com a Deficiência de C1r Em muitos pacientes deficientes de C1s observa-se ausência completa ou níveis inferiores de C1r no soro. Como o método de imunodifusão dupla não é sensível o suficiente, o eletroimunoensaio foi empregado para medir a concentração de C1r e C1s no soro dos pacientes (Tabela 2). Observamos que os quatro filhos apresentam concentração de C1s praticamente nula (< 2,1 mg/L) e concentração de C1r (27 a 36 %) bem abaixo do normal. Já os pais, apresentaram concentrações um pouco abaixo do normal tanto para C1r quanto para C1s (~70 a 75 %). Este resultado confirma a deficiência de C1s nos pacientes e uma baixa produção de C1r pelos mesmos, o que sugere um caso de deficiência de C1s combinada com a deficiência de C1r. 52 Tabela 2. Determinação por eletroimunoensaio da concentração das proteínas C1r e C1s no soro dos pacientes*. PACIENTES IV-1 IV-2 IV-3 IV-4 Pai Mãe Normal C1r (%) 36 30 29 27 72 70 71-133 C1r (µg/mL) 17,2 14,4 14 13 34,6 33,6 48 C1s (%) < 6,25 < 6,25 < 6,25 < 6,25 73 75 76-136 C1s (µg/mL) < 2,1 < 2,1 < 2,1 < 2,1 24,8 25,5 34 % - porcentagem com relação ao soro normal. * Realizado pelo grupo do Dr. Anders G. Sjölholm do Instituto de Laboratório de Medicina, Seção de Microbiologia, da Universidade de Lund, Suécia. Também foi analisada a concentração de outras proteínas do complemento (C3, C4, fH, fI e fB) por imunodifusão radial; de C2 por ensaio hemolítico e de MASP-2 e MBL por ELISA no soro dos membros da família (Tabela 3). Foram observados níveis comparáveis ao controle em todos os casos, exceto a proteína C4 que estava em concentração mais elevada no soro dos pacientes e do pai (871-1149 µg/ml) comparados com o normal (Tabela 3), e a proteína C3 que também estava em concentrações acima do intervalo de normalidade em todos os membros da família exceto o paciente IV-3 (Tabela 3). 54 TABELA 3. Determinação da concentração de proteínas do complemento por imunodifusão radial e ELISA. Concentração de Proteínas Pacientes C3 µg/ml C4 µg/ml C2 IV-1 1834 1149 IV-2 1921 1007 IV-3 1261 871 IV-4 1888 911 Pai 1712 1061 Mãe 1534 430 Controle 1000-1500 240 - 660 + + + + + + + fH µg/mL 597 435 393 406 414 435 242 - 759 fI µg/mL 57 61 43 39 41 40 39-100 fB MASP2* µg/mL ng/mL 250 454 269 300 175 246 251 216 153 331 223 284 74-286 218-481 Fonte: Valores baseados em BARNETT et al., 1984, YTTING et al., 2005; e MORLEY 2000. MBL* µg/mL 4,6 6,8 5,2 5,6 6,5 9,3 0-5 E WALPORT, + : presente no soro e com atividade hemolítica. IV.3. Western Blotting Utilizamos a técnica de Western blotting para verificar a possível presença de produtos truncados de C1s, pois este método é mais sensível que a imunodifusão dupla, e além de detectar a presença de proteínas, podemos observar os tamanhos das proteínas utilizando como referência um marcador de peso molecular. A presença de produtos truncados indica a presença de códons de parada prematura no RNAm de C1s. A presença de alterações no tamanho de C1s seria sugestivo de deleções/inserções no gene C1s, ou ainda, degradação protéica acelerada de C1s no citoplasma de fibroblastos dos pacientes deficientes. Analisamos o soro dos membros da família e sobrenadantes das culturas de fibroblastos de dois dos irmãos deficientes de C1s. C1s não foi detectado no soro dos quatro irmãos (IV-1 a -4), enquanto no soro dos pais foi encontrado C1s de tamanho molecular semelhante ao controle (Figura 11a). A proteína C1s foi utilizada como controle positivo, porém seu tamanho é distinto da proteína encontrada no soro dos indivíduos normais, pois a proteína purificada encontra-se na forma ativada (migra mais rapidamente) 56 enquanto as outras não. O mesmo resultado foi observado, quando analisamos C1s no sobrenadante de cultura de fibroblastos dos pacientes, quando, em contraste com a forte banda observada na cultura de fibroblastos (20 dias) de indivíduo normal, não apresentaram qualquer banda, indicando a ausência da proteína (Figura 11b). A proteína C1r foi encontrada nos soros de todos os indivíduos da família, assim como no controle (Figura 11c), embora a banda observada nos pacientes IV-1 a IV-4 estivesse sutilmente mais fraca, o que sugere uma menor concentração da proteína, em acordo com os resultados apresentados anteriormente. O mesmo foi observado no sobrenadante da cultura de fibroblastos dos pacientes (dado não mostrado). Utilizamos o anticorpo anti-β-actina como controle constitutivo, mostrando uma paridade de concentrações protéicas nas amostras. a) SHN pai mãe IV-1 IV-2 IV-3 IV-4 C1s C1s 85kDa b) SHN SN IV-1 IV-2 C1s 85kDa c) SHN pai mãe IV-1 IV-2 IV-3 IV-4 C1r 85kDa SHN pai mãe IV-1 IV-2 IV-3 IV-4 d) β-actina Figura 12. Investigação da presença de C1s e C1r por Western Blotting. a) C1s no soro da família e do controle (SHN-soro humano normal). A proteína C1s purificada encontra-se na última coluna, na forma ativada. b) C1s no sobrenadante de cultura de fibroblastos dos pacientes IV-1 e IV-2 e do indivíduo normal (SN). c) C1r presente no soro de todos os membros da família e do controle. d) Presença de β-actina como controle positivo. 56 IV.4. Microscopia confocal O emprego da microscopia confocal permite a observação de proteínas/ polipeptídeos dentro das células, empregando-se anticorpos específicos conjugados com moléculas fluorescentes (em verde). Para melhor distinção do núcleo (em vermelho), optamos pelo uso de iodeto de propídeo. Conforme ilustrado na Figura 13, há forte marcação fluorescente de epítopos de C1s no citoplasma do controle, mas ausente em fibroblastos dos pacientes deficientes IV-1 e IV-2, apontando a existência de defeitos já na síntese protéica de C1s. Esta metodologia foi aplicada com as células dos pacientes IV-3 e IV-4 e apresentaram os mesmos resultados que os outros irmãos (dado não mostrado). 58 Controle negativo C1s a b c d e f Normal IV-1 Figura 13. Presença de C1s em fibroblastos observados por microscopia confocal. a, c e e) Controle negativo, células marcadas somente com iodeto de propídio , sem anticorpo primário (vermelho). b, d e f) Células marcadas com anti-C1s (verde). a e b) células de indivíduo normal. c e d) células do paciente IV-1. e e f) células do paciente IV-2. IV-2 Para verificar se o mesmo não estaria acontecendo com a proteína C1r, além de anti-C1s, também marcamos as células dos pacientes e de indivíduos normais com anti-C1r e anti-C1q (Figura 14) e pudemos observar diferença de marcação somente com o anti-C1s. Para todos os casos foram utilizados controles negativos não marcados com anticorpos primários específicos. Os resultados obtidos apontam a possibilidade desta deficiência estar relacionada a um defeito na síntese da proteína C1s. No caso da proteína C1r, observamos que esta é sintetizada por fibroblastos do paciente. Porém, como não é um método quantitativo, não podemos dizer se está em menores concentrações que o controle. Este ensaio foi repetido 3 vezes com células de indivíduo normal e dos pacientes IV-1 e IV-2 marcados com anticorpos anti-C1s e apenas umas vez para a marcação com C1r. 59 Paciente IV-2 Normal a b c d e f Controle negativo Figura 14. Análise de C1s e C1r em fibroblastos por microscopia confocal. Coluna da esquerda - células de indivíduo normal. Coluna da direita - células do paciente IV-2. a e b) Controle negativo: sem o anticorpo primário (iodeto de propídiovermelho). c e d) células marcadas com anti-C1s (verde). e e f) células marcadas com anti-C1r (verde). C1s C1r 60 IV.5. Expressão de RNAm de C1s em Células de Indivíduos Normais Uma vez confirmada a ausência de C1s no soro e em culturas de fibroblastos dos pacientes deficientes (IV-1 a 4), decidimos investigar as bases moleculares que pudessem justificar esta deficiência. Nossa primeira abordagem foi amplificar por RT-PCR regiões do cDNA de C1s dos pacientes e compará-las com o controle. Observamos que a amplificação da região 121-882 gerava dois produtos, mesmo em indivíduos normais. Seria isto uma particularidade de C1s expressado em fibroblastos? Para abordar esta questão, amplificamos esta mesma região a partir de RNAm de C1s de fibroblastos, macrófagos e HepG2. Conforme mostrado na Figura 15, os dois transcritos são observados nas células acima e não em linfócito T (controle negativo). (121-882) 100pb C Fib Mφ HepG2 LT 800pb 700pb Figura 15. Expressão de dois transcritos de RNAm do C1s. RNAm de diferentes tipos celulares foram utilizados: fibroblastos (Fib); macrófagos (Mφ); células de hepatoma (HepG2) e linfócitos (LT). O controle (C) foi feito sem adição de cDNA e o marcador 100bp ladder foi utilizado como referência de tamanho. Os números acima da figura correspondem à região amplificada do cDNA de C1s (121-882). Ao seqüenciarmos os produtos dessas duas bandas, observamos uma diferença de 87 pb no final do éxon 1 (Figura 16). As seqüências dos dois produtos correspondem às referências depositadas na biblioteca genômica GeneBank denominadas como transcrito variante 1 (NM_01734), descrito por TOSI et al. (1987) e MACKINNON et al. (1987) e transcrito variante 2 (NM_201442), depositado sem uma referência publicada, mas baseado no clone MGC: 65134 – IMAGE: 6199186 (GeneBank BC056903) e na seqüência homóloga (expression sequence tag – 60 EST) depositada por SUZUKI et al. em 2001 (AU100335). Essa diferença de 87 pb encontra-se antes do códon (ATG) de início de tradução da proteína C1s, o que sugere que não haja diferença no tamanho da proteína traduzida tanto por um quanto pelo outro transcrito. 100pb C Fib Mφ HepG2 RNAm de C1s 1 61 121 181 241 301 AATCTT ATGAACAGAA CCAGGACAGG GAGGCTGGCC GGAGGTTCCT GCAGAGGGAG CGTCAAGGCC CTGTGCTGCT GTCCCTGGGG GCCAGAGGGG TTGCCCAGCA TGCCCACTGG CAGGAGAGAG GGAACTGACC CACTTGCTCC TACCAGCTTC TGAAGGTGAC ACTGAGCCCC AGGTGACGCC GCACCACCAA AGAAGGTGCT TGTGTTTGTC AGACAAATAC AGCCAGGCCT GCCACCCCTT AGGCTCCAAA GTCCGGAGGT GCAGAAAGCC AGGACCAAGA GACAGGCAGC TCACCAGGGT GGACAAATCG CCAGAGATGT GGTGCATTGT CCTGTTTTCA CTTTTGGCAT 1 61 121 181 241 AATCTT ATGAACAGAA CCAGGACAGG GAGGCTGGCC GGAGGTTCCT GCAGAGGGAG CGTCAAGGCC CTGTGCTGCT GTCCCTGGGG GCCAGAGGGG TTGCCCAGCA TGCCCACTGG CAGGAGAGAG GGAACTGACC CACTTGCTCC TACCAGCTTC TGAAGGCTCC AAAGTCCGGA GGTGCAGAAA GCCAGGACCA AGAGACAGGC AGCTCACCAG GGTGGACAAA TCGCCAGAGA TGTGGTGCAT TGTCCTGTTT TCACTTTTGG CAT Transcrito 2 Transcrito 1 Figura 16. Diferença de nucleotídeos dos dois transcritos de C1s humano. Numeração baseada na seqüência do cDNA de C1s do transcrito 2 (NM_201442). A seqüência em amarelo representa a região de 87 pb ausente no transcrito 1. Os 5 primeiros nucleotídeos de cada éxon estão em negrito e o códon de início de tradução (ATG) está representado em azul. IV.6. Expressão de RNAm de C1s e C1r dos pacientes Para caracterizar a deficiência genética, amplificamos os RNAms de C1s e C1r por RTPCR a partir de fibroblastos dos pacientes e controle normal. Para amplificar todo o cDNA foram necessários dois pares de primers (Quadro 7 e Figura 17), tanto para C1s quanto para C1r. Considerando que há uma diferença de transcritos de RNAm de C1s e essa diferença esteja localizada no éxon 1, optamos por amplificar o início do cDNA de C1s a partir de um primer desenhado no éxon 2, antes do códon de início de tradução da proteína (ATG), a fim de facilitar a 62 visualização dos produto, gerando apenas uma banda ao amplificar o cDNA do C1s em indivíduos normais. Ao analisarmos o RNAm dos pacientes (IV-1 a 4), observamos a presença de duas bandas, com uma diferença de aproximadamente 200 pb, enquanto o RNAm dos pais e de indivíduo normal apresentaram somente uma banda como esperado (Figura 17a). A expressão e tamanho dos produtos amplificados de C1r por fibroblastos de todos os membros da família não foram diferentes do controle normal (Figura 17b). GAPDH foi utilizado como controle técnico (Figura 17c) e o RNA total de cada membro da família foi avaliado pela sua integridade, através da observação dos RNAs ribossômicos 18S e 28S, e nenhum sinal de degradação de RNAs foi encontrado (Figura 17d). Isto corroborou para a validade da existência do segundo produto observado no RNA de C1s dos pacientes (IV-1 a 4). Esses resultados foram reproduzidos por no mínimo três vezes. 63 (121-1491) a) 100bp N pai mãe IV-1 IV-2 IV-3 IV-4 1,4kb C1s 1,2kb (1347-2702) N pai mãe IV-1 IV-2 IV-3 IV-4 C1s 1.4kb (21-1170) b) N pai mãe IV-1 IV-2 IV-3 IV-4 C1r 1.1kb (1107-2380) N pai mãe IV-1 IV-2 IV-3 IV-4 C1r 1.3kb d) N pai mãe IV-1 IV-2 IV-3 IV-4 GAPDH c) N pai mãe IV-1 IV-2 IV-3 IV-4 28S 18S RNA Figura 17. Expressão do RNAm de C1r e C1s analisado por RT-PCR. a) Amplificação do cDNA de C1s. b) Amplificação do cDNA de C1r. c) Análise da expressão do GAPDH como controle positivo. d) Integridade do RNA total: observação do RNA ribossômico 18S e 28S. N- individuo normal; IV-1 a 4 pacientes deficientes de C1s. Os números indicados acima dos produtos de RT-PCR representam os primers utilizados para amplificar os produtos abaixo dos mesmos. O marcador 100bp ladder foi utilizado como referência de tamanho. As setas à esquerda indicam o tamanho do estimado do produto (a e b). 63 IV.7. Seqüenciamento A diferença de tamanho dos produtos de amplificação de RNAm dos pacientes em relação ao controle foi confirmada após seqüenciamento do cDNA de C1s, quando constatamos uma deleção de 208 pb no RNAm de C1s dos pacientes. Esta deleção do cDNA é coincidente em tamanho e posição (332-539) com o éxon 3 do C1s (Figura 18). a) gene C1s 1 b) A 2 T G 3 T 4 G A T 5 A A 6 T 7 8 9 10 11 12 C pai mãe IV-1 IV-2 IV-3 IV-4 Figura 18. Seqüenciamento do cDNA do C1s da paciente IV-1. a) Estrutura genômica do C1s de indivíduo normal. Blocos coloridos representam os éxons e a linha entre eles os íntrons. b) Seqüência do menor produto de RT-PCR do C1s do paciente. A seqüência não contém o éxon 3. O códon de início de tradução (ATG) está circulado em azul. O códon ATG que codifica para metionina, primeiro resíduo de C1s, encontra-se no éxon 2 na posição 327 do cDNA (Figura 19). A síntese da proteína é então estendida pela tradução dos códons seguintes, até que seja encontrado um códon de parada (TGA, TAG ou TAA), que sinaliza o final do polipeptídeo. A deleção do éxon 3 encontrada no RNAm dos pacientes muda o quadro de leitura dos códons gerando um códon de parada prematura na posição 330 do 65 cDNA, logo após a seqüência de início de síntese de proteína (Figura 19), o que explicaria, pelo menos em parte, o fato deste RNAm não ser responsável pela tradução de uma proteína funcional e estável. éxon 2 éxon 3 A T G T G G T G C A A T G T G A T A A éxon 2 T T C Seqüência do cDNA de C1s normal Seqüência do cDNA de C1s dos pacientes (IV-1 a 4) éxon 4 Figura 19. Seqüência do cDNA do C1s de indivíduo normal (superior) e do paciente (inferior), que não apresenta o éxon 3. As elipses azuis representam a seqüência sinalizadora de início de tradução. A elipse rosa representa um códon de parada. Para verificar se o éxon 3 estaria ausente no DNA genômico dos pacientes, realizamos a PCR com o DNA genômico dos pais, dos 4 pacientes e de um indivíduo normal (Figura 20). Observamos que todos os produtos apresentaram tamanhos semelhantes, indicando que o éxon 3 está ausente somente no RNAm dos pacientes, mas presente no gene C1s, implicando assim, uma falha no splicing do éxon 3. Também seqüenciamos o íntron anterior (íntron 2) e o posterior (íntron 3) ao éxon 3 da paciente IV-1 e não observamos nenhuma alteração (dado não mostrado) com relação à seqüência depositada no GeneBank (Homo sapiens 36.2 – NT_009759). (273-562) N pai mãe IV-1 IV-2 IV-3 IV-4 Figura 20. Presença do éxon 3 de C1s no DNA genômico dos pacientes. N- DNA de indivíduo normal; IV-1 a 4 pacientes deficientes de C1s. Os números acima da figura indicam os primers utilizados para a reação, sendo adotada a posição dos primers no cDNA do C1s. 66 Também seqüenciamos o produto de maior tamanho (1,4 kb), quando observamos a substituição de C G no cDNA de C1s dos quatro irmãos (IV-1 a 4), localizado no éxon 6 938 (Figura 21). Esta substituição é responsável pela geração de um códon de parada prematura na posição 938 do cDNA de C1s, interrompendo a síntese da proteína neste ponto. a) gene C1s 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 b) 938 G A A T A G C A G A T pai mãe IV-1 IV-2 IV-3 IV-4 Figura 21. Seqüenciamento do cDNA do C1s da paciente IV-1. a) Estrutura genômica do C1s de indivíduo normal. Blocos coloridos representam os éxons e a linha entre eles os íntrons. b) Seqüência do maior produto de RT-PCR do C1s do paciente. No retângulo preto, a guanina (G) foi substituída por uma cisteína (C). Ao seqüenciarmos a região do éxon 6 no DNA genômico de todos os membros da família, observamos que os pais apresentavam um padrão heterozigoto, sendo um dos alelos um C, como o controle normal e outro um G, como a mutação dos filhos (Figura 22). Os resultados foram obtidos através do seqüenciamento de C1s no sentido direto (F) e no reverso (R) e nenhum polimorfismo foi ainda descrito na literatura para esta posição de nucleotídeo. 67 Normal a) G T A A T Mãe c) G A Paciente IV-1 938 A C C A G b) A T A C/G A A T Pai 938 A G C A G A T d) G T 938 A G C A G A T 938 A A T A C/G C A G A Figura 22. Substituição de CG na posição 938 do cDNA nos pacientes. Seqüência da região 933-943 do éxon 6 de (a) indivíduo normal; (b) paciente IV-1, homozigoto para a substituição de CG; (c) mãe e (d) pai, heterozigotos (C/G) na posição 938. Também seqüenciamos os produtos de RT-PCR dos pacientes que correspondem ao final do cDNA do C1s (1347-2702) observados anteriormente na Figura 17a. Esta região não apresentou qualquer diferença com relação à seqüência depositada no banco de dados – GeneBank - (dado não mostrado) tanto para o transcrito 1 (NM_01734), quanto para o transcrito 2 68 (NM_201442), indicando que a deficiência genética deve ser dependente de mutações encontradas na porção inicial do cDNA. Como há uma menor concentração sérica de C1r nos pacientes IV-1 a 4, seqüênciamos o cDNA do C1r da paciente IV-1 e nenhuma mutação foi observada, exceto por uma substituição de T 504 C localizada no éxon 4. Esta substituição gera uma serina (TCA) no lugar de uma leucina (TTA), no entanto, é uma mutação já descrita como polimorfismo (GeneBank rs1801046). IV.8. Produção de Diversos Transcritos de C1s Para tentar explicar a falha no splicing que exclui o éxon 3 e gera um RNAm de 208 pb menor que o normal, empregamos prata para corar o gel de acrilamida 4,5 %, e observar os produtos de RT-PCR do C1s dos membros da família com melhor resolução. Uma de nossas hipóteses era que os pais estivessem produzindo o RNAm com problema de splicing como os filhos, mas em quantidades bem menores, e a alta concentração do transcrito de tamanho normal estaria seqüestrando os reagentes na hora da reação de amplificação e, portanto, amplificando uma banda muito mais forte. Através deste ensaio observamos um produto nos pais e no controle normal que poderia corresponder ao RNAm menor observado nos pacientes (Figura 23). (273-1043) M N pai mãe IV-1 IV-2 IV-3 IV-4 831pb 564pb Figura 23. Expressão de um transcrito menor de C1s em indivíduos normais. Produtos de RT-PCR marcados com prata. M- marcador λ-Hind III- EcoRI; N- indivíduo normal; IV-1 a 4 - pacientes C1s deficientes. Foram aplicados 3 µl de produto de reação de RTPCR dos pais e do indivíduo normal e 5 µl dos pacientes (IV-1 a 4). Este resultado é representativo de 3 experimentos. 69 Curiosamente, observamos a produção de outros transcritos (Figura 24) que não eram observados na coloração por brometo de etídio. Estes transcritos aparentemente não são inespecíficos, pois são constantes nos 4 pacientes e a reação foi feita simultaneamente com a reação dos pais e do normal, que por sua vez não apresentam todos os produtos, o que exclui um problema de temperatura de anelamento. Este resultado repetiu-se pelo menos 2 vezes. A região amplificada gera produtos de tamanho maior (1.2 e 1.4 kb), diferente da Figura 23, e, portanto, a segunda não se encontra visível, pois a banda menor (1.2 kb) acaba sendo mascarada pela forte marcação da banda maior (1.4 kb). (273-1491) M N pai mãe IV-1 IV-2 IV-3 IV-4 2027pb 1904pb 1584pb 1375pb 947pb 831pb 564pb Figura 24. Expressão de diversos transcritos de RNAm nos pacientes IV-1 a 4. M – marcador λ-Hind III- EcoRI. Expressão de C1s N - indivíduo normal; IV-1 a 4 – pacientes. Foram aplicados 5 µl de produto de reação de RT-PCR de cada indivíduo. Este reultado é um representativo de 7 experimentos. 70 V. DISCUSSÃO As deficiências de proteínas da via clássica do complemento estão associadas a maior suscetibilidade a infecções bacterianas e ao desenvolvimento de doenças auto-imunes, como LES. Os casos de deficiência de C1s e C1r são raros e geralmente a deficiência de uma delas é acompanhada pela diminuição da concentração sérica da outra. Em apenas 3 dos 15 casos descritos foram analisadas as bases moleculares da deficiência (INOUE et al., 1998; ENDO et al., DRAGON-DUREY et al., 2001). Em nosso estudo, descrevemos o primeiro caso brasileiro da deficiência de C1s combinada com a deficiência de C1r, sendo todos os filhos (IV-1 a 4), de pais consangüíneos, afetados pela deficiência de C1r e C1s e dois deles (IV-1 e 2) desenvolveram LES. A paciente IV-1 manifestou repetidas infecções como episódios de artrite séptica, pneumonia e sinusite, além de proteinúria e LES. O irmão IV-2 apresentou artrite, fotossensibilidade e LES. Essas características combinam com o quadro clínico apresentado por outros pacientes C1r/C1s deficientes já descritos na literatura, embora haja muita variação entre eles. Em geral, apresentam repetidas infecções, além de desenvolverem glomerulonefrites e LES (PICKERING et al., 2000). No entanto, há casos assintomáticos (LEE et al., 1978) em acordo com o observado com os pacientes IV-3 e IV-4. Por apresentarem um quadro clínico tão heterogêneo, é difícil saber se o baixo número de casos descritos (15 casos) não está relacionado à essa heterogeneidade, já que em alguns deles os sintomas são tão fortes que levam à morte dos pacientes de poucos anos de idade (MONCADA et al., 1972; ENDO et al., 1999), ou em outros casos são assintomáticos. Com este estudo são 11 de 19 casos (58 %) de deficiência de C1r/C1s associada a LES. No entanto, os mecanismos que levam ao desenvolvimento da doença em decorrência da deficiência de proteínas do complemento permanecem incertos. Atualmente, há três hipóteses não excludentes que predominam nas discussões desse tema: deposição de imunocomplexos, remoção de células apoptóticas e tolerância de linfócitos B (NAVRATIL et al., 1999; W ALPORT, 2002; CARROLL, 71 2004). Embora tenha sido demonstrado o papel do complemento da remoção e solubilização de imunocomplexos (FUJITA et al., 1977; MEDOF et al., 1983) e que animais C1q-/deficientes apresentam glomerulonefrite exacerbada (Robson et al., 2001), não se pode excluir a contribuição importante da via alternativa e a via das lectinas que se encontram, na maioria dos casos, com atividade normal. Logo, é de se esperar que fragmentos como C3b sejam formados, podendo atuar na remoção e solubilização de imunocomplexos. Além disso, pacientes deficientes de complemento e portadores de LES, não apresentam necessariamente maior deposição de imunocomplexos que outros pacientes com LES. A hipótese do clareamento de restos apoptóticos associa o complemento à remoção e apresentação de auto-antígenos, uma vez que C1q liga-se a restos apoptóticos (KORB E AHEARN, 1977). Ainda nessa direção, outros trabalhos mostraram que C4 e C3 também participavam da remoção de restos apoptóticos, desta forma, na ausência destas proteínas os restos apoptóticos não seriam removidos eficientemente e, portanto, uma maior concentração de auto-antígenos estaria disponível para ser reconhecida por linfócitos B autorreativos. Por fim, a hipótese que o complemento influenciaria a tolerância de linfócitos B complementa a anterior, pois segundo ela, C4b atuaria na seleção negativa de linfócitos B autorreativos, ao potenciar o sinal de reconhecimento do antígeno, e na periferia, C4b ligado ao CR1 atuaria como co-receptores para sinalização de ativação de linfócitos B. Essas hipóteses explicam parcialmente a relação da deficiência de algumas proteínas do complemento com o desenvolvimento de LES, porém, em nenhum trabalho observou-se o papel das proteínas C1r e C1s dentro deste contexto. A explicação mais plausível seria que como C1s cliva C4 em C4a e C4b, e o último participa tanto da remoção de restos apoptóticos e da apresentação de antígenos na seleção negativa de linfócitos B auto-reativos. Assim, na ausência de C1s, menos C4 seria clivado, diminuindo a remoção de restos apoptóticos e, portanto, uma maior possibilidade destes restos seriam reconhecidos por auto-antígenos. Além disso, sem o C4b, a 72 apresentação de auto-antígenos para linfócitos B na seleção negativa teria um sinal menos intenso contra auto-antígenos e com isso, linfócitos B autorreativos escapariam para a periferia. Inicialmente o grupo da Dra. Virgínia Paes Leme Ferriani (FMRP – USP) observou a deficiência de C1s nos pacientes (IV-1 a 4) por imunodifusão dupla, e por este mesmo ensaio detectaram a presença de outras proteínas da via clássica do complemento, como C1r e C1q. Através de ensaios funcionais das vias clássica, alternativa e das lectinas, confirmamos a deficiência de proteínas exclusivas da via clássica, uma vez que não foi detectada a atividade do complemento mediada por esta via no soro dos pacientes (IV-1 a 4), enquanto pelas outras vias isto foi observado. Este resultado já era esperado, uma vez que os pacientes são deficientes de C1s e parcialmente de C1r, e até o momento, não há nenhum caso descrito de deficiência de C1s/C1r associada a proteínas de outras vias do complemento. No entanto, curiosamente observamos uma atividade acima do normal de outras vias no soro dos pacientes e do pai. Esta maior ativação deve estar relacionada à maior concentração de outras proteínas do complemento (C4 e MBL) observados no soro dos mesmos. Uma possível explicação para este aumento de concentração de outras proteínas do complemento seria a baixa ou ausente ativação da via clássica que resultaria em consumo menor de proteínas. Outros casos na literatura também relatam deficiências de subcomponentes do complexo C1 (C1q, C1r e C1s) que apresentam com freqüência concentrações mais elevadas de C4 (PICKERING et al., 1970; MONCADA et al., 1972; LEE et al., 1978; GARTY et al., 1987; ELLISON et al, 1987, INOUE et al, 1998; CHEVAILLER et al., 1994; DRAGON-DUREY et al., 2001) e inibidor de C1 (PONDMAN et al., 1968; P ICKERING et al., 1970; ELLISON et al, 1987; S UZUKI et al., 1992; CHEVAILLER et al., 1994; DRAGON -DUREY et al., 2001) e com menor freqüência, de C3, C5 (MONCADA et al., 1972; LEE et al., 1978; CHEVAILLER et al., 1994) e componentes da via terminal (C6, C7, C8 e C9) com concentrações mais elevadas que o normal (MONCADA et al., 1972; LEE et al., 1978), embora nenhum destes trabalhos tenha investigado a atividade das vias das lectinas e alternativa nesses indivíduos. Contudo, não sabemos se essas 73 alterações afetam os pacientes de alguma forma, pois os ensaios funcionais foram realizados in vitro, e a alta concentração de outras proteínas do complemento pode não ter conseqüências fisiológicas relevante. A alta concentração de tais proteínas também nos levou a especular sobre o papel da via das lectinas nesses pacientes, pois em vários casos observamos o aumento da concentração de C4, assim como em nossos pacientes. Embora outros estudos não tenham analisado a atividade da via das lectinas, observamos que ela estava presente e funcional no soro de nossos pacientes deficientes, e mesmo assim eles (IV-1 e 2) apresentaram várias infecções. Desta forma, o que seria responsável por este acúmulo de C4? Pode ser que haja um mecanismo de compensação e, portanto, na ausência da atividade da via clássica, a produção de C4 aumente para que a via das lectinas possa ser mais ativada. Ou a via das lectinas não tenha uma atividade tão expressiva quanto a via clássica, uma vez que na ausência desta, a via das lectinas não chega a consumir significantemente as proteínas comuns de ambas as vias. A deficiência de C1s no soro dos quatro irmãos foi confirmada por Western blotting com o soro dos pacientes e o sobrenandante de cultura de células dos mesmos. Além disso, pela microscopia confocal, não detectamos C1s no citoplasma dos fibroblastos dos pacientes, indicando que a deficiência de C1s ocorre pela ausência de síntese da proteína e não por falha na sua secreção. Para confirmar a deficiência, ainda dosamos a concentração de C1s por imunoeletroforese, e os resultados obtidos mostraram que a concentração da proteína no soro dos quatro irmãos era praticamente nula (< 6 %). Estes resultados caracterizam a deficiência de C1s nos pacientes. Como alguns trabalhos descrevem casos de deficiência de C1s associada à baixa concentração sérica de C1r (PONDMAN et al., 1968; SUZUKI et al., 1992) e a deficiência de C1r associada à baixa concentração de C1s (PICKERING et al., 1970; MONCADA et al., 1972; LEE et al., 1978; RICH et al., 1979; G ARTY et al., 1987; ELLISON et al., 1987; C HEVAILLER et al., 1994), fomos averiguar a presença de C1r no soro e células dos pacientes. Embora pela imunodifusão dupla tenhamos observado a presença da proteína C1r no soro dos quatro irmãos e dos pais (dado 74 não mostrado) e a presença da proteína no citoplasma tenha ficado evidente pela microscopia confocal, quando utilizamos um método mais sensível (eletroimunoensaio), verificamos que a concentração sérica de C1r no soro dos pais estava ~30 % abaixo do normal, e nos pacientes, a concentração era ~70 % abaixo do normal. Estes resultados corroboram com os outros trabalhos em que ocorre a deficiência combinada de C1r e C1s, e portanto, descaracterizando como uma deficiência seletiva de C1s. Além de baixa concentração de C1r, os pais também apresentaram níveis mais baixos de C1s (~30% abaixo do normal), enquanto nos filhos C1s estava praticamente ausente. Visto que a deficiência dos pacientes era de C1s e parcialmente de C1r, centramos a investigação nessas duas proteínas. A produção de C1r e C1s por fibroblastos foi demonstrada por R EID E S OLOMON (1977), e B USBY et al. (2000), e confirmada em nossos resultados pelos fibroblastos de indivíduos normais, enquanto nos pacientes, apenas a produção de C1r foi detectada, como observado por Western blotting e microscopia confocal. Embora tenhamos notado a marcação indicando presença de C1r e C1s no núcleo dos fibroblastos, acreditamos que este resultado provavelmente seja apenas um artefato técnico, mesmo porque, essas proteínas não possuem seqüências de aminoácidos (aa) previstas em proteínas de localização nuclear presentes no núcleo (verificado pelo programa psort – www.psort.org). Além de fibroblastos, C1r e C1s são produzidos por outros tipos celulares como macrófagos (MU L L E R et al., 1978), monócitos (CHEVAILLER et al., 1994) e condrócitos (NAKAGAWA et al., 1997). Curiosamente, a produção de C1s por condrócitos aumenta conforme a diferenciação do mesmo (NAKAGAWA et al., 1997). Este fato pode estar associado a uma das funções de C1s não associadas ao complemento, que é a degradação de colágeno tipo I, II e gelatina (YAMAGUCHI et al., 1990), já que condrócitos são células que participam da formação da cartilagem, a qual por sua vez é composta por colágeno. Além disso, a relação de C1s com condrócitos e colágeno, pode estar associada à participação de C1s na degeneração da cartilagem 75 de pacientes com artrite reumatóide, na qual a inibição de C1s e C1r diminui o desenvolvimento da doença (NAKAGAWA et al., 1999). Em camundongos, os genes de C1s e C1r encontram-se duplicados e expressam diferentes isoformas no fígado e no sistema reprodutivo masculino, demonstrando a presença de produtos genômicos alternativos para as mesmas proteínas, mas com possíveis funções diferentes, uma vez que a principal diferença entre as isoformas localiza-se na região serino-proteolítica, sugestivo de proteólise de substratos diferentes (GARNIER et al., 2003). Essas diversas funções de C1s e C1r despertam o nosso interesse sobre aspectos desta regulação e expressão gênica, provavelmente implicados com os resultados observados nesta família. Para analisarmos as bases moleculares da deficiência combinada de C1s e C1r, investigamos a expressão de RNAm de ambos em células de indivíduos normais e dos pacientes. Inicialmente observamos em indivíduos normais a presença de dois transcritos de RNAm de C1s em diferentes tipos celulares (macrófagos, fibroblastos e células de hepatoma) por RT-PCR com uma diferença de 87 pb na região 166-252 do cDNA (NM_201442). A confirmação desta diferença pelo seqüenciamento de nucleotídeos mostrou que o transcrito menor correspondia à seqüência depositada no GeneBank como transcrito variante 1 de C1s (NM_01734) e o maior ao transcrito variante 2 (NM_201442). Embora TOSI et al. (1987) tenha demonstrado a existência de pelo menos 3 transcritos de RNAm de C1s por Northern blot e estimado seus tamanhos (3,2; 3,1 e 2,9 kb), estes autores não apontaram em quais regiões do gene C1s ocorreriam essas diferenças. As seqüências depositadas no GeneBank (www.ncbi.nlm.nih.gov) correspondem à seqüência descrita por Tosi et al. (1987) e Mackinnon et al. (1998), sendo esta o transcrito variante 1 (NM_01734), e à seqüência não descrita na literatura, mas baseada no clone MGC:65134 (GeneBank BC056903) e na EST depositada por Suzuki et al.(2001), no caso do transcrito variante 2. Desta forma, acreditamos que esses dois transcritos correspondam àqueles descritos por Tosi et al. (1987) com os tamanhos estimados de 3,1 e 3,2 kb, os quais na verdade teriam uma 76 diferença de 87 pb e não de 100 pb como estimado. Como esta diferença ocorre na região 5´ antes do códon de sinalização para o início da tradução da proteína C1s, e não na extremidade 3´ como Tosi et al. (1987) sugeriu, nenhuma alteração deve ocorrer na estrutura e tamanho da proteína. A análise do RNAm de C1s extraído dos fibroblastos dos pacientes, mostrou que a deficiência de C1s poderia estar relacionada, pelo menos em parte, pela ausência de 208 pb (332539), uma vez que ao amplificarmos o RNAm dos pacientes (IV-1 a 4) foi observado um produto de menor tamanho (1,2 kb) além do produto observado em indivíduos normais (1,4 kb). No entanto, esta diferença de 208 pb não foi observada no DNA genômico dos pacientes, quando realizamos a PCR da região em questão, excluindo a possibilidade desta deleção estar presente em um dos alelos. Além disso, ao seqüenciarmos essa mesma região no cDNA dos pacientes, notamos que os 208 pb correspondiam exatamente ao éxon 3, indicando um possível defeito no splicing do C1s. Sendo assim, seqüênciamos o íntron anterior e o posterior ao éxon 3, e o próprio éxon 3, mas não constatamos a presença de qualquer mutação que pudesse causar este defeito no splicing. De qualquer forma, verificamos que a ausência do éxon 3 ocorre logo após o ATG (posição 327 no cDNA), onde a proteína começa a ser traduzida e, portanto, esperaríamos observar produtos truncados da proteína, porém, estes não foram observados. Isto pode ser explicado pela mudança no quadro de leitura do RNAm que gera um códon de parada prematuro na posição 330 do cDNA (TGA), logo após o primeiro ATG codificante, resultando na ausência de síntese da proteína. No entanto, os pacientes também produzem RNAm do tamanho semelhante ao normal (3,2 kb), e esperar-se-ia que pelo menos um pouco de C1s fosse produzido pelos pacientes. Porém, ao seqüenciarmos o produto amplificado deste RNAm, encontramos uma substituição deC 938 G no éxon 6 nos pacientes IV-1 a 4, gerando um códon de parada prematuro. Esta mutação também foi observada no transcrito de RNAm que não apresenta o éxon 3, reforçando a idéia de que a deleção 77 do éxon 3 é causada por um erro no splicing e que a mutação de C 938 G presente no DNA genômico dos pacientes (IV-1 a 4) explica a deficiência da proteína C1s. Segundo BEELMAN E PARKER (1995), RNAms contendo códons nonsense são degradados por um processo de vigilância do RNA para evitar a produção e acúmulo de proteínas truncadas. Essa mesma mutação foi observada no C1s materno e paterno, compatível com um padrão de heterozigose, o que explica a produção de C1s pelos mesmos, e confirma o padrão de herença como autossômico recessivo. Até o momento, há apenas 3 casos de estudos moleculares da deficiência de C1r/C1s: O primeiro caso descrito (SUZUKI et al., 1992; INOUE et al., 1998) referia-se a um indivíduo do sexo masculino de origem japonesa de 26 anos que apresentava LES e glomerulonefrite crônica, e era homozigoto para uma deleção de 4 pb no éxon 10 nos nucleotídeos 1087-1090 (TTTG), criando um códon de parada prematura (TGA) após a mutação. O segundo caso era um menino, também japonês, que apresentou síndrome hemofagocítica associada a vírus aos 4 anos, chegou ao hospital com febre e ataques convulsivos, perda de consciência aos 6 anos e morte aos 7 anos. A mesma deleção de 4 pb foi identificada no éxon 10 (Inoue et al., 1998) e uma nova mutação nonsense de G para T foi detectada no códon 608 no éxon 12, representando um caso de heterozigose (ENDO et al., 1999). O terceiro caso era uma garota de 2 anos de idade com múltiplos sintomas de autoimunidade, sendo homozigota para a substituição de C para T no éxon 12, gerando um códon de parada prematura (TGA) no códon 534 (DRAGON-DUREY et al., 2001). Nós também seqüenciamos a região do cDNA do éxon 8 ao 12 (dado não mostrado) e nenhuma mutação foi observada, indicando um caso diferente daqueles anteriormente descritos, onde as mutações encontradas localizavam-se nos éxons 10 e 12. A substituição C 938 G no éxon 6 explica a deficiência e o padrão de herança da mesma nesta família, porém, não explica o defeito no splicing do éxon 3 dos pacientes. Para tentar explicar este fenômeno, levantamos a hipótese de que talvez essa falha no splicing ocorresse 78 também em indivíduos normais, mas em menor quantidade, e a alta produção do RNAm normal (sem o defeito no splicing) poderia predominar na amplificação pelo método de RT-PCR omitindo assim a presença deste outro produto, enquanto a baixa produção de RNAm dos pacientes devido ao códon de parada prematura no éxon 6 (posição 938 do cDNA de C1s), permitiria a visualização deste produto pelo mesmo método. Para testar esta hipótese, utilizamos a marcação (mais sensível) com prata para os mesmos produtos de RT-PCR e com isso foi possível observar a banda correspondente ao RNAm que perde o éxon 3. Portanto, o RNAm com defeito no splicing está presente em células de indivíduos normais também e possivelmente corresponde ao transcrito de RNAm mostrado por Tosi et al. (1987) de tamanho estimado 2,9 kb, já que a diferença deste produto para o transcrito estimado em 3,1 kb é de 200 pb, e a diferença da perda do éxon 3 é de 208 pb. Ainda não existe uma seqüência no GeneBank que corresponda a este terceiro transcrito, provavelmente ilustrada aqui pela primeira vez na literatura. Além disso, também observamos outras bandas no produto de RT-PCR dos pacientes que podem ser produtos inespecíficos ou outros transcritos de RNAm de C1s produzidos em menor quantidade e que provavelmente não são traduzidos ou rapidamente degradados, já que não se conhece outras formas da proteína C1s. Embora LEYTUS et al. (1986) tenha demonstrado heterogeneidade de tamanho nos RNAm de C1r, sendo esta diferença na região não codificadora da extremidade 3´ e apresentando múltiplos sinais de poliadenilação, não encontramos diferença de tamanho ao amplificarmos o RNAm de C1r. Talvez essa diferença não tenha sido observada devido à posição dos primers utilizados em nossos ensaios. De qualquer forma, ainda é intrigante a baixa concentração de C1r no soro dos pacientes, já que aparentemente, a expressão de RNAm de C1r não é menor que o normal e pelo seqüenciamento dos nucleotídeos não observamos qualquer mutação, exceto uma mutação causadora de um polimorfismo já descrito. E considerando os trabalhos de deficiência dessas duas 79 proteínas que mostram que a deficiência de uma é em geral associada à diminuição da outra, torna-se questionável o mecanismo de expressão das duas. Seriam essas duas proteínas dependentes de um único mecanismo de tradução ou somente a proximidade dos genes, com distância de apenas 9,5 kb (KUSUMOTO et al., 1988) das mesmas acaba afetando a síntese da outra, quando uma é deficiente? Embora saibamos que para cada gene de organismos eucariotos haja um promotor específico, e alguns trabalhos mostrem evidências de que C1s e C1r sejam produtos de genes diferentes (KUSUMOTO et al., 1988; TOSI et al., 1989), não podemos afirmar que sejam traduzidos de maneira independente. A deficiência combinada das proteínas sugere que haja um mecanismo comum na síntese das mesmas. No entanto, alguns trabalhos mostram a regulação da expressão de C1r e C1s por estímulos pró-inflamatórios como dexametasona que estimula a produção de C1r (MORALEZ et al., 2003), mas não têm efeito sobre C1s, ou IFN-γ que estimula C1s e não tem efeito sobre C1r (CHEVAILLER et al., 1994), sugerindo exatamente o oposto. Desta forma, várias questões sobre as funções de C1r e C1s, e o mecanismo de expressão dessas proteínas ficam em aberto. No entanto, podemos afirmar que os pacientes estudados neste trabalho possuem baixos níveis de C1r e não sintetizam C1s, sendo esta deficiência causada por uma substituição C 938 G no éxon 6 do C1s. 80 VI. CONCLUSÕES No presente trabalho, nós confirmamos a presença de 3 transcritos de RNAm de C1s em células de indivíduos normais e identificamos as regiões do cDNA que esses se diferenciam: região 166-242 ausente no transcrito de 3,1 kb; e o éxon 3 ausente no transcrito de 2,9 kb. A ausência do éxon 3 é ocorre por uma falha no splicing e gera um códon de parda prematura na posição 330 do cDNA de C1s. Além disso, os resultados apresentados representam o primeiro caso brasileiro da deficiência da proteína C1s combinada com a deficiência de C1r, associada ao desenvolvimento da doença autoimune LES. Sendo a causa da deficiência uma substituição de C 938 G no éxon 6 de do C1s dos pacientes (IV-1 a 4) responsável pelo aparecimento de um códon de parada prematura. A homozigose para a mutação presente nos filhos e a heterozigose nos pais confirmam ser este o caso de herança autossômica recessiva. 80 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Ahearn JM, Fischer MB, Croix D, Goerg S, Ma M, Xia J, Zhou X, Howard RG, Rothstein TL, Carroll MC. Disruption of the Cr2 locus results in a reduction in B-1a cells and in an impaired B cell response to T-dependent antigen.Immunity. v. 4, n.3, Mar, p. 251-62. 1996 Aksamit, R. R., Falk, W., Leonard, E. J. Chemotaxis by mouse macrophage cell lines. J Immunol, v.126, n.6, Jun, p.2194-9. 1981. Ambrus, G., Gal, P., Kojima, M., Szilagyi, K., Balczer, J., Antal, J., Graf, L., Laich, A., Moffatt, B. E., Schwaeble, W., Sim, R. B., Zavodszky, P. Natural substrates and inhibitors of mannan-binding lectin-associated serine protease-1 and -2: a study on recombinant catalytic fragments. J Immunol, v.170, n.3, Feb 1, p.1374-82. 2003. Arlaud, G. J., Gaboriaud, C., Thielens, N. M., Budayova-Spano, M., Rossi, V. FontecillaCamps, J. C. 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