10. PAULA, MULHER DO AMOR INCONDICIONAL Descemos, depois, ao POÇO DE SANTO ONOFRE, lugar da radicalidade do amor, onde se dá de beber ao inimigo… ACOLHER INCONDICIONALMENTE… “Os franceses tinham cortado a canalização da água para a cidade, e um dia apresentaram-se na nossa portaria dois garibaldinos ofegantes, pedindo que lhes déssemos de beber. A Madre Fundadora ordenou que imediatamente lhes dessem vinho, mas eles disseram: «Por caridade, dêem-nos água, que morremos de sede». Tiraram então do poço um baldezinho de água fresca e apresentaram-no àqueles pobres jovens, que não pararam enquanto lhe não viram o fundo. Depois, correram ao quartel a levar aos companheiros e aos seus superiores a alegre notícia da água encontrada. Esta notícia alegrou todo o quartel, e um dos Comandantes, apresentando-se imediatamente no Conservatório, mandou chamar a Superiora; e, apenas a viu, disse-lhe com sentimentos de viva gratidão: «Sei que, com tanta bondade, mandou dar de beber a dois dos meus soldados, mas há muitos outros que morrem de sede! …». A Madre Fundadora, sem esperar novo pedido, respondeu: «Nós só temos um poço, mas, enquanto houver água para nós, haverá também para vós». E a algumas Irmãs ali presentes mandou que imediatamente fossem tirar a água. «Oh, isso não – continuou o Comandante – nunca permitirei que as Irmãs se cansem por causa de nós. Mandarei os soldados tirar a água». «Senhor – disse a Madre Fundadora –, o poço está na cozinha… as cozinheiras são jovens…». «Não tenha receio algum – respondeu o Capitão –, as Irmãs serão respeitadas por todos» (Memórias, Cap. VI). A. A experiência de Santa Paula No livro das Memórias e nas Cartas, podemos ver a natureza e o requinte do amor vivido por Santa Paula em todas as situações como Mãe, Educadora, Religiosa fiel ao Seu Senhor. O seu amor por Jesus é verdadeiramente INCONDICIONAL. Ela chega a afirmar: “O meu Jesus Cristo sabe que comigo não se engana: fizemos os nossos pactos há muitos anos, e por isso pode fazer o que quiser de mim e das coisas que me pertencem, que tem sempre o meu consentimento” (C. 620,4). O mesmo é dizer: O Senhor pode contar comigo, sempre… Podemos considerar algumas palavras e situações: ”Dividida entre a voz de Deus e os mais fortes afectos de família, não desanimou e, firme no propósito de querer a todo o custo corresponder ao chamamento divino, começou a preparar-se seriamente para a vida religiosa”. “Ajudando a preparar a viagem das primeiras Irmãs para o Brasil e sendo tão forte o seu amor a esta missão, exclamou: “Oh, se eu pudesse meter-me nesses sacos e ir também para o Brasil!…”». ”A nossa afectuosa Madre Fundadora sentia despedaçar-se-lhe o coração. Era a primeira vez que mandava para tão longe as suas religiosas… O pensamento, porém, de que Deus, por cujo amor se tinha separado delas, as havia de proteger dava-lhe forças”. “Recomendando-lhe de novo a união, a paz e a caridade, mesmo à custa de sacrifícios”. “Sei que tem um coração grande e generoso; que tem amor a Deus, ao nosso Instituto; que tem grande empenho pela glória de Deus e pela salvação das almas. Conheço que pode fazer um bem imenso”. B. Textos para reflexão Dos Evangelhos “ … Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o encheu-se de piedade. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele (Lc 10, 33-34). “… Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. Fazendo assim, tornar-vos-eis filhos do vosso Pai que está no Céu … . Porque, se amais os que vos amam, que recompensa haveis de ter?” (Mt 5,44-46). Das cartas de S. Paulo “… Fazei-vos servos uns dos outros pela caridade (…) Amarás o próximo como a ti mesmo” (Gal. 5, 13-15). “… Não devais a ninguém coisa alguma a não ser o amor mútuo” (Rom. 13, 8). “A respeito da caridade fraterna, não é necessário escrever-vos, porquanto vós mesmos aprendestes de Deus a amar-vos uns aos outros” (1 Tes. 4, 9). “Mais que tudo, deixa que o amor oriente a tua vida” (Col. 3,14). Do Papa Bento XVI Na mensagem para a Quaresma de 2007, Bento XVI afirma que «na verdade, só o amor no qual se une o dom gratuito de si mesmo e o desejo apaixonado de reciprocidade infunde uma alegria tão intensa que converte em leves inclusive os sacrifícios mais duros», e que «a resposta que o Senhor deseja ardentemente de nós é, antes de tudo, que aceitemos o seu amor e nos deixemos atrair por Ele». O Papa diz que «aceitar o seu amor, contudo, não é suficiente. É preciso corresponder a esse amor e depois comprometer-se a comunicá-lo aos outros: Cristo “me atrai para si” para unir-se a mim, para que eu aprenda a amar os irmãos com o seu próprio amor». De autores contemporâneos “Somos chamado a sentir o abraço de Deus como irmãos e irmãs no Senhor. O poeta francês Charles Péguy escreveu: Não tentes chegar a Deus sozinho. Se o fizeres, Ele far-te-á certamente uma pergunta embaraçosa: onde estão os teus irmãos e irmãs? Por outras palavras, o convite ao reino é feito a todos nós em conjunto. Só posso dizer “sim” a Deus se disser “sim” aos meus irmãos e irmãs. É um único “sim” aquele que abraça o meu Deus e a minha família humana, todos no mesmo acto de amor” (John Powell, sj, Amor incondicional – amor sem limites, Paulinas Lisboa, 1996, p. 43). “No entender de Jesus, amar a Deus é uma resposta grata e alegre ao amor incondicional de Deus. É uma resposta espontânea à experiência de Deus como Pai cheio de amor e carinho (…) Poderíamos dizer (…) que se Deus ama todos os nossos próximos de forma incondicional, também nós devemos amá-los. No entanto, precisamos de ter muita força de vontade para fazê-lo (…). A chave para chegarmos a amar o próximo de forma genuína e espontânea deve ser procurada nas palavras ‘como a ti mesmo’” (Albert Nolan, Jesus hoje – uma espiritualidade de liberdade radical – Paulinas, Lisboa, 2008, pp. 216-217). C. Para preparar a peregrinação… Em grupo (ou pessoalmente) podemos (posso) ler os textos, sublinhar o que mais nos (me) interpela e reflectir/dialogar sobre: O que diz o exemplo de Paula, mulher solidária com os ‘inimigos’, junto ao poço à nossa/minha maneira de tratar as diferenças… O que significa “amar incondicionalmente” no tempo e nas circunstâncias que vivemos… Como assumimos a influência do testemunho de solidariedade que nos deixou Paula Frassinetti… D. Do Poço de Santo Onofre, levamos (levo) … Tendo em conta toda a reflexão feita, escrever num bilhetepostal o mais importante que o grupo (ou a pessoa) leva desta paragem com Santa Paula, junto ao POÇO DE SANTO ONOFRE, para a peregrinação da vida que vamos continuar… Enviar o postal pelo correio para: Doroteias-ano-jubilar Rua do Lindo Vale, 464 – 4200-370 Porto ou Al. das Linhas de Torres, 2 – 1750- 146 Lisboa