Acompanhamento Terapêutico: na encruzilhada da formação em psicologia
voltada para a saúde pública.
XI Salão de
Iniciação
Científica
PUCRS
João Pedro Cé1, Rodrigo de Oliveira Machado2, Adolfo Pizzinato1 (orientador)
1
Faculdade de Psicologia, PUCRS, 2
Resumo
Introdução
O presente relato relata as experiências de estudantes de psicologia em serviços públicos de
saúde mental de Porto Alegre, especificamente no que podem ser chamadas de “práticas
psicológicas” que caracterizam o espaço de Acompanhamento Terapêutico (AT). O
acompanhante terapêutico pode ser definido de várias formas, pois suas funções são
diferenciadas quando comparadas as abordagens terapêuticas já que ainda não há formulação
regulamentada por lei. Apesar de existirem discussões sobre a temática desde a década de
1960, e a primeira publicação no ano de 1970 o primeiro livro lançado no Brasil sobre a
temática surgiu apenas em 1991.
A modalidade terapêutica do AT, surge em um contexto ainda anterior ao da reforma
psiquiátrica, na década de 1960 - que tem como marco inicial a figura do Psiquiatra italiano
Franco Basaglia e sua intervenção no Hospital de Gorizia e as forças que fazem emergir o
acompanhamento terapêutico são diversas. Segundo Silva (2005) já na década de 1940 com a
criação dos hospitais-dia e na década de 1950 com o advento da psicofarmacologia temos o
surgimento de uma pessoa, ou uma prática que tende a recolocar a “loucura” em contato com
o mundo externo. Esta reinserção está balizada pelo tratamento farmacológico e por um
acompanhamento de ordem emocional, originalmente na figura do “auxiliar psiquiátrico”,
com as funções específicas de controlar a medicação do paciente e vigiar sua conduta, o que
Ibrahim (1991) expõe como uma forma de fazer o AT que carregava na sua essência aquele
tipo de pensamento e de realização do cuidado do doente mental, através do controle da
loucura.
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Porém a partir do movimento organizado por Basaglia e outras frentes, surge propriamente o
que se identifica hoje como AT (SILVA, 2005). Assim essa construção, nos leva a embasar o
trabalho na ideia de que acompanhar de forma terapêutica constitui-se em uma ação
terapêutica catalizadora das interfaces entre o sujeito e seu entorno (A CASA, 1991), porém
deve-se levar em consideração que as fluências discursivas inscritas em um contexto social
ampliado agem sobre novas formas de conceber o AT (PELLICIOLI, 2004).
Metodologia
O Trabalho é um relato de experiência no qual as discussões sobre as vivências
partiram dos registros das atividades em diário de campo, seguindo um modelo etnográfico.
Nesse diários de campo figuram não apenas as sistematizações das atividades desenvolvidas,
como as reflexões, avaliações planejamentos das experiências individuais, grupais e
domiciliares do AT na saúde pública, desenvolvidas junto a um serviço de saúde mental
municipal de Porto Alegre
Resultados
Apontamos que o AT começa a ser incorpordao pela euqipe de saúde mental, já que
pacientes são encaminhados com freqüência mensal e aqueles casso que antes não possuiam
atendimento passam a ter pelo menos o olhar preocupado da equipe
Podemos questionar nossas próprias práticas e perceber a importância de ampliarmos
nossa visão para outras práticas que não aquelas aprendidas na academia. Proporcionando
uma ampliação da visão de planos terapêuticos, muito dos benefícios são para nossa formação
tanto quanto para o serviço de saúde.
Conclusão
A rua como constituinte do AT, tem um potencial de subjetivação tão importante quanto um
psicoterapeuta (Silva, 2005). A
integralidade
identificada
como
processo
além
dos
procedimentos de extinção dos sintomas (Alves, 2005) junta-se no processo de estabelecer a
promoção da saúde ajudando na tessitura ambiental e social mais próxima ao sujeito, sua
família (Brasil, 1999).
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Neste sentido, o enfrentamento das amarras das internações incita um processo de cidadania,
daquela pessoa que enfrenta os poderes simbólicos dentro de si, pois coloca-se em um local
novo, permeável à partir do AT como instrumento que catalizando as redes sociais luta no
desmanche da instituição internalizada, com uma informalidade típica do cotidiano.
Tem-se dessa forma a oportunidade de descontruir posições sociais que mantemos através do
sistema de símbolos estruturados e estruturantes do conhecimento (Bordieu, 2007), já que
muitas vezes os saberes psi, agem como um diferenciador entre nós e os usuários, colocandonos em posições que supomos mais elevadas, de “sabedores” que “curam”. Como enfatiza
Palombini (2006), ao acompanhar o usuário, acompanhamos também a Reforma, pois
questionamos ambas posições.
Por fim, pode-se dizer ainda que acompanhados também somos nós que acompanhamos, pois
o entorno social que o sujeito deseja reintegrar em si é aquele que também não conhecemos.
Na função de acompanhantes somos acompanhados pelo usuário no seu social, sua “rua”,
assim conhecemos outra realidade, que no nosso caso eram os entornos da unidade de saúde e
a comunidade onde reside o paciente.
Referências
A CASA, Equipe de acompanhantes terapêuticos do Hospital-dia. A rua como espaço Clínico:
Acompanhamento Terapêutico São Paulo: escuta, 1991.
BRASIL, Ministério da Saúde. Manual para a Organização da Atenção Básica. Brasília: 1999 <
http://dab.saude.gov.br/docs/geral/manual_organizacao_ab.pdf > acesso em 25 de maio de 2010.
BORDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
ALVES, Vânia Sampaio. Um modelo de educação em saúde para o Programa Saúde da Família: pela
integralidade da atenção e reorientação do modelo assistencial Interface, Botucatu, vol.9, n.16, pp. 39-52. 2005.
MENDONGA, Leonel Dozza de. Lo social es um lugar que no existe: Reflexionesdesde el Acompañamiento
Terapéutico de Pacientes Psicóticos. Papeles del Psicólogo. nº 72 , Febrero. 1999
PALOMBINI, Analice de Lima. Acompanhamento terapêutico: dispositivo clínico-político. Psychê, Revista de
Psicanálise, ano X, 18, 115-127. 2006
PELLICCIOLI, Eduardo.O trabalho do Acompanhamento Terapêutico em Grupo: Novas Tecnologias na
Rede Pública de Saúde. 2004. 112p. Dissertação de Mestrado em Psicologia, Faculdade de Psicologia,
Pontifícia Universidade Católica do Rio grande do Sul, Porto Alegre, 2004.
SILVA, Alex sandro Tavares da. A Emergência do Acompanhamento Terapêutico: O Processo de
Constituição de uma Clínica.2005. 144p. Dissertação de Mestrado em Psicologia, Instituto de Psicologia,
Universidade federal do rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005
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