Corpo, tecnologia e controle: uma análise antropológica do filme Gattaca Halina Rauber Baio Programa de Ensino Tutorial (PET/Sesu) – Ciências Sociais Orientadora: Profª Dra. Laura Pérez Gil Introdução/Objetivos Este trabalho é parte de uma pesquisa a ser entregue como monografia de conclusão de curso - a qual tem como objetivo, a partir das representações de corpo apresentadas no filmes Gattaca e Equilibrium, perceber relações de tais representações com debates antropológicos contemporâneos. O presente trabalho pretende, através da análise do filme Gattaca, refletir sobre uma série de discursos, práticas, representações e significados atrelados aos usos do corpo e da tecnologia na contemporaneidade. Para auxiliar nessa reflexão serão trabalhadas, principalmente, as discussões sobre corporalidade tecidas por Donna Haraway e David Le Breton, o conceito de biopoder de Michel Foucault e o de sociedade farmacopornográfica de Beatriz Preciado. Objetivos 1 – Compreender quais aspectos são considerados humanos e os valores a eles atribuídos. 2 – Identificar o que é tomado como natural e o que é tomado como artificial/implantado no ser humano. 3 – Entender, no discurso do filme, qual o limite entre a máquina e o humano, a concepção de natureza humana e como ela é valorizada ou desvalorizada, e em quais aspectos. Materiais e Métodos O enredo fílmico é tomado como material da análise etnográfica na medida em que revela uma determinada concepção de corpo natural e corpo modificado, de separação natureza e cultura. As cargas valorativas e as atribuições de significados aos sujeitos de um tipo de corpo, ou de outro, ficam nítidas através das relações estabelecidas entre os/as personagens bem como das características que estes/as apresentam ao longo da história. Conclusões preliminares Em um certo sentido, em Gattaca, o corpo não é visto como elemento material, mas como informação, a identidade dos indivíduos é apresentada não através da materialidade do rosto, por exemplo, mas sim a partir dos dados gerados pela análise de seus encadeamentos genéticos. O que se faz presente, ao longo do filme, são críticas que consideram essa “informática da dominação” como algo que desvincula os seres humanos de sua condição humana. Nesse sentido, há um enaltecimento de valores tomados, ao longo do enredo, como “pré-culturais” - o corpo nãomodificado, no caso. Pode-se concluir então que o filme vai de encontro a um debate que opõe, principalmente, a visão da tecnologia como alteradora do que é essencial à condição humana (a qual, ainda que imperfeita e incompleta é vista de modo positivo) e a visão de que a tecnologia, mesmo que ferramenta de dominação, pode ser apropriada e re-significada como aparato de subversão da hegemonia. Referências FOUCAULT, Michel. Aula de 17 de março de 1976. In: Em defesa da sociedade. São Paulo, Martins Fontes, 1999 GARCÍA, Maria Teresa Aguilar. Lecturas del cuerpo em la era biotecnológica. Nómadas, Madrid, Universidad Complutense de Madrid, n. 8, jul.-dic. 2003. HARAWAY, Donna. Manifesto ciborgue: Ciência, tecnologia e feminismosocialista no final do século XX. In: KUNZRU, Hari; HARAWAY, Donna; TOMAZ, Tadeu (Org.). Antropologia do ciborgue: as vertigens do póshumano. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009. p. 33-118 LE BRETON, David. Antropologia do corpo e da Modernidade. Petrópolis: Vozes, 2012 PRECIADO, Beatriz. Testo Yonqui. Madrid: Espasa, 2008