III Seminário Linguagem e Identidades: múltiplos olhares
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PÓS-MODERNIDADE, CULTURA E PASTICHE:
algumas considerações acerca da contemporaneidade
Janete de Jesus Serra Costa*
“Sem os punhos de ferro da modernidade,
a pós-modernidade precisa de nervos de aço”.
Zygmunt Bauman.
RESUMO: O presente artigo apresenta algumas considerações a respeito da pósmodernidade, evidenciando observações acerca da cultura pós-moderna, da massificação,
do hibridismo e do pastiche, enquanto configurações peculiares do cenário pós-moderno.
Para tanto, analisa como as transformações provocadas pela pós-modernidade
influenciaram no surgimento de tais configurações e pretende exemplificá-las por meio da
análise de filmes infantis produzidos recentemente à luz dos teóricos desse contexto
contemporâneo.
PALAVRAS-CHAVE: Pós-modernidade. Cultura pós-moderna. Massificação. Pastiche.
ABSTRACT: This article presents some considerations about post-modernity,
highlighting observations about postmodern culture, massification, hybridism and pastiche,
while peculiar configuration of the post-modern. It analyzes how the changes wrought by
post-modernity influenced the emergence of such configurations and intends to exemplify
them through the analysis of children's films produced recently in light of the theorists of
the contemporary context.
KEYWORDS: Post-modernity. Post-modern culture. Massification. Pastiche.
1 INTRODUÇÃO
*
Mestranda do Mestrado Interdisciplinar em Cultura e Sociedade – UFMA.
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O momento hodierno tem sido compreendido e, consequentemente, denominado
de maneiras distintas: modernidade tardia ou alta modernidade, para Giddens (1991);
supermodernidade, para Augé (1994); hipermodernidade para Lipovetsky (2004); pósmodernidade para Lyotard (2009), Jameson (2002), Featherstone (1995), Hall (2006), entre
outros. Assim, o contexto contemporâneo e seus desdobramentos tornam-se temáticas
relevantes de inúmeros estudos e teóricos, acirrando os debates a respeito da sociedade e
da cultura.
Portanto, esse contexto apresenta características sociais, políticas, econômicas,
tecnológicas e culturais peculiares. Que determina comportamentos, práticas de consumo,
identifica e classifica pessoas, forma identidades, enfim, define os modos de viver e de ser
das pessoas, ou melhor, de “estar no mundo”. A partir de diversas compreensões desse
contexto, busca-se explicá-lo, por meio das profundas transformações ocorridas desde a
segunda metade do século XX e as respectivas consequências nas relações sociais e
práticas culturais do mundo contemporâneo.
Para Jameson (2002) existe uma condição pós-moderna e não uma fase
propriamente dita. Concebe a pós-modernidade não como uma mudança de época, mas sim
como determinante cultural, como uma lógica cultural da terceira etapa do capitalismo,
capitalismo tardio, iniciado após a segunda Guerra Mundial. Dessa maneira, entende que é
a transformação do próprio capitalismo que possibilita o surgimento de uma nova dinâmica
cultural.
De acordo com Featherstone (1995), a pós-modernidade sugere a mudança de
uma época para outra ou a interrupção da modernidade e, diz respeito a uma nova ordem
social, uma nova totalidade social, com princípios organizadores próprios e distintos.
Destarte, essa nova ordem social apresenta mudanças que precisam ser consideradas,
principalmente as concernentes à cultura contemporânea, que para ele podem ser
classificadas em: mudanças nos campos artístico, intelectual e acadêmico; mudanças na
esfera cultural mais ampla, envolvendo os modos de produção, consumo e circulação de
bens simbólicos (relacionadas às mudanças no poder e na interdependência dos grupos
sociais e de classe); mudanças nas práticas e experiências cotidianas de diversos grupos
que estariam desenvolvendo novos meios de orientação e estruturas de identidade.
Canclini (2008) expõe claramente a sua acepção do termo pós-modernidade na
obra Culturas Híbridas, concebendo-a não como uma etapa ou tendência que substituiria o
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mundo moderno, mas como uma maneira de problematizar os vínculos equívocos que ele
armou com as tradições que quis excluir ou superar para constituir-se.
Então, as visões sobre a pós-modernidade se dividem e, considerada como uma
fase, consequência do moderno ou como ruptura, que implica numa mudança radical em
relação ao momento anterior, não modifica o inegável. Pois é evidente que provocou
profundas e inquestionáveis transformações, a partir da década de 60 do século XX, no
cenário cultural, que são sentidas até hoje. Diante desses pressupostos acerca do contexto
contemporâneo, entende-se como a mesclagem de códigos e de linguagens, hibridismos,
bricolagens e ecletismos tornam o universo pós-moderno um mundo no qual a imagem, as
tecnologias de informação e comunicação, o mercado e o consumo têm papel sine qua non.
Paralelamente, observa-se o surgimento de uma identidade que pode ser
denominada de pós-moderna: descentrada, múltipla, instável e fragmentada, segundo Hall
(2006), ou ainda, como afirma Canclini (2001, p. 35): “[...] as identidades pós-modernas
são transterritoriais, multilinguísticas”. O que se complementa com a noção defendida por
Jameson (2002), de que o homem pós-moderno é incapaz de organizar seu passado e seu
futuro como uma experiência corrente. Por isso mesmo, compreende que junto com o
esmaecimento da historicidade, é nítido o caráter fragmentado das produções culturais pósmodernas. Para ele, a configuração de pastiche (colagem indiferenciada de referências
estéticas de diferentes origens) é uma das mais típicas da pós-modernidade.
Nesse sentido, o presente estudo objetiva abordar algumas considerações acerca
da pós-modernidade, evidenciando certas observações a respeito da cultura pós-moderna,
da massificação, do hibridismo e do pastiche, enquanto configurações próprias do contexto
pós-moderno. Para tanto, analisa como as transformações provocadas pela pósmodernidade influenciaram no surgimento de tais configurações e pretende exemplificá-las
pela análise de filmes infantis recentes à luz dos teóricos desse contexto contemporâneo,
como Jameson (2002), Featherstone (1995), Canclini (2008) dentre outros.
2 CULTURA PÓS-MODERNA: Massificação, Hibridismo e Pastiche
Segundo Jameson (2002, p. 49), a cultura pós-moderna é a cultura da sociedade de
consumo, nesse âmbito, a cultura ganha uma nova importância mediante a saturação de
signos e mensagens, a ponto de que “[...] é possível dizer que tudo na vida social tornou-se
cultural”. Além disso, a arte, a cultura e os bens culturais foram coisificados e atualmente
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se tornaram mais um produto, comercializados em grande escala e disponíveis no mercado
como quaisquer outro, que podem ser consumidos mediante a troca pelo dinheiro – ficha
simbólica de alto potencial para o mundo atual.
De acordo com Lyotard (2009, p. 5): “A palavra pós-moderna designa a cultura
após as transformações ocorridas em relação à crise dos grandes relatos e que afetaram as
regras dos jogos da ciência, da literatura e das artes no final do século XIX”. Assim, a pósmodernidade se caracteriza pela descrença nos metadiscursos e a consequente valorização
das pequenas narrativas, o que se configurou numa crise das denominadas metanarrativas
totalizantes e do papel do intelectual nas sociedades ocidentais. Promovendo o fim da
busca da áurea nas obras de arte.
Tais considerações instigam reflexões sobre a sociedade pós-moderna de
consumo, em que as mercadorias se constituem em signos capazes de revelar quem somos,
nossos gostos, costumes, aspirações e, até mesmo nossa classe social. Assim como, a
massificação da cultura transforma os bens culturais em mercadorias produzidas
“industrialmente em série” (ECO, 2006, p. 27), provocando a dessacralização do que antes
era uma instância protegida, algo restrito para poucos, ou como argumenta Featherstone
(1995, p. 59), configura-se como “[...] a erosão da condição especial da arte como
mercadoria protegida”.
Nesse sentido, o exposto anteriormente faz-se apropriado para o que se observa no
cinema pós-moderno, que utiliza cada vez mais os clássicos universais da literatura infantil
– contos de fadas – como uma forma de hibridismo entre passado e futuro, bem como de
massificação do gênero literário infantil, que outrora era presente somente na vida daquelas
crianças que estavam inseridas em lares “letrados” constituídos por pessoas com boa
escolaridade e com condições financeiras para comprar os livros de Grimm, Andersen e
Perrault. Agora são conhecidos por meio de adaptações, intertextualidades, fragmentações
e do pastiche nos filmes infantis. O que se explica por meio da observação comentada por
Featherstone:
Dentre as características centrais associadas ao pós-modernismo nas artes
estão: a abolição da fronteira entre arte e vida cotidiana; a derrocada da
distinção hierárquica entre alta cultura e cultura de massa/popular; uma
promiscuidade estilística, favorecendo o ecletismo e a mistura de
códigos; paródia, pastiche, ironia, diversão e a celebração da ‘ausência da
profundidade’ da cultura; o declínio da originalidade/generalidade do
produtor artístico e a suposição de que a arte também pode ser somente
repetição (FEATHERSTONE, 1995, p. 25).
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Assim, a pós-modernidade apresenta o temporal marcado pelo pastiche como
paródia vazia do passado, que para Jameson (2002, p. 118), é “[...] sintoma da
impossibilidade de historicizar até mesmo nossas próprias histórias pessoais”, já que
estamos imersos na cultura da “imagem”, do “visual” que é supervalorizada em detrimento
do verbal, formando o simulacro da realidade, a hiper-realidade, em que o homem pósmoderno acredita ser melhor que sua própria realidade. O que por outro lado, pode ser
inferido como uma peculiaridade paradoxal de um mundo centrado no presente com a ideia
de consumo vinculado à felicidade e que, concomitantemente, está se inter-relacionando
com o passado.
No tocante, a observação feita por Featherstone, remetendo a Baudrillard, faz-se
oportuna, ao explicar que “o mundo simulacional pós-moderno baseia-se na suposição de
que o desenvolvimento da produção de mercadorias, aliado à tecnologia da informação,
levou ao triunfo da ‘cultura da representação’ [...]”. (FEATHERSTONE, 1995, p. 23).
A condição pós-moderna decretou o fim das narrativas mestras e totalizantes. Essa
afirmação é a base do pensamento de Lyotard, em A condição pós-moderna. Nessa
perspectiva, a literatura estaria vivendo, na pós-modernidade, um momento marcado pela
fragmentação, intertextualidade e pastiche. Que se dá não somente com outros gêneros
literários, mas também com outras artes, como a música e o cinema, promovendo a mistura
estilística que favorece o ecletismo e a junção de códigos.
Destarte, o novo parece não existir, o que existe é apenas o “reaproveitamento”, a
“releitura”, a “adaptação” do passado, ou ainda, a mistura de momentos históricos, de
linguagens, culturas e estilos de época. De acordo com Moisés (2004, p. 342), o pastiche
que em “[...] vernáculo também se emprega a forma pasticho, designa uma obra literária
que imita servilmente uma outra, ou mistura canhestramente trechos de várias
procedências”.
Seria a máxima de Lavoisier aplicada à literatura infantil, mais especificamente
aos contos de fadas – neles, também nada se perde; tudo se transforma. Os contos de fadas,
apesar de sua enorme popularidade, poucos conhecem sobre sua gênese e desenvolvimento
histórico. A terminologia “contos de fadas” não se refere aos contos da tradição oral, mas
sim a textos literários publicados no século XVII, que por sua vez são oriundos dos contos
populares de magia, originados da tradição oral. Estes sim são muito antigos – para muitos
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estudiosos, faziam parte dos ritos de passagem (mudança de fases de idade e de estado
civil) das sociedades primitivas.
O fato é que, na França do século XVII, mulheres como Mademoiselle Lhéritier e
Madame d’Aulnoy recolheram essas histórias e deram-lhes uma configuração mais
literária, intercalando-as também com outras que criaram. Contudo, quem se tornou célebre
por fazer isso foi outro francês, Charles Perrault que, em 1697, fez uma compilação de 11
contos de fada dedicados a crianças, tratada como o primeiro núcleo da literatura infantil
ocidental, escrita sob a fictícia autoria de Mamãe Gansa, intitulada Contes de Mère l’Oye,
conhecida como Histórias da Mamãe Gansa com narrativas como Chapeuzinho Vermelho,
Cinderela, O Barba Azul, O Gato de Botas, A Bela adormecida do bosque e outras.
Indubitavelmente, a cultura pós-moderna reinventa novos produtos culturais que
se entrecruzam ao universo ficcional fantástico e maravilhoso desse gênero infantil
clássico, a fim de consolidar o que assevera Arendt apud Eco (2006, p. 41), “[...] a cultura
de massa faz, dos clássicos, não obras a serem compreendidas, mas produtos a serem
consumidos”. Uma vez que a sociedade é embasada no paternalismo, na necessidade
latente de passividade dos sujeitos, na reificação, até mesmo do ser humano – os bens
culturais não podem escapar esta lógica.
Desse modo, pode-se entender produções cinematográficas destinadas ao público
infantil na atualidade – “Shrek para sempre”, da DreamWorks e “Enrolados”, da Walt
Disney Pictures, - como exemplos categóricos de pastiche no cinema, metáfora da cultura
atual, que os elabora com “[...] algumas qualidades indicativas [...], que eventualmente
revelam alguma propriedade desse objeto, dando ao receptor a impressão de conhecê-lo
através disso – quando na verdade essa propriedade é quase sempre acidental, superficial”
(COELHO, 2006, p. 66, grifo do autor). Dessa forma, o cinema pós-moderno apresenta-se
diferente, não apenas no seu conteúdo, mas também em suas formas de composição, uma
vez que a pós-modernidade valoriza a heterogeneidade.
O primeiro apresenta uma nova versão para a história de Shrek, ao inserir
personagens de Jacob Ludwig Carl Grimm e Wilhelm Carl Grimm (filólogos e grandes
folcloristas, estudiosos da mitologia germânica e da história do Direito alemão), como
Rumpelstiltskin, protagonista do conto de fadas – Rumpelstiltskin (em alemão:
Rumpelstilzchen) - compilado no primeiro volume de Contos para a infância e para o lar,
publicado em 1812. O duende agora formaliza um contrato mágico com Shrek, que
promete um dia de ogro temido em troca de um dia da vida de Shrek, quando este “era um
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bebezinho sem preocupações”. Assim, Shrek entrega sua data de nascimento ao duende,
que devido a isso, consegue adquirir o Reino de Tão Tão Distante e se torna o imperador.
A outra personagem de Grimm presente no filme é o Flautista Mágico, que no pastiche é
um caçador de recompensas com uma flauta multiuso capaz de enfeitiçar as mais diversas
criaturas mágicas. Não somente a inserção das personagens clássicas dos contos de fadas
dos Grimm consolida uma versão híbrida do filme, mas também a configuração final da
série de filmes do ogro verde, que se encerra com todos vivendo “felizes para sempre”.
Nesse sentido, a assertiva defendida por Jameson acerca do pastiche, torna-se
apropriada para a presente análise e estudo:
O pastiche, como a paródia, é a imitação de um estilo peculiar ou único, o
uso de uma máscara estilística, a fala numa língua morta: mas é a prática
neutra dessa mímica, sem a motivação ulterior da paródia, sem o impulso
satírico, sem o riso, sem aquele sentimento ainda latente, de que existe
algo normal, comparado ao qual aquilo que está sendo imitado é muito
cômico. (JAMESON, 1995, p. 29).
O que se infere dessa afirmação é que para Jameson a paródia, na verdade,
apresenta um sentido crítico, na medida em que satiriza e ridiculariza o elemento
parodiado. Enquanto que o pastiche é meramente uma reprodução desprovida de sentido,
que tem, outrossim, como característica “o plágio alusivo e fugidio de tramas mais antigas”
(JAMESON, 1993, p. 32).
O segundo filme, “Enrolados”, de animação e 50ª produção de Walt Disney
Pictures, também se configura como uma ‘reimaginação’ de um clássico conto de fadas de
Jacob e Wilhelm Grimm, no caso “Rapunzel”, que dessa vez não será salva pelo príncipe
encantado e nem tampouco é a única protagonista, pois divide a cena com o belo e mais
procurado ladrão do reino, Flynn Rider, que ao invadir a sua torre passa a ser refém da
esperta adolescente, com o qual formaliza um pacto e vivencia grandes aventuras. A
evolução tecnológica audiovisual dá ao clássico no cinema uma configuração rica em
imagens
e
som,
intertextual
e
híbrida,
que
pode
ser
entendida
como
expressão/manifestação do âmbito cultural que a produz, a cultura pós-moderna.
Esse retorno ou “reaproveitamento” do passado é para Jameson (1995) o que se
configura como pastiche, argumentado como uma repetição do passado, uma simples
imitação, que não possui o caráter transgressor da paródia, porque imita sem a preocupação
em revelar as possíveis “verdades”, promove a paródia vazia, sem humor, de obras
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canonizadas e imortais pela crítica literária. Tal prática está intrinsecamente ligada com a
noção de temporalidade na cultura pós-moderna, a ideia de tempo mudou, não se distingue
mais o que é próprio e o que é alheio. Dessa maneira:
Agora a referência e a realidade desaparecem de vez, e o próprio
conteúdo – o significado – é problematizado. Resta-nos o puro jogo
aleatório dos significantes que nós chamamos de pós-modernismo, que
não mais produz obras monumentais como as do modernismo, mas
embaralha sem cessar os fragmentos de textos preexistentes, os blocos de
armar da cultura e da produção social, em uma nova bricolagem
potencializada: metalivros que canibalizam outros livros, metatextos que
fazem colagem de pedaços de outros textos – tal é a lógica do pósmodernismo em geral, que encontra uma de suas formas mais fortes, mais
originais e autênticas na nova arte no vídeo experimental (JAMESON,
2002, p. 118).
Os filmes infantis em pastiches se constituem em importantes artefatos culturais
do século XXI, por sua ampla circulação, decretada por aquilo que Walter Benjamin
denominou de “reprodutibilidade técnica da arte” e abordou o cinema como um dos
objetos artísticos que surgiu para a reprodução. Nessa perspectiva, pode-se inferir que o
cinema pós-moderno promove a massificação do clássico – os contos de fadas – e
concomitantemente, atende a dinâmica cultural pós-moderna da sociedade de consumo,
que reinventa novos produtos culturais por meio da união com bens artístico-culturais
canonizados, para serem consumidos em larga escala. Assim, a cultura de massa ou
“industrializada” promove simultaneamente a reificação e a alienação, na medida em que:
[...] fabrica produtos cuja finalidade é serem trocados por moeda;
promove a deturpação e a degradação do gosto popular; simplifica ao
máximo seus produtos, de modo a obter uma atitude sempre passiva do
consumidor; assume uma função paternalista, dirigindo o consumidor ao
invés de colocar-se à sua disposição (COELHO, 2006, p. 25).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A maior parte das transformações a que assistimos reside no fato de que muitas
dicotomias estão ultrapassadas. A influência da imagem e da tecnologia favoreceu ainda
mais o hibridismo de linguagens e estilos, amenizando cisões antes categóricas. O que se
explica melhor a partir da consideração defendida por Canclini (2001, p. 19), ao afirmar
que “[...] o culto, o popular e o massivo não estão onde estamos habituados a encontrá-los.
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É necessário demolir essa divisão em três pavimentos, essa concepção em camadas do
mundo da cultura [...]”. Nesse sentido, fundamentando-se nesta visão, existem
manifestações que já não cabem no culto ou no popular, são oriundas de seus
entrecruzamentos.
Por conseguinte, os cenários culturais estão sendo reorganizados e “a tendência
predominante é que todos os setores se misturem em seus gostos objetos antes de
procedências separadas” (CANCLINI, 2001, p. 309). Assim, o hibridismo ou hibridação
(CANCLINI, 2008) tornou-se inevitável, consolidando-se como uma das configurações
próprias da cultura pós-moderna, juntamente com a massificação e o pastiche. Porquanto,
não somente os diversos gêneros se entrecruzam, como também as diferentes artes e
linguagens. Evidenciando, o que é argumentado por (COELHO, 2006, p. 37), “todo
produto traz em si os germes do sistema que o gerou”. Por isso mesmo, o cinema, por
exemplo, recria e reproduz por meio da literatura infantil – contos de fadas – novos
produtos culturais para o cinema pós-moderno, que reverencia o passado a fim de mesclar
linguagem e estética literárias ao cinematográfico, bem como consolidar-se entre o
mercado e a arte, a lucratividade e a estética, o clássico e a massificação, enquanto
tendências da pós-modernidade, sem desobedecer aos ditames da indústria cultural:
entretenimento e lazer.
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1994.
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