A EVASÃO NA PERSPECTIVA DA POLÍTICA NACIONAL DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL. Lázara Cristina da Silva; Andréa Pires Dayrell da Cunha Pereira; Letícia Rodrigues de Castro; Ludmile Cristine Mendes Santos. Introdução: O presente trabalho constitui parte das atividades da pesquisa “A Política Nacional de Formação Continuada de Professores e a Educação Especial”, financiada pelas agências de fomento à pesquisa CNPq e Fapemig, tem por objetivo refletir sobre as políticas e os procedimentos de formação continuada de professores para atuação em processos de escolarização de pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, na perspectiva de contribuir para a ascensão e consolidação da educação inclusiva na realidade brasileira. Essa pesquisa tem por objetivos específicos compreender os sentidos das ações da Rede de Formação Continuada de Professores em Educação Especial, da Secretaria de Educação Especial (SEESP) no processo de escolarização de pessoas com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nos de 2009 e 2010. Volta-se à identificação e análise dos critérios da equipe coordenadora da rede e dos professores coordenadores dos cursos para indicar à Rede de Formação Continuada de Professores na Educação Especial no Âmbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil – UAB, que um ou outro curso corresponde à perspectiva inclusiva. Busca refletir sobre as concepções de formação continuada de professores em educação especial nas propostas do Governo Federal no contexto atual, elaborar diagnóstico e análise do perfil dos cursistas, na busca por determinar as razões da adesão e no índice de evasão dos cursistas. Debruça-se sobre os elementos condicionantes à deserção, ou insucesso durante o curso, além de comparar os índices de evasão/fracasso e a forma de adesão. A proposta do recorte de que trata esse artigo, é elaborar a análise das questões relacionadas à evasão, no curso de Atendimento Educacional Especializado para Alunos Surdos, 1ª edição, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), de Minas Gerais, no ano de 2010. Metodologia: No debate acadêmico, a presença da discussão sobre abordagem qualitativa ou quantitativa teve grande repercussão por longo período, entretanto, com o aprofundamento das discussões acadêmico-científicas ficaram destacadas as possibilidades da produção de trabalhos utilizando a abordagem quali-quantitativa. As duas abordagens foram apresentadas e defendidas por importantes pesquisadores como antagônicas e incompatíveis. Mas, apesar da pretensa dicotomia entre essas duas possibilidades metodológicas, o que se observa nesse trabalho, é a aproximação entre o tratamento e a interpretação dos dados obtidos, tanto na perspectiva qualitativa quanto quantitativa. Quanto à natureza metodológica dos estudos científicos, esse trabalho se aproxima da abordagem qualitativa pela natureza de seu corpus, e por sua base epistemológica e ontológica. Entretanto, não pretende um modelo rígido de investigação, pois compreende as possibilidades do trabalho educativo como processo em construção permanente. Nesse recorte da pesquisa original, o enfoque foi o Curso de Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado (AEE) para Alunos Surdos da Universidade Federal de Uberlândia, 1ª edição de 2010, procurando esclarecer as questões que possam ter contribuído para a evasão, o abandono ou o fracasso ao final do curso. Para a concretização dessa pesquisa, foi elaborado e enviado a cada inscrito que se enquadrava nessas categorias, um email solicitando esclarecimentos sobre as causas dessa evasão, fracasso ou de nunca ter acessado o curso. A partir do material coletado, foi possível elaborar a análise e quantificação dos dados pesquisados. Resultados e discussão: Dos dados coletados foi possível concluir que grande parte dos professores desistiu ou não obteve sucesso no intento, por não ter conseguido atender aos critérios mínimos estabelecidos pela universidade. Algumas hipóteses foram levantadas a partir de seus relatos e respostas, pois alguns alegaram ter sido inscritos no curso por seus superiores, sem consulta prévia ou por desconhecerem a duração e exigências demandadas. Delegaram, dessa forma, o problema à forma de ingresso no curso indicando a necessidade de se aprofundar na relação entre forma de ingresso e no movimento de evasão, desistência ou falta de aproveitamento dos cursistas. Dos 1152 inscritos na primeira oferta do Curso de Extensão em Atendimento Educacional Especializado para alunos surdos da UFU/MG, 207 não concluíram e 126 foram reprovados1. No total foram enviados 551 emails enviados, tendo retornado apenas 217, desses, 205 justificaram a evasão e/ ou reprovação. A partir desse retorno, foi esclarecido que 28,1 % deles afirmam não ter tido o tempo necessário para dedicar ao curso, 14,6 % tiveram problemas com a conexão à internet. Outros 11,2 % alegam problemas na comunicação com o tutor, 10,2% dificuldades no contato com o Moodle, 9,3% narram problemas com saúde como impedimento, outros 6,8% dizem ter tido problemas com o computador. Ainda 6,3% afirmam ter ingressado em outra turma ou outro curso, 8,0 % fizeram críticas diversas ao curso, 5,0 % alegam ter tido dificuldades com a proposta da educação a distância, e 0,5% acusam motivos profissionais como a principal razão da evasão e/ou repetência. Embora tenha sido possível elencar alguns dos motivos que podem levar à evasão ou ao não aproveitamento adequado do Curso de Especialização para Atendimento Educacional Especializado para Alunos Surdos da UFU/MG, esses podem ser semelhantes aos apresentados nos demais cursos. Outros fatores que podem ser indicados como facilitadores ao abandono são a gratuidade desses cursos e serem considerados de fácil acesso, de modo que muitos os abandonam na primeira dificuldade. Há ainda os que após abandonarem o curso por algum tempo, regressam e querem ser incluídos nas próximas ofertas, ou aqueles que simplesmente não acessam mais o curso e não respondem aos chamados da equipe promotora do mesmo. 1 Dados fornecidos pela Coordenação do Curso de Especialização em Atendimento Educacional Especializado para Alunos Surdos da Universidade Federal de Uberlândia/MG. Os profissionais têm sido sendo sufocados pela transferência da responsabilidade por sua formação e qualificação para o trabalho, fato a ser questionado e discutido juntamente aos envolvidos. Não se trata apenas de culpar os próprios cursistas pelo elevado índice de evasão ou insucesso, mas de se ponderar sobre as condições reais para a realização dos cursos de formação continuada na modalidade a distância, de forma a buscar a garantia do direito e dever de sua inserção em processos de formação continuada. É necessário que se construam, a partir dessa complementação à formação profissional, experiências positivas, que possibilitem um processo contínuo de aprendizagem. Referências: ALVARADO PRADA, Luis Eduardo. Dever e Direito à formação continuada de professores (1997). www.uniube.br/propep/mestrado/revista/.../ponto_de_vista.pdf. Consultado em 22 de outubro de 2009. ANDRADE, S. G. Pensamento sistêmico e docência no contexto da educação inclusiva. SEMINÁRIO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO DA REGIÃO SUL, 2004, Curitiba. In: BAPTISTA, C. R. Mediação pedagógica em perspectiva: fragmentos de um conceito nas abordagens institucional, sócio-histórica e sistêmica. Curitiba: Editora da PUC, 2004. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Dispõe sobre as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: Congresso Nacional, Diário Oficial da União, 23 de dezembro de 1996. ______. Secretaria de Educação Especial. Política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Brasília: Ministério da Educação, 2008. ______. Secretaria de Educação Especial. Decreto n. 6.571, de 17 de setembro de 2008. Dispõe sobre o Atendimento Educacional Especial. Brasília, Ministério da Educação, 18 set. 2008. ______. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. Brasília: Congresso Nacional, Diário Oficial da União, 05 de outubro de 1988. SILVA, L. C. da; DECHICHI, C.; MOURÃO, M. P. POLÍTICAS E PRÁTICAS DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES PARA EDUCAÇÃO ESPECIAL alguns olhares sobre o curso de extensão “Professor e surdez: cruzando caminhos, produzindo novos olhares”. Uberlândia: EDUFU, 2010.