Critérios de Conversão das Demonstrações Contábeis em Moeda Estrangeira Adotadas no Brasil: uma Necessidade de Aperfeiçoamento Autoria: Paula Danyelle Almeida da Silva, Andrea da Silva Santos, Odilanei Morais dos Santos, Natan Szuster Resumo: O aumento da participação das empresas brasileiras em investimentos permanentes no exterior não traz apenas reflexos nos aspectos macroeconômicos, mas também nas informações contábeis divulgadas por essas empresas, principalmente em relação aos efeitos cambiais desses investimentos nas demonstrações contábeis da controladora. Desse modo, o método de conversão das informações para moeda estrangeira utilizado ganha importância fundamental, tendo em vista os diversos tratamentos contábeis empregados para o reconhecimento dos ganhos e perdas cambiais decorrente dessa conversão. Este estudo tem por objetivo analisar comparativamente como os critérios de conversão das demonstrações contábeis estabelecidos pelas normas da CVM, FASB e IASB afetam o resultado das empresas brasileiras que detém investimentos societários no exterior, avaliados pelo método de equivalência patrimonial. Para tanto, serão apresentadas simulações com a aplicação dos diversos critérios para se evidenciar os principais impactos no resultado. As simulações mostraram que o atual critério de conversão adotado no Brasil, não atende as necessidades da nova realidade das empresas brasileiras, principalmente aquelas que estão em processo de internacionalização, em função de distorções provocadas no resultado. Nesse contexto, espera-se que esse estudo contribua para alertar quanto a necessidade de aperfeiçoamento do atual modelo de conversão adotado no Brasil, de modo que se possa caminhar em busca do alinhamento harmônico com as normas internacionais. 1. Introdução A internacionalização das empresas brasileiras tornou-se crescente principalmente a partir de 2001, quando se observa a tendência de aumento dos investimentos diretos no exterior, através da criação de subsidiárias, controladas e coligadas e de joint venture. O movimento de transformação das empresas brasileiras em multinacionais decorre, dentre outros fatores: da necessidade de expandir mercados; de aumentar a competitividade das empresas nacionais e da criação de mecanismo para atenuar a vulnerabilidade externa. Para Alem e Cavalcanti (2005, p.56), “(...) a internacionalização deve ser vista como um meio essencial para o aumento da competitividade internacional das empresas, promovendo o desenvolvimento dos países e facilitando: i) o acesso a recursos e a mercados; e ii) a reestruturação econômica (...)”. O Banco Central do Brasil – BACEN, órgão responsável pelo controle e fiscalização do fluxo de investimentos no exterior, tanto de empresas brasileiras quanto de empresas estrangeiras, em levantamento realizado no período de 1968 a 2004 evidencia claramente o aumento no fluxo de investimentos no exterior realizado por empresas brasileiras, como pode ser observado na Ilustração 1 a seguir. 1 Valores em US$ milhões 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 0 -2.000 -4.000 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 Ano Fonte: BACEN, 2005. Ilustração 1 – Investimentos Brasileiros Diretos Líquidos no Exterior entre 1968 a 2004. No período de 1968 a 1990, os investimentos brasileiros no exterior foram inexpressivos, mas a partir de 1990 pode ser observado o incremento desses investimentos, principalmente, por conta da abertura econômica com a existência de picos de desinvestimentos ocasionados pelas crises cambiais de 1999 e 2001 e pelas incertezas na condução do ambiente político em 2003. Passados os momentos de instabilidade, o fluxo de investimentos voltou a crescer de forma significativa em 2004. De acordo com o BACEN (2005), o volume de investimentos de empresas brasileiras no exterior, no período de 2001 a 2004, apresentou um crescimento de 39%, mais especificamente, os investimentos diretos no exterior passaram de US$ 69 milhões para US$ 93 milhões. Segundo o ranking publicado pela UNCTAD Apud Fundação Dom Cabral (2005) das empresas transnacionais dos países em desenvolvimento, as empresas brasileiras que se destacam como grandes multinacionais entre as cinqüenta do ranking foram: Petrobras, Companhia Vale do Rio Doce e Gerdau. O aumento da participação das empresas brasileiras em investimentos permanentes no exterior não traz apenas reflexos nos aspectos macroeconômicos, mas também nas informações contábeis divulgadas por essas empresas, principalmente em relação aos efeitos cambiais nas demonstrações contábeis da controladora, impacto esse que está diretamente relacionado com o critério de conversão adotado. No Brasil, a regra vigente para a conversão das demonstrações contábeis em moeda estrangeira de companhias de capital aberto está estabelecida na Deliberação nº 28/86, de 13/02/1986, da Comissão de Valores Mobiliários (Deliberação CVM 28/86) que define, entre outros assuntos, as metodologias que devem ser utilizadas na conversão de demonstrações contábeis de investimentos societários no exterior. Nesse contexto, o objetivo deste estudo consiste em analisar, por meio de simulações numéricas, como os critérios de conversão das demonstrações contábeis adotados no Brasil afetam o resultado das empresas brasileiras que detém investimentos societários no exterior avaliados pelo método de equivalência patrimonial. Para tanto, também se compararam os impactos decorrentes da aplicação da Deliberação CVM 28/86 com os critérios da norma norte-americana SFAS 52 – Foreign Currency Translation emitida pelo Financial Accounting Standards Board (FASB) e da norma internacional IAS 21 – The Effects of Changes in Foreign Exchange Rates, de responsabilidade do International Accounting Standards Board (IASB). 2 A contribuição do estudo consiste em ampliar a discussão sobre a necessidade de aperfeiçoamento da atual metodologia utilizada pelas empresas brasileiras de capital aberto que detêm investimentos permanentes no exterior no que diz respeito aos critérios de conversão, de modo que se possa caminhar em busca do alinhamento harmônico com as normas e pronunciamentos internacionais, em especial as emitidas pelo IASB, como bem já foi sinalizado pela Comissão de Valores Mobiliários no Ofício Circular CVM/SNC/SEP nº 01/2006. Este estudo limita-se a analisar a conversão das demonstrações contábeis de empresas com investimentos societários no exterior sujeitos ao método de equivalência patrimonial (MEP) e convertidos pelo método da taxa corrente. Para isso, considerou-se que os investimentos societários analisados estariam sediados em países de moeda estável, ou seja, ambientes considerados como não hiperinflacionários. Na seção 2 são apresentadas, resumidamente, as principais características das normas de conversão emitidas pela CVM, FASB e IASB, seguindo da seção 3 com a aplicação da simulação numérica com o objetivo de se apurar as diferenças entre os métodos e os impactos nos resultados da controladora. Finalmente são apresentadas as considerações finais. 2. Referencial Teórico As regras normativas sobre conversão das demonstrações contábeis para moeda estrangeira buscam refletir os impactos das variações cambiais no patrimônio das empresas, principalmente de multinacionais que atuam em países com situação econômica bastante diferenciada. Essas variações no câmbio provocam reflexos nas demonstrações contábeis dessas empresas quando da aplicação do método da equivalência patrimonial ou da consolidação. Nas metodologias de conversão, é fundamental que haja a definição da moeda funcional e da moeda de apresentação ou de relatório, para que se estabeleça o fluxo de conversão. Os principais critérios de definição da moeda funcional, de modo geral, relacionam-se à atividade operacional da empresa, onde se busca identificar qual moeda impacta significativamente a entrada e saída de recursos da entidade. No caso de investimentos no exterior (subsidiárias e controladas), a escolha da moeda funcional está relacionada com o grau de independência em relação às operações da matriz, além da operação própria da controlada. Entretanto, a decisão de qual moeda utilizar, cabe à administração da empresa. As metodologias existentes visam basicamente adequar os critérios de conversão ao ambiente econômico no qual o investimento no exterior está situado. Desse modo, as técnicas de conversão se subdividem, no que tange à aplicação, em: ambiente econômico estável e ambiente hiperinflacionário. 2.1 – Normas Brasileiras No Brasil, a regra para conversão de demonstrações contábeis, que foi elaborada na década de 80 e ainda encontra-se em vigor. Trata-se da Deliberação CVM nº 28, de 13/02/1986. Dentre as limitações da regra, destaca-se a ausência conceitual de moeda funcional, bem como o fato de ser dado o mesmo tratamento contábil aos ganhos e perdas cambiais (como resultado), independente da metodologia utilizada. Além das limitações desse normativo, percebe-se que ainda existe uma divergência em relação ao reconhecimento dos ganhos e perdas cambiais decorrentes da conversão, pois na Deliberação CVM 28/86, estes devem ser tratados como resultado não operacional, enquanto que na Instrução CVM nº 247, de 27/03/1996, que dispõe sobre a avaliação e consolidação de 3 investimentos em controladas e coligadas, o tratamento dado é como resultado operacional. Entende-se que este último revoga a Deliberação CVM 28/86, nesse aspecto. Desse modo, os efeitos cambiais de conversão serão tratados juntamente com a equivalência patrimonial, sendo, portanto, item operacional do resultado. Entretanto, esse entendimento não é pacífico, conforme se observa em Santos, Schimdt e Fernandes (2003, p. 103), os quais afirmam que “a variação cambial deve ser considerada como resultado não operacional, pelo critério da especialidade (lex specialis derogat legi generali).” Em 2005, o Conselho Federal de Contabilidade - CFC atualizou a norma brasileira de contabilidade NBC T 7 – Conversão da Moeda Estrangeira nas Demonstrações Contábeis. Esta norma é uma adaptação da norma internacional IAS 21, com a inserção de algumas regras da norma norte-americana contida no SFAS 52. Apesar da regra do CFC ter introduzido conceitos superiores ao da Deliberação CVM 28/86, os principais pontos desfavoráveis são: conflitos existentes com as regras da CVM e a Lei 6404/76; e a falta de um posicionamento da CVM quanto à aplicabilidade dessa norma. Outro fator importante consiste no fato dessa norma ser uma composição entre dois normativos (IAS 21 e SFAS 52), não estando totalmente aderente às normas internacionais – IFRS, o que dificultaria uma possível harmonização das normas brasileiras com as internacionais. Os principais pontos relacionados às técnicas de conversão das normas acima referenciadas, destacam-se a seguir. 2.1.1 - Deliberação CVM 28/86 Esta deliberação, textualmente, apresenta três métodos de conversão: método da taxa corrente; método da taxa histórica; e o método da taxa histórica com correção monetária. Entretanto, pode-se observar a existência de mais um método, que consiste no método alternativo de conversão, que nesse trabalho foi considerado como uma quarta metodologia. O método da taxa corrente deve ser utilizado para investimentos no exterior sediados em países cuja situação econômica remeta-se a um ambiente de baixa inflação ou que possuam métodos de reconhecimento da inflação eficientes, ou seja, que possuam metodologia de correção monetária. A metodologia da taxa histórica é aplicável em investimentos sediados em países com alta inflação e que não possuam sistemas eficientes de reconhecimento da perda do poder aquisitivo da moeda nas demonstrações contábeis. A Deliberação CVM 28/86 também permite a adoção de metodologia alternativa de conversão que consiste em converter as demonstrações contábeis, primeiramente, para uma moeda forte usando o método da taxa histórica e depois a conversão final para reais pelo método da taxa corrente. É aplicável desde que sejam apuradas demonstrações contábeis expressas em moeda nacional, refletindo adequadamente a posição patrimonial e financeira. Este método pode ser aplicado tanto em economias estáveis, como em economias hiperinflacionárias. O tratamento contábil dado aos ganhos e perdas cambiais decorrentes da conversão, qualquer que seja o método adotado, impacta o resultado do período, o qual deve ser segregado em: parcela atribuível a ganhos ou perdas cambiais no resultado não operacional (não obstante a Instrução CVM 247/96 determinar que sejam reconhecidos no resultado operacional); e parcela atribuível à participação no resultado da investida e a outros acréscimos ou reduções patrimoniais realizados que deve ser registrada no resultado operacional. 4 2.1.2 - NBC T 7 – Conversão da Moeda Estrangeira nas Demonstrações Contábeis. A despeito das críticas que se possa fazer a esta norma, a melhoria da qualidade técnica é demonstrada através da inserção de novos conceitos como o de moeda funcional, essencial na aplicação das metodologias de conversão e o tratamento diferenciado das variações cambiais nas demonstrações contábeis. As metodologias de conversão preconizadas nessa norma são: conversão em economia estável e conversão em economia hiperinflacionária. Em relação as variações cambiais geradas por itens monetários considerados parte do investimento líquido em entidade (subsidiárias e controladas) no exterior, as mesmas devem ser registradas diretamente em conta específica do patrimônio líquido. 2.2 - Norma Norte-Americana 2.2.1 - SFAS 52 - Foreign Currency Translation A norma norte-americana utilizada para conversão de demonstrações contábeis, até 1981, era o SFAS 8 – Accounting for the Translation of Foreign Currency Transactions and Foreign Currency Financial Statements. Segundo essa regra, o método permitido era o método temporal, no qual os ganhos e perdas resultantes da volatilidade da taxa de câmbio eram reportados unicamente no resultado. Segundo White, Sondhi e Fried (2003), por considerar no resultado os efeitos cambiais da conversão, este padrão foi considerado um dos mais impopulares emitidos pelo FASB, uma vez que a exposição contábil e a exposição econômica para uma moeda quase sempre são bem diferentes. Sendo assim, companhias desejosas em se proteger eram forçadas a escolher entre proteger sua exposição contábil ou proteger sua real exposição. O FASB reexaminou o SFAS 8 e como resultado editou o SFAS 52, no ano de 1981. Essa norma determina dois métodos de conversão: método temporal (temporal method) ou processo de remensuração (remeasurement process) e método da taxa corrente (all-current method) ou processo de conversão (translation process). O método temporal deve ser utilizado quando as operações do investimento no exterior forem consideradas partes integrantes da matriz, independente da moeda funcional da controlada. Além disso, esse método deve ser aplicado em investimentos sediados em países cujos ambientes econômicos sejam considerados hiperinflacionários. No caso da taxa corrente, o método é aplicável em investimentos no exterior que têm operações “independentes” da controladora e que em geral apresentam moeda funcional diferente da matriz. Também é utilizado em cenários econômicos estáveis. O tratamento contábil da variação cambial decorrente do processo de conversão depende do método utilizado. No método temporal, os ganhos e perdas de conversão são incluídos no resultado, sendo considerados conseqüentemente como parte do resultado da controladora através do processo de equivalência. Os ganhos e perdas decorrentes do processo de conversão do método da taxa corrente são reportados separadamente como componente do Patrimônio Líquido, em conta denominada Cumulative Translation Adjustment – CTA (Ajustes Acumulados da Conversão), não impactando o resultado. 5 2.3 - Normas Internacionais 2.3.1 - IAS 21 – The Effects of Changes in Foreign Exchange Rates Essa norma foi revisada em 2003 como parte de um projeto de melhorias nos padrões contábeis internacionais, objetivando o fornecimento de informações adicionais para conversão de demonstrações contábeis e para determinação da moeda funcional. O IAS 21 é aplicado na conversão de transações em moeda estrangeira de uma entidade no exterior que são incluídas nas demonstrações contábeis de uma entidade por consolidação, consolidação proporcional ou método de equivalência patrimonial, não se aplicando às transações com derivativos e balanços, que são escopo do IAS 39 – Instrumentos Financeiros: Reconhecimento e Mensuração. As metodologias de conversão preconizadas nessa norma são: conversão em economia estável e conversão em economia hiperinflacionária. Na conversão de demonstrações contábeis de investida sediada em ambiente econômico estável deverão ser utilizadas as taxas finais (Ativo e Passivo) e as taxas históricas (Resultado e Patrimônio Líquido). Tal metodologia é aplicável quando a moeda de apresentação da entidade for diferente da moeda funcional. Em investidas sediadas em ambientes econômicos hiperinflacionários, antes do processo de conversão, as demonstrações contábeis deverão ser atualizadas por índice de correção monetária, conforme definido no IAS 29 – Financial Reporting in Hiperinflationary Economies. Após a correção monetária, todos os elementos das demonstrações contábeis (ativos, passivos, patrimônio líquido, receitas e despesas,) deverão ser convertidos para taxa de fechamento do balanço. Os ganhos e perdas decorrentes da conversão de investimentos no exterior deverão ser reconhecidos inicialmente como componente do patrimônio líquido (CTA). Esse valor somente será baixado do patrimônio líquido quando da realização (baixa) do investimento no exterior, momento no qual terá seu registro no resultado. 2.4 - Comparação entre os Critérios de Conversão Com vistas a apresentar uma visão resumida dos critérios de conversão, segue quadro comparativo com as principais determinações contidas nas normas da CVM, do IASB e do FASB. Itens/Regras Moeda Funcional Economia Estável Economia não Estável Deliberação CVM 28/86 Não há este conceito. Taxa corrente para todos os itens das demonstrações contábeis. Taxa histórica. Resultado, qualquer que seja o método utilizado. Fonte: elaborado pelos autores. Tratamento dos Ganhos E Perdas IAS 21 SFAS 52 Conceito existente, com critérios para sua determinação. Semelhante ao IAS 21. - Taxa corrente para ativos e passivos. - Taxa Histórica para as conta do Patrimônio Líquido e para as contas de resultado (sendo aceito taxas médias). - Taxa histórica (temporal): conversão da moeda local para a funcional. - Taxa Corrente: conversão da moeda funcional para de relatório. Taxa corrente para todos os itens, após atualização dos valores por um índice de preços. Toda variação cambial é tratada como componente separado do Patrimônio Líquido (CTA). Deve ser baixado para resultado quando da realização. Taxa histórica. - Taxa Histórica: Resultado. - Taxa Corrente: CTA no Patrimônio Líquido. 6 Quadro 1 – Comparação entre os critérios de conversão. 3 Estudo da Conversão de Investimentos Societários no Exterior 3.1 Aspectos Metodológicos O estudo enquadra-se no tipo de pesquisa descritiva, que segundo Vergara (2005), expõe características de determinada população ou fenômeno e pode-se também estabelecer correlações entre as variáveis e definir sua natureza. Não tem compromisso de explicar fenômenos que descreve, embora sirva de base para tal explicação. Para Beuren et al. (2004), a pesquisa descritiva configura-se num estudo intermediário entre a pesquisa exploratória e a explicativa, ou seja, não é tão preliminar como a primeira, nem tão aprofundada quanto à segunda. Nesse contexto, descrever significa identificar, relatar comparar, entre outros aspectos. As características de pesquisa descritiva enquadram-se ao propósito desse estudo, pois a simulação busca evidenciar de maneira exemplificativa, os efeitos das técnicas de conversão no resultado de equivalência da controladora, além de demonstrar as divergências que existem entre as metodologias de conversão de demonstrações contábeis com investimentos no exterior aplicadas num cenário de estabilidade econômica. 3.2 Simulação da Conversão de Investimentos Societários no Exterior Para visualização do impacto da conversão de investimento societários no exterior no resultado de equivalência patrimonial da controladora, utilizou-se o seguinte cenário: empresa multinacional brasileira com dois investimentos societários no exterior, com percentual de participação de 100%, configurando-se ambos como subsidiárias integrais. Os investimentos foram caracterizados em duas situações: investimento societário sem movimentação contábil e investimento societário com movimentação contábil, considerando a taxa média estimada de crescimento de 6% ao ano. Essa separação foi para que se observasse o comportamento do resultado de equivalência patrimonial, quando da aplicação das metodologias de conversão em situações antagônicas. O período utilizado foi de 2000 a 2005, sendo que o período de 2000 foi considerado como saldo inicial, tendo sido estipulado que a integralização do capital foi realizada em 31.12.2000. Como o objetivo principal é descrever os possíveis impactos na controladora, a análise restringiu-se ao patrimônio líquido das investidas, pois os reflexos cambiais da conversão das demonstrações contábeis estão sumarizados no patrimônio líquido. A análise restringiu-se, também, a aplicação do método da taxa corrente, portanto considerou-se que os investimentos estão sediados em países de economia estável e de moeda forte. Além disso, estipulou-se que a moeda funcional e de apresentação da controladora é o real e foi considerado que as operações das subsidiárias guardam um grau de independência com a matriz. Como moeda funcional estabeleceu-se o dólar. A partir da definição de moeda funcional, o fluxo de conversão das demonstrações, em todas as metodologias utilizadas, foi da moeda funcional das subsidiárias para a moeda de apresentação da controladora, ou seja, dólar para real. As taxa utilizadas para a conversão dos investimentos contam do Quadro 2, a seguir: 7 PERÍODO TAXA FINAL TAXA MÉDIA 2000 1,9554 1,8300 2001 2,3204 2,3520 2002 3,5333 2,9240 2003 2,8892 3,0750 2004 2,6544 2,9260 2005 2,3407 2,4350 Fonte: BACEN Quadro 2 – Taxas de câmbio para conversão As taxas foram utilizadas de acordo com as metodologias de cada norma estudada. Como a simulação apenas considerou o método da taxa corrente, na situação de investimento sem movimento considerou-se somente a taxa final de cada período. Na subsidiária com movimento foram utilizadas a taxa final e a taxa média para atendimento das regras de conversão dos normativos utilizados. Na aplicação da metodologia de conversão de investimento utilizando o método da taxa corrente, determinada pelo SFAS 52 e IAS 21, percebeu-se que não houve diferenças significativas entre elas, desse modo optou-se por demonstrá-las conjuntamente. 3.2.1 - Situação 1: Subsidiária Integral sem movimentação Na conversão das demonstrações contábeis pelos critérios definidos pela Deliberação CVM 28/86, os elementos do patrimônio líquido são convertidos pela taxa final do período e o valor da conversão afeta diretamente o item convertido, não havendo distinção do impacto da variação cambial. Na conversão de acordo com as regras do SFAS 52 e IAS 21 foi utilizada apenas a taxa final, uma vez que não houve movimento nos períodos para utilização da taxa média. Os efeitos cambiais foram segregados em conta específica, nessa simulação, considerou-se a conta de CTA – Cumulative Translation Adjustment. O Quadro 3 a seguir evidencia o processo de conversão nos métodos estudados. PATRIMÔNIO LÍQUIDO - SUBSIDIÁRIA SEM MOVIMENTAÇÃO PERÍODO Taxa Final Taxa Média PATRIMÔNIO LÍQUIDO US$ CAPITAL SOCIAL LUCROS ACUMULADOS...... LUCRO DO PERÍODO TOTAL DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO 2000 1,9554 1,8300 1.000 0 0 1.000 2001 2,3204 2,3520 1.000 0 0 1.000 2002 3,5333 2,9240 1.000 0 0 1.000 2003 2,8892 3,0750 2004 2,6544 2,9260 1.000 0 0 1.000 2005 2,3407 2,4350 1.000 0 0 1.000 1.000 0 0 1.000 2.654 0 0 2.654 2.341 0 0 2.341 MÉTODO CORRENTE - CRITÉRIO DE CONVERSÃO DELIB. 28/86 PATRIMÔNIO LÍQUIDO R$ CAPITAL SOCIAL LUCROS ACUMULADOS...... LUCRO DO PERÍODO TOTAL DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO 1.955 0 0 1.955 2.320 0 0 2.320 3.533 0 0 3.533 2.889 0 0 2.889 MÉTODO CORRENTE - CRITÉRIO DE CONVERSÃO SFAS 52 E IAS 21 PATRIMÔNIO LÍQUIDO R$ CAPITAL SOCIAL LUCROS ACUMULADOS...... LUCRO DO PERÍODO CTA TOTAL DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO 1.955 0 0 0 1.955 1.955 0 0 365 2.320 1.955 0 0 1.578 3.533 1.955 0 0 934 2.889 1.955 0 0 699 2.654 1.955 0 0 385 2.340 Fonte: Elaborado pelos autores. Quadro 3 – Patrimônio Líquido: Subsidiária sem Movimentação. 8 Após a conversão do patrimônio líquido, de acordo com os métodos adotados, foi aplicado o método de equivalência patrimonial (MEP), para refletir os resultados na controladora. O resultado dessa etapa pode ser observado no Quadro 4 a seguir: RESULTADO DE EQUIVALÊNCIA - CONTROLADORA PERÍODO Taxa de Câmbio 2000 1,9554 2001 2,3204 2002 3,5333 2003 2,8892 2004 2,6544 MÉTODO CORRENTE - CRITÉRIO DE CONVERSÃO DELIB. 28/86 RESULTADO R$ Equivalência 0 0 0 0 Variação Cambial 0 365 1.213 (644) Resultado de Equivalência 0 365 1.213 (644) MÉTODO CORRENTE - CRITÉRIO DE CONVERSÃO SFAS 52 E IAS 21 RESULTADO R$ Equivalência 0 0 0 0 Variação Cambial 0 0 0 0 Resultado de Equivalência 0 0 0 0 0 (235) (235) 0 0 0 2005 2,3407 0 (314) (314) 0 0 0 Fonte: Elaborado pelos autores Quadro 4 – Resultado de Equivalência: Controladora. O impacto no resultado da controladora em decorrência da aplicação do MEP, fica evidente, principalmente, quando se analisa o resultado e a variação cambial. Não se observa na subsidiária nenhum acréscimo econômico ao patrimônio durante esse período, mas pelo critério de conversão da Deliberação CVM 28/86, todo efeito cambial é diretamente alocado ao resultado na controladora, impactando dessa forma o seu resultado, enquanto que pelo critério de conversão do SFAS 52 e IAS 21, o impacto no resultado é nulo, pois é representado dentro do patrimônio liquido da investida – CTA, atualizando o investimento, mas não alterando o resultado. Diante dos resultados, percebeu-se que as oscilações no resultado da controladora quando da utilização da Deliberação CVM 28/86 reflete exclusivamente o resultado decorrente do câmbio, independente do ganho ou perda econômico da operação da investida. Por outro lado, esse impacto cambial no método do SFAS 52 e IAS 21 é acumulado no patrimônio, “protegendo” o resultado da controladora através da segregação desses efeitos no CTA. Com isso, o método preconizado na Deliberação CVM 28/86 provoca distorções na situação patrimonial da controladora, ou seja, o ganho ou perda cambial não está acompanhado de reflexo financeiro, já que se trata de um aumento ou uma diminuição de valor do patrimônio líquido da empresa no exterior medido na moeda da investida, sem que isso gere ou consuma qualquer recurso financeiro de imediato para a investida ou para a investidora. Não há, por exemplo, como pagar dividendo no Brasil sobre um ganho cambial decorrente de um investimento numa controlada no exterior. Por outro lado, se houver uma perda cambial, isso não significa qualquer saída ou obrigação de futura saída de recurso financeiro. Esse resultado financeiro só ocorre quando houver, por exemplo, uma venda parcial ou total do investimento. E só aí então, será reconhecido todo o conjunto de ganhos e perdas obtido ao longo do tempo no resultado. 3.2.2. - Situação 2: Subsidiária Integral com movimentação Nesta situação, a subsidiária apresenta resultado proveniente de suas operações. Na conversão pela Deliberação CVM 28/86, a metodologia é que todos os elementos das demonstrações contábeis são convertidos pela taxa final. Na metodologia do SFAS 52 e IAS 21, a conversão ocorre de maneira diferenciada, ou seja, os ativos e os passivos são 9 convertidos pela taxa final, o resultado pela taxa da transação ou taxa média e os elementos do patrimônio líquido são mantidos pela taxa histórica. Nesse caso, o CTA refletirá não apenas a equivalência de ativos e passivos, mais também os efeitos da manutenção de taxas históricas do patrimônio líquido. O Capital será convertido pela taxa da integralização. O resultado do período convertido pela taxa média, ao se tornar Lucros Acumulados, será mantido pela taxa da conversão conforme demonstrado no Quadro 5. PATRIMÔNIO LÍQUIDO - SUBSIDIÁRIA COM MOVIMENTAÇÃO PERÍODO Taxa Final Taxa Média PATRIMÔNIO LÍQUIDO US$ CAPITAL SOCIAL LUCROS ACUMULADOS...... LUCRO DO PERÍODO TOTAL DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO 2000 1,9554 1,8300 1.000 0 0 1.000 2001 2,3204 2,3520 1.000 60 0 1.060 2002 3,5333 2,9240 1.000 60 64 1.124 2003 2,8892 3,0750 2004 2,6544 2,9260 1.000 124 67 1.191 2005 2,3407 2,4350 1.000 191 71 1.262 1.000 262 76 1.338 2.654 507 190 3.351 2.341 614 177 3.132 MÉTODO CORRENTE - CRITÉRIO DE CONVERSÃO DELIB. 28/86 PATRIMÔNIO LÍQUIDO R$ CAPITAL SOCIAL LUCROS ACUMULADOS...... LUCRO DO PERÍODO TOTAL DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO 1.955 0 0 1.955 2.320 140 0 2.460 3.533 212 225 3.970 2.889 357 195 3.441 MÉTODO CORRENTE - CRITÉRIO DE CONVERSÃO SFAS 52 E IAS 21 PATRIMÔNIO LÍQUIDO R$ CAPITAL SOCIAL LUCROS ACUMULADOS...... LUCRO DO PERÍODO CTA TOTAL DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO 1.955 0 0 0 1.955 1.955 0 141 364 2.460 1.955 141 186 1.688 3.970 1.955 327 207 952 3.441 1.955 534 209 653 3.351 1.955 743 185 249 3.132 Fonte: Elaborado pelos autores Quadro 5 – Patrimônio Líquido: Subsidiária com Movimentação. Nessa situação, a subsidiária apresenta um crescimento econômico e linear (6% ao ano) decorrente de suas operações. Independente dos critérios de conversão, o resultado de equivalência deveria refletir esse resultado na controladora. Entretanto, esse fato não se configura em uma realidade, conforme pode ser observado no Quadro 6 a seguir. RESULTADO DE EQUIVALÊNCIA - CONTROLADORA PERÍODO Taxa Final 2000 1,9554 2001 2,3204 2002 3,5333 2003 2,8892 2004 2,6544 MÉTODO CORRENTE - CRITÉRIO DE CONVERSÃO DELIB. 28/86 RESULTADO R$ Equivalência 0 139 225 195 Variação Cambial 0 365 1.285 (724) Resultado de Equivalência 0 504 1.510 (529) 190 (280) (90) MÉTODO CORRENTE - CRITÉRIO DE CONVERSÃO SFAS 52 E IAS 21 RESULTADO R$ Equivalência 0 141 186 207 209 Variação Cambial 0 0 0 0 0 Resultado de Equivalência 0 141 186 207 209 2005 2,3407 177 (396) (219) 185 0 185 Fonte: Elaborado pelos autores Quadro 6 – Resultado de Equivalência: Controladora. 10 A simulação demonstra como os resultados são alterados, e até mesmo distorcidos, em função do efeito cambial inserido nos resultados. Esse reflexo é perceptível apenas quando é aplicado a metodologia da Deliberação CVM 28/86, pois mesmos a subsidiária apresentando resultado positivo em todos os períodos, no exercícios de 2003 a 2005 seriam gerados prejuízos em função do processo de conversão. Como explicitado anteriormente, na aplicação do SFAS 52 e IAS 21, os efeitos cambiais decorrentes do processo de conversão compõem o saldo do CTA. Essa movimentação é validada através das seguintes etapas: 1ª) os saldos iniciais em cada período são convertidos pela taxa inicial menos o saldo inicial convertido pela taxa final; 2ª) o movimento do período é convertido pela taxa histórica ou taxa média menos o movimento do período convertido pela taxa final. O somatório entre a 1ª e 2ª etapa refletirá a variação cambial do elemento patrimonial convertido. A movimentação do CTA nos períodos analisados apresentou as seguintes variações, conforme Quadro 7 a seguir: Períodos Saldo Inicial CAPITAL LUCRO ACUMULADO RESULTADO Saldo Final MOVIMENTAÇÃO DO CTA SUBSIDIÁRIA SEM MOVIMENTAÇÃO 2001 2002 2003 365 1.578 365 1.213 (644) 0 0 0 0 0 0 365 1.578 934 2004 934 (235) 0 0 699 2005 699 (314) 0 0 385 SUBSIDIÁRIA COM MOVIMENTAÇÃO Saldo Inicial CAPITAL LUCRO ACUMULADO RESULTADO Saldo Final 364 0 0 364 364 1.213 72 39 1.688 1.688 (644) (80) (12) 952 952 (235) (45) (19) 653 653 (314) (83) (7) 249 Fonte: Elaborado pelos autores. Quadro 7 – Composição do saldo do CTA. Percebe-se que não há diferença no valor total do patrimônio líquido (quadro 5) nos métodos aplicados, apenas há uma melhor distribuição dos efeitos da variação cambial, o que se reflete diretamente nos resultados operacionais da controladora. 3.2.3 Comparação Entre os Métodos Ao se comparar às situações e as aplicações dos critérios de conversão, percebe-se que a discrepância e a influência no resultado da controladora é relevante. Na aplicação do método da taxa corrente, conforme a técnica estabelecida pela Deliberação CVM 28/86, tem-se que independente do crescimento econômico da subsidiária, o resultado acompanha basicamente as oscilações na taxa de câmbio, conforme demonstrado na Ilustração 2 a seguir: 11 Resultado de Equivalência Deliberação CVM 28/86 - Taxa Corrente 3.000 2.000 1.000 0 (1.000) (2.000) 2000 2001 2002 2003 SEM MOVIMENTAÇÃO 2004 2005 COM MOVIMENTAÇÃO Fonte: Elaborado pelos autores. Ilustração 2 – Resultado de Equivalência pela Deliberação CVM 28/86. Na análise do comportamento do resultado de equivalência patrimonial apurado pela controladora, percebe-se que no caso da subsidiária sem movimentação o resultado apresentado vai de um ganho expressivo em 2002 a um prejuízo em 2003, sem que fosse apresentado ganho operacional que suportassem e justificassem essas oscilações. O mesmo comportamento distorcido é apresentado na subsidiária com movimentação, pois, apesar da taxa de crescimento de 6% ao ano, os ganhos com equivalência nos três últimos exercícios são negativos, ou seja, a controladora apurou prejuízo. Deste modo, não é possível fazer análise de performance dos investimentos a partir da equivalência da controladora, pois o reconhecimento do resultado de variação cambial na equivalência distorce não só o resultado da matriz, mas também as informações financeiras dos investimentos no exterior quando da conversão de suas demonstrações contábeis. Na análise da metodologia de conversão no método da taxa corrente adotada pelo SFAS 52 e IAS 21, percebe-se que os resultados de equivalência são “preservados” frente aos efeitos da variação cambial refletidos na conversão. Desse modo, o resultado de equivalência da matriz apresentou o seguinte comportamento, conforme Ilustração 3. Resultado de Equivalência SFAS 52 e IAS 21 - Taxa Corrente 250 200 150 100 50 0 2000 2001 2002 2003 SEM MOVIMENTAÇÃO 2004 2005 COM MOVIMENTAÇÃO Fonte: Elaborado pelos autores Ilustração 3 – Resultado de equivalência pelo SFAS 52 e IAS 21. Observou-se que pela metodologia do SFAS 52 e IAS 21, o resultado de equivalência não carrega para a controladora os efeitos cambiais decorrentes da conversão das demonstrações das subsidiárias. Na subsidiária sem movimentação, o resultado de equivalência foi nulo, o que é aderente com a não alteração do investimento, enquanto que na 12 simulação do investimento com movimentação, o resultado apenas acompanha o crescimento da subsidiária. Considerando, isoladamente, o critério de conversão para a análise da rentabilidade do investimento, o resultado de equivalência é mais bem visualizado considerando as metodologias de conversão do SFAS 52 e do IAS 21, tendo em vista a segregação dos impactos da oscilação de moeda dentro do patrimônio líquido, visando não “contaminar” o resultado. 4. Considerações Finais O tratamento contábil dos ganhos e perdas cambiais resultantes da conversão dos investimentos no exterior é ponto essencial na aplicação do método de equivalência e na consolidação das demonstrações contábeis. Nesse aspecto, analisando o critério adotado no Brasil (Deliberação CVM 28/86) e seus impactos, percebeu-se que conceitualmente a norma está defasada pois, além de não apresentar conceitos fundamentais como o de moeda funcional e de apresentação, trata contabilmente dos efeitos cambiais da conversão das demonstrações contábeis da mesma maneira, independentemente do método utilizado. Os resultados da simulação mostraram que a metodologia da taxa corrente empregada pela Deliberação CVM 28/86 pode causar impactos relevantes no resultado de equivalência da controladora. Na análise dos resultados da subsidiária sem movimento, observaram-se oscilações nos resultados de equivalência provenientes exclusivamente dos efeitos das variações cambiais sobre o investimento, sem contudo ter ocorrido movimentação operacional. Na simulação da subsidiária com movimento, apesar da premissa de crescimento de resultado de 6% ao ano, houve períodos em que o resultado de equivalência patrimonial foi negativo. Esse exercício demonstrou que os resultados operacionais estavam fortemente impactados pelo câmbio. Quando da interposição das duas situações, percebe-se que o tratamento contábil dos efeitos da conversão em resultado e inserido na equivalência patrimonial, distorceu significativamente o resultado da controladora, comprometendo esse resultado para efeito de análise de rentabilidade dos investimentos societários no exterior. Na simulação dos critérios de conversão, utilizando as metodologias da taxa corrente do SFAS 52 e IAS 21, em ambos os caso (subsidiária sem e com movimento) não há impacto no resultado de equivalência patrimonial provenientes dos efeitos cambiais decorrente da conversão, tornando possível uma avaliação mais adequada da rentabilidade dos investimentos societários no exterior. Percebeu-se que a metodologia de conversão isolou o efeito da variação cambial no patrimônio líquido, “protegendo” dessa maneira o resultado do risco e volatilidade da taxa de câmbio. Diante dos resultados obtidos na simulação, observou-se que o atual critério de conversão adotado no Brasil não atende as necessidades da nova realidade das empresas brasileiras, principalmente àquelas que estão em processo de internacionalização. Nesse contexto, considerando a tendência de convergência das normas brasileiras com as normas internacionais, a adoção do IAS 21, provavelmente, equacionalizará os principais problemas apresentados pela Deliberação CVM 28/86 e apontados nesse estudo. Assim, espera-se com esse estudo contribuir para o aperfeiçoamento do atual modelo de conversão preconizado na Deliberação CVM 28/86, considerando que este normativo tem como principal fragilidade à distorção do desempenho dos investimentos societários no 13 exterior, em decorrência do reconhecimento dos ganhos e perdas cambiais decorrentes do processo de conversão. Com a criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) espera-se que o tema seja motivo de revisão e emissão de novas orientações normativas. Ressalte-se que a alteração do arcabouço conceitual do normativo existente demandará a análise dos reflexos em normativos e legislações correlatas, tanto do ponto de vista societário como fiscal. O estudo limitou-se a análise de investimentos societários que estivessem sujeitos à conversão pelo método da taxa corrente, mas o mesmo pode ser aplicado a situações de economia hiperinflacionária, sendo que para esse caso seriam apontadas diferenças nas três normas aplicadas, além de avaliar a influência da correção monetária, nos critérios de conversão. Outra linha que poderá ser aplicada para estudos futuros está na análise empírica da percepção do mercado em relação aos efeitos cambiais da conversão de demonstrações contábeis de investimentos societários no exterior. 5. Referências Bibliográficas ALEM, Ana Claudia; CAVALCANTI, Carlos Eduardo. O BNDES e o Apoio à Internacionalização das Empresas Brasileiras: Algumas Reflexões Revista do BNDES, Rio de Janeiro, v. 12, n. 24, p. 43-76, Dez. 2005 BACEN, Resultado de Capitais Brasileiros no Exterior 2001 a 2004, 2005. Disponível em <http://www4.bcb.gov.br/rex/CBE/Port/ResultadoCBF2004.pdf>. Acesso em: 14/08/2006. BEUREN, Ilse Maria et al. Como elaborar trabalhos monográficos em contabilidade: teoria e prática. 2.ed. São Paulo: Atlas 2004. CFC – Conselho Federal de Contabilidade, Norma Brasileira de Contabilidade nº 7 Conversão da Moeda Estrangeira nas Demonstrações Contábeis. 2005. CVM – Comissão de Valores Mobiliários, Deliberação CVM nº 28. 1986. CVM – Comissão de Valores Mobiliários, Instrução CVM nº 247. 1996 CVM – Comissão de Valores Mobiliários, Ofício Circular CVM SNC/SEP 01. 2007 FASB – Financial Accounting Standards Board, Statements Financial Accounting Standards nº 52 – Foreign Currency Translation. 1981. Disponível em <http://www.pwccomperio.com/search97cgi/s97is_englishx.dll>. Acesso em: 18/08/2005. FUNDAÇÃO DOM CABRAL, Investimento Brasileiro Direto no exterior, 2005. Disponível em <http://www.fdc.org.br/parcerias/upload/outros/investimento%20brasi leiro%20direto%20no%20exterior.doc>. Acesso em: 19/08/2006. IASB – International Accounting Standards Board. International Accounting Standards nº 21 - The Effects of Changes in Foreign Exchange Rates. 2003. VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatório de pesquisa em administração. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005. SANTOS, José Luiz dos.; SCHMIDT, Paulo.; FERNANDES, Luciane Alves. Contabilidade avançada: aspectos societários e tributários. São Paulo: Atlas, 2003. WHITE, Gerald I., SONDHI, Ashwinpal C., FRIED, Dov. The analysis and use of financial statements. 3.ed. Danvers: Wiley, 2003. 14